discursos sobre inclusao
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DISCURSOS SOBRE
A INCLUSO
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DISCURSOS SOBRE
A INCLUSO
Eliana Lucia Ferreira
Eni P. Orlandi(organizadoras)
Niteri
Intertexto
2014
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2014 by Eliana Lucia Ferreira, Eni P. Orlani
Direitos desta edio reservados Editora Intertexto.
proibida a reproduo total ou parcial por quaisquer meios,sem autorizao expressa da editora.
Capa: Andr Luiz da Fonseca JuniorProjeto grfico, diagramao e editorao: Camilla Pinheiro
Os textos so de responsabilidade total de seus autores.
Intertexto Editora e Consultoria LtdaTelefax: (21) 2613-3732e-mail: [email protected]
Dados internacionais de Catalogao-na-Publicao (CIP)
D611 Discursos sobre a incluso / Eliana Lucia Ferreira, Eni P. Orlandi (organizadoras)Niteri : Intertexto, 2014.
286 p. : il. ; 21 cm.
Inclui bibliografias.ISBN 978-85-7964-046-9
1. Educao especial. 2. Educao inclusiva.I. Ferreira, Eliana Lucia. II. Orlandi, Eni P.
CDD 371.9
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SUMRIO
APRESENTAO...................................................9
EQUVOCOS QUE CONSTITUEM
O MACRODISCURSO POLTICO-EDUCACIONAL DA INCLUSO
JULIANASANTANACAVALLARI............................................ 111 INTRODUO ...........................................................13
2 SOBRE O EQUVOCO NA PRODUO DE
SENTIDOS OUTROS.................................................17
3 PROCEDIMENTOS METODOLGICOS..............204 ANLISE DOS REGISTROS ..................................... 23
5 CONSIDERAES FINAIS ...................................... 39
REFERNCIAS ........................................................... 47
O DISCURSO DA INCLUSOPELA DIFERENA NA RELAOMDIA E SOCIEDADE
CACIANESOUZADEMEDEIROS..........................................51
1 INTRODUO .......................................................... 53
2 UMA INCLUSO PARTIDA ..................................... 54
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3 AS CONDIES DE PRODUO
DA INCLUSO .......................................................... 624 OS SENTIDOS DA INCLUSO
NEOLIBERAL: A CONSTRUO
DO SUJEITO ENGAJADO........................................77
5 POR UMA RETOMADA DA DISCUSSO
SOBRE O CONCEITO DE INCLUSO.................. 82
REFERNCIAS ........................................................... 87
DISCURSIVIDADES DEINCLUSO E A MANUTENODA EXCLUSO
GRECIELYCRISTINADACOSTA......................................... 89
1 INTRODUO ...........................................................912 DISCURSO: SENTIDOS E SUJEITOS....................94
3 A SOCIEDADE DA SEGREGAO ......................... 96
4 SENTIDOS PARA A DIFERENA...........................101
5 CONCLUSES .........................................................133
REFERNCIAS..........................................................135
FORMAO OU CAPACITAO?:DUAS FORMAS DE LIGARSOCIEDADE E CONHECIMENTO
ENIPUCCINELLIORLANDI...............................................141
1 INTRODUO........................................................ 143
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2 SOCIEDADE DO CONHECIMENTO E/OU
SOCIEDADE DA INFORMAO?........................ 1483 EDUCAR FORMAR: A LNGUA
ENTRA EM CENA.....................................................153
4 O SUJEITO E O SENTIDO OUTRO:
A FORMAO NA RELAO DA
LINGUAGEM COM A SOCIEDADE.......................161
5 HISTORICIDADE, ALTERIDADE.......................... 1706 CONSIDERAES CONCLUSIVAS......................178
REFERNCIAS......................................................... 183
ACESSIBILIDADE: SENTIDOSEM MOVIMENTO
DBORAMASSMANN.......................................................191
1 INTRODUO........................................................ 193
2 DIVERSIDADE E ACESSIBILIDADE.......................197
3 DO SENTIDO POSTO AO SENTIDO
FLUIDO .....................................................................202
4 SOBRE OS SENTIDOS DE
ACESSIBILIDADE....................................................208
REFERNCIAS..........................................................221
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TRAO, CORPO, SENTIDO: SOBRE A
ESCOLA, A CRIANA E A ESCRITA RENATACHRYSTINABIANCHIDEBARROS........................225
1 INTRODUO........................................................ 227
2 A ESCOLA DE EDUCAO INFANTIL
CONTEMPORNEA: A PEDAGOGIZAO
DO CORPO ..............................................................234
3 DO CORPO BIOLGICO AOCORPOSENTIDO..................................................246
4 O SUJEITO DA ESCOLA
CONTEMPORNEA............................................... 255
5 DO APRISIONAMENTO SUBVERSO:
CONSIDERAES FINAIS....................................260
REFERNCIAS .........................................................265
EDUCAO FSICA:EM BUSCA DE UMA NOVAA RESIGNIFICAO
ELIANALUCIAFERREIRA .................................................269
1 INTRODUO .........................................................271
2 CONSIDERAES FINAIS .................................... 281
REFERNCIAS .........................................................285
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APRESENTAOAtualmente, o processo de incluso escolar e
social um movimento em movimento, com ra-
mificaes em compromissos individuais em prol de
compromissos coletivos, com a pretenso de resol-ver as insuficincias de um sistema social, se posi-
cionando como um desejo de completude poltico/
educacional.
Portanto, os discursos sobre a incluso aqui
apresentados inserem-se em um contexto de de-
bates e posicionamentos trazidos pela legislao,
pela educao e pela poltica na sua dimenso so-
cial mais ampla.
O que se percebe que h um jogo de diver-
gncias e convergncias entre os movimentos so-
ciais legitimados para se instaurarem na diversidade,
mas h tambm uma resistncia silenciada. E nes-
te contexto que o movimento da incluso recobre-
-se de sentidos, agregando valorao simblica.
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Portanto, as questes, aqui, no somente con-
tribuem para a incluso social, mas tambm encon-tram ressonncia em prticas inclusivas voltadas
para a educao de um modo geral.
Sendo assim, esta obra marcada pela plura-
lidade de discursos que recolocam a questo da
incluso em um universo mais amplo de possibili-dades de compreenso das marcas histricas e dos
sentidos das relaes sociais.
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JULIANASANTANACAVALLARI**
EQUVOCOS QUECONSTITUEM O
MACRODISCURSO
POLTICO-EDUCACIONAL
DA INCLUSO*
* Uma verso primeira deste trabalho foi publicada na Revista Brasileira de LingusticaAplicada (RBLA).
** Doutora e ps-doutora pela UNICAMP. Professora do Programa de Mestrado emCincias da Linguagem da Universidade do Vale do Sapuca (UNIVS).
No h verdade que, ao passarpela ateno, no minta.
LACAN
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1 INTRODUO
Na tentativa de promover a democratizao da
escola e do ensino, uma srie de aes polticas foi
adotada pelo governo, sobretudo a partir da dca-
da de 1990 (VIZIM, 2003). Atravs da Declarao da
Educao para Todos (1990), da Poltica Nacional de
Educao Especial (1994), dentre outras propostas,buscou-se, por meio da adoo de prticas inclusi-
vas, atender s necessidades dos excludos, isto ,
daqueles que sofrem algum tipo de privao social,
fsica ou cognitiva. Assim sendo, o macrodiscurso
poltico-educacional, difundido no s por gover-
nantes ou representantes legais, mas, em especial,
por agentes educacionais1tende a reforar e a asse-
gurar a aplicao de polticas inclusivas, o que, ima-
ginariamente, possibilitaria um processo de ensino e
aprendizagem mais justo e igualitrio.
Recentemente, o Governo Federal anunciou
um grande investimento na Educao Especial, com
vistas efetivao de prticas inclusivas e oferta
de educao de qualidade para todos. Vale desta-
car que o enunciado educao para todos exerce
o efeito de slogan ou propaganda do atual gover-
1 Neste estudo,adotamos o termoagente educacionalno no sentidode agenciar ou deagenciadores, massim para designar os
sujeitos que exercemfunes que incidemdiretamente noato educativo,como professores,diretores,coordenadores,supervisores etc.
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no, alm de ser frequentemente empregado como
promessa primordial de campanha de futuros go-vernantes, de modo geral. No por acaso que, ao
longo deste texto, adotamos o termo macrodiscur-
so poltico-educacional da incluso para nos re-
ferirmos ao objeto de anlise deste texto, graas a
aparente fuso, ou melhor, (con)fuso que parece
afetar o discurso poltico e o discurso da educaoformal acerca da incluso, j que passam a funcionar
quase que indistintamente, na tentativa de viabilizar
a educao inclusiva e suas diretrizes j anunciadas
e prescritas em documentos oficiais. Tomamos essa
(con)fuso de discursividades que, por sua vez, nos
remete a uma mesma formao discursiva acerca da
incluso, como um macrodiscurso que se apresen-
ta como verdadeiro e j legitimado e que, portanto,
incide direta e indiretamente nos diversos mbitos
sociais e, sobretudo, no contexto educacional.
O objetivo especfico deste estudo desve-
lar o modo como intra e interdiscursivamente2 o
discurso da incluso que se materializa em pr-
ticas inclusivas tidas como politica e moralmente
corretas produz efeitos de sentido e de verda-
de em nosso meio scio-histrico. Para tanto, nos
2 De acordo com aAnlise de Discursode linha francesa,que fundamenta
este estudo, ointradiscurso serefere aparentelinearidade dodizer, ao passo queo interdiscurso,que atravessa ofio discursivo revelia do sujeitode linguagem, nosremete ao conjuntode formulaesfeitas e j esquecidas(j-ditos) quedeterminam o quedizemos (ORLANDI,1999, p. 33).
