de repente, nas profundezas do bosque

36
ROTEIRO DE TEATRO De repente, nas profundezas do bosque

Upload: carlos-eduardo-matias

Post on 07-Jul-2015

1.316 views

Category:

Documents


1 download

TRANSCRIPT

Page 1: De repente, nas profundezas do bosque

ROTEIRO DE TEATRO

De repente, nas profundezas do bosque

Page 2: De repente, nas profundezas do bosque

Os personagens

PERSONAGENS Nimi, o potro Pai de Nimi Médico Solina, a costureira Guinom, o marido de Solina, inválido Mati Pai de Mati Maia Lília, a mãe de Maia, padeira e viúva Almon, o pescador Nehi, o demônio da montanha Nehi (como Neman) Pai de Neman Professora Emanuela Emanuela criança do capítulo 6 Danir, o consertador de telhados 2 ajudantes de Danir Rapazes e moças do capítulo 4 As crianças da aldeia

PAPÉIS Nimi = Moysés

Pai de Nimi = Henrique

Médico = Lucas

Solina = Yasmin

Guinom = Gustavo Tacact

Mati = Max

Pai de Mati = Cauã

Maia = Isadora

Lília = Adrielly

Almon = João Henrique Silva

Nehi = Nicolas

Neman = Marlon

Pai de Neman = João Henrique Neto

Emanuela = Juliana

Emanuela criança = Kamily

Danir = Gustavo Xavier

2 ajudantes de Danir = Carlos e Laércio

Rapazes e moças = Felippo, Gabriel, Geovana, Verena

Crianças da aldeia = Anthony, Maria, Luciana, Daniel, Bruna

Assistente de roteiro = Stéfany

Assistente de microfone = Aline

Assistente de palco 1 = Raquel

Assistente de palco 2 = Kévyn

Page 3: De repente, nas profundezas do bosque

Capítulo 1(Emanuela, Mati, Maia, Nimi, as crianças da aldeia, pai do Nimi, médico.)

NARRADOR: Na sala de aula, a professora Emanuela mostrava às crianças como eram os animais.

EMANUELA: (As crianças da aldeia, Mati, Maia e Nimi estão na aula.) E esse é um urso, esse um elefante, esse um peixe. Ele respira embaixo d’água. E esse é um pássaro, que voa livre pelo céu.

AS CRIANÇAS DA ALDEIA: Todos riem da professora e dizem que isso não existe. (Apenas Nimi não ri.)

MAIA: Nimi, todos falam que você é um Sonhador. Sonhe com o que quiser, mas fique quieto. Não vale a pena.

NARRADOR: Tudo divertia Nimi e tudo despertava nele alegria. Em todas as coisas Nimi via motivo suficiente para rir.

NIMI: (rindo de alguma coisa que viu) ... Vou fugir da sala de aula e entrar nesse bosque.

NARRADOR: Os dias passaram e Nimi continuava desaparecido. Passadas três semanas ele voltou, magro e imundo, todo arranhado e machucado, mas relinchando de tanto entusiasmo e alegria.

NIMI: (Sai correndo e relinchando.)

NARRADOR: E desde então o pequeno Nimi não parou mais de relinchar e tampouco tornou a falar: não pronunciou nenhuma palavra desde que voltou do bosque, e só ficava correndo descalço pelas ruelas da aldeia.

NIMI: (Corre descalço e relincha.)

NARRADOR: A partir desse dia, Nimi não pôde mais ir à escola por causa da “doença do relincho”. As crianças da aldeia passaram a chama-lo de Nimi, o potro.

PAI DO NIMI E NIMI: Venha, Nimi, o médico está esperando. (Logo depois ...) Doutor, o que ele tem?

O MÉDICO: Isso logo vai passar. Ele deve ter visto algo no bosque e ficou assustado. Logo essa doença do relincho passa.

AS CRIANÇAS DA ALDEIA E NIMI: Some daqui, Nimi, seu potro! (Nimi corre para longe.)

Page 4: De repente, nas profundezas do bosque

Capítulo 2

NARRADOR: A aldeia era cinzenta e triste. Quase nunca chegavam forasteiros, nem sequer visitantes ocasionais. Trinta, talvez quarenta casas se espalhavam ao longo do declive, no vale fechado e rodeado por montes íngremes. A aldeia era amaldiçoada: um estranho silêncio pairava ali: nenhuma vaca mugia, nenhum pássaro cortava o céu, e os aldeões falavam apenas o necessário. Todos evitavam falar sobre isso.

