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1TIPOLOLOGIA DAS UNIDADES FAMILIARES DE PRODUO AGRICOLA
DA REGIO DO COREDE-CENTRO (RS)
Silveira, Paulo R. da (Universidade Federal de Santa Maria, Brasil)Neumann, Pedro S. (Universidade Federal de Santa Maria, Brasil)
ABSTRACT
This work presents a typology of the farming/cattle raising production units that
compose the conventionally called category family farmers. The study and
understanding of the differences among family farmers had as goal the establishment of
conditions for unleashing development of different family production units, as well as
the conditions for unleashing the processes needed for sustainable rural development in
the region.
The Administrative Subdivision for Development of the Central Region, Rio Grande do
Sul State (COREDE-Centro) is composed of 33 municipalities, whose area represents
11.61% of the total area of the state of Rio Grande do Sul.
The region forms part of the southern half of the state, a priority region in government
programs, due to its underdevelopment in relation to rest of the State. As a
methodological procedure, a zoning of the region was first carried out, with three
homogeneous agricultural/ecological zones identified.
Zone I, a mountainous region with a strong presence of German and Italian immigrants,
is predominately small, diversified family farming. Zone II, a flat region located in the
low-lying area in central part of the State, is dominated by irrigated rice growing and
more intensive cattle raising, with a significant presence of larger production units.
Zone III, a traditional country region, where modernized agriculture coexists with a
significant number of large cattle-raising estates.
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2After establishing the zones, a representative municipality for each zone was selected,
with a registration (census) made of all the production units existing in the municipality.
When establishing typologies of the production units, the following criteria were
adopted: economic rationality, predominant system of production, quantity and quality
of existing means of production.
Introduo
O presente trabalho um recorte da experincia e dos trabalhos desenvolvidos
pelo grupo de pesquisa em Sistemas de Produo Agrcola e Desenvolvimento
Regional Sustentvel, formado por uma equipe de professores vinculados ao Curso de
Ps-Graduao em Extenso Rural do Centro de Cincias Rurais da UFSM. O principal
objetivo do grupo instrumentalizar as diferentes agncias e agentes que atuam no
desenvolvimento rural da regio do COREDE-Centro1
A experincia aqui relatada deve ser compreendida como oriunda de um grupo
de pesquisa em formao e em uma rea de conhecimento de pouca tradio no Brasil,
sobretudo no mbito da universidade pblica. Duas questes influenciaram de maneira
especial o surgimento do grupo. De um lado, as reflexes no mbito do Mestrado de
Extenso Rural acerca do modelo de difuso de tecnologia e do prprio modelo de
desenvolvimento rural adotado no pas; e, de outro lado, um conjunto de estudos sobre
a agricultura desenvolvidos por algumas instituies brasileiras dentro do enfoque
sistmico.
Inicialmente, pretendia-se estudar de maneira integrada toda regio abrangida
pela regio do COREDE-Centro, isto , a totalidade dos 32 municpios que compem o
conselho. No entanto, em funo da no liberao de recursos previstos inicialmente
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3para o projeto, optou-se por fazer uma caracterizao geral da regio a partir de dados
secundrios e iniciar estudos em cada municpio isoladamente. At o momento, os
estudos foram realizados em 5 municpios da regio, sendo que cada municpio teve
suas particularidades metodolgicas, desde municpios onde se capacitou uma equipe de
tcnicos locais para a coleta de informaes a municpios onde toda atividade foi
realizada pela universidade.
1- Procedimento Metodolgico
O procedimento metodolgico utilizado o proposto pelo que se denomina de
Anlise Diagnstico do Sistema Agrrio, sendo que foram realizadas algumas
adaptaes pela equipe, expressas no quadro abaixo.
Etapas Objetivos Escala Procedimentos Adaptaes1
Diagnstico doSistema Agrrio
Regio- Compilao de dados Secundrios.-Zonificao-Percorridas do Terreno
Seminrios deDiagnstico eSensibilizao.