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pautamos nos seguintes questionamentos: como
as noes de incluso e diferena (con)formam eengendram o dizer-fazer de agentes educacionais?
Como educao e incluso se relacionam e afetam
as prticas discursivo-pedaggicas? Partindo do
pressuposto de que a prtica e poltica inclusivas
evocam noes e representaes que significam
em oposio e por meio de pares dicotmicos (in-cluso x excluso; igualdade x diferena) j natura-
lizados no contexto escolar, levantamos a hiptese
de que a educao inclusiva (EI) silencia e apaga
a(s) diferena(s) e o diferente, j que incluir pro-
duz o efeito de sentido de normalizar ou de tor-
nar o outro meu semelhante.
Como material de pesquisa foram utilizados
alguns depoimentos proferidos por agentes edu-
cacionais (professores, assistentes, coordenadores
de cursos, diretores, pedagogos e psiclogos), por
ocasio de algumas palestras e seminrios realiza-
dos em um congresso nacional cujo tema era in-
cluso e diversidade. Trata-se de um amplo even-
to realizado anualmente, no estado de So Paulo,
e que rene profissionais da educao de diversos
campos do saber e de diversas reas de atuao.
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Do ponto de vista terico, os pressupostos da
Anlise de Discurso de linha francesa (ADF), quepostula a determinao inconsciente e ideolgica
do sujeito e da linguagem, fundamentam a anlise
dos registros e as consideraes aqui propostas.
Em ltima instncia, o presente estudo sugere o
acolhimento das diferenas e da ingovernabilidadeque, vez por outra, irrompem no contexto escolar,
de modo que possamos atuar como agentes edu-
cacionais, no sentido de no temermos ou ficarmos
passivos diante do inesperado, mas de concebermos
a diferena e o diferente como fatores produtivos
que provocam transformaes em todos os partici-
pantes do contexto escolar, independentemente da
funo exercida, deslocando saberes pr-constru-
dos ou j normalizados scio-historicamente.
A seguir, abordamos o conceito de equvoco
que se mostrou bastante produtivo para o desenvol-
vimento da parte analtica deste estudo.
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2 SOBRE O EQUVOCO NA
PRODUO DE SENTIDOSOUTROS
Tendo em vista a problemtica levantada neste
estudo o equvoco no discurso da incluso, faz-
-se necessrio adentrarmos o conceito de equvoco
que viabilizou o recorte discursivo efetuado no ma-terial de anlise.
De acordo com a perspectiva discursiva, o
equvoco produz uma falha materializada na/pela
lngua, revelia do sujeito enunciador. Essa falha no
pode ser recoberta, levando produo de sentidos
outros, por vezes indesejveis, e que denunciam a
posio discursiva, portanto ideolgica, ocupada
pelo sujeito de linguagem, bem como as formaes
discursivas em que seu dizer se inscreve para pro-
duzir efeitos de verdade e de evidncia enunciativa.
Nesse prisma, no o sujeito que fala a lngua, mas
sim a lngua que fala e (d)enuncia o posicionamento
do sujeito enunciador, uma vez que aponta para as
suas formaes ideolgicas e para os vrios discur-
sos que legitimam seu dizer.
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Convm ressaltar que o sujeito constitudo na/
pela linguagem, tal como postula Pcheux, no causa nem origem dos sentidos que produz ao
enunciar, pois surge como efeito do assujeitamento
linguagem que, por sua vez, no pode ser tomada
como mero instrumento de comunicao, dada sua
opacidade e no transparncia. Estabelecendo um
possvel dilogo entre as perspectivas que embasameste estudo, tanto para a AD como na Psicanlise, o
dizer no transparente ao enunciador, pois o sen-
tido lhe escapa, irrepresentvel, em sua determina-
o pelo inconsciente e pelo interdiscurso.
Essa duplicidade, que faz referir um discur-
so a um discurso outro para que ele faa
sentido, na psicanlise, envolve a questo
do inconsciente. Na anlise de discurso,
essa duplicidade, esse equvoco, trabalha-
do como a questo ideolgica fundamen-
tal, pensando a relao material do discurso
lngua e a da ideologia ao inconsciente
(ORLANDI, 1996, p. 81-82).
A noo de equvoco ou de equivocidade que
suporta o duplo, o heterogneo ou, ainda, tudo
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aquilo que ultrapassa a vontade do sujeito enun-
ciador, tambm se faz presente na psicanlise. Emambas as perspectivas tericas, a verdade no se
apresenta na aparente unidade discursiva, mas se d
a escutar atravs de formaes do inconsciente ou
da equivocidade que prpria da linguagem. Nas
palavras de Lacan (1986, p. 302), nossas palavras
que tropeam so as palavras que confessam. Elasrevelam uma verdade de detrs.
Com base nas consideraes arroladas pos-
svel afirmar que, estruturalmente, todo e qualquer
dizer tomado pelo equvoco ou pela possibilida-
de de deriva de sentidos, uma vez que o sujeito de
linguagem duplamente marcado: pela ideologia e
pelo inconsciente. Ao encontro de tais afirmaes,
Mariani (2006, p. 8) postula que o equvoco se ins-
taura nos sentidos produzidos por um determinado
acontecimento discursivo, revelia do sujeito enun-
ciador, e faz falhar a vontade de unidade e trans-
parncia da comunicao, pois incorpora o real emsuas anlises do simblico e do imaginrio. So
justamente esses pontos de equvoco ou de deslize
de sentidos que se do a escutar na materialidade
posta, que buscamos resgatar e problematizar na
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anlise dos acontecimentos discursivos, de modo a
melhor compreender como a prtica inclusiva signi-fica no contexto escolar.
3 PROCEDIMENTOSMETODOLGICOS
Como j mencionado anteriormente, lana-
mos um olhar discursivo ao corpus, para entend-
-lo no como contedo ou testemunho de verda-
de, mas para desvelar, nos enunciados analisados,
a formao discursiva em que o sujeito de lingua-
gem se inscreve, para que suas palavras tenham
sentido (ORLANDI, 1996). Em suma, a abordagem
discursiva ancora a anlise dos registros na ma-
terialidade lingustica, desnudando os aspectos
scio-histrico-ideolgicos que atuam na consti-
tuio dos sentidos e que so esquecidos pelo
sujeito que enuncia.
Vale salientar, ainda, de que forma os pressu-
postos da ADF e da psicanlise dialogam entre si,
fornecendo as balizas terico-metodolgicas des-
te estudo. Para a AD, o funcionamento discursivo
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engendrado pela articulao entre a ideologia e as
condies de produo do discurso, isto , o con-texto scio-histrico de sua enunciao e o lugar
discursivo ocupado pelo falante. Na teoria psica-
naltica, por sua vez, a determinao dos sujeitos e
dos sentidos inconsciente e atemporal e s se faz
acessvel por meio da linguagem que comporta fa-
lhas ou buracos. Feitas essas colocaes, postula--se uma relao da ideologia com o inconsciente,
por meio da linguagem, ou seja, a ideologia, assim
como o inconsciente, embora oculta ao sujeito
enunciador, se mostra no funcionamento do discur-
so: da estrutura ao acontecimento. Pcheux (1997)
reflete sobre a materialidade da linguagem como
regio de equvoco em que se ligam materialmente
o inconsciente e a ideologia. Dito de outro modo,
o sujeito da estrutura afetado pela determinao
inconsciente que faz com que as redes de memria
e as formaes ideolgicas, s quais o discurso e o
sujeito se filiam para produzir sentidos, escapem ao
saber consciente do eu. Observa-se, portanto, que ofuncionamento da ideologia no constitui um saber
consciente, embora seja condio de existncia do
sujeito e do discurso, uma vez que governa e atribui
sentidos ao fazer-dizer.
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Nas anlises que se seguem, foram destacadas
algumas regularidades que constituem equvocosde ordem ideolgica e que, em funo dos senti-
dos que produzem, para alm do saber consciente
do enunciador, apontam para a posio discursiva
e ideolgica do sujeito de linguagem em relao
proposta de educao inclusiva.
Convm retomar que os excertos analisados
foram coletados durante um congresso nacional,
sediado em uma instituio particular de ensino su-
perior do Estado de So Paulo, cuja proposta era dis-
cutir questes acerca da incluso e da diversidade.
Durante a realizao de algumas palestras e semi-
nrios, agentes educacionais que exercem funes
distintas no contexto escolar como: professores, re-
presentantes do MEC, diretores, pedagogos, entre
outros, formularam algumas consideraes sobre o
referido tema. Algumas dessas formulaes foram
transcritas e, posteriormente, selecionadas para este
estudo, a fim de elucidarmos alguns questionamen-tos aqui propostos. A anlise empreendida no tem
a pretenso de concordar ou discordar com o teor
do que est sendo dito, tampouco de acusar ou cul-
par os sujeitos de pesquisa pelos equvocos desta-
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cados em suas formulaes, mas sim de compre-
ender como essas formulaes produzem sentidos,ao evocarem outros domnios discursivos. Dito de
outro modo, no se trata de individualizar ou res-
ponsabilizar o sujeito de pesquisa por suas supostas
falhas ou equvocos de ordem inconsciente, mas de
compreendermos como as prticas discursivas fun-
cionam e provocam efeitos de legitimidade.
