cultura corporal na escola

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CULTURA CORPORAL NA ESCOLA: Tarefas da Educacao Fisica Michell Ortega Escobar* ABSTRACT The text wants to show de knowledge purposed of the Physical Edcuatio en the "Corporal Culture". This name is given to a hig and rich field of the Culture that contain the expressive-comunicative productions, specially subjectives, to explained the corporal expression. To amplify the concept of "Corporal Culture" putting the Physical Education, pedagogically, under presuppositions of Critical Pedagogy for Overconing Difficulties, that point to constuction in a now quality in the development of the pedagogy practices, that came of the social existence movement, a ligth of a new historic project. KEY TERMS: Physical Education, Corporal Culture, Critical Pedagogy for Overconing Difficulties. RESUMO Fundamenta-se o conhecimento objetivo da Educacao Fisica na "Cultura Corporal", denomina- C50 dada ao amplo e riquissimo campo da cultura que abrange a producao de praticas expressivo- comunicativas, essencialmente subjetivas, externalizadas pela expressào corporal. Amplia-se o conceito de "Cultura Corporal" situando a Educacao Fisica, pedagogicamente, sob os pressupostos da Pedagogia Critico-Superadora a qual aponta para a construck de urn nova qualidade no desenvolvimento da pratica pedag g gica, advinda do conteOdo e forma dessa cultura que emerge do movimento da existência social, a luz de urn novo projeto histarico. UNITERMOS: Educacao Fisica, Cultura Corporal, Pedagogia Critico-Superadora. * ProP Adjunto IV - UHF - Doutoranda - Faculdade de Educacao da UNICAMP.

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ARTIDO SOBRE CULTURA CORPORAL NA ESCOLA

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  • CULTURA CORPORAL NA ESCOLA:Tarefas da Educacao Fisica

    Michell Ortega Escobar*

    ABSTRACT

    The text wants to show deknowledge purposed of thePhysical Edcuatio en the"Corporal Culture". This name isgiven to a hig and rich field ofthe Culture that contain theexpressive-comunicativeproductions, speciallysubjectives, to explained thecorporal expression. To amplifythe concept of "CorporalCulture" putting the PhysicalEducation, pedagogically, underpresuppositions of CriticalPedagogy for OverconingDifficulties, that point toconstuction in a now quality inthe development of the pedagogypractices, that came of thesocial existence movement, aligth of a new historic project.

    KEY TERMS: PhysicalEducation, Corporal Culture,Critical Pedagogy for OverconingDifficulties.

    RESUMO

    Fundamenta-se o conhecimentoobjetivo da Educacao Fisica na"Cultura Corporal", denomina-

    C50 dada ao amplo e riquissimocampo da cultura que abrange aproducao de praticas expressivo-comunicativas, essencialmentesubjetivas, externalizadas pela

    expresso corporal. Amplia-se oconceito de "Cultura Corporal"

    situando a Educacao Fisica,pedagogicamente, sob os

    pressupostos da PedagogiaCritico-Superadora a qual aponta

    para a construck de urn novaqualidade no desenvolvimento da

    pratica pedagggica, advinda doconteOdo e forma dessa cultura

    que emerge do movimento daexistncia social, a luz de urn

    novo projeto histarico.

    UNITERMOS: Educacao Fisica,Cultura Corporal, Pedagogia

    Critico-Superadora.

    * ProP Adjunto IV - UHF - Doutoranda - Faculdade de Educacao da UNICAMP.

  • m 1992, no livroMetodologia do En-sino da Educaco Fi-sica, da EditoraCortez, o Coletivo deA utores, do qual fag()parte, fundamenta aidentidade da discipli-na escolar: Educacdo

    Fisica, num campo da cultura do qualseriam apreendidas man i festacks taiscomo jogo, danca, gindstica, etc., queconstituiriam a area de conhecimento-objeto da disciplina. Neste texto tentareiampliar esse conceito de "Cultura Cor-poral", situando a disciplina EducacoFisica, pedagogicamente, a partir dospressupostos da corrente que no campoeducacional reconhece-se como Critico-Superadora. Num segundo momento fa-rei algumas sugestOes para o trato daCultura Corporal na escola.

