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    . ,

    CHARLES DARWIN

    A expressao dasemocoes no homem e nos arumaisIn tro du ca o d e K on ra d L or en z

    ThidUfiloL eo n d e S ou za L ob o G arcia

    2" r~mpre$Silo

    C O M I l 'I .N ! ! li tE T R A S

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    Fig . 3- Diagrama de Henle.

    A. Occipito.[rontali5 , ou musculo frontal.n. Co rmga r or s u p er c il i i, ou rnusculo cor-rugador,C. Orb i cu l a r is p a l p eb ra rum , ou musculosorbiculares dos olhos,D. P yr am id a li s n a si , OU musculo pirarni-dal do nariz ,E. Levator tabU superiorls a l aqu na s i.

    F. Leva to r lab ii propr iu s .G. Zigomitico.H, Ma/flris.I, Pequeno zigomatico,K. Trj,ungu/aris oris, au depressormrgllli oris.L. Quadrat." menti.M. Risorius, parte do platisrna mioide,

    1. Principios g er ais da expressao

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    Os tre s pr inc ipios fundamentals - 0 prime iro principio - A~oesuteis tornam-se habituais associadas com certos estados de esplri-to, e serepetern mesmo em s ituacoes em que nl io tern utilidade -A forca do habito - Hereditar iedade - Movimentos habitua is as-sociados no homem - A~oes reflexes - Transforrnacao dos habi-tos em acoes ref lexas - Movimentos habituais associados nos ani -rnais inferiores - Observacees finais

    Comecarei expondo os tres principios que, a meu ver, saoresponsaveis pela maioria das expressoes e gestos involuntariosusados pelo homem e os animais inferiores, sob a influencia dasmais variadas emocoes e sensacoes. r Cheguei, no entanto, a essestres principios somente ao final das minhas observacoes, Eles se-rao discutidos neste enos dois pr6ximos capltulos de maneiragenerics. Utilizarei aqui fatos observados tanto em homens quan-to nos animais inferiores; entretanto, os ultirnos sao preferiveis,ja que menos propensos a nos enganar, No quarto e quinto capl-tulos descreverei as expressoes especiais de alguns dos animalsinferiores; enos capitulos seguintes as do hom em. Todos serao

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    assim capazes de julgar por si mesmos quanta os meus tres prin-cipios esdarecem da teoria desse terna, Parece-me que tantas ex-pressoes sao dess a mane ir a s a ti sf a to r iamen te explicadas que, pro-vavelmente, todas terrninarao por ser encaixadas nos mesmos,ou muito sernelhantes, criterios, Nem preciso dizer que movi-mentos ou modificacoes em qualquer parte do corpo - comour n cachorro quando balanca a cauda, urn cavalo q ue r ep ux a asorelhas, ur n homem que levanta as ombros ou a dilatacao doscapilares da pele - podem todos tarnbern servir para a expres-sao. Os tres principios sao os seguintes:

    I. 0 pr in c ip ia do s hab i to s a ss o ciado s t ue i s. Algumas acoes com.plexas tern utilidade direta ou indireta em certos estados de espi-rita para aliviar ou gratificar .sensacoes, desejos etc. ; e toda vezque 0mesmo estado de espirito e induzido, mesmo que poucointense, ha urna tendencia, pela forca do habito c associacao, deos mesmos movimentos se rcpetirem, ainda que nao lenham amenor utilidade, Algumas acoes, normal mente associadas pelohabito com certos estados de espirito, podem ser parcialrnentereprimidas pela vontade, e nesses casos, os rrnisculos que estaomenos submetidos ao controle separado da vontade sao os quernais tendem a agir, causando movimentos que reconhecernoscomo expressivos. Em alguns outros casos, a contencao de urnmovimento habitual requer outros pequenos rnovimentos, quetarnbem sao reconhecidos como expressivos,

    II. 0 p r in c ip ia d a a n ti te se . Certos estados de espirito levarna algumas acoes habituais que sao uteis, tal como estabelece nos-so primeiro princlpio. Mas quando urn estado de esplrito opostoe induzido, ha uma tendencia forte e involuntaria a realizacao demovirnentos de natureza contraria, ainda que esses nao tenham

    Il

    utili dade; e esses movimentos sao, em alguns casos, fortementeexpressivos.

    III. 0 p r inc ip i o das a~oesdev i da s a c o ns tu u ic a o d o s is tem a n e t-v os o, to ta lm en te in de pe nd en te s d a v on ta de e, num certo grau, dohdbito. Quando 0sens6rio e intensamente estimulado, gera-se for-ca nervosa em excesso, Esta e transrnitida em certas direcoes, de-pendendo da co nex ao en tr e as celulas nervosas e parcialrnente dohabito; au 0 fornecimento de forca nervosa pode ser, aparente-mente, interrompido. Os efeitos assim produzidos sao por n6s re-conhecidos como expressivos, Esseterceiro principio pode ser cha-mado, para efeito de sintese, de acao direta do sistema nervoso,