Page 5: De repente, nas profundezas do bosque

Capítulo 3(Almon, Mati, pai do Mati.)

NARRADOR: Anos antes viveram na aldeia sete caçadores e quatro pescadores. Mas quando o rio ficou sem peixes, quando os animais selvagens partiram para longe, eles também se foram. Somente um pescador de nome Almon – um homem velho e solitário – permaneceu na aldeia. Hoje um agricultor, o antigo pescador colocara um espantalho entre seus canteiros.

ALMON: Fique aqui, meu amigo espantalho. Antes de morrer, tenho certeza que todas as aves voltarão, e com elas todos os outros animais. Que foi? Não olhe assim pra mim! É claro que eles vão voltar!

NARRADOR: Mati resolveu perguntar ao pai por que as criaturas tinham desaparecido da aldeia.

MATI: Pai, por que todos os animais foram embora?

PAI DE MATI: (Anda em silêncio, demorando pra responder.) Filho, venha cá. Aconteceram coisas que é melhor você não saber. Nem todo mundo é culpado. Mas quem é você pra nos julgar? Você é só uma criança! Os animais nem devem ter existido mesmo. Esqueça isso. Esqueça que tivemos essa conversa.

Page 6: De repente, nas profundezas do bosque

Capítulo 4(Solina, Guinom, Nimi, Danir, os 2 ajudantes de Danir, rapazes e moças da

aldeia, as crianças da aldeia.)

NARRADOR: Todos os dias, à tardinha, a costureira Solina passeava com o marido inválido pelas ruelas da aldeia. Guinom se curvou tanto com o passar dos anos que Solina o empurrava num carrinho de bebê até a margem do rio. Guinom tinha a doença do esquecimento e achava que era um cabrito.

SOLINA: Venha, Guinom, vamos passear.

GUINOM: (Imitando cabrito.)

NIMI: (Passa relinchando perto de Guinom, que sorri e fica ouvindo.)

NARRADOR: Danir, o consertador de telhados, e seus dois ajudantes, descansavam e bebiam cerveja. Outros rapazes e moças chegavam e conversavam entre eles. Às vezes explodiam de rir. As crianças ficavam escondidas, tentando ouvir o que eles diziam.

DANIR E OS 2 AJUDANTES: (Com copos na mão e sentados, conversavam.)

RAPAZES E MOÇAS: (Chegam, cumprimentam e logo começam todos a rir.)

AS CRIANÇAS DA ALDEIA: (Ficam escondidas, tentando ouvir o que os adultos falam.)

DANIR: Ouçam bem, vai chegar o dia em que eu e meus dois ajudantes vamos descer ao bosque e voltar com todos os animais, e essa aldeia voltará a ser o que era antes.

Page 7: De repente, nas profundezas do bosque

Capítulo 5(Maia, Lília, Nimi.)

NARRADOR: Um grande medo tomava conta da aldeia, pois tudo à sua volta pertencia a Nehi, o demônio da montanha. Os pais diziam a seus filhos que, noite após noite, Nehi descia de seu palácio negro atrás dos montes até a aldeia, procurando por algum sinal de vida. Se encontrasse qualquer coisa, um grilo sequer, ele aprisionava a criatura.

MAIA: Mãe, eu duvido que exista um demônio da montanha. Todos nessa aldeia são malucos, até você, mãe!

LÍLIA: É melhor continuar pensando assim, Maia. Enquanto não souber de nada, ninguém vai colocar a culpa em você. E ninguém se contamina.

MAIA: Contamina do quê?

LÍLIA: De coisas ruins, Maia. Mas já chega dessa conversa! Vamos dormir. (Lília e Maia se deitam.)

NARRADOR: Maia esperou sua mãe adormecer e foi até a janela. O silêncio negro era mesmo assustador. Ao longe, Nimi corria relinchando.

NIMI: (Passa correndo e relinchando.)

NARRADOR: Todas as portas se fechavam diante de Nimi por causa da doença do relincho. E imediatamente fez-se o silêncio novamente.

Page 8: De repente, nas profundezas do bosque

Capítulo 6(Emanuela criança, Guinom, Solina, Almon.)

NARRADOR: Tudo começou muito tempo atrás, antes das crianças da aldeia terem nascido. Foi numa noite de tempestade que todos os animais sumiram. Emanuela, que na época tinha 10 anos, sentia muito a falta de sua gata tigresa Tima.

