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A e_MAGAZINE é um projeto da epi_ que pretende revelar o património cultural e social da escola através de trabalhos de alunos, ex-alunos e professores, assim como desenvolver temas da actualidade relacionados com criatividade e tecnologia.

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06 Fora da Escola Nuno Faria12 Crítica de Cinema Dersu Uzala (1975)13 Crítica de Cinema Fanny and Alexander (1982)14 Crítica de Cinema The Assassination of Jesse James (2007)16 Professor António Pedro de Sá Leal22 Crítica Musical Gabriel, o Pensador23 Crítica Musical Major Lazer24 Ex-Aluno Fernando Alle30 Crítica Literária Os Samurais31 Crítica Literária Filarmónica Fraude32 Professor Miguel Ângelo40 Área SocioCultural O Sonho

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Editorial Daniela Ascensão

Para quem costuma ler o que escrevo neste espaço, pôde já reparar que não apoio a apatia nem a amorfia, no sentido de as pessoas não se preocuparem com a realidade, de não saberem o que se passa diante dos próprios olhos. O pior cego é aquele que não quer ver. Refiro-me a pessoas que não se envolvem com o mundo. Não se envolvem com a família, não se envolvem com os amigos, não se envolvem nos estudos, não se envolvem nos desportos, não se envolvem a fazer o que gostam. Principalmente, não se envolvem na sociedade. O tema desta edição não podia vir mais a propósito. Envolve-te.

Envolve-te!

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Bem sei que com tanta desgraça que vemos hoje em dia, a primeira tendência é “desligarmo-nos” do mundo e criarmos uma realidade à parte, onde não há espaço para tanta tristeza e desumanidade. E se, em vez disso, pensássemos no que podemos fazer para ajudar a combater esse lado negro da nossa sociedade? É comum culpar a sociedade por todos os males, mas a verdade é que nós fazemos parte da sociedade e parte de nós mudar o que achamos que não está bem ou que podia ser melhor.E não é preciso ter dinheiro para nos envolvermos. O dinheiro não é tudo, há muito mais para além disso. Gestos e atitudes. Valores e princípios. A verdadeira riqueza vem de dentro de nós.São inúmeras as associações que necessitam de voluntários. Relacionadas com tudo. E se no Verão não te apetece ficar fechado num edifício, ajuda na limpeza de praias e matas. Inscreve-te para acompanhar idosos e/ou crianças nas idas à praia organizadas pelas juntas de freguesia. Existe um leque imenso de actividades que podem envolver-te na sociedade. E não tens de o fazer sozinho, junta um grupo de amigos e pas-sem um verão diferente, continuando a ter as vossas saídas à noite e idas à praia. Uma coisa não invalida a outra.

Temos tempo mais do que suficiente para fazer tudo o que gostamos, trata-se apenas de uma questão de gestão pessoal do nosso tempo. Eu, sendo de produção, sou muito metódica e quem me conhece sabe que é verdade. Certo é que isso me tem ajudado bastante a gerir o meu tempo, conseguindo conciliar o meu tempo de lazer, em que faço o que me dá mais prazer e estou com as pessoas de que mais gosto, e as minhas obrigações, a escola, o trabalho... É claro que também tenho as minhas quebras e este texto é um exemplo disso mesmo. Nem sempre temos o controlo sobre as coisas, e por vezes nem tudo corre como esperávamos. Isso aconteceu comigo e se num segundo estava tudo estável, no outro a minha vida tinha dado uma volta de 180º. Foi algo que destabilizou os meus planos e o prazo de entrega para este texto foi o que acabou por sofrer com isso. Entreguei-o com um mês de atraso, sensivelmente.Mas é normal, são coisas que acontecem e não temos de ter medo se as coisas não correrem na perfeição. O importante é mantermo-nos activos e com vontade de nos envolvermos. Se não houver espírito de sacrifício e vontade de vencer (parecem opostos, mas andam sempre juntos), nada é possível. Por isso, envolve-te!

Não sei se é a última vez que vou escrever para a E_Magazine, mas sei que o meu percurso na EPI, enquanto aluna, está mesmo a chegar ao fim. Desejo aos alunos de primeiro e segundo ano (e aos próximos que virão) um excelente percurso por esta escola. Aproveitem bem o tempo que aqui estão, porque depois não será possível voltar atrás. Não é uma escola perfeita, porque isso não existe, mas é uma escola com professores que dão tudo pelos alunos, por vezes até por aqueles que não merecem o esforço. Façam com que os três anos que aqui passam valham a pena. Se não o fizerem, mais tarde só vos resta o arrependimento. “Quem me dera ter 16 anos e saber o que sei hoje”, uma expressão conhecida por todos nós.Para os que são finalistas como eu, desejo-vos a melhor sorte no mercado de trabalho, na faculdade, nos vossos planos futuros em geral. Até breve!

“(...) não é preciso ter dinheiro para nos envolvermos.”

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Entrevista Daniel Sales Gomes

Fora da Escola

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Como surgiu o interesse pela BMX?

Nuno Faria

Eu tinha uma bicicleta, normal, de montanha, normalíssima, e perto de minha casa há um skate park. E eu decidi, como qualquer criança que não tem nada para fazer, ir para lá. Gostava de ver os outros que andavam melhor que eu, e foi aí que despertou o meu interesse.

Há quantos anos é que praticas BMX?

Há volta de 6. Há 6 anos recebi a minha primeira BMX, e talvez há 4 tenha começado a praticar mais a sério.

Quantas horas lhe dedicas?

Antes de entrar para o curso aqui na EPI, todos os dias, 2 horas, pelo menos. Agora, devido ao horário, só consigo treinar aos fins-de-semana, e costumo andar a tarde toda.

Quem é para ti uma inspiração e uma referência na área?

O Scotty Cranmer. É um Americano, um pro, foi ele que me inspirou. Eu via os videos dele e ficava mesmo “Wow, quem me dera fazer isto!”.

Como achas que está Portugal na modalidade?Está a crescer cada vez mais. Todos os anos há montes de miúdos novos a andar, e com um alto nível, evoluem muito depressa. Quando eu comecei a andar, não era nem metade disto. E eu só comecei há 6 anos.

Pratica-lo profissionalmente? Já te levou a algum lado (fora de Portugal)?Sim, já fui aos Estados Unidos para treinar. Lá há muito mais facilidade e têm skate parks muito melhores para evoluir. Em termos de campeonatos, nunca saí de Por-tugal, mas espero este ano ir a Espanha, e voltar aos Estados Unidos.

Contas com algum patrocínio?Sou patrocinado pela Mutant Bikes, uma marca portuguesa de BMX, que já conta com 14 distribui-dores em todo o mundo, pela DVS Shoes, que me dá ténis e roupa, e pela Icon Bike Store, que é uma loja em Leiria, especializada em BMX.