    A respeito do nosso p r ime i ro p r inc i pi a , e evidcnte quao po-derosa e a forca do habito. Os rnais complexes rnovirnentos po-dem ser executados sern 0menor esforco e consciencia. Nao sesabe ao certo como pode 0habito ser tao eficiente na facilitacaode rnovirncntos complexes; mas fisiologistas admitenr' "que a for-ca condutora das fibras nervosas aumenta com a frequencia dasua excitacao", Isso se aplica tanto aos nervos motores e sensiti-vo s quanta aqueles envolv idos com 0ato de pensacoDificilmentepodemos duvidar que alguma rnudanca fisica se produza nas ce-lulas nervosas enos nervos que sao habitualmente utilizados, ca-so contrario fica imposslvel compreender como a tendencia paracertos movimentos e herd ada. Que ela e herdada vernos nos ca-valos em certos passos transmitidos, como 0galope e 0trote, quena o Ihes sao naturais, no apontar (pointing) de jovens pointers eno abaixar (sett ing) de jovens setters." na maneira peculiar devoar de certas racas de pombos etc. Encontramos alguns casos Darwin distingue al 0 movimento caracterlstico de indicar a caca de caespointers e setters. (N. T.)

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    analogos na especie humana com a heranca de habilidades ougestos poueo usuais, 0que abordaremos logo adiante. Para aque-les que admitem a evolucao gradual das especies, urn dos maisimpressionantes exemplos da perfeicao com que os mais diflceismovimentos consensuais podem ser transmitidos ~ dado pelarnariposa-beija-flor (Macroglossa); essa mariposa. logo ap6s sairdo casulo, como seve pelo brilho de suas escamas intactas, podeser vista suspensa no ar com seu longo e fino proboscide inseri-do firme nos minuscules oriflcios das flores. Acredito que nuneaninguern viu essa mariposa aprendendo a desempenhar sua dift-cit tarefa, que requer uma tao firme pontaria.

    Quando existe uma tendencia herdada au instintiva para aexecucao de uma acao, au urn gosto herdado por certos tipos dealimento, algurn srall de habito e em geral necessario. Percebe-mas isso nos passos dos cavalos, ou no apontar dos dies; aindaque alguns caes jovens apontem muito bern ja na primeira vezque se sai com eles, em geral eles associam a atitude herdada cor-reta com 0odor errado ou mesmo com a visao, Ouvi dizer quese deixarmos urn hezerro rnamar uma unica vez, torna-se muitomais diftcil cria-lo artificialmente.' Sabe-se que lagartas exclusi-vamente alimentadas com as folhas de urn tipo de arvore mor-rem de fame antes de se alimentar de outro tipo de folhas, aindaque estas tenham sido seu alimento em estado natural.' E assimacontece em muitos outros casos,o poder da associacao e reconhecido por todos. 0 sr. Bainobserva que "a'toes, sensacoes e estados de sentimento, ocorren-do simultanea ou sequencialmente, tendem a desenvolver-se oufundir-se de tal forma que posteriormente, quando qualquer urndeles se apresenta, os outros entao podem ser evocados", ' E taoimportante para nossos objetivos reconhecer plenamente queacoes facilmente se associam com outras acoes e inumeros esta-dos de esplrito, que darei urn born mimero de exernplos, primei-

    ro no homem e depois nos animais inferiores. Alguns exemplossao de situacoes hanais, mas eles se prestam aos nossos fins tantoquanta habitos mais importantes. Todos sabem quanta e diflcil,ou mesmo impossivel sem repetidas tentativas, mover os mem-bros em certas direcoes opostas que nunea foram praticadas. Ca-sas semelhantes ocorrem com as sensacoes. Assim, na experien-ciacomum de se rolar uma bolinha de gude entre os dedos, temosa sensacao clara de que sao duas bolinhas, Ao cair no chao, todornundo se protege estendendo os braces, e como indicou 0pro-fessor Alison, poucos podem impedir-se de faze-lo ao deitarem-se voluntariamente numa cama macia, Urn homem quando saide casa poe suas luvas inconscientemente; isso pode parecer umaoperacao extremamente simples, mas aquele que ja ensinou umacrianca a faze-lo sabe que nao e assim tao facil.

    Quando nossas mentes estao muito afetadas, tambern osmo-vimentos dos nossos corpos se aIteram. Mas af urn Dutro princl-pio alern do habito entra parcial mente em ac;:ao:a sobrecarga naodirecionada de forca nervosa. Como disse Norfolk sobre 0car-dealWolsey:

    Uma estranha comofiJoOcorre e m s eu c ere bro : e le m or de o s / Ab io s e se m ov e;P ar a d e repente , o lh a pa ra 0 chao,Depois pousa 0 d ed o s ob re a t em p or a; em pe rt ig ad oDesanda em acelerada martha; d ep oi s, p ar a d e n ov o,B ate f ort e n o p e it o; e a i, l an eao o lh ar p am a lua: as mais es tranha s po s tu rasN6s 0 v imos a s sum i r.

