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Arq. Bras. Med. Vet. Zootec., v.66, n.2, p.360-366, 2014 Eficiência de lagoas de polimento no pós-tratamento de reator UASB no tratamento de águas residuárias de suinocultura [Efficiency of a polishing pond for the post-treatment of the effluent from UASB reactor treating swine wastewater] A.C.A. Pinto 1 , L.S. Rodrigues 2* , P.R. Oliveira 2 , M.V. Sperling 2 , C.M. Crisóstomo 3 , I.J. Silva 2 1 Aluna de pós-graduação Universidade Federal de Minas Gerais UFMG Belo Horizonte, MG 2 Universidade Federal de Minas Gerais UFMG Belo Horizonte, MG 3 Médica veterinária autônoma Belo Horizonte, MG RESUMO Avaliou-se o desempenho de um sistema de lagoas seriadas que recebeu efluentes de reator UASB, no tratamento de águas residuárias de suinocultura. O sistema foi composto de reator anaeróbio de chicanas (RAC), reator UASB, em escala real, e uma série de lagoas (uma lagoa facultativa e três de maturação), em escala piloto. As análises físico-químicas realizadas foram: pH, demanda bioquímica de oxigênio (DBO), demanda química de oxigênio (DQO), sólidos suspensos totais (SST), sólidos suspensos voláteis (SSV), nitrogênio amoniacal (N-am.), fósforo total (Pt), coliformes totais (CT) e Escherichia coli (EC). As lagoas de pós-tratamento contribuíram eficientemente para remoção de nutrientes, matéria orgânica e sólidos, fornecendo um efluente com qualidade para o reuso agrícola ou lançamento em corpos d’água. Palavras-chave: suinocultura, lagoas de pós-tratamento, reator UASB ABSTRACT The performance of a post-treatment pond for treating swine wastewater from an UASB reactor was evaluated. The system was assembled with an anaerobic baffle reactor (RAC), followed by an UASB reactor (UASB) on a real scale, and a post-treatment pond on a demonstration scale. The following parameters were analyzed: pH, biochemical oxygen demand (BOD), chemical oxygen demand (COD), total suspended solids (TSS), volatile suspended solids (VSS), ammonia nitrogen (N-am.), total phosphorus (Pt), total coliforms (CT) and Escherichia coli (E coli.). The post-treatment lagoons contributed efficiently to remove nutrients, organic matter and solids, providing an effluent quality for agricultural reuse or discharge into a body of water. Keywords: swine wastewater, post-treatment pond, UASB reactor INTRODUÇÃO A suinocultura constitui uma das cadeias produtivas mais bem estruturadas do agronegócio brasileiro, compreendendo o terceiro maior rebanho mundial, porém sua exploração é considerada pelos órgãos de controle ambiental como uma atividade potencialmente causadora de degradação ambiental, sendo enquadrada como de grande potencial poluidor (Palhares e Calijuri, 2006). Recebido em 18 de maio de 2012 Aceito em 11 de novembro de 2013 *Autor para correspondência (corresponding author) E-mail:[email protected] As águas residuárias de suinocultura apresentam altas concentrações de sólidos suspensos orgânicos, provocando impactos ambientais acentuados em várias regiões do Brasil, bem como em outros países. A suinocultura no Brasil vem destacando-se no cenário do comércio internacional pela sua elevada qualidade técnica e produtividade, porém com este elevado desenvolvimento também cresceram os problemas decorrentes da disposição dos dejetos (Ishizuka, 2003).

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Arq. Bras. Med. Vet. Zootec., v.66, n.2, p.360-366, 2014

Eficiência de lagoas de polimento no pós-tratamento de reator UASB no tratamento de

águas residuárias de suinocultura

[Efficiency of a polishing pond for the post-treatment of the effluent from UASB

reactor treating swine wastewater]

A.C.A. Pinto1, L.S. Rodrigues

2*, P.R. Oliveira

2, M.V. Sperling

2, C.M. Crisóstomo

3, I.J. Silva

2

1Aluna de pós-graduação Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG – Belo Horizonte, MG

2Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG – Belo Horizonte, MG 3Médica veterinária autônoma – Belo Horizonte, MG