Praticante de BMX

“E... Não sei. Eu gosto da sensação de andar.”

Entrevista Daniel Sales Gomes

Fora da Escola

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Consegues conciliar a BMX com os estudos?Não. Não tenho tempo nenhum para andar de bicicleta. E quando ando... Se for no Verão, ainda consigo dar uma voltinha à noite, agora no Inverno, com o frio e a chuva, não consigo. Só mesmo ao fim-de-semana.

O que é que andar de BMX representa para ti?

Liberdade. Diversão. Fazer amigos. E... Não sei. Eu gosto da sensação de andar.

Achas que melhorou a tua vida de alguma maneira?

Sim, eu antes de praticar BMX pratiquei outros desportos como hóquei, futebol, ginásti-ca. Mas nada tem a ver, gosto muito mais de BMX. E acho que é uma maneira de eu sair de casa e ir fazer qualquer coisa.

Projectos e ambições para o futuro.Ir aos Estados Unidos, este ano, e tentar ir a Espanha, aos campeonatos.

Que mensagem deixarias a alguém prestes a iniciar-se na prática da BMX?

Que não desistam de tentar, se é mesmo aquilo de que gostam.

É um desafio, portanto? Sim, é mesmo.

“Scoty Cranmer inspirou-me. Eu via os videos dele e ficava mesmo: WOW, quem me dera fazer isto! “

Entrevista Daniel Sales Gomes

Fora da Escola

http://www.youtube.com/NunoFariaBMXhttps://www.facebook.com/NunoFFariaBMX

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“Scoty Cranmer inspirou-me. Eu via os videos dele e ficava mesmo: WOW, quem me dera fazer isto! “

Entrevista Daniel Sales Gomes

Fora da Escola

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Entrevista Daniel Sales Gomes

Fora da Escola

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Entrevista Daniel Sales Gomes

Fora da Escola

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Este épico realizado por Akira Kurosawa, que lhe valeu o Óscar de Melhor Filme de Língua Estrangeira, e que teve um tremendo sucesso internacional, reesta-beleceu a reputação do cineasta e veio comprovar definitivamente que Kurosawa é um mestre da Sétima Arte, não um mero realizador de filmes de samurais de puro entretenimento. Situado na Sibéria, na viragem do século, e baseado num conto de Vladimir Arseniev, o filme anda à volta da relação entre um oficial (Yuri Solomin) numa expedição cartográfica e Dersu (Maksim Munzuk), um velho camponês lenhador de pernas cambas contratado como guia. No meio de pequenos combates com bandidos e de uma luta suprema com os elementos, Dersu mostra a sua força e o conhecimento do ambiente. Na sequência mais tensa da obra, uma tempestade ameaçadora intensifica-se enquanto Dersu e o oficial usam um teodolito e alguma relva para construírem um abrigo para salvarem as suas vidas.Porém, no início do filme, os camaradas do oficial pensam que Dersu é um per-sonagem cómico enquanto este fala para uma fogueira. Mas depressa essa ati-tude é alterada quando se torna visível que a sua sabedoria natural o torna muito melhor preparado que eles para sobreviver naquela paisagem surpreendente-mente impressionante mas áspera e imprevisível. Cinco anos depois da expedição inicial, o oficial volta à Sibéria para terminar o trabalho e alegra-se ao reencontrar Dersu, apenas para descobrir que a saúde do velho não anda boa. Dersu pensa que vai ficar cego e que todos os tigres da região o vão comer para vingar a morte de “um grande gato” que ele matou.Num ato de ajuda a Dersu, o cartógrafo tenta levá-lo para a sua casa em regiões mais civilizadas mas conclui que, apesar de Dersu o ter ajudado a sobreviver na Sibéria, ele não pode retribuir da mesma forma integrando-o na sociedade, quando este corta uma árvore num jardim e é escoltado por polícia até à casa do cartógrafo e não consegue perceber que mal é que cometeu.

Dersu Uzala (1975)

Crítica Diogo Pereira

Críticas de Cinema

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O realizador sueco Ingmar Bergman tem um conjunto de obras tão pessoal que é frequentemente caricaturado por comediantes, assim como imitado por outros cineastas.Mostrando o lado mais profundo e sombrio do espírito humano, os filmes oníricos e alegóricos de Bergman apresentam a vida como ela é e não como desejáva-mos que fosse. Anunciado como o penúltimo filme do realizador (desde então trabalhou so-bretudo em televisão), Fanny e Alexandre viria a ser uma das suas obras com mais sucesso internacional bem como um dos seus filmes mais contemplados, juntamente com O Sétimo Selo. Escrito por Ingmar Bergman, e incluindo muitos dos seus mais talentosos e experientes atores, como Harriet Andersson, Gun-nar Björnstrand e Erland Josephson, Fanny e Alexandre é considerado provav-elmente como o seu filme mais acessível, tendo ganho quatro das suas seis nomeações para os Óscares, incluindo Melhor Filme de Língua Estrangeira. Esta obra longa, em parte autobiográfica, é passada durante um ano importante e tempestuoso na vida de um irmão e irmã (Pernilla Allwin e Bertil Guve), nasci-dos numa família aristocrática na Suécia do fim do século. Começando num natal luxuoso, narrado do ponto de vista do rapaz, a película muda de rumo e começa a descrever a vida miserável de ambos os irmãos, proprietários de teatro, após a morte do seu muito amado pai. Aí, já o habitual sentimento de antecipação e in-quietude bergmaniano desceu sobre a história, que se centra no desafortunado e terrível segundo casamento da mãe com um detestável bispo (Jan Malmsjö num papel apropriadamente odioso).A duração de Fanny e Alexandre e o seu ritmo langoroso e cuidadoso é com-pletado com o famoso diretor de fotografia de Bergman, Sven Nykvist, que usa uma iluminação resplandecente para fazer de cada plano um deleite. A fotografia magistral de Nykvist, que lhe valeu o Oscar de Melhor Fotografia, é um tour de force, uma obra-prima do cinema, que cada plano do filme é uma obra de arte.

