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COMBINAÇÃO DE SOLUÇÕES
ANALÍTICAS NA ANÁLISE DA
ESTABILIDADE DE TALUDES ROCHOSOS
REFORÇADOS
CÁTIA SOFIA RODRIGUES GOMES
Dissertação submetida para satisfação parcial dos requisitos do grau de
MESTRE EM ENGENHARIA CIVIL — ESPECIALIZAÇÃO EM GEOTECNIA
Orientador: Professor Doutor José Eduardo Tavares Quintanilha de
Menezes
JULHO DE 2010
MESTRADO INTEGRADO EM ENGENHARIA CIVIL 2009/2010
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL
Tel. +351-22-508 1901
Fax +351-22-508 1446
Editado por
FACULDADE DE ENGENHARIA DA UNIVERSIDADE DO PORTO
Rua Dr. Roberto Frias
4200-465 PORTO
Portugal
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Reproduções parciais deste documento serão autorizadas na condição que seja
mencionado o Autor e feita referência a Mestrado Integrado em Engenharia Civil -
2009/2010 - Departamento de Engenharia Civil, Faculdade de Engenharia da
Universidade do Porto, Porto, Portugal, 2010.
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Autor.
À minha família
A coisa mais indispensável a um Homem é reconhecer o uso que deve fazer do seu próprio
conhecimento
Platão
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
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AGRADECIMENTOS
A minha primeira palavra de apreço vai dirigida ao orientador desta dissertação, o Professor José
Eduardo Tavares Quintanilha de Menezes, por toda a sua disponibilidade e atenção que demonstrou ao
longo deste trabalho, e acima de tudo por me beneficiar com o seu conhecimento.
A toda a minha família, em especial aos meus pais, irmã, cunhado, que me acompanharam nesta fase
da minha vida com a maior paciência, compreensão e carinho.
Ao meu sobrinho Gonçalo por todos os momentos divertidos que ajudaram nos momentos mais
complicados na realização desta dissertação.
A todos os meus amigos e colegas da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, que sempre
me auxiliaram e motivaram para o desenvolvimento desta dissertação. Mas em especial todos os que
me acompanharam não apenas ao longo desta dissertação mas sim ao longo desta jornada de cinco
anos.
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RESUMO
A presente dissertação tem como finalidade apresentar a combinação de soluções analíticas e
posteriormente proceder à verificação destas soluções recorrendo a soluções numéricas na situação de
instabilidade em taludes rochosos.
Numa fase inicial, para fins de introdução ao tema desta dissertação, vai-se expor as diferentes formas
de classificar um maciço rochoso, as principais causas que influenciam a estabilidade de taludes
rochosos, os diferentes tipos de descontinuidades que se encontram nos maciços, os vários processos
para a análise de estabilidade de taludes rochosos e o comportamento de um taludes, incluindo os
diferentes tipos de rotura e as formas de avaliar a estabilidade de um talude.
Inicialmente apresenta-se o estudo de três casos simples de instabilidade por toppling, instabilidade
planar e instabilidade circular, apresentando-se análises analíticas e numéricas da estabilidade de
taludes, assim como os resultados obtidos para cada um dos casos. De seguida procedeu-se ao estudo
analítico e numérico para três casos mais complexos, que envolvem a instabilidade por toppling na
base do talude. No primeiro caso a instabilidade por toppling é provocada por outra instabilidade por
toppling, no segundo caso é provocado por deslizamento de dois blocos no topo do talude, e no último
caso deve-se a um deslizamento do solo no topo do talude.
Para o estudo das soluções analíticas utilizou-se o método de equilíbrio limite, onde foram
desenvolvidas expressões analíticas para os diferentes casos em estudo. Em relação às soluções
numéricas, foram determinadas recorrendo aos programas Phase2 e Slope/W.
Através da comparação de resultados das soluções analíticas e numéricas chega-se à conclusão que as
soluções analíticas apresentadas são válidas.
PALAVRAS-CHAVE: estabilidade de taludes, soluções analíticas, método de equilíbrio limite, soluções
numéricas, e taludes rochosos.
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Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
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ABSTRACT
This dissertation aims to present a combination of analytical solutions and then proceed to verify these
solutions by using numerical solutions of the instability of rock slopes.
Initially, for purpose of introducing the subject of this thesis, it will be exposed the different ways of
classifying a rock mass, the main causes that influence the stability of rock slopes, the different types
of discontinuities found in massive form, the various procedures for the analysis of slope stability and
behavior of rock slopes, including different types of failure and how to evaluate the slope stability.
Initially it will be presented studies of three cases of simples rupture, by toppling, planar and circular
sliding, with analytical and numerical analysis of slope stability, as well as results for each case. Then
one proceeds with the analytical and numerical study of three more complex cases where all three
cases basically involve a failure of the slope by toppling at its base. In one case it is due to another
topping at the top of the slope, de second case is due to the slide of two blocks at the top of the slope
and the last case is due to the landslide at the top of the slope.
To study the analytical solutions it was used the limit equilibrium method, with developed analytical
expressions for the different cases studied. The numerical solutions were prepared by programs Phase2
and Slope / W.
By comparing the results of analytical and numerical solutions one comes to the conclusion that the
analytical solutions presented are valid.
KEYWORDS: slope stability, analytical solutions, limit equilibrium method, numerical solutions, and
rock slopes.
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ÍNDICE GERAL
AGRADECIMENTOS ................................................................................................................................... I
RESUMO .................................................................................................................................................. III
ABSTRACT ............................................................................................................................................... V
1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 1
1.1. OBJECTIVOS E ÂMBITO DISSERTAÇÃO .......................................................................................... 1
1.2. ESTRUTURAÇÃO DA DISSERTAÇÃO ............................................................................................... 1
2. CLASSIFICAÇÃO DE MACIÇOS ROCHOSOS .................................. 3
2.1. CONSIDERAÇÕES GERAIS .............................................................................................................. 3
2.2. CLASSIFICAÇÃO GEOLÓGICA OU LITOLÓGICA .............................................................................. 4
2.2.1. CLASSIFICAÇÃO RECORRENDO AO ÍNDICE ROCK QUALITY DESIGNATION (RQD) .................................. 4
2.2.2. SISTEMA BASIC GEOTECHNICAL DESCRIPTION (BGD) ....................................................................... 6
2.3. CLASSIFICAÇÃO DE MACIÇOS ROCHOSOS TENDO EM CONSIDERAÇÃO O MÓDULO DE
ELASTICIDADE E A VELOCIDADE DE PROPAGAÇÃO DE ONDAS ULTRASSÓNICAS ............................... 7
2.4. CLASSIFICAÇÕES GEOMECÂNICAS ................................................................................................ 8
2.4.1. CLASSIFICAÇÃO DE BIENIAWSKI (ROCK MASS RATING, RMR) ............................................................ 8
2.4.2. CLASSIFICAÇÃO GEOMECÂNICA DE TALUDES (SLOPE MASS ROCK, SMR) ......................................... 13
2.4.3. CLASSIFICAÇÃO DE BARTON (QUALITY SYSTEM, Q) ......................................................................... 15
3. TALUDES ............................................................................................................................. 23
3.1. FACTORES CONDICIONANTES DA ESTABILIDADE DE TALUDES .................................................. 23
3.2. DESCONTINUIDADES ..................................................................................................................... 26
3.2.1. CONSIDERAÇÕES GERAIS ............................................................................................................... 26
3.2.2. TIPOS DE DESCONTINUIDADES ........................................................................................................ 27
3.2.2.1. Superfície de estratificação ...................................................................................................... 27
3.2.2.2. Foliação .................................................................................................................................... 28
3.2.2.3. Diáclases .................................................................................................................................. 28
3.2.2.4. Falhas ....................................................................................................................................... 30
3.2.2.5. Xistosidade ............................................................................................................................... 31
3.2.2.6. Clivagem de fractura ................................................................................................................ 31
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3.2.3. CARACTERÍSTICAS INDIVIDUAIS DAS DESCONTINUIDADES .................................................................. 31
3.2.3.1. Orientação das descontinuidades ............................................................................................ 32
3.2.3.2. Espaçamento das descontinuidades ........................................................................................ 32
3.2.3.3. Persistência ou continuidade das descontinuidades................................................................ 33
3.2.3.4. Rugosidade das descontinuidades........................................................................................... 33
3.2.3.5. Abertura das descontinuidades ................................................................................................ 34
3.2.3.6. Preenchimento das descontinuidades ..................................................................................... 35
3.2.3.7. Resistência das paredes .......................................................................................................... 35
3.2.4. RESISTÊNCIA AO CORTE DOS PLANOS DE DESCONTINUIDADE ............................................................ 37
3.2.4.1. Resistência ao corte de uma descontinuidade com superfície plana e lisa ............................. 37
3.2.4.2. Resistência ao corte de uma descontinuidade com superfície rugosa .................................... 38
3.2.4.3. Critério de Barton e Choubey ................................................................................................... 40
3.2.4.4. Coesão e ângulo de atrito instantâneo ..................................................................................... 41
3.2.4.5. Influência da pressão de água ................................................................................................. 42
3.3. TIPOS DE INSTABILIDADES EM TALUDES ..................................................................................... 42
3.3.1. TALUDES EM SOLOS ....................................................................................................................... 42
3.3.2. TALUDES EM ROCHA ....................................................................................................................... 43
3.3.2.1. Instabilidade planar .................................................................................................................. 44
3.3.2.2. Instabilidade em cunha ............................................................................................................. 45
3.3.2.3. Instabilidade por toppling .......................................................................................................... 45
3.3.2.4. Instabilidade por encurvadura .................................................................................................. 47
3.3.2.5. Instabilidade circular ................................................................................................................. 48
3.4. ANÁLISE DE ESTABILIDADE .......................................................................................................... 49
3.4.1. CONSIDERAÇÕES GERAIS ............................................................................................................... 49
3.4.2. MÉTODO DE EQUILÍBRIO LIMITE ....................................................................................................... 51
3.4.3. MÉTODO TENSÃO-DEFORMAÇÃO ..................................................................................................... 52
4. COMPORTAMENTO DOS TALUDES EM MACIÇOS
ROCHOSOS ............................................................................................................................. 53
4.1. CONSIDERAÇÕES GERAIS ............................................................................................................. 53
4.2. OBSERVAÇÕES INDICATIVAS DE ROTURA PROVÁVEL EM TALUDES ........................................... 54
4.3. MECANISMOS DE ROTURA EM TALUDES COM DIFERENTES TIPOS DE MACIÇO ROCHOSO ........ 57
4.3.1. EROSÃO ........................................................................................................................................ 59
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4.3.2. RAVELLING .................................................................................................................................... 59
4.3.3. INSTABILIDADE PLANAR .................................................................................................................. 60
4.3.4. INSTABILIDADE POR CUNHA ............................................................................................................. 60
4.3.5. ROCK SLUMPING ............................................................................................................................ 61
4.3.6. INSTABILIDADE POR TOPPLING ........................................................................................................ 62
4.3.7. SLIDE TOE TOPPLING ...................................................................................................................... 62
4.3.8. SLIDE HEAD TOPPLING .................................................................................................................... 64
4.3.9. SLIDE BASE TOPPLING .................................................................................................................... 64
4.3.10. BLOCO COM ROTAÇÃO ................................................................................................................. 64
4.3.11. SHEET FAILURE ............................................................................................................................ 65
4.3.12. ROCK BRIDGE CRACKING .............................................................................................................. 66
4.3.13. SLIDE BASE RUPTURE ................................................................................................................... 66
4.3.14. INSTABILIDADE POR ENCURVADURA ............................................................................................... 67
4.3.15. SOIL-TYPE SLUMPING ................................................................................................................... 67
4.3.16. ROCK BURSTING ........................................................................................................................... 68
4.4. PROGRAMAS COMPUTACIONAIS .................................................................................................. 68
4.4.1 PHASE2 .......................................................................................................................................... 69
4.4.2 SLOPE/W ....................................................................................................................................... 70
4.5. MONITORIZAÇÕES EFECTUADAS IN SITU ..................................................................................... 70
5. CASOS ELEMENTARES ....................................................................................... 73
5.1. CONSIDERAÇÕES GERAIS ............................................................................................................ 73
5.1.1. CARACTERÍSTICAS DOS MATERIAIS .................................................................................................. 73
5.2. TALUDE COM POSSÍVEL INSTABILIDADE POR TOPPLING – CASO 1 ........................................... 74
5.2.1. GEOMETRIA DO TALUDE EM ESTUDO ............................................................................................... 74
5.2.2. MÉTODO ANALÍTICO NA ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE TALUDES ........................................................ 75
5.2.2.1. Expressões analíticas .............................................................................................................. 75
5.2.2.2. Resultados analíticos ............................................................................................................... 79
5.2.3. MÉTODO NUMÉRICO NA ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE TALUDES ........................................................ 80
5.2.4. COMPARAÇÃO ENTRE OS RESULTADOS ANALÍTICOS E NUMÉRICOS .................................................... 83
5.3. TALUDE COM POSSÍVEL INSTABILIDADE PLANAR – CASO 2 ...................................................... 83
5.3.1. GEOMETRIA DO TALUDE EM ESTUDO ............................................................................................... 83
5.3.2. MÉTODO ANALÍTICO NA ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE TALUDES ........................................................ 83
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5.3.2.1. Método de Equilíbrio Limite para uma superfície de deslizamento planar............................... 84
5.3.2.2. Método Geral de Equilíbrio Limite, GLE, para o Método das Fatias ........................................ 85
5.3.3. MÉTODO NUMÉRICO NA ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE TALUDES ........................................................ 87
5.3.3.1. Programa Slope/W ................................................................................................................... 88
5.3.3.2. Programa Phase2 ..................................................................................................................... 89
5.3.4. COMPARAÇÃO ENTRE OS RESULTADOS ANALÍTICOS E NUMÉRICOS .................................................... 93
5.4. TALUDE COM POSSÍVEL INSTABILIDADE CIRCULAR – CASO 3 ................................................... 93
5.4.1. GEOMETRIA DO TALUDE EM ESTUDO ................................................................................................ 93
5.4.2. MÉTODO ANALÍTICO NA ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE TALUDES ........................................................ 93
5.4.2.1. Método Geral do Equilíbrio Limite, GLE ................................................................................... 94
5.4.2.2. Método das Fatias – Método de Bishop Simplificado .............................................................. 98
5.4.2.3. Resultados analíticos ............................................................................................................. 101
5.4.3. MÉTODO NUMÉRICO NA ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE TALUDES ...................................................... 104
5.4.3.1. Programa Slope/W ................................................................................................................. 104
5.4.3.2. Programa Phase2 ................................................................................................................... 106
5.4.4. COMPARAÇÃO ENTRE OS RESULTADOS ANALÍTICOS E NUMÉRICOS .................................................. 108
6. DIFERENTES INSTABILIDADES POR TOPPLING ................... 111
6.1. CONSIDERAÇÕES GERAIS ........................................................................................................... 111
6.2 TALUDE COM POSSÍVEL INSTABILIDADE POR TOPPLING, SENDO QUE OS BLOCOS MUDAM DE
DIRECÇÃO – CASO 4........................................................................................................................... 111
6.2.1. GEOMETRIA DO TALUDE EM ESTUDO .............................................................................................. 111
6.2.2. MÉTODO ANALÍTICO NA ANÁLISE DA ESTABILIDADE DO TALUDE ........................................................ 112
6.2.3. MÉTODO NUMÉRICO NA ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE TALUDES ...................................................... 116
6.2.4. COMPARAÇÃO ENTRE OS RESULTADOS ANALÍTICOS E NUMÉRICOS .................................................. 118
6.3. TALUDE COM POSSÍVEL INSTABILIDADE POR SLIDE TOE TOPPLING, DEVIDO AO DESLIZAMENTO
DE BLOCOS NO TOPO DO TALUDE – CASO 5 ..................................................................................... 118
6.3.1. GEOMETRIA DO TALUDE EM ESTUDO .............................................................................................. 118
6.3.2. MÉTODO ANALÍTICO NA ANÁLISE DA ESTABILIDADE DO TALUDE ........................................................ 119
6.3.3. MÉTODO NUMÉRICO NA ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE TALUDES ...................................................... 123
6.3.4. COMPARAÇÃO ENTRE OS RESULTADOS ANALÍTICOS E NUMÉRICOS .................................................. 125
6.4. TALUDE COM POSSÍVEL INSTABILIDADE POR SLIDE TOE TOPPLING, DEVIDO AO DESLIZAMENTO
DE SOLO NO TOPO DO TALUDE – CASO 6 ......................................................................................... 125
6.4.1. GEOMETRIA DO TALUDE EM ESTUDO .............................................................................................. 125
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6.4.2. MÉTODO ANALÍTICO NA ANÁLISE DA ESTABILIDADE DO TALUDE ........................................................ 126
6.4.3. MÉTODO NUMÉRICO NA ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE TALUDES ...................................................... 130
6.4.4. COMPARAÇÃO ENTRE OS RESULTADOS ANALÍTICOS E NUMÉRICOS .................................................. 133
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................... 135
7.1. CONCLUSÕES DO TRABALHO REALIZADO ................................................................................. 135
7.2. RECOMENDAÇÕES PARA DESENVOLVIMENTOS FUTUROS ....................................................... 136
BIBLIOGRAFIA ..................................................................................................................................... 139
ANEXOS .................................................................................................................................... 141
ANEXO A: GEOLOGICAL STRENGTH INDEX (GSI) ........................................................................... 143
ANEXO B: PARÂMETRO D – FACTOR DE PERTURBAÇÃO DO MACIÇO ............................................ 145
ANEXO C – FOLHA DE CÁLCULO PARA INSTABILIDADE POR TOPPLING – CASO 1 ........................ 147
ANEXO D – FOLHA DE CÁLCULO PARA INSTABILIDADE PLANAR – CASO 2 ................................... 149
ANEXO E – FOLHA DE CÁLCULO PARA INSTABILIDADE CIRCULAR - CASO 3 ................................. 151
ANEXO F – FOLHA DE CÁLCULO PARA INSTABILIDADE POR TOPPLING, SENDO QUE OS BLOCOS
MUDAM DE DIRECÇÃO - CASO 4 ........................................................................................................ 155
ANEXO G – FOLHA DE CÁLCULO PARA INSTABILIDADE POR SLIDE TOE TOPPLING, DEVIDO AO
DESLIZAMENTO DE BLOCOS NO TOPO DO TALUDE - CASO 5 ........................................................... 157
ANEXO H – FOLHA DE CÁLCULO PARA INSTABILIDADE POR SLIDE TOE TOPPLING, DEVIDO AO
DESLIZAMENTO DE SOLO NO TOPO DO TALUDE - CASO 6 ............................................................... 159
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ÍNDICE DE FIGURAS
Figura 2.1 - Estimativa do módulo de deformabilidade pelos índices Q e RMR .................................. 21
Figura 3.1. Representação da estratigrafia e litologia (Lima, Perú) ...................................................... 24
Figura 3.2. Rotura total do talude devido a movimento sísmico, em El Salvador (2001) ..................... 25
Figura 3.3. Deslizamento de terras devido a precipitação intensa, Rio de Janeiro, Brasil (2010) ....... 26
Figura 3.4. A influência das descontinuidades em algumas obras de engenharia ............................... 27
Figura 3.5. Exemplo de uma superfície de estratificação ..................................................................... 28
Figura 3.6. Exemplo de foliação numa rocha metamórfica do tipo gneisse ......................................... 28
Figura 3.7. Família de diáclases devido às dobras de origem tectónica (Blyth e de Freitas, 1984) .... 29
Figura 3.8. Diáclase numa rocha ígnea de granito, ilha de Bornholm na Dinamarca .......................... 29
Figura 3.9. Exemplo de uma falha, nos Açores, Portugal (2009) ......................................................... 30
Figura 3.10. Esquema dos diferentes tipos de falhas ........................................................................... 30
Figura 3.11. Exemplo de xistosidade e fracturação no xisto, em Barrancos ........................................ 31
Figura 3.12. Esquema da orientação das descontinuidades (Goodman e Shi) ................................... 32
Figura 3.13. Representação esquemática do tipo de abertura das descontinuidades ......................... 34
Figura 3.14. Correlação do recuo obtido com o martelo de Schmidt (Tipo L) e a resistência à
compressão uniaxial (Deere e Miller, 1966) .......................................................................................... 36
Figura 3.15. Máquina de ensaio de corte directo, usada por Hencher e Richards (1982) ................... 37
Figura 3.16. a) Curva típica da relação entre a tensão de corte () com o deslocamento (); ............. 38
Figura 3.18. Esquema do ângulo de rugosidade na resistência ao corte das descontinuidades ......... 39
Figura 3.19. Resistência ao corte para descontinuidade com superfície rugosa, proposta por Patton
(1966) .................................................................................................................................................... 39
Figura 3.20. Determinação do ângulo de atrito, i, e coesão, ci, instantâneos para o critério de rotura
não-linear ............................................................................................................................................... 41
Figura 3.21. Tipos de superfície de rotura, para taludes de solos ........................................................ 43
Figura 3.22. Representação estereográfica e esquema da rotura planar (modificada por Hoek e Bray,
1981) ..................................................................................................................................................... 44
Figura 3.23. Representação estereográfica e esquema da rotura em cunha (modificada por Hoek e
Bray, 1981) ............................................................................................................................................ 45
Figura 3.24. Representação estereográfica (modificada por Hoek e Bray, 1981) ................................ 46
Figura 3.25. Esquema da rotura por toppling de blocos ....................................................................... 46
Figura 3.26. Esquema da rotura por toppling de flexão ........................................................................ 47
Figura 3.27. Esquema da rotura por toppling de blocos por flexão (Hoek e Bray, 1981) ..................... 47
Figura 3.28. Esquema de rotura por encurvadura (Vallejo, 2002) ........................................................ 48
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Figura 3.29. Representação estereográfica e esquema da rotura circular (modificada por Hoek e Bray,
1981) ...................................................................................................................................................... 49
Figura 3.30. Modelo esquemático do princípio base friction (Pritchard e Savigny, 1990) .................... 49
Figura 4.1. Talude onde se observa as descontinuidades e a rotura potencial, em Picote, 2010 (foto
da autora) .............................................................................................................................................. 54
Figura 4.2. Representação de uma fenda de tracção numa superfície (Goodman e Kieffer) .............. 55
Figura 4.3. Deslizamento potencial de blocos devido à liberdade das superfícies (Goodman e Kieffer)
............................................................................................................................................................... 55
Figura 4.4. Esquema da instabilidade por toppling (Goodman e Kieffer) ............................................. 56
Figura 4.5. Instabilidade por slumping de um talude de solo (Goodman e Kieffer) .............................. 56
Figura 4.6. Esquema da remoção de um bloco, formando a instabilidade por moulds (Goodman e
Kieffer) ................................................................................................................................................... 57
Figura 4.7. Tipos de blocos que podem surgir num talude ................................................................... 58
Figura 4.8. Esquema que representa a instabilidade por erosão (Goodman e Shi) ............................. 59
Figura 4.9. Instabilidade por ravelling na estrada nacional em L'Aquila, Itália ..................................... 60
Figura 4.10. a)Esquema a 3D da instabilidade e diferentes tipos de rock slumping: b) Flexural
slumping; c) Block slumping; e d) Block flexural slumping (Goodman e Kieffer) .................................. 61
Figura 4.11. Instabilidade por rock slumping (Goodman e Kieffer) ....................................................... 62
Figura 4.12. Instabilidade por slide toe toppling (Goodman e Kieffer) .................................................. 63
Figura 4.13. Exemplo de instabilidade por slide toe toppling num vale da Serra Nevada, Califórnia
(Goodman e Kieffer) .............................................................................................................................. 63
Figura 4.14. Instabilidade por slide head toppling (Goodman e Kieffer) ............................................... 64
Figura 4.15. Instabilidade por slide base toppling (Goodman e Kieffer) ............................................... 64
Figura 4.16. Esquema de um bloco sujeito à rotação (Goodman e Kieffer) ......................................... 65
Figura 4.17. Representação de sheet failure (Goodman e Kieffer) ...................................................... 65
Figura 4.18. Instabilidade por rock bridge cracking (Goodman e Kieffer) ............................................. 66
Figura 4.19. Slide base rupture (Goodman e Kieffer) ........................................................................... 66
Figura 4.20. Instabilidade por encurvadura e por slumping denominada por kink-band slumping
(Goodman e Kieffer) .............................................................................................................................. 67
Figura 4.21. Soil-type slumping (Goodman e Kieffer) ........................................................................... 68
Figura 4.22. Piezómetro ........................................................................................................................ 71
Figura 4.23. Inclinómetro ....................................................................................................................... 71
Figura 5.1. Talude com possível instabilidade por toppling (Hoek e Bray, 1999) ................................. 74