4 ANLISE DOS REGISTROS
De modo a elucidar as perguntas de pesquisa que
direcionam a anlise dos registros discursivos como
os conceitos de incluso e diferena (con)formam e
engendram o dizer-fazer de agentes educacionais?
Como educao e incluso se relacionam e afetam
prticas discursivo-pedaggicas? faz-se necessrio
rastrearmos a presena do interdiscurso que interpela
e legitima os depoimentos proferidos pelos sujeitos
pesquisados. Passemos anlise do corpus.
Por ocasio da palestra de abertura do referido
congresso, o reitor da universidade onde o evento
foi sediado proferiu:
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[RD 1]3Incluir na pauta um congresso de in-
cluso e diversidade visa a resolver melhoresta situao no Brasil. De mos dadas pre-
tendemos caminhar neste tema com a par-
ticipao efetiva da universidade. A incluso
abrangente e parece imposta. Podemos
dar uma contribuio social, ao propor o
desmonte de mecanismos de excluso.
Com base no excerto acima, observa-se que
o sujeito de linguagem, ocupando o lugar de reitor
de uma instituio de ensino superior, inicia sua fala
reiterando a necessidade de promover a incluso
com a participao efetiva da universidade. A ma-
terialidade posta pe em evidncia a funo poltica
e social que a escola e seus agentes devem exercer
e que parece se sobrepor, ou at mesmo se impor,
funo de ensinar e de transmitir saberes. Mais
especificamente, a universidade e seus represen-
tantes passaram a exercer a funo de hospedar o
diferente sem, de fato, inclu-lo de modo significa-tivo, tendo em vista que para os normais e para os
profissionais que tm seu saber cientifica e social-
mente legitimado que dado o direito e o poder de
construir saberes, julgamentos e verdades sobre os
3 RD 1, 2, 3 osmbolo adotadopara representar osrecortes discursivosanalisados.
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que so representados e marcados como anormais
e excludos. Nesse sentido, o processo de constru-o do saber sobre o excludo acaba por exclui-lo
dessa construo, pois este tomado como objeto
do olhar e do saber do outro, cujo lugar enunciativo
tem certo valor e reconhecimento social.
Ferre (2001) salienta a contradio inerente ao
saber produzido na/pela universidade, via prticas
discursivo-pedaggicas. Nas palavras da autora
(FERRE, 2001, p. 199),
O que na Universidade se produz pode ser
tudo ao contrrio: nenhuma reflexo sobre
um sujeito prprio, nenhum saber ou sabor
acerca de nossa intimidade e um acmulo
de contedos sobre o outro que o define,
o identifica e o encerra em um opaco en-
voltrio tecnicista que faz dos demais os
especiais, os descapacitados, os diferentes,
os estranhos, os diversos e de ns os ob-
viamente normais, os capacitados, os nati-
vos, os iguais; e, por isso, dois so os tipos
de identidade que a Universidade segue
produzindo ao transmitir o conhecimento
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acadmico, cientfico e tcnico que alude
diferena e diversidade na educao: aidentidade normal e a identidade anormal;
a esta segunda a que se passou a chamar de
diferente, especial ou diversa.
A repetio redundante do termo incluir, que no
recorte acima pronunciado trs vezes, sem que haja
qualquer questionamento do tipo: incluir o que, quem
e como? sugere a naturalizao de verdades discur-
sivamente construdas e que se materializam no/pelo
macrodiscurso poltico-educacional, ao representar a
proposta de educao inclusiva como um compromis-
so de todos ou, segundo o enunciador, como um meio
de dar uma contribuio social e de resolver melhor
esta situao no Brasil. Na formulao em questo,
o sujeito de linguagem deixa escapar que a incluso
uma situao problemtica que ainda no se resolveu
no Brasil, tendo em vista que o que j est resolvido
no requer melhoras, nem necessita de compreenso.
O vocbulo resolver, empregado na formulao in-
cluir na pauta um congresso de incluso e diversida-
de visa a resolver melhor esta situao no Brasil, nos
remete a um problema a ser endereado, no caso: a
incluso que parece imposta, segundo o enunciador.
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Ao formular incluir na pauta, o enunciador atri-
bui um efeito de formalidade e de certa superficia-lidade ao tema abordado no congresso: incluso e
diversidade, tendo em vista que o vocbulo pauta
costuma ser empregado para se referir aos assuntos
a serem tratados em uma reunio de trabalho e que
podem ser sanados ou pelo menos endereados at
o seu trmino. Alm disso, a incluso ou educao
inclusiva um assunto que est em pauta ou na or-
dem do dia, em especial, no contexto escolar, em
funo das ltimas diretrizes da poltica nacional da
educao.
O uso da primeira pessoa do plural, no trecho:
de mos dadas pretendemos caminhar neste tema;
podemos dar uma contribuio social, provoca um
efeito de convocao e de participao de todos
os agentes educacionais, de modo a viabilizar a in-
cluso que ainda parece no ter sido alcanada, j
que se trata, ainda, de um tema a ser discutido em
um congresso da rea. Esse efeito de convocao produzido pelo discurso progressista e da unio so-
cial que versa sobre a unio de todos (unidos ven-
ceremos!) como forma de se atingir o progresso e
a ordem.
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Embora o enunciador proponha o desmon-
te de mecanismos de excluso, deixando entrevercerta noo dos mecanismos de poder engendra-
dos pela ideologia vigente, o enunciador parece no
se dar conta de que a viabilizao da incluso no
contexto escolar no depende nica e exclusiva-
mente da boa vontade dos agentes educacionais
ou de seu poder transformador, uma vez que os tais
mecanismos de excluso, bem como o modelo de
escola excludente que ainda predominante em
nosso meio, foram legitimados ao longo de uma
longa trajetria poltico-econmica que, por meio
de prticas discursivas e de jogos de poder-saber,
segundo uma viso foucaultiana, foram construindo
verdades sobre os excludos e sobre a necessida-
de de inclu-los. Nos ltimos anos, a insignificncia
e a (in)fmia4daqueles que foram discursivamente
marcados como excludos parece ganhar relevn-
cia poltico-social, se tornando alvo das instituies
normalizadoras que atuam como aparelho ideol-
gico do estado, segundo Althusser (1992), uma vezque a excluso e os excludos passaram a represen-
tar certa ameaa acomodao social e ao exerc-
cio da cidadania.
4 Segundo Foucault(1992, p. 90), os(in)fames noso apenas ospersonagens denossa histriaque cometem
algum ato vil, mas,sobretudo, aquelescuja existnciafoi ao mesmotempo obscura edesafortunada.
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Ainda em relao ao excerto anterior [RD1], ape-
sar de tentar modalizar o seu dizer sobre a propostada incluso, ao formular a incluso abrangente e
parece imposta, o equvoco que produz sentidos
indesejados marca a posio ideolgica do sujeito
em relao ao tema abordado. O carter impositivo
da educao inclusiva se materializa nessa formula-
o, apontado para o fato de que a incluso bas-
tante complexa e no um procedimento natural,
pois, se assim o fosse, no precisaria ser apresen-
tada na forma de lei ou de proposta pedaggica a
ser seguida e nem seria tomada, pelos educadores,
como uma imposio. Nesse prisma, significativo
ressaltar que a natureza humana mais seletiva do
que inclusiva, uma vez que, segundo Skliar (2006),
a diferena tende a ser vista negativamente, pois
aponta para o intolervel ou para fora da normali-
dade. Em outras palavras, mais fcil e natural ex-
cluir do que tentar incluir. Ao encontro dessas ideias,
Ferre (2001, p. 197) enfatiza que o mundo dos ditos
normais um mundo onde a presena de seresdiferentes aos demais, diferentes a esses demais ca-
racterizados pelo espelhismo da normalidade, vi-
vida como uma grande perturbao.
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A meno ao carter impositivo da educao
que prega a incluso de todos, preferencialmenteem turmas de escolas regulares, a despeito da dife-
rena e, por vezes, da deficincia fsica marcada no
corpo, tambm foi observada no excerto a seguir,
formulado por uma diretora de uma escola pblica
de ensino fundamental:
[RD 2] A incluso um susto, um espanto.
Ela chegou de repente e a gente tem que
saber o que fazer. Na verdade, ela est entre
ns desde 71, com a lei 5.692/71.
No recorte em questo, o enunciador deixa es-
capar seu espanto diante da proposta da incluso,
apesar de enunciar a partir do lugar de dirigente de
uma instituio escolar que, em conformidade com
as leis vigentes, deveria garantir a poltica de educa-
o inclusiva. Ao se dar conta do equvoco de ordem
ideolgica que seu dizer produziu, o enunciador faz
aluso lei que garante a aplicao de prticas in-clusivas, por mais espantosas ou assustadoras que
possam parecer. Assim sendo, apesar de toda in-
segurana vivenciada pelos agentes educacionais
diante do estranho e do diferente que, na maioria
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das vezes, vira sinnimo de deficiente, a necessida-
de de tudo saber e de fornecer respostas acertadaspara situaes inesperadas constitui a identidade do
sujeito educador, alm de governar seu fazer peda-
ggico, tal como sugere a formulao: a gente tem
que saber o que fazer.
A formulao posta acima parece dialogar com
o prximo excerto, formulado por uma pedagoga
que, no evento em questo, representava o MEC e
suas propostas:
[RD 3] A dona incluso no est s batendo
na porta, ela est dentro da sala de aula. A
postura do MEC essa: todos na sala de aula
e a a gente vai caprichando na qualidade.