RESUMO

Avaliou-se o desempenho de um sistema de lagoas seriadas que recebeu efluentes de reator UASB, no

tratamento de águas residuárias de suinocultura. O sistema foi composto de reator anaeróbio de chicanas

(RAC), reator UASB, em escala real, e uma série de lagoas (uma lagoa facultativa e três de maturação),

em escala piloto. As análises físico-químicas realizadas foram: pH, demanda bioquímica de oxigênio

(DBO), demanda química de oxigênio (DQO), sólidos suspensos totais (SST), sólidos suspensos voláteis

(SSV), nitrogênio amoniacal (N-am.), fósforo total (Pt), coliformes totais (CT) e Escherichia coli (EC).

As lagoas de pós-tratamento contribuíram eficientemente para remoção de nutrientes, matéria orgânica e

sólidos, fornecendo um efluente com qualidade para o reuso agrícola ou lançamento em corpos d’água.

Palavras-chave: suinocultura, lagoas de pós-tratamento, reator UASB

ABSTRACT

The performance of a post-treatment pond for treating swine wastewater from an UASB reactor was

evaluated. The system was assembled with an anaerobic baffle reactor (RAC), followed by an UASB

reactor (UASB) on a real scale, and a post-treatment pond on a demonstration scale. The following

parameters were analyzed: pH, biochemical oxygen demand (BOD), chemical oxygen demand (COD),

total suspended solids (TSS), volatile suspended solids (VSS), ammonia nitrogen (N-am.), total

phosphorus (Pt), total coliforms (CT) and Escherichia coli (E coli.). The post-treatment lagoons

contributed efficiently to remove nutrients, organic matter and solids, providing an effluent quality for

agricultural reuse or discharge into a body of water.

Keywords: swine wastewater, post-treatment pond, UASB reactor

INTRODUÇÃO A suinocultura constitui uma das cadeias

produtivas mais bem estruturadas do

agronegócio brasileiro, compreendendo o

terceiro maior rebanho mundial, porém sua

exploração é considerada pelos órgãos de

controle ambiental como uma atividade

potencialmente causadora de degradação

ambiental, sendo enquadrada como de grande

potencial poluidor (Palhares e Calijuri, 2006).

Recebido em 18 de maio de 2012 Aceito em 11 de novembro de 2013

*Autor para correspondência (corresponding author)

E-mail:[email protected]

As águas residuárias de suinocultura apresentam

altas concentrações de sólidos suspensos

orgânicos, provocando impactos ambientais

acentuados em várias regiões do Brasil, bem

como em outros países. A suinocultura no Brasil

vem destacando-se no cenário do comércio

internacional pela sua elevada qualidade técnica

e produtividade, porém com este elevado

desenvolvimento também cresceram os

problemas decorrentes da disposição dos dejetos

(Ishizuka, 2003).

Editora
Texto digitado
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Texto digitado
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Texto digitado
http://dx.doi.org/10.1590/1678-41625719
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Eficiência de lagoas...

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Uma das maneiras de tratar águas residuárias

geradas em suinoculturas é por meio da

utilização do reator anaeróbio de manta de lodo

(UASB), o qual pode ser construído e operado de

forma a minimizar os custos do tratamento com

baixa produção de sólidos. Esse tipo de reator,

como os demais sistemas anaeróbios, produz

como subproduto o biogás, que pode ser

utilizado como fonte de energia alternativa em

motores de combustão interna. O lodo anaeróbio

excedente pode ser utilizado como fertilizante, e

o líquido que sai do reator (efluente) pode ser

aplicado no solo para fertirrigação de culturas

agrícolas (Campos et al., 2006).

Apesar das suas grandes vantagens, os

reatores anaeróbios dificilmente produzem

efluentes que atendam aos padrões estabelecidos

pela legislação ambiental. Torna-se de grande

importância, portanto, o pós-tratamento dos

efluentes dos reatores anaeróbios, como uma

forma de adequar o efluente tratado aos

requisitos da legislação ambiental e propiciar a

proteção dos corpos d’água receptores dos

lançamentos dos esgotos (Carmo et al., 2004).

