a folha Boletim da língua portuguesa nas instituições europeias
http://ec.europa.eu/translation/portuguese/magazine
N.º 54 — verão de 2017
SOFTWARE LIVRE E DE CÓDIGO ABERTO: OMEGAT NA DGT, WIZARD, TAGWIPE E TEAMBASE (PARTE 1) — Maria José Bellino
Machado; Hilário Leal Fontes; Thomas Cordonnier; Elio Fedele; Fons De Vuyst .................................................................. 1 TENDÊNCIAS DA LÍNGUA PORTUGUESA: AS INÓCUAS E AS INÍQUAS (VI) — Jorge Madeira Mendes ............................................ 13 SARDINHEIRAS E CRAVOS — Ulrike Hub ................................................................................................................................... 15 DESPORTUGUESMENTE — Philippe Magnan Gariso ................................................................................................................. 18 NOTAS SOBRE POVOS, LÍNGUAS E TOPÓNIMOS BANTOS DE ANGOLA — Paulo Correia; Amarílis Pêgo ....................................... 21 LETÓNIA — FICHA DE PAÍS — Juta Preisa; Paulo Correia ........................................................................................................ 26
Software livre e de código aberto:
OmegaT na DGT, Wizard, Tagwipe e TeamBase (parte 1)
Maria José Bellino Machado; Hilário Leal Fontes
Thomas Cordonnier; Elio Fedele; Fons De Vuyst
Direção-Geral da Tradução — Comissão Europeia
[versão inglesa deste texto — http://ec.europa.eu/translation/portuguese/magazine/documents/folha54_ot_en.pdf]
1. Introdução
Num artigo anterior em «a folha», publicado em 2014(1)
, a utilização de software livre e de código
aberto na Direção-Geral da Tradução (DGT) — nomeadamente da ferramenta de tradução assistida por
computador OmegaT(2)
— foi apresentada em termos gerais. No presente artigo, que está dividido em
duas partes, são apresentadas as seguintes aplicações para a tradução assistida por computador,
recentemente disponibilizadas pela DGT da Comissão Europeia como software livre e de código
aberto:
OmegaT na DGT (DGT-OmegaT) com adaptações/melhorias/novas funções na implementação na
DGT do OmegaT (versão standard 3.6(3)
), desenvolvido internamente para satisfazer as suas
necessidades (programador: Thomas Cordonnier)
DGT-OmegaT Wizard (programador: Elio Fedele)
Tagwipe (programadores: Elio Fedele e João Rosas)
Teambase (programador: Thomas Cordonnier).
O projeto é gerido por Fons De Vuyst, chefe do Setor de Apoio Operacional da Unidade de
Informática da DGT.
Na primeira parte deste artigo, apresentamos uma breve descrição de: a) fluxo de trabalho da DGT em
cujo contexto foram adaptadas/desenvolvidas estas aplicações; b) Tagwipe; e c) 10 funções adaptadas
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ou acrescentadas ao OmegaT. Na segunda parte deste artigo, que será publicada no final de 2017,
apresentaremos o DGT-OmegaT Wizard e a TeamBase, duas aplicações que ainda exigem algum
trabalho para serem «utilizáveis» fora da DGT.
Quanto à publicação do DGT-OmegaT como software livre e de código aberto, gostaríamos de
sublinhar que o objetivo não é criar uma nova comunidade «em concorrência» com a equipa que
desenvolve e mantém o OmegaT original. A DGT publica o código apenas para permitir a qualquer
pessoa ver as funções que criámos para satisfazer as nossas necessidades, deixando ao critério da
comunidade OmegaT decidir se algumas delas são de interesse geral e podem ser reutilizadas e
integradas.
Estas aplicações podem ser descarregadas e facilmente experimentadas/utilizadas por qualquer pessoa
em qualquer plataforma compatível com Java8 (Windows, Linux, MacOS), uma vez que são
disponibilizados tanto o código-fonte como a versão executável, mas salientamos que são publicados
tal como estão, sem garantias expressas nem implícitas, e que não será prestado qualquer apoio.
2. Software livre e de código aberto na Comissão Europeia
A Comissão Europeia tem vindo a promover a utilização — e a partilha — de software livre e de
código aberto, designadamente no âmbito do 7.º Programa-Quadro de Investigação e Desenvolvimento
Tecnológico(4)
e, atualmente, do Horizonte 2020(5)
. Além disso, a Estratégia de Software de Código
Aberto da Comissão Europeia(6)
salienta que «os serviços da Comissão irão participar cada vez mais
nas comunidades de software de código aberto a fim de desenvolver as aplicações de base de código
aberto que são utilizadas no software da Comissão».
Por conseguinte, é neste contexto que as aplicações de código aberto como o OmegaT estão a ser
utilizadas na DGT, paralelamente a aplicações comerciais como o SDL Trados Studio, a principal
ferramenta de tradução assistida por computador na DGT.
A DGT tem utilizado o OmegaT para fins de prototipagem desde 2012 e, para esse efeito, a versão
2.6.0._3 do OmegaT foi inicialmente adaptada e complementada com algumas melhorias úteis. Alguns
tradutores gostaram tanto do OmegaT que este foi incluído no panorama informático da DGT e, por
essa razão, foi desenvolvido um assistente — o DGT-OmegaT Wizard — a fim de integrar o
DGT-OmegaT no fluxo de trabalho específico da DGT.
Panorama Informático da DGT
Direção Geral da Tradução, Information Technology Master Plan 2016–2020
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Além disso, foram desenvolvidas duas outras aplicações que podem ser usadas tanto por utilizadores
do OmegaT como do SDL Studio:
TagWipe, uma aplicação que elimina etiquetas de formatação redundantes nos ficheiros em
formato DOCX (Microsoft Office).
TeamBase, que permite a partilha de memórias de projeto entre tradutores que podem utilizar uma
ou outra das ferramentas de tradução assistida por computador disponíveis na DGT.
Recentemente, a DGT disponibilizou estas aplicações como software livre e de código aberto e as
mesmas podem ser descarregadas aqui: http://185.13.37.79/.
3. Fluxo de trabalho da DGT
O ambiente de tradução assistida por computador da DGT é explicado em pormenor na publicação da
DGT Translation tools and workflow(7)
. De salientar, para este artigo, que na DGT:
As memórias de tradução relevantes para o(s) documento(s) a traduzir são extraídas
automaticamente do Euramis, o repositório interno onde são guardados todos os alinhamentos das
traduções da DGT — bem como de outras instituições da UE — nas últimas duas décadas e a
maior parte da legislação da UE em vigor, em todas as línguas oficiais.
Os segmentos relevantes e os documentos de referência são extraídos em formato TMX e utilizados
como memórias externas numa das ferramentas. No DGT-OmegaT, estas memórias são
automaticamente copiadas para a subpasta \tm de cada projeto pelo DGT-OmegaT Wizard.
A tradução automática é gerada automaticamente para todos os documentos editáveis a traduzir.
A tradução é feita pelo serviço MT@EC(8)
, o sistema de tradução automática interno da DGT
baseado no sistema livre e de código aberto Moses(9)
, que está treinado com os corpora da UE e
adaptado às necessidades da DGT.
Os ficheiros TMX gerados pelo MT@EC são utilizados como memórias externas em ambas as
ferramentas. No DGT-OmegaT, estas memórias são automaticamente copiadas para a subpasta \mt
de cada projeto pelo DGT-OmegaT Wizard.
A terminologia encontra-se guardada na base IATE, a base de dados terminológica
interinstitucional da UE.
Nos projetos DGT-OmegaT, os termos relevantes para o(s) documento(s) a traduzir são extraídos
em formato TXT a partir de uma exportação (apenas termos de partida e de chegada) de toda a base
IATE e o glossário «filtrado» é automaticamente copiado para a subpasta \glossary de cada projeto
pelo DGT-OmegaT Wizard como um glossário só de leitura.
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4. Tagwipe
Com relativa frequência, os documentos em formato DOCX (a esmagadora maioria dos documentos
traduzidos na DGT) apresentam (muitas) etiquetas de formatação inúteis. Nesses casos seria
obviamente impossível utilizar o OmegaT sem a função Remove tags ativada num número
(infelizmente não tão raro quanto isso) de documentos particularmente «maus». No entanto, esta não é
a melhor solução por razões óbvias.
Por conseguinte, a DGT desenvolveu internamente a aplicação Tagwipe que elimina praticamente
todas as etiquetas de formatação redundantes em documentos em formato DOCX. Melhora igualmente
a segmentação das frases, algo que é muito importante para assegurar a coerência com a segmentação
do Euramis e da MT@EC, melhorando assim a percentagem de correspondência (total ou parcial) com
as memórias externas.
Na DGT, o Tagwipe é utilizado desde 2012, num ambiente Windows 7, para projetos DGT-OmegaT
e, por conseguinte, é atualmente uma aplicação bastante estável. No sítio Web do DGT-OmegaT, é
também disponibilizado o Tagwipe para a distribuição Linux Ubuntu.
No Tagwipe, o nível de limpeza das etiquetas de formatação pode ser escolhido pelo utilizador entre o
nível 0 e o nível 8. Por omissão, na pasta de instalação, o nível de limpeza definido é o segundo nível
mais baixo e mais conservador («level.1»). Este é o nível utilizado na DGT uma vez que os
documentos traduzidos têm de ser gerados com toda a formatação original.
No entanto, quando não é esse o caso, o nível de limpeza pode ser aumentado, eliminando assim
formatação não essencial como, por exemplo, cores de fundo de palavras/expressões, espaços
protegidos... ou até mesmo (quase) toda a formatação quando é selecionado o nível 8.
O Tagwipe é automaticamente utilizado na criação de projetos de tradução em ambas as ferramentas
de tradução assistida por computador. Nos projetos SDL Studio, a limpeza de etiquetas de formatação
é feita antes da conversão dos ficheiros originais em formato SDLXLIFF.
Nos projetos DGT-OmegaT, o Tagwipe foi integrado no DGT-OmegaT Wizard, sendo desse modo
limpos todos os documentos originais em formato DOCX quando os projetos são criados ou
atualizados.
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No exemplo infra, o Tagwipe eliminou cerca de 90 % das etiquetas de formatação (de 121 para 14) e a
segmentação foi melhorada. As etiquetas de formatação que ficaram são legítimas.
Visualização no Editor OmegaT
sem Tagwipe com Tagwipe
5. OmegaT na DGT
O OmegaT(10)
é uma ferramenta gratuita de tradução assistida por computador desenvolvida, por
iniciativa própria, inicialmente por Keith Godfrey em 2000 e que foi entretanto largamente melhorada
com muitos contributos. Didier Briel é o atual gestor do projeto. Atualmente, o OmegaT é a
ferramenta de tradução assistida por computador de código aberto mais utilizada.
O OmegaT na DGT é uma bifurcação da versão 3.1.2 do OmegaT com a retroinclusão de algumas
funções de versões posteriores. Está também disponível uma nova versão com base no «OmegaT
standard» 3.6.0, mas numa versão de desenvolvimento beta. Ambas as versões podem ser
descarregadas aqui:
http://185.13.37.79/ para descarregar a versão binária (fácil de instalar) e/ou o código-fonte e
respetiva documentação.
http://185.13.37.79:8003/ para programadores e comunicação de erros.