A formulao a postura do MEC essa: todos
na sala de aula e a a gente vai caprichando na qua-
lidade reflete as polticas pblicas brasileiras que
se caracterizam pelo improviso e despreparo dosprofissionais envolvidos em sua implementao, no
caso: dos agentes educacionais que, mesmo sem a
formao necessria para trabalhar com os alunos
ditos especiais, devem acolh-los no espao de sala
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de aula, ainda que isso implique na m qualidade da
educao oferecida. Como j sugerido por Coraci-ni (2007, p. 107), o fato de partilhar do mesmo es-
pao fsico no significa por si s e por fora da
lei, ausncia de discriminao, in-cluso, in-sero
social. A autora (CORACINI, 2007, p. 109) conclui
que a vontade de igualar, de homogeneizar na me-
lhor das intenes [...] que cava um abismo ainda
maior entre uns e outros, ou seja, entre os alunos
ditos normais e os representados como excludos
ou especiais. Assim sendo, a prpria escola que se
diz inclusiva acaba construindo muros que marcam
e segregam a diferena, excluindo ainda mais.
Partindo da premissa de que todos so iguais
ou, ainda, de que a igualdade um ideal a ser al-
canado, a educao inclusiva silencia as diferen-
as que poderiam provocar transformaes produ-
tivas e significativas no contexto escolar. Em nome
de uma prtica pedaggica mais justa e igualitria,
igualam-se, tambm, os sujeitos, suas demandas edesejos, confinando-os a um mesmo espao e pr-
tica discursivo-pedaggica, em que o aluno s pa-
rece ser considerado ou endereado como objeto
do saber do outro (professor, coordenador, peda-
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gogo etc.) que, por sua vez, deve sempre saber o
que fazer diante do inesperado. Essa noo de quetodos so iguais ou de que devem ser iguais ganha
sentidos a partir da ideologia religiosa e jurdica, se-
gundo as quais os homens so iguais perante Deus
e perante a Lei. Nesse prisma, a aplicabilidade da lei,
neste caso, das premissas da educao inclusiva, as-
segura os direitos de todos, ganhando estatuto de
compromisso moral e social.
No recorte anterior (RD 3), diversos efeitos de
sentidos so produzidos, a partir da personificao
da incluso, na seguinte formulao: a dona in-
cluso no est s batendo na porta, ela est dentro
da sala de aula. O sujeito de linguagem sugere quea incluso j est sendo contemplada pelo simples
fato de permitir que o aluno diferente permanea no
mesmo espao dos alunos tidos como normais.
Em outras palavras, a incluso se personifica na fi-
gura do aluno diferente, muitas vezes confundido
e entendido como deficiente, e parece perder oseu carter de proposta transformadora que deve-
ria incidir, de forma significativa, na prtica pedag-
gica. Evocando a questo da hospitalidade, tratada
por Derrida (2003), para adentrar a temtica levan-
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tada neste estudo, possvel afirmar que aos agentes
educacionais, em especial ao professor, dada a di-fcil tarefa de hospedar e ser hospitaleiro, isto , no
hostil, com esse estranho que foi inserido mas no
totalmente includo no espao de sala de aula da
escola regular, na iluso de ser possvel se atingir e
viabilizar uma hospitalidade universal: sem reservas,
sem limites, sem fronteiras (CORACINI, 2007, p. 110).
Propondo um alinhavo entre a leitura de Lacan
(1992), a temtica aqui abordada e a materialidade
destacada anteriormente, observa-se que a inclu-
so do diferente metaforizada como uma visita
inesperada ou como um hspede desconhecido que
bate porta em momento inoportuno, adentrandoe ameaando a estabilidade de um mundo j norma-
lizado, com fronteiras bem demarcadas. Nas palavras
de Lacan (1992, p. 87), esse hspede o que j pas-
sou para o hostil [hostile] [...]. No sentido corriqueiro,
esse hspede no heimlich, no o habitante da
casa, o hostil lisonjeado, apaziguado, aceito.
justamente essa posio de hostil aceito e li-
sonjeado que assumida pelo aluno diferente e/
ou deficiente, na escola regular, tendo em vista que
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tal aceitao est prevista em lei, alm de tornar os
agentes educacionais mais tolerantes e generosos,em conformidade com a ideologia em funciona-
mento no discurso religioso e que tambm atribui
efeitos de sentido para as prticas inclusivas. Em um
estudo anterior (CAVALLARI, 2011) enfatizei, com
base no princpio responsabilidade proposto por
Forbes (2010), que a criao de sadas singulares e
criativas para cada situao de incluso que no
passe pela compaixo, mas que parta do universal
para o particular de cada caso, tratando diferente-
mente as diferenas, ao invs de tentar igual-las
que poder propiciar uma incluso menos nor-
malizante e mais significativa.
O ltimo excerto abordado foi formulado por
uma professora de ensino fundamental e mdio da
rede pblica, que trabalha com alunos especiais em
turmas regulares. O equvoco que possibilita a deri-
va de sentidos indesejados tambm se fez presente
na materialidade posta. Vejamos:
[RD 4] Temos que resgatar um erro. Trata-
mos as pessoas diferente porque elas so
diferente de ns. Ns que exclumos as
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pessoas. Temos que deixar de fixar a ima-
gem nos esteretipos.
O esquecimento nmero dois5, da ordem da
enunciao, segundo Pcheux (1988), provoca di-
ferentes efeitos de sentido na referida formulao.
Em outras palavras, ao empregar o verbo resgatar,
ao invs de corrigir, o sujeito de linguagem nos
permite entrever sua posio discursiva, portanto,
ideolgica, segundo a qual o aluno diferente ou de-
ficiente visto como um erro que deve ser resgata-
do ou corrigido por ns, os normais, que temos o
poder de construir um saber sobre o outro.
Nos depoimentos dos agentes educacionais,de modo geral, as noes de diferente e de de-
ficiente se confundem, justificando a necessidade
da aplicao de prticas pedaggicas igualitrias e
simplificadoras das diferenas. Lembrando que a in-
cluso se faz necessria para alm das deficincias,
podemos afirmar que um equvoco de ordem ide-olgica est em funcionamento nos depoimentos
abordados, bem como na proposta de EI, conforme
ratifica Vizim (2003, p. 52), na citao a seguir:
5
O esquecimentonmero dois,segundo Orlandi(1999, p. 35) fazo enunciadoracreditar que huma relao diretaentre pensamento,a linguagem e omundo, de modoque pensamos queo que dizemos spode ser dito comaquelas palavras eno outras.
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O tema educao inclusiva, apontado na
dcada de 1990, ficou restrito, por vezes,
educao de pessoas com deficincias.
Cabe ressaltar que esta uma situao la-
mentvel diante da complexidade de se
criar uma poltica pblica de educao para
todos. No se trata nica e exclusivamente
do segmento das pessoas com deficincia,
no sentido de inclu-los nas escolas regu-
lares, deve-se incluir tambm toda criana,
jovem e adulto que vive a condio de anal-
fabeto ou de analfabeto funcional, de dife-
rena tnica, cultural, religiosa, de condio
social, enfim, de marginalizao diante da
hegemonia social.
Em um trecho do recorte anterior: tratamos as
pessoas diferente porque elas so diferente de ns
[sic.], nota-se uma fala pouco significativa, circular
e esvaziada de sentidos, uma vez que apenas evoca
representaes e discursos j naturalizados em nos-so contexto scio-histrico. Esse esvaziamento de
sentidos tambm foi abordado por Coracini (2007),
partindo da anlise de depoimentos de professores.
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Nas palavras da autora (CORACINI, 2007, p. 101-
102), o que se percebe uma repetio redundante
de termos que parecem esvaziados de sentidos ou
to plenos de sentido naturalizados pela ideologia
dominante que no precisam de explicitao [...].
Nesse prisma, podemos afirmar que a naturalizao
desastrosa e infrtil, j que no promove transfor-
maes e/ou deslocamentos, pois acaba por sim-
plificar e igualar as diferenas. Em larga medida, o
equvoco de ordem ideolgica que irrompe nos de-
poimentos acerca da EI, nos permite entrever que
o foco das prticas inclusivas est no apagamento
da diferena e na deficincia e no no acolhimento
da diversidade como algo que pode ser produtivo
no processo de ensino-aprendizagem, uma vez querequereria a (trans)formao no s do aluno dito
especial, mas de todos os envolvidos no processo
em questo.
Ainda em relao ao excerto anterior, nota-se
que o sujeito de linguagem convoca os agenteseducacionais para o seu dizer, quando emprega a
primeira pessoa do plural (ns, temos que), atribuin-
do a eles e a si mesmo a culpa pela excluso prati-
cada no contexto escolar ns que exclumos as
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pessoas. Na formulao destacada, engendra-se a
individualizao e responsabilizao do sujeito por
seus atos e escolhas. Dito de outro modo, o enun-
ciador no se v afetado por outros discursos que
circulam em nosso meio e que produzem verda-
des ou efeito(s) de evidncia discursiva, mas como
o nico agente capaz de fazer escolhas acertadas
que possibilitem a incluso. Segundo Kehl (2001,
p. 59), dentro da modalidade subjetiva contempo-
rnea, o sujeito no se d conta de suas filiaes
simblicas e passa a se considerar como um indiv-
duo isolado. Da advm sentimentos diversos como
culpa e angstia diante do insucesso da EI e da apa-
rente inviabilidade de suas propostas.