Entre as alternativas de pós-tratamento, destaca-

se o uso das lagoas de polimento, pelo fato de

manterem em todo o sistema a simplicidade

conceitual já assumida para os reatores

anaeróbios, além de oferecerem condições

favoráveis para remoção de nutrientes e

patógenos (Sperling, 2002).

Diante disto, este trabalho tem como objetivo

avaliar a eficiência na remoção de matéria

orgânica, nutrientes e patógenos em efluentes de

suinocultura, com um sistema anaeróbio de dois

estágios, constituído de reator anaeróbio

compartimentado (RAC) e reator UASB, em

escala real, seguidos de uma lagoa facultativa e

três de maturação, em escala piloto.

MATERIAL E MÉTODOS

O trabalho foi realizado junto às instalações da

suinocultura da Fazenda Experimental da Escola

de Veterinária da Universidade Federal de Minas

Gerais (UFMG), localizada no município de

Igarapé, Minas Gerais.

O sistema de tratamento experimental foi

composto por uma série de lagoas de pós-

tratamento, sendo uma facultativa (LF) e três de

maturação (LM1, LM2 e LM3), que recebiam

efluentes de um sistema em escala real composto

por peneira estática, reator anaeróbio de chicanas

(RAC) e reator UASB, por meio de

bombeamento.

A alimentação do sistema experimental foi

realizada a partir do efluente do reator UASB,

formado por uma caixa de armazenamento com

capacidade de 1m3, por uma lagoa facultativa de

dimensões 2,00 x 4,00 x 1,10m, e por três lagoas

de maturação em série de dimensões 3,00 x

0,60m cada, operadas com a profundidade de

0,4m.

As medições da vazão no RAC e no reator

UASB foram realizadas durante todo o período

de higienização da manhã, enquanto nas lagoas a

vazão média foi medida em função do tempo de

funcionamento e da vazão da bomba centrífuga.

O programa de monitoramento do sistema de

tratamento teve duração de sete meses, realizado

por meio de análises físico-químicas e

bacteriológicas. Os parâmetros avaliados foram:

pH, DBO, DQO, sólidos suspensos totais (SST),

sólidos suspensos voláteis (SSV), nitrogênio

amoniacal (N-am.), fósforo total (Pt), coliformes

totais (CT) e Escherichia coli. As amostras

foram coletadas semanalmente no afluente e no

efluente do RAC, do reator UASB, da LF e das

três lagoas de maturação (LM1, LM2, LM3).

As análises físico-químicas e bacteriológicas

foram realizadas no Laboratório de Saneamento

Ambiental da Escola de Veterinária, conforme

descrito no Standard Methods for Examination of

Water and Wastewater (APHA/ AWWA /WEF,

1998).

Foram calculadas a eficiência de remoção de

cada unidade de tratamento e a global da estação

de tratamento de esgotos (ETE), considerando-se

o afluente ao RAC e o efluente da última lagoa

de maturação.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Na Tab. 1, são apresentados os valores médios

das concentrações afluentes e efluentes das

diversas unidades de tratamento para os

parâmetros DBO, DQO, SST, SSV, N-am., Pt,

CT e E. coli, e na Tab. 2 os valores médios de

eficiência.

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Pinto et al.

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Tabela 1. Média e desvio-padrão (DP) dos parâmetros de avaliação do afluente e dos efluentes do RAC,

do reator UASB, da lagoa facultativa e da série de lagoas de maturação

Parâmetro

Resultados

Afluente RAC UASB LF Lagoas

seriadas

Demanda bioquímica de oxigênio

(mg L-1

) 5321±3405 970±1233 131±155 61±38 87±60

Demanda química de oxigênio

(mg L-1

) 16074±6932 2913±1514 611±223 524±314 505±334

Sólidos suspensos totais

(mg L-1

) 5387±2409 1030±752 138±67 107±66 166±125

Sólidos suspensos voláteis

(mg L-1

) 4700±2117 879±606 134±65 106±65 165±124

Nitrogênio amoniacal

(mg L-1

) 202±131 315±188 309±166 247±154 140±129

Fósforo total (mg L-1

) 100±60 64±34 48±25 29±14 18±6

Coliformes termotolerantes

(NMP 100mL-1

) 3E+9±1E+10 5E+7±8E+8 3E+6±5E6 6E+5±4E+6 2E+4±2E+5

Escherichia coli

(NMP 100mL-1

) 2E+9±8E+9 3E+7±7E+8 2E+6±5E+6 2E+5±1E+6 4E+3±2E+4

Tabela 2. Eficiência média de remoção de matéria orgânica, sólidos, nutrientes e coliformes no RAC, no

reator UASB, na lagoa facultativa e na série de lagoas de maturação durante o período experimental.