    H e nr iq ue V II I, ato 3, cena 2

    Urn homem vulgar frequentemente cOIYa cabeca quandoperplexo. Acredito que age assim por habito, como seexperimen-

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    tasse urna sensacao corporal Ievemente desagradavel, a cabecacocando, a qual e particularmente suscetivel, e ele, entao, a ali-via. Urn outro homem esfrega os oihos quando perpiexo, au tos-selevemente quando ernbaracado, agindo em ambos as casos co-mo se sentisse uma sensacao levernente desconfortavel em seusolhos ou traqueia,'

    Pelo seu uso continuo. os olhos sao especial rnen te suscet ive isde ativacao por associacao nos mais variados estados de esplri to,mesmo que manifestamente nao haja nada a servisto. Como obser-va Gratiolet, urn hornern que rejeita veernenternente uma propos-ta quase com certeza fechara seus olhos all desviara a rosto. Masseaceitar a proposta, ele balancara a cabeca afirrnativamente comas olhos bern abertos. Nessa ult ima situacao, a homem age comosepudesse daramente ver 0 caso, e na primeira situacao, como se.nao pudesse all nao quisesse ver. Percebi que as pessoas, ao des-crever algo assustador que tenham visto, frequentemente fechamos olhos com forca por um instante, ou rnexern a cabeca, comopara nao ver ou afastar 0acontecido. E eu mesmo ja me pegueifechando os olhos firmementc ao pensar, no escuro, em algurn es-petaculo tenebroso. Quando olhamos subitamente para urn obje-to, au olharnos em volta de nos, tad os erguemos as sobrancelhaspara abrir bern e rapido os olhos, Duchenne observa' que umapessoa, quando tenta lembrar de alguma coisa, muitas vezes le-vanta as sobrancelhas como para poder ve-la. Urn senhor hindufez exatamente a mesma observacao a respeito de seus cornpa-triotas para a sr. Erskine. Observei urna jovern que tentava de to-das as maneiras lembrar 0 nome de urn pintor e assim olhava pa-ra urn canto do teto, depois para outro, arqueando a sobrancelhade urn lado; e claro que nao havia nada a ser vista ali.

    Na maioria desses casas que citei, podemos entender comomovimentos associados foram adquiridos pelo habito. Mas emalguns individuos, certos gestos au cacoetes apareceram associa-

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    dos a estados de espirito sem uma explicacao razoavel, e sao in-dubitavelmente herdados. fa apresentei em outro Iugar urn exem-plo que eu mesmo observei de urn extraordinario e complexogesto, associado a sentimentos prazerosos, que fora transmitidode pai para filha, e mais outros fatos analogos," Ainda neste vo-lume darei outro curiosa exemplo de urn estranho movimentohereditario associado com a desejo de obter urn objeto.

    Existem outras acoes que costumam ser desernpenhadas emcertas circunstancias, independentemente do habito, e que pare-cern dar-se por irnitacao au urna forma de concordancia, Assim,pessoas cortando alguma coisa corn urna tesoura acompanhamessemovirnento mexendo os maxilares simultaneamente. Crian-cas aprendendo a escrever frequenternente torcem a lingua demaneira ridicula cnquanto seus dedos mcxern, Conforrne asse-gurou-me uma pessoa confiavel, quando urn cantor subitamentefica rouco, rnuitos dos espectadores podem ser ouvidos pigar-reando; mas ai, provavelmente, sente-se a acao do habito, ja quen6s pigarreamos em circunstancias sirnilares, Tarnbem ouvi falarque em compcticocs de salto, muitos dos cspcctadores, em geralhomens e garotos, rnexem suns pernas ao verern urn cornpetidorsaltar, Mas aqui novamente 0 habito deve estar agindo, pois difi-cilmente uma mulher faria 0 rnesmo.

    A f o es r ef le x as . - As acoes reflexas, esrritarnente falando, de-vern-se' a estimulacao de urn nervo periferico, que transmite seuefeito a certas celulas nervosas, que por sua vez poem em a,,30determinados rnusculos e glandulas: e tudo isso pode ocorrer semnenhuma sensacao ou consciencia de nossa parte , em bora mui-tas vezes elas estejam presentes. Como muitas das acoes reflexassao intensamente expressivas, a questao tent de ser abordada maisdetidamente. Vcremos tarnbern que muitas delas se aproximame dificilmente podem ser difercnciadas de acoes que se estabele-ceram atraves do habito." Tossir e espirrar sao exemplos conhe-

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    cidos de acoes reflexas, Nas criancas, frequenternenre a primeiratentativa de respiracao e urn espirro, embora este requeira 0mo-vimento coordenado de diversos musculos. A respiracao e parcial-mente voluntaria, mas principalmente reflexa; e desempenhadada maneira rnais natural e efidente sern a interferencia da vonta-de. Urn grande mimero de rnovimentos complexos sao reflexos.Urn dos melhores e mais conhecidos exemplos que existem e 0da ra decapitada, que nao pode evidentemente sentir, nem cons-cientemente desempenhar, nenhurn movimento. No entanto, sepingarmos acido sobre a parte inferior da coxa desta ra, ela a esfre-gara com a superficie superior da pata dessa mesma perna. Secortarmos essa pata, "depois de algumas tentativas inuteis de selimpar, ela desiste e, agitada, segundo Pfluger, como se buscasseoutra solucao, finalmente usa a pata da outra perna, ate conse-guir esfregar 0 acido. E notavel, pais aqui nao temos apenas acontracao de rnusculos, mas sim contracoes combinadas, harrno-nieas e sequenciais com uma finalidade espectfica, Essas sao acoesque, aparentemente guiadas pela inteligencia e determinadas pe-la vontade, ocorrem num animal cujo orgao tido como respon-savel por ambas foi retirado","