Apesar das diferenças existentes entre o DGT-OmegaT e o OmegaT, tanto quanto podemos ver, os
projetos criados no DGT-OmegaT podem ser utilizados no OmegaT e vice-versa — o DGT-OmegaT
mantém a interoperabilidade —, limitando-se ambos a ignorar pastas/ficheiros/informação que não
«reconhecem», embora algumas funções não estejam disponíveis, como é evidente.
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No sítio Web do DGT-OmegaT são apresentadas informações técnicas pormenorizadas sobre cada
função nova ou adaptada. Neste artigo, limitamo-nos a resumir/destacar 10 funções principais, do
ponto de vista do tradutor, que poderão ser de interesse para tradutores fora da DGT.
5.1 Barra de ferramentas da DGT
Foi internamente desenvolvido um módulo de extensão para o DGT-OmegaT que produz uma barra de
ícones — equivalente a menus — que dá acesso rápido às funções mais frequentemente utilizadas,
incluindo algumas que são específicas do DGT-OmegaT, nomeadamente: aplicações/bases de dados
da DGT (DocFinder, Quest, Euramis e IATE), modo de revisão (Revision Mode) e consulta de
outras línguas de chegada (View Other Target Languages).
Na versão em software livre e de código aberto do DGT-OmegaT, os ícones DocFinder, Euramis e
Quest estão a cinzento uma vez que estas bases não podem ser acedidas de fora da DGT. A ligação
para a IATE está ativa e dá acesso à versão pública da base(11)
.
Embora a base Euramis não possa ser acedida de fora das instituições da UE, uma grande parte da
legislação da UE foi disponibilizada gratuitamente na Internet em formato alinhado(12)
.
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5.2 Ver ficheiros de partida e de chegada
Ao traduzir um documento, o ficheiro original do documento ativo no Editor pode ser aberto
diretamente a partir do DGT-OmegaT selecionando View source file no menu Project. Desta forma é
aberta a aplicação nativa associada ao tipo de ficheiro do documento original, que abre o documento
original.
No OmegaT não há pré-visualização (em tempo real) do documento traduzido, mas o ficheiro total ou
parcialmente traduzido que está ativo no Editor pode ser aberto a partir do DGT-OmegaT
selecionando View target file no menu Project. Desta forma é aberta a aplicação nativa associada ao
tipo de ficheiro do documento original, que abre o documento traduzido. Mas não há interação entre o
DGT-OmegaT e a aplicação nativa, pelo que não devem ser introduzidas alterações no ficheiro de
chegada na aplicação nativa uma vez que essas alterações não serão repercutidas no OmegaT!
5.3 Tradução automática
A DGT não utiliza sistemas públicos de tradução automática por diversas razões, nomeadamente por
questões de confidencialidade e de direitos de autor. Em consequência, foi desenvolvida uma opção
Local no DGT-OmegaT, que acrescenta uma nova implementação da tradução automática. Em vez de
chamar um servidor em tempo real, esta implementação Local lê dados a partir de um ou mais
ficheiros TMX. Na DGT, só o motor de tradução automática Local está disponível.
Na versão em software
livre e de código aberto
do DGT-OmegaT, estão
disponíveis, num
módulo de extensão,
todos os motores da
versão OmegaT 3.6, que
são apresentados no
menu apenas se esse
módulo estiver
instalado. Na versão
executável publicada,
este módulo está
instalado.
Quando é criada uma nova subpasta \mt no projeto para a qual são copiados os ficheiros de tradução
automática — algo que é feito automaticamente pelo DGT-OmegaT Wizard quando da
criação/atualização de um projeto —, a proposta de tradução automática é apresentada no painel
Machine Translation, em lugar de no painel Fuzzy Matches.
Com ou sem o módulo de extensão, a janela Editor Behaviour Options permite agora a inserção
automática da proposta da tradução automática se não houver uma correspondência superior ao limiar
de semelhança mínima definido para segmentos na memória do projeto ou nas memórias externas.
Se estiver disponível mais de um motor (ou seja,
se estiver instalado um módulo de extensão
tradução automática), a janela dá também a
possibilidade de escolher qual o motor que será
utilizado para a inserção automática.
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5.4 Cores e identificação do texto sugerido no segmento aberto no Editor
Como o OmegaT implementa uma série de mecanismos de inserção automática, quando é aberto um
novo segmento é muito importante saber se a tradução proposta na zona de edição já se encontrava na
memória do projeto ou se foi automaticamente inserida, mas não está validada. O OmegaT só
acrescenta uma cor de fundo se o segmento provier de ficheiros TMX das subpastas tm/auto ou
tm/mt. O DGT-OmegaT insere cores em alguns outros casos e também mais informações no
delimitador do segmento.
Segmento vazio
Segmento traduzido
Segmento pré-traduzido
Correspondência total (100 %)
Correspondência parcial
Tradução automática
5.5 Janelas de pesquisa
As funções de pesquisa do OmegaT já são muito sofisticadas. No entanto, no DGT-OmegaT, a janela
de pesquisa única do OmegaT foi substituída por um conjunto de quatro janelas (Pesquisa no Projeto,
Pesquisa no Diretório, Pesquisa e Substituição, Pesquisa e Pré-Tradução) e respetivos menus que
continuam a ter um aspeto semelhante à do OmegaT, embora o código tenha sido completamente
reescrito.
Graças a esta divisão, as janelas estão menos saturadas... e puderam ser acrescentadas mais opções.
Vale realmente a pena explorar estas funções!
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Algumas das novas opções de pesquisa na janela Search Project são:
Expression mode e Word mode; combinados, estes modos oferecem um leque mais vasto de
opções e de resultados.
Word mode: As opções de pesquisa no OmegaT são baseadas em cadeias de carateres: quando se
pesquisa «super», se o segmento contém «superficial», será encontrado. O DGT-OmegaT
acrescenta duas alternativas:
Whole words: No modo de palavras completas, tal como em muitas outras ferramentas de
edição, a amostra anterior será rejeitada a não ser que a pesquisa aceite explicitamente carateres
antes e depois utilizando o caráter universal «?» (um caráter) ou «*» (0 ou mais carateres).
Lemmas: No modo lemas, são utilizados toquenizadores exatamente como para o painel de
Fuzzy Matches: as flexões gramaticais de uma palavra serão reconhecidas, enquanto as
palavras «que contenham» outra palavra não serão reconhecidas. No entanto, continua a ser uma
pesquisa parcial (ou seja, uma pesquisa de um segmento que contenha determinadas palavras)
sem cálculo de uma percentagem de correspondência, enquanto para o painel Fuzzy Matches é
feita uma pesquisa completa e é calculada uma percentagem.
Search in é um modo de pesquisa que foi alargado a fim de permitir uma utilização fácil dos
operadores boolianos E, OU e/ou NÃO, uma função muito útil para os tradutores para fins
terminológicos. Permite, em especial, verificar facilmente se um termo/expressão foi traduzido de
forma coerente no projeto e/ou nas memórias externas.
Search by file or folder name permite limitar a pesquisa a um ficheiro de memória de tradução
(TMX) ou a uma subpasta com vários ficheiros TMX na pasta \tm.
Memorize: Ao contrário do que acontece no OmegaT, a memorização de uma pesquisa é feita
através de um botão (para permitir uma memorização seletiva apenas de pesquisas relevantes) e há
opções para memorizar a pesquisa para todos os projetos, para o projeto que está aberto ou apenas
para a sessão em curso. Além disso, encontram-se já memorizadas algumas expressões regulares
frequentemente utilizadas.
Match display template: Com o modelo de visualização de correspondências, é possível
configurar a forma de visualização (como para as correspondências) utilizando a opção Config
format.
A janela Search and Replace segue a mesma abordagem da janela Search Project.
Foi adaptada de modo
a incluir um painel de
resultados, permitindo
assim verificar os
segmentos afetados
antes de lançar a
operação de
substituição
propriamente dita.
Isto é muito útil uma
vez que não existe a
opção de anular a
operação (Undo)!
A janela Search and Pre-translate é específica do DGT-OmegaT. A sua função é preencher
rapidamente segmentos cuja tradução é irrelevante (por exemplo, números e outros carateres não
traduzíveis) ou mais facilmente executada numa operação que abrange vários segmentos. Funciona de
forma semelhante a Search and Replace, mas executa a pesquisa no segmento de partida. Por
conseguinte, pode ser usada para segmentos não traduzidos.
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Enquanto a janela Search and Replace apenas permite traduzir com texto fixo, a pré-tradução permite
preencher segmentos com tradução proveniente de: Source, copiando o segmento de partida para o
segmento de chegada; Match, pré-traduzindo a partir de correspondências de memórias externas (o
limiar de semelhança pode ser definido) e Text, tal como para Search and Replace, permite a
utilização de uma cadeia de carateres constante com a possibilidade de usar variáveis reconhecidas
durante a pesquisa.
Este é um exemplo da
sua utilização com
Regular Expressions para pré-traduzir
segmentos sem carateres
alfabéticos
(principalmente
números).
A janela Search Directory segue uma abordagem similar, com adaptações aos seus fins específicos.
5.6 Glossário
O painel Glossary utiliza cores para diferenciar o termo de partida, o termo de chegada e o terceiro
campo (ver captação de ecrã no ponto 4), sendo o último campo apresentado juntamente com o
respetivo termo de chegada. Além disso, as entradas após as entradas do glossário de escrita são
apresentadas por ordem alfabética, tornando mais fácil a consulta.
O submenu Glossary — Glossary Pane and
Transtips configuration oferece ao tradutor
algumas opções importantes para a visualização
da terminologia e sincroniza os algoritmos de
pesquisa de palavras a fim de produzir
resultados coerentes em ambos os painéis.
5.7 Cálculo de estatísticas de correspondências
O cálculo das estatísticas de correspondências — Match Statistics e Match Statistics per File — são
efetuadas em operação de fundo, permitindo assim ao tradutor começar a traduzir enquanto as
estatísticas estão a ser geradas. Isto é especialmente interessante em grandes projetos de
centenas/milhares de páginas com muitas memórias externas, uma vez que o cálculo de estatísticas de
correspondências (por ficheiro) nesses projetos pode demorar bastante tempo.
5.8 Modo de revisão
Na DGT, os tradutores podem ser também revisores e, de um modo geral, o tradutor tem a última
palavra, o que significa que, depois de um documento ser revisto por um colega tradutor na qualidade
de revisor, o tradutor verificará as alterações efetuadas e pode aceitar ou rejeitar as mesmas. Tendo
isto em conta, foi desenvolvido um fluxo de trabalho de revisão no DGT-OmegaT Wizard e foram
desenvolvidas as seguintes funções no DGT-OmegaT.
a folha N.º 54 — verão de 2017
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No DGT-OmegaT, há agora dois modos — modo de revisão e modo de tradução — e os segmentos
têm três estados: não traduzido, traduzido e revisto.