2 Diagnstico doSistema Agrrio
Micro-regio -Entrevistas semi-estruturadas a InformantesQualificados
Cadastramento detodos osEstabelecimentos
3 Diagnstico dosSistemas deProduo
Unidades deProduo
-Enquetes Informatizao doinstrumento
Como princpios metodolgicos gerais importante destacar: A utilizao de
passos progressivos, do geral ao particular, com o aumento progressivo de escala; a
estratificao em cada nvel de anlise, pois a situao mdia no tem interesse prtico;
as categorias de estudo so grupos homogneos (Zoneamento, Tipologia de Produtores,
Tipologia de Sistemas de Produo); explicao, no apenas descrio. para a
explicao dos fenmenos, utiliza-se a compreenso sistemtica de sua historicidade e
1 O Conselho de Desenvolvimento da Regio Centro do Estado do Rio Grande do Sul foi criado pelodecreto N 35.764 de 28 de dezembro de 1994, que regulamenta a lei de N 10.283 de 17 de outubro de1994, abrangendo 32 municpios, inseridos na rea de ao da UFSM.
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4da avaliao tcnico-econmica; anlise em termos de sistema: o sistema agrrio,
sistema de produo, sistema de cultivo, sistema de criao
O Diagnstico do Sistema Agrrio da Regio: Esta etapa compreende: a) a
caracterizao agro-ecolgica e scio-econmica da regio em estudo; b) o estudo da
evoluo do sistema agrrio da regio; b) a caracterizao e tipificao dos
estabelecimentos no espao agrrio em questo.
Os dados e informaes so obtidos atravs dos seguintes procedimentos:
consulta aos estudos j realizados sobre a regio; sobreposio e anlise de mapas
temticos, fotografias areas e imagens de satlite da regio; percorridas no terreno para
o levantamento sumrio dos tipos de paisagem agrcola.
A modificao recentemente introduzida nesta etapa (no estudo realizado no
municpio de Dilermando de Aguiar, ainda em andamento) foram os seminrios
realizados em determinados pontos do municpio, buscando abranger toda populao.
Estes seminrios atendem fundamentalmente a dois propsitos. Primeiro, de envolver a
comunidade no diagnstico; assim, os seminrios so um espao onde a comunidade,
atravs de tcnicas de participao (tcnicas de visualizao mvel e moderao), faz a
leitura de sua prpria situao e aponta as possveis aes de desenvolvimento. O
segundo propsito do seminrio a sensibilizao da comunidade envolvida para o
diagnstico, principalmente para o cadastramento de todos estabelecimentos que ser
realizado na segunda etapa e para a fase de discusso do resultado do diagnstico.
O Diagnstico do Sistema Agrrio em cada Micro Regio Identificada: Os
objetivos desta etapa so os mesmos da etapa anterior, mas agora ao nvel de cada zona
homognea identificada. Pretende-se, com esta etapa, definir a problemtica especfica
que cada zona apresenta, para que seja possvel pensar polticas nos nveis regional e
municipal, considerando as limitaes e as potencialidades de cada micro-regio.
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5Como as informaes geralmente disponveis no consideram as diferenas em
nvel de micro-regio, faz-se necessrio proceder a uma coleta de dados a campo, o que
realiza-se atravs de entrevistas semi-diretivas e sucessivas junto a informantes
qualificados, que geralmente so os moradores mais antigos e com grande
conhecimento da zona em questo.
A modificao introduzida pela equipe, nesta etapa , a aplicao de um
instrumento de cadastramento de todos os estabelecimentos presentes em cada um dos
municpios em questo. Assim, para os objetivos da caracterizao agro-ecolgica e
scio-econmica (a) e para o estudo da evoluo do sistema agrrio de cada micro-
regio (b) so utilizadas as entrevistas a informantes qualificados. J, para o objetivo de
caracterizar e tipificar os estabelecimentos (c), realizado o cadastramento da totalidade
dos estabelecimentos, procedimento que vulgarmente denomina-se de pente fino ou
varredura.
O instrumento utilizado para cadastro dos estabelecimentos, na verdade uma
janela que a equipe de pesquisa criou num gerenciador de banco de dados criado pelo
Departamento de Engenharia Rural da UFSM, denominado Cadastro Tcnico
Multifinalitrio, que passar a ser utilizado por todos os municpios gachos. A grande
vantagem do programa a sua agilidade na anlise dos dados, podendo fornecer
instantaneamente um sem nmero de relatrios com os mltiplos cruzamentos entre as
variveis. Permite tambm a utilizao de informaes georeferenciadas e o acesso a
outros bancos de dados (dados da cooperativa, do INCRA, da Secretaria da Fazenda,
etc) bem como o acompanhamento e atualizao anual dos dados.
Na primeira parte do instrumento de cadastro so registrados os dados de todos
os estabelecimentos presentes no meio rural (informaes gerais do estabelecimento e
de cada um dos moradores); na segunda parte, so registrados os dados do sistema de
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6produo, somente daquelas unidades que tem algum tipo de ingresso econmico com a
atividade agrcola.