EMANUELA CRIANÇA: Tima, cadê você? Tima!!! Onde você foi? Cadê os filhotes? Será que eles estão na gaveta de dormir? Não. Aqui só tem pelos e o cheirinho deles, chuif, chuif... (Ela chora.)

NARRADOR: Naquela época sombria, Solina perdeu suas ovelhas. Seu marido, Guinom, também desapareceu, e só foi encontrado uma semana depois, tremendo e congelando de frio perto das árvores do bosque.

GUINOM: (Fica caído e tremendo de frio.)

SOLINA: Guinom, o que aconteceu? Estava preocupada. Fale alguma coisa!

GUINOM: (Imita um cabrito.)

NARRADOR: Desde esse dia, Guinom tem a doença do esquecimento. Na mesma noite, sumiu também Zito, o fiel cachorrinho do pescador Almon.

ALMON: Onde você se meteu, Zito? Será que esqueceu o dono? Aquela sombra ... será ele? Não, não é. Volte, Zito, volte! Não consigo mais dormir, depois que você sumiu.

Page 9: De repente, nas profundezas do bosque

Capítulo 7

NARRADOR: Todos diziam que Nehi vigiava a aldeia. De manhã bem cedo, os lenhadores diziam que Nehi tinha passado bem no caminho que eles seguiam. Um calafrio subia pelas costas só de pensar nisso.

Page 10: De repente, nas profundezas do bosque

Capítulo 8(Emanuela, Maia, Mati, as crianças da aldeia.)

NARRADOR: Na sala de aula, Mati e Maia combinam entrar no bosque.

EMANUELA: (Maia, Mati e as crianças da aldeia assistem a aula.) Nunca entrem no bosque, porque é perigoso. Essas cores, vermelho e preto, representam o bosque. Nunca entrem lá, senão vocês também vão desaparecer. Ou pode voltar com a doença do relincho.

MAIA: Nós temos que entrar no bosque.

MATI: É perigoso, Maia.

Page 11: De repente, nas profundezas do bosque

Capítulo 9(Mati, Maia, as crianças da aldeia.)

NARRADOR: Mati e Maia tinham um segredo, e eles não compartilhavam isso com ninguém. As crianças da aldeia diziam que eles eram namorados, mas eles nem sequer seguravam as mãos.

MATI, MAIA E AS CRIANÇAS DA ALDEIA: (Mati e Maia ficam perto, enquanto as crianças chamam os dois de namorados.)

NARRADOR: O que unia Mati e Maia não era amor, mas um segredo que ninguém podia saber. Por causa desse segredo, eles se tornaram amigos próximos, e também isolados das outras crianças. Se o segredo fosse conhecido pelos outros, a zombaria seria muito pior. Todo aquele que era diferente dos outros era evitado, pois diziam que pegou a doença do relincho.

Page 12: De repente, nas profundezas do bosque

Capítulo 10(Mati, Maia.)

NARRADOR: O segredo era que Mati e Maia haviam encontrado, numa das curvas do rio, uma pequena fenda, onde uma pocinha de água havia ficado represada. E eis que de repente, entre as plantas aquáticas que recobriam as pedras, encontrava-se um peixe ... vivo!

MATI: Maia, veja, está vivo! É um peixe, Maia! Achamos um peixe vivo! (Maia fica contente.) Ele respira igual a gente, Maia.

MAIA: Eu sabia, somos todos iguais! Quem debocha dos outros é um bobo!

NARRADOR: Era o primeiro animal que eles viam na vida.

Page 13: De repente, nas profundezas do bosque

Capítulo 11

NARRADOR: Foi o primeiro animal que surgiu na aldeia desde que Nehi, o demônio das montanhas, afastou todos de lá para sempre.

Page 14: De repente, nas profundezas do bosque

Capítulo 12(Mati, Maia.)

MATI: E agora, o que vamos fazer?

MAIA: Não podemos contar aos outros. Vão debochar da gente.

NARRADOR: Quem não debocharia? Tudo que era estranho a eles era tratado dessa forma. E ninguém era poupado. Será que o deboche é uma forma de defesa para quem lança mão dele, pois o protege do perigo da solidão? Quem zomba não zomba em grupo, e aquele que desperta a zombaria não fica sempre sozinho. E os adultos? Será que sentiam vergonha ou alguma culpa? Mati e Maia sempre voltavam àquele lugar.

MAIA: Veja, Mati, o que é isso voando? (Os dois olham pra cima e correm assustados.)