    Vemos a diferenca entre acoes reflexas e volun tarias em crian-erasbern pequenas que, segundo informa Sir Henry Holland, naosao capazes de executar certos atos de alguma maneira parecidoscom aqueles de tossir e espirrar, como assoar 0nariz (isto e,com-primir 0nariz e soprar fortemente pela passagem) ou pigarrear,Elas precisam aprender a executar esses atos e, todavia, quandomais velhos, todos conseguimos faze-los quase tao facilmentequanto acoes reflexas. Espirrar e tossir, entretanto, podem sercontrolados s6 parcialmente, ou nem isso, pela vontade. Enquan-to assoar 0nariz e pigarrear estao sob nosso total contrale.

    Quando tomamos consciencia de alguma particula irritanteem nossas narinas ou traqueia - au seja, quando as mesmas ce-

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    lulas nervosas sensitivas que desencadeiam 0 espirro e a tosse saoexcitadas -, podemos voluntar iamente expelir a particula for-cando ar par estas vias. Mas nao conseguimos faze-lo com a mes-rna forca, rapidez e precisao de uma a.yaoreflexa. Nessa ultimasituacao, as celulas nervosas sensitivas aparentemente estimulamas celulas nervosas motoras sem 0desperdfcio de forca de comu-nicar-se primeiro com os hemisferios cerebrais - sitio da nossaconsciencia e volicao, Em todos os casos parece haver urn pro-funda antagonismo entre os mesmos movimentos, como dirigi-dos pela vontade e por urn estmulo reflexo, na forca com que saoexecutados e na facilidade com que sao desencadeados, depen-dendo de serem voluntaries ou reflexos. Como diz Claude Ber-nard: "Ainfluencia do cerebro tende, portanto, a entravar os rno-vimentos reflexos, a limitar sua forca e extensao" 11o desejo consciente de executar uma acao reflexa algumasvezes freia ou interrornpe a sua execucao, ainda que os nervos

    sensitivos eertos tenharn sido estirnulados. Par exemplo, temposatras, fiz urna pequena aposta com uma duzia de jovens de queeles nao espirrariam se cheirassem rape, mesmo tendo todos di-to que invariavelmente espirravam quando 0faziam. Assim, to-dos aspiraram urn pouco do p6, mas por tentar conseguir tao fir-rnemente, nenhum espirrou, apesar de seus olhos lacrimejarem,e todos, sem excecao, tiveram de pagar a aposta. Sir H. Hollandobserva" que, se prestamos atencao ao ato de engolir, interferi-mos com os movimentos adequados. De onde provavelmente de-corre, pelo menos em parte, a dificuldade que tern algumas pes-soas em engolir comprimidos.

    Dutro conhecido exemplo de ac;:aoreflexa eo fechamentoinvoluntario dos olhos quando a sua superflcie ~tocacla. Urn mo-vimento sernelhante de pisear e provocado quando urn soproatinge 0 rosto: mas essa e uma acao habitual e nao estritamentereflexa, pois 0estimulo e transmitido atraves da mente, e nao pe-

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    la excitacao de nervos perifericos, 0corpo inteiro e a cabeca saoem geral subitamente jogados para tras ao rnesmo tempo. Essemovimento pode, no entanto, ser contido se 0 perigo nao pare-cer irninente para a imaginarrao. Mas nao basta nossa razao nosdizer que nao existe perigo. Posso mencionar urn acontecimentobanal que ilustra isso, e que me divertiu quando sucedeu, Apro-ximei meu rosto do grosso vidro de urn v ive iro de v fbo ras no jar-dim zool6gico, determinado a na o me afastar casu a cobra ata-casse, Mas tao logo el a se precipitou sobre rnirn, minha resoiucaode nada me valeu e eu pulei urn ou dois metros para tras com irn-pressionante rapidez. Minha vontade e razao foram imiteis dian-te de imaginar urn perigo que nunea h av ia s id o experimentado.

    A violencia de urn susto parece depender em parte da forcada imaginacao e em parte das condicoes, habituais ou momen-taneas, do sistema nervoso. Quem observar a diferenya entre ossustos de seu cavalo quando esta cansado e quando esta repou-sado, percebera quao perfeita e a gradacao entre urn simples olharpara alguma coisa inesperada, com uma duvida rnornentaneaquanto ao perigo que apresenta, eum pulo tao rapido e violentoque 0animal dificilmente conseguiria reproduzi-lo se 0desejas-se. 0 sistema nervoso de urn cavalo robusto e bem alirnentadornanda suas ordens ao sistema motor tao rapidamente que naoha tempo para ele cogitar se 0perigo e real. OepoIs de urn sustoviolento, quando 0cavalo esta instigado e 0sangue flui livremen-te em seu cerebro, eIe fica muito suscetlvel a assustar-se de novo.E assim tambern ocorre, como pude observar, com os bebes,o susto de urn barulho repentino, quando 0esnmulo e trans-mitido pelos nervos auditivos, nos adultos e sernpre acompanhadodo pisear dos olhos." Observei, no entanto, que apesar de meusbebes assustarem-se com barulhos inesperados, quando tinhammenos de quinze dias des nao piseavam sernpre, acredito mesmoque nunca piscavam. 0 susto de urn bebe rnais velho assemelha-