2- Breve Caracterizao Da rea De Estudo.
Os dados disponveis sobre a regio que conforma o COREDE-Centro so
bastante escassos. Sua rea de 32.752,53 Km, o que representa 11,61% da rea total
do estado do RS. Sua populao, segundo levantamento do censo de 1991/1992, de
602.652 habitantes, representando 6,6% do total do estado do RS. A economia
baseada principalmente na agropecuria, varejo e beneficiamento, sendo que a
participao no valor adicionado estadual est na faixa de 3,55%.
A regio composta por 33 municpios, sendo que Santa Maria pode ser
considerado como municpio piv, onde se formou um hinterland especfico e dois
municpios (Santiago e Cachoeira do sul) constiuem-se em sub-pivs regionais. Tais
municpios atraram fluxos de investimento e populacionais, demonstrando um maior
crescimento dos setores industrial e de srvios.
Como caractersticas culturais, associadas ocupao do espao, destaca-se a
presena da imigrao italiana e alem, localizada na regio da serra; nas reas
oriundas das antigas estncias, situadas na regio de Campo, a presena da chamada
cultura do latifndio.
Os dados referentes ao zoneamento agroecolgico e biogeofsico so tambm
muito diversificados. Seguem, a princpio, um padro relativamente homogneo para
toda a regio, desconsiderando as vrias micro-regies dentro do territrio abrangido
pela regio em estudo. Estes dados sero objeto do prprio processo de pesquisa em
andamento, no entanto, os estudos empricos at aqui realizados permitem a
identificao de, no mnimo, quatro zonas de paisagem agrcola .
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7A micro-regio da serra, que chamaremos de zona I, ocupada pela imigrao
italiana e alem, caracteriza-se como de agricultura familiar de pequeno porte. Mais se
40% das propriedades tem menos de 20ha, a agricultura bastante diversificada,
predominando os sistemas de produo com base no leite, no fumo, na batata inglesa e
no milho. Na regio plana, localizada depresso central do estado e que chamaremos de
Zona II, predomina a cultura de arroz irrigado e a pecuria mais intensiva, sendo as
propriedades de mais de 500ha e tipicamente patronais (que contratam mais de 20% da
mo de obra total na propriedade) bastante expressivas. A Zona III, a tradicional
regio de campo, uma zona de transio ente a I e a II. Nesta zona, coexistem uma
agricultura modernizada com destaque para a cultura da soja e gado de corte e um
nmero expressivo de latifndios com pecuria extensiva. E por fim, a regio de
planalto, acima da zona I, ser denominada de Zona IV onde h predomnio de mdias
e grandes propriedade, que desenvolvem uma agricultura modernizada, com destaque
para a cultura da soja e do milho, mesclada com a atividade de pecuria de corte.
Em relao aos municpios a seguir abordados, Santa Maria apresenta a
particularidade da presena de trs zonas em seu territrio, a zona I, II e III, enquanto
que Toropi se localiza integralmente na Zona I e Tupanciret na zona IV2.
O Municpio de Santa Maria: O municpio de Santa Maria localiza-se na regio
central do Rio Grande do Sul, possuindo a extenso territorial de 1.160 Km2 , sendo a
populao de 223.351 habitantes (IBGE,1996). Segundo o cadastro realizado pela
equipe de pesquisa em sistemas de produo e desenvolvimento regional, constatou-se
uma populao rural de 4.423 habitantes cadastrados, o que corresponde 2 % da
populao total do municpio. No perodo de 1980-1996, a taxa de crescimento da
populao urbana foi de 2,06 e da populao rural de - 2,08.. A atividade agropecuria
2 Realizou-se, tambm o estudo do municpio de Dilermando de Aguiar, localizado na zona III, mas aanlise dos dados no foi concluida at o momento.
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8representa apenas 6 % do produto interno bruto agregado fiscal (PIBcf) do municpio.
Neste predomina o setor tercirio com 84,80 % do PIBcf, sendo o setor industrial
responsvel por 9,1 % do PIBcf. Desta forma, observa-se tratar-se de um municpio
atpico em relao aos municpios gachos, onde a agricultura um setor marginal e,
portanto, sem peso na definio das polticas pblicas.