Page 15: De repente, nas profundezas do bosque

Capítulo 13

NARRADOR: Será que tudo era fruto da imaginação? Teriam eles pego a doença do relincho, como Nimi? E se eles despertassem a fúria de Nehi, o demônio das montanhas, e também desaparecessem?

Page 16: De repente, nas profundezas do bosque

Capítulo 14

NARRADOR: A resposta a essas perguntas estava no bosque, e eles decidiram buscá-las. Todos diziam que os dois eram esquisitos, e o deboche com isso só aumentava, tornando-se como uma mancha escura de lama. Certo dia, em vez de irem para a escola, Mati e Maia saíram da aldeia e entraram no bosque.

Page 17: De repente, nas profundezas do bosque

Capítulo 15(Mati, Maia, Nimi.)

MAIA: Tem muita árvore por aqui. Cuidado com esse cipó!

MATI: Estou com medo, Maia. É melhor a gente voltar, antes que alguém nos pegue!

MAIA: Só quero ver o que tem ali na frente. Se esconda aí atrás dessa pedra. Se eu sair correndo, você também corre.

MATI: Não, Maia, é perigoso.

NARRADOR: Mati ficou espiando para ver o que acontecia com Maia. E eis que apareceu um homem pequeno, sentado sozinho, de costas para Maia, ocupado com a fogueira, que nem se deu conta da presença da menina. De repente o estranho voltou o olhar e sorriu, nem um pouco surpreso, como se soubesse que já era o tempo de receber visitas.

NIMI: Maia? Mati? Querem sentar? Descansem um pouco. Sentem aqui.

Page 18: De repente, nas profundezas do bosque

Capítulo 16(Mati, Maia, Nimi.)

MAIA: Nimi? O que faz aqui? Você se curou da doença do relincho?

NIMI: Aquilo não era uma doença; era uma decisão. Eu estava cansado das provocações, por isso fingi que tinha essa doença pra poder viver livre.

MAIA: Mas você não tem medo do bosque? E de Nehi?

NIMI: Do bosque eu tenho um pouco de medo, à noite, mas não por causa de Nehi.

MAIA: Você já viu algum animal no bosque? Já viu Nehi?

NARRADOR: Nimi não responde às perguntas de Maia e sai galopando pelo bosque.

Page 19: De repente, nas profundezas do bosque

Capítulo 17

NARRADOR: Mati pensava apenas no que tinham descoberto. Será que os outros da aldeia também sabiam, mas fingiam não saber? Pior: e se eles se perdessem no bosque e não conseguissem mais voltar para casa?

Page 20: De repente, nas profundezas do bosque

Capítulo 18

NARRADOR: Mati e Maia se perderam no bosque. Criando coragem, Mati passou por alguns arbustos e chegou até um muro de pedras com portão feito de troncos grossos. Mati ouviu a voz de Maia e decidiu entrar para encontrá-la.

Page 21: De repente, nas profundezas do bosque

Capítulo 19(Mati, Maia.)

MATI: O que eu faço agora? Corro e peço ajuda? Ou entro para salvar Maia?

MAIA: Mati, venha cá!!! Venha ver o que eu achei!!!

Page 22: De repente, nas profundezas do bosque

Capítulo 20(Mati, Maia.)

MATI: Isso é um gato? Um gato vivo?

MAIA: Ele é tão fofinho! Olha quanto pelo ele tem! Mati, ele é lindo!

MATI: É, sim. Mas esse lugar ... eu acho que estamos dentro da fortaleza de Nehi, o demônio da montanha!

Page 23: De repente, nas profundezas do bosque

Capítulo 21(Mati, Maia.)

MAIA: É tudo muito lindo. E essas luzes ... são vaga-lumes! E o que é aquilo lá em cima?

MATI: São pássaros! Maia, são pássaros voando!!!

NARRADOR: A emoção e a alegria tomavam conta das duas crianças. O jardim era profundo e largo, e se estendia a perder de vista, até os declives floridos que se confinavam com as matas escuras, pomares frutíferos e canteiros verdes. Lá estavam todos os animais: cobras, lagartos, caracóis, coelhos, ursos, lobos, raposas, girafas, carneiros e tantos outros.

MATI: Preciso mostrar isso para Solina, Danir e Almon. Eles precisam ver como aqui é lindo!

Page 24: De repente, nas profundezas do bosque

Capítulo 22(Mati, Maia, Nehi.)

NARRADOR: Mati e Maia estavam tão maravilhados com a beleza do jardim que nem viram que no alto havia um homem os observando, com um sorriso gentil e respirando intensamente. O homem não se movia, até que Maia o viu e ficou paralisada de medo.