Quando o revisor seleciona o Revision Mode :
Os segmentos abertos e de qualquer forma validados no Editor — alterados ou não — são
marcados como Last revised by, com o nome do revisor. Esta informação é apresentada para esses
segmentos no Editor e, se estiverem assim configuradas, nas janelas Fuzzy Matches e Search.
Esta marca não pode ser eliminada... mas pode ser efetuada uma exportação sem essa marca.
Se se copiar a memória do projeto não revisto para a pasta \tm (identificada como «sem revisão»,
por exemplo), as marcas de revisão são apresentadas no segmento traduzido desde que a nova
opção View diff in target esteja ativada nas opções do menu External TMX.
Há também uma nova opção Go to Next Unrevised Segment com o atalho Ctrl+U (o mesmo
utilizado no Translation Mode para Go to Next Untranslated Segment), que permite abrir apenas
os segmentos ainda não revistos.
Quando recebe o projeto revisto para finalização, o tradutor pode fácil e rapidamente verificar os
segmentos alterados pelo revisor com as seguintes duas novas opções:
Mark Revised and Changed Segments no menu View, sendo os segmentos alterados pelo revisor
mostrados com um fundo vermelho.
Go To Next/Previous Revised & Changed Segment (e respetivos atalhos), abrindo assim
sucessivamente para verificação apenas os segmentos alterados pelo revisor.
O modo de revisão pode também ser utilizado pelo tradutor quando determinado projeto não é revisto
por um colega, sendo nesse caso o tradutor o seu próprio revisor, como acontece num número
substancial de documentos.
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5.9 Pseudoetiquetas de formatação
No DGT-OmegaT, há também uma opção para acrescentar etiquetas de formatação no segmento de
chegada que não existe no segmento de partida, utilizando a função Format (pseudo-tags).
Selecionando o texto a formatar,
clicando no botão direito do rato
e escolhendo o formato desejado
(itálico, negrito, sublinhado,
sobrescrito e subscrito), são
inseridos carateres existente na
tabela Unicode mas que são
raramente utilizados.
Quando os documentos traduzidos são gerados, o script Reformatter transforma essas
pseudoetiquetas no formato correspondente no documento de chegada. No entanto, as pseudoetiquetas
devem ser utilizadas apenas quando forem indispensáveis, visto que, por vezes, pode ser afetada outra
formatação do segmento. Não é a solução perfeita (e, de momento, apenas funciona para ficheiros
DOCX), mas pode ser muito útil!
5.10 Consulta de outras línguas de chegada (concordância interlinguística)
Muitos dos documentos da UE são traduzidos simultaneamente para algumas/todas as línguas oficiais
da UE. Para fins de coerência multilingue, é útil que os tradutores possam olhar para as traduções em
curso nas outras línguas. O OmegaT dispõe já de um boa funcionalidade para esse efeito: a pasta
tmx2source, mas o problema é que os ficheiros têm de ser pedidos e copiados manualmente para essa
pasta.
Para esse efeito, foi feita a seguinte adaptação na instalação do SDL Studio na DGT: sempre que uma
tradução (em curso, não final!) é guardada, o ficheiro SDLXLIFF é copiado para uma pasta comum.
Em qualquer momento, o tradutor desse mesmo documento para uma outra língua pode utilizar um
menu contextual (módulo de extensão no Studio) que irá converter o ficheiro SDLXLIFF em HTML e
visualizá-lo no navegador.
No DGT-OmegaT, View Other Target Languages — — combina esta com outras opções. Em
primeiro lugar, funciona nos dois sentidos — os utilizadores do DGT-OmegaT podem ver os
documentos em tradução em Studio e vice-versa. Em segundo lugar, os utilizadores do DGT-OmegaT
podem escolher que esses ficheiros sejam automaticamente convertidos para TMX (não para HTLM) e
copiados para a pasta tmx2source (para visualização no Editor) e/ou para a pasta tm/penalty-50
(para visualização no painel de Fuzzy Matches).
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N.B.: Neste artigo são utilizados os termos em inglês das funções e menus do DGT-OmegaT uma vez
que a versão utilizada na DGT é a versão inglesa e neste artigo utilizamos captações de ecrã dessa
versão. No entanto, o OmegaT está disponível em 32 línguas, entre as quais o português (de Portugal e
do Brasil).
(Continua na parte 2...)
(1) «Software livre e de código aberto — um bom amigo do tradutor», in «a folha», n.º 45 — verão de 2014,
http://ec.europa.eu/translation/portuguese/magazine/documents/folha45_pt.pdf. (2) OmegaT, http://omegat.org/pt/. (3) OmegaT, Descarregamentos, http://omegat.org/download. (4) Comissão Europeia, Research & Innovation: Research and Innovation funding 2014-2020,
http://ec.europa.eu/research/fp7/index_en.cfm. (5) Comissão Europeia, Horizon 2020, https://ec.europa.eu/programmes/horizon2020/. (6) European Commission Open Source Strategy, http://ec.europa.eu/dgs/informatics/oss_tech/index_en.htm. (7) Direção Geral da Tradução, Translation tools and workflow, 2017,
https://publications.europa.eu/en/publication-detail/-/publication/00e51a8e-9c50-11e6-868c-01aa75ed71a1. (8) Comissão Europeia, Machine translation for public administrations — MT@EC,
https://ec.europa.eu/info/resources-partners/machine-translation-public-administrations-mtec_en (disponível apenas para as
administrações públicas). (9) Moses, http://www.statmt.org/moses/. (10) Wikipédia, OmegaT, https://pt.wikipedia.org/wiki/OmegaT. (11) União Europeia, IATE, http://iate.europa.eu/about_IATE.html. (12) Fontes, H. L., «Corpora multilingues da União Europeia para reutilizar na tradução», in «a folha», n.º 45 — verão de
2014, http://ec.europa.eu/translation/portuguese/magazine/documents/folha45_pt.pdf.
Tendências da língua portuguesa: as inócuas e as iníquas (VI)
Jorge Madeira Mendes
Direção-Geral da Tradução — Comissão Europeia
As ciências naturais têm vertentes intrigantes.
Recentemente, foi-me dado saber que, em matéria de antílopes, há os antílopes fêmea — pelo que é de
presumir haver também os antílopes macho.
E as enguias começam por ser as bebé. Suponho pois que, à medida que forem avançando em idade,
passarão sucessivamente a enguias juvenil, enguias adolescente, enguias adulto, enguias madurito,
enguias serôdio, enguias vetusto... por aí fora, até chegarem a enguias velho, enguias moribundo,
enfim, enguias falecido.
Depois, temos os raios ultravioleta, o que me leva a supor termos também raios infravermelho.
Aventurando-nos agora pelo domínio da sociologia, eis que nos aparecem os homens gay. E os
«outros»? Serão os homens heterossexual?
Estes frustrantes exemplos, extraio-os dos canais televisivos ditos «temáticos», onde as legendagens e
dobragens resultam, com frequência infelizmente excessiva, de traduções amadorísticas e apressadas.
a folha N.º 54 — verão de 2017
14
E é, desde logo, manifesta a presença mal disfarçada do inglês (sem desprimor para esta bela língua,
inocente do mau uso que dela fazem). Se o original diz female antelopes, o tradutor amador (para o
qual «traduzir» parece querer dizer «substituir acriticamente cada palavra da língua de partida por algo
que se lhe assemelhe na língua de chegada») não duvida de que há que pôr «antílopes fêmea»; pois
não está o adjetivo female no singular? Se o original diz baby eels, o tradutor amador põe «enguias
bebé»; pois não está o adjetivo baby no singular? Se o original diz ultraviolet rays, o tradutor amador
põe «raios ultravioleta»; pois não está o adjetivo ultraviolet no singular? Se o original diz gay men, o
tradutor amador põe «homens gay»; pois não está o adjetivo gay no singular?
No caso das «enguias bebé» e dos «antílopes fêmea», a catástrofe é tão mais grave quanto vem
adicionar-se a uma outra tendência em alastramento: os nomes de espécies biológicas, quando
compostos, formarem o plural derivando apenas o primeiro termo e mantendo invariável o segundo
(«o tubarão-baleia, os tubarões-baleia»; «a couve-flor, as couves-flor».
Leiamos os entendidos:
– «Nos compostos formados por dois nomes, ambos os elementos se usam no plural: couves-flores (...)
Nos compostos formados por nome e adjetivo ou por adjetivo e nome, ambos os elementos se usam no
plural: amores-perfeitos, capitães-mores, gentis-homens, etc.»(1)
.
– «Quando os termos componentes [dos substantivos compostos] se ligam por hífen, podem variar
todos ou apenas um deles: couve-flor, couves-flores/ guarda-marinha, guardas-marinha...»(2)
.
É compreensível que, num substantivo composto como «guarda-marinha», o plural afete apenas o
primeiro elemento (guarda/ guardas), porquanto o segundo não varia (a marinha é só uma).
Ora, nos exemplos que indiquei, não estamos sequer em presença de substantivos compostos, com os
dois elementos ligados por hífen e em que o primeiro seria um substantivo e o segundo um adjetivo ou
outro substantivo. O que se passa é haver um substantivo qualificado por um adjetivo — tão simples
quanto isso. E a regra impõe que, em português, o adjetivo qualificativo concorde em género e em
número com o substantivo qualificado. Os adjetivos bebé, fêmea e gay, embora invariáveis em género,
são bem variáveis em número. De qualquer modo, faltaria que uma larva de enguia passasse agora a
constituir uma espécie no seu pleno direito...
Ainda não chegámos ao ponto de ouvir (ou ler) «os cidadãos tranquilo apreciam cidades pouco
movimentado; e os homens bem apresentado atraem as mulheres bonito». Mas, por este andar, lá
chegaremos.
Ignoro se «pérolas» destas correspondem a uma tendência, ou se se tratará apenas de vulgares
pontapés na gramática, como tantos que sempre se ouviram. Com efeito, afirmamos amiúde que «cada
vez mais isto» ou «cada vez mais aquilo», quando, na verdade, se trata de situações de longa data, com
a principal diferença de que, outrora, tais pontapés eram menos divulgados pelos meios de
comunicação social, desprovidos da hodierna capacidade de penetração e também sujeitos a crivos
redatoriais mais exigentes.
É possível. Mas, a haver aqui tendência, será, incontestavelmente, iníqua. E bastante me inquieta a
facilidade e a velocidade de insinuação destes erros no discurso corrente.
***
Começo também a ler cada vez mais frases como a do seguinte exemplo: «Já lá tivemos várias vezes;
portanto, se você tiver disposto, pode também ir.»
Trata-se manifestamente da erosão do verbo «estar» para «tar». No entanto, é raro ver-se, em forma
escrita, «tarão lá num instante» ou «tenho tado». E a razão é discernível: as palavras «tarão» ou «tado»
não existem em português; embora comuns na oralidade, estão normalmente ausentes do registo
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15
gráfico. Em contrapartida, as palavras «tivemos» e «tiver» são reais em português, se bem que se trate
de formas de um outro verbo — ter.