Figura 5.2. Forças que actuam num bloco n sujeito a instabilidade por toppling (Hoek e Bray) .......... 76
Figura 5.3. Condição de equilíbrio limite quando existe toppling no bloco n (Hoek e Bray) ................. 77
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Figura 5.4. Condição de equilíbrio limite quando existe deslizamento no bloco n (Hoek e Bray) ........ 78
Figura 5.5. Modelo do programa Phase2 para o talude do caso 1 ....................................................... 81
Figura 5.6. Localização do ponto onde se estuda a relação dos deslocamentos totais com os angulos
de atrito .................................................................................................................................................. 81
Figura 5.7. Representação da deformada e as isodensidades dos deslocamentos totais do talude do
caso1 ..................................................................................................................................................... 82
Figura 5.8. Gráfico da relação do deslocamento total e do ângulo de atrito para o talude do caso1 .. 82
Figura 5.9. Talude com possível instabilidade planar ........................................................................... 83
Figura 5.10. Esquema das forças que actuam na massa deslizante ................................................... 84
Figura 5.11. Massa deslizante analisada pelo método das fatias no caso de instabilidade planar ..... 86
Figura 5.12. Esquema da superfície de deslizamento no programa Slope/W ...................................... 88
Figura 5.13. Instabilidade planar pelo Método GLE, do programa Slope/W ........................................ 89
Figura 5.14.Mecanismo de instabilidade e as isodensidades da resistência de corte pelo programa
Phase2 ................................................................................................................................................... 90
Figura 5.15. Representação dos deslocamentos totais no talude para um factor de segurança de
1,005 ...................................................................................................................................................... 90
Figura 5.16. Gráfico deslocamento total - ângulo de atrito para o caso 2 ............................................ 91
Figura 5.17. Modelo do talude com possível instabilidade planar no programa Phase2 ...................... 91
Figura 5.18. Representação dos deslocamentos totais e da deformada do talude para análise no
Phase2 ................................................................................................................................................... 92
Figura 5.19. Representação do gráfico que relaciona o deslocamento total num ponto e o valor de
ângulo de atrito, para a instabilidade planar ......................................................................................... 92
Figura 5.20. Talude com possível instabilidade circular ....................................................................... 93
Figura 5.21. Esquema das Forças que actuam em cada uma das fatias, pelo Método GLE .............. 94
Figura 5.22. Os diferentes tipos de funções ......................................................................................... 96
Figura 5.23. Esquema das Forças que actuam em cada uma das fatias, pelo Método das Fatias ..... 98
Figura 5.24. Esquema da superfície de rotura e da divisão das fatias a considerar na análise analítica
............................................................................................................................................................. 101
Figura 5.25. Função Half-Sine para calcular as força interacção, para análise analítica ................... 102
Figura 5.26. Representação da determinação da instabilidade circular, pelo software Slope/W ....... 105
Figura 5.27. Mecanismos de rotura e factores de segurança, pelo Método de Bishop (a) e pelo
Método GLE (b) ................................................................................................................................... 106
Figura 5.28. Modelo do talude com possível instabilidade circular no programa Phase2 .................. 107
Figura 5.29. Representação dos deslocamentos totais para a instabilidade circular, do programa
Phase2 ................................................................................................................................................. 107
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
xvi
Figura 5.30. Gráfico que relaciona o deslocamento total e o valor do ângulo de atrito, para o caso 3
............................................................................................................................................................. 108
Figura 5.31. Função Half-Sine para calcular as força interacção, utilizada pelo Slope/W ................. 109
Figura 6.1. Talude com possível instabilidade por toppling, onde os blocos têm diferentes inclinações
............................................................................................................................................................. 112
Figura 6.2. Forças que actuam no bloco triangular ............................................................................. 113
Figura 6.3. Modelo do talude para o caso 4, no programa Phase2 ..................................................... 116
Figura 6.4. Representação da deformada e dos deslocamentos totais para o talude do caso 4 ....... 117
Figura 6.5. Gráfico que relaciona os deslocamentos totais com o ângulo de atrito, para o caso 4.... 117
Figura 6.6.Talude com possível instabilidade por slide toe toppling, devido ao deslizamento de blocos
situados no topo do talude .................................................................................................................. 118
Figura 6.7. Forças que actuam no bloco nº 10, para o caso 5 ............................................................ 119
Figura 6.8. Modelo do talude utilizado no programa Phase2, para o caso 5 ...................................... 123
Figura 6.9. Representação da deformada e dos deslocamentos totais para o talude do caso 5 ....... 124
Figura 6.10. Gráfico que relaciona os deslocamentos totais com o ângulo de atrito, para o caso 5.. 125
Figura 6.11. Talude com possível instabilidade por slide toe toppling, devido ao deslizamento de solo
............................................................................................................................................................. 126
Figura 6.12. Forças que actuam no bloco nº 7, para o caso 6 ............................................................ 127
Figura 6.13. Modelo do talude utilizado no programa Phase2, para o caso 6 .................................... 131
Figura 6.14. Representação da deformada e dos deslocamentos totais para o talude do caso 6 ..... 132
Figura 6.15. Gráfico que relaciona os deslocamentos totais com o ângulo de atrito, para o caso 6.. 132
Figura 7.1. Diferentes tipos de rock slumping: a) flexural slumping, b) block slumping, c) block flexural
slumping (Goodman e Kieffer) ............................................................................................................. 136
Figura 7.2. Instabilidade por soil- type slumping (Goodman e Kieffer) ............................................... 137
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
xvii
ÍNDICE DE QUADROS
Quadro 2.1. Classificação geológica das rochas (Vallejo 2002) ............................................................. 4
Quadro 2.2. Graus de alteração de maciços rochosos (ISRM, 1981) .................................................... 5
Quadro 2.3. Graus de fracturação de maciços rochosos (ISRM, 1981) ................................................. 5
Quadro 2.4. Classificação do índice RQD para maciços rochosos (Deere et al, 1969) ......................... 5
Quadro 2.5. Classificação em função da espessura das camadas do maciço rochoso (ISRM, 1981) .. 6
Quadro 2.6. Classificação em função da resistência à compressão simples para um maciço rochoso 7
Quadro 2.7. Classificação em função do ângulo de atrito das descontinuidades para maciços
rochosos .................................................................................................................................................. 7
Quadro 2.8. Classificação em função da qualidade dos maciços rochosos ........................................... 8
Quadro 2.9. Classificação Rock Mass Rating, RMR (Bieniawski, 1989) .............................................. 10
Quadro 2.10. Classificação da condição das descontinuidades (Bieniawski, 1989) ............................ 11
Quadro 2.11. Efeito da orientação das descontinuidades (Bieniawski, 1989) ...................................... 11
Quadro 2.12. Classes de maciços rochosos do índice RMR (Bieniawski, 1989) ................................. 12
Quadro 2.13. Factores de ajuste devido à orientação das descontinuidades (Romana, 1985) ........... 14
Quadro 2.14. Factor de ajuste devido ao método de escavação, F4 (Romana, 1985) ......................... 14
Quadro 2.15. Classe de estabilidade do índice SMR (Romana, 1985) ................................................ 15
Quadro 2.16. Medidas de sustentação do índice SMR (Romana, 1997) ............................................. 15
Quadro 2.17. Designação da qualidade da rocha, RQD (Barton et al, 1974) ...................................... 16
Quadro 2.18. Índice das famílias de descontinuidades, Jn (Barton et al, 1974) ................................... 17
Quadro 2.19. Índice de rugosidade das descontinuidades, Jr (Barton et al, 1974) .............................. 17
Quadro 2.20. Grau de alteração das descontinuidades, Ja (Barton et al, 1974) ................................... 18
Quadro 2.21. Índice das condições hidrogeológicas, Jw (Barton et al, 1974) ....................................... 19
Quadro 2.22. Factor de Redução de Tensões, SRF............................................................................. 20
Quadro 3.1. Classificação de espaçamento das descontinuidades (ISRM, 1978) ................................ 33
Quadro 3.2. Classificação de Persistência (ISRM, 1978) ..................................................................... 33
Quadro 3.3. Designações da abertura .................................................................................................. 34
Quadro 5.1. Propriedades dos materiais ............................................................................................... 74
Quadro 5.2. Análise analítica de um talude com possível instabilidade por toppling ........................... 80
Quadro 5.3. Factor de segurança para os diferentes métodos admitidos pelo Slope/W ..................... 89
Quadro 5.4.Resultados analíticos para o Método Geral de Equilíbrio Limite (GLE) .......................... 103
Quadro 5.5. Resultados analíticos para o Método de Bishop Simplificado ........................................ 104
Quadro 6.1. Resultados analíticos para o caso 4 em estudo .............................................................. 115
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
xviii
Quadro 6.2. Resultados analíticos para o caso 5 em estudo.............................................................. 122
Quadro 6.3. Resultados analíticos para o caso 6 em estudo.............................................................. 130
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
xix
SÍMBOLOS E ABREVIATURAS
Alfabeto latino
A – ângulo de atrito das descontinuidades
c – coesão
ci – coesão instantânea
D – parâmetro de perturbação do maciço devido à escavação
E – módulo de elasticidade
Ed,l - módulo de deformabilidade obtido em laboratório
Ed,m - módulo de deformabilidade obtido em campo
Em – módulo de deformabilidade in situ
EL – força de interacção na direcção normal aplicada no lado esquerdo da fatia i
ER – força de interacção na direcção normal aplicada no lado direito da fatia i
F – graus de fracturação de maciços rochosos
Fd – forças desestabilizadoras
Fr – forças resistentes ou estabilizadoras
F1, F2 e F3 – factores de ajuste devido à orientação das descontinuidades
F4 – factor de ajuste devido ao método de escavação
Ja – índice de alteração
Jn – índice do número de famílias
Jr – índice de rugosidade
Jv – índice volumétrico
Jw – índice do fluxo da água
L – espessura da parede
Ln – distância entre a base e o ponto de aplicação da força Pn-1
Mn – distância entre a base e o ponto de aplicação da força Pn
Mr – momento das forças resistentes
Ms– momento das forças desestabilizadoras
Ni – força normal actuante na base da fatia i
PA1 - força de interacção entre o bloco n e A1 na direcção normal
PA2 - força de interacção entre o bloco n e A2 na direcção normal
Pn – componente normal à face do bloco n, devido à força de interacção entre o bloco n e n+1
Pn-1 – componente normal à face do bloco n, devido à força de interacção entre o bloco n e n-1
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
xx
Pn-1,t – força necessária para evitar o toppling do bloco n
Pn-1,s – força necessária para evitar o deslizamento do bloco n
QA1 - força de interacção entre o bloco n e A1 na direcção tangencial
QA2 - força de interacção entre o bloco n e A2 na direcção tangencial
Qn – componente tangencial à face do bloco n, devido à força de interacção entre o bloco n e n+1
Qn-1 – componente tangencial à face do bloco n, devido à força de interacção entre o bloco n e n-1
r – valor de recuo do martelo de Schmidt sobre a superfície da descontinuidade com rocha alterada
R – raio da circunferência que delimita a superfície de deslizamento circular
Rc – resultante das forças coesivas que actuam na superfície de deslizamento
R– resultante das forças friccionais que actuam na superfície de deslizamento
Rn – reacção normal actuante na base do bloco n
Rr - valor de recuo do martelo de Schmidt sobre uma superfície de rocha não alterada
S – resistência à compressão simples do maciço rochoso
Sd – resultante das forças que provocam deslizamento
Si - força tangencial actuante na base da fatia i
Sn – reacção tangencial actuante na base do bloco n
u – pressão neutra
VP – velocidade de propagação das ondas longitudinais ultrassónicas
VP,l – velocidade de propagação das ondas longitudinais obtidas em laboratório
VP,m – velocidade de propagação das ondas longitudinais no maciço
W – graus de alteração de maciços rochosos
Wi – peso da massa da fatia i
Wn – peso do bloco n
xe – abcissa do centro de gravidade do bloco n
XL – força de interacção na direcção tangencial aplicada no lado esquerdo da fatia i
XR – força de interacção na direcção tangencial aplicada no lado direito da fatia i
ye – ordenada do centro de gravidade do bloco n
yn – altura do bloco n
y1 – distância entre a base e a componente PA1
y2 – distância entre a base e a componente PA2
Alfabeto grego
– inclinação da base do bloco n
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
xxi
αd – inclinação da superfície da descontinuidade
αi – inclinação da linha de intercepção das superfícies das descontinuidades
αj – azimute das descontinuidades
αs – azimute do plano do talude
β – inclinação da face do talude
i – inclinação da face do talude na direcção da linha de intercepção das superfícies das
descontinuidades
βj – inclinação das descontinuidades
βs – inclinação do talude
– peso volúmico
– deslocamento
li – comprimento da fatia i
x – Largura do bloco n
θ - diferença entre as inclinações do bloco n-1 e n+1
λ – percentagem da função usada, no método de GLE
- coeficiente de Poisson
σc – resistência à compressão simples
σci – resistência à compressão uniaxial do material rochoso intacto
σh – tensão horizontal no maciço
n – tensão normal
n’- tensão normal efectiva
σv – tensão vertical no maciço
τ – resistência ao corte
crit – ângulo de atrito necessário para atingir o equilíbrio limite
b – ângulo de atrito na base dos blocos
i – ângulo de atrito instantâneo
p – ângulo de atrito de pico
r – ângulo de atrito residual
s – ângulo de atrito nas faces laterais dos blocos
Ω- inclinação dos blocos A1 e A2
Abreviaturas
BGD – Basic Geotechnical Description
FS – Factor de Segurança
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
xxii
FSf – Factor de Segurança obtido pelo equilíbrio das forças, utilizado pelo método GLE
FSm – Factor de Segurança obtido pelo equilíbrio dos momentos, utilizado pelo método GLE
FSmin – Factor de Segurança mínimo
GLE – Método Geral de Equilíbrio Limite
GSI – Geological Strength Index
JRC – Coeficiente de rugosidade das paredes da descontinuidade (Joint Roughness Coefficient)
JCS – Valor da resistência à compressão simples do material da parede da descontinuidade (Joint
Wall Compressive Strength)
MEF – Método de Elementos Finitos
Q – Quality System
RQD – Rock Quality Designation
RMR – Rock Mass Rating
SMR – Slope Mass Rock
SRF – Stress Reduction Factor
SSR – Shear Strength Reduction
TTV – Teorema dos Trabalhos Virtuais
Associações
ASTM - American Society for Testing Materials
ISRM - International Society for Rock Mechanics
IAEG – International Association for Engineering Geology
NGI - Norwegian Geotechnical Institute
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
1
1 INTRODUÇÃO
1.1. OBJECTIVOS E ÂMBITO DISSERTAÇÃO
O engenheiro geotécnico tem interesse em taludes rochosos, como parte do ambiente natural e do
terreno no qual ele funciona, ou como parte vital de uma obra a ser construída acima ou abaixo da
superfície. Os taludes rochosos naturais podem coexistir junto de edifícios, pontes e barragens. Podem
ser encostas para vias férreas e rodoviárias, escavações a céu aberto e normalmente para qualquer
construção que precise de uma superfície plana a uma determinada profundidade. Trata-se de taludes
“permanentes” no qual os movimentos das rochas têm de ser impedidos ou controlados. Mas mesmo
nos taludes “temporários”, como pedreiras e escavações, durante a obra podem surgir movimentos do
maciço, levando a que seja necessária a utilização de suportes para os impedir ou controlar.
Recorrendo à análise de estabilidade é possível determinar a geometria de um talude, através do
cálculo de um factor de segurança, e se necessário definir as medidas estabilizadoras que podem ser
aplicadas em caso de rotura. Os taludes rochosos têm a particularidade de apresentar descontinuidades
que podem provocar uma potencial rotura.
Para uma boa análise de estabilidade é necessário estar familiarizado com o tema e ser capaz de
reconhecer as diversas formas que podem ocorrer as roturas. Mas como a estrutura das rochas e a sua
composição variam dentro de um limite muito amplo, a sua aplicação também é mais difícil e variada,
porque nem sempre se tem um modelo simplificado como por vezes é apresentado nos livros.
Nesta dissertação pretende-se apresentar modelos com comportamento à rotura mais complexos, para
assim ser mais um contributo para a análise de estabilidade de taludes rochosos e uma forma de
entender melhor o comportamento mecânico destas roturas. O principal objectivo é a combinação de
soluções analíticas para posteriormente se proceder à sua validação com modelos numéricos.
1.2. ESTRUTURAÇÃO DA DISSERTAÇÃO
A dissertação encontra-se dividida nos seguintes capítulos:
Capítulo 2: apresentam-se os diferentes tipos de classificação de maciços rochosos, podendo
ser uma classificação geológica ou geomecânica;
Capítulo 3: expõe-se o tema dos taludes, fazendo-se referência aos diferentes factores que
afectam a estabilidade dos taludes, às descontinuidades, aos tipos de instabilidades em taludes, e
aos diferentes processos de análise de estabilidade em taludes;
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
2
Capítulo 4: é apresentado o comportamento dos taludes rochosos, fazendo principal referência
aos casos mais complexos de instabilidade de taludes, faz-se também menção a medidas para
avaliar a estabilidade de taludes;
Capítulo 5: apresentam-se três casos simples de taludes em estudo, onde se define a sua
geometria, os métodos analíticos e numéricos para a análise de estabilidade, bem como os
resultados obtidos e a comparação entre resultados;
Capítulo 6: expõem-se três casos mais complexos de taludes, que envolvem os três casos do
capítulo anterior; apresentam-se também os métodos analíticos e numéricos aplicados, bem
como os seus resultados e comparações;
Capítulo 7: são apresentadas as conclusões e recomendações para desenvolvimentos futuros.
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
3
2 CLASSIFICAÇÃO DE
MACIÇOS ROCHOSOS
2.1. CONSIDERAÇÕES GERAIS
A classificação consiste em hierarquizar as características do maciço rochoso, de forma a organiza-las
individualmente em grupos ou classes, às quais se possam associar comportamentos diferenciados do
meio rochoso. Estas características englobam as propriedades da matriz rochosa, grau de alteração,
estado da tensão in situ, presença de água e tipo de descontinuidades, que são definidas tendo em
conta os seguintes factores: o grau de fracturação, o tamanho e a forma dos blocos do maciço, as suas
propriedades hidrogeológicas, entre outros factores.
Primeiramente há que distinguir maciços terrosos, formações constituídas por solo, de maciços
rochosos, constituídos essencialmente por rochas. Os maciços terrosos abarcam terrenos que se
desagregam facilmente quando agitados dentro de água. Como é difícil a quantificação da agitação da
água, facilmente se percebe que existe uma zona de incerteza, onde estão localizados os chamados
terrenos de transição, ou seja os denominados solos duros e rochas brandas. Uma forma de prevenir
esta incerteza é o uso de ensaios simples que possibilitam a quantificação dos parâmetros que
caracterizam a desagregação do terreno a partir da agitação da água.
De entre as classificações dos solos a que se destaca é a classificação unificada, que foi elaborada pela
American Society for Testing Materials (ASTM). Esta classificação tem como objectivo a utilização
dos solos como materiais de aterro, sendo a sua divisão feita com base na composição granulométrica
e limites de consistência. A classificação unificada foi baseada em experiências de muitas obras o que
permitiu a associação de cada um dos grupos de solos a determinados comportamentos desejáveis ou
não. É assim possível, na fase de estudo de uma determinada obra de aterro, escolher de entre os solos
apresentados, aquele que melhor representa a nossa situação. Em termos de classificação de maciços
terrosos não se irá aprofundar mais o tema porque não é do interesse desta dissertação.
O maciço rochoso é definido como o conjunto de blocos de rocha, sobrepostos e ligados entre si. O
material que forma os blocos é designado de matriz do maciço rochoso, também denominada por
rocha intacta, e as superfícies que os limitam são chamadas de descontinuidades. Embora se possa
pensar que um meio rochoso é homogéneo, compacto e resistente, tal não é verdade. Para ser exacto, a
própria rocha intacta caracteriza-se por ser um meio heterogéneo, porque exibe inúmeros defeitos,
desde à microescala cristalina até fissuras intergranulares. Nos exemplos práticos é valida a utilização
da homogeneidade na matriz da rocha. Contudo, as descontinuidades caracterizam o maciço como
meio heterogéneo, anisotrópico e descontínuo.
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
4
Enquanto a classificação dos maciços terrosos é universal, no caso dos maciços rochosos tal não
acontece, embora existam propostas com pontos em comum. Por este motivo, no ano de 1972 e 1975
foram criados dois grupos, a International Society for Rock Mechanics (ISRM) e a International
Association for Engineering Geology (IAEG), respectivamente, com o objectivo de fixar um sistema
de classificação internacional.
A diferença entre a classificação de solos e de rochas em termos de aceitação internacional deve-se
essencialmente ao facto da classificação de solos ser mais simples, enquanto nos maciços rochosos
existe uma grande variedade das suas características e da sua natureza descontínua e anisotrópica o
que implica uma maior dificuldade para estabelecer classificações geotécnicas ou geomecânicas gerais
para os diferentes tipos de maciços.
2.2. CLASSIFICAÇÃO GEOLÓGICA OU LITOLÓGICA
Embora esta classificação não seja suficiente em certos casos, normalmente num problema de
engenharia civil inicia-se por esta classificação, porque permite obter informações sobre a composição
mineralógica, a textura e a origem de rocha na sua formação geológica, assim como sobre a isotropia
ou anisotropia estrutural das rochas. Um exemplo da importância desta classificação é o caso dos
maciços de calcário, ou constituídos por outras rochas solúveis, em que uma simples referência alerta
para a possibilidade de ocorrência de fenómenos de dissolução, responsáveis por cavidades
propiciadoras de instabilidade, que são muito importantes ter em conta nas obras de engenharia civil.
No Quadro 2.1. apresenta-se a classificação geológica das rochas adaptada e modificada por Vallejo
(2002). Esta classificação não é suficiente porque para um determinado projecto de engenharia civil é
necessário saber outras condições a que está sujeito o maciço, como por exemplo o estado de alteração
do material, o estado de fracturação e o tipo de enchimento nas descontinuidades, ou seja, permite
saber como variam as características do material.
Quadro 2.1. Classificação geológica das rochas (Vallejo 2002)
Rochas Sedimentares Rochas Ígneas Rochas Metamórficas
Detríticas Químicas Orgânicas Plutónicas Vulcânicas Massivas Foliadas
Quartzito Arenito Siltito
Argilito
Calcário Dolomito Salgema
Carvão Turfa
Calcário
Granito Gabro Diorito
Peridotito
Basalto Andesito Riolito
Quartzito Mármore Corneana
Xisto Gneisse
Filito Micaxisto
2.2.1. CLASSIFICAÇÃO RECORRENDO AO ÍNDICE ROCK QUALITY DESIGNATION (RQD)
O índice Rock Quality Designation (RQD) foi desenvolvido por Deere et al (1969) e permite perceber
a qualidade de um maciço rochoso recorrendo a sondagens realizadas com recuperação ininterrupta da
amostra. Este índice relaciona os graus de alteração e de fracturação do maciço rochoso.
O grau de alteração diz respeito ao estado das superfícies da rocha devido a erosão sofrida, ou seja, é o
conjunto de fenómenos físicos e químicos que levam à degradação e enfraquecimento das rochas.
Normalmente a sua identificação baseia-se em métodos expeditos de observação, costuma-se
identificar a maior ou menor facilidade da degradação e a alteração da cor e do brilho devido à
existência de certos minerais. No Quadro 2.2. apresenta-se os cinco graus de alteração dos maciços
rochosos que são utilizados na maioria dos casos, sendo que se deve entender que o número de graus
de alteração varia com o tipo de problema e com a informação disponível.
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
5
Quadro 2.2. Graus de alteração de maciços rochosos (ISRM, 1981)
Símbolos Designações Características
W1 São Sem quaisquer sinais de alteração
W2 Pouco alterado Sinais de alteração apenas nas imediações das
descontinuidades
W3 Medianamente alterado Alteração visível em todo o maciço rochoso mas a
rocha não é friável
W4 Muito alterado Alteração visível em todo o maciço e a rocha é
parcialmente friável
W5 Decomposto (saibro) O maciço apresenta-se completamente friável
com comportamento de solo
O estado de fracturação pode ser estimado por vários processos, normalmente muito semelhantes entre
si, consiste em determinar o espaçamento entre diáclases. Geralmente divide-se em 5 classes, tal como
se representa no Quadro 2.3. Esta classificação foi elaborada pela comissão da ISRM (1981). O grau
de fracturação também pode ser determinado por uma simples contagem de fracturas ao longo de uma
direcção, utilizando normalmente o número de fracturas por metro.
Quadro 2.3. Graus de fracturação de maciços rochosos (ISRM, 1981)
Símbolos Intervalo entre fracturas (cm) Designação
F1 >200 Muito afastadas
F2 60-200 Afastadas
F3 20-60 Medianamente afastadas
F4 6-20 Próximas
F5 <6 Muito próximas
Como anteriormente referido a utilização destes dois estados permitiu criar o índice RQD. Este índice
é definido em percentagem pelo quociente entre o somatório dos troços de amostra com comprimento
superior a 100mm e o comprimento total do avanço da perfuração em cada manobra. No quadro
seguinte está presente a classificação dos maciços rochosos segundo o índice RQD.
Quadro 2.4. Classificação do índice RQD para maciços rochosos (Deere et al, 1969)
RQD Qualidade do maciço rochoso
0-25% Muito fraco
25-50% Fraco
50-75% Razoável
75-90% Bom
90-100% Excelente
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
6
Para além da proposta desenvolvida por Deere (1967), existe também a proposta criada por Palmström
(1982) que deve ser utilizada no caso de não existir amostragem elaborada por sondagens, mas seja
possível identificar as descontinuidades em afloramentos rochosos ou em escavações. Esta proposta é
apresentada na equação 2.1, sendo que Jv é o índice volumétrico, definido pelo somatório do número
de descontinuidades de cada família, por unidade de comprimento medido na normal a cada uma das
famílias que ocorrem no maciço.
vJRQD 3,3115 (2.1.)
2.2.2. SISTEMA BASIC GEOTECHNICAL DESCRIPTION (BGD)
Este sistema foi elaborado pela ISRM (1981), e abarca os seguintes parâmetros do maciço rochoso:
Caracterização geológica; por exemplo é necessário saber a classificação litológica, a
composição mineralógica, a textura, a cor, o grau de alteração (W), a natureza das
descontinuidades e das estruturas geológicas, entre outros parâmetros;
Características estruturais, tais como afastamento entre fracturas (F) e espessura das camadas
(L);
Características mecânicas como a resistência à compressão simples e ângulo de atrito das
descontinuidades (S e A, respectivamente).
O ISRM sugeriu que fossem usados valores idênticos para os limites das classes do afastamento entre
fracturas e da espessura das camadas. No Quadro 2.5 apresenta-se a classe para a espessura da camada
dos maciços rochosos.
Quadro 2.5. Classificação em função da espessura das camadas do maciço rochoso (ISRM, 1981)
Símbolos Espessura da camada
(cm) Designação
L1 >200 Muito espessas
L2 60-200 Espessas
L3 20-60 Espessura mediana
L4 6-20 Delgadas
L5 <6 Muito delgadas
No Quadro 2.6 e Quadro 2.7 são expostas as classificações referentes à resistência à compressão
simples e ao ângulo de atrito das descontinuidades, respectivamente. Nesta ultima classificação, este é
determinado a partir da tangente à envolvente de rotura correspondente à tensão normal de 1 MPa.
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
7
Quadro 2.6. Classificação em função da resistência à compressão simples para um maciço rochoso
(ISRM, 1981)
Símbolos Resistência à compressão simples
(MPa) Designação
S1 >200 Muito elevada
S2 60-200 Elevada
S3 20-60 Média
S4 6-20 Baixa
S5 <6 Muito baixa
Quadro 2.7. Classificação em função do ângulo de atrito das descontinuidades para maciços rochosos
(ISRM, 1981)
Símbolos Ângulo de atrito
(º) Designação
A1 >45 Muito elevado
A2 35-45 Elevado
A3 25-35 Médio
A4 15-25 Baixo
A5 <15 Muito baixo
No caso de rochas com comportamento anisotrópico devem ser assinalados os valores das resistências
médias obtidos nas diferentes direcções, e por questões de segurança deve-se também indicar o valor
mínimo da resistência.
A BGD sugere que, para cada local onde o maciço rochoso seja subdivido, a sua caracterização pode
ser aligeirada por uma descrição geológica sintética, ou seja, os símbolos que caracterizam o maciço
são respectivamente os parâmetros avaliados. Por exemplo no caso de um granito tem-se a seguinte
classificação W2, L1, F3, S2, A3. No caso do maciço apresentar algumas características especiais ou se o
projecto necessitar, deve-se incluir essas informações complementares.
2.3. CLASSIFICAÇÃO DE MACIÇOS ROCHOSOS TENDO EM CONSIDERAÇÃO O MÓDULO DE
ELASTICIDADE E A VELOCIDADE DE PROPAGAÇÃO DE ONDAS ULTRASSÓNICAS
Embora não exista um consenso na comunidade internacional em relação à classificação dos maciços
rochosos, na sua maioria, as classificações fundamentam-se em parâmetros como o módulo de
elasticidade (E), a resistência à compressão simples (σc) e a velocidade de propagação das ondas
ultrassónicas (VP), porque estes parâmetros são obtidos recorrendo a ensaios, e por caracterizarem bem
o comportamento mecânico das rochas.
A velocidade de propagação das ondas que se obtém em ensaios in situ é afectada por características
do maciço rochoso, como por exemplo a fissuração, a fracturação e as descontinuidades no terreno.
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
8
Afecta essencialmente o valor de VP se as fracturas ou descontinuidades estiverem abertas.
Normalmente para a classificação de maciços utiliza-se o valor da velocidade de propagação de ondas
elásticas, mas também o quociente das velocidades de propagação de ondas elásticas medidas em
campo e em laboratório.