5 CONSIDERAES FINAIS
Embora, primeira vista, tudo se baseie na di-
versidade, no que tange Educao Inclusiva (EI) e/
ou Especial e suas propostas, os recortes analisadosreforam a hiptese inicialmente levantada neste
estudo de que a EI silencia a(s) diferena(s) e o dife-
rente, j que incluir produz o efeito de sentido de
normalizar ou de tornar o outro meu semelhante.
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Em outras palavras, o modo como a diversidade
significada no macrodiscurso poltico-educacional
da incluso acaba por promover a diluio, apaga-
mento e at mesmo o silenciamento da diferena
e daquilo que o sujeito dito excludo apresenta de
mais singular e distintivo.
Em todas as formulaes analisadas o enfoque
est na incluso enquanto proposta e no no su-
jeito a ser includo ou nas especificidades de sua(s)
diferena(s). Em suma, o sujeito dito especial parece
ficar fora ou excludo da discusso sobre como in-
clu-lo e, portanto, se objetifica, ao ocupar, ainda que
revelia, a posio de objeto do olhar, das aes, do
fazer e do suposto poder-saber do outro. Tal comosugere Balocco (2006, p. 83), s h referncia ao su-
jeito, enquanto objeto de representaes discursi-
vas, ou construes identitrias, lembrando que os
discursos produzem sujeitos que no so nem esto
na origem de sua enunciao. Trazendo as conside-
raes arroladas para este estudo, podemos con-cluir que o sujeito da EI aparece como assujeitado
ou como efeito do assujeitamento ao macrodiscurso
poltico-educacional da incluso e s verdades que
esse discurso parece evocar e disseminar.
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Como j destacado anteriormente, as prticas
e poltica inclusivas significam ao evocarem pares
dicotmicos e imaginariamente excludentes como:
diferena x igualdade; excluso x incluso. So essas
noes extremamente simplificadoras e homoge-
neizantes, geralmente pensadas em oposio, que
incidem na constituio identitria do sujeito mar-
cado e representado como excludo, uma vez que
passam a constituir as imagens nas quais esse sujeito
se reconhece e se identifica. Segundo Souza (1995),
as prticas discursivo-pedaggicas, de modo geral,
e os conceitos que as fundamentam so tratados de
forma unvoca: sem equvocos, falhas ou enganos.
As prticas discursivo-pedaggicas, desencadeadas
pelo macrodiscurso poltico-educacional da inclu-so e tambm concebidas de forma unvoca, se pau-
tam na busca de igualdade e tendem a criar identida-
des narcsicas, isto , idnticas s daqueles que so
tidos como normais e que tm o poder de construir
um saber sobre o outro dito excludo ou especial.
A materialidade posta nos recortes analisados
tambm possibilitou a problematizao do modo
como o macrodiscurso poltico-educacional da in-
cluso e as prticas ditas inclusivas concebem a
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diferena e a singularidade que so constitutivas da
identidade de todo e qualquer sujeito de linguagem
e no apenas daqueles que tm a diferena marca-
da no corpo. Skliar (2006, p. 29) refora que aca-
bamos reduzindo toda alteridade a uma alteridade
prxima, a alguma coisa que tem de ser obrigato-
riamente parecida a ns ou ao menos previsvel,
pensvel, assimilvel. Em consonncia com as afir-
maes anteriores salientei (CAVALLARI, 2008, p. 5)
que a resistncia em acolher as diferenas se atrela
ao fato de que tudo o que nos parece estranho ou
no familiar expe o no saber ou o no contro-
le, desestabilizando o lugar de suposto-saber que
constitutivo da identidade de agentes educacionais,
sobretudo de professores. Essa reduo do estra-nho em familiar, do diferente em normal, entretanto,
inviabiliza uma prtica inclusiva que, de fato, con-
temple a singularidade do sujeito-aluno e a diversi-
dade inevitavelmente presente em todo e qualquer
contexto escolar.
Outro equvoco de ordem ideolgica, bastante
recorrente nos excertos abordados, deriva da con-
fluncia de sentidos entre diferente e deficiente,
que parece resultar da igualao ou da fuso esta-
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belecida entre educao regular e educao espe-
cial, de acordo com a poltica de educao especial.
No entanto, significativo problematizarmos de
que modo educao e incluso de fato se rela-
cionam e afetam as prticas discursivo-pedaggicas
na contemporaneidade. A anlise dos depoimentos
nos sugere que educao e incluso s se implicam
mutuamente no macrodiscurso poltico-educacio-
nal da incluso, mas no nas prticas discursivo-
-pedaggicas em que parece haver uma hincia ou
uma lacuna imaginariamente intransponvel entre
a educao tradicionalmente concebida e ainda
praticada e as premissas da EI. Resta-nos questio-
nar, portanto, como tocar ou afetar esse sujeito que
ocupa a posio de agente educacional para almdo imaginrio ou do politicamente correto acerca
da incluso? Um primeiro passo seria promover uma
reflexo sobre como as polticas pblicas de inclu-
so so construdas e significadas.
Recorrendo aos personagens (in)fames da his-tria e salientando a importncia de resistir e con-
frontar o poder hegemnico, Foucault (1992, p.
98) enfatiza a necessidade de transpor os limites,
de passar para o outro lado, escutar e fazer ouvir a
linguagem que vem de fora ou de baixo [...]. Estas
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vidas, por que no ir escut-las l onde falam por si
prprias? Trazendo essas indagaes para as pr-
ticas inclusivas, conclui-se que os mecanismos de
poder-saber, muitas vezes engendrados e sustenta-
dos pelo discurso universitrio que, segundo Lacan
(1992), formaliza e legitima o modo de se organi-
zar as relaes interpessoias, devem ser descons-
trudos ou, pelo menos, desnaturalizados, a fim de
promover uma incluso que acolha as diferenas e
as especificidades de todo e qualquer sujeito de lin-
guagem e no apenas daqueles ditos ou represen-
tados como anormais. Ao encontro de tais consi-
deraes, Skliar (2003) prope uma pedagogia do
acontecimento que acolha o estranho, o diferente
e o inesperado sem tem-los ou silenci-lo.
Em ltima instncia, sugerimos que as noes
de incluso e diferena, j sedimentadas no macro-
discurso poltico-educacional da incluso, sejam
(re)pensadas e (re)significadas no interior de nos-
sas experincias educacionais, para que provoquemtransformaes e desloquem o saber instituciona-
lizado e historicamente determinado sobre o outro
dito e marcado como especial. Vale destacar que
se h algo de natural na incluso sua desarmonia.
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Desse modo, para que as prticas inclusivas sejam
tomadas de forma menos romantizada ou menos
afetada pelo imaginrio de compaixo e igualdade,
precisamos nos lembrar de que o semelhante e o
dessemelhante, a ordem e o conflitual se implicam
mutuamente na desarmonia natural da EI e da Edu-
cao que se pretende para Todos e que, graas a
sua natureza universalizante, no de ningum, pois
no leva em conta a singularidade que diferencia os
sujeitos de linguagem.
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* Jornalista/professora do Programa de Ps-Graduao em Cincias da Linguagem daUniversidade do Vale do Sapuca (UNIVS). Doutora em LetrasEstudos Lingusticos naUniversidade Federal de Santa Maria (UFSM).
CACIANESOUZADEMEDEIROS*
Sem o antagonismo entre includos e excludos,poderemos nos encontrar em um
mundo em que Bill Gates o principal humanista,lutando contra a pobreza e as
doenas, e Rupert Murdoch o maior ambientalista,mobilizando milhes de pessoas
por meio de seu imprio da mdia.SLAVOJZIZEK
O DISCURSO DAINCLUSO PELADIFERENA NARELAO MDIA ESOCIEDADE
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1 INTRODUO
A sociedade e seus modos de organizao, fun-
cionamento, movimento de sentidos, sujeitos e suas
prticas um lugar de interesse em meu percurso
de estudo da relao mdia e sociedade. Dentro do
espao social constitudo por seus antagonismos,
regularidades, falhas e prticas sociais de (re)produ-
o de sentidos destaco a mdia em uma posioinstituda (legitimada) onde questes sociais, que
mobilizam sentidos na histria, so retomados para
significar de outro jeito o que j est l, o que j faz
sentido (ORLANDI, 1999).
O objetivo deste trabalho discutir e dar visibi-lidade aos sentidos que constituem o conceito de
incluso postos em circulao na/pela mdia, a partir
de uma leitura discursiva de campanhas produzidas
no Brasil sobre a questo da incluso social. Para isto
me detenho em observar as condies de produo
onde habitam os sentidos em torno do conceito deincluso que so (re)produzidos na mdia para pro-
blematizar a ancoragem ideolgica que marca este
discurso em nossa sociedade e que est edificado
em um modo de estruturar o social sustentado em
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uma formao ideolgica neoliberal de ver, de fazer,
de significar o mundo e os sujeitos.
Parto do princpio de leitura de que a questo da
incluso em seu espao de significao social tem,
inevitavelmente, uma histria, um movimento de
sentidos que vm sendo mobilizados e que busco
problematizar neste captulo como possibilidade de
compreender, guisa dos preceitos tericos de Fou-cault (2002, 2007, 2008), no tocante aos conceitos
de sociedade, poder e de neoliberalismo; e da teoria
discursiva de Pcheux (1990, 1993, 1998, 2009, ) e
Orlandi (1993, 1999, 2001) a que me filio, a costura
ideolgica e as condies de produo que consti-
tuem o conceito de incluso e seus modos de signi-ficar deflagrados na/pela mdia. Tracei um caminho
de leitura discursiva que prope, a partir da anlise
terica que mobilizo, uma retomada do conceito de
incluso e suas formas de significao na sociedade.