Poderá estar a desenrolar-se um fenómeno evolutivo na língua portuguesa, em que o verbo «estar»
passa, por erosão, a «tar», apoiando-se a tendência na semelhança entre algumas das suas formas
erodidas e as correspondentes formas de um outro verbo, esse legitimado.
Ora, do mesmo modo que, de «general», se passou, por erosão, para «geral»; do mesmo modo que, de
«tener», se passou, por erosão, para «ter» (depois de uma transição por «teer»); do mesmo modo que,
de «preguntar», se passou, por deturpação de pronúncia, para «perguntar» (e note-se que a forma
«preguntar» só terá sido oficialmente abandonada há cerca de um século, o que, na história
praticamente milenar da língua portuguesa, é recente) — a substituição de «estar» por «tar» (com a
correspondente conjugação: «eu tou», ou «tô», «tu tás», «ele tá», «nós tamos», «vocês, e eles, tão»,
«tarei», «taremos», «taria», «taríeis»...) poderá ser, pacificamente, encarada como uma tendência
inócua. Com efeito, enquanto fenómeno meramente fonético, não envolve atropelo da sintaxe.
E consta-me que, pelo menos em Moçambique, é já preconizada a avalização do novo verbo «tar».
(1) Bergström, M.; Reis, Neves, Prontuário Ortográfico e Guia da Língua Portuguesa, 50.ª edição, Casa das Letras, 2011. (2) Cunha, C.; Cintra, L. F. L., Breve Gramática do Português Contemporâneo, Edições João Sá da Costa, Lisboa, 1985.
Sardinheiras e cravos
Ulrike Hub
Direção-Geral da Tradução — Comissão Europeia
Caros leitores,
É isto uma continuação, um «P.S.-zinho», ao artigo «Aventuras e desventuras de uma tradutora alemã
entre portugueses» (aparecido n’«a folha» de outono de 2016). Eu, a alemã tradutora na Comissão
Europeia em Bruxelas que já tinha feito um office swap em 2015/16, tive a oportunidade e o prazer
inesperados de poder voltar a passar uns meses no departamento português.
Com pouco tempo para estudar em casa, je me suis vite heurtée aux limites difficiles à franchir sem
aulas de português. Não obstante, durante a minha estadia fiquei a saber mais algumas coisas sobre
Portugal, e o português «entrou-me» mais definitivamente na alma. Assim, quando vi uns miúdos
japoneses descer do autocarro escolar com os cartazes japoneses deles, esquisitos, lindos, todos iguais,
só de cores diferentes, o que pensei foi: «Gosto!!» (e não «Oh, schön!» ou «Joli, ça!»).
Tomei nota de mais algumas coisas que descobri e aprendi (ou não), para os que estejam interessados.
Como sempre, em várias línguas, que só em português ainda não consigo. Visto a tradição de trazer
bolos alemães, quis criar um «bolo bola» de frases — sous forme d’une spirale, rond, avec les phrases
qui tournent. Infelizmente não consegui, ou talvez felizmente, visto que o que criei aurait donné un
torticollis...
Durante os cinco meses do swap, comi doce de tomate, e bacalhau, deliciosos. Vi uns episódios do
«Conta-me como foi», andei «desencontrada» com uma colega, fui tomar café com três portugueses ao
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mesmo tempo e percebi o que disseram... (mais s’ils avaient parlé juste entre eux, je n’y serais pas
arrivée). O erro da secretária já é «history», mas dei erros novos, assim disse «seize» em vez de
«dezasseis» (c’est bien «quinze» en français ET en portugais, alors pour quelle raison est-ce «seize»
en français, mais pas en portugais ?!).
Escrevi o e-mail mais curto da minha vida: «É!»
Descreveram-me umas torradas em três partes, com muita manteiga. Parece que todos queriam sempre
a parte do meio ☺. Levei algum tempo a perceber que é num bar que se comem, hei de encomendar
quando for a Portugal. Soube também dos três arrozes típicos (de polvo, de pato e de tamboril).
Aprendi que os sapatos se arrumam no quarto, e que há escolas pintadas de cor de rosa.
Descobri que o dicionário da Academia das Ciências tem dois tomos, both equally thick, mas que
estranhamente o primeiro tomo só tem as letras A-F (6 letras) e o segundo tem G-Z (20!!). É que em
português devem existir muitas palavras que comecem com A, B, C, D, E ou F.
Contaram-me impressões das relações entre portugueses e espanhóis, e disseram-me que, falando
português, podia fingir que falo russo (sempre que os outros presentes não falem português nem russo,
claro). Talvez tente uma vez — vamos lá ver... Deram-me a ler livros — de uma autora canadiana...
que já é uma das minhas preferidas, um livro alemão ☺, um «Reiseführer» alemão sobre Portugal, e li
contos dos irmãos Grimm em português, o que — apesar de me parecerem mais lindos em português
do que em alemão — foi «escanifobético» (hopefully I’m using it correctly, this word).
Gostei muito desse «escanifobético». Achava que o Mário de Carvalho tinha inventado a palavra, mas
parece que não, existe mesmo. E as «sardinheiras»! Pegando no Casos do Beco das Sardinheiras,
estava à espera de histórias com mulheres vendedoras de sardinhas. Depois achei que as
«sardinheiras» talvez fossem barcos para a pesca de sardinhas. Mas barcos também não apareceram
nessas histórias, maravilhosamente estranhas!... Tive de procurar no dicionário, que isso é trabalho!, e
«it turned out that» sardinheiras são «geraniums»... (?!)
A outra flor que me fez estranhar foi o «cravo». Como é que uma única palavra pode ter tantos
significados diferentes? At least: carnation, nail, harpsichord, wart. (Sugiro que utilizem o «fuz» para
um destes significados?)
Achei admirável o «Já ia a ir-me embora» (quelle précision!), adoro o «Mau, mau!» (por acaso é
também o nome de um jogo de cartas na sul da Alemanha), o «nadinha de nada», tal como o tipo de
t-shirt que se chama «tomara que caia» (no Brasil), parece que é «caicai» em Portugal. Pode morrer-se
de morte matada! E não só se renovam as casas, mas também os passaportes (eu vejo les hommes de
métier avec leurs outils qui s’attaquent aux passeports).
Além disso, gostei das «tagarelices», da «semínima», do «aqui há gato», do «redemoinho» (je vois un
démon danser), da «água que passarinho não bebe» e da «boa pinga», do «súper» = «supermercado»,
da «boa boca», e dos «alergénios» que não são «génios». Adoro o «percevejo» (a palavra)! (Vem de
«percebo» e «vejo»? Imaginei: Está a falar uma pessoa, e depois de ter dito «Perce...» é picada pelo
percevejo. Faz-se um silêncio pequenino, depois continua a pessoa a falar, mas dizendo «vejo» à la
place de «percebo». Bon, c’est chercher loin, je l’admets!!).
O português pode ser flexível, um pouco como o inglês, que tem verbos como «to tango», ou o
neerlandês, com «tennissen». Em português podem «ultimar-se os preparativos» e pode-se «sambar».
Mas é verdade, em alemão temos «duschen» e «grasen».
Em português, pronunciam-se diferentemente as cidades de Mónaco (PT) [Monaco (FR), Monaco
(DE)], e Varsóvia (PT) [Varsovie (FR), Warschau (DE)]. Descobri que acrescentam um A a
«Heidelberga» ☺.
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Com «bossa nova» vi na mente uma nódoa negra, recente. Quando os colegas portugueses falaram de
«Viana», eu entendi «Vienna». E li «toro competente» mas era «foro competente»...
O «vespertino» fez-me lembrar a vespa que tinha quando jovem. A «espelunca» é como a «Spelunke»
alemã. Mas a «paragem cardíaca» não é uma paragem de autocarro, «antigamente» ou «antigo» não
foi na antiguidade, e «granda lata» não quer dizer «que sorte» (eu tinha a certeza... mas absoluta!... e
traduzi mal...). Percebi que um fim de semana «comprido» é muito melhor do que um fim de semana
«cumprido» (mas pronuncia-se quase da mesma maneira, se não estiver errada). E que «mais daqui a
um pouco» não quer dizer que haverá mais (rebuçados, ou outra coisa boa qualquer) dentro de pouco
tempo.
«Estou esquecido» não quer dizer que a pessoa que fala foi esquecida. O «sótão» português é o lugar
mais alto de um prédio, mesmo que em Espanha o «sótano» seja o lugar mais baixo. «Enxugar» é o
contrário de «enxaguar», e «puxe» é o contrário de «push».
Porque é «figueira» mas «limoeiro»?
Gostei das «águas-furtadas» (os vizinhos furtaram a água, uns aos outros, lá em cima? é um país
seco... ai, a minha imaginação às vezes vai longe de mais).
Demais, de mais, amais, a mais — existem todos? Ainda não percebi bem a diferença... Mas já sei que
sempre tenho de acknowledge that my kids are MY kids: «os MEUS filhos» (e não simplesmente «os
filhos», quando falo dos meus, como em francês e em alemão, «les enfants», «die Kinder»).
Percebi, logo na televisão, mais ou menos bem, a canção da Eurovisão (a dos irmãos Sobral), mas ao
ouvir falar da Volta à França no telejornal da RTPI, não percebi em que lugar ficou o melhor
português — os números ordinais são difíceis.
Tentei «bater as claras em castelo». Ainda vou ter de praticar ☺.
Os meus filhos ainda não falam português, mas percebem «Não sei» e «Não faço ideia». E cantam a
canção da Eurovisão — no «português» deles.
Procurando no IATE, agora vejo na mente um iate no mar, com um céu azul, vento e nuvens brancas,
e fico feliz.
Continuo a dizer «dentro de três dias» (em vez de «daqui a três dias») e «até à semana que vem» (em
vez de «até para a semana»). E «sente bem» em vez de «cheira bem». Confundo, obstinadamente, o
«o» e o «ou». E os acentos — nem quero falar do assunto. Desisto do «com ou sem artigo», nos países
— «em Portugal», mas «na Itália», etc. Desisto também de produzir o «eeeeee» em «eles» — tão
comprido. And I’m afraid I will never get the «tempos verbais» right.
Foi giro poder ficar com os colegas portugueses mais uma vez. Teria gostado de preparar um Eiskaffee
para os que quisessem, é um café frio com gelo, gelado e natas — coisa típica dos verões quentes
(relativamente... 30-35 graus) do sul da Alemanha, mas quando esteve calor eu estive de férias (sorte
minha ☺).
Li, já não sei onde, que «atrás de tempo, tempo virá». Uma colega já me disse várias vezes que «a vida
dá muitas voltas». E não foi o Saramago que disse que o destino não é uma linha reta? Talvez ainda
possa voltar, um dia, para mais uns meses. Fica o Eiskaffee para então.
Beijinhos grandinhos!