Fanny and Alexander (1982)

Crítica Diogo Pereira

Críticas de Cinema

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Escrito e realizado por Andrew Dominik, O Assassínio de Jesse James Pelo Cobarde Robert Ford, baseado no romance de Ron Hansen, retrata-nos a história de Jesse James (Brad Pitt num desempenho notável), que em 1881 continuava a fazer grandes assaltos e a combater os seus inimigos, que iam atrás da sua recompensa, querendo ficar com a fama e glória de terem morto um dos mais notórios e conhecidos assassinos da América.No início do filme, Jesse e o seu irmão Frank têm de reunir uns bandidos das redondezas para fazerem um assalto a um comboio, e no meio desses ínfimos bandidos está Robert Ford (Casey Affleck num papel impressionante que lhe valeu uma nomeação ao Óscar) que idolatra e segue as histórias de Jesse James e o seu bando desde criança.No decorrer do filme, vamos assistindo à personagem de Brad Pitt, que vai ficando mais caótica e instável à medida que vai reconhecendo que não pode confiar em ninguém, nem mesmo naqueles que lhe são mais próximos. Robert Ford (Casey Affleck), que no início do filme era um admirador indiscutível de Jesse James, vai, à medida que o filme avança, criando um ressenti-mento doentio pelo fora da lei pretendendo mata-lo e ficar tão conhecido como ele.Quando se dá o assassínio de Jesse James, que é filmado de uma forma brilhante e grandiosa por Roger Deakins e Andrew Dominik, Robert Ford começa a interpretar em teatro como matou Jesse James e à medida que vai repetindo o feito mórbido, vai-se tornando cada vez mais ob-sessiva a sua interpretação, bem como a do seu irmão Charley (Sam Rockwell), que interpreta em cena Jesse James. Pelo ato repetitivo da recriação de Robert Ford o povo americano vê-o como um cobarde assassino que matou Jesse James a sague frio de uma forma brutal.Com uma das melhores e inovadoras fotografias do século XXI e o melhor trabalho de Roger Deakins, que criou um tipo de lentes chamadas as “Deakinizers”, que fazem uma espécie de vinheta e uma aberração cromática nos cantos das imagens, o filme tem uma cena memorável e muito conhecida: a sequência do assalto ao comboio durante a noite é uma obra-prima não só a nível da fotografia mas também da realização. O filme é acompanhado pela música original de Nick Cave e Warren Ellis que nos transportam ainda mais para o ambiente de western, passado no século XIX.

The Assassination of Jesse James by the Coward Robert Ford

(2007)

Crítica Diogo Pereira

Críticas de Cinema

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ANTÓNIO PEDRO DE SÁ LEAL

.SURF.EVENTOS.

BioLicenciado em Filosofia, pela Universidade Nova de Lisboa, Pós-graduado em Marketing Management ,pela Universidade Técnica de Lisboa, Empresário ligado ao surf desde de 1998. Partner da Empresa Alfarroba Amarela Ideias e Eventos Lda.Organizador do Campeonato Nacional de Surf Open entre 2003 e 2007, Criador e organizador do Campeonato Nacional de Surf Pro Junior entre 2004 e 2007, Organizador do Campeonato do Mundo da Ericeira entre 2001 e 2008, Organizador do Campeonato do Mundo do Estoril entre 2007 e 2009. Criador e Fundador da primeira revista gratuita de Surf Portuguesa Free Surf Magazine. Partner da Escola de Surf Alfarroba Surf Academy Professor de Surf. Professor de Gestão de Eventos. Surfista. Pensador livre.

QUANDO É QUE DECIDISTE COMEÇAR A TRABALHAR EM PRODUÇÃO DE EVENTOS?Houve um momento na minha vida em que decidi que iria fazer o que gostava. Esse momento foi em Agosto de 1996. Na altura o que me movia e ainda move era o Surf. Decidi então tentar seguir nessa direção. Na altura acabei por ir trabalhar para a “Adrenalina”, a empresa de eventos que levava a cabo a maior parte dos campeonatos de surf em Portugal. A partir daí a minha vida profissional desenrolou-se em torno dos eventos e em 2001 fundei a minha empresa, Alfarroba Ideias e Eventos, que veio a ser no princípio do século a mais importante empresa de eventos na área do surf. Sendo que por acaso o maior evento que realizamos nada teve a ver com o surf. Hoje para além de organização de eventos a minha empresa tem uma área de comunicação, uma escola de surf e uma área ligada às marcas e ao marketing.

Entrevista Rute Novais Fotografia Alexandra Lopes e Tomás Monteiro

Professor

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OS CURSOS DE PRODUÇÃO DE EVENTOS SURGIRAM HÁ MENOS DE 10 ANOS. COMO É QUE SE APRENDIA NO “TEU TEMPO”?Quando comecei nos eventos em 1996 tudo era novo. Mesmo as empresas de eventos que já operavam no mercado esta-vam ainda a descobrir como fazer bem as coisas. Tive a sorte na altura de ir trabalhar para uma empresa que era altamente estruturada e composta por uma série de pessoas que tinham já alguma experiencia. Isso foi determinante na minha aprendi-zagem. Posteriormente e porque continuei a estudar, acabei eu próprio por desenvolver uma série de métodos para poder explicar às pessoas que vinham trabalhar para mim como se realizava um evento de qualidade. Hoje a minha empresa tem sido considerada como uma escola de “ bem fazer” eventos.

ALÉM DE SERES PROFESSOR NA EPI, TENS UMA ESCOLA DE SURF E LANÇASTE RECENTEMENTE O PRIMEIRO GUIA DE SURF PORTUGUÊS? COMO SURGIU ESSA IDEIA?A ideia do Guia amadureceu duma série de conversas que tive com o Francisco Cipriano, co-autor do guia. Na realidade chegamos à conclusão que apesar de se falar muito de surf em Portugal nos últimos anos, havia ainda um grande caminho a percorrer do ponto de vista da estruturação do desporto e sobretudo naquilo que todos falam que se prende com a oferta turística. Nesse sentido pareceu-nos que um guia seria uma boa maneira de darmos o nosso input ao Surf. Claro que no meu caso já o tinha feito ao trazer o surf para a ribalta entre 2001 e 2009, através da organização da maior parte dos campeonatos de surf em Portugal.

A FESTA DE LANÇAMENTO DO LIVRO FOI BEM PRODUZI-DA? ALGUM DETALHE QUE QUEIRAS REFERIR?O lançamento do livro foi realizado durante o campeonato do mundo de surf em Peniche em Outubro de 2012. Posso dizer que foi bastante bem produzida. Tal como noutras coisas ligadas com o livro, conseguimos na altura ter presentes os convidados que queríamos e sobretudo o impacto mediático que procuramos para divulgar este livro.

QUAIS AS DIFERENÇAS ENTRE ENSINAR SURF E ENSINAR PRODUÇÃO DE EVENTOS?Para começar a sala de aula. Do ponto vista puramente prático são coisas distintas. Numa aula de produção de evento tu estás a passar a tua experiência e a maneira como as coisas podem ser realizadas. Para isso tens de recorrer a exemplos práticos que permitam aos alunos perceber o que queres dizer. Não há um “fazer” a seguir. Nas aulas de surf pretendes que os alunos “façam” o que lhes explicas. Ou seja começas por explicar o movimento, exemplificando como se faz para depois levares os alunos para a água para que possam realizar esse movimento. As aulas de surf, tal como a maior parte dos desportos, tem uma componente de repetição dos movimentos muito grande. O que não acontece nos eventos.