A velocidade de propagação de ondas elásticas tem o inconveniente de não diferenciar o efeito de
fracturação do maciço da qualidade da rocha. Enquanto que com o quociente das velocidades de
propagação de ondas elásticas já é possível estimar o efeito das descontinuidades no comportamento
do maciço rochoso, através da comparação das velocidades de propagação das ondas no maciço (vP,m)
com as velocidades de propagação obtidas em laboratório em provetes de rocha com o mesmo tipo de
ondas (vP,l). Na determinação da velocidade de propagação de ondas em laboratório os provetes são
submetidos a tensões de compressão correspondentes ao peso dos terrenos de cobertura, de forma a
simular o que se passa no campo.
Para um maciço rochoso isotrópico e sem descontinuidades, pode dizer-se que o quociente das
velocidades é igual a um. A diminuição desse valor deve-se, essencialmente, à presença das
descontinuidades, que provocam uma diminuição na propagação das ondas longitudinais.
No Quadro 2.8. está representada a classificação da qualidade dos maciços rochosos, tendo em
consideração: o quociente entre a velocidade de propagação de ondas no maciço pela velocidade de
propagação obtidas em laboratório (VP,m/VP,l); a relação de módulos de elasticidade dinâmicos obtidos
em campo (Ed,m) e de laboratório (Ed,l); a frequência de fracturas; e o índice RQD.
Quadro 2.8. Classificação em função da qualidade dos maciços rochosos
Qualidade do maciço rochoso lPmP VV ,, ldmd EE ,,
Frequência das fracturas
RQD (%)
Muito fraca <0,4 <0,2 >15 0 – 25
Fraca 0,4-0,6 0,2-0,4 15-8 25 – 50
Razoável 0,6-0,8 0,4-0,6 8-5 50 – 75
Boa 0,8-0,9 0,6-0,8 5-1 75 – 90
Excelente 0,9-1,0 0,8-1,0 <1 90 - 100
2.4. CLASSIFICAÇÕES GEOMECÂNICAS
Estes tipos de classificações baseiam-se em características do maciço rochoso, que são obtidas através
de observação directa, por realização de ensaios in situ ou por recolha de amostras em sondagens.
Entre o número de classificações existentes irá fazer-se referência à classificação de Bieniawski
(Sistema RMR), o índice Slope Mass Rock (SMR) e à de Barton (Sistema Q).
2.4.1. CLASSIFICAÇÃO DE BIENIAWSKI (ROCK MASS RATING, RMR)
Em 1976, Bieniawski introduziu esta classificação para aplicação em túneis e minas. Com o passar dos
anos o Sistema Rock Mass Rating (RMR) é sucessivamente actualizado em função da experiência
acumulada de vários casos práticos. A última versão a ser apresentada foi em 1989, como tal, é essa a
versão que será aqui referida.
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
9
O Sistema RMR baseia-se em seis parâmetros:
Resistência à compressão uniaxial da rocha intacta;
Índice Rock Quality Designation (RQD) em relação ao grau de fracturação;
Espaçamento das descontinuidades;
Condições das descontinuidades;
Influência da água;
Orientação das descontinuidades, em relação à escavação.
Cada um destes parâmetros recebe um determinado peso, dependendo da sua importância para o
projecto de engenharia. A soma destes pesos corresponde ao índice RMR, que permite diferenciar o
maciço rochoso em cinco classes, com o valor máximo de 100.
No Quadro 2.9 apresenta-se a classificação RMR, onde é possível determinar os pesos relativos às
cinco primeiras características anteriormente enunciadas. No caso das condições das descontinuidades
pode-se recorrer à classificação apresentada no Quadro 2.10, caso haja informações detalhadas das
descontinuidades. Caso se use este quadro é necessário fazer a soma dos pesos dos cinco parâmetros aí
apresentados. Se não existirem dados suficientes para utilizar o Quadro 2.10 deve-se optar pela
descrição que melhor se aproxima da realidade encontrada em campo.
Em relação às orientações das descontinuidades este traduz-se num peso que funciona como factor
correctivo do somatório e pode-se determinar pelo Quadro 2.11.
O índice RMR permite fazer uma estimativa da coesão e do ângulo de atrito, e ainda da indicação do
tempo médio de sustentação para vãos não revestidos em túneis, dependendo do tipo de classe. No
Quadro 2.12 apresentam-se estas estimativas.
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
10
Quadro 2.9. Classificação Rock Mass Rating, RMR (Bieniawski, 1989)
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Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
11
Quadro 2.10. Classificação da condição das descontinuidades (Bieniawski, 1989)
Comprimento da
descontinuidade Peso
Separação
Peso Rugosidade Peso Enchimento Peso
Grau de alteração
Peso
<1m 6 Nenhum 6 Muito rugoso 6 Nenhum 6 Não alteradas 6
1 – 3m 4 <0,1mm 5 Rugoso 5 Duro com espessura
<5mm 4
Ligeiramente alteradas
5
3 – 10ml 2 0,1 –
1,0mm 4
Ligeiramente rugoso
3 Duro com espessura
> 5mm 2
Moderadamente alteradas
3
10 – 20m 1 1 – 5mm 1 Quase liso 1 Mole com espessura
< 5mm 2 Muito alteradas 1
> 20m 0 > 5mm 0 Liso 0 Mole com espessura
> 5mm 0
Em decomposição
0
Quadro 2.11. Efeito da orientação das descontinuidades (Bieniawski, 1989)
Direcção perpendicular ao eixo do túnel Direcção paralela ao eixo do túnel
Abertura do túnel no sentido da inclinação
Abertura do túnel no sentido
inverso da inclinação Inclinação 45º – 90º
Inclinação 20º – 45º
Inclinação 0º – 20º
Inclinação 45º – 90º
Inclinação 20º – 45º
Inclinação 45º – 90º
Inclinação 20º – 45º
Muito favorável
Favorável Razoável Desfavorável Muito
desfavorável Razoável Razoável
Orientação das descontinuidades
Muito favorável
Favorável Razoável Desfavorável Muito
desfavorável
Pesos
Túneis e minas
0 -2 -5 -10 -12
Fundações 0 -2 -7 -15 -25
Taludes 0 -5 -25 -50 -60
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
12
Quadro 2.12. Classes de maciços rochosos do índice RMR (Bieniawski, 1989)
Peso global
Classe
Descrição
Tempo médio para aguentar o
suporte
Coesão da massa rochosa
(kPa)
Ângulo de atrito da massa rochosa
(º)
81 - 100 I Maciço
rochoso muito bom
20 anos para 15m de vão
>400 >45
61 – 80 II Maciço
rochoso bom 1 anos para 10m
de vão 300 – 400 35 – 45
41– 60 III Maciço rochoso razoável
1 semana para 5m de vão
200 – 300 25 – 35
21 – 40 IV Maciço
rochoso fraco 10 horas para 2,5m de vão
100 – 200 15 – 25
< 21 V Maciço
rochoso muito fraco
30 minutos para 1m de vão
<100 <15
Outra relação importante que existe é a utilização do índice RMR para determinar o módulo de
deformabilidade in situ (Em). Existem várias propostas mas só se vai fazer referência a três propostas
que foram baseados na análise de um número elevado de casos observados. Uma das primeiras
propostas foi a de Bieniawski, em 1978, apresentado na equação 2.2. Sendo que esta expressão está
limitada a valores de RMR superior a 50.
1002 RMREm (2.2.)
Serafim e Pereira, em 1983, baseados em análises a um determinado número de observações, que na
sua maioria envolviam os casos de fundações de barragens, propuseram a seguinte relação entre o
módulo de deformabilidade e o índice RMR, no entanto apenas para valores de RMR menores ou
iguais a 50.
40
10
10
RMR
mE (2.3.)
Hoek e Brown (2002) fizeram uma actualização da expressão 2.3 introduzindo o índice GSI
(Geological Strength Index), a resistência à compressão uniaxial do material rochoso intacto (σci), e o
parâmetro D. O índice GSI tem como objectivo estimar as propriedades heterogéneas dos diversos
maciços rochoso e baseia-se, essencialmente, na observação geológica. O parâmetro D varia com a
perturbação do maciço devido à escavação e com o tipo de obra (túnel ou talude). No Anexo A e B
apresentam-se, respectivamente, os quadros de GSI e D, onde se pode retirar os valores para um
determinado maciço rochoso.
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
13
De seguida apresentam-se as expressões para o Em obtidas por Hoek e Brown, sendo que a expressão
2.4 apenas se aplica para valores de σci menores ou iguais a 100MPa e a expressão 2.5 aplica-se para
valores de σci maiores de 100MPa. É necessário ter em atenção que nas expressões seguinte o valor de
σci tem que estar em MPa.
40
10
101002
1
GSI
ci
m
DE
(2.4.)
40
10
102
1
GSI
m
DE (2.5.)
O valor obtido para o módulo de elasticidade in situ (Em) pelas fórmulas 2.2, 2.3 e 2.4 é expressa em
GPa.
2.4.2. CLASSIFICAÇÃO GEOMECÂNICA DE TALUDES (SLOPE MASS ROCK, SMR)
Esta classificação permite avaliar empiricamente a estabilidade de um talude durante a fase de
escavação. O índice SMR foi proposto por Romana (1997), e tem como base a classificação Rock Mass
Rating (RMR) descrita anteriormente. O índice SMR é obtido pela soma do índice RMR com um factor
de ajuste, ver equação 2.6. Este factor de ajuste varia com a orientação das descontinuidades (F1, F2 e
F3), e com um factor que varia com o tipo de escavação (F4).
4321 )( FFFFRMRSMR (2.6.)
O factor de ajuste, que tem em conta a orientação das descontinuidades, é determinado pelo produto de
três subfactores, que se apresentam de seguida:
O factor F1 depende do valor absoluto entre o azimute das descontinuidades (αj) e do plano
do talude (αs). O seu valor varia entre 1,0 para quando as direcções são paralelas, e 0,15
quando o ângulo formado pelas duas direcções é maior que 30º e a probabilidade de rotura é
muito baixa. Estes valores foram estabelecidos empiricamente e ajustam-se
aproximadamente à equação seguinte:
21 ||1 sjsenF (2. 7.)
O factor F2 é obtido em função da inclinação das descontinuidades (βj), e é determinado pela
equação 2.8. No caso de instabilidade planar, este valor varia entre 1,0 para descontinuidades
com inclinação superior a 45º e 0,15 para descontinuidades com inclinação inferior a 20º.
Enquanto no caso da instabilidade por toppling este valor é sempre igual a 1,0.
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
14
jtgF 2
2 (2. 8.)
O factor F3 depende da relação entre a inclinação da descontinuidade (βj) e do talude (βs),
sendo que se mantêm os valores propostos pelo Bieniawski (1976), ver Quadro 2.11.
No Quadro 2.13 apresenta-se o valor para os factores de ajuste devido à orientação das
descontinuidades. Onde P e T correspondem à instabilidade planar e por toppling, respectivamente.
Quadro 2.13. Factores de ajuste devido à orientação das descontinuidades (Romana, 1985)
Caso Muito
favorável0 Favorável Normal Desfavorável
Muito desfavorável
P
T
|| sj
|º180| sj > 30º 30º - 20º 20º - 10º 10º - 5º <5º
P e T F1 0,15 0,40 0,70 0,85 1,00
P || j <20º 20º - 30º 30º - 35º 35º - 45º > 45º
F2 0,15 0,40 0,70 0,85 1,00
T F2 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00
P
T
|| sj
|| sj
>10º
<110º
10º - 0º
110º - 120º
0º
>120º
0-(-10º)
-
<-10º
-
P e T F3 0 -5 -25 -50 -60
O factor F4 é função do método de escavação. No Quadro 2.14 apresentam-se os valores para os
diferentes tipos de escavação consideradas.
Quadro 2.14. Factor de ajuste devido ao método de escavação, F4 (Romana, 1985)
Método Talude natural
Pré-corte Explosão
suave
Explosão ou escavação mecânica
Explosão deficiente
F4 +15 +10 +8 0 -8
O procedimento a seguir consiste em calcular o índice SMR para cada uma das famílias de
descontinuidades e depois optar pelo valor menor. Em maciços rochosos alterados a sua classificação
deve ser aplicada duas vezes, uma para a situação de rocha inalterada e outra considerando a rocha
alterada. Esta classificação não considera a instabilidade por cunha. No quadro seguinte apresentam-se
as cinco classes para o índice SMR, sendo que também é possível associar essas classes à estabilidade
e a rotura do talude. Tal como acontece no caso do índice RMR, também é possível estimar a coesão
(c) e o ângulo de atrito do maciço rochoso () através da classe do índice SMR. Destaca-se que as
classes são iguais em ambos os casos, logo pode adoptar-se os valores apresentados no Quadro 2.12.
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
15
Quadro 2.15. Classe de estabilidade do índice SMR (Romana, 1985)
Classe V IV III II I
SMR 0 - 20 21 - 40 41 - 60 61 - 80 81 - 100
Descrição Muito mau Mau Normal Bom Muito bom
Estabilidade Totalmente
instável Instável
Parcialmente estável
Estável Totalmente
estável
Roturas
Grandes roturas por planos
contínuos ou em massa
Juntas ou grandes cunhas
Algumas juntas ou muitas cunhas
Alguns blocos
Nenhuma
Recorrendo ao índice SMR o autor, Romana, estimou as possíveis medidas de sustentação a aplicar
nos taludes, agrupando-se em 6 classes diferentes. No Quadro 2.16 apresentam-se estas medidas.
Quadro 2.16. Medidas de sustentação do índice SMR (Romana, 1997)
SMR Medidas de sustentação
> 65 Sem sustentação
45 - 70 Protecção (valas de pé de talude; redes de
superfície de talude)
30 - 75 Reforço (pregagens; ancoragens)
20 – 60 Betão (projectado; de enchimento, contraforte
e/ou vigas, muros de pé de talude)
10 - 40 Drenagem (superficial ou profunda)
10 - 30 Re-escavação (muros de contenção)
2.4.3. CLASSIFICAÇÃO DE BARTON (QUALITY SYSTEM, Q)
Esta classificação foi desenvolvida por Barton, Lien, e Lund, em 1974, no Norwegian Geotechnical
Institute, (NGI) para aplicação em escavações subterrâneas. A classificação assenta essencialmente na
avaliação numérica da qualidade de maciços rochosos utilizando seis parâmetros diferentes: o índice
RQD, o número de famílias de descontinuidades (Jn), a rugosidade mais desfavorável de uma família
de descontinuidades (Jr), o grau de alteração das paredes das descontinuidades ou preenchimento (Ja),
a influência da água subterrânea (Jw) e do Stress Reduction Factor (SRF).
O valor do índice de qualidade (Q) apresenta valores que podem variar entre 10-3
a 103 e é
determinado a partir do produto de três quocientes, formado pelo agrupamento dos seis parâmetros
anteriormente referidos.
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
16
SRF
J
J
J
J
RQDQ w
a
r
n
(2.9.)
Na expressão 2.7, deve salientar-se que os três quocientes correspondem a três aspectos diferentes
relativos ao maciço rochoso:
RQD/Jn representa a estrutura do maciço rochoso e é relativa ao tamanho de blocos, o seu
valor varia entre 200 e 0,5;
Jr/Ja é um indicador da resistência ao corte entre os blocos ou das descontinuidades; o
quociente cresce com o incremento da rugosidade e diminui com o grau de alteração das
paredes em contacto directo, o que corresponde ao aumento da resistência ao corte; se as
descontinuidades tiverem preenchimentos argilosos ou se tiverem abertas a resistência ao
corte e o quociente diminuem;
Jw/SRF descreve o estado de tensão no maciço rochoso, isto porque o factor Jw caracteriza a
pressão da água, e o factor SRF representa o estado de tensão no maciço rochoso, em termos
de tensões totais.
Nos quadros seguintes apresenta-se o significado dos parâmetros de Barton da equação 2.9.
Quadro 2.17. Designação da qualidade da rocha, RQD (Barton et al, 1974)
Descrição do parâmetro
RQD Valor Notas
A Muito mau 0 - 25
Quando o RQD for <10 (incluindo 0) considera-se
um valor nominal de 10 no cálculo de Q;
Intervalos de 5 no RQD têm precisão suficiente
(100, 95, 90…).
B Mau 25 – 50
C Médio 50 – 75
D Bom 75 – 90
E Muito bom 90 – 100
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
17
Quadro 2.18. Índice das famílias de descontinuidades, Jn (Barton et al, 1974)
Descrição do parâmetro
Joint set number, Jn Valor Notas
A Nenhum ou poucas descontinuidades presentes 0,5 – 1,0
Nas intersecções utilizar
3 x Jn;
Nas embocaduras utilizar
2 x Jn.
B Uma família de descontinuidades 2
C Uma família mais descontinuidades esparsas 3
D Duas famílias de descontinuidades 4
E Duas famílias mais descontinuidades esparsas 6
F Três famílias de descontinuidades 9
G Três famílias mais descontinuidades esparsas 12
H Quatro ou mais famílias, descontinuidades esparsas,
maciços muito fracturados 15
I Rocha esmagada, tipo terroso 20
Quadro 2.19. Índice de rugosidade das descontinuidades, Jr (Barton et al, 1974)
Descrição do parâmetro
Joint roughness number, Jr Valor Notas
Contacto entre as paredes de rocha das descontinuidades
Contacto entre as paredes de rocha antes de 10cm de escorregamento As descrições das alíneas a) e b)
referem-se a escalas de
amostragem de pequena e média
dimensão, respectivamente;
Adicionar 1,0 se o espaçamento
médio da família de
descontinuidades mais relevante
for maior que 3m;
Jr igual a 0,5 pode ser usado para
descontinuidades polidas e planas
contendo lineações, se essas
lineações estiverem orientadas na
direcção de menor resistência.
A Juntas descontínuas 4
B Descontinuidades rugosas, irregulares, onduladas 3
C Descontinuidades suaves e onduladas 2
D Descontinuidades polidas e onduladas 1,5
E Descontinuidades rugosas ou irregulares, planas 1,5
F Descontinuidades lisas, planas 1,0
G Descontinuidades polidas, planas 0,5
Não há contacto entre as paredes de rocha no escorregamento
H Zona contendo minerais argilosos e suficientemente espessa de
modo a impedir o contacto entre as paredes 1,0
I Zonas esmagadas contendo areias de modo a impedir o contacto
entre as paredes 1,0
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
18
Quadro 2.20. Grau de alteração das descontinuidades, Ja (Barton et al, 1974)
Descrição do parâmetro
Joint alteration number
Valor
Ja ϕr (º)
aprox.
Contacto entre as paredes de rocha das descontinuidades
A Paredes duras, compactas, preenchimentos impermeáveis (quartzo ou epibolito) 0,75 -
B Paredes não alteradas, somente com leve descoloração 1,0 25-35
C Paredes ligeiramente alteradas, com partículas arenosas e rochas desintegradas não
brandas 2,0 25-30
D Paredes com partículas siltosas ou areno-argilosas 3,0 20-25
E
Paredes com partículas de materiais moles ou de baixo ângulo de atrito, tais como
caulinite, mica, gesso, talco, clorite, grafite, etc., e pequenas quantidades de argilas
expansivas
4,0 8-16
Contacto entre as paredes de rocha das descontinuidades antes de 10cm de escorregamento
F Paredes com partículas de areia e rochas desintegradas, etc. 4,0 25-30
G Descontinuidades com preenchimento argiloso sobreconsolidado (contínuo, mas com
espessura <5mm) 6,0 16-24
H Descontinuidades com preenchimento argiloso subconsolidado (contínuo, mas com
espessura <5mm) 8,0 12-16
I
Descontinuidades com enchimento argiloso expansivo, como por exemplo montmorilonite
(contínuo, mas com espessura <5mm); valor de Ja depende da percentagem de partículas
de argila expansiva e do acesso da água, etc.
8 – 12 6-12
Não há contacto entre as paredes de rocha das descontinuidades
J Zonas ou bandas com rochas desintegradas ou esmagadas com argila (ver G, H e I para
condições do material argiloso)
6,8
ou
8 – 12
6-24
K Zonas ou bandas siltosas ou areno-argilosas, com pequena fracção de argila 5,0 -
L Zonas contínuas de argila (ver G, H e I para condições do material argiloso 10,13,
13-20 6-24
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
19
Quadro 2.21. Índice das condições hidrogeológicas, Jw (Barton et al, 1974)
Descrição do parâmetro
Joint water reduction
Valor
Notas
Jw
Pressão da
água
aprox.(MPa)
A Escavações secas ou caudal afluído pequeno, isto é
<5l/min localmente 1,0 < 0,1
Os factores nos casos C a F
são estimados para
condições naturais; o
parâmetro Jw deverá ser
aumentado caso sejam
efectuadas drenagens;
Os problemas especiais
relacionados com a
formação de gelo não são
considerados.
B Caudal médio ou pressão que ocasionalmente arraste
o preenchimento das descontinuidades 0,66 0,1 – 0,25
C Caudal ou pressão elevada em rochas competentes
sem preenchimento 0,5 0,25 – 1,0
D Caudal ou pressão elevada, com considerável
arrastamento do preenchimento das descontinuidades 0,3 0,25 – 1,0
E Caudal excepcionalmente elevado ou pressão
explosiva, decaindo com o tempo 0,2 – 0,1 > 1,0
F Caudal excepcionalmente elevado ou pressão
contínua, sem decaimento 0,1 – 0,05 > 1,0
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
20
Quadro 2.22. Factor de Redução de Tensões, SRF
Descrição do parâmetro
Stress Reduction Factor, SRF Valor Notas
Zonas de fraqueza intersectando as escavações, o que pode causar a descompressão do
maciço rochoso durante a abertura destas
Reduzir o índice SRF de
25 a 50% se as zonas de
corte influenciarem a
escavação sem a
atravessarem
No caso de maciços
rochosos contendo argila,
é conveniente obter o
índice SRF para as
cargas de
descompressão. A
resistência da matriz
rochosa é então pouco
significativa. Em maciços
muito pouco fracturados e
sem argila.
A
Zonas de fraqueza frequente, contendo argila ou rocha decomposta
quimicamente; maciço rochoso envolvente muito descomprimido (todas
as profundidades)
10,0
B Zonas de fraqueza individual, contendo argila ou rocha decomposta
quimicamente (profundidade de escavação ≤ 50m) 5,0
C Zonas de fraqueza individual, contendo argila ou rocha decomposta
quimicamente (profundidade de escavação> 50m) 2,5
D Numerosas zonas de corte em rocha competente, sem argila; rocha
envolvente descomprimida (todas as profundidades) 7,5
E Zonas individuais de corte em rocha competente, sem argila
(profundidade de escavação ≤ 50m) 5,0
F Zonas individuais de corte em rocha rígida, sem argila (profundidade de
escavação> 50m) 2,5
G Juntas abertas, rocha muito fracturada e descomprimida (todas as
profundidades) 5,0
Rocha competente, problemas de tensões na rocha 1 c 1 t
H Tensões baixas, próximo da superfície 2,5 >200 >13
I Tensões médias 1,0 200-10 13-0,66
J
Tensões altas, estrutura rochosa muito fechada (usualmente favorável
para a estabilidade; pode ser desfavorável para a estabilidade das
paredes)
0,5-2,0 10-5 0,66-0,33
K Explosões moderadas de rochas (rocha maciça) 5-10 5-2,5 0,33-0,16
L Explosões intensas de rochas (rocha maciça) 10-20 <2,5 <0,16
Rocha esmagada: plastificação de rochas incompetentes sob a influência de altas
pressões de rocha
M Pressão moderada da rocha esmagada 5-10
N Pressão elevada da rocha esmagada 10-20
Rochas expansivas: actividade química expansiva devida à presença da água
O Pressão de expansão moderada 5-10
P Pressão de expansão elevada 10-15
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
21
O sistema Q e o índice RMR incluem parâmetros muito diferentes e, portanto não pode existir uma
relação directa entre estes sistemas de classificação. A equação 2.10. é uma correlação aproximada
proposta por Bieniawski, baseada em estudos de um grande número de casos.
44log9 QRMR (2.10.)
Mais recentemente Barton et al (1980), Barton et al (1992) e Grimstad e Barton (1993) encontraram
um bom ajuste entre os deslocamentos medidos e uma previsão a partir da análise numéricas usando
os valores estimados pela equação 2.11.
QEm 10log25 (2.11.)
Na Figura 2.1 encontram-se representadas as equações 2.2, 2.3, e 2.11, incluindo casos históricos
observados por Bieniawski (1978), do Serafim e Pereira (1983). Pela análise da figura percebe-se que
a expressão de Serafim e Pereira (2.3) permite uma boa aproximação aos casos observados e também
tem uma boa convergência do índice RMR das outras duas equações.
Figura 2.1 - Estimativa do módulo de deformabilidade pelos índices Q e RMR
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
22
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
23
3 TALUDES
3.1. FACTORES CONDICIONANTES DA ESTABILIDADE DE TALUDES
Os principais factores que condicionam a estabilidade de um talude são: a estratigrafia, a litologia, a
estrutura geológica, as condições hidrogeológicas, as suas propriedades físicas e químicas, e as tensões
naturais e induzidas. Com a conjugação crítica destes factores pode estabelecer-se a condição de
rotura. É de notar que os factores geológicos, hidrogeológicos e geotécnicos estão relacionados com o
tipo de material do talude.
Para além de ter em consideração estes três factores, que normalmente são chamados de factores
passivos, é também necessário ter em atenção os factores desestabilizadores, ou seja, os denominados
de factores activos. Os factores desestabilizadores são, normalmente as sobrecargas estáticas, as cargas
dinâmicas, a alteração das condições hidrogeológicas, a mudança de factores climáticos inicialmente
previstos, as variações da geometria do talude e a redução de parâmetros resistentes, entre outros.
A obtenção de informações prévias sobre os factores condicionantes e dos factores desestabilizadores
permitirá uma correcta análise do talude, da avaliação de estabilidade, e posteriormente, se necessário,
fazer um estudo de estabilização de taludes.