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Desportuguesmente
Philippe Magnan Gariso
Tradutor técnico — Mota-Engil, Engenharia e Construção, SA
Pensei, pensei, pensei, voltei a pensar, dei voltas à cabeça, quase bati com a cabeça nas paredes, e zás,
não é que do infortúnio se fez luz! Tão intensas que eram as chamas, tão más as reportagens que
davam conta do seu avanço pelas serras, que dei comigo a comentar: vale mesmo a pena esclarecer
alguns conceitos, corrigir algumas formas de dizer, na esperança de que alguém oiça ou, melhor, leia,
nessas longínquas escolas de jornalismo e nesses recônditos estúdios em que se lêem telejornais e
jornais radiofónicos.
Pois bem, o leitor já percebeu o que me traz à conversa: fogos, incêndios, frentes, operacionais,
chamas controladas, dominadas, em fase de resolução e resolvidas, as fitas do tempo e, ainda, as
vítimas mortais. Comecemos então pelo princípio. Não faltaram espaços noticiosos sobre a malfadada
época dos fogos florestais em Portugal. Em primeiro lugar, não há «fogos» florestais, mas sim
«incêndios» florestais: E porquê? Recordando o que aprendi no serviço militar, na protecção civil, em
França, um fogo pode ser extinto com um copo de água ao fim de um minuto; ao fim de cinco minutos
é preciso um balde de água; para lá desse tempo, se o fogo não tiver sido extinto, ou seja, se estiver
descontrolado, passa a designar-se por «incêndio» exigindo outros meios e procedimentos de combate.
Há especialistas que apresentam outros tempos, por exemplo, ao fim de três minutos o fogo
combate-se com um balde de água, ao fim de cinco já é necessário uma cisterna, e a partir daí o fogo
passa a incêndio, se não tiver sido extinto.
Ora, o incêndio vai lavrando e desenvolve-se em frentes a que as gentes do jornalismo teimam em
qualificar de «activas»; as «frentes activas». Mas, se a frente arde é porque, forçosamente, está
«activa», senão não haveria frente. Pois é, amigo leitor, há frentes de incêndio, e se as há é porque
estão «activas»; daí estarmos perante uma redundância, tal como a frase, por exemplo: «Ainda há dois,
três, quatro, ou seja quantos forem, incêndios activos no norte do país». Então, se não estivessem
activos, não haveria incêndios, não será? Há um «x» números de incêndios; e se os há estão activos.
Parece-me! Não concordará o leitor?
Nessas reportagens, ouvimos dizer que os operacionais estão apoiados e suportados por «x» meios
terrestres. Apoiados e suportados? Qual será a diferença? Confesso-me incapaz de destrinçar.
Atiçando mais as labaredas, dizem-nos que o fogo está controlado» ou «dominado». Não é o fogo que
está dominado, ou controlado; na realidade, o que acontece é que numa dada fase do combate ao
incêndio se conseguiu delimitar, ou confinar, o perímetro que naquele instante arde. Para espanto dos
especialistas, essas gentes da comunicação dita «social» emprega, pelo menos este ano, uma expressão
nunca antes ouvida no meio: o fogo está em fase de «resolução». Concretamente, o que significa isto?
Como se caracteriza um fogo, melhor dizendo um incêndio, em fase de resolução? Desde Junho, com
Pedrógão Grande, que não se ouviu, uma única vez que fosse, que um incêndio estivesse «extinto».
Porque será? Apesar de muitos desses incêndios terem sido, de facto, extintos. E o que pensar de um
incêndio resolvido? Este «resolvido» inclui o rescaldo, ou não?
Já agora, o que pensar, das «fitas do tempo», a propósito das falhas nas comunicações. «Fita» porquê?
Em bom português, sempre se falou em linha do tempo, cronologia, histórico dos acontecimentos…
não faltam soluções. Em inglês, é corrente ouvirmos e lermos a expressão «time line», pelo que não
vale a pena inventar, porque a tradução literal, neste caso, serve perfeitamente. Finalmente, as
«vítimas mortais». Do ponto de vista morfológico, «vítima» é um substantivo; perdão, um nome,
como agora se diz; «mortal» pode ser um nome (o mortal, aquele que morre, ou um adjectivo, ou seja,
o que causa morte, que mata, que é letal. Então, em «vítima mortal» estamos a falar de uma vítima que
causa morte, ou de um sujeito que morreu, que está morto? Se considerarmos «mortal» como
adjectivo, quão más são as vítimas que são mortais! Matam, causam morte! Se, ao invés,
considerarmos como um nome, então estamos perante um vítima que morre. Li, algures, que se
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considera que a vítima mortal é a que não morre no local, mas sim a caminho do hospital, ou no
hospital. Nesse caso, será contabilizada na coluna dos mortos/falecidos. Penso que o leitor me
acompanha neste raciocínio…
Quanto aos «operacionais», será que o objectivo é designar indistintamente bombeiros e bombeiras,
acompanhando os anglófonos que há muito deixaram de falar em policeman e policewoman para falar
em police officer? Uma nota positiva nestas trágicas maneiras de dizer — os profissionais dos
incêndios, em Portugal, incluindo o pessoal da protecção civil, não comete estes erros, o que me leva a
concluir que o mal estará na formação das gentes da tal comunicação. De tão pateta que é, não posso
deixar de referir o que um repórter de um canal televisivo afirmou sobre um determinado incêndio: «o
incêndio está a deflagrar desde 4.ª-feira, em Oleiros». Por isso mesmo, caro leitor, parece-me útil
clarificar o sentido de alguns vocábulos mal empregues por jornalistas e comentadores televisivos:
«explosão», «deflagração» e «detonação».
Vejamos. Basicamente, e de uma forma mais ou menos simples, uma explosão é caracterizada por
deslocação de matéria em combustão a que se dá o nome de frente de chama e deslocação de gás sob
pressão libertado que se designa por onda de choque. Podemos distinguir dois tipos de explosão: a
deflagração e a detonação. No primeiro caso, a frente de chama desloca-se a uma velocidade
subsónica, ou seja, mais lentamente do que a onda de choque; dito de outro modo, a frente de chama
desloca-se a uma velocidade inferior à velocidade do som (340 m/s), no ar, à temperatura de 15°. Por
exemplo, a chama num queimador de gás é um exemplo de deflagração controlada, já que a
velocidade da frente de chama é igual à velocidade de admissão do gás inflamável. Porém, a
deflagração pode transformar-se em detonação se a frente de chama se deslocar a uma velocidade
supersónica, logo superior a 340 m/s, ou seja, superior à velocidade da onda de choque. Não teria
cabimento aqui espraiar-me sobre estes conceitos, o objectivo sendo, tão-só, aclarar as diferenças entre
os vocábulos, e não maçar o leitor com perorações sobre explosivos.
Chaves certas, completas, e ordenadas
Na esteira deste despautério, entra a lógica, ou talvez fique à porta. Também aqui, o leitor já adivinhou
onde quero chegar. Com frequência, na Antena 1, estação radiofónica portuguesa que emite em
modulação de frequência (já agora, não digam frequência modulada, porque a frequência não está
previamente modulada; aliás, atentemos no inglês, ou no francês. Frequency modulation que em
português significa exactamente «modulação de frequência»; não estamos perante uma «modulated
frequency»; do mesmo modo, em francês, temos modulation de fréquence), mas dizia eu, oiço, por
ocasião dos sorteios do Euromilhões, o jornalista de serviço anunciar: «…Euromilhões — vale a pena
conferir a chave completa, ou a chave certa do concurso…». Pensemos um pouquito. A chave, por
definição, é completa e certa, ou não seria chave; além disso, para ganhar o Euromilhões não é
necessário que os números saiam segundo uma determinada ordem sequencial, ascendente ou
descendente, por exemplo, ou a ordem de saída da tômbola. Os cinco números e as duas estrelas saem
e esses sete números constituem a chave e a ordenação não é condição para ganhar. Se há uma chave,
essa chave é necessariamente completa e certa; ordenada ou não, não importa; o que importa é que
aqueles números foram sorteados, independentemente da sequência. Estamos, também neste caso,
perante uma redundância.
Duas expressões jurídicas inglesas erradamente traduzidas
Caro leitor, mudemos radicalmente de assunto. Não raras vezes, direi mesmo muitíssimas vezes, me
deparo com traduções portuguesas de textos jurídicos ingleses em que o sentido de algumas
expressões é mal vertido, penso que por desconhecimento do direito, mas também por dificuldade de
redacção em português. Uma das expressões muito comuns em contratos, por exemplo, é terms and
conditions vertido, atrevo-me a dizer, em 100% dos casos, até por juristas como «termos e condições».
Vejamos então o verdadeiro sentido da expressão: No direito britânico conditions são «major terms of
a contract», ou seja, as condições fundamentais; já warranty, por exemplo, é um «minor term of a
contract», donde se conclui que terms é um vocábulo genérico. Assim, no que se designa por common
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law, «terms and conditions» abrange todas as condições possíveis num contrato, pelo que basta
empregarmos em português a expressão «condições», «cláusulas», ou «condições gerais». Ao
vertermos por «termos e condições», o que sucede, na grande maioria dos casos, é pensar que terms
significa termos (na acepção que em português corresponde a «redacção». Atentemos na frase: «Upon
and subject to the terms of the agreement» (sob reserva das condições do contrato/condições
contratuais, e não sob reserva dos termos [redacção] do contrato). Já agora, term of a contract também
pode fazer referência à «duração do contrato» Outra expressão quantas vezes mal compreendida e
vertida para português é termination; neste caso, surge frequentemente a confusão entre «rescisão»,
«resolução», «denúncia». Quanto à rescisão, trata-se de pôr termo, por exemplo, a um contrato, para o
tempo futuro, ou seja, sem efeito retroactivo; a resolução é uma anulação, por exemplo, de uma venda,
que retroage; na denúncia, estamos perante uma decisão unilateral de uma das partes. Por vezes, o
jurista inglês especifica e escreve earlier termination que facilita a tradução, existindo, ainda, a opção
«expiração do contrato», e tudo dependerá do contexto. Caro leitor, deixo-lhe mais uma expressão que
causa sempre dificuldades ao ser vertida para português, creio que por razões que se prendem com a
redacção. From time to time — não faltam opções: «periodicamente», «pontualmente», «em qualquer
momento», «em caso de necessidade/havendo necessidade»; «de tempos a tempos» (esta última sendo
o sentido primeiro, em textos não jurídicos).
Ainda e sempre a «polémica escusada» em «a folha» n.º 53
Não podia deixar de alinhavar algumas — brevíssimas — notas acerca da contribuição do Jorge
Madeira Mendes(1)
, desde logo pelo título. Escusada, porquê? Porque se esgotaram os argumentos de
uns e outros, ou só de uns, ou só de outros? Escusada porque, e é o sentimento que perpassa, os que
são a favor do Acordo Ortográfico (AO) se julgam detentores da verdade absoluta, da razão última, do
derradeiro argumento, do raciocínio esclarecido, da verdade científica, dogmática, inabalável,
infalível? Escusada porque os detractores pura e simplesmente pensam como uns tontos; como se
emitissem radiação divergente que tem de passar por um colimador para se obter um feixe
direccionado. Os docentes da disciplina de língua portuguesa da minha geração, nos liceus, em
Portugal, são radicalmente contra o AO, tal como a Sociedade Portuguesa de Autores o é. São tontos?