O Municpio de Toropi: O municpio emancipou-se em 1996, abrangendo uma
rea de 180 km2, possuindo 3.170 habitantes, sendo 90% na zona rural. Os dados
cadastrais indicam que a populao se mantm praticamente constante. O municpio tem
80 % da rea coberto pelo solo Ciraco-charrua, caracterizado como brunizem
avermelhado, raso e textura argilosa (no mnimo 35 % de argila), solo frtil e localizado
no rebordo da serra geral. Apresenta-se, aqui, caracterstica importante de Toropi: a
existncia de significativa rea topograficamente acidentada, consequentemente, de
difcil mecanizao. Por ser um municpio tipicamente rural, no se fez uma
diferenciao entre a zona urbana e rural, portanto foram cadastrados todos os
estabelecimentos do municpio.
Municpio de Tupancitet: trata-se de um municpio antigo, emancipado em
1928, localizado numa regio de transio entre a depresso central e o planalto, onde a
ocupao do espao ocorreu atravs das grandes estncias de criao de gado. Nos anos
70, ocorreu uma certa desestruturao destas estncias e a emergncia de uma
agricultura moderna em grandes unidades de produo patronal. Tais unidades
produzem, principalmente soja, em regime de monocultura ou integrada com a pecuria
de corte, atravs das pastagens de inverno. Dentro deste processo de desestruturao do
latifndio, salienta-se a existncia de um grande numero de assentamentos de reforma
agrria no municpio.
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9Tupanciret ocupa uma rea de 2253 km2 com uma populao de 19222
habitantes, sendo 28,55 % rurais. Em relao s caractersticas agroecolgicas, o
municpio possui uma variao, desde reas planas e solo argiloso, adequado a uma
produo agrcola intensiva at uma zonas onde predomina a topografia acidentada e
muita pedregosidade. Com a emancipao do distrito de Jari em 1996, Tupanciret
perdeu uma rea em torno de 900 km2, onde situavam-se pequenas propriedades
dedicadas subsistncia em uma grande rea de serra (transio com a zona I).
3- A Tipologia Dos Estabelecimentos Do Meio Rural.
Foram cadastradas at o momento 1311 estabelecimentos estabelecimentos no
municpio de Santa Maria e 591 estabelecimentos do Municpio de Toropi, 559
estabelecimentos em Tupanciret . A totalidade dos estabelecimentos cadastrados foi
classificada em 7 classes no caso de Santa Maria e 5 classes para Toropi, 6 classes para
Tupanciret, considerando como critrio fundamental as diferentes posies ocupados
pelos estabelecimentos em relao a utilizao do espao agrrio e a propriedade dos
meios de produo. Considerou-se sempre a dinmica central do estabelecimento, ou
seja, o que explica a reproduo econmica da famlia.
Classes dos Estabelecimentos de Santa Maria
38%
22%
6%
17%
7%
5%5%
Agricultores familiares
Aposentados
Agricultores Patronais
Moradores
Assalariados rurais
Unidades de Lazer
Comerciantes e Industriais
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Classes de Estabelecimentos de Toropi
72%
15%
7%
5%
1%Agricultura Familiar
Aposentados
Agricultura Patronal
Moradores
Comerciantes ePrestadores deServio
Em relao a tipologia dos estabelecimentos no municpio de Toropi, observa-se
uma menor diversidade, com amplo predomnio da classe dos agricultores familiares.
No entanto, dentro desta classe, evidencia-se como significativo o elevado nmero de
estabelecimentos em que as famlias de agricultores exploram a terra em relao de
parceria. Somente a classe de estabelecimentos denominada de aposentados, segue a
mesma caracterstica j identificada. Outra particularidade marcante do municpio, o
amplo predomnio dos estabelecimentos que tem como base para o desenvolvimento das
atividades agrcolas a trao animal (89%), demonstrando uma realidade completamente
distinta do municpio de Santa Maria.
O municpio de Tupanciret caracteriza-se pela forte presena da agricultura
patronal (26% dos estabelecimentos), o baixo nmero de estabelecimento que utilizam o
meio rural como espao exclusivo de moradia (1%), e tambm um nmero reduzido de
estabelecimentos que dependem fundamentalmente da aposentadoria rural (7%).