    A nossa adeso a Pedagogia Criti-co-Superadora deve ser compreendidamenos como uma recusa ou desaprova-cao radical de outras propostas, a exem-plo da Pedagogia HistOrico Critica, doque explicitacfto do "lugar" em que fala-mos, do projeto histOrico que defende-mos. Adjetivamos de "Superadora" acritica ao sistema educacional atual queemerge das bases do social - que porsocial histOrico - e que aponta para aconstrucdo de uma nova qualidade nodesenvolvimento da prdtica do profes-sor. Compreendemos a Pedagogia, damesma forma que Schmied-Kowarzic(1988), como uma "cithcia prdtica da epara a educacao", por esse motivo nossaabordagem da Educacao Fisica, comodisciplina escolar, envolve a escola como

    MoirIvIt@icla

    instituicao/produto histOrico e social quesb pode ser considerada dentro da tota-lidade em transformaco da qual fazparte.

    A Pedagogia Critico-Superadorasubjaz o projeto histOrico marxista, pro-jeto que, segundo Manacorda (1991),deve ser considerado de modo organicono contexto de uma rigorosa critica asrelacOes sociais prOprias do modo deproducAo capital ista. A partir dessa po-sick), uma educacAo "transformadora"pode ser tida como tal, somente, quandoprofundamente ligada a um projeto revo-luciondrio de sociedade que, em consi-deracdo a realidade atual, reconheca aluta de classes como instancia de supe-racao das estruturas sociais e tenha naclasse operdria a base das suss transfor-macOes. Como revoluciondria, essaeducacAo s6 pode ser vinculada a umaPedagogia claramente socialista que sealicerca no material ismo hist6rico-dialetico e no marxismocomo concepcAode homem e de histOria comprometidoscom a praxis revoluciondria. Em conse-q 11 nc i a, a "Pedagogia Critico-Superadora" a uma Pedagogia que as-sume clara e explicitamente o projetohistOrico socialista.

    Essa Pedagogia expressa seu nivelqualitativamente diferente numa teoriaeducacional que discute as relacOes en-tre educacAo e sociedade e o tipo dehomem que se quer formar, Homem quevive numa dada sociedade num dadomomento histOrico determinado por umaconfiguracao social e por urn desenvol-vimento material concreto e, por isso,com determinadas e especificas exigdn-cias no piano educativo. Ela concretiza-se na sala de aula a partir de uma teoria

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    pedagOgica - norte pedagOgico-diddtico- que se constrOi a partir de categorias daprOpria prtica docente.

    Sabe-se que a educacao e ainculcacao de uma serie de valores, idei-as e atitudes predeterminados, mas, des-de que as modal idades de conscienciasocial emergem das bases socials con-cretas, como a producao e a divisaosocial do trabalho, o objetivo e problemacentral do processo educativo escolardeve ser a tomada de consciencia. Issosignifica que uma Pedagogia superadoranao deve, apenas, opor valores distin-tos, sena() que evidenciar a relacao entreos valores educativos e as condicaesmateriais subjacentes, contribuindo paraa destruicao dessas bases materiais namedida em que fazem parte de uma fasehistOrica esgotada (Enguita, 1993). Nosentido assinalado, a tomada de consci-encia inicia-se a partir de uma nova prd-tica, nao espontdnea, mas alimentadapor uma teoria que representa "(...) oresumo da experiencia teOrico-prdtica daluta dos povos pela sua emancipacao eesta disponivel no partido da classeoperdria" (Freitas, 1991).

    A Pedagogia Critico-Superadoranao pode ser interpretada como"reformism pedagOgico" que postulamudancas atraves da acao educativa,posicao que desemboca, irremediavel-mente, napratica de inculcacao criticadas.

    0 aprofundamenfo na histOria levaa compreenderque a atividade pratica dohomem, motivada pelos desafios da na-tureza, desde o erguer-se da posicaoquadrUpede ate o refinamento do use dasua mao, foi o motor da construcao dasua materialidade corprea e das habili-

    dades que !he perm itiram transformar anatureza. Este agir sobre a natureza, paraextrair dela sua subsistncia, deu inicioconstrucao do mundo humano, do mun-do da cultura. Por isso, "cultura"implicaapreender o processo de transformacaodo mundo natural a partir dos modoshistOricos da existncia real dos homensnas suas relaci3es na sociedade e corn anatureza. Siqueira nos amplia o conceitode cultura nos seguintes termos:

    "(...) e urn fenOmeno social querepresenta o nivel alcancado pelasociedade em determinada etapahistOrica: progresso, tecnica, ex-perid ncia de produceio e de traba-lho, instrucdo, educacdo, filoso-fia, ciencia, literatura, arte e ins-tituiciies que Ihes correspondem.A cultura nelo a uma categoriasociolOgicaempirica. Quando nosreferimos ao fenOmeno cultura,nao se trata de teorizar sobre acultura em geral, abstrata, mas deagir, corn suporte conceitual, so-bre a cultura presente, concreta,procurando transforms-la,estende-la e aprofunda-la"(Siqueira, 1992).