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    III1!II'L

    sea uma vaga tentativa de segurar-se em alguma coisa para tentarnao cairoBalancei uma caixa de papelao diante dos olhos de urndos meus filhos, com 114 dias de vida, e ele de maneira aIgurnapiscou, Mas quando pus alguns doces na caixa e repeti 0gesto namesma posicao, chocalhando 0que havia dentro, ele piscou vio-lentamente e assustou-se urn pouco. Obviamente era irnpossivelque urn protegido bebe pudesse ter aprendido pela experienciaque urn ruido desse tipo indicasse algum perigo para ele.Mas es-sa experiencia ten! sido lentamente adquirida numa idade rnaisavancada durante urna longa serie de geracoes. E pelo que sabe-mos da hereditariedade, nao M nada improvavel na transrnissaode urn habito para urn descendente em uma idade mais precocedo que aquela em que este habito foi anteriorrnente adquiridopelos seus pais.

    Por tudo que virnos ate aqui, parece provavel que algumasacoes, de inicio executadas conscientemente, converterarn-se pe-Ia forca do habito e da associacao em acoes reflexas, e foram taofirmemente fixadas c hcrdadas que sao cxecutadas mcsmo quan-do n ao tern a menor utilidade," toda vez que as mesmas causas,que original mente as provocaram em nos por meio da vontadc,reaparecern. Nesses casos, as celulas nervosas sensitivas excitamas celulas motoras sern cornunicar-se com aquelas celulas dasquais dependem a nossa consciencia e volicao, E provavel que 0espirro e a tosse foram originalmente adquiridos atraves do habi-to de expelir, tao violentamente quanta posslvel, qualquer parti-cuia irri tante das sensiveis vias aereas, No que depende do tem-po, ja se passou mais do que 0suficiente para que esses habitossetornassem inatos ou fossem convertidos em arroesreflexes, poiseles sao comuns a quase todos os quadrupedes superiores. De-vern, portanto, tee sido adquiridos num periodo muito remoto.Par que pigarrear nao e urna arrao reflexa e precisa ser aprendido

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    pelas nossas criancas, nao me arrisco a dizer. Mas podemos per-ceher por que temos de aprender a assoar 0nariz num lenco.e diflcil acreditar que os movimentos, tao hem coordena-dos para uma finalidade especifica, de uma ra decapitada quan-do retira urna gota de acido ou qualquer outra coisa da sua coxa,nao tenham sido de inlcio executados voluntariamente. Facilita-dos posteriormente pelo efeito prolongado do habito, tornararn-se finalmente inconscientes, ou independentes, dos hemisferioscerebrais,

    Novarnente, parece provavel que a reacao de susto foi ad-quirida em sua origem pelo habito de afastar-se tao rapido quan-to possivel do perigo, toda vez que os nossos sentidos nos aler-tassem. Todo susto, como vimos, e acompanhado pelo fechamentodas palpebras - como para proteger os olhos, os rna i s frageis esenslveis orgaos do corpo. Eacredito que essa reacao tambern esempre acompanhada por uma forte e subita inspiracao, umapreparacao natural para qualquer esforco violento. Mas, quandourn homern ou urn cavalo se assusta, sell coracao bate furiosa-mente contra suas costelas, e nesse caso podemos dizer que estee urn orgao que verdadeiramente nunca esteve sob 0 controle davontade, e que participa das reacoes reflexas do organismo. Re-tomarei essa questao num capitulo posterior.

    A contracao da iris quando a retina e estimulada por umaluminosidade intensa e outro exemplo de urn movimento quenao pode ter sido inicialmente voluntario e depois incorporadoatraves do habito: nao se conhece nenhum animal que tenha con-trale voluntario da iris. Nesses casos, alguma explicacao quenaoo habito tera de ser encontrada. A irradiacao de forca nervosa decelulas nervosas intensamente estimuladas para outras celulasconectadas, como no caso de uma luz forte na retina causandourn espirro, pode talvez nos ajudar a compreender como algu-mas acoes reflexas originam-se, A irradiacao de forca nervosa

    desse tipo, se provocasse urn movimento para aliviar a irritacaoprimaria, como quando a iris contrai-se impedindo que urn ex-cesso de luz atinja a retina, pode poster iormente ter sido apro-veitada e modificada para essa finalidade especffica.

    Tambem merece atencao 0fato de que muito provavelmen-te as acoes reflexas estao sujeitas a pequenas variacoes, como to-das as estruturas corp6reas e instintos; e toda variacao que fossebenefica e suficientemente importante tenderia a ser preservadae herdada. Portanto, acoes reflexas, urna vez adquiridas para umafinalidade, podem depois ser modificadas independentementeda vontade e do habito, para servir a outra finalidade. Tais casosfariarn paralelo com aqueles que. temos todas as razoes para acre-ditar, ocorreram com muitos instintos; pois, se alguns instintosforam desenvolvidos simplesmente por urn longo e hereditariohabito, outros, altamente complexos, 0 foram par meio da pre-servacao de variacoes de instintos preexistentes - ou seja, pormeio d a s el ec ao natural.