2 UMA INCLUSO PARTIDA
Um dos temas mais publicizados na mdia da
atualidade , de fato, o da incluso social e neste
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entorno de significao os sujeitos marcados pela
diferena passam a figurar em posio destaca-
da no projeto social que apregoa uma incluso de
superfcie discursiva horizontalizada, sem deslizes,
sem conflitos e arranjada em um imaginrio de boa
vontade coletiva que ressoa um modo de discur-
sivizar a incluso de sujeitos identificados pela di-
ferena determinado por uma formao ideolgica
neoliberal1 que retoma sentidos individualizantesque j esto naturalizados.
A posio terica que me orienta nesta leitura e
anlise determinante para que se compreenda que
o discurso existe no social e na relao dos sujei-
tos com a linguagem que os subjetiva. Parto da pre-missa terica elaborada por Michel Pcheux (2009),
que define o discurso como sendo constitudo e
constitutivo do social e dado materializao na lin-
guagem. Esse conceito tem sido largamente citado
e retomado no mbito dos estudos discursivos o
amparo vital para um estudo que entende a neces-sidade de compreenso da linguagem para alm de
sua materialidade pragmtica ou mesmo conteuds-
tica de leitura e interpretao.
1 A questo do
neoliberalismo e suarelao discursivacom a questoda incluso nasociedade serexplicitada nasequncia da seo.
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Minha proposta de reflexo est, assim, com-
prometida com uma leitura da sociedade atual em
seus modos, discursos e prticas, que s se justifi-
cam e se legitimam no bojo terico que entende o
discurso como efeito de sentidos entre interlocu-
tores (PCHEUX, 1993, p. 170). Esta noo de dis-
curso representa, em sua materialidade simblica, o
encontro entre linguagem, histria e ideologia. Em
um mesmo movimento, o discurso materializa-seem mecanismo constitutivo de sujeito e de sentido,
iluses e esquecimentos (ORLANDI, 1999), e este
processo ganha corpo em diferentes formas, ou
seja, na materialidade discursiva que se (re)produz
na mdia. De acordo com o que Pcheux (1998, p.
58) assevera, ao localizar a Anlise de Discurso (AD)como dispositivo de leitura, h um caminho de es-
tudo determinado
[...] pelo campo dos espaos discursivos
no estabilizados logicamente, dependen-
do dos domnios filosfico, scio-histrico,poltico ou esttico, e tambm, portanto,
dos mltiplos registros do cotidiano no es-
tabilizado (cf. a problemtica dos -universos
de crena, a dos - mundos possveis, etc.).
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Nesta perspectiva, a linguagem entendida
como ao, transformao, como um trabalho sim-
blico em que tomar a palavra um ato social com
todas as suas implicaes, conflitos, reconhecimen-
tos, relaes de poder, constituio de identidade
etc. (ORLANDI, 1993, p. 17).
Seguindo no percurso discursivo de produo
de sentido proposto por Pcheux, saliento que o su-jeito atravessado tanto pela ideologia quanto pelo
inconsciente, o que produz no mais um sujeito
uno, mas um sujeito cindido, clivado, descentrado,
(re)partido, no se constituindo na fonte e origem
dos processos discursivos que enuncia, uma vez
que estes so determinados pela formao discur-siva na qual o sujeito est inscrito e que determina
o que pode e o que no pode ser dito (PCHEUX,
2009). Mais que isso, a formao discursiva na qual
o sujeito est identificado regida por uma rede de
memria j instituda e acionada (posta em funcio-
namento) no momento da formulao do dizer. Oconceito de memria postulado por Pcheux (2009)
, doravante, uma memria do discurso, ou seja,
uma memria interdiscursiva, onde habita um con-
junto de j-ditos que sustenta todo dizer. De acordo
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com este conceito, os sujeitos esto filiados a um
saber discursivo que no se aprende, mas que pro-
duz seus efeitos atravs da ideologia e do incons-
ciente. O interdiscurso est articulado ao complexo
de formaes ideolgicas: algo j foi dito antes, em
outro lugar, independentemente. Essa relao se d
em continuidade histrica de produo discursiva.
O interdiscurso , pois,
[...] definido como aquilo que fala antes, em
outro lugar, independentemente. Ou seja, o
que chamamos de memria discursiva: o sa-
ber discursivo que torna possvel todo dizer e
que retoma, sob a forma do pr-construdo,
o j-dito que est na base do dizvel, susten-tando cada tomada de palavra. O interdiscur-
so disponibiliza dizeres que afetam o modo
como o sujeito significa em uma situao
discursiva dada (ORLANDI, 1999, p. 31).
A determinao discursiva do sujeito em socie-dade um importante alce para minha observao
acerca dos objetos de mdia e os sentidos da inclu-
so que funcionam nesta discursividade, pois sina-
liza traos da implicao ideolgica do discurso na
i i bli d b i d d E
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aparncia simblica da obviedade. Essas questes
apontam para o fato de que, na constituio do su-
jeito do discurso, intervm dois aspectos que no
podem ser deixados de lado: primeiro, o sujeito
social, interpelado pela ideologia, mas se acredita
livre, individual; e, segundo, o sujeito dotado de
inconsciente, contudo acredita estar o tempo todo
consciente ou, pelo menos, dotado de uma cons-
cincia social comum entre seus pares e dotada deinteno. Afetado por esses aspectos e assim cons-
titudo, o sujeito (re)produz o seu discurso.
Na mdia, o processo de formulao e circula-
o discursivo est localizado em um lugar de (re)
produo permanente. Em sua prtica de produ-o, a mdia tem, portanto, um lugar de seleo e de
permanncia desse acervo de saberes sobre, bem
como um lugar de circulao de sentidos, a partir
das escolhas do que dito (e mostrado) e do que
silenciado ou deixado de lado; de quem partici-
pa efetivamente na definio desses saberes e de
quem no est presente. De acordo com o que Or-
landi (1999) teoriza, h um duplo jogo de memria
quando a observamos em uma relao discursiva.
Nas palavras da autora,
[ ] b di f i
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[...] saber como os discursos funcionam
colocar-se na encruzilhada de um duplo
jogo da memria: o da memria institucional
que estabiliza, cristaliza, e, ao mesmo tempo,
o da memria constituda pelo esquecimen-
to, que o que torna possvel a diferena, a
ruptura, o outro (ORLANDI, 1999, p. 10).
A compreenso de como os lugares sociais e aideologia so estabelecidas nas relaes simblicas
entre os sujeitos uma contribuio mpar, espe-
cialmente no tocante questo em uma anlise dis-
cursiva: a ideologia se materializa em discurso, que,
por sua vez, d-se na materialidade textual. Sujeito e
sentido constituem-se simultnea e historicamentenas relaes de fora e conflitos ideolgicos.
Retomar o carter histrico do discurso e do
sujeito, percebendo aquele como lugar de consti-
tuio deste, permitir a compreenso das lutas so-
ciais, visto que as composies biopsicolgicas so
politicamente conformistas. permitir, por exem-
plo, o entendimento do fato de que as assimetrias
sociais e de poder so delineadoras das identidades
subjetivas: questes de lugar, raa, nacionalidade,
religio incluso/excluso ganham materialidade
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religio... incluso/excluso, ganham materialidade
a partir da heterogeneidade prpria s formaes
discursivas e das posies-sujeito no acontecimen-to discursivo. Sem a intermediao do discurso, visto
em sua heterogeneidade, no possvel compreen-
der a constituio do ser-sujeito em sua pluralidade,
como materializao na/pela histria.
As ideologias s fazem sentido para o sujeito nasua relao de constituio com a sociedade, ca-
bendo a este compreend-las e observar as pos-
sveis posies que se coadunam em determinado
contexto histrico. Assim sendo, entendo que a
mdia atua no social a partir de uma formao ide-
olgica e histrica determinada que delineia a (re)produo de sentidos mobilizada em suas prticas.
O discurso , desse modo, efeito de sentido tam-
bm do lugar da mdia no social e das relaes de
poder a imbricadas que repercutem nas instituies
sociais (como na escola, por exemplo) que regulam
a prtica dos sujeitos em seu meio. Observar em que
sociedade (com)vivemos ponto de partida e che-
gada na compreenso discursiva dos sentidos. E
sobre a sociedade e as condies de produo que
encaminho a discusso sobre a incluso.
3 AS CONDIES DE PRODUO
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3 AS CONDIES DE PRODUODA INCLUSO
A promoo e divulgao de sentidos materiali-
zados como campanhas, propagandas e outras ma-
terialidades dadas discursividade midiatizada tem
ocupado um espao amplo em nossa sociedade
marcada pela profuso de imagens. No caso espec-
fico das materialidades discursivas deflagradas pelamdia a respeito da questo da incluso, o universo
de possibilidades versadas para o consumo de-
terminado por uma conjuntura scio-histrica que
precisa ser considerada em sua base constitutiva:
as condies de produo que situam os sentidos
que significaro de um modo e no de outro. Con-sideradas num sentido mais amplo, as condies de
produo incluem o contexto scio-histrico e o
aspecto ideolgico de produo discursiva. A pro-
posta de (re)definio de condies de produo
entende que exista um alinhamento anlise hist-
rica das contradies ideolgicas na materialidade
dos discursos e uma articulao terica ao concei-
to de formao discursiva que prprio da teoria
discursiva que trago para sustentar um questiona-
mento sobre a questo da incluso. A somatria dos
valores ideolgicos constitui o imaginrio que de-
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valores ideolgicos constitui o imaginrio que de
signa o lugar que os sujeitos do discurso se atribuem
mutuamente. Nas palavras de Pcheux (1990, p. 77),um discurso sempre pronunciado a partir de con-
dies de produo dadas, portanto, importa no
somente o que se diz, mas tambm o que no se diz
sobre incluso. Neste ponto, importante salientar
que no interessa aqui analisar especificamente o
papel das mdias ao constituir um palco para viabili-zar uma pretensa conscientizao sobre a incluso.