    Visual izamos, hoje, resultantes daconstrued() histOrica da nossacorporeidade, urn acervo de atividadesexpressivo-comunicativas corn signifi-cados e sentidos ludicos, esteticos, ar-tisticos, mIsticos, agonistas - ou de outraordem subjetiva - que apresentam, comotraco comum, serem fins em si mesmas,serem consumidas no ato da sua produ-cao. Ent. elas podemos citar os jogos, aginistica, a danca, a mimica, o malabaris-

  • mo, o equilibrismo, o trapezismo, e mui-tas e muitas outras. Cabe, no entanto,reconhecer que etas no indicam que ohomem nasceu saltando, arremessando,jogando. Essas atividades foramconstruidas em determinadas epocashistOricas como respostas a determina-das necessidades humanas.

    Se considerarmos a complexa na-tureza dessas atividades, contemplandosua subjetividade e as contradicaes en-tre os sign i ficados - de natureza social -e os sentidos - de natureza pessoal - queas envolvem, poderemos avaliar o quart--to inadequado defini-las e explica-lascomo "acOes motoras".

    Como aponta Acha, quando refe-re-se a atividade criativa artistica ( o grito

    nosso):

    "(...) nos cabe situar os produtosartisticos no mundo dos objetos ecompares-los corn os cientificos etecnolegicos a luz de suas respec-tivas materialidades. Nessa com-paraciio verificaremos que nemtodos os produtos sao tangiveis eque ndo existemobjetos puramen-te artisticos, cientificos outecnolOgicos. Em todo ato ou obrahumana coexistem estruturas ourelacdes artisticas, cientificas etecnolOgicas. lsto quer dizer quetodo ato ou obra humana refleteo homem..."(Acha, 1979).

    Retracar e transmitir na escola aconstrucao da nossa corporeidade re-quer que o conhecimento sejahistoricizado ou, dito de outra maneira,que a abordagem do conhec.. nento evi-dencie para o aluno o nexo geral dessas

    MotrIvIcla

    atividades expressivo-comunicativas: aexpresso corporal como linguagem.

    A expressao corporal como lingua-gem representa a "forma" geral e predo-minante da grande diversidade de prati-cas como as referenciadas e por isso e ofib condutor para esclarecer a procedn-cia do contend dos conceitos: jogo,gindstica, danca, mimica, malabarismo,equilibrismo, trapezismo, etc. Mas, paraconcretizar a historicizaco, o professordeve proporproblemas que demandeminvestigar e reproduzir, pedagogica-mente, as condicdes materiais-objeti-vas da procedencia do contefido daprdtica em questdo.' Historicizar nodefin ir ou conceituar essas praticas, ape-nas, com base num retorno temporal a-h istOrico, quer dizer, atravs de uma nar-rativa dos aspectos exteriores e superfi-c iais do conteudo, porque dessa maneiraimpede-se a apreenso fiel do caraterdado pelo modo de producao as etapasde desenvolvimento dessas atividadescomo fenOmeno social. Como enfatizaBourdieu (1990): "(...) 0 objeto da hist6-ria e a histeria dessas transformaceies".

    Em trabalhos anteriores, como nes-te prOprio, temos utilizado a denomina-cdo "Cultures Corporal" para designaro amplo e riquissimo campo da culturaque abrange a producdo de praticas ex-pressivo-comunicativas, essencialmen-te subjetivas que, como tat, extemalizam-se pela expressAo corporal. Essa denomi-naco "Cultura C orporal " tem sido alvode criticas por que sugeriria a existnciade tipos de cultura, como "cultura inte-lectual" ou outros. NA vemos a neces-sidade de polemizar a esse respeito, ape-nas queremos destacar que para todainterpretacdo deve prevalecer a

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    conceituacao de cultura que citamosanteriormente. Assim colocado, nao re-presenta uma incoerncia a manutencaodo nome, o qual nos parece sugestivo deum certo vinculo de fami I iaridade com oidedrio que as pessoas tem da nossa areae isso a Oti I para primeiras aproximacOes.Creio que mais adiante devera ser discu-tida a convenincia de se adotar umaoutra denominacao.