“pareceu-nos que um guia seria uma boa maneira de darmos o nosso input ao Surf.”

E QUAIS OS PONTOS COMUNS?Em comum há em meu entender a vertente pedagógica, ou seja, sempre que estás a ensinar alguém a fazer qualquer coisa tens de ter uma postura pedagógica, estando a todo o momento preparado para mudar de estratégia em função da realidade com que te deparas, seja dentro de água ou fora dela. Para mim ensinar é um prazer. Espero sempre que os meus alunos sintam o mesmo.

Entrevista Rute Novais Fotografia Alexandra Lopes e Tomás Monteiro

Professor

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SABEMOS QUE REPRESENTAS EM PORTUGAL UMA ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL CHAMADA SURFRIDERS FOUNDATION. FALA-NOS DESSE PROJECTO.A Surfrider Foundation Europe é uma organização não-gover-namental ligada ao mar e ao surf, que foi fundada em meados dos anos oitenta por um grupo de surfistas na Califórnia que, chocados com a quantidade de lixo que encontravam à beira mar decidiram actuar. Posteriormente a SF veio para a Europa pela mão do Tom Curren ex-campeão do mundo de surf e desde então tem vindo a crescer pelo mundo. Em Portugal existe des-de de 1989 em Viana do Castelo. Em 2011 fomos convidados para desenvolver o projecto na área de Lisboa, o que aceitei de bom grado, pois já no passado tinha desenvolvido uma série de limpezas de praia ao longo da costa e, como surfista e utilizador da praia o ano inteiro sinto que devemos e podemos fazer mais pelo nosso bem-estar e pelo futuro do nosso planeta.

FAZ SENTIDO QUE ESSE TIPO DE PROJECTOS FAÇA PARTE DA ESTRUTURA CURRICULAR?Correndo o risco de não perceber bem a tua pergunta, diria que faz sentido alertar os jovens para o planeta. Poderá fazer sentido ter num curso de eventos um módulo onde se fale da importância do voluntariado nos nossos dias, seja ele ligado ao ambiente ou a outras áreas. A propósito disto quero deixar uma história que se passou com a SF no início de Março de 2013. Foi-nos pedido pela embaixada Americana em Lisboa, ajuda para organizar uma limpeza de praia, o que fizemos pois temos sido parceiros da embaixada desde do início. A minha surpresa foi que, quem veio limpar a praia foi um grupo de 15 marinhei-ros, homens e mulheres que estavam ancorados num navio de guerra no porto de Lisboa. Estes marinheiros estiveram em Lis-boa cerca de três dias e mesmo assim decidiram após um turno de 12 horas ir limpar uma praia de um país que não conheciam. Conto esta história porque penso que do ponto de vista civiliza-cional temos ainda muito que aprender e claramente a questão do voluntariado e da ajuda ao próximo é muito importante para que o futuro que estamos a construir seja melhor para todos e não só para alguns. Mas isso depende de todos. Dito isto penso que incluir num curso de eventos um módulo de voluntariado teria todo o sentido.

E RELATIVAMENTE AOS VÁRIOS TIPOS DE EVENTOS? O ENVOLVIMENTO DE ASSOCIAÇÕES COMO A SRF FAZ SENTIDO? PORQUÊ?Sem dúvida nenhuma. Durante dois anos em que com a minha empresa percorremos as praias de Portugal levamos sempre a cabo este tipo de iniciativas com grande sucesso. Limpamos mais de 100 praias nestes dois anos. É importante não tanto pela limpeza da praia, que é sem dúvida positivo, mas pela capacidade que estas acções têm de chamar a atenção junto das pessoas no geral para a importância de não poluirmos e re-ciclarmos e reutilizarmos e reduzirmos. Às vezes, numa limpeza de praia, num local que pensamos estar já limpo, chama-nos a atenção a quantidade de coisas que ainda estão a poluir a nossa costa.

GOSTAVAMOS QUE TERMINASSES COM UMA DICA DE OURO PARA OS FUTUROS PRODUTORES DE EVENTOS.Costumo dizer aos meus alunos que o seu sucesso depende apenas deles e para que o consigam alcançar não devem ter medo de correr atrás dos seus sonhos.

Obrigada.

Entrevista Rute Novais Fotografia Alexandra Lopes e Tomás Monteiro

Professor

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Sete anos separam as palavras do Gabriel o Pensador deste Sem Crise das «Palavras Repetidas» do Cavaleiro Andante de 2005. De facto o tempo passa. A verdade é que já lá vão vinte anos desde a altura em que o seu álbum homónimo nos levou a apontar o dedo às mulheres que trocavam a beleza pela inteligência, e que nos fez desejar morar numa favela, depois de assassinar metaforicamente o chefe de estado em «Tô Feliz (Matei o Presidente)».

Neste caso em particular, mudam-se os tempos e não se mu-dam as vontades: Gabriel continua igual a si próprio e com o mesmo desejo de mudar o mundo e as mentalidades, ou pelo menos de contribuir para tal através das suas letras. Neste Sem Crise continuamos a encontrar as intervenções político-sociais bem sublinhadas no tema «Nunca Serão», para além dos episódios da sua vida contados na primeira pessoa, como em «Linhas Tortas», e referências a uma das suas grandes paixões no single «Solitário Surfista».

Estes três temas carimbam o passaporte para um álbum cheio daquilo a que já estamos habituados: o domínio total do poder das palavras que este Cavaleiro Andante usa como espada sagrada e ao mesmo tempo como escudo de defesa, balançan-do as suas rimas ao som de ritmos que podem ir da cadência tropical às batidas fortes e secas do hip hop.

Este é mais um disco de Gabriel o Pensador que traz nas es-trofes todo o código genético do trovador de rimas que um dia desafiou as leis do pensamento. Cumpre com as espectativas.

Gabriel o PensadorSem Crise, 2012

Hip Hop Brasil/Sony Music7/10

Crítica Manuel Rodrigues

Críticas Música

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Este disco tem mil descrições possíveis mas eu sugiro esta: álbum para festa. É perfeito para meter a rodar numa festa, em casa de amigo, onde haja mulheres bonitas, whisky cola e um ambiente relaxado. Intercalem a reprodução de Free The Universe com um pouco de Knife Party e Daft Punk, porque uma festa não vive só com este disco. É mais para “começar” a noite. Uma espécie de compilação.Santigold, Vybz Kartel, Shaggy, Flux Pavilion, Busy Signal, Wycleaf Jean e Ezra dos Vampire Weekend, entre outros, trouxeram o ritmo e voz.