MAIA: Não olhe daquele lado, Mati. Tem um homem nos vigiando. (Fica de pé um pouco longe.)

Page 25: De repente, nas profundezas do bosque

Capítulo 23(Mati, Maia, Nehi.)

NARRADOR: O homem estranho começou a se aproximar deles. Ao ver que as crianças não correram, o homem diz com voz sorridente:

NEHI: Que bom que vocês vieram! Querem suco de romãs? Com gelo raspadinho. Querem?

MATI: Não toque em nada, Maia. Talvez seja perigoso beber nisso.

MAIA: Espera. Quem é você? Eu sou Maia. Ele é Mati. Você é um feiticeiro?

NEHI: Beba, Mati. Está geladinho. Você não vai ficar com a doença do relincho. Vou contar a vocês minha história: quando era menino, eu queria ser aceito. Mesmo que batessem em mim, eu queria ter amigos. Mas ninguém ligava pra mim.

MATI: (Pensativo, olhando para a plateia.) Esse homem é esquisito. Não fala coisa com coisa. E se ele fizer a gente de prisioneiro aqui? Para sempre?

MAIA: Me conte mais, senhor. Quero ouvir tudo.

Page 26: De repente, nas profundezas do bosque

Capítulo 24(Mati, Maia, Nehi, Neman, pai de Neman, rapazes e moças.)

NEHI: Eu tinha dez anos de idade quando parei de brincar com as outras crianças e ficava só com os animais. (Ao lado, aparecem Neman, o pai de Neman, e os rapazes e moças do capítulo 4.)

NEMAN: Vem aqui, gatinho! Vamos brincar.

RAPAZES E MOÇAS: Sai pra lá, seu maluco. Fica falando com animais! Você tem a doença do relincho.

NEHI: Por causa disso, meu pai tinha vergonha de mim.

PAI DE NEMAN: (Olhando para Neman.) Você é a vergonha da família!

NEHI: Aí acabei ficando por aqui, nesse bosque. Vou me apresentar: sou Nehi, o demônio das montanhas. E vocês dois já devem saber que não existe essa doença do relincho. Inventaram isso só para ficarem longe. Venham comigo.

NARRADOR: Nehi conta que gostava da pequena Emanuela, mas que nunca contou isso para ninguém, pois as humilhações seriam maiores ainda.

NEMAN: (Olhando de longe para a pequena Emanuela.) Eu gosto tanto dela, mas se alguém souber, vão rir mais ainda de mim. Tenho que guardar segredo.

NARRADOR: Mati e Maia descobrem também que não existe nenhum palácio, apenas um cômodo grande e largo.

NEHI: (Neman fica na cena, interagindo.) Numa noite de inverno, eu fugi da aldeia e fiquei junto com os animais que gostavam de mim. Muitos deles também eram maltratados. Aqui nesse jardim temos de tudo: um lugar bonito, muitas frutas, e ninguém debochando de nós. Podem ficar aqui, se quiserem.

Page 27: De repente, nas profundezas do bosque

Capítulo 25(Mati, Maia, Nehi.)

MAIA: Mas, por que você fugiu? Por que não tentou fazer pelo menos um amigo ou dois?

NEHI: Era muito difícil.

MATI: Maia, chega.

MAIA: Chega o quê, ele é a desgraça da nossa aldeia!

MATI: Mas Nimi também fugiu. Os animais também. Até eu penso em ficar bem longe de quem debocha da gente, só pra poder viver feliz. Não importa se falarem que eu tenho a doença do relincho.

NEHI: Na verdade, vocês também fugiram. E seus pais devem estar desesperados procurando vocês agora.

Page 28: De repente, nas profundezas do bosque

Capítulo 26(Mati, Maia, Nehi, Lília.)

NARRADOR: Vendo que os tinha assustado, Nehiapressou-se em agradá-los, e serviu-lhes frutas suculentas como nunca antes haviam provado. Nehi, quando ainda era o menino Neman, cuidava sempre de todos os animais e se preocupava em alimentá-los. Por isso todos o perturbavam na aldeia.

LÍLIA: (Aparece jogando migalhas enquanto Maia fala.)

MAIA: Fico pensando na minha mãe, Lília, jogando migalhas para pássaros que não existiam. Ela deve estar muito preocupada agora.

Page 29: De repente, nas profundezas do bosque

Capítulo 27(Mati, Maia, Nehi.)