    A importancia da historicizacaonao deve ser m in im izada, vez que e oprocedimento que viabiliza a apropria-cao do conhecimento, do ambito da Cul-tura Corporal, corn a atitude critica ne-cessaria a explicacao da diversidade doscampos que a compOem. Por exemplo,face a realidade atual do fenOmeno "es-porte", um dos mais fascinantes da h is-tOria do homem, a Educacao Fisica preci-sa promover, no interior da escola, acompreensao e explicacao da ideolo-gizacao e o fetich ismo que envolvem asverdadeiras causas da transformacao daatividade ludicaem trabalho. Esta neces-sidade a premente, especialmente porque a formas em que os paises depen-dentes sao expostos a uma "culturacomercial" ocidental - na esfera da pro-ducao - e a urna "cultura de consumo "-que reforca a distribuicao desigual eperversa dos recursos - estimulam a ela-boracao conceitual da realidade a partirdos elementos lOgicos do senso comum.

    Na escola deve ser elaboradas res-postas para compreender o motor datransformacao do jogo prazeiroso emguerra, do lUdico em agonistico, do soli-ddrio em competitivo, da motivacao eincentivo da agressividade, da violnciaexacerbada no esporte que afugenta aspessoas dos espacos pUblicos das pra-

    ticas esportivas coletivas. SO noaprofundamento histOrico podem serencontradas explicacOes da diversidadede formas que assumem as praticas dosdiferentes grupos socials, dos estilosque sao praticados e das relacOes dessaspraticas com suas formas de competicaoe treinamento.

    Face a dramaticidade da violncianos campos de jogoe uma exigencia eticapromover na escola a apreensao dereferenciais para leitura da legitimacaoda violencia pelos regulamentos, pelanormatizacao, pelas regras ditas esporti-vas - como a dos socos e pancadas doboxe legitimados, no ringue, por regras enormas tecnicas. Leitura da violenciacomo uma propriedade do esporte naoexplicitada pela descricao puramente tee-nica que, normalmente, dele se faz. Leitu-ra da violencia manifesta contra si mes-mo que, disfarcada sob um sofisticadoaparato de dopagem, 6 exigida para au-mentar os limites humanos, com meiosartificiais, e alcancar a vithria a qualquercusto.

    Bourdieu (1990), no "Programapara uma sociologia do esporte" apon-ta problemas e delimita campos em tornodo fen6meno esportivo. Urn campo deatencao deve ser a relacao corn o corpo,a qual 6 associada a uma posicao sociale a umaexperincia origindria do mundofisico e social que outorga as praticasesportivas uma identidade de classesocial. Ressalta que as mais distintasasseguram uma relacao mais distanciadacorn o adversario, entretanto, como elansao estetizadas a violencia apresenta-semais eufemizada, de modo que forma eformalidade prevalecem sobre forca efuncao. A distancia social se retraduz na

  • lOgica do esporte, no espaco ordenado ereservado e na exclusdo do contato dire-to entre os adversarios, ainda que corn aintermediacdo de uma bola. Assim, urndos fatores que determina as mudancasnas praticas, aduz Bordieu, a vontadede manter no nivel das praticas a distdn-cia que existe entre as posicks sociais.

    0 espaco das praticas esportivasdeve ser pensado como um sistema noqual cada elemento recebe seu valor dis-tintivo. Elas tern que ser entendidas comoa resultante da relacao entre uma oferta- conjunto de "modelos" de prdticas,regras, equipamentos, instituicOesespecializadas - e uma procura estreita-mente ligada as disposicOes para a pra-tica, disposicOes que sempre sdo soc ial-mente constituidas. Em outros termos,uma relacdo entre o espaco dos produtosoferecidos num dado momento e o espa-co das disposicOes que se associamposicao ocupada no espaco social, aqual pode manifestar-se em outros tiposde consumo em relacdo corn outros espa-cos de oferta. E isso que p6e em evida-cia os espacos dos esportes e o campo dopoder como elementos fundantes dosistema.

    A magnitude do campo do poderinstitui a separacdo entre a pratica doesporte comum e o esporte espetdculo,paralelamente a um distan-ciamento en-tre os profissionais e os leigos, os quais,despossuidos do conhecimento especi-fico, sao reduzidos a meros espectado-res. Para Bourdieu, estes espectadores,sem a compreensdo dada pela competen-cia prdtica esportiva, como o resultado ea vitOria, corn isso provocando efeitos -por intermdclio da sua sanco financeiraou de outro tipo - no prOprio funciona-

    MoirIvIt6)mla

    mento do campo profissional, assim comoa busca da vitOria a qualquer prep, bus-ca que desencadeia, entre outras coisas,o aumento da viol6ncia.