O álbum foi lançado em Abril, dia 16, e é indispensável ouvir «Jah No Partial» com Flux Pavilion ou «Get Free» com Amber da banda Dirty Projectors. Não me parece haver um fio condu-tor de todo, nem parece haver algo que una estes temas a não ser o seu formato físico do CD. É uma altura boa para vermos as colaborações na ficha técnica e pensar: “o que é feito deste gajo?”, ou: “ há tanto tempo que não oiço nada desta banda. Será que têm algum trabalho novo?”. Mas nem toda a música é feita para pensar. Por vezes, é mesmo só para abanar o capacete. É definitivamente algo para ouvir e esquecer.

Diplo e Switch, ambos produtores e Dj’s, já lançaram outro trabalho antes deste Free The Universe, enquanto Major Lazer, Guns Don’t Kill, Lazers Do. A sonoridade do recém-chegado trabalho reflete as parcerias dancehall, house e moonbahton (mistura de reggae e house) – toda essa música que está a vol-tar a ser recuperada pelos clubs. O bass apurado é como que o elemento chave de todo este universo.

Major LazerFree The Universe, 2013

Secretly Canadian5/10

Crítica Tiago Amaral

Críticas Música

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Entrevista Daniela Ascensão Fotografias Fernando Alle

Ex-Aluno

Fernando Alle

O que te levou a escolher a ETIC? De que forma te influenciou pessoal e profissionalmente?

Eu, desde que me lembro, sou apaixonado por cinema, e na altura em que estava a completar o 9º ano, decidi tirar um curso profissional em audiovisuais. Após pesquisar as diversas opções, optei por me inscrever na Etic. Foi uma opção acertada, pois para além de me ter permitido entrar em contacto com a área bastante cedo, fiz amizades com colegas de turma, com quem vim a fazer filmes após ter terminado o curso.

Depois do curso, como tem sido o teu percurso profissional?

Após terminar o curso, em 2007, fiz dois estágios. Um como as-sistente de realização no programa de tv Curto Circuito, e outro como assistente de montagem na longa-metragem Amália, do Carlos Coelho da Silva. A partir desses estágios, surgiram outras oportunidades profissionais, e desde então tenho trabalhado como freelancer em pós-produção. Infelizmente, há mais de um ano que não trabalho em cinema, trabalhando maioritariamente como editor para vídeos comerciais para empresas.

Quem são as tuas maiores influências a nível cinematográfico?

“Há milhares de filmes que nunca vi e gostaria de ver!”

APAIXONADO POR CINEMA

O realizador que mais admiro é o Peter Jackson, seguido por Quentin Tarantino, e depois Werner Herzog. Mas as influências mais directas nos filmes que tenho feito até agora foram com certeza, Toxic Avenger, Riki-oh (o filme que faz com que o Ver-tigo pareça o Citizen Kane), e a trilogia inicial de filmes gore do Peter Jackson. Foi também na altura em que comecei a estudar na etic que aumentei os meus horizontes em termos de conhecimento da história do cinema e que descobri a maior parte dos filmes acima mencionados. Hoje em dia tenho os conhecimentos muito mais alargados, mas mesmo assim há milhares de filmes que nunca vi e gostaria de ver. Essa tarefa é dificultada com o facto de eu me ocupar com trabalho, e ter que ver os filmes contemporâneos que vão estreando nos cinemas. Eu normalmente não reclamaria, não fosse o facto de em 2012 ter perdido centenas de horas a ver filmes maus que não servem para nada, incluindo filmes que foram nomeados para óscares, tais como Life of Pi, Beasts of Southern Wild e o Argo. Apesar de ter visto filmes bons em 2012, penso que só vi dois filmes que considero obras-primas: The Grey e Moonrise Kingdom. Eu já me desviei bastante do assunto, mas não poderia deixar es-capar a oportunidade de elogiar as duas obras-primas esqueci-das de 2012, e falar mal do triste panorama dos nomeados aos óscares, incluindo o vencedor, Argo, que para além de ter um argumento ridículo e “by the numbers”, é um filme indulgente e

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O que te levou a “apaixonar” pelo estilo gore, tão presente nos teus projectos?

Foi ter visto A Irmandade do Anel. Na altura, achei que era o melhor filme à face da terra e ainda acho. Esse encantamento pelo filme levou-me a ver todos os outros filmes do Peter Jack-son, cuja filmografia ate então me era quase toda desconhecida. O primeiro filme dele que vi, após ter visto a Irmandade do Anel, foi Meet the Feebles, e foi amor à primeira vista. Isso levou-me a procurar e descobrir outros filmes do género. Eu tenho prefer-ência por filmes gore que não se levam a sério, que usam a violência extrema como artifício cómico. Os filmes que fiz foram todos nesse estilo, mas brevemente irei explorar outros géneros. Gostaria de um dia fazer um musical, tal como o Singin’ in the Rain.

De todas as funções que existem numa equipa audiovisual, qual ou quais mais te interessam? Porquê?

A de realizador/argumentista, porque, usando agora um cliché, quero contar histórias. Ao fazer os meus filmes também desen-volvi um gosto por efeitos especiais práticos, e no geral adoro estar em filmagens em que há um espírito de camaradagem e amor pela arte, obstante da função que desempenhe.

A ideia surgiu numa aula sociocultural enquanto estava na ETIC. Foi em 2007, e eu tinha acabado de ver o filme 300, e estava aborrecido numa aula de matemática, quando comecei a de-senhar um Espartano a matar Persas. Acontece que os Persas tinham ficado muito pequenos, e o meu colega André Silva fez a observação que os persas pareciam crianças. E nesse momento nasceu a ideia de um wrestler que mata crianças porque o filho foi alvo de bullying.

Papa Wrestling tornou-se um enorme sucesso. Como surgiu a ideia?

“Usando agora um cliché, quero contar histórias.”

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Juntamente com alguns colegas de curso, criaram o projecto “Clones”. Fala-nos um pouco sobre isso.

A Clones é uma produtora não-profissional, composta por mim o Pedro Florêncio, Tiago Augusto, Núria Leon Bernardo, e Luís Henriques. Com excepção do Luís, conhecemo-nos todos na ETIC. Após o curso, continuámos em contacto, e quando estava a preparar o Papá Wrestling convidei-os a ajudarem-me, e depois surgiu o desejo de continuar a fazer filmes. Como grupo, fizemos o Blarghaaahrgarg em 2010 e Banana Motherfucker em 2011, entre outras pequenas coisas, como dois workshops de cinema low-budget em 2012, e também fomos convidados pelo festival Frightfest, em Londres, para realizar uma promo para o festival. Actualmente, o projecto Clones está em estado de hibernação, com cada um de nós a focar-se em projectos individuais.

BLARGHAAARHGARG e Banana Motherfucker seguiram-se a Papa Wrestling. Esperavas que as vossas curtas-metragens fos-sem tão bem recebidas pelo público?