Parâmetro Eficiência em cada unidade (%) Eficiência

global (%) RAC UASB LF Série das LM

Demanda bioquímica de oxigênio 81,8 86,5 53,4 -42,6 98,4

Demanda química de oxigênio 81,9 79,0 14,2 3,6 96,9

Sólidos suspensos totais 80,9 86,6 22,5 -55,1 96,6

Sólidos suspensos voláteis 81,3 84,8 20,9 -55,7 96,5

Nitrogênio amoniacal -55,9 1,9 20,1 43,3 30,7

Fósforo total 36,0 25,0 39,6 37,9 82,0

Coliformes termotolerantes 98,3 93,1 82,3 95,9 99,99

Escherichia coli 98,3 94,0 89,6 97,7 99,999

Os valores negativos na Tab. 1 indicam aumento

da concentração do parâmetro dentro da unidade

de tratamento, isto é, não houve remoção, e sim

aumento da concentração do constituinte.

O RAC seguido do reator UASB foram os

maiores responsáveis pela remoção da DBO. A

eficiência do reator UASB foi de 86,5%, sendo

acima da encontrada por Campos et al. (2006),

de 78%, e a mesma relatada por Rodrigues et al.

(2010), de 87%.

As lagoas contribuíram na eficiência de remoção

da DBO, sendo 53,4% para a LF e 50,8% para as

lagoas de maturação em série, não se

considerando a biomassa algal. Araújo et al.

(2010) encontraram 41,7% de eficiência na lagoa

de maturação que precedia uma lagoa facultativa

aerada, reator UASB e lagoa anaeróbia, tratando

dejetos de suínos.

O comportamento da DQO foi semelhante ao da

DBO, com eficiências de remoção de DQO de

81,9% no RAC e de 79% no reator UASB.

Fernandes e Oliveira (2006), ao tratarem efluente

de suinocultura com reator compartimentado

operando com COV de 5,05 a 10,12kgDQO m-

³.d-1

, conseguiram eficiência média de remoção

de DQO de 71,1 a 87,5%, operando com ensaios

de 56, 28 e quatro horas. Já o reator UASB,

posterior ao compartimentado, operando com

COV de 2,83kgDQO m-³.d

-1, obteve eficiência de

remoção de DQO de 41,8%, trabalhando com 13,

6,5 e quatro horas.

A eficiência global de remoção de DQO do

sistema foi de 96,9%. O RAC teve uma boa

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remoção do material filtrado, ao retirar a maior

parte do material biodegradável, restando para o

reator UASB um material de mais difícil

degradação.

As eficiências de remoção da lagoa facultativa e

das lagoas de maturação foram de 14,2 e

3,6%, respectivamente. Araújo et al. (2010)

encontraram eficiências superiores na lagoa de

maturação, de 52,4%, e na lagoa facultativa

aerada, de 61,8%.

A relação SSV/SST no afluente e nos efluentes

do RAC, UASB, LF, LM1, LM2 e LM3

corresponde, respectivamente, a 0,87, 0,85, 0,97,

0,99, 0,96, 0,99 e 0,99. Esses valores mostram a

predominância de material orgânico nos sólidos

suspensos dos efluentes de suinocultura,

mesmo na água residuária tratada, sugerindo a

presença de partículas de lodo composto por

microrganismos ou mesmo sólidos suspensos do

afluente estabilizado, os quais foram arrastados

com o efluente. No caso das lagoas, os sólidos

suspensos podem ser devido às algas que saíram

com o efluente, como já relatado por Sperling

(2002).