    0 espaco, como elemento de repro-ducdo da for-0 dominante, a respeito doespaco social, "(...)distingue-sedasfor-mas vazias pela sua cumplicidade corna estrutura social" ressalta Santos(1982). Corn o desenvolvimento das for-cas produtivas e a extensdo da divisdodo trabalho, o espaco manipulado paraaprofundar as diferencas de classes. Estamesma evolucdo acarreta um movimentoaparentemente paradoxal: o espaco queune/separa os homens. Afirma esse au-tor que os construtores do espaco ndo sedesembaracam da ideologia dominantequando concebem uma casa, uma estra-da, um bairn), uma cidade. 0 ato de cons-truir estd submetido a regras que procu-ram nos modelos de producdo e nasrelac6es de classe suas possibilidadesatuais.

    Esse vasto campo de conhecimen-to corn o qual a Educacdo Fisica deve-secomprometer a obriga, como toda disci-pl ina escolar, a orientar seus aspectosespecificos pelos aspectos gerais ouprincipios norteadores da teoria peda-gOgica que, ademais, pode ser conside-rada como um paradigma prOprio de and-I ise do fen6meno pedagOgico.

    Por outra parte, a Educaco Fisicadeve introduzir na escola a preocupacdopela prOpria producdo cultural, vez que aemergncia de uma nova cultura deveafirmar-se ndo apenas pela extensdo daalfabetizacdo e da educacdo escolarizada,mas no acesso das camadas popularesao campo da producdo cultural da so-ciedade no sentido mais abrangente.

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    Siqueira(1992)afirma que:

    "() deve-se atuar fora e dentrodos meios de comunicaceio demassa e, atraves deles, exerceruma acao que nil se deixe envol-ver pelos processo negativos demassificaccio cultural."

    As relacOes sociais conseqentesao processo de trabalho, na realidadeatual, determinam a crescente, e brutal,deterioracdo das condicOes de vida dostrabalhadores e dos seus dependentes.A qualidade de vidae comprometida naoapenas pelo baixo, ou inexistente, poderaquisitivo, mas, pela perda quase queabsoluta das possioilidades do exercicioda cidadania, a qual efetivaria-se quandoapropriados os direitos a pre y idncia,sal:1de e assistncia social, ao lazer, aouse do patrimOnio pUblico, a educacdode qualidade e, ate, ao exercicio do poder,entre outros.

    A questdo do lazer apresenta-serelevante, tido no sentido, para nos equi-vocado, de transformar a escola ou a aulade Educacdo Fisica num espaco/tempode lazer, mas na perspectiva de, ambas,serem viabilizadoras da formacdo de umaconscinciacritica a partirda informacaode ideias e de valores que, entre outros,preservem a memOria nacional, incenti-vem as formas de expressdo popular,estimulem a capacidade criativa, indivi-dual e coletiva e promovam o acesso daclasse trabalhadora ao campo da produ-cdo cultural da sociedade.

    As relacOes entre o popular e oerudito estdo em intima dependncia dascondiciies histricas de exercicio dahegemonia da diferentes classes sociaise isso aponta a necessidade de fazer a

    leitura das contradicOes entre ambos, apartir das condicOes histOricas dadas noentrave da correlacdo das forcasdeterminantes das possibil idades da pra-tica da cidadania.

    Em relacdo ao exercicio social dasformas con sc entes de Lazer (Lazer Criti-co) Siqueira defende:

    "(...) deve servir a apropriacciodos esforcos de alocacilo do tem-po nab diretamente vinculado aotrabalho produtivo para a corn-preentho e resgate do papel daforca de trabalho, no conjuntodas relaccles sociais de producelo,superando os mecanismos dedistanciamento da realidade edesenvolvendo a consciencia dosprodutores em direcclo critica"Siqueira(1992).

    0 exercicio da cidadania estd vin-culado a todo um processo de informa-cdo de ideias e de valores, daqui a impor-tancia de reconhecer ideologia inerentea pratica pedagOgica da escola capitalis-ta, precisamente, a que subjaz as catego-rias dessa pratica.