Em relação aos factores condicionantes, pode-se referir:
A estratigrafia e litologia são dos factores mais importantes visto que um talude pode ter
uma alternância de materiais com diferentes litologias, ou a presença de camadas que variam
entre material fraco e duro, que controlam o tipo e a posição da superfície de rotura. Na
Figura 3.1. apresenta-se um exemplo de um talude com diferentes litologias e estratigrafia,
em Lima, no Perú. Sendo que no caso de maciços terrosos, que geralmente se consideram
homogéneos, as zonas de fragilidade e posterior instabilidade são caracterizadas por
diferenças de grau de compactação, de granulometria e de circulação de água. Nos maciços
rochosos, a instabilidade pode dever-se a diferentes graus de fracturação dos materiais que
constituem o maciço, e que dificultam a caracterização e o estudo do comportamento do
talude;
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
24
Figura 3.1. Representação da estratigrafia e litologia (Lima, Perú)
A estrutura geológica é relevante para as condições de estabilidade, porque a combinação
dos elementos estruturais com os factores geométricos do talude, como a inclinação, a altura
e orientação, descrevem os problemas de estabilidade. A existência de descontinuidades
implica um estudo que inclua esses planos como futuras zonas de rotura. Algumas
descontinuidades podem limitar a zona instável e condicionar o mecanismo de rotura, como
por exemplo: a existência de uma descontinuidade que emerge da face do talude, a presença
de uma falha ou um sistema de fracturas;
As condições hidrogeológicas são dos factores que maiores instabilidades provocam, como
por exemplo: a geração de pressões neutras, arrastamentos e erosões dos materiais que
formam o talude. A existência da água num maciço reduz a sua estabilidade devido à
diminuição da resistência do terreno e o aumento das forças desestabilizadoras. No caso de
maciços rochosos, a presença da água têm os seguintes efeitos, na redução de estabilidade: a
pressão da água diminui a resistência ao deslizamento ao longo dos potenciais superfícies de
rotura; a variação de teor em água em algumas rochas pode aumentar a alteração das rochas;
o gelo e degelo da água, presente nas descontinuidades, faz diminuir e o aumentar o volume,
respectivamente, o que pode provocar a fracturação da rocha e o aparecimento de blocos de
menor dimensão; e a erosão do preenchimento das descontinuidades devido ao movimento
da água pode levar ao aumento da abertura destas;
Propriedades geomecânicas, como por exemplo a resistência ao corte, são responsáveis por
uma possível rotura de um talude. No caso de maciços rochosos, os mecanismos de rotura
são dirigidos pelas propriedades resistentes das descontinuidades e da matriz rochosa. Sendo
que o seu comportamento normalmente é avaliado pelas características das descontinuidades,
da litologia e da história geológica evolutiva. Para determinar a estabilidade de um maciço
rochoso é necessário saber a resistência ao corte das descontinuidades, que dependem da
natureza e origem, continuidade, espaçamento, rugosidade, tipo e espessura do enchimento, e
presença de água, entre outros;
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
25
As tensões naturais são um factor importante na estabilidade de taludes, porque a libertação
de tensões que ocorrem na envolvente da escavação de um talude pode levar a tal
descompressão que o maciço se transforma e fragmenta nas zonas mais instáveis, levando a
que o maciço se comporte como um solo. Este efeito foi corroborado por Vallejo, em 2002,
nas explorações mineiras de Córdoba. No caso de escavações profundas, a partir de 50m,
deve-se considerar o estado de tensão e de deformação no estudo de estabilidade. A alteração
do estado de tensão provoca a perda de resistência do maciço, deve-se ter em consideração
que estas alterações dependem do tempo da intervenção em obra. Ou seja, quanto maior a
duração da escavação menor serão as consequências sobre o estado de tensão do maciço.
No caso de factores desestabilizadores podem-se destacar os seguintes factores:
As sobrecargas estáticas e as cargas dinâmicas que possam surgir no talude alterando a
distribuição de forças, o que pode originar instabilidade. As sobrecargas estáticas podem-se
dever a aterros, passagem de veículos, ou ao peso de uma estrutura. As cargas dinâmicas
devem-se essencialmente a movimentos sísmicos e a vibrações produzidas por explosões. No
caso de maciços rochosos fracturados estas cargas dinâmicas provocam a abertura de
descontinuidades, provocando o decréscimo da resistência ao corte, e a criação de novos
blocos, e posteriormente, a queda desses blocos. Sendo, que no caso de movimentos sísmicos
fortes pode levar à rotura geral do talude, podendo observar-se este caso na Figura 3.2;
Figura 3.2. Rotura total do talude devido a movimento sísmico, em El Salvador (2001)
A precipitação e alteração do regime climatérico modificam a estabilidade do talude,
devido à presença de água no terreno. É possível estabelecer critérios de risco de
instabilidade em função dos períodos de chuva e de seca, que produzem alterações na
estrutura dos solos e levam a perdas de resistência. Na Figura 3.3 pode-se observar um
exemplo de um deslizamento devido à chuva intensa que se vez sentir no Rio de Janeiro,
Brasil, no ano de 2010, e que provocou inúmeros danos;
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
26
Figura 3.3. Deslizamento de terras devido a precipitação intensa, Rio de Janeiro, Brasil (2010)
A redução dos parâmetros resistentes é desenvolvida por processos de meteorização, em
alguns tipos de solos ou em maciços rochosos fracos, que normalmente leva a uma alteração
e degradação intensa, quando estão sujeitas a condições ambientais. A diminuição de
resistência pode conduzir a um deslizamento superficial, e em casos mais críticos, no caso de
afectar o pé do talude, pode originar roturas globais, principalmente se existir água.
3.2. DESCONTINUIDADES
3.2.1. CONSIDERAÇÕES GERAIS
As descontinuidades dão um carácter descontínuo e anisotrópico aos maciços rochosos, que faz com
que o maciço seja mais deformável e fraco, e que torna difícil avaliar o seu comportamento mecânico
para o estudo de projectos de obras de engenharia. As descontinuidades caracterizam-se por planos de
alteração, meteorização e fracturas, que normalmente permitem a circulação da água. O conhecimento
das descontinuidades é essencial para a descrição e caracterização do maciço, tanto a nível do
comportamento mecânico como hidrogeológico.
No estudo da estabilidade em escavações e fundações em maciços rochosos é necessário ter especial
atenção à orientação e à resistência ao deslizamento das descontinuidades. Na Figura 3.4 podem
observar-se três exemplos de obras de engenharia onde as orientações das descontinuidades são muito
importantes.
As orientações das descontinuidades limitam a geometria dos blocos, e definem a direcção de uma
possível superfície de deslizamento. Nos exemplos apresentados na Figura 3.4 é de salientar:
No caso do túnel (a), as descontinuidades quando têm orientações muito inclinadas ou
próximas da verticalidade originarem problemas de estabilidade;
Quando se está perante uma barragem de abóbada (b) e as descontinuidades do maciço têm a
mesma direcção da resultante das forças que a barragem transmite ao maciço, podem
originar problemas de estabilidade;
No caso de obras de taludes (c), a sua estabilidade depende da orientação das
descontinuidades, tal como se pode observar pela figura.
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
27
Figura 3.4. A influência das descontinuidades em algumas obras de engenharia
Outro factor importante é a resistência ao deslizamento das descontinuidades, que nos permite
determinar a resistência dos maciços rochosos duros fracturados. Mas para que seja possível estimar
este valor é necessário estabelecer as características físicas e geométricas dos planos de
descontinuidade, sendo que o valor da resistência pode ser obtido através de ensaios de campo ou de
laboratório.
As descontinuidades apresentam-se agrupadas em famílias que se caracterizam pelos valores médios
representativos da orientação, características físicas e resistentes das descontinuidades. As
descontinuidades de uma mesma família são paralelas ou subparalelas entre si, como se pode observar
pela Figura 3.1.
3.2.2. TIPOS DE DESCONTINUIDADES
Atribui-se a denominação de descontinuidade a qualquer plano de separação de um maciço rochoso,
sendo que as descontinuidades podem ser do tipo: superfície de estratificação; foliação; diáclases;
falhas; xistosidade; e clivagem de fractura. Estes tipos de descontinuidade distinguem-se
principalmente pela sua origem e evolução. Em seguida apresenta-se uma resumida definição destes
tipos de descontinuidades.
3.2.2.1. Superfície de estratificação
As superfícies de estratificação, ou também conhecidas por plane bedding, são superfícies de
deposição de sedimentos diferentes. Cada uma destas camadas define um ciclo de deposição que é
separado do seguinte por um intervalo na sedimentação, ou pelo início de uma camada sedimentar
com características litológicas diferentes. Normalmente são de grande continuidade, e com
espaçamento que varia entre poucos centímetros e muitos metros. É de salientar que estas
descontinuidades não devem ser assumidas como horizontais. Na Figura 3.5 apresenta-se um exemplo
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
28
de superfície de estratificação de um argilito, onde pode-se observar que a superfície de estratificação
mergulha suavemente para a esquerda da figura.
Figura 3.5. Exemplo de uma superfície de estratificação
3.2.2.2. Foliação
A foliação, ou também designada por foliation, é obtida pela orientação paralela dos minerais
lamelares ou bandas minerais nas rochas metamórficas. A foliação pode ser muito evidente e observar-
se a olho nu, ou pode ser apenas observável ao microscópico. Isto deve-se à facilidade de se dividir em
lâminas, que com o aumento do grau de metamorfismo os planos de foliação sejam menos evidentes.
Na Figura 3.6 encontra-se representado a foliação de uma rocha metamórfica do tipo gneisse, neste
caso a foliação é em camadas alternadas de minerais claros e escuros.
Figura 3.6. Exemplo de foliação numa rocha metamórfica do tipo gneisse
3.2.2.3. Diáclases
As diáclases ou jointing correspondem a superfícies de fracturação devido a pequenos deslizamentos.
Normalmente as diáclases intersectam outros tipos de descontinuidade, como por exemplo, as
superfícies de estratificação, a clivagem e a xistosidade.
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
29
Nas diáclases podem-se distinguir três tipos, dependendo da sua origem:
Diáclases de origem tectónica estão geralmente relacionadas com o aparecimento de dobras
e de falhas. No caso de diáclases associadas a falhas, a colocação desta é paralela ao plano da
falha, sendo que a frequência das diáclases diminui com o aumento da distância entre estas.
No caso de diáclases associada a dobras, a sua disposição é caracterizada na Figura 3.7, onde
“t” corresponde a diáclases devido às tensões de tracção a que se encontra sujeita a dobra,
“s” são as diáclases de direcção, “d” equivale as diáclases inclinadas e “o” são diáclases
oblíquas;
Figura 3.7. Família de diáclases devido às dobras de origem tectónica (Blyth e de Freitas, 1984)
Diáclases em rochas ígneas são formadas por compressões durante ou depois da formação
da rocha ígnea. A sua disposição é caracterizada por famílias ortogonais entre si, ou seja,
com orientações aproximadamente normais entre si, e desenvolvem-se subparalelamente à
superfície topográfica. Estão normalmente associadas à descompressão sofrida pelas rochas
quando, devido à erosão, lhe é retirado o material que a está a cobrir. Na figura 3.8
apresentam-se diáclases numa rocha ígnea de granito;
Figura 3.8. Diáclase numa rocha ígnea de granito, ilha de Bornholm na Dinamarca
As diáclases de relaxação têm origem na redução de uma carga litostática. Normalmente
dispõem-se sub-paralelamente à superfície topográfica e a sua frequência diminui em
profundidade.
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
30
3.2.2.4. Falhas
As falhas correspondem a planos de rotura ou fracturação com deslocamento relativo entre os blocos,
que normalmente é denominado por superfície ou plano de falha. Isto acontece quando as tensões que
se exercem nas rochas ultrapassam o ponto de rotura. Os planos que delimitam a falha são
denominadas por paredes da falha e o espaço entre estes é denominado por caixa da falha. As falhas
normalmente não têm uma superfície plana, mas sim rugosa, e raramente se encontra uma única falha,
visto que normalmente estão em conjunto de falhas paralelas ou sub-paralelas. A extensão destas
falhas varia entre alguns metros e centenas de quilómetros, e podem estar associadas a zonas do
maciço que se encontram debilitadas. Na Figura 3.9 apresenta-se uma falha presente na ilha de S.
Miguel, nos Açores.
Figura 3.9. Exemplo de uma falha, nos Açores, Portugal (2009)
As falhas podem ser divididas em três tipos, na Figura 3.10 apresenta-se um esquema destes tipos de
falhas:
Falhas normais (a), normalmente, ocorrem em ambientes de tensões de tracção;
Falhas inversas (b), ocorrem em ambientes compressivos;
Falhas de deslizamento (c), têm origem em ambientes de resistência ao corte.
Figura 3.10. Esquema dos diferentes tipos de falhas
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
31
3.2.2.5. Xistosidade
A xistosidade é a foliação no xisto ou em outra rocha de grão grosseiro, que deriva da arrumação em
planos paralelos dos minerais do tipo lamelar e ou prismático. A xistosidade é caracterizada por um
espaçamento muito reduzido, da ordem dos milímetros ou centímetros. Na figura seguinte apresenta-se
um exemplo de xistosidade e fracturação do xisto.
Figura 3.11. Exemplo de xistosidade e fracturação no xisto, em Barrancos
3.2.2.6. Clivagem de fractura
As clivagens de fractura são fracturas paralelas formadas por uma intercalação de camadas rochosas
incompetentes, ou seja de baixa resistência, com camadas de rochas competentes, de resistência
superior. Este tipo de descontinuidades pode apresentar-se por exemplo num xisto argiloso alternado
com arenito de resistência muito superior.
3.2.3. CARACTERÍSTICAS INDIVIDUAIS DAS DESCONTINUIDADES
Para a caracterização de certos tipos de descontinuidades há que ter em conta alguns aspectos, como
por exemplo, no caso das falhas, que são normalmente estudadas individualmente, porque para uma
dada região o número de falhas com importância é muito reduzido, e por vezes têm orientações e
propriedades físicas diferentes entre si. No caso das diáclases, das superfícies de estratificação e da
xistosidade, estas normalmente surgem em famílias e em grande número, com idênticas orientações, o
que justifica a utilização de um estudo de carácter estatístico.
A simples designação do tipo de descontinuidade não permite obter uma informação detalhada das
propriedades das descontinuidades para efeito de dimensionamento em projecto, em especial no caso
de fundações onde características como a abertura da descontinuidade têm particular importância nos
assentamentos.
A definição das descontinuidades de um maciço rochoso inclui, portanto, as seguintes características e
parâmetros geométricos: orientação, espaçamento, persistência, rugosidade, abertura, preenchimento,
presença de água nas descontinuidades e resistência das paredes.
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
32
3.2.3.1. Orientação das descontinuidades
As descontinuidades de um maciço rochoso repartem-se segundo orientações preferenciais, juntando-
se em famílias. A orientação de uma descontinuidade é definida pelo azimute e pelo pendor. Na Figura
3.12 apresenta-se um esquema da orientação das descontinuidades. Sendo que o azimute é definido
pelo ângulo medido no sentido dos ponteiros do relógio entre o norte e a projecção horizontal da linha
de maior declive do plano de descontinuidade, e o pendor é o ângulo de inclinação do plano de
descontinuidade com o plano horizontal.
Figura 3.12. Esquema da orientação das descontinuidades (Goodman e Shi)
A determinação da orientação média de uma família estabelece-se através de valores estatísticos
representativos. A representação gráfica das descontinuidades ou da sua orientação permite ter uma
ideia geral da geometria dos maciços rochosos.
3.2.3.2. Espaçamento das descontinuidades
O espaçamento é considerado como a distância perpendicular entre dois planos de descontinuidade de
uma mesma família, normalmente referindo-se à média de espaçamentos da família (definição
elaborada por Brown em 1981). O comportamento global do maciço rochoso e o tamanho dos blocos
das matrizes rochosas que formam as diferentes famílias podem variar em função das dimensões do
espaçamento das descontinuidades. Quando o espaçamento é pequeno tende a diminuir a resistência
do maciço rochoso consideravelmente e em alguns casos, origina um comportamento como material
granular sem coesão.
O ISRM propôs o Quadro 3.1 para a classificação de espaçamento das descontinuidades.
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
33
Quadro 3.1. Classificação de espaçamento das descontinuidades (ISRM, 1978)
Espaçamento (mm)
Descrição
<20 Extremamente fechado
20 – 60 Muito fechado
60 - 200 Fechado
200 – 600 Moderado
600 - 2000 Aberto
2000 – 6000 Muito aberto
> 6000 Extremamente aberto
3.2.3.3. Persistência ou continuidade das descontinuidades
A persistência das descontinuidades é a extensão ou dimensão de uma descontinuidade sobre um
plano, e o seu valor é determinado pela observação do comprimento do traço da descontinuidade ao
longo de uma superfície exposta do maciço. Os traços das descontinuidades podem acabar noutras
descontinuidades, ou terminar mesmo na própria rocha. A persistência define em grande parte a matriz
rochosa e a probabilidade de rotura do maciço rochoso. Este parâmetro é de difícil utilização, porque
são necessários afloramentos extensos para a observação das descontinuidades, sendo impossível nos
casos em que o estudo é feito através de sondagens.
No Quadro 3.2 apresenta-se a classificação de persistência desenvolvida pelo ISRM, em 1978.
Quadro 3.2. Classificação de Persistência (ISRM, 1978)
Persistência (m)
Descrição
< 1 Muito baixa
1 – 3 Baixa
3 – 10 Média
10 – 20 Alta
> 20 Muito alta
3.2.3.4. Rugosidade das descontinuidades
A rugosidade dos planos de descontinuidade normalmente é caracterizada pelas ondulações relativas e
irregularidades dos planos de descontinuidade. A rugosidade permite determinar a resistência ao corte,
ou seja, quanto maior a rugosidade maior será a resistência, e quanto maiores as irregularidades, mais
difícil é o movimento durante o processo de deslocamento tangencial por corte.
As irregularidades e as ondulações podem permitir perceber qual é a possível direcção dos
deslocamentos e definem a resistência ao corte para as duas direcções, ou seja, a direcção que coincide
com a rugosidade e a sua transversal.
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
34
3.2.3.5. Abertura das descontinuidades
A abertura é a distância medida na perpendicular entre paredes adjacentes de uma descontinuidade,
sendo que o interior da abertura pode encontrar-se preenchido ou não. Na Figura 3.13 apresenta-se um
esquema dos diferentes tipos de aberturas das descontinuidades, no caso em que a descontinuidade se
encontra fechada (a), quando se está perante uma descontinuidade aberta (b), ou quando é uma
descontinuidade preenchida (c).
Figura 3.13. Representação esquemática do tipo de abertura das descontinuidades
Este parâmetro pode sofrer grandes variações em diferentes zonas dos maciços rochosos, o que
dificulta ou mesmo impossibilita a sua medida. Quando se está perante uma elevada abertura, esta
pode dever-se a deslizamentos anteriores da descontinuidade com rugosidade elevada, a movimentos
gerados por tensões de tracção, e/ou pelo arrastamento de materiais de enchimento. A abertura e a sua
variação influenciam a resistência ao corte, porque uma maior abertura corresponde a uma diminuição
de contactos entre as irregularidades das descontinuidades. Nesta situação pode também ocorrer um
esmagamento pontual das irregularidades das paredes das descontinuidades devido à concentração de
tensões.
A abertura das descontinuidades pode ser classificada pelas designações apresentadas no Quadro 3.3.
Quadro 3.3. Designações da abertura
Designações Abertura
(mm)
Muito fechadas < 0,1
Fechadas 0,1 – 0,25
Parcialmente fechadas 0,25 – 0,5
Abertas 0,5 – 2,5
Largas 2,5 – 10
Muito largas 10 – 100
Extremamente largas 100 – 1000
Cavernosas > 1000
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35
3.2.3.6. Preenchimento das descontinuidades
O preenchimento é o material que separa as paredes rochosas de uma descontinuidade aberta, e
normalmente é um material mais fraco que o material rochoso original, representado por areias, silte,
argila, e material alterado. Na Figura 3.13 (c) está representado este preenchimento. As propriedades
físicas e mecânicas do preenchimento, como por exemplo, a resistência ao corte, a deformabilidade, e
a permeabilidade, podem ser muito variáveis, e controlam o comportamento das descontinuidades.
O preenchimento pode ser um material mais resistente e menos deformável que o maciço rochoso, ou
pode ser um material de elevada deformabilidade e com baixa resistência ao corte. Como existe uma
grande variedade de preenchimentos das aberturas das descontinuidades, com comportamentos
completamente diferentes, é importante para cada caso proceder a um cuidadoso estudo das
características de preenchimento. As principais características que são necessárias saber sobre o
preenchimento são: aspectos geométricos, como espessuras médias e variações; o tipo de material de
preenchimento, tais como a mineralogia, dimensões das partículas, e grau de alteração; e a resistência
ao corte, a deformabilidade e a permeabilidade.
3.2.3.7. Resistência das paredes
A resistência à compressão simples das paredes da descontinuidade depende essencialmente do tipo de
matriz rochosa, e do grau de alteração das paredes. Sendo que o estado de alteração da rocha, para
além de influenciar a resistência da parede também afecta a deformabilidade do plano de
descontinuidade.
A existência de deslizamentos ao longo das descontinuidades pode originar um aumento das tensões
de compressão da rocha junto às paredes das descontinuidades e um esmagamento pontual das
irregularidades.
O valor da resistência da rocha pode ser estimado por ensaios de compressão uniaxial ou triaxial, mas
no caso da camada fina da rocha mais alterada junto à parede, isto já não é possível, sendo então
estimado através de testes ou de ensaios simples, onde os resultados obtidos podem ser relacionam
com a resistência à compressão simples. Nestes casos utiliza-se o ensaio com o martelo de Schmidt.
O ensaio com o martelo de Schmidt consiste em “disparar” uma massa normalizada contra a parede a
ensaiar, anotando depois o valor do recuo dessa massa. O valor obtido é em função da energia
absorvida na deformação plástica e de rotura da rocha no local de impacto, que posteriormente se
relaciona com a dureza da superfície que recebeu o impacto. Na Figura 3.14 apresenta-se uma
correlação entre o valor obtido pelo martelo de Schmidt, usado normalmente em laboratório ou in situ,
com a resistência à compressão do material da parede, sendo que o valor da resistência está em função
da orientação do disparo e do peso volúmico da rocha na zona do impacto.
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
36
Figura 3.14. Correlação do recuo obtido com o martelo de Schmidt (Tipo L) e a resistência à compressão uniaxial
(Deere e Miller, 1966)
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
37
3.2.4. RESISTÊNCIA AO CORTE DOS PLANOS DE DESCONTINUIDADE
Todas as rochas contêm descontinuidades, tais como as diáclases, as superfícies de estratificação, ou
as falhas.
A máquina de ensaio ao corte directo típica, que pode ser usada para estimar a resistência ao
deslizamento de descontinuidades, encontra-se ilustrada na figura seguinte. A máquina é de utilização
muito simples e usa um braço de alavanca mecânico, para manter a carga normal sobre o modelo
constante ao longo do ensaio. É importante referir que a superfície de corte tem que estar
perfeitamente alinhada para se evitar a necessidade de uma correcção do ângulo. Este ensaio pode ser
realizado em laboratório sobre amostras que foram recolhidas do maciço em estudo.
Figura 3.15. Máquina de ensaio de corte directo, usada por Hencher e Richards (1982)
Recorrendo ao ensaio triaxial também é possível determinar os valores de resistência ao corte, sendo
que os provetes devem ter a forma adequada para que a rotura se produza a favor do plano de
descontinuidade, isto é, o ângulo entre os planos e a direcção do esforço de compressão vertical deve
ter entre 25º e 40º.
A resistência ao corte também pode ser determinada no campo recorrendo ao ensaio de corte directo in
situ.
Com o objectivo de analisar a estabilidade de um sistema de blocos de rocha, é necessário primeiro
entender os factores que controlam a resistência ao corte das descontinuidades que separam estes
blocos. Estas questões serão abordadas em seguida.
3.2.4.1. Resistência ao corte de uma descontinuidade com superfície plana e lisa
As descontinuidades com superfície plana e lisa, para uma determinada tensão normal constante,
obtêm uma relação entre as tensões de corte e de deslocamentos igual à apresentada na Figura 3.16 a).
Nesta figura é perceptível o forte crescimento dos deslocamentos, sendo que o valor da tensão de corte
se mantém constante. Pela observação da figura também é possível perceber que a resistência máxima,
designada por resistência de pico, neste caso é praticamente igual à resistência residual, ou seja, a
resistência para grandes deslocamentos.
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
38
Figura 3.16. a) Curva típica da relação entre a tensão de corte () com o deslocamento ();
b) Resistência ao corte para uma descontinuidade plana e lisa
Para os mesmos ensaios é possível determinar a resistência de corte para diferentes valores de tensão
normal, alcançando-se então o diagrama apresentado na Figura 3.16 b). esta envolvente rotura pode
ser expressa pela lei de Mohr-Coulomb, apresentada de seguida.
tan n (3.1)
Sendo que ϕ é o ângulo de atrito da descontinuidade, normalmente chamado de ângulo de atrito básico
no caso em que corresponde a descontinuidades planas e lisas.
3.2.4.2. Resistência ao corte de uma descontinuidade com superfície rugosa
A superfície da descontinuidade nunca é tão plana, como descrito anteriormente, e tem sempre alguma
irregularidade. As ondulações e irregularidades sobre as superfícies têm uma influência significativa
sobre o seu comportamento ao corte. Normalmente, esta rugosidade na descontinuidade tende a
aumentar a resistência ao corte, e esta resistência é extremamente importante em termos de
estabilidade da escavação em rocha.
Em 1966 Patton, demonstrou essa influência por meio de um modelo de rotura bilinear, recorrendo a
ensaios de corte sobre uma superfície em forma de “ dentes de serra”. Essa superfície é representada
na Figura 3.17. A irregularidade da superfície da descontinuidade pode ser definida por um ângulo de
rugosidade (i) que se soma ao ângulo de atrito básico (b) para assim se obter o valor total do ângulo
de atrito da superfície (p) , como se apresenta na expressão 3.2. O ângulo i é definido pelo ângulo
entre a face da superfície da irregularidade da descontinuidade e o plano médio da descontinuidade.
ibp (3.2)
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
39
Figura 3.17. Esquema do ângulo de rugosidade na resistência ao corte das descontinuidades
Na Figura 3.18 apresenta-se a relação da resistência ao corte (τ) com a tensão normal, (σn). Esta
relação foi desenvolvida por Patton (1966), e tem a designação de critério de rotura bilinear. O
primeiro tramo representa um aumento da resistência ao corte sobre uma descontinuidade submetida a
tensões normais reduzidas, sendo que o deslocamento tangencial origina dilatância, ou seja, provoca
uma abertura ou separação das paredes da descontinuidade, que para ocorrer necessita que o valor do
ângulo i seja ultrapassado. Então o valor da resistência ao corte é dado pela expressão 3.3.
Figura 3.18. Resistência ao corte para descontinuidade com superfície rugosa, proposta por Patton (1966)
)tan( ibnr (3.3)
Com o aumento do deslocamento tangencial e quando a tensão normal é elevada, as irregularidades e
ondulações vão sendo destruídas, diminuindo assim a rugosidade, e aumentando o contacto entre
ambas as superfícies, predominando o valor do ângulo de atrito básico (ϕb). O aumento das tensões
normais nas descontinuidades, vai chegar a um ponto em que a dilatância fica impedida, e as
irregularidades serão destruídas para que exista deslocamento, então a inclinação da relação das
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
40
resistências será igual ao ângulo de atrito residual (ϕr). Ou seja para tensões normais elevadas a relação
das resistências é dada pela expressão 3.4.
rnr tan (3.4)
O ponto de intersecção das expressões 3.3 e 3.4 corresponde ao ponto de inflexão do critério bilinear
de Patton, representado na figura 3.18, e equivale a um determinado valor de tensão normal (n). A
partir deste critério vários autores propuseram critérios empíricos de rotura de superfície das
descontinuidades rugosa. Um que merece especial destaque é o critério de Barton e Choubey (1973 -
1976).
3.2.4.3. Critério de Barton e Choubey
A abordagem de Patton tem o mérito de ser muito simples, mas tem a desvantagem de não reflectir a
realidade da alteração da resistência ao corte, ou seja, esta aproximação não apresenta o ponto de
inflexão, mas sim uma função não linear. Barton por sua vez, entre 1973 e 1976, estudou o
comportamento das descontinuidades em rocha natural e propôs que a expressão 3.3 poderia ser
substituída pela expressão 3.5.
b
n
n
JCSJRC
10logtan (3.5)
Onde JCR é o coeficiente de rugosidade das paredes da descontinuidade (joint roughness coefficient) e
o JCS é o valor da resistência à compressão simples do material da parede da descontinuidade (joint
wall compressive strength).