    Abordei a aquisicao das acoes reflexas com alguma ampli-tude. ainda que de maneira imperfeita, como bern 0sei, porqueetas sao frequentemente lembradas em conexao com movimen-tos que exprimem nossas emocoes, E era necessario demonstrarque pelo menos algumas delas foram primeiro adquiridas pormeio da vontade para satisfazer urn desejo, au aliviar uma sensa-'Taodesagradavel,

    Mo vim en to s h ab itu ais a ss oc ia do s n os a nim a is in fe rio re s. -J a apresentei diversos casos de movimentos nos homens, asso-ciados com varies estados da mente e do corpo, que agora naotern finalidade alguma, mas que foram originariamente uteis , eainda 0sao em certas circunstancias, Como esse ponto e para n6sbastante importante, relatarei a seguir urn consideravel mimerode fatos analogos, ainda que muitos sejam banais, observados nos

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    anirnais. Meu objetivo e mostrarque certos movimentos eramoriginalmente executados comuma finalidade precisa, e que emsituacoes semelhantes eles ain-da sao persistenternente execu-tados, mesmo que irniteis, porforca do habito, Podemos infe-rir que essa tendencia, na maio-ria dos casos a seguir, e heredi-

    taria, pelo fato de essas acoes serem desempenhadas da mesmamaneira par todos os individuos, jovens e velhos, de uma rnes-rna e sp ec ie . T ambe rn veremos que eles sao desencadeados pelasmai s d i ve rs a s, f req uen te rn ent e tortuosas e algumas v eze s equ iv o -cadas associacoes.

    Os caes, quando desejam dormir num tapete au em outrasuperflcie dura, geralmenre girarn em torno e esfregam 0 chaocom suas patas dianteiras numa atitude scm sentido, como sequisessem pisotear a grama e cavar urn buraco, da mesrna formaque seus ancestrais selvagens certarnente faziam quando viviamnas arnplas pradarias au bosques. No jardim zoologico.chacais,fenecos e outros animais afins fazem 0mesmo com sua palha;mas e estranho que as Iobos, como observam seus tra tadores,nunca a facam, Urn cachorro serni-idiota - e urn animal nessascondicoes estaria particularrnente propenso a seguir urn habitosern sentido - foi visto pelo seu dono girar em torno do tapetct re ze v ez es antes de se deitar.

    Muitos anirnais carnlvoros, quando se aproximam cuidado-samente de uma presa preparando-se para ataca-la, abaixam acabeca e se agacham como para esconder-se, mas tambern parapreparar 0ataque; e esse habito, numa forma exagerada, tornou-se hereditario em nossos pointets e setters. leipude observar inu-

    Fig . 4 ->Cacho rr o p equ eno o b se r va n -d o g ato s ob re u ma m es a. A p ar tir d ef ot og ra f ia t ir ad a p e lo s r, R e jl an d er ,

    .10;.. . . . . .

    jIiIIJ

    rneras vezes que quando dais cachorros estranhos se encontrarnnuma estrada aberta, 0 primeiro a avistar 0 outro, ainda que amais de cern au duzentos metros, depois da primeira olhada, sem-pre abaixa a cabeca, agacha-se au ate mesrno deita ; ou seja, eletoma a ati tude adequada para esconder-se e preparar urn ataque,mesmo a estrada sendo aberta e a distancia, grande. Mais ainda,caes de todas a s r a ca s , quando observam f ixamente e aproximarn-selentamente de suas presas, frequentemente levantam e dobramuma das paras dianteiras, prontos para 0proximo cuidadoso pas-so; e isso e particularrnente caracteristico do pointer. Mas pelohabito elesse comportarn dessa rnesrna rnaneira toda vez que suaatencao e despertada (fig. 4). Eu ja vi urn cachorro parado emfrente de urn mum alto, escutando atentamente urn barulho vindodo outro lado, e com uma pata dian teira dobrada; e nesse casonao poderia haver a intencao de uma aproximacao cuidadosa.

    Depois de defecar , as dies geralmente escavam 0chao para trascom asquatro patas, mesmo num chao de pedra, como para cobrirseus excr ernentos com terra, quase da mesma rrianeira que fazernos gatos. Lobos e c ha ca is c or np or tam -s e da rnesma maneira nojardim zoologico, mas como me asseguraram seus tratadores, 10 -bas, chacais e raposas, tanto quanto os cacborros, nunca cobremtotalmente seus excrernentos, mesmo quando tern possibilidadede f az e- lo , T o do s esses animais, contudo, enterrarn 0alimentoque sobrou. Portanto, se compreendernos corretarnente 0signi-ficado deste habito assernelhado ao dos gatos, do que nao podehaver m uita duvida, tcm os lim rcm ancsccnte inutil de LUn movi-menta habitual. o ri gin al me nte e xe cu ta do com algurna finalida-de precisa por algum remote ancestral do genera dos caes, e quef o i conservado par um tempo prodigioso.