O objetivo trazer problematizao um aspecto
que vejo como sendo emblemtico no tempo pre-
sente: a relao de sentidos da incluso prtica
de engajamento social que vem sendo mobilizada
como modelo de vida em sociedade; as idas e vindasdo cenrio miditico montado para criar estas for-
mas de engajamento enfatizando a diferena como
caminho regular de uma possibilidade j instituda
de promover uma espcie de conscincia prtica
de incluso; as textualidades mobilizadas para tais
prticas e seus efeitos na produo de modelos de
conduta frente a sujeitos ditos especiais.
Para adentrar nesta leitura das condies de
produo, faz-se necessrio retomar a noo de in-
cluso que mobilizo. Por incluso, entendo mais do
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q ,
que um paradigma educacional ou social; tomo in-
cluso como um princpio de organizao da socie-dade, propulsionado pela lgica de uma formao
ideolgica neoliberal tomada por sentidos pr-cons-
trudos que se atualizam em novas formas de dizer/
mostrar e simbolizar os sujeitos. Neste sentido, trago
para o centro do debate as condies que ancoram
o movimento discursivo da incluso, com o prop-sito de compreender seu funcionamento e discutir
seus efeitos de legitimidade, entendendo que:
[...] as palavras tm um sentido porque tm
um sentido, e os sujeitos so sujeitos por-
que so sujeitos: mas, sob essa evidncia, ho absurdo de um crculo pelo qual a gente
parece subir aos ares se puxando pelos pr-
prios cabelos (PCHEUX, 2009, p. 32).
Para tanto, estou embasada na posio terico-
-discursiva de Pcheux que entende que a ideologia
constitutiva do sujeito, no h sujeito sem ideo-
logia (PCHEUX, 2009), ou seja, no ocultao ,
isso sim, produo de evidncias (ORLANDI, 2001,
p. 104) e que a sociedade essencialmente cons-
tituda por relaes de poder. Poder que se movi-
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p p q
menta no que eu prefiro chamar de sociedade da
imagem por dispositivos de visibilidade elencados eagenciados ideologicamente.
Considerar o carter da visibilidade em seu me-
canismo histrico de organizao vem ao encontro
da relao mdia e poder que constitutiva da nossa
sociedade. A mdia tem papel determinante no pro-cesso de difuso de saberes e valores na sociedade
contempornea. No caso da mdia, como lugar de
circulao de sentidos, se o controle no ocorre pela
via da vigilncia repressora da presena e da orde-
nao do olhar de sujeitos em presena, se d na
emergncia de modelos de realidade; no agencia-mento da conscincia, como promotora de gestos
de interpretao, (re)produtora de fatos de lingua-
gem, de posies-sujeito atuantes na esfera de or-
ganizao social. Retomando Foucault (2007, p. 8),
[...] se o poder fosse somente repressivo, se
no fizesse outra coisa a no ser dizer no,
voc acredita que seria obedecido? O que
faz com que o poder se mantenha e que
seja aceito simplesmente que ele no pesa
s como uma fora que diz no, mas que
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de fato ele permeia, produz coisas, induz ao
prazer, forma saber, produz discurso.
A instituio miditica (recortada em nosso tra-
balho como mdia dada divulgao de saberes e
ideias em curso na sociedade brasileira se autoriza a
mobilizar sob a gide de seu papel institudo como
servio social, lugar institudo como instrumentodemocrtico, reconhecido na esfera da liberdade de
expresso e de direito dos cidados seu lugar (po-
ltico, econmico e comercial) atravs do discurso.
Este um mote essencial para a compreenso des-
te lugar miditico, pois entre os direitos declarados
pela Constituio Federal Brasileira de 1988, em seuart. 5 (Dos Direitos e Deveres Individuais e Coleti-
vos), temos o direito comunicao, informao.
O dado constitucional de direito em si mostra que
esse lugar institucional coloca a comunicao em
uma relao gregria e social que, ao incluir as ne-
cessidades de autoexpresso e de troca de informa-
es, sustenta um lugar de poder para esta mdia.
A mdia, nesta posio de comunicao, no es-
pao social de produo discursiva, investe espe-
cialmente no que tange os aportes tecnolgicos e,
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portanto ideolgicos , na manuteno e legitima-
o de seu lugar social. Essa legitimidade no umainveno da mdia, como se ela configurasse uma
entidade independente e manipuladora, tampouco
ser abordada neste texto em uma relao simplista
de influncia, j que o discurso da mdia parte do
complexo sociopoltico do Estado democrtico que
legitimado como sistema organizador em nossasociedade; ou seja, o social que determina a pro-
duo de prticas e ideias mobilizadas nas esferas
institucionais (entre as quais temos a mdia na sua
posio informativa), e no o contrrio. No mesmo
sentido e com maior especificidade, minha posi-
o terica justifica-se pela prpria concepo delinguagem que adotamos, a saber, a da linguagem
constituda por um aspecto material, a lngua (o que
pode ser visto a olho nu) atravessada pela histria
e pela ideologia, as quais caracterizam relaes es-
senciais para compreendermos a manifestao do
sentido e de seus efeitos na leitura e nas prticas so-
ciais do sujeito.
Compreender o que se diz sobre incluso, por
exemplo, precede uma observao da mdia, ou seja,
na posio discursiva que me atenho, a mdia ob-
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servada em seu lugar singular de poder, no o poder
que vigia ou ameaa, mas o poder que regulariza averso possvel j condicionada em uma prtica
(tcnica e ideolgica) instituda, que tem lugar so-
cial definido. Com esse pensamento, dispomo-nos
a observar o leque que relaciona o discurso da m-
dia e suas relaes sociais, entendendo que o poder
no da mdia como detentora manifesta das ver-ses escolhidas ou dotada de um lugar de inteno
lgico e claro, mas exercido e regulado por foras
ideolgicas que so, antes, polticas, econmicas e
sociais que otimizam a (re)produo de alguns sen-
tidos em detrimento de outros.
Para Foucault (2007), o processo de otimizao
do poder, pela economia poltica, que implica em
estratgias que tem como efeito o mximo controle
pelo mnimo investimento de poder, seria uma ten-
dncia. Nesta lgica, produzir condutas que relacio-
nam o sujeito com os demais por meio de proce-
dimentos que visam gerir a populao aliadas a
prticas que o sujeito empreende com ele mesmo
pela tica, por exemplo alm da amenizao do
risco, permite a autogesto da sociedade. Mas, para
que essa lgica seja eficiente, algumas tticas e tc-
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nicas precisam ser inventadas/acionadas.
Trazendo a teorizao disciplinar dos sculos
XVIII e XIX para a atualidade, entendemos que nes-
se regime que a incluso, como elemento de parti-
cipao e acesso de todos, toma corpo. No basta
ser parte da sociedade, preciso participar. Mais do
que isso, preciso querer participar de certos espa-os e aes e incentivar que todos participem. As
formas de publicizar este ideal relacionam modos
de subjetivao j institudos e as ressonncias in-
terdiscursivas dessa relao numa sociedade que se
pretende inclusiva dentro de um projeto ideolgico
legitimado em prticas de engajamento regulares.
Para dar visibilidade ao entorno terico que venho
propondo at aqui, recortei materialidades miditicas2
que me chamaram a ateno para o modo como tex-
tualizam a questo da incluso e, a partir delas, enfa-
tizo a observao de sentidos filiados a uma determi-
nada formao ideolgica e (re)tomada de sentidos
(o parafraseamento discursivo) que propagandeiam a
prtica de engajamento como soluo anunciada e
simbolizada como garantia de avano social.
2 As campanhasque versam sobre
a incluso peladiferena serotomadas comoobjeto de leitura eanlise na sequnciada seo.
Os recortes trazidos para discusso referem-se
h 3 di l d l i i
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a campanhas3 divulgadas nos ltimos cinco anos
em diferentes formas miditicas de (re)produo eforam sequenciadas (em recortes) para dar visibili-
dade a aspectos analticos em torno do conceito de
incluso e sua relao significante com uma orde-
nao social de divulgao. Observemos a sequn-
cia discursivo-parafrstica de recortes:
Recorte 1(R1) Campanha publicitria
Fotografia 1 Imagem divulgada pelo Instituto MetaSocial
cujo slogande campanha Ser diferente
normal
Ser diferente normal
Fonte Disponvel em:
3 Peas publicitrias(impressas eaudiovisuais)amplamentedivulgadas.
Recorte 2 (R2)4 Campanha publicitria
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Fotografia 2 Imagem referente ao filme da campanha
do Instituto MetaSocial cujo slogan Ser
diferente normal
Ser diferente normal
Fonte Disponvel em:
4 A imagem do recorte refere-se sexta campanha desenvolvida para aONG MetaSocial fundada por Helena Werneck. No filme publicitrio,de 2011, com verses de 60 e 30 segundos, Paula Werneck, uma atrizque j protagonizou outras campanhas do MetaSocial, est em casa edeclara, em uma narrativa, ser uma menina diferente. A suposio levaa crer que essa diferena seria por outros motivos at que ela de-clara que por gostar de tocar bateria. A cena seguinte mostra Paulatocando bateria num parque gramado (as filmagens ocorreram noParque da Marinha do Brasil, em Porto Alegre) ao som de Kids of the
Future, da banda inglesa Jonas Brothers. Aos poucos, outros jovensse aproximam e cantam com ela. Ao final, todos abraam a baterista eo enunciado Ser diferente normal entra em cena. Como recursosde acessibilidade, o filme conta com legendas e audiodescrio paraversar sobre questo da diferena. O vdeo pode ser visto no endere-o eletrnico: .