Barton desenvolveu inicialmente um critério de resistência não–linear para as descontinuidades em
rochas, usando o ângulo de atrito básico (ϕb) a partir da análise de dados. Barton e Choubey, em 1977,
com base nos seus resultados de ensaios de corte directo, para mais de 130 amostras de rochas com
descontinuidades variáveis, reviram a expressão anterior para a seguinte, onde b é substituído por r.
r
n
n
JCSJRC
10logtan (3.6)
Barton e Choubey sugerem que o ângulo de atrito residual (r) seja calculado pela expressão 3.7.
R
rbr 20)20( (3.7)
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
41
Sendo que r é o valor de recuo do martelo de Schmidt sobre a superfície da descontinuidade com rocha
alterada e R é o valor de recuo do martelo de Schmidt sobre uma superfície de rocha não alterada.
A expressão de Barton e Choubey (3.6) para a determinação da resistência ao corte varia com três
factores, que são: o ângulo de atrito residual (r); um factor geométrico controlado pela rugosidade da
descontinuidade (JRC); e a relação entre JCS e a tensão normal, que permite avaliar a resistência das
irregularidades, esta relação pode ser comparada com o ângulo i anteriormente mencionado.
Note-se que a expressão 3.6 não deve ser utilizada quando a tensão normal é igual a zero e perde o
interesse pratico quando r+JRC log10 (JCS/n) é maior que 70º. Este limite pode ser utilizado para
determinar o valor mínimo da tensão normal. Sendo que o limite máximo é dado por n=JCS.
Hoek, em 2007, fez uma rectificação à expressão 3.6, para quando os valores de ângulos de atrito são
muito elevados e as tensões de compressão muito baixas na descontinuidade. Segundo aquele autor,
quando o valor da relação JCS/n é maior que 50 deve-se adoptar um ângulo de atrito constante
independente da carga, como apresenta a expressão 3.8.
JRCrp 7,1 (3.8)
3.2.4.4. Coesão e ângulo de atrito instantâneo
Devido ao desenvolvimento histórico da Mecânica das Rochas, muitas das análises para calcular os
factores de segurança para o deslizamento, são expressos em função da coesão (c) e do ângulo de
atrito () definidos pelo critério de Mohr-Coulomb. No entanto, Barton e Bandis (1990) definiram a
relação entre a resistência de corte () e a tensão normal (n), como sendo uma função não-linear,
obtendo-se deste modo valores mais fiáveis.
Na Figura 3.19 apresenta-se a definição de coesão instantânea (ci) e o ângulo de atrito instantâneo para
um determinado valor da tensão normal (n), numa função não-linear. Os valores são determinados
pela ordenada na origem e pela inclinação da tangente à relação não-linear entre a resistência de corte
() e tensão normal (n). Estes valores podem ser utilizados para a análise de estabilidade em que o
critério de rotura de Mohr-Coulomb é aplicado, desde que a tensão normal seja próximo do valor
utilizado para definir o ponto de tangência.
Figura 3.19. Determinação do ângulo de atrito, i, e coesão, ci, instantâneos para o critério de rotura não-linear
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
42
O valor de ângulo de atrito instantâneo (i) pode ser calculado pela expressão 3.9 e 3.10, para uma
determinada tensão normal (n).
n
i
arctan (3.9)
1logtan
10ln180logtan 10
2
10 r
nnn
JCSJRC
JRCJCSJRC
(3.10)
A coesão instantânea (ci) pode ser calculada pela expressão 3.11.
inic tan (3.11)
Ao escolher os valores da coesão e ângulo de atrito instantâneo, para usar numa aplicação específica, o
valor da tensão normal média a actuar na descontinuidade deve ser anteriormente estimado. Para a
maioria dos casos práticos a utilização do valor médio da tensão normal será suficiente, mas para
problemas de estabilidade que são considerados críticos, a determinação destes dois parâmetros deve
ser feita para cada superfície de descontinuidade importante.
3.2.4.5. Influência da pressão de água
Quando a pressão de água está presente num maciço rochoso, as superfícies das descontinuidades são
forçadas a separar-se e a tensão normal é reduzida. Quando se encontra estável, ou seja, quando
passou tempo suficiente para que a pressão da água presente no maciço rochoso tenha atingido o
equilíbrio, a tensão normal reduzida é definida pela expressão 3.12, onde u é a pressão de água,
normalmente designada por pressão neutra. A tensão normal reduzida é geralmente chamada de tensão
normal efectiva (n’) e deve ser usada no lugar da tensão normal (n) em todas as expressões referidas
anteriormente.
unn ' (3.12)
3.3. TIPOS DE INSTABILIDADES EM TALUDES
3.3.1. TALUDES EM SOLOS
Os taludes em solos normalmente têm uma rotura por uma superfície curva, com várias formas
condicionadas pelo tipo de morfologia e estratigrafia do talude. A superfície pode ser
aproximadamente circular, o que geralmente acontece, com o seu limite inferior no pé do talude, ou
seja, nestes casos está-se perante um deslizamento de pé do talude. Isto normalmente acontece em
maciços homogéneos ou em casos de vários estratos mas com propriedades geotécnicas semelhantes e
homogéneas. A Figura 3.20 (a) é um exemplo deste tipo de deslizamento. A superfície de rotura pode
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
43
ser também quase circular, ou seja, quando o limite inferior é debaixo do pé do talude, normalmente
chamado de deslizamento profundo. A Figura 3.20 (b) é um exemplo deste deslizamento.
Quando se está perante outro tipo de condições do talude, como quando existem estratos ou camadas
de diferentes propriedades geotécnicas, a superfície de rotura pode ser uma superfície plana ou
poligonal, como pode observar-se na Figura 3.20 (c).
No caso de taludes de solos as roturas paralelas ao declive são mais invulgares, embora este modelo
seja válido para o caso de taludes rochosos naturais revestidos com solos ou no caso de taludes
rochosos onde existe uma descontinuidade paralela ao talude este irá definir superfície de instabilidade
plana. Normalmente quando ocorrem é abaixo da crista do talude. A instabilidade plana em solo
também pode acontecer num talude infinito. Está-se perante este tipo talude quando o comprimento da
superfície de rotura é elevado em comparação com a espessura da massa de rotura. Normalmente pode
adoptar-se em muitos taludes naturais onde a superfície de rotura é definida pelo contacto entre o
terreno superficial e a rocha subjacente, com inclinação paralela ao talude. Na Figura 3.20 (d)
apresenta-se um exemplo de instabilidade planar no caso de talude infinito.
Figura 3.20. Tipos de superfície de rotura, para taludes de solos
3.3.2. TALUDES EM ROCHA
Os diferentes tipos de instabilidade, em taludes de maciços rochosos, estão relacionados com a
estrutura geológica do maciço, ou seja, depende de factores como o grau de fracturação, a orientação e
distribuição das descontinuidades. Pelo que torna-se necessário, numa fase preliminar dos estudos,
fazer uma identificação destas potenciais situações de risco para a estrutura. As diferentes
instabilidades podem ser reconhecidas pela análise dos diagramas com a representação dos pólos das
descontinuidades e das curvas de isodensidades, mas esta análise deve ser complementada com
metodologias de cálculo que considerem outras variáveis e que consigam determinar o factor de
segurança.
Nos modelos de rotura mais comuns são possíveis identificar quatro tipos de instabilidades, existindo
para cada uma dessas instabilidades um método de análise de estabilidade. Os métodos de análise de
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
44
estabilidade normalmente têm em consideração: a dimensão dos blocos, a resistência ao deslizamento
das superfícies de escorregamento, a presença de água e outras forças aplicadas no maciço.
Os casos que se vão apresentar de seguida serão casos bastantes simples. Em situações reais é possível
encontrar numa massa instável mais do que um tipo de instabilidade.
3.3.2.1. Instabilidade planar
A instabilidade planar ocorre em descontinuidades, que podem ser uma superfície de estratificação, ou
uma falha, entre outros tipos de descontinuidades. Estas descontinuidades têm a inclinação na direcção
da face do talude e a sua superfície é plana.
Hoek e Bray (1981) apresentaram as condições para a ocorrência deste tipo de instabilidade:
O valor de ângulo de atrito do maciço (ϕ) deve ser inferior à inclinação da superfície da
descontinuidade (αd) ou seja, < αd
A inclinação da face do talude () tem que ser superior à inclinação da superfície da
descontinuidade (αd), isto é > αd
Pela relação dos dois pontos anteriores pode dizer-se < αd <
A superfície de descontinuidade deve ter uma direcção quase paralela à face do talude, sendo
que essa diferença deve ser inferior a 20º, porque em caso contrário a massa instável não
teria liberdade para se movimentar.
Na Figura 3.21 apresenta-se um esboço da instabilidade planar e a respectiva representação
estereográfica, sendo que a os pólos das descontinuidades localizam-se no lado oposto do círculo
maior da face do talude, porque a descontinuidade tem um mergulho que intersecta com a face do
talude.
Figura 3.21. Representação estereográfica e esquema da instabilidade planar (modificada por Hoek e Bray,
1981)
Quando se está perante uma escavação paralela à estratificação é necessário ter atenção às
instabilidades planas por deslizamento entre os estratos, como se pode ver no esquema da Figura 3.4
(c). As instabilidades planas mais usuais são:
Rotura devido a uma superfície que aparece na face ou no pé do talude com ou sem fissuras
de tracção;
Rotura por uma superfície paralela à face do talude, devido a um processo de erosão ou por
perda de resistência no pé do talude.
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
45
3.3.2.2. Instabilidade em cunha
A instabilidade em cunha é definida pelo deslizamento, sem rotação, de um bloco em forma de cunha,
formado por dois planos de descontinuidade cuja linha de intercepção representa a direcção de
deslizamento.
Para ocorrer este tipo de instabilidade é necessário estar perante as seguintes condições, que foram
determinadas por Hoek e Bray (1981):
O valor do ângulo de atrito do maciço (ϕ) deve ser inferior à inclinação da linha de
intercepção das superfícies das descontinuidades (i) logo <i;
A inclinação da face do talude na direcção da linha de intercepção (i) tem que ser superior à
inclinação da linha de intercepção das superfícies das descontinuidades (i) ou seja, i >i;
Fazendo correspondência entre as duas anteriores condições tem-se <i<i
Na Figura 3.22 representa-se uma projecção estereográfica deste tipo de rotura, normalmente
caracterizada por duas famílias de descontinuidades, e tal como acontece nas instabilidades planas
estas famílias encontram-se no lado oposto do círculo de maior representatividade da face do talude.
Nesta figura encontra-se também uma ilustração da instabilidade em cunha.
Figura 3.22. Representação estereográfica e esquema da instabilidade em cunha (modificada por Hoek e Bray,
1981)
As instabilidades em cunha acontecem em maciços com varias famílias de descontinuidades, cuja
orientação, espaçamento e persistência definem a geometria e volumetria da cunha.
3.3.2.3. Instabilidade por toppling
Este tipo de rotura tem um mecanismo de movimento de massa rochosa diferente dos anteriores, ou
seja, não está intimamente relacionado com o deslizamento. As instabilidades por toppling, geralmente
são originadas por descontinuidades que mergulham para o interior do talude e leva à criação de um
bloco ou uma série de blocos, sendo que o centro da massa caia fora da base do bloco. Estes blocos
sofrem uma rotação para a frente sobre um eixo fixo, inclinando-o sobre a face livre.
A projecção estereográfica no caso do toppling de blocos, acontece o contrário das duas situações
anteriores, ou seja, a estrutura mergulha no sentido oposto, isto é para o interior da face do talude, logo
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
46
na representação estereográfica as famílias das descontinuidades e o círculo maior representativo da
face do talude estão do mesmo lado da projecção. Isto pode observar-se na Figura 3.23.
Figura 3.23. Representação estereográfica (modificada por Hoek e Bray, 1981)
Na realidade existem diferentes tipos de instabilidades por toppling, que foram descritas por Goodman
e Bray (1976), as quais se apresentam de seguida:
Block toppling, geralmente, ocorre em colunas de rocha que se encontram divididas por
descontinuidades ortogonais amplamente espaçadas, como se pode observar na Figura 3.24.
Os blocos formados no pé do talude são empurrados pela acção da carga exercida pelos
blocos superiores, o que provoca o seu deslizamento, permitindo assim a rotação destes
blocos;
Figura 3.24. Esquema da instabilidade por toppling de blocos
Flexural toppling surge com mais frequência em taludes de rochas sedimentares
estratificadas ou metamórficas foliadas. Devido à acção do peso próprio, várias lâminas
rochosas delimitadas por superfícies de descontinuidades, podem deslizar e flectir entre si,
originando a instabilidade por tracção na base da lâmina e acabando mesmo por flectir. Na
figura seguinte apresenta-se um esquema desta rotura. Os autores anteriormente
mencionados estudaram a condição necessária para que exista deslizamento entre lâminas,
sendo baseada no princípio de que a resistência ao corte ao longo da descontinuidade deve
ser superior à resistência ao corte pelo efeito do atrito e assumindo que a tensão principal
máxima tem a direcção paralela à face do talude, ou seja pode ser obtida pela expressão 3.13.
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
47
onde é a inclinação da superfície da descontinuidade, é a inclinação da face do talude e
é o ângulo de atrito da descontinuidade;
º90 (3.13)
Figura 3.25. Esquema da instabilidade por toppling de flexão
Block-flexure toppling é uma rotura mais complexa que as anteriores, porque correspondem
a uma combinação de toppling de blocos e flexão. Esta rotura é caracterizada por flexão
pseudo-contínua ao longo de lâminas divididas por numerosas descontinuidades ortogonais.
A rotação das lâminas neste caso ocorre devido aos deslocamentos acumulados das
descontinuidades ortogonais. Embora em comparação com o toppling de blocos estes
deslocamentos são de menor valor. Na Figura 3.26 apresenta-se um esquema de block-
flexure toppling..
Figura 3.26. Esquema da instabilidade por toppling de blocos por flexão (Hoek e Bray, 1981)
3.3.2.4. Instabilidade por encurvadura
As condições para que ocorra este tipo de rotura são:
A inclinação das superfícies de descontinuidades () seja igual à inclinação da face do talude
() ou seja, =;
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
48
A inclinação das superfícies de descontinuidades () deve ser superior ao ângulo de atrito
das descontinuidades () isto é a >;
Os estratos têm de ser suficientemente esbeltos, em relação à altura do talude, para que possa
existir encurvadura.
Na Figura 3.27 apresenta-se um esquema da instabilidade por encurvadura em estratos verticais, com
flexão e com a existência de fractura nos estratos.
Figura 3.27. Esquema de instabilidade por encurvadura (Vallejo, 2002)
As causas que podem gerar este tipo de rotura são:
A existência de forças externas aplicadas sobre os estratos;
A altura elevada do talude;
O talude ter uma geometria desfavorável aos estratos;
Existência de pressão de água sobre os estratos;
Concentração desfavorável de tensões.
Este tipo de rotura aparece principalmente em taludes escavados paralelamente a estratificações,
quando os planos de descontinuidades apresentam espaçamentos muito pequenos.
3.3.2.5. Instabilidade circular
A instabilidade circular pode surgir na presença de maciços rochosos pouco competentes, muito
alterados ou fracturados, que normalmente apresentam um comportamento isotrópico. O
comportamento mecânico é controlado pelas descontinuidades, ou seja, pode dizer-se que o maciço se
comporta como um solo. Como a resistência ao corte da rocha é elevada em comparação com a
resistência ao corte das descontinuidades, este tipo de rotura surge principalmente em maciços
rochosos com fracturas, onde os planos de descontinuidades coincidem com as superfícies de
deslizamento. Quando se está perante estas condições a superfície de deslizamento aproxima-se de um
arco circular de grande raio originando uma superfície de rotura pouco profunda. Na Figura 3.28
apresenta-se a projecção estereográfica dos pólos das principais descontinuidades presentes no maciço
e um esquema da instabilidade circular.
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
49
Figura 3.28. Representação estereográfica e esquema da instabilidade circular (modificada por Hoek e Bray,
1981)
3.4. ANÁLISE DE ESTABILIDADE
3.4.1. CONSIDERAÇÕES GERAIS
Para estudar um problema em termos de estabilidade de taludes existem vários tipos de abordagens,
para modelar os factores causadores da rotura. O estudo destes factores pode ser elaborado através de
três métodos principais:
I. Métodos experimentais são normalmente modelos físicos, ou seja, são modelos em escala
reduzida submetidos à acção da gravidade e outras forças externas. Estes modelos são muito
úteis quando se pretende entender como se comporta o maciço antes da rotura. As suas
principais vantagens são a possibilidade de simular diferentes situações e geometrias, e poder
observar as diferentes fases da rotura do maciço. A principal dificuldade é a simulação da
força da gravidade, mas se o modelo poder ser representado em duas dimensões é possível
utilizar o princípio de base friction. Neste princípio a acção da gravidade é simulada pelo
arraste de uma base áspera movendo-se sob o modelo (Bray e Goodman, 1981), na Figura
3.29 apresenta-se um esquema do princípio base friction;
Figura 3.29. Modelo esquemático do princípio base friction (Pritchard e Savigny, 1990)
II. Métodos matemáticos dividem-se em métodos analíticos e numéricos. Os métodos
analíticos resultam de expressões matemáticas definida por variáveis dependentes e
independentes, sendo que a solução é obtida pela resolução da equação correspondente.
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
50
Neste grupo situa-se o método de equilíbrio limite, que expressa a estabilidade de um talude
em factor de segurança ou probabilidade de rotura. Nos métodos numéricos é possível
solucionar as equações de equilíbrio, as equações de compatibilidade de deformação e as
equações constitutivas do material, sabendo as condições de fronteira do problema. Neste
grupo situa-se o Método de Elementos Finitos (MEF) que é aplicado no programa
computacional Phase2;
III. Métodos empíricos utilizam a experiência acumulada com a análise de rotura anteriores, tal
como a retro-análise, ábacos de projectos, opinião de especialistas, entre outras.
Quando se está perante situações de instabilidade ou na execução de projectos de taludes realizam-se
análises de estabilidade. Sendo que se deve escolher o factor de segurança de acordo com a finalidade
da escavação e do carácter temporário ou definitivo do talude. No caso de taludes permanentes o
factor de segurança deve ser igual ou superior a 1,5 e no máximo 2,0, este valor depende da segurança
exigida e da confiança nos valores geotécnicos que intervêm no cálculo. Para taludes temporários o
factor de segurança pode ser igual a 1,3, podendo em alguns casos diminuir.
Na presença de taludes instáveis o estudo de estabilidade permite estabelecer as medidas de correcção
ou de estabilização apropriada para impedir novos movimentos.
As back-analysis são análises que se realizam depois de ter ocorrido a rotura, e neste tipo de estudo
tem-se a vantagem de se conhecer o mecanismo, o modelo e a geometria da rotura. Torna-se uma
análise muito vantajosa para a caracterização geomecânica dos materiais do talude. No caso de taludes
com características semelhantes é possível extrapolar os valores obtidos. Estas análises baseiam-se em
dados de campo, como a geometria, tipos de materiais, modelo de rotura, pressão de água, entre
outros, e permite determinar os parâmetros resistentes do terreno, que normalmente são a coesão e o
ângulo de atrito do critério de Mohr-Coulomb, que cumpram a condição de equilíbrio limite do talude
ao longo da superfície de rotura, ou seja, o factor de segurança tem que ser igual a 1,0.
As análises de estabilidades que se baseiam em métodos físico-matemáticos, onde intervêm as forças
estabilizadoras e desestabilizadoras que actuam sobre o talude e que estabelecem o seu
comportamento e estabilidade. Estes métodos podem agrupar-se em:
Método determinístico permite perceber se o talude é ou não estável, através do
conhecimento ou por suposição das condições do talude. Este método consiste em escolher
os valores médios adequados dos parâmetros físicos e resistentes que controlam o
comportamento dos materiais para depois caracterizar as condições de estabilidade ou o
factor de segurança do talude. Adequa-se a este método de análise o Método de Equilíbrio
Limite e o Método Tensão-Deformação;
Método probabilístico estuda a probabilidade de rotura de um talude sob situações
determinadas. Para recorrer a este método é necessário saber as funções de distribuição dos
diferentes valores considerados como variáveis aleatórias nas análises, o que leva a uma
maior dificuldade devido à grande quantidade de valores necessários. A partir das funções
efectua-se os cálculos do factor de segurança através de processos iterativos. Alcançam-se as
funções de densidade e distribuição de probabilidade do factor de segurança, e as curvas de
estabilidade do talude com o factor de segurança relacionado com a probabilidade de
acidente.
A adopção do método de análise apropriado dependerá de alguns factores, como por exemplo: as
características geomecânicas e geológicas dos materiais (solos ou maciços rochosos), dos dados
disponíveis sobre o talude e da sua envolvente (geométricos, geológicos, hidrogeológicos,
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
51
geomecânicas, etc), e dos objectivos do estudo, grau de pormenorização e dos resultados que se
pretendem alcançar.
Estes factores, normalmente estão relacionados entre si, não sendo possível, por vezes, realizar uma
análise detalhada se não existirem dados necessários e suficientes. Isto acontece principalmente em
análises de estabilidade complexas. Logo deve ter-se em conta que os parâmetros a obter em campo e
em laboratório devem ser em função do método de análise de estabilidade que se irá utilizar e do
tratamento que se pretende dar aos dados. Depois de se perceber quais os factores que são necessários
e influentes na estabilidade do talude é possível determinar qual é o modelo ou método que melhor se
aplica as condições do nosso caso.
3.4.2. MÉTODO DE EQUILÍBRIO LIMITE
O Método de Equilíbrio Limite estuda a estabilidade de uma determinada massa instável, ou seja,
resume-se à comparação das forças que provocam o movimento ao longo da superfície de rotura com
as forças resistentes que se opõem a este movimento. Este método tem como linhas gerais, os
seguintes princípios:
A selecção de uma superfície teórica de rotura no talude;
A utilização do critério de rotura de Mohr-Coulomb ou de Barton, sendo que o primeiro é o
mais usado;
A definição do factor de segurança.
Como a maioria dos problemas de estabilidade são estaticamente indeterminados, para a sua resolução
é necessário ter em conta uma série de hipóteses, que diferem com o tipo de método, mas numa forma
geral pode assumir-se as seguintes condições:
Deve ter-se uma superfície de rotura cinemáticamente possível, ou seja, a superfície de
rotura deve ter uma geometria que permita a ocorrência de deslizamento;
Deve ser possível determinar as forças actuantes na superfície de rotura recorrendo a dados
conhecidos, como por exemplo o peso volúmico do material, pressão de água, e forças
externas;
Admite-se que a resistência está a ser mobilizada toda ao mesmo tempo na superfície de
rotura.
Estabelecendo estas condições pode determinar-se as equações de equilíbrio entre as forças que
induzem o movimento, ou seja, forças desestabilizadoras, e as forças resistentes que se opõem a esse
movimento, isto é, as forças estabilizadoras. Esta análise permite determinar o valor do factor de
segurança do talude para a superfície de rotura considerada, referindo-se ao equilíbrio limite entre as
forças actuantes. O factor de segurança (FS) é um valor numérico pelo qual é multiplicado as forças
desestabilizadoras (Fd), ou o valor que se divide as forças resistentes ou estabilizadoras (Fr), para que
assim se atinja o equilíbrio limite. Na expressão seguinte apresenta-se esta relação:
d
r
F
FFS (3.14)
Depois de determinado do factor de segurança da superfície de rotura, deve analisar-se outras
superfícies de rotura cinemáticamente possíveis até encontrar aquela que terá o menor valor de factor
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
52
de segurança (FSmin). Para o valor de factor de segurança mínimo (FSmin) admite-se que será a
superfície potencial de rotura do talude.
O factor de segurança ao deslizamento, no caso em que se utiliza o critério de Mohr-Coulomb, é dado
pela expressão seguinte:
d
c
S
RRFS
(3.15)
Sendo que: Rc representa as forças coesivas que actuam na superfície de deslizamento, obtida pelo
somatório do produto da coesão (c) pela área (A) das superfícies de rotura; R é a resultante das forças
friccionais que actuam na superfície de rotura, este valor é alcançado pelo somatório dos produtos das
componentes das forças normais ao plano de rotura por tg; e finalmente, Sd representa a resultante
das forças que provocam o deslizamento, calculado através do somatório das projecções das forças
actuantes na direcção do deslizamento.
3.4.3. MÉTODO TENSÃO-DEFORMAÇÃO
Este método é uma alternativa ao Método de Equilíbrio Limite. A sua principal vantagem é a
consideração da relação tensão-deformação que sofre o material durante a fase de deformação e
posterior rotura. Esta relação permite estabelecer o comportamento do talude e o controlo da
resistência.
Quando o talude está sujeito a uma determinada carga, o terreno tende a deformar-se em função das
suas propriedades resistentes e da sua deformabilidade, seguindo uma lei de comportamento, até
atingir a rotura, gerando diferentes estados de tensão em distintas áreas do talude. Este método permite
fazer um modelo desta evolução recorrendo a um modelo geométrico representativo da estrutura,
estratigrafia e hidrogeologia do talude. A resolução das equações de elasticidade ou de plasticidade ou
de outro modelo comportamental, é obtido pelo Método de Elementos Finitos (MEF), ou recorrendo a
outro método matemático. É possível alcançar o valor dos deslocamentos, das deformações e das
tensões que vão ser gerados em todo o modelo analisado.
A principal diferença deste método para o Método de Equilíbrio Limite, é que o método de equilíbrio
limite considera unicamente as forças que actuam sobre um ou vários pontos da superfície de rotura,
supõe que a rotura se processa de forma instantânea, e que a resistência se mobiliza ao mesmo tempo
para toda a superfície de rotura, enquanto o método de tensão-deformação analisa o processo de
deformação em cada um dos pontos seleccionados do modelo. Este método permite avaliar a
influência dos parâmetros no estado de estabilidade do talude.
A principal limitação deste método é o conhecimento da lei ou leis de comportamento que seguem os
materiais, que é fundamental para a modelização, assim como a determinação dos valores dos
parâmetros resistentes e de deformação.
Os diferentes programas de computador que utilizam este método permitem obter imagens gráficas
dos deslocamentos, das tensões, das deformações, entre outros parâmetros do talude, sendo possível a
partir destes gráficos determinar as zonas instáveis, os mecanismos e modelos de rotura, podendo
também determinar o valor do factor de segurança.
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
53
4 COMPORTAMENTO DOS TALUDES
EM MACIÇOS ROCHOSOS
4.1. CONSIDERAÇÕES GERAIS
As roturas dos taludes rochosos podem ocorrer de várias formas e ser muito complexas. Neste capítulo
pretende-se destacar alguns modos de roturas, referindo-se algumas características observáveis que os
distinguem. Apresentam-se também algumas explicações para os diferentes tipos de roturas que
dependem do tipo de maciço rochoso.
A individualização dos modos de rotura que se apresentam neste capítulo não foi elaborada de forma
exaustiva, visto que existem variadíssimas formas de uma rotura acontecer. Nesta descrição dos
diferentes tipos de rotura consideram-se encostas em rocha dura e mole, embora seja difícil manter
esta distinção em alguns materiais para os quais a diferença entre solo e rocha é indefinida,
especialmente quando se trata de rochas perto da superfície.