    No momento em que, no amago deuma pedagogia Critico-Superadora, bus-camos as bases da Educacdo Fisica -como disciplina escolar - nas formas his-tOricas da Cultura Corporal, defendemosa possibilidade de resgatar prtiticasque possam, de urn lado, contribuirefetivamente para o desenvolvimentoda consciencia critica e, do outro, cons-tituir formas efetivas de resistncia.

    Da experiencia de praticas dessetipo in fere-se que a cultura ndo se da emelementos esparsos e desagregados,

  • sena como um todo dominance. Issopercebe-se, facilmente, nas prOprias es-colhas dos grupos participantes que,embora pertencendo a classe trabalha-dora mais despossuida de bens basicos,tido fogem da "moda" imposta pela cul-tura hegemOnica. Portanto, e no sentidodo duplo objetivo acima assinalado, atarefa de um Educaeo Fisica "Critico-Superadora " deve estender-se aoenfrentamento do conteOdo e forma des-sa cultura que emerge do movimento daexistncia social.

    Face ao processo, em expansdocontinua, da massificaco de certas mo-dalidades de esporte - que impedem olivre curso de expressOes capazes deampliar o patrimOnio da cultura corporal- o conhecimento-objeto da EducaedoFisica deve possibi litaro reconhecimen-to dos elementos de dominaco nelascontido. Para isso, o projeto politicopedagOgico da escola, em estreita rela-ea corn urn projeto histOrico-superador,deve promover, a partir da unidademetodolOgica - como possibilidade dainterdisciplinaridade - a revisdo do co-nhecimento espontaneo a luz do conhe-cimento cientifico do real, sempre empermanente ligacao corn perspectival deefetivo exercicio da cidadania.

    Nesse delineamento, deve existirclareza de que: "Cultura de Massas",urn conceito que "(...) busca diluir oconjunto das relaclies que constituemobjetivamente o homem num agregadohistoricamente indeterminado: as mas-sas. Ao mesmo tempo em que elege umabase conceitual tcnico-quantitativa"Siqueira(1992). Dal decorre que a Educa-

    cdo Fisica deva engajar-se na promo-eft de ac6es concretas da escola paraintegrar o movimento politico de cons-trued() de uma ''Cultura para asMassas".

    A construed, na escola, de umaCultura Corporal, demanda privilegiarvalores que coloquem o coletivo sobre oindividual, que defendam o compromis-so corn a solidariedade e respeito huma-nos e que promovam a compreensdo deque jogo se faz "a dois", de que e dife-rente Jogar corn" o companheiro doque jogar "contra" ele. Somente dessaforma poder-se-dconstruir a possibilida-de de oposiedo as praticas orientadaspelos valores do esporte de "altos ren-dimentos " - al imentados pela exacerba-ea da competiedo, pelo sobrepujar epela violencia tolerada do treinamento.Essa tarefa, ao nosso modo de ver, de-manda:

    Que na selecdo do conhecimento se-jam consideradas as modal idades queencerrem urn major potencial de uni-versalidade e compreensdo dos ele-mentos gerais circundantes, empre-gando os critrios de atual e de atil naperspectiva de classes sociais;

    Que se privilegie a unidademetodolOgica, como possibilidade dainterdisciplinaridade na escola;

    Que os instrumentos de avaliacao se-jam buscados no prOprio mecanismode construed das prdticas corporals;

    Que o professor seja urn trabalhadororganic da educacao e do ensino.Organizador, divulgador, incentivadore pesquisador - engajado na dinamicasocio-cultural da comunidade escolar- que se utiliza, como mais experiente,

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    da alividade pratica, o trabalho soci-al, como Unica mediacdo entre a Ito-mem e o conhecimenio para a promo-cdo da autoconscincia dos alunos;

    Que as possibilidades da pratica es-portiva sejam relacionadas as possibi-lidades dadas pela acdo nas areas desande, cultura, bem estar social, habi-tacdo e planejamento urbano, entreoutras;

    Que o entendimento de "democra-tizacdo" dos espacos e equipamentosde esporte implique o gerenciamentode recursos pela prOpria escola e pelacomunidade que faz seu chdo.

    Essas no sao tarefas fceis, exi-gem para sua real izacdo a determinacdoe forca do coletivo, tendo sempre pre-sente que:

    "(...) toda tentativa de atingir umasociedade melhor mais humana,mais racional, e julgada an-ticientifica, utOpica e suhversiva;e assim a ordem social existencena sociedade aparece como sen-do nelo apenas a finica possivel,como tamhem a th'iica concebi-vel" Baransweezy (1968).

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