MAIA: Mas o que você fez foi muito errado. Sumir com todos os animais era uma vingança contra quem? Contra quem debochava de você? Ou contra Emanuela, Almon, e até minha mãe? Isso foi mais cruel do que o deboche que você sofreu.

NARRADOR: Nehi ficou sem resposta. Depois, se irritou com as crianças.

NEHI: Não querem mais ficar aqui? Podem ir. Se eu quisesse me vingar, deixava vocês aqui para sempre. E como eu poderia viver sem maltratar alguém?

MAIA: Preste atenção no que diz: agora é você quem está debochando. Está até gostando, não é?

Page 30: De repente, nas profundezas do bosque

Capítulo 28(Mati, Maia, Nehi.)

NEHI: Eu tenho um pouco de inveja. Inveja de tudo o que nunca tive e do que jamais terei.

MAIA: Isso quer dizer que esse lugar também é bem triste, às vezes.

Page 31: De repente, nas profundezas do bosque

Capítulo 29(Mati, Maia, Nehi.)

NEHI: Mas eu não roubei os animais. Eles que quiseram vir, porque também eram maltratados. Eles também tinham medo de ficarem sozinhos.

Page 32: De repente, nas profundezas do bosque

Capítulo 30

NARRADOR: Muitos anos atrás, Nehi passou a cultivar as frutinhas de um arbusto. Os animais se alimentavam dela, e um nunca atacava o outro. Não havia mais predadores.

Page 33: De repente, nas profundezas do bosque

Capítulo 31(Mati, Maia, Nehi, Danir.)

MATI: Maia, a gente tem que ir. Eles devem estar assustados lá na aldeia.

NARRADOR: Nesse momento, Mati se lembra de que é justamente nesse momento, o da escuridão, que todos se trancam em suas casas.

DANIR: (Na aldeia, fechando a janela com pressa.) Escureceu. Preciso fechar logo a porta e as janelas.

MATI: Empresta um cachorro pra levar a gente embora. Prometo não contar nada pra ninguém.

NARRADOR: Nehi sorriu, pois ninguém acreditaria neles mesmo. Qualquer coisa que eles dissessem serviria apenas para alimentar o deboche.

MATI: Será que é de tanta vergonha que os adultos negam tudo? Parece até que ninguém esqueceu de verdade o que fizeram.

NEHI: Como será que está Emanuela agora? Sinto falta dela.

Page 34: De repente, nas profundezas do bosque

Capítulo 32(Mati, Maia, Nehi.)

MAIA: Quando os animais voltarem, todos vão levar um susto. Mas vão ficar felizes também.

MATI: Os pássaros voltarão a fazer ninhos, os cachorros vão latir novamente, e tudo voltará ao normal. Solina vai poder dar um cabrito de verdade para Guinom.

MAIA: Minha mãe vai poder dar migalhas para os pássaros, de verdade!!!

NARRADOR: Nehi ouvia tudo em silêncio. Depois, voltou-se para Maia e disse numa voz baixa e sombria:

NEHI: E se eles debocharem de novo? Ou me maltratarem? E se eles baterem de novo nos cachorros? E se eles envenenarem os gatos outra vez? O que acontecerá a Nimi? E a mim?

Page 35: De repente, nas profundezas do bosque

Capítulo 33(Mati, Maia, Nehi, Lília, pai do Mati, Almon, Danir, Emanuela.)

NARRADOR: E quando chegaram ao fim do bosque, num ponto de onde já se avistavam as primeiras casas da aldeia, Nehi lhes disse:

NEHI: Está ficando noite. Vão para casa. Conversem com os adultos. Curem eles dessa doença. Quem sabe um dia poderemos estar juntos novamente! Nunca se esqueçam. Mesmo quando ficarem adultos, não se esqueçam. Boa noite.

MATI: Vamos contar para Almon e para a professora Emanuela.

MAIA: Sim, e para Danir também. Pra minha mãe. Pra todos eles. E trazer Nimi de volta.

LÍLIA E PAI DO MATI: (Abraçam seus filhos. Danir, Almon e Emanuela estão perto, felizes com o retorno deles.)

NARRADOR: Sim, seria uma tarefa árdua. Mas Mati e Maia estavam decididos a mudar a forma de pensar dos adultos da aldeia, e como eles tratavam quem era diferente deles. Uma nova aurora nascia, e graças à determinação de duas crianças de corações puros, a aldeia voltaria a ser feliz.

Page 36: De repente, nas profundezas do bosque

MENSAGEM FINAL

(Todos os alunos no palco.) “Não deboche do seu amigo.”