Para um estudo do comportamento dos maciços rochosos é necessário ter em atenção a obra que se
está a realizar, ou seja, pode dividir-se entre obras subterrâneas e superficiais. Embora se possa pensar
que nas obras subterrâneas se esteja mais exposto a perigos porque se está num local fechado, isto não
é verdade, pois uma escavação à superfície, normalmente, é mais instável devido ao facto das tensões
serem mais baixas e por estarem mais sujeitas a intempéries, o que diminui a estabilidade. Outro factor
em que diferem estes dois tipos de obras é o facto de no caso de túneis existem tensões de corte em
torno da abertura, o que tende a manter os deslocamentos dos blocos controlados, enquanto nos
taludes isto não acontece. Existe também uma teoria que diz: os blocos fundamentais que se podem
mover em uma escavação superficial são maiores que os blocos que surgem num túnel, visto que as
descontinuidades locais tendem a estar mais perto da superfície. As escavações superficiais geralmente
incluem a variável erosão das rochas cujos pontos fortes podem ser consideravelmente menores do que
da rocha intacta e que irá conter mais fracturas significativas. Alguns tipos de rochas mais fracas
continuam a degradar-se durante a execução da obra, e, posteriormente, sob a acção da água, do gelo e
das reacções químicas. Os fluxos de água podem ser interceptados durante a fase de escavação nas
duas situações (obras subterrâneas e superficiais), sendo que os materiais na superfície são mais
afectados pela acção da água do que os materiais do subsolo devido ao maior grau de fracturação e
maior permeabilidade. As águas superficiais tendem a infiltrar-se nos maciços e a atingir as águas
subterrâneas, sendo que durante a fase de escavação do talude pode encontrar-se esta infiltração de
água, por isso é necessário ter uma especial atenção. Nos ambientes superficiais e subterrâneos, a
pressão hidráulica em fracturas internas, em poros presente nos solos, em fissuras de rochas ou em
rochas sedimentares moles, pode destabilizar uma massa rochosa.
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
54
4.2. OBSERVAÇÕES INDICATIVAS DE ROTURA PROVÁVEL EM TALUDES
Numa massa rochosa exposta é possível caracterizar a rotura potencial, através da observação ou então
porque a rotura já se encontra desenvolvida. Normalmente, os problemas em taludes materializam-se
durante a fase de construção, podendo ser corrigidos através da modificação da geometria do talude ou
pela introdução de suportes, especialmente quando se está perante uma rotura que é devidamente
identificada. No entanto, existem outras roturas que se desenvolvem a longo prazo, nos quais o
movimento progressivo do talude para novas inclinações, pode levar à rotura ou impor o colapso da
estrutura. Normalmente processam-se em fases sucessivas e muito lentas, e por isso às vezes torna-se
difícil identificar o perigo recorrendo apenas à observação, sendo preciso a utilização de equipamento
de medição dos deslocamentos a que se encontra sujeito o talude.
Se for possível observar a rocha exposta ao longo de uma superfície de falha, de estratificação, junta
ou outro tipo de descontinuidade, quer dizer que a massa que estava a cobrir esta descontinuidade foi
removida. Esta observação permite identificar as características particulares da estrutura que provocam
deslizamento ou desprendimento. Os factores que provocam este tipo de instabilizações podem ter
desaparecido há muito tempo, mas através de algumas investigações é possível determinar estes
factores. Da mesma forma, as descontinuidades em forma de “escada”, como se encontra ilustrado na
Figura 4.1, sugerem que os estratos que anteriormente formavam o maciço foram derrubados
progressivamente ao longo do tempo, dando um aspecto de uma escada. Possivelmente este derrube
aconteceu durante a fase de construção, e isto permite perceber que o maciço terá uma tendência para
o toppling, se as condições geométricas se mantiverem propícias para isso.
Figura 4.1. Talude onde se observa as descontinuidades e a rotura potencial, em Picote, 2010 (foto da autora)
As diferentes fendas de tracção normalmente podem ser reconhecidas nas encostas. O movimento de
um bloco deformável ao longo de uma superfície de uma fenda de tracção que já existia ou ao longo
de uma nova superfície pode abrir uma ou mais novas fendas lineares ou uma fenda de tracção
arqueada.
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
55
Figura 4.2. Representação de uma fenda de tracção numa superfície (Goodman e Kieffer)
Quando se recorre ao princípio de base friction, mencionado no capítulo anterior, é possível observar
o mecanismo de deslizamento e simultaneamente a formação de fendas de tracção, e deformações
internas. Uma das instabilidades existentes que se aplicam a este princípio é o movimento do
deslizamento de blocos ao longo das descontinuidades e a sua separação, normalmente chamada de
“liberdade das superfícies”. Na Figura 4.3 apresenta-se um esquema desta situação. Neste caso, a
abertura das descontinuidades substitui a formação de novas fendas de tracção no material rochoso
intacto. Mas os resultados obtidos na superfície de deslizamento são diferentes, pois na abertura das
descontinuidades não existe um aumento automático das tensões de corte nas superfícies de
deslizamento.
Figura 4.3. Deslizamento potencial de blocos devido à liberdade das superfícies (Goodman e Kieffer)
Os diferentes modos de instabilidade em solos e em rochas têm características que os distinguem. Por
exemplo, na instabilidade por toppling, como mostra na Figura 4.4, produz não apenas um profundo
“V”, que é formado pelas fendas entre as descontinuidades, mas também de uma exposição da face
superior do talude devido à queda dos blocos, onde Goodman e Bray (1977) chamaram de “obsequent
scarps”. A instabilidade por toppling cria no pé do talude uma pequena encosta formada por rocha
fracturada, que se assemelha ao talude.
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
56
Figura 4.4. Esquema da instabilidade por toppling (Goodman e Kieffer)
Na instabilidade por block slumping as descontinuidades principais que formam a instabilidade tem o
aspecto de “A” ao contrário, embora só seja possível observar isto internamente, porque a observação
do talude parece uma instabilidade circular, como se demonstrará mais adiante. Nos solos esta
classificação tem o nome de instabilidade por slumping como se pode observar pela Figura 4.5, esta
rotura caracteriza-se pelo movimento rotacional para trás, fazendo com que a parte superior do talude
seja visível, e existindo assim uma sobreposição perto do pé do talude.
Figura 4.5. Instabilidade por slumping de um talude de solo (Goodman e Kieffer)
O movimento de blocos formado pela concordância de diáclases origina uma depressão no talude igual
ao bloco que se acabou de mover, por isso Hatzor e Goodman (1995) chamaram-lhe de instabilidade
por moulds, na Figura 4.6 apresenta-se um esquema. Este último identifica a combinação de
superfícies de descontinuidades que se cruzam num ponto dentro do maciço rochoso, ficando por isso
com a forma real do bloco removido. Se este bloco foi removido através de forças naturais, isto quer
dizer que estas forças continuam a operar neste maciço, assim através dos “moudls” consegue-se saber
quais são as combinações de descontinuidades que dão origem aos blocos críticos, podendo mais tarde
se necessário proceder à sua remoção. Isto é útil uma vez que existe um inúmero conjunto de
descontinuidades que poderiam, em teoria, cruzar-se e formar blocos de grandes dimensões.
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
57
Figura 4.6. Esquema da remoção de um bloco, formando a instabilidade por moulds (Goodman e Kieffer)
4.3. MECANISMOS DE ROTURA EM TALUDES COM DIFERENTES TIPOS DE MACIÇO ROCHOSO
Os modos de rotura que normalmente aparecem nos livros de Mecânicas das Rochas são os seguintes:
instabilidade planar, ou seja, o deslizamento por uma única superfície; instabilidade em cunha, isto é,
quando existe deslizamento em duas superfícies em simultâneo ao longo de uma linha de intersecção;
e a instabilidade por toppling, originado pelo derrube de vários blocos ou colunas. Estes três tipos de
instabilidade foram apresentados anteriormente. As instabilidades planas e por cunhas são mais
comuns que a instabilidade por toppling, mas as instabilidades por toppling são as mais dominantes,
em alguns tipos de maciços rochosos, principalmente em taludes com encostas íngremes e em minas a
céu aberto.
Quando se está perante um talude rochoso de grandes dimensões que envolve uma enorme variedade
de material rochoso e com diferentes estruturas, é de esperar que a instabilidade deste talude não seja
por um único mecanismo de rotura que circunscreva todas as zonas diferentes do talude. Ou seja, uma
parte pode ser por instabilidade planar, outra por toppling, outra por erosão, ou por exemplo sofrer
uma acção dinâmica, provocando um novo sistema de descontinuidades o que fractura um grande
volume de rocha anteriormente contínua.
Os cinco princípios fundamentais que privilegiam a conjugação dos diferentes tipos de rotura são:
Os blocos são formados pela intercepção das descontinuidades existentes com a superfície
do talude;
Os blocos orientados no sentido contrário ao talude, que normalmente saem em primeiro
lugar, deixam para trás um espaço, que pode levar a que os blocos adjacentes se movam.
Goodman e Shi, em 1985, atribuíram o nome de bloco chave (key block) a estes blocos;
O deslizamento pela face de um talude ou por blocos instáveis, normalmente sucede quando
se está perante condições cinemáticas que permitam que o deslizamento aconteça;
Se o deslizamento for impedido ou por algum motivo for dificultado, então a probabilidade
de ocorrer o movimento por rotação aumenta. Se o deslizamento não ocorrer porque o
escorregamento entre estratos não acontece, então uma destas instabilidades pode acontecer,
a instabilidade: por toppling; por encurvadura; por block slumping; por rotação, ou ainda
uma conjugação destas roturas;
Quando se têm blocos incompletos que tenderiam a cair, mas como os blocos não são
completamente delimitados por um sistema de descontinuidades, a rotura poderá não
acontecer, porque o novo maciço fracturado não permite o isolamento dos blocos.
Para melhor entender estes princípios é fundamental perceber a teoria dos blocos, desenvolvida por
Shi e Goodman, em 1985. Esta teoria permite combinar diferentes descontinuidades de forma a
identificar e analisar os blocos de rocha críticos, conhecidos por blocos chaves (key block). Os blocos
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
58
chaves podem ser divididos em dois grupos os blocos finitos e infinitos. Os blocos infinitos,
classificados como tipo V, não são perigosos para a escavação, enquanto não ocorrem fissuras
internas. Os blocos finitos podem ser distinguidos em blocos removíveis ou não removíveis. Os blocos
finitos não removíveis (tipo IV) têm uma forma que não deixa sair o bloco do seu espaço livre,
passando a ser blocos não removíveis se existir algum deslocamento dos blocos adjacente, provocando
a sua fracturação, e permitindo assim o seu movimento. No caso de blocos finitos removíveis podem
ser divididos em três categorias: blocos do tipo III, são blocos estáveis, porque a resultante das forças
tem uma orientação favorável, permanecendo assim estável mesmo sem a mobilização de atrito nas
suas faces; os blocos do tipo II, são estáveis, enquanto as forças que provocam deslizamento sobre o
bloco são inferiores às forças resistentes, isto é, estão apenas sujeitos às acções gravíticas, também são
chamados de blocos potencialmente chaves (potential key block); e os blocos do tipo I são os blocos
chaves (key block), ou seja, podem deslizar para um espaço livre sobre a acção da gravidade sem
existir qualquer força externa, a menos que exista algum sistema de apoio adequado. Na Figura 4.7
apresenta-se um talude, onde se representou todos os tipos de blocos anteriormente mencionados.
Figura 4.7. Tipos de blocos que podem surgir num talude
De seguida são apresentados os diferentes modos de rotura dos taludes rochosos, em que os princípios
fundamentais descritos anteriormente foram aplicados. Nos casos da instabilidade planar, em cunha,
por toppling ou por encurvadura, que foram apresentados no capítulo anterior, será feita uma breve
descrição, para melhor interpretação dos outros tipos de rotura.
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
59
4.3.1. EROSÃO
A erosão pode danificar muito os taludes rochosos. Este tipo de rotura pode dever-se a acções de
escoamento superficial concentradas, ou por erosão interna e pela passagem das águas subterrâneas
por canais naturais, principalmente quando se está perante taludes pouco consolidados, ou rochas
sujeitas a elevadas intempéries. A erosão interna e a circulação da água subterrânea normalmente
acontecem em taludes naturais ou artificiais que abrangem materiais soltos em contacto com a abertura
das descontinuidades do maciço rochoso, ou ocorre devido a uma reorganização das camadas de
rocha, ou numa zona com uma descontinuidade elevada. Se um solo de fácil erosão estiver localizado
por baixo de uma rocha e junto a uma descontinuidade aberta, e existir um escoamento pode iniciar-se
um processo de erosão rápida, o que debilita as rochas adjacentes e altera a forma da superfície livre.
Se pelo contrário estes solos se encontram acima das descontinuidades abertas, a sua erosão interna é
possível, mas normalmente menos prejudicial para o talude, embora possa ser devastador para
estruturas de elevada envergadura. Na Figura 4.8 apresenta-se um esquema deste tipo de rotura.
Figura 4.8. Esquema que representa a instabilidade por erosão (Goodman e Shi)
4.3.2. RAVELLING
O Ravelling refere-se à erosão progressiva e desprendimento de partículas ou de blocos a partir do
maciço rochoso do talude. Este processo é definido pela perda de massa e de erosão gradual, sendo o
seu transporte efectuado pelas precipitações ou pela gravidade. As rochas duras altamente fracturadas
podem contribuir para que grandes taludes sofram ravelling. Dependendo da geometria do talude, as
partículas ou blocos podem cair livremente durante o processo de ravelling. Na Figura 4.9. apresenta-
se um caso real de instabilidade por ravelling num talude numa estrada nacional junto ao Lake
Sinizzo, em L’Aquila, Itália.
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
60
Figura 4.9. Instabilidade por ravelling na estrada nacional em L'Aquila, Itália
4.3.3. INSTABILIDADE PLANAR
A instabilidade planar é desenvolvida através de um único plano de fraqueza, e só pode ocorrer depois
de estar bem definida a possível massa de deslizamento, como foi demonstrado na Figura 3.21. No
caso de maciços rochosos que se encontram em camadas e com um conjunto de descontinuidades
dominantes, um deslizamento potencial não pode ocorrer a menos que as margens laterais do bloco
sejam definidas nas faces do talude, ou então desenvolverem roturas por corte. Este último é facilitado
pela ocorrência de descontinuidades individuais ou por zonas de corte que interceptam a massa de
deslizamento, numa direcção paralela à inclinação da superfície de deslizamento potencial. O bloco
definido por três ou mais conjuntos de descontinuidades não precisa quaisquer outras estruturas
(edifícios, pontes, entre outros) ou auxílio da topografia do talude para produzir a superfície de
deslizamento, sendo por isso mais fácil a sua remoção na fase de escavação. Um dos contributos da
teoria dos blocos, discutida por Goodman e Shi, é a facilidade da análise para determinar se o bloco é
removível ou não. Pela observação dos blocos é possível perceber se estes deslizam apenas por uma
face ou através da intercepção de duas, percebendo assim de que tipo de rotura se trata, de uma
instabilidade planar ou em cunha.
4.3.4. INSTABILIDADE POR CUNHA
As instabilidades por cunha ocorrem em taludes convexos, onde as superfícies de corte em
deslizamento são formadas por duas descontinuidades não paralelas. Nestes casos, os planos que
delimitam a cunha são quatro sendo que dois deles são formados por descontinuidades do maciço
rochoso e outros dois são planos da face (slope face) e da superfície do talude (upper face), como
apresentado anteriormente na Figura 3.22. Portanto, não é preciso mais superfícies laterais para isolar
o bloco para deslizar. Assim sendo, grandes massas deslizantes podem ser libertadas pela intersecção
de uma zona de corte importante ou por uma descontinuidade, com um contacto entre outros dois
membros ou formações ou qualquer outra superfície de descontinuidade.
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
61
4.3.5. ROCK SLUMPING
O desabamento de rocha ou rock slumping, como foi chamado por Wittke (1965) e Kieffer (1998),
descreve-se como sendo a rotação de blocos rígidos em sentido oposto ao talude, onde os blocos
passam de um contacto entre duas superfícies para um contacto entre uma superfície ou uma aresta do
bloco. Este tipo de rotura apresenta-se normalmente em rochas duras e com descontinuidades com
inclinação paralela ao talude. Na Figura 4.10 a) mostra-se que o rock slumping sucessivo de vários
blocos produz um efeito parecido com o deslizamento circular clássico em solos, mas ao verificar o
deslizamento internamente nota-se que é diferente, porque existem blocos que rodam de forma
independente e cria grandes aberturas com forma de placas. Nas Figura 4.10 b), c) e d) apresentam-se
variações do desabamento de rocha, onde os aspectos morfológicos são diferentes, ou seja, varia a
rigidez do bloco ou o grau de intersecção entre diáclases. Estas figuras apresentam respectivamente
três tipos de deslizamento de blocos descritos por Kieffer (1998), que são: o flexural slumping, o block
slumping e o block flexural slumping.
Figura 4.10. a)Esquema a 3D da instabilidade e diferentes tipos de rock slumping: b) Flexural slumping; c) Block
slumping; e d) Block flexural slumping (Goodman e Kieffer)
Nos três casos apresentados, existe um escorregamento entre as camadas e as descontinuidades
comuns, onde terão um movimento lento e progressivo, acabando com uma inclinação suave.
Na Figura 4.11 mostra-se um modo similar ao anterior, onde um bloco após o outro desaba ao longo
da superfície de uma camada mole e mais profunda. Sem um estudo adequado ao subsolo pode
confundir-se com a inclinação destes blocos rígidos do talude como pertencentes a uma única massa
homogénea dividida em camadas de rocha dura, não considerando a camada mole por baixo que
provoca a instabilidade. O rock slumping é análogo à instabilidade por toppling, quando envolve
vários blocos num processo progressivo de destruição do declive, onde as camadas não mergulham na
direcção do maciço, mas sim na direcção da face livre.
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
62
Figura 4.11. Instabilidade por rock slumping (Goodman e Kieffer)
4.3.6. INSTABILIDADE POR TOPPLING
O toppling é um método de rotura de taludes rochosos em que os blocos ou as colunas mergulham na
direcção oposta ao talude, de modo a que cada bloco tende a ficar com uma saliência em relação ao
talude e o bloco é suportado apenas pela resistência passiva entre os seus vizinhos da vertente. Nas
Figuras 3.24, 3.25 e 3.26, apresentadas anteriormente, representam respectivamente três classes de
instabilidade por toppling que são: a instabilidade por block toppling, a instabilidade por flexural
toppling e a instabilidade por block-flexure toppling, estas classes foram descritas por Goodman e
Bray (1977), tendo em atenção o papel da intersecção entre as descontinuidades.
O modo de instabilidade por toppling é comparável com o deslizamento de solos, nas deformações
verificadas na base do talude. No caso o deslizamento do solo é considerado como um movimento,
lento quase contínuo, sobre uma tensão constante. Por outro lado a instabilidade por toppling pode ser
profunda, de grandes dimensões e com um movimento rápido, e por vezes envolve as novas formações
rochosas. Como qualquer massa instável, o período do movimento rápido é antecipado por uma lenta
aceleração dos deslocamentos, sendo que o peso próprio da rocha é gradualmente distribuído para os
blocos situados no pé do talude. Depois da rotura principal ter ocorrido, o maciço rochoso agora com
deslizamento que progride com um movimento contínuo no sentido descendente, tornando-se
prejudicial para algumas estruturas. O deslizamento e toppling de blocos podem levar a taludes
íngremes de blocos de rocha altamente fracturada e muito flexíveis, que ameaçam as estruturas
localizadas abaixo da superfície de rotura.
4.3.7. SLIDE TOE TOPPLING
Este tipo de instabilidade foi descrito por Goodman e Bray (1977) como um modo de toppling
secundário, geralmente ocorre quando existe toppling no pé do talude, provocado por uma carga de
uma massa rochosa que sofreu deslizamentos na parte superior do talude, como se pode ver pela
Figura 4.12. Quando se observa com atenção percebe-se que existe um mecanismo de dois blocos
activo-passivo, em que a região passiva sofre toppling, em vez de deslizar.
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
63
Figura 4.12. Instabilidade por slide toe toppling (Goodman e Kieffer)
No caso da Figura 4.13 apresenta-se um exemplo deste tipo de rotura num vale da Serra Nevada,
Califórnia. A instabilidade verificada no lado direito e esquerdo do vale está dividida em duas zonas.
No caso da zona 1está-se perante um deslizamento dos blocos, mas estes não provocam qualquer
interferência nos blocos da zona 2. A zona 2 é composto por uma rocha metamórfica foliada que
mergulha na direcção do talude, tendo uma instabilidade clássica do toppling, ou seja, devido ao peso
próprio. No lado esquerdo do vale, a zona 3 é composta por uma rocha metamórfica, do tipo filito, que
se desloca ao longo de uma superfície de estratificação contra os blocos situados na zona 4, sendo que
estes blocos estão divididos por descontinuidades de foliação que mergulham abruptamente para o
fundo do vale. Nesta zona os blocos que formam o toppling no pé do talude, não sofrerem toppling
apenas devido à gravidade, mas também devido ao deslizamento dos blocos da zona 3.
Figura 4.13. Exemplo de instabilidade por slide toe toppling num vale da Serra Nevada, Califórnia (Goodman e
Kieffer)
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
64
4.3.8. SLIDE HEAD TOPPLING
Esta instabilidade é um modo de toppling secundário adicional. O slide head toppling pode ocorrer
quando existe toppling na parte de cima de um talude que é ocasionado pelo deslizamento ocorrido no
pé do talude. Pode-se observar este tipo de rotura na Figura 4.14.
Figura 4.14. Instabilidade por slide head toppling (Goodman e Kieffer)
4.3.9. SLIDE BASE TOPPLING
Este tipo de instabilidade também é considerado um modo secundário de toppling. Neste tipo de
instabilidade existe toppling na base do talude devido à tensão de corte horizontal ao longo da base de
deslizamento de uma massa assente na base do talude. Na Figura 4.15 apresenta-se um exemplo deste
tipo de instabilidade. Esta instabilidade está normalmente associada a qualquer tipo de rocha
susceptível de realizar toppling, sendo que tem de servir de base a um material passível de ter uma
rotura por deslizamento.
Figura 4.15. Instabilidade por slide base toppling (Goodman e Kieffer)
4.3.10. BLOCO COM ROTAÇÃO
Este modo de rotura envolve um único bloco em que a restrição ao deslocamento no local provoca que
o bloco gire em torno de um eixo no ponto onde o deslizamento é impedido. Como o deslizamento é
interrompido, o bloco tem a tendência para ter um movimento rotativo ao longo de uma superfície de
contacto. Este modo de rotura pode surpreender um construtor que tenha fixado um bloco muito
próximo do eixo por onde o bloco gira. A instabilidade por rotação foi desenvolvida e discutida por
Wittke (1984) e por Mauldon e Goodman (1990). Na Figura 4.16 apresenta-se um esquema de um
bloco sujeito à rotação.
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
65
Figura 4.16. Esquema de um bloco sujeito à rotação (Goodman e Kieffer)
4.3.11. SHEET FAILURE
As roturas deste tipo desencadeiam-se através de descontinuidades recém-formadas ou já existentes,
onde estas se encontram paralelamente ao talude e localizam-se perto da face do talude (slope face).
Para descontinuidades já existentes em rochas de granito ou de arenito, pode originar placas suspensas,
se as descontinuidades se prolongarem pelo talude com uma inclinação paralela ao declive da face do
talude. Enquanto, no caso de novas descontinuidades, normalmente, estão associadas a rochas
desgastadas, ou rochas de arenito fragmentadas. Em ambas as situações, se a inclinação da
descontinuidade for maior que o ângulo de atrito entre as paredes das descontinuidades, como
acontece na maioria das vezes, então o talude é instável. As descontinuidades sujeitas a intempéries
têm uma redução da resistência à tracção e consequentemente promove o deslocamento das
descontinuidades. Na Figura 4.17 apresenta-se um exemplo de sheet failure depois de uma intervenção
na vertente original de modo a obter uma nova face do talude. Mesmo depois da intervenção como
surgiram novas descontinuidades na face do talude ocorreu a rotura por sheet failure. Este tipo de
instabilidade é muito perigosa porque acontece de uma forma súbita.
Figura 4.17. Representação de sheet failure (Goodman e Kieffer)
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
66
4.3.12. ROCK BRIDGE CRACKING
Esta instabilidade pode ser descrita como sendo a rotura de uma rocha intacta que restringe o
movimento dos blocos, por meio de fendas de compressão, tracção ou flexão. A instabilidade permite
o deslocamento de alguns blocos isolados presentes no talude, que de outra forma teriam ocorrido
numa fase inicial da escavação. Como a maioria dos blocos são finitos, os deslocamentos têm a
tendência para ser grandes e potencialmente significativos, mas quando se está perante um sistema de
descontinuidades este deslizamento inicial pode-se encontrar incompleto. Depois da escavação, existe
um aparecimento crescente das fendas de tracção, concentrando os esforços nas ligações que se
mantêm intactas, e levando a um acelerar do movimento na zona da possível rotura. Este tipo de rotura
aparece em taludes em rocha fracturada, sendo que deve existir uma ligação entre fracturas, em rochas
moles ou duras, mas com descontinuidades irregulares. Na Figura 4.18, as fendas de tracção estão
directamente ligadas a diáclases, formando secções contínuas de superfícies deslizantes.
Figura 4.18. Instabilidade por rock bridge cracking (Goodman e Kieffer)
4.3.13. SLIDE BASE RUPTURE
Na Figura 4.19 apresenta-se este tipo de rotura, que normalmente está associada à fractura e à rotura
de uma rocha fraca localizada na parte inferior da massa deslizante. No caso apresentado, a tensão de
corte transmitida ao pé do talude induz a fracturação da rocha fraca. O enfraquecimento e destruição
do pé do talude podem impulsionar uma massa deslizante, originando uma rotura global.
Figura 4.19. Slide base rupture (Goodman e Kieffer)
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
67
4.3.14. INSTABILIDADE POR ENCURVADURA
A instabilidade por encurvadura descreve-se como a rotura por compressão de estratos de rocha fina
ou de placas localizadas na face do talude, na Figura 3.27, apresentada anteriormente, encontra-se
representado um esquema desta rotura. Esta instabilidade está normalmente associada a imperfeições
nos estratos, tais como uma menor resistência à flexão ou uma menor resistência à tracção na zona de
possível rotura. Na Figura 4.20 mostra-se uma união entre dois tipos de instabilidade, o slumping e a
encurvadura, onde Kieffer (1998) chamou de kink-band slumping.
Figura 4.20. Instabilidade por encurvadura e por slumping denominada por kink-band slumping (Goodman e
Kieffer)
4.3.15. SOIL-TYPE SLUMPING
Este tipo de rotura é obtida através da rotação de uma massa devido a corte ao longo de um superfície
de rotura curva, que normalmente está associada a maciços rochosos que são suficientemente leves e
relativamente livres de descontinuidades. Estas roturas sucedem-se em materiais enfraquecidos devido
à introdução de água, ou em zonas de rocha fracturada. No caso de rocha fracturada tende a
desenvolver-se um modo de rotura por tracção e não por corte, levando a que as superfícies de rotura
curvas clássicas sejam substituídas por superfícies polinomiais. A Figura 4.21 a) apresenta-se um tipo
de rotura que se encontra em formações rochosas em que a probabilidade de desabamento do material
aumenta devido às elevadas pressões de água no fundo da albufeira, onde está impedida a drenagem
no fundo da albufeira devido a um estrato impermeável. A principal causa para a rotura são as altas
pressões na massa deslizante, que actua como uma barreira ao fluxo das águas subterrâneas. Outro
caso possível é quando as pressões altas são devidas a um estrato impermeável localizado na base do
declive, que impede a drenagem de águas subterrâneas sob o talude. Na Figura 4.21 b) mostra-se este
exemplo.