Sem pôr (o AO mantém o diacrítico para distinguir da preposição, mas suprime-o em «pára»; então e a
confusão com a preposição?) em causa as razões avançadas por uns e outros, todos com o mérito que
se lhes deve pelo conhecimento que espelham, permito-me, como tradutor e utilizador da língua —
retrógrado, arrogante, intelectualóide (atributos com que foram catalogados em Lisboa os peticionários
contra o Acordo) — relembrar que a língua inglesa com as suas variantes (americana, australiana,
britânica, neozelandesa, sul-africana e outras faladas noutras partes do continente africano) não
esquecendo as diferentes pronúncias no Reino Unido, mormente algumas que ganham terreno
nalgumas regiões e entre algumas classes sociais que extravasam Londres (Estuary English, por
exemplo) tem palavras com consoantes mudas que não foram guilhotinadas e os falantes, linguistas e
governantes ingleses tão-pouco se preocupam; o catalão, o aragonês, o basco, e as variantes
latino-americanas do espanhol não incomodam os falantes nem os linguistas, nem os governantes
desses países. Serão tontos? Dos PALOP, Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe e
Timor-Leste ficaram de fora. Serão tontos? O acordo, que não passa disso mesmo, pois não estamos
perante uma reforma, mas sim perante um acordo sem verdadeiro estudo científico que o sustente,
transformou a escrita fonológica e morfológica numa escrita fonética. Recomendo a leitura do artigo
saído no Público de 14 de Junho de 2017 da autoria de Francisco Miguel Valada(2)
, investigador e
ex-intérprete de conferência no Tribunal de Justiça das Comunidades Europeias, no Luxemburgo.
Quer-me parecer que estamos perante um radicalismo abusivo, na fronteira do mau gosto por fazer
imperar uns, e decapitar outros pela sua heresia intelectual. Por fim, uma duvidazita: estamos mesmo
perante uma polémica, ou será que se trata de uma celeuma?
A literatura universal explicada em português nas ondas hertzianas
Na Antena 1, às 4.as
-feiras, pelas 23 horas, Ana Daniela Soares reúne à mesa do estúdio Rita Ferro,
Inês Pedrosa e Patrícia Reis, num programa que dá pelo nome de «A páginas tantas…». Parabéns ao
programa pela variedade dos autores, simplicidade da linguagem, sinceridade nos comentários. Um
a folha N.º 54 — verão de 2017
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programa como há poucos, muito poucos, e que fazem falta, muita falta. Há ocasiões em que o
informalismo da linguagem raia a incorrecção, mas é próprio do discurso falado, descontraído e em
que a preocupação são os livros, os autores, as editoras, as correntes literárias, as traduções das obras,
as opiniões, e o fundo acaba por ser bem mais importante do que a forma. Faço votos para que o
formato se mantenha e, porque não, o registo, permitindo que temas maçudos, em rádio, portanto sem
a facilidade da imagem para o ouvinte, sejam convidativos e nos prendam durante quase uma hora.
(1) Mendes, J. M., «A polémica escusada» in «a folha», n.º 53 — primavera de 2017,
http://ec.europa.eu/translation/portuguese/magazine/documents/folha53_pt.pdf. (2) Miguel, F., «Sobre a “opinião dos linguistas”, a arrogância, a ignorância e a continência», Público, 14 de junho de 2017,
https://www.publico.pt/2017/06/14/culturaipsilon/noticia/sobre-a-opiniao-dos-linguistas-a-arrogancia-a-ignorancia-e-a-
continencia-1775401.
Notas sobre povos, línguas e topónimos bantos de Angola
Paulo Correia
Amarílis Pêgo (antiga estagiária)
Direção-Geral da Tradução — Comissão Europeia
Uma das características das línguas bantas prende-se com a utilização de prefixos (e não sufixos,
como em português) para identificar o nome de um ou mais indivíduos de um povo (etnónimo), o
nome da língua (glossónimo) que falam ou o nome do território que habitam (topónimo). No quadro
seguinte, apresentam-se alguns exemplos.
raiz etnónimo glossónimo topónimo
sing. (mu-, mo-, …) pl. (ba-, va-, …) (se-, xi-, qui-, …) (Le-, Bo-, …)
soto mossoto
(en: Mosotho)
bassotos
(en: Basotho)
sessoto
(en: Sesotho)
Lessoto
(en: Lesotho)
tsuana motsuana
(en: Motswana)
batsuanas
(en: Batswana)
setsuana
(en: Setswana)
Botsuana
(en: Botswana)
zulo unzulo
(en: umZulu)
amazulos
(en: amaZulu)
issizulo
(en: isiZulu)
Cuazulo
(en: kwaZulu)
congo mucongo
(en: Mukongo)
bacongos
(en: Bakongo)
quicongo
(en: Kikongo)
bundo norte mumbundo
(en: Mubundu)
ambundos
(en: Ambundu)
quimbundo
(en: Kimbundu)
bundo sul ochimbundo
(en: Ocimbundu)
ovimbundos
(en: Ovimbundu)
umbundo
(en: Umbundu)
A utilização desses prefixos nos aportuguesamentos é pouco frequente, restringindo-se sobretudo a
obras da especialidade(1)
. Mesmo quando se usam os prefixos bantos de forma coerente, verifica-se
geralmente a adaptação às regras de género ou número do português no caso dos etnónimos, com a
consequente criação de singulares a partir de plurais (um bacongo e não um mucongo) e de plurais
híbridos (dois bacongos e não dois bacongo). Assim:
os bassotos, o povo que fala sessoto; o Lessoto
(2), a terra dos bassotos
os batsuanas, o povo que fala setsuana; o Botsuana(3)
, a terra dos batsuanas
os amazulos(4)
, o povo que fala issizulo; o Cuazulo(5)
, a terra dos amazulos
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22
No caso angolano, os vocabulários e dicionários em língua portuguesa apenas utilizam esta abordagem
exigente num número muito limitado de casos, como é o dos três maiores grupos etnolinguísticos,
todos situados no noroeste e centro de Angola, aqueles com que o contacto é mais antigo.
os bacongos, o povo que fala quicongo
os ambundos, o povo que fala quimbundo
os ovimbundos, o povo que fala umbundo
A abordagem mais cautelosa limita-se à utilização exclusiva da raiz, tanto para o glossónimo como
para o etnónimo, declinando-a de acordo com as regras do português. É esta a abordagem adotada
pelos vocabulários e dicionários em língua portuguesa para a generalidade dos grupos etnolinguísticos.
os sotos, o povo que fala soto; o Lessoto, a terra dos sotos
os tsuanas, o povo que fala tsuana; o Botsuana, a terra dos tsuanas
os zulos, o povo que fala zulo; o Cuazulo, a terra dos zulos
É, no entanto, frequente encontrar textos com uma utilização algo incoerente dos prefixos bantos(6)
,
que, conjugada com a variabilidade ortográfica dos bantoísmos, pode conduzir a uma certa dispersão
terminológica. Por vezes, os dicionários normalizam estes «desvios». Tal é o caso do termo
quimbundo, registado como língua, mas também como etnónimo.
Povos e línguas nacionais de Angola
O povo angolano é composto por vários grupos etnolinguísticos(7)
, alguns deles vivendo em áreas que
vão para além das fronteiras da República de Angola. É o caso dos bacongos, a norte, mas também dos
chócues (ou quiocos), a nordeste, ou dos cuanhamas, a sul.
Para além da língua oficial (o português), em Angola falam-se várias línguas nacionais (com as suas
variantes internas e variantes-padrão), maioritariamente do grupo banto, mas também de grupos
pré-bantos (coissã e vátua(8)
). Em 1979, foi criado o Instituto Nacional de Línguas para estabelecer
normas ortográficas e estudar e investigar os aspetos linguísticos de algumas dessas línguas. Em 1987,
para ajudar a normalizar a grafia das línguas nacionais, foram aprovados, a título experimental, os
alfabetos de seis línguas nacionais.
Resolução n.º 3/87, de 23 de maio, do Conselho de Ministros
Artigo 1.º São aprovados a título experimental os Alfabetos das Línguas: «Kikongo», «Kimbundú»,
«Cokwé», «Umbundu», «Mbunda», e «Oxikwanyama» e as respetivas Regras de Transcrição, em anexo
que fazem parte do presente diploma.(9)
No quadro seguinte apresentam-se algumas línguas bantas nacionais citadas em fontes oficiais
angolanas e os etnónimos correspondentes. Os nomes em português são os registados no Vocabulário
Ortográfico Comum da Língua Portuguesa (VOC)(10)
ou em dicionários de língua portuguesa.
ISO
639-3
glossónimo
etnónimo
%(11)
outros
países
(ISO)
IATE
pt língua nacional outras var.
kng quicongo(12)
(congo, conguês)
Kikongoa,b,c
Ukongoc
Kongo
Kicongo
Kikoongo
8,24 CG
CD
1451582
bacongo(s) Bakongo 3546806
kmb quimbundo
(bundo do norte)
Kimbundua,b,c
Kimbundo 7,82 3572162
ambundo(s) Mbundu Ambundu
Mbundo
918075
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23
umb umbundo
(bundo do sul)
Umbundua,b,c
22,96 3572167
ovimbundo(s) Ovimbundu 918077
cjk chócue
(chichocué)
Cokwea,b
Chokwec
Kiokoc
Tchócue
Tchokwe
Chichokwe
Côkwe
Xokwe
Tchokwe
Kyoko
6,54 CD
ZM
3572165
chócue(s)
(quiocos)
(tuchócues)
Cokwe Chokwe
Tucokwe
3546809
kua cuanhama(13)
(oxicuanhama)
Oxiwamboa
Oxikwanyamab
Kwanhamac
Oxicuanhama
Oxikwanyama
Oshikwanyama
Kwanyama
2,26 NA 3572168
cuanhama(s)
(ovacuanhamas)
Ovakwanyama Aawambo
Ambo
Aawambo
Ovawambo
3572192
mck bunda
(chimbunda)
Mbundaa,b
Mbuunda
Chimbuunda
—(14)
ZM 3572197
bundo(s)
(vambundos)
Mbunda Vambunda 3572201
nba ganguela Ngangelaa
Nganguelac
Nyemba
Luchazi
3,11 3572191
ganguela(s)
(vanganguelas)
Vangangela Vanganguela 3546810
nyk nhaneca(15)
(olunhaneca)
Olunyanekaa
Nhanecac
Nyaneka
Lunyaneka
3,42 3573821
nhaneca(s)(16)
(ovanhanecas)
Ovanyaneka 3546812
lue luvale
(chiluvale)
Luvalea,c
Chiluvale 1,04 ZM 3573858
luvale(s) Luvale 3573859
her herero
(oxierero)
Heleloa Oshihelelo
Otjiherero
NA
BW
3573857
herero(s)
(ovaereros)
Ovahelelo 3546815
Fontes angolanas:
a — Projeto de lei sobre o estatuto das línguas nacionais, Ministério da Cultura da República de Angola, agosto de 2011,
http://www.mincult.gov.ao/download.aspx?id=836&tipo=publicacao.
b — Resolução n.º 3/87 que aprova a título experimental, os Alfabetos de 6 Línguas Nacionais, Diário da República,
1.ª Série, n.º 41, 23 de maio de 1987, http://www.embaixadadeangola.org/cultura/linguas/set_lnac.html.
c — Instituto Nacional de Estatística da República de Angola, Angola — Recenseamento Geral da População e Habitação —
2014, https://andine.ine.gov.ao/nada4/index.php/catalog/14.