O RAC e o reator UASB apresentaram altas

eficiências na remoção dos SST e SSV, sendo os

responsáveis pela maior parte da eficiência

global do sistema. Apesar de a maior parte ter

sido removida nos reatores anaeróbios, a lagoa

facultativa teve eficiência de 22,5% e 20,9% para

SST e SSV, respectivamente. As lagoas de

maturação apresentaram eficiências negativas

devido à alta concentração algal, responsável

pela maior parte dos sólidos suspensos.

A concentração N-am. afluente foi de 202mg L-1

,

sendo semelhante à encontrada por Duda e

Oliveira (2009), com valores variando de 164 a

274mg L-1

. O RAC (315mg L-1

) apresentou

concentração média maior que a do afluente, em

razão do processo de amonificação, no qual o

nitrogênio orgânico se converte em amônia. No

reator UASB, a redução de amônia pode ter sido

provocada, principalmente, pelo processo de

sedimentação do nitrogênio orgânico.

As eficiências de remoção do N-am. foram de -

55,9, 1,9, 20,1 e 43,3% para o RAC, UASB, LF e

lagoas de maturação, respectivamente. A

eficiência global do sistema foi de 30,7%.

A grande variação do oxigênio dissolvido, com

valores chegando a zero ou próximos deste no

período da manhã e a 14mg L-1

no período da

tarde, é uma evidência de que deve estar

acontecendo o processo de nitrificação nas horas

mais quentes do dia, no qual a amônia é

convertida a nitrito e deste a nitrato por bactérias

aeróbias, e desnitrificação no período da noite,

quando há presença de regiões anóxicas, em que

o nitrato é convertido a nitrogênio gasoso, que

escapa via atmosfera, permitindo a liberação

do nitrogênio gasoso. Além destes mecanismos,

pode-se supor que ocorreu a assimilação da

amônia pelas algas, já que trabalhos recentes têm

demonstrado que a volatilização da amônia não é

uma via de remoção importante, mesmo em

condições de pH e temperatura ideais (Camargo

Valero e Mara, 2007; Camargo Valero et al.,

2009a; Camargo Valero et al., 2009b).

Rodrigues et al. (2010) relataram eficiências de

remoção de -62,3, -30,1, e 57% no sistema

composto de decantador, reator UASB e lagoa de

polimento. Já Duda e Oliveira (2009), com

sistema composto por dois reatores anaeróbios

operados em batelada sequencial seguidos de

duas lagoas de polimento em série, observaram

nas lagoas eficiência de remoção de amônia de

83 e 65%, trabalhando com tempo de detenção

hidráulico (TDH) de 33,2 e 25 dias,

respectivamente.

O valor médio do afluente de fósforo foi de

100mg L-1

, sendo bem abaixo do encontrado por

Rodrigues (2008), com Pt de 636mg L-1

, ao

trabalhar com dejetos da mesma suinocultura.

Essa diferença se deve à utilização de dejetos

peneirados neste trabalho. Ramires (2005)

encontrou valores médios de Pt no afluente

variando de 162 a 337mg L-1

.

As eficiências médias de remoção de fósforo

total do RAC e do reator UASB foram de

36 e 25%, respectivamente. Essas reduções

são atribuídas basicamente ao processo de

sedimentação dos sólidos, uma vez que os

valores médios de pH 7,0 e 7,14 estão bem

abaixo do valor mínimo para que ocorra a

precipitação do fosfato.

A maior eficiência de remoção de fósforo total

foi observada na lagoa facultativa (39,6%),

embora Bastos et al. (2003) tenham relatado que

lagoas facultativas não conseguem eficiência

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Pinto et al.

364 Arq. Bras. Med. Vet. Zootec., v.66, n.2, p.360-366, 2014

maior que 35%. Esse resultado, provavelmente,

foi devido à assimilação pela biomassa de algas e

bactérias e à precipitação, embora o pH (7,90)

não tenha se elevado o suficiente para uma

remoção mais significativa por precipitação.

Segundo Sperling (2002), seria necessário pH de,

no mínimo, 9,0 para que esta ocorresse de forma

significativa em lagoas. Medri (1997) encontrou

valor semelhante, com remoção de 30% de Pt na

lagoa facultativa, com TDH de 24 dias e pH

médio de 7,8.