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
68
Figura 4.21. Soil-type slumping (Goodman e Kieffer)
4.3.16. ROCK BURSTING
O afloramento de rocha refere-se a uma rotura da rocha perto da superfície livre, devido a altas tensões
de corte. Este modo de instabilidade é diferente da sheet failure em que o crescimento da fracturação
do maciço e a destruição da rocha são eventos dinâmicos. O afloramento de rocha ocorre geralmente
em rochas duras em pedreiras altamente tensionadas, mas também pode acontecer quando se escava
vertentes rochosas na base profunda de um desfiladeiro.
4.4. PROGRAMAS COMPUTACIONAIS
Os métodos de análise da estabilidade de taludes diferenciam-se na sua composição teórica e
abordagem, e naturalmente, os resultados das análises variam de acordo com a teoria utilizada. Para
além disso, as simplificações adoptadas nos métodos 2D de estabilidade de taludes levam a factores de
segurança que divergem dos mais rigorosos que se obtêm nos métodos 3D de estabilidade. Na prática,
a análise de estabilidade de taludes em 3D não é realizada a menos que a geometria do talude seja
muito complicada ou que o mecanismo de rotura seja complexo, logo só se utiliza a análise 3D quando
as características não são adequadas para uma boa análise a 2D, ou quando esta análise não nos
permite obter um resultado fiável. Neste momento o método a considerar depende do utilizador. Por
isso torna-se fundamental existir um esforço para compreender os métodos de análise de estabilidade
em taludes, para assim perceber as suas limitações e apontar os aspectos práticos dos seus
procedimentos de análise.
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
69
Os métodos de equilíbrio limite bidimensional desenvolvido para taludes de solo são também
aplicados a taludes de rocha. Nas situações de 2D, como o toppling, rock slumping e deslizamento
planar, os modelos numéricos incluem a representação de descontinuidades. A abordagem numérica
permite comparar a eficiência de custos relativos das diferentes medidas de suporte, ou determinar a
probabilidade de erosão da escavação, ou deformações que provocaram a rotura global. Vários autores
desenvolveram análises de equilíbrio limite, para os diferentes tipos de rotura, como por exemplo no
caso de instabilidade por toppling que foi desenvolvido por Goodman e Bray (1977).
Em seguida apresentam-se dois métodos numéricos bidimensionais para o estudo da análise de
estabilidade em taludes que foram utilizados nesta dissertação. Para fazer a validação dos métodos
analíticos da análise de estabilidade recorreu-se aos programas computacionais Phase2 e Slope/W, que
apresentam-se de seguida.
4.4.1 PHASE2
O Phase2 é um programa computacional de análise bidimensional elasto-plástico, que considera o
Método de Elementos Finitos (MEF), sendo que usa o cálculo de tensões e deslocamentos em
escavações subterrâneas ou superficiais de rocha ou de solo. É utilizado para um ampla série de
projectos de engenharia e de geotecnia, que podem incluir suportes, como as pregagens, as
ancoragens, o betão, os geossintéticos, entre outros, utilizar modelos de multi-fases que são facilmente
criados e analisados, por exemplo, analisar as diferentes fases de construção de um talude, aplicar
diferentes materiais para cada fase, utilizar materiais elásticos e plásticos, e ainda fazer análises de
estabilidade de taludes através do método de redução da resistência de corte. Este programa permite
perceber qual é o comportamento do talude, mas também permite fazer a análise de estabilidade pelo
factor de redução da resistência crítico do talude (SRF).
Uma das principais características do Phase2 é a análise de estabilidade de taludes pelo método de
redução da resistência de corte, designado no programa por Shear Strength Reduction (SSR). Esta
opção usa os parâmetros de Mohr-Coulomb ou os parâmetros de resistência de Hoek-Brown. Este
método calcula um factor de redução da resistência crítico do talude (SRF), que corresponde ao factor
de segurança crítico do talude.
O método SSR é um método de cálculo simples que se pode resumir nos seguintes passos:
1. Calculo das tensões nos elementos finitos, sendo que os parâmetros de resistência do talude
são reduzidos do factor SRF;
2. Este processo é um método iterativo para diferentes valores de SRF, até o modelo se tornar
instável;
3. O factor de redução da resistência crítico é assumido para quando o modelo se torna instável.
O Método de Elementos Finitos (MEF) utilizado por este programa, tem como objectivo a
determinação do estado de tensão e de deformação de um sólido de geometria arbitrária sujeito a
acções exteriores. O MEF tem sido cada vez mais utilizado, devido à evolução de dispositivos
computacionais, que facilitam a sua realização. Isto porque o MEF necessita de uma grande
quantidade de cálculos, nomeadamente na resolução de grandes sistemas de equações lineares, ou seja
com o desenvolvimento dos micro-computadores ocorrida entre as décadas de 80 e de 90, o MEF
chegou finalmente aos gabinetes de engenharia. A formulação dos deslocamentos no MEF, utilizado
neste programa, tem os seguintes passos fundamentais:
1. Discretização do domínio, ou seja, a divisão do domínio em regiões chamadas de elementos
finitos, que estão ligados entre si por nós;
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
70
2. Escolha das funções de interpolação, que permitem fazer uma aproximação no interior dos
elementos finitos, onde as funções podem ser polinomiais, trigonométricas ou outra. Obtém-
se assim a matriz rigidez dos elementos recorrendo por exemplo ao teorema de trabalhos
virtuais (TTV);
3. Formação do sistema de equações global, através da construção da matriz de rigidez global e
do vector de solicitação global e a introdução das condições de fronteira;
4. Resolução do sistema de equações global, ou seja, procede-se ao cálculo dos deslocamentos
nodais e das reacções de apoio nos nós;
5. Determinação das tensões no interior dos elementos.
4.4.2 SLOPE/W
O programa Slope/W desenvolvido pela Geo-Slope, tem como principal característica o cálculo do
factor de segurança dos taludes em solos e rochas, ou seja, permite apenas fazer a análise de
estabilidade do talude. Este software pode analisar simultaneamente problemas simples e complexos,
para várias formas da superfície, condições de pressão da água, propriedades do solo, utilização de
estruturas de suporte, tais como ancoragens, métodos de análise e condições de carga. A análise de
estabilidade de taludes pode ser realizada por parâmetros de entrada determinísticos ou probabilísticos.
O Slope/W permite analisar quase todos os problemas de estabilidade de taludes, em projectos de
engenharia geotécnica, civil e mineira.
Este programa utiliza simultaneamente métodos de análise desenvolvidos por vários autores, tais
como, Bishop, Janbu, Fellenius, ou o Método Geral de Equilíbrio Limite (GLE) desenvolvido por
Fredlund et al. No programa é possível observar o mecanismo de rotura que resulta da análise pelo
Método das Fatias para o mecanismo de rotura, que traduz o valor do factor de segurança mínimo do
talude. O processo de cálculo do factor de segurança mínimo é efectuado por um processo iterativo,
fazendo várias análises aos diferentes tipos de superfície de deslizamento, por isso tem toda a
vantagem em ser um processo automatizado.
4.5. MONITORIZAÇÕES EFECTUADAS IN SITU
Estas monitorizações estão normalmente associadas ao plano de observação, para assim conhecer o
comportamento real que o talude está a sofrer. Isto permite saber se o comportamento anteriormente
analisado por programas de computador está a ser verificado. Estas monitorizações são efectuadas por
ferramentas básicas de mapeamento de engenharia de estruturas geológicas, por medição dos níveis
piezométricos, e por medição das deformações sofridas no talude. Na Figura 4.22 apresenta-se um
piezómetro e um esquema da sua colocação. A avaliação dos deslocamentos no terreno e no talude
pode ser feita recorrendo a inclinómetros, sendo estes colocados em tubos inclinómetricos selados na
parede do talude ou em furos de sondagens no terreno. Na Figura 4.23 mostra-se um inclinómetro e
um esquema da sua colocação. No caso de se querer verificar os assentamentos superficiais ou o
movimento das estruturas vizinhas, deve-se recorrer a marcos topográficos e/ou a alvos topográficos.
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
71
Figura 4.22. Piezómetro
Figura 4.23. Inclinómetro
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
72
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
73
5
CASOS ELEMENTARES
5.1. CONSIDERAÇÕES GERAIS
Neste capítulo pretende-se apresentar alguns casos para servirem de introdução para os casos mais
complexos que se apresentam no capítulo seguinte. Expõem-se os seguintes casos:
1. Um talude de granito com possível instabilidade por toppling (Caso 1);
2. Um talude de solo residual de granito com instabilidade planar (Caso 2);
3. Um talude de solo residual de granito com instabilidade circular (Caso 3).
Nestes casos fez-se um estudo da análise de estabilidade por métodos analíticos e numéricos. Nas
análises numéricas os estudos serão elaborados através dos programas Phase2 e Slope/W. A análise
analítica da estabilidade dos taludes será executada tendo em conta o Método de Equilíbrio Limite e o
Método das Fatias. Por fim vai-se proceder à comparação das análises numéricas e analíticas, para
assim perceber as suas semelhanças e diferenças.
De seguida apresentam-se as características dos materiais utilizados, tanto para estes casos como para
os casos mais complexos apresentados mais adiante.
5.1.1. CARACTERÍSTICAS DOS MATERIAIS
No quadro seguinte são apresentados os valores das características dos materiais utilizados na análise
de estabilidade dos exemplos apresentados nesta dissertação. O material granítico foi considerado em
todos os taludes que são susceptíveis de instabilidade por toppling, enquanto o solo residual de granito
foi utilizado nos casos de estudo da instabilidade circular e planar, e no último caso de instabilidade
por slide toe toppling devido ao solo no topo do talude, apresentado no próximo capítulo. De forma a
apresentar valores plausíveis para as propriedades dos materiais, para que assim se tenha um estudo o
mais real possível, utilizaram-se as características dos materiais encontrados nas obras do Metro do
Porto, mais especificamente, os considerados na análise de comportamento estrutural da estação Faria
Guimarães.
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
74
Quadro 5.1. Propriedades dos materiais
Propriedade do material Granito Solo Residual de
Granito
Peso volúmico, 25 kN/m3 19 kN/m
3
Módulo de Elasticidade, E 35000MPa 40MPa
Coeficiente de Poisson, 0,3 0,3
Ângulo de atrito, ´ 65º 28º
Coesão, c´ 3500kPa 0
5.2. TALUDE COM POSSÍVEL INSTABILIDADE POR TOPPLING – CASO 1
5.2.1. GEOMETRIA DO TALUDE EM ESTUDO
No primeiro talude estudado adoptou-se o exemplo apresentado no livro Rock Slope Engineering, de
Hoek e Bray. Na Figura 5.1 representa-se o talude em estudo, em que este tem uma altura de 92,5m
uma inclinação de 56,6º com a horizontal e é constituído por dezasseis blocos cuja base tem uma
inclinação de 30º com a horizontal. Os blocos tem uma largura (x) constante igual a 10m, e a altura
dos blocos (yn) varia entre 4m e 40m, sendo que entre os blocos número um e dez existe um aumento
da altura em cada bloco de 5m, e a partir deste existe uma diminuição de 5m de altura em cada bloco.
Os blocos estão posicionados em forma de escada, ou seja, a base do bloco n+1 está elevada de 1m em
relação à base do bloco n.
Figura 5.1. Talude com possível instabilidade por toppling (Hoek e Bray, 1999)
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
75
5.2.2. MÉTODO ANALÍTICO NA ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE TALUDES
Neste subcapítulo apresentam-se as expressões e os procedimentos gerais para a análise da
estabilidade de taludes com possível instabilidade por toppling. Referem-se também os resultados
obtidos para o caso 1 em estudo, que posteriormente serviram para comparar com os valores obtidos
da análise numérica.
5.2.2.1. Expressões analíticas
A instabilidade por toppling pode dever-se a descontinuidades que mergulham para o interior do
talude, o que origina um bloco ou uma sucessão de blocos paralelepipédicos, desde que o seu centro
de massa caia para fora da base. Para que o talude esteja em condições de ocorrer toppling é necessário
que a superfície do talude e a superfície das descontinuidades mergulhem em sentidos opostos e com
elevadas inclinações.
Goodman e Bray, em 1976, e mais tarde Hoek e Bray, em 1981, foram três dos autores que
investigaram e desenvolveram a análise de estabilidade da instabilidade por toppling. Este estudo foi
desenvolvido para casos simples, como o que se apresenta neste subcapítulo. O método de análise
apresentado por estes autores tem como base o equilíbrio limite das forças aplicadas nos blocos com
possibilidade de experimentarem toppling, ou seja, consiste numa verificação das condições de
estabilidade de cada bloco a partir do topo do talude. Quando se está perante esta instabilidade, os
blocos podem-se integrar numa destas três situações:
Num conjunto de blocos estáveis, normalmente situados na parte superior do talude;
Num conjunto de blocos instáveis em relação ao deslizamento pela base, geralmente
localizados na base do talude;
Num conjunto de blocos instáveis em relação ao movimento de basculamento, usualmente
dispostos na parte intermédia do talude.
É necessário ter em atenção que estas situações dependem da geometria do bloco, da resistência ao
deslizamento entre as faces e de forças externas que lhe estejam aplicadas.
Antes da análise de estabilidade pelo Método de Equilíbrio Limite, primeiramente deve-se determinar
as dimensões de todos os blocos, ou seja, deve-se determinar a altura de cada bloco (yn) e largura (x).
Em seguida são calculadas as forças actuantes em cada bloco, a partir do topo do talude na direcção à
sua base. Estas forças encontram-se representadas na Figura 5.2, num bloco n genérico. As forças
actuantes são as seguintes:
O peso do bloco n, Wn;
As força Pn e Qn são componentes da força de interacção entre o bloco n e n+1, uma na
direcção normal e outra tangente à face lateral do bloco, respectivamente;
As forças Pn-1 e Qn-1 são componentes da força de interacção entre o bloco n e n-1,
respectivamente, na direcção normal e tangencial da face lateral do bloco n;
As forças Rn e Sn são, respectivamente, as reacções normal e tangencial actuantes na base do
bloco n.
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
76
Figura 5.2. Forças que actuam num bloco n sujeito a instabilidade por toppling (Hoek e Bray)
Na Figura 5.2 estão também representadas as distâncias Mn e Ln, que são respectivamente as distâncias
entre a base e os pontos de aplicação das forças Pn e Pn-1, e , a inclinação do bloco n em relação à
horizontal.
As componentes tangenciais das forças de interacção entre o bloco n e os blocos confinantes, Qn e
Qn-1, podem ser definidas pelas seguintes expressões:
tgPQ nn (5.1.)
tgPQ nn 11 (5.2.)
Na análise de estabilidade de uma possível instabilidade por toppling, deve-se iniciar o processo de
cálculo com uma decomposição das forças actuantes no bloco nas componentes perpendicular e
paralela à base desse bloco, através desta decomposição vai-se determinar as resultantes das forças
normais e tangenciais que actuam na base, Rn e Sn. Na expressão 5.3. e 5.4. apresenta-se como
determinar estas forças.
cos)(
0cos0
1
1
nsnnn
nsnsnnn
WtgPPR
WtgPtgPRF (5.3.)
senWPPS
senWPPSF
nnnn
nnnnt
)(
00
1
1 (5.4.)
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
77
Onde o peso do bloco n (Wn) é obtido pela multiplicação do peso volúmico () pela área do bloco (x
por yn), e s é o ângulo de atrito nas descontinuidades laterais dos blocos.
Para determinar a força necessária para evitar o toppling do bloco, Pn-1,t, considera-se o somatório dos
momentos no ponto “O” igual a zero. Na Figura 5.3 apresenta-se um esquema das condições de
Equilíbrio Limite para toppling no bloco n. Na expressão 5.5. apresenta-se a equação para determinar
o Pn-1,t.
022
cos
0
1
n
nnsnnnnn
O
ysenW
xWxtgPMPLP
M
(5.5.)
n
nnsnn
tnL
xsenyWxtgMPP
)cos()2()(,1
(5.6.)
Figura 5.3. Condição de equilíbrio limite quando existe toppling no bloco n (Hoek e Bray)
A força necessária para evitar o deslizamento pela base, Pn-1,s, é obtida pela expressão 5.8, sendo
determinada pelo estado de equilíbrio limite e tendo em conta as expressões 5.3. e 5.4, na Figura 5.4
apresenta-se as condições de equilíbrio limite para este caso.
snsnnnnn
snn
tgWtgPPsenWPP
tgRS
cos)( 11
(5.7.)
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
78
)1(
)cos(2,1
s
sn
nsntg
tgsenWPP
(5.8.)
Figura 5.4. Condição de equilíbrio limite quando existe deslizamento no bloco n (Hoek e Bray)
A análise de estabilidade do talude consiste em estudar as condições de estabilidade de cada bloco,
iniciando este estudo pela parte superior do talude. Os critérios a seguir para garantir a estabilidade de
cada bloco são as seguintes:
1. Se o ângulo de atrito na base dos blocos (b) for superior à inclinação da base do bloco () e
não actuarem forças externas, como por exemplo a acção da água e cargas externas, então
não ocorrerá o deslizamento pela base dos blocos;
2. Os blocos situados junto à crista do talude que satisfaçam a expressão 5.9. são estáveis;
cotx
yn (5.9.)
3. A partir do bloco a contar do topo do talude, em que a condição anterior (5.9.) não seja
verificada, então está-se perante uma situação de possível toppling, logo é necessário
calcular Pn-1, a força de interacção entre blocos que é fundamental para garantir a
estabilidade do talude. Onde Pn-1,t e Pn-1,s são os valores para garantir o equilíbrio limite do
bloco em relação ao toppling e ao deslizamento, respectivamente. Podem surgir três
situações distintas:
Se Pn-1,t>Pn-1,se Pn-1,t >0, o bloco tende a bascular e Pn-1=Pn-1,t;
Se Pn-1,t <Pn-1,s e Pn-1,s>0, o bloco tende a deslizar e Pn-1>Pn-1,s;
Se Pn-1,t <0 e Pn-1,s<0, o bloco é estável e Pn-1=0.
4. Para determinar o equilíbrio do bloco seguinte (n-1), aplica-se no lado adjacente ao bloco n a
força Pn-1, mas no sentido oposto, e calcula-se a força no outro lado, tendo em conta o
procedimento descrito anteriormente;
5. Continua-se a efectuar este procedimento de cálculo até ao pé do talude, onde as condições
de fronteira já são conhecidas ou podem ser impostas.
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
79
Deve-se referir que se existir deslizamento dos blocos no pé do talude, então o talude será instável.
Mas se o bloco na base do talude for estável, impossibilitando a existência de uma rotura global do
talude, poderão registar-se, na mesma, deslocamentos significativos nos blocos de maior dimensão que
têm tendência para bascular.
Depois de calcular as forças actuantes em cada bloco, pode-se finalmente calcular o factor de
segurança (FS) do talude através de um processo iterativo, ou seja, os ângulos de atrito são feitos
variar progressivamente até serem alcançadas as condições de equilíbrio limite do bloco situado na
base do talude, isto é na eminência de deslizar. Então o factor de segurança (FS) é obtido pela razão da
tangente do ângulo de atrito na base dos blocos (b) pela tangente do ângulo de atrito necessário para
atingir o equilíbrio limite (crit).
crit
b
tg
tgFS
(5.10.)
5.2.2.2. Resultados analíticos
Para o caso 1, descrito anteriormente, procedeu-se ao cálculo das forças actuantes em cada um dos
dezasseis blocos, como mostra o Quadro 5.2, tendo em conta todos os critérios e condições descritas
anteriormente. Sendo que os valores apresentados são para o ângulo de atrito que corresponde à
situação de equilíbrio limite,crit, do talude com possível instabilidade por toppling, este ângulo foi
obtido depois de várias tentativas com o valor de 38,2º que corresponde ao equilíbrio limite do talude.
Ao analisar o quadro percebe-se que o talude experimenta os três tipos de situações, ou seja é estável
na parte superior do talude, sofre toppling na parte intermédia do talude e deslizamento na base do
talude. E embora a equação 5.9. seja verificada na base do talude, isto não quer dizer que os blocos
estejam estáveis, porque esta verificação apenas é válida para blocos junto à crista do talude.
Em anexo apresenta-se a folha de cálculo utilizada para determinado este tipo de instabilidade.
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
80
Quadro 5.2. Análise analítica de um talude com possível instabilidade por toppling
Modo
de
rotu
ra
Está
vel
Está
vel
Está
vel
Topplin
g
Topplin
g
Topplin
g
Topplin
g
Topplin
g
Topplin
g
Topplin
g
Topplin
g
Topplin
g
Topplin
g
Desliz
am
en
to
Desliz
am
en
to
Desliz
am
en
to
Sn/R
n
0,5
77
0,5
77
0,5
77
0,5
42
0,5
26
0,5
19
0,4
87
0,4
91
0,5
20
0,5
55
0,5
98
0,6
52
0,7
22
0,7
85
0,7
85
0,7
86
Sn
(kN
/m)
500,0
1250
,0
2000
,0
2457
,5
2966
,8
3519
,7
3729
,2
3404
,5
3327
,3
3257
,8
3199
,5
3159
,3
3152
,5
2911
,8
1941
,2
972,8
Rn
(kN
/m)
866,0
2165
,1
3464
,1
4533
,4
5643
,4
6787
,6
7662
,1
6933
,8
6399
,8
5871
,9
5352
,8
4848
,0
4369
,4
3707
,0
2471
,3
1237
,4
Pn-1
(kN
/m)
0,0
0,0
0,0
292,5
825,7
1556
,0
2826
,7
3922
,2
4594
,8
4837
,1
4637
,6
3978
,3
2825
,8
1414
,0
472,8
Pn-1
,s
(kN
/m)
-470,6
-1176,5
-1882,4
-2588,3
-3001,7
-3174,4
-3150,0
-1408,6
157,4
1300
,7
2013
,5
2284
,6
2095
,9
1414
,0
472,8
Pn-1
,t
(kN
/m)
-832,5
-457,5
-82,5
292,5
825,7
1556
,0
2826
,7
3922
,2
4594
,8
4837
,1
4637
,6
3978
,3
2825
,8
1103
,3
-1485,0
Pn
(kN
/m)
0,0
0,0
0,0
0,0
292,5
825,7
1556
,0
2826
,7
3922
,2
4594
,8
4837
,1
4637
,6
3978
,3
2825
,8
1414
,0
472,8
Wn
(kN
/m)
1000
2500
4000
5500
7000
8500
1000
0
9000
8000
7000
6000
5000
4000
3000
2000
1000
Ln
(m)
4
10
16
22
28
34
35
31
27
23
19
15
11
7
3
0
Mn
(m)
0
5
11
17
23
29
35
36
32
28
24
20
16
12
8
4
yn/
x<
cot
OK
OK
OK
KO
KO
KO
KO
KO
KO
KO
KO
KO
KO
KO
KO
KO
yn
(m)
4
10
16
22
28
34
40
36
32
28
24
20
16
12
8
4
Nº
16
15
14
13
12
11
10
9
8
7
6
5
4
3
2
1
5.2.3. MÉTODO NUMÉRICO NA ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE TALUDES
O software Phase2 permite efectuar a análise numérica recorrendo ao MEF. Na modelação do talude a
malha de elementos finitos utilizada é de forma triangular cada uma com três nós. As condições de
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
81
fronteira utilizadas tiveram em conta a reprodução da continuidade do maciço, por isso a parte inferior
do talude encontra-se delimitado por apoios duplos e nas laterais a colocação de apoios de roletes com
impedimento de deslocamentos horizontais, como se pode ver pela Figura 5.5.
Figura 5.5. Modelo do programa Phase2 para o talude do caso 1
As descontinuidades que delimitam os blocos encontram-se representadas na Figura 5.5 a laranja, e
consideram-se as descontinuidades abertas. Nas propriedades das descontinuidades adopta-se o
critério de Mohr-Coulomb, onde a coesão (c) é nula e o ângulo de atrito das descontinuidades () é
variável. O material considerado para o maciço foi o granito, onde as suas propriedades estão descritas
no Quadro 5.1.
Uma das muitas características do programa Phase2 é a possibilidade de fazer variar o ângulo de atrito
nas descontinuidades, podendo assim utilizar a análise de estabilidade de taludes. Neste caso, o valor
de ângulo de atrito vai diminuir de 0,5º em cada fase até um valor aceitável, inferior ao crítico. Depois
para cada uma destas fases é determinado o deslocamento e é elaborado um gráfico com a relação
deslocamento total num ponto e o valor de ângulo de atrito, sendo assim possível pela análise do
gráfico determinar o ângulo de atrito de equilíbrio limite (crit). Na Figura 5.6 apresenta-se o ponto
“O”, onde se faz a análise do deslocamento.
Figura 5.6. Localização do ponto onde se estuda a relação dos deslocamentos totais com os angulos de atrito
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
82
Na Figura 5.7 apresenta-se a deformada do talude onde se pode observar, através de um ampliação,
que os blocos perto da crista do talude sofrem deslize e derrube pela base, as isodensidades
representadas são dos deslocamentos totais presentes no talude.
Figura 5.7. Representação da deformada e as isodensidades dos deslocamentos totais do talude do caso1
Na Figura 5.8 está representado o gráfico do deslocamento total em função do valor do ângulo de
atrito, obtidos para cada uma das fases consideradas na análise de estabilidade. Pela observação do
gráfico é possível perceber que o valor de ângulo de atrito corresponde ao equilíbrio limite do talude
se encontra entre 38,5º e 39,0º.
Figura 5.8. Gráfico da relação do deslocamento total e do ângulo de atrito para o talude do caso1
35,5
36
36,5
37
37,5
38
38,5
39
39,5
40
40,5
41
41,5
42
1,594 1,595 1,596 1,597 1,598 1,599 1,6
Ân
gu
lo d
e A
trit
o (
°)
Deslocamento Total (mm)
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
83
5.2.4. COMPARAÇÃO ENTRE OS RESULTADOS ANALÍTICOS E NUMÉRICOS
No estudo de um talude com possível instabilidade por toppling constituído por dezasseis blocos, os
valores dos resultados analíticos e numéricos são próximos. No caso da análise analítica o valor de
ângulo de atrito para o equilíbrio limite é igual a 38,2º. Enquanto, na analise numérica o valor está
entre 38,5º e 39,0º. Logo verifica-se que os resultados obtidos pelo Phase2 são ligeiramente superiores
aos obtidos pala análise analítica.