Toponímia plurilingue
Cuando Cubango? Kuando Kubango? Kwando Kubango? Kuwando Kubango?
Cuanza? Quanza? Kuanza? Kwanza? Kuwanza?
Luanda? Loanda? Lwanda? Luwanda?
Benguela? Bengela? Mbengela?
Observa-se em fontes angolanas em língua portuguesa, mesmos oficiais, a coexistência de toponímia
com grafias quer segundo as regras do português quer segundo as regras ortográficas das línguas
bantas locais, ou ainda segundo formas híbridas banto-português, refletindo diferentes influências e
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24
práticas. A recente Lei de Bases da Toponímia, parece ter como objetivo enquadrar melhor situações
como estas:
Lei n.º 14/16, de 12 de setembro, da Assembleia Nacional
Lei de Bases da Toponímia, que estabelece as bases para a definição e disciplina da toponímia ao nível
nacional e local, bem como as regras e procedimentos para efeitos de atribuição de números de polícia.
(…)
Artigo 7.º
(Regras de Grafia dos Topónimos)
1. Os topónimos são escritos em língua portuguesa, seguindo a grafia latina.
2. Os topónimos, nas demais línguas de Angola, são escritos em conformidade com as regras de grafia
da língua, devendo ser certificados pelo Instituto de Línguas Nacionais.(17)
Como nas regiões de Bruxelas ou de Miranda do Douro, estará Angola a avançar para placas
toponímicas bilingues?
No quadro seguinte, apresentam-se as atuais 18 províncias angolanas, de norte para sul e de oeste para
leste e as respetivas capitais e gentílicos provinciais. Além da ortografia em português, indica-se para
as províncias e capitais uma ortografia banta. Para o nome das províncias em português utilizou-se a
ortografia empregada pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) de Angola, por exemplo, no
inquérito de indicadores múltiplos e de saúde de 2015(18)
. Excetua-se o caso do Uíje (por aproximação
à ortografia banta, utilizou-se aí «j» em vez de «g»), em que foram utilizadas outras fontes(19)
. Foram
criadas fichas IATE em português, quimbundo(20)
e inglês. Para os nomes das capitais provinciais
optou-se pela aférese (supressão de sons) no caso das consoantes iniciais com pré-nasalação. Assim,
Banza (para Mbanza), Benguela (para Mbengela) e Dalatando (para Ndalatandu). Para os gentílicos
provinciais evitaram-se etnónimos, pois numa mesma província podem viver vários povos.
ISO
3166
província(21)
capital gentílico
provincial
IATE
AO- pt língua
nacional
pt língua
nacional(22)
CAB Cabinda Kabinda Cabinda Kabinda cabindense(s) 2229256
ZAI Zaire Nzadi Banza
Congo(23)
Mbanza
Kongo
zairense(s) 3572096
UIG Uíje Wiji Uíje(24)
Wiji uijense(s) 3572097
LUA Luanda Lwanda Luanda Lwanda luandense(s)(25)
3572098
BGO Bengo Mbengu Caxito(26)
Kaxitu benguense(s) 3572101
CNO Cuanza
Norte
Kwanza-Norte Dalatando(27)
Ndalatandu norte-cuanzense(s) 3572122
MAL Malanje Malanji Malanje Malanji malanjino(s)/a(s)(28)
3572095
LNO Lunda Norte Lunda-Norte Dundo(29)
Dundu norte-lundense(s) 3572125
CUS Cuanza Sul Kwanza-Sul Sumbe(30)
Sumbi sul-cuanzense(s) 3572136
LSU Lunda Sul Lunda-Sul Saurimo(31)
Saurimu sul-lundense(s) 3572134
BGU Benguela Mbengela Benguela Mbengela benguelense(s) 3572137
HUA Huambo Wambu Huambo(32)
Wambu huambense(s)33
3572144
BIE Bié Viye Cuíto(34)
Kwitu bieno/a(s)(35)
3572146
MOX Moxico Moxiku Luena(36)
Lwena moxiquense(s) 3573737
NAM Namibe Namibi Moçâmedes(37)
Musamedis(38)
namibense(s) 3572147
HUI Huíla Wila Lubango(39)
Lubangu huilense(s) 3572102
CNN Cunene Kuneni Onjiva(40)
Ondjiva cunenense(s) 3572148
CCU Cuando
Cubango
Kwandu
Kuvangu
Menongue(41)
Menongi cuando-
cubanguense(s)
3572149
a folha N.º 54 — verão de 2017
25
(1) Cf. os glossónimos sessoto, setsuana ou issizulo em Petter, M. (org.), Introdução à Linguística Africana, Editora Contexto,
ISBN 978-85-7244-934-2. (2) Até 1966, Basutolândia, ou melhor, Bassotolândia — Terra dos Bassotos. (3) Até 1966, Bechuanalândia, ou melhor, Batsuanalândia — Terra dos Batsuanas. (4) O Aulete Digital define este termo como «cafres da costa oriental africana», http://www.aulete.com.br/amazulos. (5) Cuazulo-Natal é uma das entidades regionais da África do Sul (antiga província do Natal). (6) Exemplo: «A população de Angola é maioritariamente de origem Bantu. Dentre estes destacam-se os Ovimbundus (grupo
com maior expressão), os Kimbundus e os Bakongos.», Guia Turístico de Angola, Angola: População,
http://www.guiaturisticoangola.co.ao/index.aspx?menuid=5&lang=P. (7) Il faut se mettre en garde contre le sens caché de certaines expressions. On ne choque pas en employant le terme
d’« ethnie zoulou » alors que « ethnie portugaise » étonne. Ce choix de terme reproduit un décalage entre « civilisé » et
« sauvage », héritage de la période colonisatrice., Cahen, M., Retour de l’ethnicité ?, Centre Culturel Hâ 32,
http://ha32.org/spip/spip.php?article71.
Não se falará de etnias, mas de povos angolanos (a etnia alemã na Bélgica?) e não se usarão formas invariáveis em género e
número ou com maiúsculas iniciais para os respetivos nomes e adjetivos (os Flamengo(s) e os Valão(es) da Bélgica?).
Se se compararem, por exemplo, os artigos de apoio da Infopédia sobre dois Estados plurinacionais como Angola e Bélgica,
verifica-se que as palavras etnia e étnico são usados para o primeiro país, mas não são para o segundo.
Cf. «A principal etnia é a Ovimbundo, que constitui cerca de 2/5 da população total do país e que fala umbundo.», Porto
Editora, Infopédia: Língua Portuguesa, «Artigos de apoio: Angola», https://www.infopedia.pt/$angola, e «Os flamengos
representam cerca de 58% da população e os valões 31%», Porto Editora, Infopédia: Língua Portuguesa, «Artigos de apoio:
Bélgica», https://www.infopedia.pt/$belgica.
Ver também, a este propósito, Correia, P., «Etnónimos, uma categoria gramatical à parte?» in «a folha», n.º 40 — outono de
2012, http://ec.europa.eu/translation/portuguese/magazine/documents/folha40_pt.pdf. (8) Não confundir os vátuas do sul de Angola com os vátuas do sul de Moçambique. Estes últimos são um povo banto. (9) Resolução n.º 3/87 que aprova a título experimental, os Alfabetos de 6 Línguas Nacionais, Diário da República, 1.ª Série,
n.º 41, 23 de maio de 1987, http://www.embaixadadeangola.org/cultura/linguas/set_lnac.html. (10) Instituto Internacional da Língua Portuguesa, Vocabulário Ortográfico Comum da Língua Portuguesa,
http://voc.iilp.cplp.org/. (11) Instituto Nacional de Estatística da República de Angola, Angola — Recenseamento Geral da População e Habitação —
2014, https://andine.ine.gov.ao/nada4/index.php/catalog/14. (12) Algumas fontes apresentam também, separadamente, o fiote, variante do quicongo falada em Cabinda. (13) Com o xindongo (ndo) formam o ovambo. (14) Não aparece no Recenseamento Geral da População e Habitação - 2014 do Instituto Nacional de Estatística da República
de Angola. Foi substituída como língua nacional pela língua ganguela, cf. Wikipedia, Mbunda,
https://ca.wikipedia.org/wiki/Mbunda. (15) O VOC regista igualmente lunhaneca. (16) O VOC regista igualmente munhaneca(s). (17) Lei n.º 13/16 (Lei de Bases da Organização Administrativa do Território) que estabelece as bases para a organização do
território da República de Angola, para fins político-administrativos e a designação, criação, classificação e progressão das
unidades urbanas e outros aglomerados populacionais, Diário da República, 1.ª Série, n.º 155, 12 de setembro de 2016. (18) Instituto Nacional de Estatística da República de Angola, Inquérito de Indicadores Múltiplos e de Saúde (IIMS) –
2015-2016: Relatório de Indicadores Básicos,
http://www.ine.gov.ao/xportal/xmain?xpid=ine&xpgid=publications_detail&publications_detail_qry=BOUI=42933913
Confrontar igualmente:
Governo da República de Angola, Governos Provinciais, http://www.angola.gov.ao/GovernosProvinciais.aspx
Embaixada da República de Angola em Portugal, Províncias, http://www.embaixadadeangola.pt/726-2/ (19) «Miguel Cutoca disse que o Ministério da Justiça quer evitar que os cidadãos residentes no interior da província
percorram longas distâncias até à cidade do Uíje para obterem o Bilhete de Identidade ou o Registo Criminal. O delegado da
Justiça disse que nos municípios da província do Uíje já funcionam os serviços de Registo Civil e Notariado e nesta altura o
Ministério da Justiça trabalha, em colaboração com o Governo Provincial, na construção de infraestruturas para as
Repartições Municipais de Identificação Civil e Criminal», Governo da República de Angola, Notícias, «Acesso à justiça em
debate», 8 de dezembro de 2014, http://www.cidadao.gov.ao/VerNoticia.aspx?id=25277. (20) Para as províncias de Luanda, Bengo, Cuanza Norte, Malanje, onde o quimbundo é a língua nacional maioritária, também
para as províncias do Uíje, Cuanza Sul, Lunda Norte e Lunda Sul, onde também é falada. (21) Até 1975, as subdivisões administrativas eram designadas distritos. Cf. Lei n.º 2066, de 27 de junho de 1953, que
promulga a Lei Orgânica do Ultramar Português, Diário do Governo, I série, n.º 135, de 27 de junho de 1953,
https://dre.pt/application/conteudo/640659.