Na altura do Papá Wrestling, não. Até porque, na altura do argumento, tínhamos recebido varias opiniões negativas rela-tivamente ao conceito. Por isso, quando estreámos o filme no Motelx, foi uma surpresa gratificante ver a reação explosiva da sala, e o impacto que o filme teve depois nas redes sociais e no youtube. Lembro-me que na altura em que lançámos o Papá Wrestling no youtube tivemos 10 mil visualizações na primeira semana, e isso na altura parecia inacreditável, e agora, pas-sados três anos, o filme tem 230 mil visualizações e o trailer do Banana Motherfucker tem mais de meio milhão. É um facto bastante gratificante.

Já recebeste muitos prémios com estes projectos?

Sim, tanto o Papá Wrestling como o Banana Motherfucker ar-recadaram, penso, que uns 10 prémios cada um, e na maioria em festivais internacionais. Em termos de festivais, temos muito mais destaque lá fora, principalmente em Espanha.

Entrevista Daniela Ascensão Fotografias Fernando Alle

Ex-Aluno

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Como é que conseguem fundos para suportar as produções?

Nenhum dos nossos três filmes foi lucrativo. Felizmente, também não gastámos muito. Penso que nunca ultrapassámos mil euros em nenhum dos projectos. Embora esse valor até pareça alto, como somos cinco, não fica muito a cada um. Por isso, paga-mos os filmes do nosso bolso, e no caso do Blargh, com algum dinheiro de prémios e vendas de dvds do Papá wrestling. Quem quiser ajudar os nossos futuros projectos pode comprar os nos-sos dvds em www.bananamotherfucker.com

Tiveste a oportunidade de dar um workshop na última edição festival de cinema MOTEL X. Como surgiu a oportunidade? Fala-nos desta experiência.

Desde 2009, concorremos durante três anos consecutivos ao Motelx, e em dois dos anos recebemos uma menção honrosa. O ano passado foi o primeiro ano em que não tínhamos nada em competição e, tendo em conta o culto que temos criado, o festival achou por bem convidar-nos a dar uma masterclass e um workshop. A ideia do workshop era filmar uma matança épica que envolvesse todos os intervenientes. Para nossa sur-presa, estavam presentes umas 30 pessoas, algumas que não sabiam sequer quem nós eramos, nem muito bem o que e o que aquilo ia ser. Não poderia ter corrido melhor, e os participantes ficaram muito satisfeitos. Gostaria de repetir a experiência de dar um workshop brevemente. Podem ver o resultado aqui: https://www.youtube.com/watch?v=RMfycHrtbsA

Que conselho dás a quem está a estudar cinema ou pretende entrar nesta área?

A maior vantagem de estar numa escola de cinema é ter ferra-mentas para experimentar e aprender. Se têm interesse em fazer filmes, não se cinjam aos projectos curriculares. Aproveitem os recursos que as escolas proporcionam e façam curtas extra-curriculares, porque a melhor maneira de aprender é fazer.

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Entrevista Daniela Ascensão Fotografias Fernando Alle

Ex-Aluno

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Julia KristevaOs SamuraisLibrairie Arthème Fayard/Difusão Cultural8/10

Corria o ano de 1968 quando Olga, uma jovem de Leste, decidiu mudar-se para Paris, de forma a enriquecer os seus estudos. Mal sabia ela que esta viagem a mudaria para sempre. Em Paris conheceu Hervé Sinteuil, um pensador cujo charme e facilidade no discurso não era indiferente a ninguém. Esta é a sua história de amor e é, simultaneamente, a história de uma geração e de uma revolução, relatada em 1989, em forma de analepse. A história começa com Olga e Hervé sentados debaixo de uma árvore que existe há tanto tempo quanto os anos de Olga naquele país, o que a leva a refletir sobre o seu percurso.“Os samurais” é a história de uma revolução que começou na universidade de Sorbonne e se alastrou por todo o mundo. Uma luta pelo fim das limitações do conhecimento. Foi a revolução que mostrou o poder dos jovens, a revolução de maio de 68, quando os mandarins, pensadores, passaram a samurais, guerreiros na luta pelo sentido da vida. Este é mais do que um livro de história, é um livro de vivências, relatos, romances e memórias. Um livro que todos deveriam ler e pelo qual todos se deviam deixar inspirar, relembran-do a velha máxima da “união faz a força”!

Crítica Rita Bernardo

Críticas Livros

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Rui Miguel AbreuFilarmónica Fraude - E Tudo Acabou em 69, 2013Guerra e Paz8/10

E Tudo Acabou em 69 conta-nos a história dos Filármónica Fraude, uma banda que viveu nos duros anos do Portugal «orgulhosamente só» e que viu a sua carreira começar como conjunto de baile em 1965 – nesta época ainda como Os Académicos – e acabar quatro anos depois por razões inerentes ao cumprimento do serviço militar. Rui Miguel Abreu, jornalista da revista Blitz e radialista da Antena 3, coloca a nu a saga do coletivo que deixou ao mundo dois EPs e um extraordinário disco de longa-duração. O LP Epopeia teve um percurso no mundo musical semelhante ao de um bom vinho a amadurecer em pipas de carvalho. Começou por ser um mero conjunto de canções com um cuidado cariz revolucionário mascarado em sublimes metáforas epopeicas que disparou, porém, os alarmes da censura através de uma mísera e inocente assinatura na capa do disco. Os anos passaram e esse mesmo conjunto de canções foi ganhando notoriedade no meio musical e chega-nos, nos dias de hoje, como uma obra exímia pro-duzida em terras lusas. O quinteto conta-nos, assim, em E Tudo Acabou Em 69, todo o percurso que os levou até aos estúdios da Philips para gravar a sua Epopeia, uma caminhada polvilhada com detenções policiais na esquadra da Praça da Alegria, percalços com as autoridades espanholas numa ida a Valência de Alcântara para participar num concurso musical, pianos que atravessaram o atlântico entre Portu-gal e Brasil, épocas estivas passadas numa cabana em Alvor, dis-cos com capas de serapilheira, concertos em batelões no rio Tejo e toda uma panóplia de aventuras que a memória dos cinco membros fundadores repesca nestas páginas. Vale mesmo a pena ler.

Crítica Manuel Rodrigues

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Entrevista Joana Tavares e Sofia Martins Fotografia Inês Silva e Bruna Silva

Professor

MIGUEL ÂNGELOO PRIMEIRO «LUGAR AO SOL»

DE UM RESISTENTE

Já fez teatro, já emprestou a voz à dobragem de desenhos animados, já foi apresentador de televisão, já fez bandas sonoras de filmes, é arquiteto e já escreveu romances, mas, apesar do nome de artista do

Renascimento, nunca quis tornar-se um homem de sete ofícios.