    Caes e chacais" tern grande prazer em rolar e esfregar ascos-tas e 0pescoco na carnica, 0 odor Ihes parece delicioso, emboraas dies, pelo menos, nao comam carnica. 0 sr. Bartlett observou

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    lobos para mim e deu-Ihes carnica, mas nunea os viu rolar sobreeIa. I a ouvi antes, e acredito ser verdade, que os des maiores, queprovavelmente descendem dos lobos, nao rolam tanto na carni-ca quanto as pequenos, que possivelrnente descendem dos cha-cais, Quando urn biscoito marrom e oferecido a rninha terrier eela nao esta com fame (eja ouvi outros exemplos iguais), ela pri-meiro a joga de urn lada para 0outro e 0mordisca, como se fos-se urn rata ou outra presa: depois rola sobre ele, exatamente co-mo se Fosseuma carnica, e finalmente 0come. E como se tentasseimaginar algurn sabor especial para 0 insosso biscoito, E paraconsegui-Io, a cachorro age na sua maneira habitual, como se abiscoito fosse urn animal vivo ou cheirasse a carnics, ainda queele saiba melhor do que nos que isso nao e verdade. Eu j a vi essamesma terrierfazer igual depois de matar urn passarinho ou urncamundongo.

    Os cachorros cocam 0pelo com urn rapido movimento deuma das patas traseiras, Quando rocamos seu traseiro com urnbastao, tao forte ~ 0 habito que eles nao podem impedir-se deimediatamente cocar a ar au a chao de urn jeito cornice e inutil.A terrier de que falei, nessa situacao, as vezes mostra sua satisfa-'Yaocom urn outro movimento habitual: lambendo 0ar como seFosseminha mao.

    Os cavalos se cocarn mordiseando as partes de seu corpo queconseguem alcancar com os dentes; mas, no mais das vezes, urncavalo indica a outro onde quer ser cocado, e assim eles se mor-discam urn ao outro. Urn amigo, a quem chamei a atencao parao fate, observou que quando ele cocava 0pescoco de seu cavalo,este projetava a cabeca, descobria seus dentes e movia a rnandi-bula exatamente como seestivesse mordiscando 0pesco(jo de ou-tro cavalo, pais jamais poderia ter mordiscado 0pr6prio pesco-' Y o . Se fazemos muitas cocegas num cavalo, como quando 0escovamos, seu desejo de rnorder torna-se tao insuportavelmen-

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    te forte que ele range os dentes e, mesmo nao sendo mau, mordeseu criador. Par habito, ao mesmo tempo abaixa as orelhas paraprotege-las de uma mordida, como se estivesse numa briga comoutro eavalo.

    Quando deseja sair para urn passeio, 0 cavalo faz 0que demais parecido ha com 0movimento normal de andar: marchascm sair do lugar. Agora, quando os cavalos estao para ser ali-mentados nos estabulos e estao ansiosos pelo seu cereal, piso-teiam 0 chao ou a palha. Dais de meus cavalos assim 0 fazemquando ouvem 0cereal ser dado aos seus vizinhos. Mas aqui te-mos a que podemos charnar de uma ve rdadei ra expre s sao , ja quepisotear 0chao pode ser reconhecido como urn sinal universalde irnpaciencia.

    Os gatos cobrern seus excremeiltos dos dois tipos com ter-ra. Meu avo" viu urn gatinho jogando cinzas sobre umas gotasde agua limpa espirradas na lareira; nesse caso, uma ac;:aohabi-tual ou instintiva foi falsamente desencadeada nao por uma ati-tude anterior ou urn cheiro, mas peia visao. E sabido que os ga-tos nao gostam de molhar suas patas, provavelmente devido aofato de terem originalmente habitado asterras aridas do Egito: equando as molham, eles assacodem violentamente. Minha filhacolocou urn poueo de agua num copo perto da cabeca de um ga-tinho, e ele imediatamente chocalhou suas patas da maneira usual.Ou seja, aqui temos um movimento habitual, falsamente desen-cadeado par urn ruido associado, em lugar do tatoo

    Gatinhos, cachorrinhos.Ieitoes e possivelmente muitos ou-tros animaisesticarn alternadamente suas patas dianteiras con-tra as glandulas marnarias de suas rnaes para facilitar a secrecsodo leite ou faze-lo fluir. Mas e muito comum entre as fiIhotes degato, e de maneira alguma raro com gatos mais velhos comunsau da raca persa (que alguns naturalistas acreditam estar especi-ficamente extintos), quando confortavelmente deitados sobre

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    uma manta quente au outra coisa rnacia, que des a arnassem le-ve e aiternadamente com suas patas dianteiras, as dedos abertose as unhas discretamente protraidas, exatamente como quandoestao mamando ..E facil perceber que se trata do mesmo movi-mente, porque eles em geral chupam urn pedaco da manta aomesmo tempo, e fecham osolhos ronronando de prazer. Esse curio-sa movimento e comumente desencadeado associado com a sen-sacao de uma superficie quente e macia; mas eu vi urn velho ga-to, satisfeito por cocarem suas costas, tentando amassar 0ar comsuas patas do mesmo jeito, De tal maneira que esta ati tude prati-camente tornou-se a expressao de uma s ens acao p raze ros a .