As lagoas de maturação tiveram eficiência média

de remoção de fósforo total de 37,9%. As baixas

eficiências dessas lagoas se devem aos baixos

TDH e, provavelmente, ao grande decaimento

das algas no fundo das lagoas, o que favorece a

ressolubilização do fósforo, principalmente no

período da noite, pelo aumento da camada

anaeróbia. O sistema apresentou uma boa

eficiência de remoção, 82%, apesar de as

unidades de forma isolada não terem realizado

remoções significativas.

A eficiência média global do sistema para CT foi

de 99,99%, sendo o RAC responsável pela maior

remoção, 98,3%, provavelmente devido à

sedimentação dos sólidos.

O sistema removeu 99,999% de E. coli, sendo

novamente o RAC responsável pela maior

remoção, com 2,00 unidades logarítmicas,

devido à sedimentação. Medri (1997), ao

estudar uma série de lagoas (duas anaeróbias,

uma facultativa e uma de aguapé), que

tratavam dejetos de suinocultura, encontrou

maior eficiência de remoção de coliformes

termotolerantes nas lagoas anaeróbias, de 99,8 e

99,0%, e atribuiu esse resultado ao fato de uma

grande parcela da concentração de coliformes

afluente ter sido removida por sedimentação na

primeira lagoa.

A lagoa facultativa obteve baixa remoção, com

82,3% e 89,6% de eficiência e 0,85 e 0,98

unidades logarítmicas removidas para CT e E.

coli, respectivamente, pois, de acordo com

Sperling (2002), lagoas facultativas devem

apresentar remoçãoes superiores a 99%.

Rodrigues et al. (2009), ao trabalharem com

lagoa facultativa após reator UASB, relataram

eficiência de 95,11% e 95,34%, com 1,31 e 1,33

unidades logarítmicas removidas de CT e

coliformes termotolerantes, respectivamente. A

baixa eficiência da LF, apesar do TDH de 23,7

dias, talvez possa ser explicada pela altura de

1,10m, a qual não favoreceu a penetração ideal

de radiação ultravioleta, nem uma boa formação

de algas. Araújo et al. (2010) conseguiram

remoção de 2 unidades logarítmicas no sistema

com lagoa facultativa aerada seguida de lagoa de

maturação.

Apesar do bom desempenho do sistema, a

eficiência das lagoas de maturação foi muito

baixa na remoção de CT e E. coli, considerando-

se que eficiências altas na remoção de coliformes

devem ser superiores a 99%. O conjunto de

lagoas de maturação apresentou eficiência de

95,9 e 97,7% com remoção de 1,40 e 1,70

unidades logarítmicas para CT e E. coli,

respectivamente. Esses valores estão bem abaixo

dos citados por Sperling (2002), em que lagoas

de maturação devem atingir eficiências de

remoção superiores a 99,9 ou 99,99%. Mesmo

com a altura de 0,40m, a eficiência foi muito

baixa, provavelmente pela necessidade de um

TDH maior, já que as lagoas de maturação M1,

M2 e M3 trabalharam com TDH de 1,9 dia cada,

o que estaria muito abaixo do valor mínimo de

três dias citado por Marais (1974). Isso fez com

que o pH das lagoas não estivesse alto o

suficiente para uma elevada remoção de

coliformes.

CONCLUSÕES

O sistema de tratamento constituído por reator

anaeróbio compartimentado com reator UASB

seguido de lagoas de polimento foi eficiente na

remoção de matéria orgânica e sólidos, sendo

que as lagoas, embora não tenham sido

projetadas para este fim, também deram uma boa

contribuição na remoção de matéria orgânica,

apesar do crescimento de algas. As lagoas de

pós-tratamento apresentaram alto desempenho na

remoção de nutrientes, porém, quanto à remoção

de coliformes, não foram eficientes.

.

AGRADECIMENTOS

À Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas

Gerais (Fapemig), pelo apoio financeiro, e à

Universidade Federal de Minas Gerais.

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Eficiência de lagoas...

Arq. Bras. Med. Vet. Zootec., v.66, n.2, p.360-366, 2014 365

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