Antes de tudo isto, é um homem da música.

Depois dos Delfins e dos Resistência, Miguel Ângelo está agora a caminhar pelo seu próprio pé. Diz que tem esperança de ainda conseguir ter uma carreira a solo. Criou as novas músicas de Primeiro «sem autopreconceitos», de forma «meio inconsciente, a contrariar o ambiente negro de agora». É devoto da década de 60 e dos Beatles e defende que o consumismo de música em forma física pode estar a

tornar-se desinteressante. Diz que o Justin Timberlake acaba de fazer um «grande álbum» e ainda é fã da série televisiva Californication.

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Entrevista Joana Tavares e Sofia Martins Fotografia Inês Silva e Bruna Silva Professor

COMO SE CONSTROEM BANDAS TÃO EMBLEMÁTICAS COMO OS DELFINS OU OS RESISTÊNCIA?Na altura, existia o Hot Club e o Conservatório de Música, mas

eram escolas muito radicais; se alguém tinha um grupo de pop,

rock ou hip-hop era logo colocado à margem, porque não eram

consideradas formas de música sérias. Queria antes estar den-

tro de outro universo musical, escrever canções originais numa

garagem, e todos os elementos tinham a ambição de ser um dia

profissionais disto. No caso dos Delfins, as coisas aconteceram

de forma muito progressiva e isso solidificou-nos em termos de

aprendizagem musical e de bagagem que também é preciso

ter nesta carreira; é preciso saber lidar com o sucesso, com o

fracasso, com a indústria, com a pressão das editoras. Quanto

mais sólida for a relação entre os próprios membros da banda e

a sua visão do mercado e da indústria, melhor para a banda. O

sentimento é o mesmo que têm agora os músicos mais novos.

NO INÍCIO, OS DELFINS QUERIAM SER COMO OS BEATLES… [Risos] Todas as bandas querem. Não vivemos na década dos Beatles (quando começamos a ter consciência do que era a música, já os Beatles tinham acabado) mas de qualquer ma-neira foi uma banda que existiu num curto espaço de tempo e que produziu obra como nenhuma outra e que influenciou quase todos os géneros musicais, do hip-hop, ao metal, ao rock, ao pop, a vanguarda, ao experimentalismo… O White Album tem lá tudo. Foram os primeiros a desbravar terreno na criatividade, mas também na parte técnica. O grupo tornou-se um gigante na música e vai ficar para sempre como referência, tal como acontece na música clássica com o Beethoven ou o Mozart. Mas tinha outros heróis de juventude como o David Bowie ou o Peter Gabriel.

UM DIA AFIRMASTE QUE OS DELFINS NÃO TINHAM VOL-TADO A TER UMA LINGUAGEM CRISTALINA POP QUE SE VERIFICOU ATÉ 1996. O TEU ÁLBUM A SOLO PRIMEIRO É, PORTANTO, UM REGRESSO A ESSAS ORIGENS E UM TESTE AOS TEUS ANTIGOS FÃS?É normal que os discos que se tornam grandes êxitos de vendas cristalizem a música do grupo. As pessoas sabiam que nós não eramos aquilo que eu chamava na altura de «ultrapop». Como os Delfins já tinham feito tantas coisas diferentes dentro da pop, quiseram experimentar algo totalmente diferente e mais elec-trónico. Partilhámos muitas experiências com músicos brasileiros e era aquela linguagem de canção que queríamos desenvolver. Uma das coisas que mais prezo na carreira dos Delfins é a liberdade que sempre tivemos, inclusive uma liberdade de falhar e de errar comercialmente. Até pode ser estranho o facto de um grupo comercial como os Delfins ter esta liberdade de criação ao ponto da editora só ouvir o disco quando ele estava pronto. Com este álbum não senti tanto aquela pressão que os Delfins sentiam sobre o que fazer a seguir, a necessidade de inovar ou de fazer algo surpreendente. Se calhar é da idade, mas há uma paz de espírito e uma confiança que me fez não estar preocu-pado se iria ou não parecer Delfins. Sem autopreconceitos. Sem testes a antigos ouvintes. Fiz este disco de uma maneira meio in-consciente, a contrariar o ambiente negro de agora. Há canções de esperança e de ligeireza de espírito. 

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“Uma das coisas que mais prezo na carreira dos Delfins é a liberdade que sempre tivemos, inclusive uma

liberdade de falhar e de errar comercialmente.”

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“sinto que estou agora a construir algo novo”

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Entrevista Joana Tavares e Sofia Martins Fotografia Inês Silva e Bruna Silva Professor

FOI FÁCIL TRANSPORTAR ESSE OPTIMISMO PARA O ÁL-BUM?Quando o disco estava em pré-produção, tínhamos uma te-levisão sem som na sala, sempre ligada. À medida que íamos lendo as notícias em rodapé, sentíamo-nos cada vez mais culpados. «Tanta coisa a acontecer e nós aqui com as guitar-ras, a produzir uma canção que se chamava “Um Dia Perfeito”? Será que estamos aqui a viver numa bolha?», pensávamos. Mas decidi não pensar muito em toda a conjuntura. Se as canções me saíam daquela maneira, por alguma razão seria. Algumas pessoas vêm ter comigo depois dos concertos para me dizer que, por momentos, se esqueceram do mundo lá fora.

QUAIS FORAM AS PRIMEIRAS REACÇÕES NOS CONCER-TOS?Tive um pouco o receio de que as pessoas que se deslocaram aos espetáculos quisessem que eu tocasse as canções dos Delfins. Mas isso não aconteceu. Senti que as pessoas que pagaram bilhete gostavam também de coisas novas e da minha música; talvez já estivessem fartas das coisas mais antigas. Fui buscar algum repertório dos Delfins como o «Lugar ao Sol» e «Aquele Inverno». O disco novo tem sido tocado na íntegra e tem sido muito bem recebido. Isto deu-me alguma esperança de ainda conseguir ter uma carreira a solo. Não renego a músi-ca dos Delfins, mas sinto que estou agora a construir algo novo a solo que vai ser a cor das minhas setlists nos próximos anos.

O MODELO DE NEGÓCIO DA MÚSICA MUDOU MUITO NOS ÚLTIMOS ANOS: OS ÁLBUNS VÃO SENDO REVELADOS AOS POUCOS ONLINE, OS ARTISTAS DIZEM ONDE VÃO ES-TAR, QUE CONCERTOS FAZEM NA NOITE SEGUINTE NAS SUAS REDES SOCIAIS. QUE ANÁLISE FAZES A ESTA NOVA FORMA DE EXPOR A MÚSICA?Gosto de ouvir discos em casa, mas já há poucos discos que tenha ouvido do princípio ao fim. O iTunes, por exemplo, está a disponibilizar os discos em streaming; fê-lo com o novo disco do David Bowie e do Justin Timberlake: as pessoas podem ouvi-los, mas têm de o fazer de forma seguida, sem ser can-ção a canção. Ouvi o último trabalho do Timberlake, não sou particularmente fã dele, mas soou muito bem como um todo. A indústria mudou e agora é uma indústria de singles. O modelo anterior que tinha a ver com editoras está falido, já não funciona.