    Tendo me referido ao ato de mamar, devo acrescentar queesse complexo movirnento, como tam bern a protrusao alternadadas patas dianteiras sa o acoes reflexas; elas sao igualmente exe-cutadas se colocarmos urn declo molhado com leite na boca deurn cachorrinho cuja parte frontal do cerebra foi removida." Poirecentemente estabelecido na Franca que 0 ate de mamar e de-sencadeado exclusivamente pelo olfato; assim, se os nervos olfa-tivos de urn cachorrinho forem destruidos, ele nunca marnara.Da mesma maneira, a impressionante capacidade que tern urnfrango de, poucas horas depois de sair do ovo, catar pequenospedacos de alimento, parece ser desencadeada pela audicao: pais,com frangos chocados artificial mente, urn born observador des-cobriu que "fazer urn barulho com a unha num tabuleiro, imi-tando a galinha mae, os ensinava a picar sua comida" 18

    Darei apenas mais urn exemplo de urn rnovimento habituale inutil . 0 merganso (Tadorna) alimenta-se nas areias descober-tas pela mare, e quando descobre urn verrne, "ele se poe a piso-tear a areia como sedancasse sabre 0buraco", e isso faz com queo verme saia. Ora, diz 0sr. St. John, quando os seus mergansosdomesticados "vinharn pedir comida, eles pisoteavam 0chao demaneira impaciente e frenetica" 19 Essa pode, portanto, ser prati-

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    camente considerada a sua maneira de exprimir fome. 0sr. Bar-tlett informa que 0flamingo eo kagu (Rhinochetosjubatus),quan-do ansiosos para serem alimentados, batem no solo do mesmoestranho jeito. E tarnbern 0martim-pescador, quando pega urnpeixe, sempre a bate ate que mona; no jardim zoologico, elessempre batem a carne crua com que sao, as vezes, alimentados,antes de devora-Ia,

    Penso que agora conseguimos demonstrar satisfatoriarnen-te a verdade do nosso primeiro principia; isto e , sernpre que qual-quer sensacao de desejo, aversao etc. tenha ocasionado algummovimento voluntario durante um a longa serie de geracoes, umatendencia a execucao de movimento similar sera quase certarnen-te desencadeada toda vez que a mesma - au seme1hante e asso-dada - sensacao etc., ainda que fraca, for experimentada; naoimportando que 0movimento seja nesse caso absolutamente inu-til. Tais movimentos habituais sao frequenternente, au no geral,herdados; e eles assirn pouco diferem das acoes reflexas. Quandolidamos com as expressoes especiais do homem, a ultima partede nosso primeiro principia, como exposto no corneco deste ca -pitulo, provara ter valor; ou seja, que quando movimentos, asso-ciados pelo habito a certos estados de espirito, sao parcial mentereprimidos pela vontade, os musculos exclusivamente involun-tarios, como tarnbern aqueles menos submetidos ao controle davontade, tendem a continuar agindo. E sua a.yaoe frequcnternen-te muito expressive. Ao contrario, quando a vontade esta tempo-raria ou pcrmanentemcnte cnfraquccida, os rnusculos voluntariescedem antes dos involuntarios, E fato conhecido dos patologis-tas que, como observa Sir C. BelI,2"quando a fraqueza provemde uma afeccao do cerebro, a influencia e maior naqueles rmis-culos que, em sua condicao natural, estao rnais sob a controle da

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    v on tad e" C on sid erar em os ta rn be rn em n os so s p r6 xim os ca pitu -lo s uma o utra p ro po sic ao in clu id a e m n os so p rim eiro p rin clp io ,a sa be r, a rep re ss ao d e alg un s m ov irn en to s h ab itu ais as v ez es re -qu er ou tro s p eq uen os m ov im en to s, serv in do esses u ltirno s co -m o meio s d e e xp re ss ao ,

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    2. Principios g er ais da expressao- continuacao

    o princlpio da antlte se - Exemplos nos cachorros e nos gatos -Origem do princlpio - Sinais convencionados - 0 princlpio daanrlte se nao surgin do fato de que a~j) es oposta s 53.0 consciente-mente executadas sob impulsos opostos

    Cons id er ar emos a go ra no ss o s egundo p ri nc lp io , 0da antite-se . C e rto s e stad os d e es plr ito p ro vo ca m, como v im os n o p rim ei-r o c ap it ul o, d et erm inado s mov iment os habituais, q ue fo ra m o ri-g in a ri ament e u te is , e podem con ti nu ar a s e- lo ; e n6 s des cob ri remosq ue , q ua nd o u rn e sta do d e e sp ir ito d ir etame nte c on tr ar io e indu-zido, ha um a f or te e in vo lu nta ria te nd en cia a e xe cu ca o d e movi-r ne nto s d e n atu re za o po sta , a pe sa r d e e ss es n un ca te re rn s id o uteis,Quan do tr ata rm os d as e xp re sso es es pe ciais d os h orn en s, alg un sim p re ss io na nte s e xemp lo s d e a ntite se s er ao d ad os . M a s c omo n es -s es ca sa s co rre mo s a ris co d e c on fu nd ir g esto s e e xp re ss oes eo n-v en cio na is e a rtif ic ia is c om a qu ele s q ue s ao in ato s e u niv er sa is , e56 e sse s m eree em s er c ha mad os d e ex pre sso es v erd ad eiras , res -t ri ng ir -me -e i n e st e c ap it ul o a os a n ima is inferiores,

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