Em Angola, o termo distrito refere-se atualmente a subdivisões dos municípios. (22) Nalguns casos, escrita com ortografia banta de nomes portugueses ou aportuguesados. (23) Etimologicamente, Cidade do Congo. Até 1975, São Salvador do Congo. (24) Até 1975, Carmona. (25) Cf. caluanda — do quimbundo mukwa lwanda, natural ou habitante de Luanda (cidade). (26) Etimologicamente, Kaxitu é diminutivo de xitu (carne), significando pedaço de carne. (27) Até 1975, Vila Salazar. (28) malanjinho / malanjense (29) Até 1975, Portugália.
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(30) Até 1975, Novo Redondo. (31) Até 1975, Henrique de Carvalho. (32) Até 1975, Nova Lisboa. (33) Cf. huambo — do povo huambo. (34) Até 1975, Silva Porto. (35) Porto Editora, Infopédia: Língua Portuguesa, «bieno», https://www.infopedia.pt/dicionarios/lingua-portuguesa/bieno. (36) Até 1975, Luso. (37) «A localidade foi batizada em 1485 com o nome de Tchitoto Cho Patua, depois Mussungo Bitoto. Em 1775, chamou-se
Angra dos Negros e, mais tarde, Pinheiro Furtado, de Baía de Mossâmedes, na altura com “ss”, em homenagem a José de
Almeida Vasconcelos de Oliveira Soveral de Carvalho, Barão de Mossâmedes [povoação da freguesia de São Miguel de
Mato, Vouzela, Viseu, Portugal]. A cidade foi fundada em 1840 e passou, em 14 de novembro de 1956, a escrever-se
Moçâmedes com “c” de cedilha [indicando a origem árabe do topónimo], até 1975, quando passou a chamar-se Namibe. Em
27 de junho do corrente ano [2016], o nome voltou a ser alterado por decreto-lei para cidade de Moçâmedes.», Sousa, M.,
«Capital do Namibe volta a ser Moçâmedes», Jornal de Angola, 4 de agosto de 2016,
http://jornaldeangola.sapo.ao/sociedade/capital_do_namibe_volta_a_ser_mocamedes. (38) Possível transcrição. (39) Até 1975, Sá da Bandeira. (40) Até 1975, Vila Pereira de Eça. (41) Até 1975, Serpa Pinto.
Letónia — ficha de país
Juta Preisa
Secretariado-Geral — Conselho da União Europeia
Paulo Correia
Direção-Geral da Tradução — Comissão Europeia
Nesta ficha de país reúne-se informação terminológica relativa à Letónia que se encontra dispersa por
vários documentos normativos ou de referência das instituições europeias.
Apresenta-se em anexo a esta ficha uma tabela com o alfabeto letão, os símbolos fonéticos
correspondentes às letras e transliterações aproximadas em português.
REPÚBLICA DA LETÓNIA (IATE: 861101)
CAPITAL: Riga
GENTÍLICO/ADJETIVO: letão/letã (plural: letões/letãs)
MOEDA: euro
SUBDIVISÃO: cent(1)
Principais cidades: Riga, Daugavpils, Liepāja
Rios: Daugava
Serras: Gaiziņkalns
Subdivisões administrativas
# letão (Eurostat) português inglês IATE
9 Republikas pilsēta cidade da República republic city 3556134
110 novads município municipality 3522567 Fonte: Eurostat, Nomenclature of territorial units for statistics: National Structures (EU),
http://ec.europa.eu/eurostat/web/nuts/national-structures-eu
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Regiões
NUTS LATVIJA LETÓNIA LATVIA IATE
LV003 Kurzeme Curlândia Kurzeme 3573886
LV005 Latgale Latgália(2)
Latgale 3574023
LV006 Rīga Riga Rīga 1891480
LV007 Pierīga Pieriga(3)
Pierīga —
LV008 Vidzeme Vidzeme(4)
Vidzeme 3573887
LV009 Zemgale Semigália(5)
Zemgale 3574025 Fonte: Serviço das Publicações, Código de Redação Interinstitucional: Anexo 10 — Lista das Regiões,
http://publications.europa.eu/code/pt/pt-5001000.htm
Regulamento (CE) n.º 1059/2003 do Parlamento Europeu e do Conselho, de 26 de maio de 2003, relativo à instituição de
uma Nomenclatura Comum das Unidades Territoriais Estatísticas (NUTS) (versão consolidada de 2016),
http://eur-lex.europa.eu/legal-content/PT/TXT/?uri=CELEX:02003R1059-20161219.
Órgãos judiciais
# letão português inglês IATE
27 administratīvā rajona tiesa tribunal administrativo de
comarca
administrative district court 3545842
4 administratīvā
apgabaltiesa
tribunal administrativo regional administrative regional court 3545841
34 priekšpilsētas tiesa tribunal metropolitano city district court 3522536
rajona tiesa tribunal de comarca(6)
district court 3522537
6 apgabaltiesa tribunal regional regional court 3522535
1 Augstākā tiesa Supremo Tribunal Supreme Court 3522533
1 Satversmes tiesa Tribunal Constitucional Constitutional Court 3522532 Portal Europeu da Justiça. Sistemas judiciais nos Estados-Membros — Letónia,
https://e-justice.europa.eu/content_judicial_systems_in_member_states-16-lv-pt.do?member=1
Anexo: Alfabeto letão
O alfabeto letão é derivado do alfabeto latino, incluindo onze carateres suplementares formados por
adição de diacríticos:
A, Ā, B, C, Č, D, E, Ē, F, G, Ģ, H, I, Ī, J, K, Ķ, L, Ļ, M, N, Ņ, O, P, R, S, Š, T, U, Ū, V, Z, Ž
As letras Q, W, X e Y são utilizadas apenas em palavras estrangeiras, sobretudo nomes, quando são
escritos na língua original. Os dígrafos DZ, DŽ, LL e ĻĻ, não fazem parte do alfabeto.
Existem ainda os ditongos: AI, IE, EI, EU, O (/ua̯/), AU, UI.
letra letã fonética (AFI) equivalente português nome letão «transliteração»
A a /ɑ/ a curto akmens (pedra) akmens
Ā ā /ɑː/ a longo ābele (macieira) aabele
B b /b/ b (em bola) bumba (bola) bumba
C c /t̪̪͡ s̪/ ts (em tsunâmi) cukurs (açúcar) tsukurs
Č č /t̪͡ ʃ/ tch (em Tchaikovsky) čačača (chachachá) tchatchatcha
D d /d̪/ d (em dente) drupas (ruínas) drupass
E e /e/
/æ/
e (em pelo)
e (em sereia)
egle (abeto)
sekas (consequências)
egle
sekass
Ē ē /eː/
/æː/
e longo
e longo lisboeta (em leite)
ēzelis (burro)
ēna (sombra)
eezeliss
eena
F f /f/ f (em faca) fazāns (faisão) fazaans
G g /ɡ/ g (em gato) gaiss (ar) gaiss
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28
Ģ ģ /ɟ/ d francês (em dieu) ģimene (família) dimene
H h /x/ r lisboeta (em rosa) hokejs (hóquei) roqueiss
I i /i/ i (em vida) istaba (quarto) istaba
Ī ī /iː/ i longo īre (aluguer) iire
J j /j/ i (em cuidado) jumts (telhado) iumts
K k /k/ c (em casa) kaste (caixa) kaste
Ķ ķ /c/ t francês (em tiare) ķirbis (abóbora) tirbiss
L l /l/ l (em lua) likums (lei) likums
Ļ ļ /ʎ/ lh (em ilha) ļaut (deixar) lhaut
M m /m/ m (em morte) maize (pão) maize
N n /n̪/
/ŋ/
n (em nada)
n (em manga)
nauda (dinheiro)
runga (taco)
nauda
runga
Ņ ņ /ɲ/ nh (em sonho) ņaudēt (miar) nhaudeet
O o /ua̯/
/o/
/oː/
ua (em quase)
o (em morto)
o longo
oga (baga)
oāze (oásis)
oda (ode)
uaga
oaaze
ooda
P p /p/ p (em pato) pils (castelo; burgo) pils
R r /r/ r (em caro) Rīga (Riga) Riiga
S s /s̪/ s (em saia) saule (sol) saule
Š š /ʃ/ x (em xá) šalle (xaile) xal-le
T t /t̪/ t (em tudo) tētis (pai) teetiss
U u /u/ u (em peru) uguns (fogo) uguns
Ū ū /uː/ u longo ūdens (água) uudens
V v /v/ v (em vaca) valsts (país) valsts
Z z /z̪/ z (em zebra) zeme (terra) zeme
Ž ž /ʒ/ j (em jeito) žāvēt (secar) jaaveet
LL ll /l:/ l longo lelle (boneca) lel-le
ĻĻ ļļ /ʎ:/ lh longo baļļa (tina de madeira) balh-lha
DZ dz /d̪̪͡ z̪/ dz (em dzeta) dzenis(7)
(pica-pau) dzeniss
DŽ dž /d̪͡ ʒ/ dj (em djembê) džinsi (calças de ganga) djinsi
(1) Forma obrigatória nos atos da UE e a preferir nos demais textos da UE); cêntimo (variante nacional de uso corrente em
Portugal e que pode ser utilizada noutro tipo de textos). (2) A Lello Universal refere Letgália. Cf. Rocha, C., «Os gentílicos de Latgália, Selónia, Semigália e Vidzeme (Letónia)»,
Ciberdúvidas, 1 de fevereiro de 2013,
https://ciberduvidas.iscte-iul.pt/consultorio/perguntas/os-gentilicos-de-latgalia-selonia-semigalia-e-vidzeme-letonia/32117. (3) Significa, literalmente, Circunriga (à volta de Riga). (4) Corresponde à parte centro-meridional da Livónia histórica, pelo que por vezes também é designada por Livónia. Vidzeme
significa, literalmente, Terra do Meio (zeme = terra).
Cf. Rocha, C., «Os gentílicos de Latgália, Selónia, Semigália e Vidzeme (Letónia)», Ciberdúvidas, 1 de fevereiro de 2013,
https://ciberduvidas.iscte-iul.pt/consultorio/perguntas/os-gentilicos-de-latgalia-selonia-semigalia-e-vidzeme-letonia/32117. (5) A Lello Universal refere Semigola. Cf. Rocha, C., «Os gentílicos de Latgália, Selónia, Semigália e Vidzeme (Letónia)»,
Ciberdúvidas, 1 de fevereiro de 2013,
https://ciberduvidas.iscte-iul.pt/consultorio/perguntas/os-gentilicos-de-latgalia-selonia-semigalia-e-vidzeme-letonia/32117. (6) Tribunal de comarca é o termo normalizado que tem sido utilizado para tribunais de primeira instância nas diferentes
fichas de país publicadas n’«a folha». (7) A palavra Vidzeme é uma exceção à regra pois é uma palavra composta. O «d» e o «z» pertencem, assim, a duas palavras
distintas — vid (de vidus (meio)) + zeme (terra) — e não podem ser fundidos no som «dz». Esta palavra pronuncia-se
Vid-zeme.
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«a folha» ISSN 1830-7809