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A Classe dos Moradores: Esta classe representa 17% do total dos
estabelecimentos do meio rural de Santa Maria e somente 5% em Toropi e 1% em
Tupanciret. Integram este grupo somente os estabelecimentos que utilizam o espao
rural como espao de moradia, sendo economicamente dependentes das atividades
exercidas no centro urbano. Somente alguns desses estabelecimentos desenvolvem
atividades agrcolas de subsistncia em pequena escala. No caso de Santa Maria a
grande maioria do contingente de moradores (80%) de trabalhadores urbanos
estabelecidos nas zonas de transio entre o espao urbano e o rural, e os que fizeram
esta opo por razes econmicas. Entretanto, uma outra parcela, constitudo pelos
estabelecimentos ocupados por profissionais liberais e autnomos (20% do total dos
estabelecimentos), tem no espao rural uma preferncia declarada de moradia.
A Classe dos Assalariados: Nesta classe ( 7% do total dos estabelecimentos em
Santa Maria, 13% em Tupanciret e sem a representatividade numrica em Toropi),
foram classificados somente os estabelecimentos que tem a sua dinmica determinada
exclusivamente pelo assalariamento agrcola permanente ou temporrio. So
Classes de Estabelecimentos de Tupanciret
1% 7%
13%
2%
51%
26%Moradores
Aposentados
Assalariados Rurais
Comerciantes
Agricultura Familiar
Agricultura Patronal
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caracterizados como estabelecimentos de moradia e geralmente no possuem rea para
produo agrcola.
A Classe dos Aposentados: Nesta classe esto os estabelecimentos com
caractersticas de unidades de produo agrcola e que tem a sua dinmica determinada
pela aposentadoria de um ou mais de seus moradores, representam 22% do total dos
estabelecimentos rurais em Santa Maria e 15% em Toropi, 7% em Tupanciret. Em
Santa Maria a grande maioria desses estabelecimentos (46%) no desenvolvem nenhum
tipo de atividade agrcola. Uma parcela desses (36%) desenvolve atividades de
subsistncia, e somente 18% permanecem desenvolvendo algum tipo de atividade em
termos comerciais. A maioria dos estabelecimentos so conduzidos por um casal de
idosos, no tendo seu futuro definido, podendo, na sua grande maioria, tornar-se
caduco. Em Toropi, 70% no tem produo agrcola comercial contra 30% que tem
produo comercial em pequena escala.
A classe dos Agricultores Familiares: Esta classe representada em Santa
Maria por 38% do total dos estabelecimentos e 72% em Toropi, 52% em Tupnciret.
Neste conjunto, esto os estabelecimentos cuja dinmica de reproduo est assentada
na produo agrcola familiar (com mais de 80% da M.O utilizada no ano agrcola
provindo do grupo familiar). No caso de Santa Maria duas grandes categorias
constituem esta classe: a categoria de Minifundirios (26 % dos Agricultores
familiares), so unidades de produo com pequena rea, desenvolvendo atividades
agrcolas de subsistncia com comercializao dos excedentes e empregando parte dos
componentes da famlia em outros estabelecimentos (como mo de obra temporria ou
permanente); a categoria dos Agricultores Familiares Comerciais, composto por uma
gama variada de unidades de produo que dependem economicamente da explorao
do estabelecimento como unidade de produo agrcola. J em Tupanciret, 45% dos
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estabelecimentos familiares foram considerados como minifundirios e 55% como
agricultores comerciais. O elevado nmero de minifundirios explicado, em parte,
devido a presena no municpio de 54 estabelecimentos de assentados, assim
classificados devido ao pequeno tamanho de seus lotes e suas precrias condies.
Entretanto, mesmo excluindo os assentamentos, o nmero de minifundirios no
municpio continua expressivo (38%).
No caso de Torop identificada uma terceira categoria, a dos agricultores
parceiros, constitudos de agricultores familiares que realizam o processo produtivo em
parcela de outro estabelecimento ou unidade de produo, ficando parte do resultado do
processo produtivo com o dono da terra. Os parceiros dispem de reas pequenas,
geralmente menores de 5 ha, e praticamente a totalidade trabalha com a cultura do
Fumo.
A Classe dos Agricultores Patronais: Foram includos nestas classe todos as
unidades de produo agrcolas que contratam mais de 20% da mo de obra anual,
necessria s atividades da unidade; representam 6% do total dos estabelecimentos em
Santa Maria e 7% em Toropi, 26% em Tupanciret. Em Santa Maria e Tupanciret duas
categorias compem esta conjunto de unidades: A categoria dos Fazendeiros (9% e
27% respectivamente dos estabelecimentos patronais), composta por unidades tpicas e
exclusivamente de pecuria extensiva; A categoria de Empresrios Rurais (91% e 73%
dos estabelecimentos patronais), caracterizada por estabelecimentos com explorao
mais intensiva, de parte ou da totalidade, da unidade de produo. Em Toropi verifica-se
a presena somente dos Empresrios Rurais.