Para os grupos novos, é mais fácil mostrar apenas um single do que fazer um álbum total. O álbum não morreu completamente, mas as canções (tal como nos anos 60, na pré-fase Beatles) voltaram a funcionar nos EPs.

E OS DOWNLOADS ILEGAIS?Estão mortos. Com a banda larga, toda a gente ouve música em streaming. Se a música se ouve onde estamos e no aparelho que temos a qualquer hora, não precisamos de possuir o mp3. Tenho filhos adolescentes que nunca compraram um disco; têm um iPod e estão sempre a mudar a playlist, nem sequer pre-cisam de ter discos na prateleira. A música hoje é um bem de consumo como a água ou a luz. O consumismo de ter o objecto até pode tornar-se desinteressante. Por que preciso de ter o objecto? Só para mostrar que o tenho? A única coisa que tem de mudar é a parte paga do serviço da banda larga. Esta deve ser entregue aos criadores de conteúdos, às sociedades de gestão de direitos de autores, aos produtores discográficos e aos intér-pretes. São elas que estão a trabalhar para fornecer o conteúdo desses serviços.

HÁ BONS CRÍTICOS DE MÚSICA HOJE EM DIA?Com o aparecimento de programas como o Spotify ou a Musicbox, há novos lançamentos distribuídos por categorias. Existe a oportunidade de ouvir uma música e decidir logo se se gosta ou não; não precisas que alguém vá validar o teu gosto. Acabamos por ser os nossos próprios críticos e as novas su-gestões chegam-nos através dos nossos amigos, que nos falam de filmes ou discos novos nas plataformas sociais.

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SENTES-TE PARTE DE UMA GERAÇÃO DE “RESISTÊNCIA”?[Risos] Sinto. Mas a geração de resistência foi a do 25 de Abril, a minha – a dos anos 80 – foi a de construção. Começámos a criar algo em conjunto e hoje podemos ver o produto do nosso trabalho: temos grandes empresários, grandes editoras, grandes agentes, uma boa linguagem técnica. Um espetáculo dos Xutos & Pontapés no Estádio do Restelo é igual ao de uma qualquer banda estrangeira que venha atuar em Portugal.

OS POLÍTICOS TÊM ALGO A APRENDER COM OS MÚSICOS?O político está sempre a decidir a pior das melhores soluções e na arte está-se sempre à procura da melhor das melhores soluções para a nossa inspiração. Os artistas podiam ensinar muito ao mundo. A arte ensina-nos uma maneira de estar na vida e uma bagagem cultural que nos ajuda sempre a ser uma pessoa melhor, quer nas relações pessoais, quer na forma como executamos o nosso trabalho. Se as escolas ensinassem música como deve ser todos seriamos melhores cidadãos, logo tería-mos melhores políticos, professores ou engenheiros.

LEMBRAS-TE COMO FIZESTE ESSE PAPEL DE PROFESSOR NA TUA PRIMEIRA AULA NA ESCOLA TÉCNICA DE IMAGEM E COMUNICAÇÃO (ETIC)?Lembro-me bem. Foi em Novembro de 2011 e comecei logo com uma aula de apresentação do disco. Estava nervoso, queriam que eu falasse durante 4 horas e eu só pensava: “Estão malucos!” [risos]. Depois acabei por perceber que este tempo não era nada, passou a correr; foi incrível. Nesta escola, as pessoas querem falar e querem ter uma voz. É uma escola muito social. Gosto de encontrar-me com os seus gostos e idades das pessoas e isso acontece com os meus alunos, ao entrar no seu universo musical. Mantenho um espírito algo ingénuo em todas essas facetas, até como professor. Só assim consigo esta-belecer comunicações. Nunca acreditei muito no sentimento de austeridade, nem mesmo como pai.

QUANDO FOI A ÚLTIMA VEZ EM QUE TE VISTE INFLUENCIA-DO PELOS TEUS FILHOS?Os meus filhos apresentaram-me às séries do Family Guy e do American Dad e, apesar do meu filho ser fã da série Californica-tion, fui eu que a vi primeiro [risos]. Já me obrigaram a ir ver o 50 Cent e não gostei nada.

OUVES AS TUAS PRÓPRIAS MÚSICAS?Acabo por ouvi-las tanto durante todo o processo de cons-trução, que depois não as consigo ouvir mais. Só volto a ouvi-las quando toco ao vivo. Ou então na rádio, mas quando isso acon-tece, mudo de estação. Isto só é engraçado se for uma música de um disco antigo porque penso: “Deixa-me lá ouvir o que fiz há 10 anos.”

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O SONHO

O que é o sonho?Inexistente neste mundoUm tanto vagabundo.Algo estranho, suponho.

Pelo sonho é que vamos.Diz.Algo que se contradiz,Quando na realidade acordamos.

Para quê sonhar,Se a realidade é o leme?Fuga ao que o Homem teme.Vontade de acreditar.

O sonho comanda a vida.Diz.Algo que se contradiz,Quando a realidade é vivida.

Na realidade escura,O sonho é luz.Algo que nos conduzNesta vida tão dura.

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A propósito do estudo da obra Memorial do Convento, de José Saramago, e da sua associação à Pedra Filosofal, de António Gedeão, Daniela Ascensão, de VI10,

compôs o poema que se segue sobre a importância do sonho.

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Ficha TécnicaE_MAGAZINErevista mensal

DIREÇÃODr. José PacíficoGonçalo BarreirosRute Novais

PROPRIEDADE ETIC escola técnica de imagem e comunicaçãoRua D. Luís I, nº3 1200-151 LISBOA

EDIÇÃO Daniela AscensãoGonçalo Barreiros

FOTOGRAFIAPatrícia FariaAlexandra LopesTomás Monteiro

REDAÇÃO E REVISÃODaniela AscensãoGonçalo BarreirosTelma SilvestreDiogo PereiraDaniel Sales GomesSofia MartinsJoana TavaresTiago AmaralSara CoelhoManuel RodriguesRita BernardoMário Borges João TeixeiraRute Novais

DIREÇÃO CRIATIVARute Novais

DIREÇÃO DE ARTEAna AbrantesMariana Rodrigues

PRODUÇÃO EXECUTIVADaniela AscensãoGonçalo BarreirosRute NovaisTelma Silvestre

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