Recorte 3 (R3)Campanha publicitria
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Fotografia 3 Imagem da campanha Ser diferente normal
E da que diferena faz?!
Ser diferente normal
Fonte Disponvel em:
Recorte 4 (R4)Campanha publicitria
Fotografia 4 Imagem de campanha divulgada em comemora-
o ao dia internacional da Sndrome de down.
Fonte:Disponvel em:
No sou diferente,
eu fao a diferena.
Recorte 5 (R5)Campanha publicitria
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Fotografia 5 Imagem de campanha da Federao das Aes
do Estado do Rio de Janeiro
O que nos faz especialso exatamente asnossas diferenas
Fonte Disponvel em:
Ao ler, ver e/ou ouvir, em diferentes mdias, em
diferentes materialidades discursivas, o enunciado:
Ser diferente normal, deparei-me tocada a pro-
blematizar os sentidos no tempo presente: os sen-
tidos de engajamento na causa inclusiva, a partir da
espetacularizao da diferena/diversidade sua
produo e seu consumo simblico na e pela lin-
guagem miditica. Nesse registro, retomo questes
pertinentes minha reflexo: Como os sentidos da
chamada incluso social vem sendo movimentados
na mdia?
Se observarmos a sequncia de materialidades
(os recortes) enunciativas nas campanhas supra-
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(os recortes) enunciativas nas campanhas supra
mostradas podemos explicitar o deslize de senti-dos constitutivo do parafraseamento5dos enuncia-
dos instaurados em um antagonismo histrico que
constitui a subjetividade dos que so e dos que no
so considerados diferentes e sua possibilidade de
incluso social pela diferena. O reforo enunciativo
que deflagra que ser diferente normal s podeser dito e fazer sentido na relao com uma me-
mria interdiscursiva num espao que nos lembra
(traz atualidade) da segregao historicamente
construda e discursivizada dos sujeitos (os deficien-
tes, os especiais, os diferentes...) que ainda esto
imersos na esteriotipia social da deficincia, da falta,
da estagnao como sujeitos (desen)formados dos
moldes sociais vigentes.
Desta forma, a tentativa discursiva que a mdia
(re)produz nas campanhas a de um (re)posiciona-
mento direto, horizontal dos sentidos da diferena,
inclusive pelo no-uso da designao deficincia
que carrega, em sua histria e memria, sentidos
ainda atuantes do esquecimento, da desvalia e do
no-pertencimento social. Os enunciados parafrs-
5 Tomo o conceitode parfrasena perspectivadiscursiva queentende queos processosparafrsticos soaqueles pelos quaisem todo dizer h
sempre algo que semantm, isto , odizvel, a memria.A parfrase est dolado da estabilizao(ORLANDI, 1999).
ticos recortados das campanhas (R1, R2, R3, R4 e R5)
marcam esta memria discursiva histrica em que
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a ca es a e a d scu s a s ca e que
as diferentes prticas relacionadas ao cuidado compessoas com deficincia permitem problematizar o
modo como cada perodo histrico, especialmente
o de agora, atualiza a questo da diferena. Dife-
rentes atores sociais em suas posies-sujeito esto
envolvidos nessas prticas que vo da caridade e as-
sistncia6
at s prticas ditas integrativas e inclusi-vas que marcam a questo da deficincia na con-
temporaneidade, mas que vem produzindo sentidos
h muito tempo.
Segundo Foucault (2002), desde o incio do s-
culo XIX, os sujeitos com deficincia eram vistos a
6 A prtica assistencial est diretamente relacionada ao surgimentodas instituies de confinamento. Nesse modelo e intervenoo atendimento aos carentes constitui objeto de prticasespecializadas. Assim surgem diferentes equipamentos sociais tais como hospitais, asilos, orfanatos, hospcios que ofereceroatendimento especializado a certas categorias da populao queoutrora eram assumidos, sem mediao, pelas comunidades.
Vo surgindo estruturas cada vez mais complexas e sofisticadasde atendimento assistencial, esboo de uma profissionalizaofutura desse tipo de prtica. Foucault (2002) produz um trabalhodenso sobre a sociedade suas formas de regulao e pontuahistoricamente a mudana das prticas sociais de cuidado (paraele formas de ordenao) social.
partir de suas deficincias: elas deveriam ser medi-
das e classificadas e seus corpos tornados objetos
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p j
de controle, j que se opunham ordem social. Essadominao exercida pelas disciplinas, a partir dos
sculos XVII e XVIII, se institui atravs deformas sutis
por tcnicas minuciosas e ntimas. Atravs de uma
poltica do detalhe, de ateno s mincias, esse
corpo doente passa a ser estudado, analisado, co-
nhecido, para ser recuperado e tratado... Este cen-rio discursivo movimentou-se e tem agregado no-
vos sentidos para significar o sujeito diferente (e no
s deficiente). Considerando o fracasso das institui-
es em integrar o sujeito com deficincia socie-
dade e ao mercado de trabalho produtivo a partir de
um modelo social de normalidade, iniciou-se, em
vrios setores sociais, e a mdia ocupa uma posio
importante neste processo, um questionamento e
presso para a desinstitucionalizao das pessoas
com deficincia.
No modelo da incluso discursivizado na atua-
lidade, onde a diversidade proclamada como m-
xima do ser/estar na orientao certa (quela jus-
tificada e assentada nas formas de dizer e fazer do
politicamente correto), materializa-se um movi-
mento de sentidos que identifica e conclama inte-
grao a sociedade e as pessoas com necessidades
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especiais, isso como forma de minimizar os proble-mas encontrados por ambas no convvio social his-
toricamente estruturado. So prticas distintas que
ora colocam todo o peso sobre a pessoa com de-
ficincia, ora procuram distribuir a responsabilidade
pela incluso para todo o conjunto social propondo
o engajamento como nica (melhor) opo.
4 OS SENTIDOS DA INCLUSONEOLIBERAL: A CONSTRUO DOSUJEITO ENGAJADO
Como parte da proposta de debate sobre a ma-
terialidade discursiva e suas implicaes, considero
importante apontar algumas condies histricas de
produo dos discursos da incluso. Compreendo
que h na sociedade um movimento que deflagra a
incluso enquanto incentivo participao e aces-
so de todos a determinados espaos sociais, como
uma grande rede que se tece em torno de polticas e
prticas conectadas aos interesses e convenincias
do modo de vida neoliberal.
Por neoliberalismo, a partir de Foucault (2008),
compreendo a lgica que vem se empreendendo
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desde meados da dcada de 1970, em que o mer-cado assume posio centralizadora na formulao
de significados. Com isso, o papel do Estado na di-
nmica social se reconfigura e h um incentivo
autoconduo. Assim, se no liberalismo clssico o
Estado gerenciava o mercado, no neoliberalismo,
a relao inverte-se. O mercado cria e monitora ofuncionamento do Estado e das suas relaes com
os sujeitos e destes com eles prprios (os sujeitos
consigo mesmos e entre si), pois isso torna o pro-
cesso mais produtivo e economicamente vivel.
Dentro do neoliberalismo como forma de vida
do tempo presente e na conjuntura em que vivemos
certas normas so institudas no s com a finalidade
de posicionar os sujeitos dentro de uma rede de sa-
beres, como tambm de criar e conservar o interes-
se em cada um em particular, para que se mantenha
presente em redes sociais e de mercado. Estamos
todos, de uma maneira ou de outra, sendo condu-
zidos por determinadas prticas e regras implcitas
que nos levam a entrar e permanecer no jogo eco-
nmico do neoliberalismo. possvel apontar pelo
menos duas grandes regras que operam nesse jogo
do neoliberal. A primeira regra manter-se sempre
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em atividade. No permitido que ningum pare oufique de fora, que ningum deixe de estar integrado
nas malhas que do sustentao aos jogos de mer-
cado e que garantem que todos, ou a maior quan-
tidade de sujeitos, sejam beneficiados pelas aes de
Estado e de mercado. Por sua vez, Estado e o mer-
cado esto cada vez mais articulados e dependentesum do outro, na tarefa de educar a populao para
que ela viva em condies de sustentabilidade, de
empresariamento, de autocontrole etc.
A segunda regra que todos devem estar inclu-
dos, mas em diferentes nveis de participao, nas re-
laes que se estabelecem entre o que da ordem Es-
tado/populao, pblico/comunitrio e mercado. No
se admite que algum perca tudo ou fique sem jogar.
Para tanto, as condies principais de participao
so trs: primeiro, ser educado em direo a entrar
no jogo; segundo, permanecer no jogo (permanecer
includo); terceiro, desejar permanecer no jogo.
Foucault (2008), ao escrever sobre o neolibe-
ralismo e ao colocar que o ponto comum existente
entre o econmico e o social a regra da no-ex-
cluso, possibilita a compreenso da incluso como
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um imperativo neoliberal para a manuteno detodos (os sujeitos e suas instituies) nas redes do
mercado. Mesmo considera