A Classe dos Comerciantes e Industriais: Este conjunto de estabelecimentos
presentes no municpio de Santa Maria representam (5 % do total dos
estabelecimentos), exercem atividades tpicas dos setores de servio (comrcio) ou de
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transformao (indstria) nem sempre vinculados as atividades agrcolas. No municpio
de Torop no se verifica a presena dos industriais e sim de prestadores de servio
(como na atividade de transporte do fumo). Em Tupanciret tambm no se verifica a
presena dos industriais, somente dos prestadores de servio e comerciantes.
A Classe das Unidades de Lazer: o conjunto de estabelecimentos, presentes
no meio rural de Santa Maria, apresentando sua dinmica definida pela utilizao da
unidade de produo como uma unidade de lazer, pelo proprietrio e sua famlia. So
unidades usufrudas pelos donos nos finais de semana ou em determinadas pocas do
ano e empregam geralmente uma famlia (caseiros ou agregados). Uma parcela dessas
unidades (13% dos estabelecimentos de lazer) foram denominadas de Fazendas de
Lazer, caracterizadas por possurem grandes reas e com desenvolvimento de uma
pecuria extensiva, no se constituindo, no entanto, em uma atividade econmica capaz
de explicar a dinmica e a racionalidade da unidade. As unidades restantes (87% das
unidades de Lazer) foram denominadas de Chcaras de Lazer, unidades menores (at
50 ha) e que geralmente praticam atividades agrcolas variadas, mas sem expresso
econmica.
4- Consideraes Finais.
Os casos analisados demonstram realidades completamente distintas dentro de
uma mesma regio. O caso de Santa Maria mostra uma realidade rural que no traduz
unicamente as relaes estabelecidas entre o agricultor e a terra, mas revela a
coexistncia e a justaposio de vrios grupos sociais. Uma realidade onde funes, at
ento, tipicamente urbanas, foram incorporadas ou adaptadas ao ambiente rural. Os
dados levantados demostram que mais de 50% da populao rural do municpio no
tem vnculo direto com a atividade agrcola. J os demais municpios se caracterizam
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pelo domnio absoluto do agrcola sobre o rural.
Na verdade, o que existem de fato so espaos rurais. Este crescente processo de
diferenciao entre os espaos rurais e interior deles prprios, faz com que o conceito de
rural perca progressivamente seu carter de categoria analtica homognea, contraposto
ao urbano. As atividades paralelas ou integradas atividade agrcola variam muito
segundo os contextos. Torna-se, assim, necessrio buscar um novo critrio de
diferenciao espacial, que permita captar esta diversidade crescente. As polticas, os
instrumentos de gesto e desenvolvimento e a prpria legislao brasileira devem ser
concebidas com base em uma lgica territorial em vez de setorial. Neste contexto,
fundamental que tambm sejam repensadas as abordagens e instrumentos de
diagnstico/anlise da realidade, os quais do suporte aos mesmos.
necessrio que as polticas de desenvolvimento reconheam e passem a utilizar
essa diversidade. Isto significa dizer que as receitas comuns, vlidas para todas as zonas,
no podem ser mais admitidas, e da mesma forma, as abordagens verticais do tipo de
cima-para-baixo, pois simplificam e ignoram as diferenas contextuais.
O fato dos agricultores serem minoritrios no espao rural, como em Santa
Maria (menos de 50 % do total da populao rural), no os impede de serem
majoritrios na ocupao destes espaos e, portanto, terem uma responsabilidade
especfica na sua gesto. No os impede, tambm, de exercerem um peso econmico e
poltico muito maior do que demonstram as estatsticas oficiais. Em Santa Maria,
apesar de representarem menos de 2 % da populao total do municpio, respondem de
maneira direta por 6 % do PIBcf, e estima-se que indiretamente por mais de 20 % da
economia municipal. O fato do espao rural assumir outras funes no significa uma
perda de importncia do agrcola. Ao invs de negado, esquecido ou desvalorizado, o
agrcola deve ser reafirmado. Reafirmado, no entanto, no como categoria homognea,
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estanque, compartimentada e sem relao com as demais funes do rural. O
reconhecimento do espao rural como polifuncional, potencializa o agrcola na medida
que redireciona recursos e mesmo campos profissionais, antes eminentemente urbanos.
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