5.3. TALUDE COM POSSÍVEL INSTABILIDADE PLANAR – CASO 2
5.3.1. GEOMETRIA DO TALUDE EM ESTUDO
Neste caso estuda-se um caso de instabilidade planar num talude com as dimensões do talude anterior,
ou seja, a geometria deste talude corresponde as inclinações do talude do caso 1. Isto é, o talude tem
uma altura de 88,7m fazendo uma inclinação de 55,6º com a horizontal, a parte superior do talude não
é horizontal, tendo uma pequena inclinação de 3,4º. A superfície de deslizamento tem uma inclinação
de 35,4º, esta superfície corresponde à inclinação entre o bloco na base do talude e o bloco situado no
topo do talude. Na Figura 5.9 apresenta-se a geometria do talude com possível instabilidade planar.
Figura 5.9. Talude com possível instabilidade planar
5.3.2. MÉTODO ANALÍTICO NA ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE TALUDES
A análise analítica da estabilidade deste talude será efectuada tendo em conta o Método de Equilíbrio
Limite e uma adaptação do Método das Fatias, utilizado em casos de instabilidade circular. Deste
modo pode comparar-se estes dois métodos analíticos, mas para além de se proceder à comparação
entre métodos é mais fácil comparar o Método de Equilíbrio Limite com a análise de Phase2, e o
Método das Fatias com o Slope/W e o Phase2, sendo que estes programas foram utilizados para fazer a
análise numérica.
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
84
5.3.2.1. Método de Equilíbrio Limite para uma superfície de deslizamento planar
O Método de Equilíbrio Limite permite estabelecer o factor de segurança (FS) que é obtido pela
relação entre as forças estabilizadoras no talude (Fr) e forças desestabilizadoras no talude (Fd). A partir
das condições que se apresentam de seguida, é possível determinar o ângulo de atrito da
descontinuidade que corresponde à situação de equilíbrio limite do talude.
Primeiramente, determina-se as forças actuantes na massa de deslizamento. Na Figura 5.10 apresenta-
se um esquema destas forças. Apresenta-se também a decomposição do peso próprio da massa
deslizante.
Figura 5.10. Esquema das forças que actuam na massa deslizante
Recorrendo ao somatório das forças tangenciais e normais à superfície de deslizamento, estas
expressões apresentam-se em 5.11. e 5.12. Com estas forças é assim possível calcular as forças
actuantes na superfície de deslizamento, na direcção normal (N) e na direcção tangencial (T).
cos0cos0 WNWNFn (5.11.)
senWTsenWTFt 00 (5.12.)
Neste caso as forças desestabilizadoras (Fd) são apenas devidas à componente tangencial do peso
próprio (W). Logo as forças são determinadas por:
senWTFd (5.13.)
Já as forças estabilizadoras (Fr) podem ser determinadas através da expressão seguinte:
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
85
ABtgcABF idadedescontinur )( (5.14.)
Sendo que AB é o comprimento da superfície da descontinuidade, para uma largura unitária, c e são
os parâmetros de resistência da descontinuidade segundo o critério de Mohr-Coulomb. Como no nosso
caso a coesão é nula então para a força estabilizadora tem-se a seguinte expressão.
tgWtgNABF idadedescontinur cos (5.15.)
Para determinar o ângulo de atrito crítico (crit) que corresponde ao equilíbrio limite, é obtido para
quando factor de segurança é igual a 1,0, pelo que se pode dizer que:
tgtg
senW
tgW
Fd
FFS r
cos0,1 (5.16.)
Então pode-se dizer que o crit é igual a:
cos
1 sentg (5.17.)
Atendendo a expressão 5.17. o valor do ângulo de atrito para o caso em estudo, corresponde ao
equilíbrio limite é igual à inclinação da face de deslizamento, ou seja, tem um valor igual a 35,4º.
5.3.2.2. Método Geral de Equilíbrio Limite, GLE, para o Método das Fatias
Este método foi desenvolvido por Fredlund e Krahn (1977) e actualizado mais tarde por Fredlund et
al, em 1981. Este método foi um dos elementos chave para quase todos os métodos a partir daí
desenvolvidos. Neste método a formulação é baseada em duas equações para determinar o factor de
segurança. Uma das equações permite calcular o factor de segurança com respeito ao equilíbrio de
momentos (FSm) e a outra equação do factor de segurança é determinada pelo equilíbrio das forças
horizontais (FSf).
No caso de uma instabilidade planar as forças de intersecção entre fatias são nulas pelo que a melhor
equação para determinar o factor de segurança é o que têm em conta o equilíbrio de forças horizontais
(FSf).
No cálculo do factor de segurança para uma instabilidade planar, as equações estáticas utilizadas são:
O somatório das forças na vertical para cada fatia, para assim ser possível calcular a força na
normal à base da fatia (Ni);
O somatório das forças na direcção horizontal a todas as fatias, permite calcular o factor de
segurança em termos de força de equilíbrio (FSf).
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
86
Na figura seguinte é possível observar o sistema de divisão das fatias e as forças actuantes em cada
fatia.
Figura 5.11. Massa deslizante analisada pelo método das fatias no caso de instabilidade planar
Para calcular a força que actua na normal à base (Ni) como já referido anteriormente, recorre-se ao
somatório das forças na direcção vertical, como mostra as expressões seguintes:
0cos0 iii WsenSNFx (5.18.)
Onde a força actuante na direcção tangencial à base (Si) pode ser determinada pela expressão 5.19.,
onde τ é a tensão tangencial que pode ser determinada pela equação de Mohr-Coulomb, definida
anteriormente pela expressão 3.1., e a tensão normal (σn) obtido pela expressão 5.20.
FS
tgNlc
FS
ltgc
FS
lS iiini
i
(5.19.)
i
i
nl
N
(5.20.)
A força actuante na direcção normal à base (Ni) pode ser calculada seguindo a expressão seguinte:
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
87
FS
tgsenFS
senlcW
N
i
i
i
cos
(5.21.)
Como no caso em estudo a coesão é nula, então a expressão anterior no numerador fica apenas
dependente do peso próprio da fatia.
Para determinar o factor de segurança tendo em conta o equilíbrio das forças, é necessário fazer o
somatório das forças na direcção horizontal de todas as fatias, ou seja, pode ser descrito pela expressão
5.22. e 5.23.
0cos ii SsenN (5.22.)
senN
tgNlcFS
i
ii
f
coscos (5.23.)
A principal dificuldade deste método é a determinação da força Ni na base, visto que o problema é
estaticamente indeterminado. O cálculo de FSf obriga a utilização de um factor de segurança adoptado
(FS) e depois recorrendo a um processo iterativo vai-se alterando o factor de segurança adoptado até
atingir um resultado em que o FSf é igual ao anteriormente adoptado.
Como no caso em estudo não existe coesão e a inclinação da superfície de deslizamento não varia, o
factor de segurança, descrito na expressão anterior, passa a ser apenas dependente da inclinação da
superfície de deslizamento) e do ângulo de atrito (, como se mostra na expressão 5.24.
tg
tg
senN
tgNFS
i
i
f
cos
(5.24.)
Quando o factor de segurança é igual a 1,0 atinge-se o ângulo de atrito crítico (crit) para o equilíbrio
limite, e como seria de esperar obtêm-se uma expressão igual à 5.16. Determina-se então que o ângulo
de atrito é igual a 35,4º, ou seja tem um valor de ângulo de atrito igual ao do método anterior.
5.3.3. MÉTODO NUMÉRICO NA ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE TALUDES
Na análise numérica utilizou-se os programas Slope/W e o Phase2. No programa Phase
2 fez-se a
análise tendo em conta o factor de redução de tensão (SRF) e fazendo variar o ângulo de atrito do
material, para assim proceder à análise de estabilidade. No Slope/W a análise elaborada teve em conta
os diferentes métodos aí apresentados.
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
88
No Anexo D apresenta-se a folha de cálculo elaborada para determinar a instabilidade planar deste
talude.
5.3.3.1. Programa Slope/W
O programa Slope/W faz a análise de estabilidade pelo Método das Fatias. Este programa permite
utilizar os parâmetros resistência de Mohr-Coulomb, no caso em estudo o material considerado tem
coesão nula e o ângulo de atrito de 35,4º, ou seja, o valor crítico calculado na análise analítica. O
programa Slope/W foi principalmente desenvolvido para instabilidade circular, mas permite utilizar
outros tipos de instabilidade, como por exemplo a instabilidade planar. Recorrendo ao comando “slip
surface option” e seleccionando a opção “fully specified” é possível desenhar a superfície de rotura,
como se representa na linha verde definida pelos pontos 6 e 7, representado na Figura 5.12.
Figura 5.12. Esquema da superfície de deslizamento no programa Slope/W
A principal dificuldade do Método das Fatias é a determinação das forças Ni que actuam na base das
fatias, mas este software permite determinar este valor para diferentes hipóteses desenvolvidas por
vários autores. Para além desta força permite também determinar o factor de segurança para cada
hipótese. Estas hipóteses foram desenvolvidas por autores como: Bishop; Janbu; e Fellenius. Para
além destas hipóteses desenvolvidas por estes autores também se fará referência ao Método Geral de
Equilíbrio Limite (GLE). Os diferentes métodos desenvolvidos pelos autores diferenciam-se
principalmente no que diz respeito às forças de interacção entre as fatias. Estes métodos variam
também no tipo de análise utilizada para calcular o factor de segurança, se por equilíbrio de forças ou
por equilíbrio de momentos. No caso do Método Geral de Equilíbrio Limite (GLE), pode-se calcular
das duas maneiras, mas apresenta-se apenas o factor de segurança tendo em conta o equilíbrio de
forças.
Na Figura 5.13 apresenta-se o mecanismo de instabilidade planar para o Método GLE, e no Quadro
5.3 apresenta-se o factor de segurança mínimo para cada um dos métodos. Todas as hipóteses
desenvolvidas pelo programa Slope/W têm um valor factor de segurança próximo. Isto não é de
admirar visto que o que diferencia estas hipóteses é as forças de interacção entre as fatias, mas como
neste caso estas forças são nulas, a sua principal diferença não existe.
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
89
Quadro 5.3. Factor de segurança para os diferentes métodos admitidos pelo Slope/W
Método Factor de Segurança, FS
Fellenius 1,0019
Bishop 1,0022
Janbu 1,0019
GLE 1,0019
Figura 5.13. Instabilidade planar pelo Método GLE, do programa Slope/W
5.3.3.2. Programa Phase2
O programa Phase2 para determinar a análise de estabilidade utiliza o Método de SSR para calcular o
factor de redução de tensão (SRF). A determinação deste factor é obtida pela redução dos parâmetros
de resistência ao corte dos materiais, recorrendo à análise de Método de Elementos Finitos. Quando se
utiliza o Método SSR é necessário ter uma malha de elementos finitos mais refinada, por isso no
estudo deste talude utiliza-se elementos triangulares de seis nós. Neste tipo de cálculo é necessário
considerar o material elasto-plástico.
A análise de estabilidade efectuada, pelo Método SSR, obteve-se um valor de factor de segurança
crítico igual a 1,005, que se representa na Figura 5.14. Nesta figura representa-se uma linha a traço
interrompido que define a superfície de deslizamento, o que permite perceber que o mecanismo de
rotura obtido pelo Phase2 é semelhante ao determinado anteriormente.
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
90
Figura 5.14.Mecanismo de instabilidade e as isodensidades da resistência de corte pelo programa Phase2
Outro método para avaliar a estabilidade do talude pelo programa Phase2 é a capacidade de variar as
características dos materiais do talude. Fez-se variar o ângulo de atrito de 0,5º em cada fase até valores
inferiores ao ângulo de atrito crítico. Em cada uma destas fases determinou-se o deslocamento total
num ponto para o respectivo valor de ângulo de atrito, e com estes valores é elaborado um gráfico.
Com este gráfico é possível determinar o ângulo de atrito crítico (crit). Neste caso a análise dos
deslocamentos é feita no pé do talude.
Na Figura 5.15 estão representados os deslocamentos totais no talude e os vectores deformação para o
factor de segurança de 1,005.
Figura 5.15. Representação dos deslocamentos totais no talude para um factor de segurança de 1,005
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
91
Pela análise do gráfico da Figura 5.16 é possível perceber que o ângulo de atrito para estabilidade de
equilíbrio limite do talude é atingido para valores compreendidos entre 36,0º e 36,5º.
Figura 5.16. Gráfico deslocamento total - ângulo de atrito para o caso 2
Uma outra análise realizada encontra-se representada na Figura 5.17 onde considera-se que a massa
deslizante se encontra delimitada por descontinuidades, ficando com a mesma forma da utilizada para
determinar a análise de estabilidade pelo Método das Fatias. As características do material do maciço
foram consideradas iguais às das descontinuidades. A malha de elementos finitos considerada é uma
malha triangular de três nós. O estudo realizado será igual ao anterior, ou seja, o ângulo de atrito nas
descontinuidades e no material vai variar de 0,5º, e depois vai-se proceder à análise de um gráfico
onde se encontra representado a relação do deslocamento total num ponto e o valor do ângulo de
atrito. Sendo que os deslocamentos foram determinados no pé do talude.
Figura 5.17. Modelo do talude com possível instabilidade planar no programa Phase2
34
34,5
35
35,5
36
36,5
37
37,5
38
38,5
39
3,35 3,4 3,45 3,5 3,55 3,6 3,65 3,7 3,75 3,8 3,85 3,9 3,95
Ân
gu
lo d
e a
trit
o (
o)
Deslocamento total (m)
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
92
Na Figura 5.18 mostra-se os deslocamentos totais e os vectores deslocamentos, pela observação da
deformada, representada a cinzento, é possível perceber que o mecanismo de rotura é muito
semelhante ao observado na Figura 5.15.
Figura 5.18. Representação dos deslocamentos totais e da deformada do talude para análise no Phase2
O gráfico seguinte permite perceber que o ângulo de atrito para o equilíbrio do talude se encontra entre
os valores de 35,5º e 36,0º.
Figura 5.19. Representação do gráfico que relaciona o deslocamento total num ponto e o valor de ângulo de
atrito, para a instabilidade planar
33,5
34
34,5
35
35,5
36
36,5
37
37,5
38
38,5
39
3,25 3,3 3,35 3,4 3,45 3,5 3,55 3,6 3,65 3,7 3,75 3,8 3,85 3,9 3,95 4
Ân
gu
lo d
e a
trit
o (
º)
Deslocamento total (m)
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
93
5.3.4. COMPARAÇÃO ENTRE OS RESULTADOS ANALÍTICOS E NUMÉRICOS
Os métodos analíticos permitiram perceber que a estabilidade do talude para a instabilidade planar é
obtido para o valor de ângulo de atrito () igual à inclinação da superfície de deslizamento () ou seja
o valor a considerar é de 35,4º. Os valores de factores de segurança tanto pelo Slope/W como pelo
Phase2 estão próximos de um. Sendo que no caso do Slope/W isto pode dever-se ao facto de os
métodos adoptados neste programa se tratarem de métodos simplificados. No caso do Phase2, os
valores obtidos para ângulo de atrito são superiores cerca de 1º aos da análise analítica, sendo que das
análises efectuadas o que se aproxima mais é considerando a massa de deslizamento dividida em
fatias.
5.4. TALUDE COM POSSÍVEL INSTABILIDADE CIRCULAR – CASO 3
5.4.1. GEOMETRIA DO TALUDE EM ESTUDO
Este talude tem uma geometria igual ao do caso 2, mas considerou-se que o maciço iria sofrer uma
instabilidade circular, como representado na Figura 5.20. O talude tem uma altura de 88,7m na
direcção vertical, e tem uma inclinação de 55,6º com a horizontal, a parte superior do talude tem uma
ligeira inclinação de 3,4º com a horizontal. Neste talude o material considerado foi solo residual de
granito, sendo que as suas características estão apresentadas no Quadro 5.1.
Figura 5.20. Talude com possível instabilidade circular
5.4.2. MÉTODO ANALÍTICO NA ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE TALUDES
Neste tipo de análise refere-se dois tipos: o Método Geral do Equilíbrio Limite (GLE) e o Método das
Fatias recorrendo ao método de Bishop simplificado. Em seguida apresenta-se os resultados obtidos
para cada um dos métodos, para proceder a posterior comparação com os resultados numéricos.
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
94
5.4.2.1. Método Geral do Equilíbrio Limite, GLE
Como já referido anteriormente este método foi desenvolvida por Fredlund et al na década de 70. O
Método Geral de Equilíbrio Limite (GLE) usa as seguintes equações de estática para determinar o
factor de segurança:
O somatório das forças na direcção vertical em cada uma das fatias que divide a superfície
de rotura;
O somatório das forças na direcção horizontal para cada um das fatias;
O somatório dos momentos num ponto comum a todas as fatias, ou seja, corresponde ao
centro da circunferência que define a superfície de deslizamento circular.
Esta análise é indeterminada e impõe a suposição da direcção da resultante das forças de interacção
entre as fatias. Esta direcção é descrita através de uma função de forças de interacção. Esta função de
forças de interacção em conjunto com as forças de interacção normais às fatias (E) permite calcular as
forças interacção de corte (X).
O factor de segurança (FS) pode ser determinado tendo como base o equilíbrio de momentos (FSm) e o
equilíbrio de forças (FSf). O factor de segurança pode variar dependendo da percentagem (λ) da função
de forças de interacção (f(x)) ,utilizada durante o calculo. O factor de segurança satisfatório considerado
é aquele em que ambos os factores de segurança convergem, tornando-se assim o factor de segurança
do método GLE.
Na figura seguinte apresenta-se um esquema das forças que actuam em cada fatia bem como a
composição da uma superfície de instabilidade circular.
Figura 5.21. Esquema das Forças que actuam em cada uma das fatias, pelo Método GLE
As primeiras forças a determinar para ser possível calcular o factor de segurança são as forças de
interacção na normal (E) e tangencial (X) que actuam na face vertical entre as fatias. O cálculo das
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
95
forças de interacção normais (E) é obtido pela resolução do somatório das forças na direcção
horizontal para cada uma das fatias. Na expressão seguinte apresenta-se este somatório.
0cos)(0 iiiiRLi SsenNEEFx (5.25.)
Substituindo na expressão anterior a força tangencial à base (Si) dada pela expressão 5.19, é assim
possível calcular a força interacção normal aplicada no lado direito da fatia, para cada uma das fatias:
i
i
i
i
LR senFS
tgN
FS
lcEE
cos (5.26.)
Sendo que deve-se iniciar o cálculo na primeira fatia onde as forças de interacção normais do lado
esquerdo da fatia (EL) são nulas. No cálculo da fatia seguinte (i+1) a força de interacção normal do
lado esquerdo (EL) corresponde à força de interacção normal do lado direito da fatia i (ER), mas
aplicada em sentido oposto.
É de salientar que a expressão 5.26. que define a força de interacção normal (E) é dependente do factor
de segurança e que esse valor vai sendo actualizado em cada uma das iterações.
Agora que já se sabe como determinar as forças de interacção normal (E) é possível determinar as
forças de interacção tangenciais (X). A força de interacção tangencial (X) é igual à percentagem da
força de interacção normal (E) de acordo com equação empírica proposta por Morgenstern e Price, em
1965, e que apresenta-se na expressão 5.27.
)(xfEX (5.27.)
Onde f(x) é a função da força de interacção representativa da direcção relativa da resultante da força de
interacção; e λ é a percentagem, em forma decimal, da função usada.
Estas funções podem ser de diferentes tipos, como os que se representam na Figura 5.22, ou seja
podem ser Constantes (a); ou Half-Sine (b); ou Clipped-Sine (c); ou Trapezoidal (d); ou ainda ser
definida pelo utilizador (e). O tipo de função a utilizada para calcular o factor de segurança depende
do utilizador.
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
96
Figura 5.22. Os diferentes tipos de funções
Para determinar as forças que actuam na normal à base em cada fatia (Ni) é necessário recorrer ao
somatório das forças na direcção vertical em cada fatia, como se apresenta na expressão 5.28. Pela
expressão 5.29 é possível calcular Ni tendo em conta que a força tangencial na base da fatia (Si) foi
substituída pela expressão 5.19.
0cos)(0 iiiiiRLi senSNWXXFy (5.28.)
FS
tgsenFS
senlcXXW
Ni
i
ii
LRi
i
cos
)(
(5.29.)
A equação da força normal à base da fatia (Ni) não pode ser determinada directamente, porque não se
sabe o valor do factor de segurança (FS) e as forças de interacção tangenciais (XR e XL). Logo o valor
de Ni para ser determinado obriga que seja adoptado um valor de factor de segurança, recorrendo a um
processo iterativo. Para determinar a outra incógnita nesta expressão pode-se iniciar por colocar a
expressão anterior em função das forças de interacção normais (ER e EL) recorrendo à expressão 5.27.
FS
tgsen
FS
senlcxfExfEW
Ni
i
ii
LRi
i
cos
))()((
(5.30.)
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
97
De seguida substitui-se na expressão 5.26. a incógnita Ni pela expressão anterior, para assim termos
uma equação onde as únicas incógnitas serão as forças de interacção normais (ER e EL) como se
apresenta de seguida, como no caso em estudo a coesão é nula, este parâmetro não aparece na
expressão.
i
i
i
i
LRi
R senFS
tg
FS
tgsen
xfExfEWEE
L
cos
cos
)()( (5.31.)
Para simplificação da expressão vai-se adoptar a constante Mi que varia com o ângulo de atrito ()
com a inclinação da base da fatia) e o factor de segurança (FS). Onde Mi é:
tgsenFS
FSsentg
FS
tgsen
senFS
tg
Mii
ii
i
i
i
i
i
cos
cos
cos
cos
(5.32.)
Então a força de interacção normal do lado direito (ER) pode ser calculada pela expressão seguinte:
))(1(
))((
xfM
MxfEWEE
i
iLiL
R (5.33.)
Com esta expressão é possível finalmente calcular a força ER, sendo que deve-se começar onde a força
EL é nula, e sabe-se que a força EL da fatia i+1 é igual ao valor ER na fatia i, mas aplicada em sentido
contrário. Tendo as forças de interacção normais entre fatias já é possível determinar as forças
tangenciais recorrendo à expressão 5.27. e com a determinação destas é possível calcular a força que
actua na direcção normal à fatia (Ni) para isso recorrendo à expressão 5.30.
Com a determinação de todas as forças actuantes na fatia pode-se determinar as equações para
determinar ambos os factores de segurança. Para calcular o factor de segurança para o caso de
equilíbrio de momentos (FSm) é necessário fazer a soma dos momentos num ponto comum a todas as
fatias, logo será no centro da circunferência que define a superfície circular, na Figura 5.21 encontra-
se definido como o ponto “O”. Sendo que o factor de segurança para o equilíbrio de momentos
encontra-se definido na expressão 5.35.
0)()(0 RSxWM iiO (5.34)
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
98
xW
tgRNRlcFS
i
m
(5.35)
No caso do factor de segurança tendo em conta o equilíbrio de forças (FSf) é obtido pelo somatório das
forças na direcção horizontal a todas as fatias.
0)cos()()(0 iiiiRL SsenNEEFx (5.36)
O termo do somatório das forças de interacção normais (ER e EL) é zero no conjunto de todas as fatias,
por isso este termo não aparece na expressão seguinte que define o factor de segurança por equilíbrio
de forças (FSf) sendo que a força tangencial à base já se encontra substituída pela expressão 5.19.
)(
)coscos(
ii
iiii
fsenN
tgNlcFS
(5.37)
5.4.2.2. Método das Fatias – Método de Bishop Simplificado
Quando se estuda instabilidades circulares um bom método de análise de estabilidade consiste na
divisão da superfície deslizante em fatias de face verticais, como se mostra na Figura 5.23.
Figura 5.23. Esquema das Forças que actuam em cada uma das fatias, pelo Método das Fatias
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
99
O factor de segurança neste método é obtido em termos de momentos, calculados em relação ao centro
da circunferência, na figura anterior representado como ponto “O”.
S
R
M
MFS (5.38)
Onde o MR é o momento das forças resistentes aplicadas ao longo da superfície de deslizamento, isto é
o momento das forças que se opõem ao deslizamento, e MS é o momento das forças que podem
provocar o deslizamento, isto é a força devido peso de cada fatia.
Em seguida apresenta-se as expressões para calcular estes momentos, sendo que l é o comprimento da
superfície circular que delimita a rotura.
n
i
iiS NtglcRltgcRM1
(5.39)
)(1
n
i
iiR senWRM (5.40)
Depois de determinar os momentos é possível calcular a expressão 5.38. do factor de segurança (FS).
n
i
ii
n
i
i
senW
Ntglc
FS
1
1
)(
(5.41)
Quando está-se perante um talude que não é homogéneo, a maior parte dos casos reais, as
propriedades resistentes das fatias vão variando, então o factor de segurança passa a ser calculado pela
expressão 5.42.
n
i
ii
n
i
iiii
senW
tgNlc
FS
1
1
)(
(5.42)
A principal dificuldade deste método é a determinação do valor da força normal à base da cada fatia
(Ni) visto que o problema é estaticamente indeterminado, o que leva a aplicar algumas hipóteses no
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
100
que diz respeito às forças de interacção entre fatias. Um método utilizado é o Método de Bishop
Simplificado. Na utilização deste método é necessário ter em atenção que o factor de segurança
calculado não é do maciço mas sim da superfície circular considerada. Por isso deve-se repetir o
cálculo para várias superfícies de deslizamento, procurando atingir o factor de segurança com menor
valor.
O método de Bishop, desenvolvido em 1950, na sua versão simplificada admite que as forças de
interacção entre as fatias são na direcção horizontal. As forças resistentes mobilizadas na base da fatia
(Si) são determinadas pela expressão seguinte:
FS
tgNlcS ii
i
(5.43)
Recorrendo ao equilíbrio de forças na direcção vertical é possível determinar a força Ni, como se
mostra nas expressões 5.44 e 5.45.
0cos0 iiiiii senSNWFy (5.44.)
FS
tgtg
FS
tgxcW
Ni
i
ii
i
i
1cos
(5.45.)
Para simplificar a expressão do factor de segurança considera-se o parâmetro Mi(α), onde é definido
por:
FS
tgtgM i
ii
1cos)( (5.46.)
Então o factor de segurança é dado por:
n
i
ii
n
i iii
senW
MtgWxc
FS
1
1)(
1
(5.47.)
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
101
Como o factor de segurança aparece nos dois membros da expressão anterior é necessário efectuar o
cálculo por tentativas até obter o mesmo valor de FS.
5.4.2.3. Resultados analíticos
Para o estudo analítico considerou-se a superfície de rotura representada na Figura 5.24. Para a
determinação desta circunferência que delimita a superfície circular, primeiro teve-se de admitir os
pontos de entrada e saída da curva da circunferência, neste caso considerou-se o ponto de saída (xs;ys),
o pé do talude, e o ponto de entrada (xe;ye), coincide com o ponto onde no caso 2 começava a
superfície de deslizamento. Com estes dois pontos e sabendo que a circunferência é tangente no pé do
talude é possível determinar o raio da circunferência e o seu centro (xc;yc), isto recorrendo à equação
reduzida da circunferência, como se apresenta no sistema de equações apresentado em 5.48.
Figura 5.24. Esquema da superfície de rotura e da divisão das fatias a considerar na análise analítica
0
)()()()(
)()(
2222
222
R
Ryy
yyxxyyxx
Ryyxx
sc
cececscs
cece
(5.48.)
De seguida apresentam-se os resultados analíticos obtidos pelos métodos de GLE e de Bishop
Simplificado. Estes resultados foram obtidos por um processo iterativo onde se fez variar o ângulo de
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
102
atrito (ϕ) até atingir o factor de segurança crítico igual a 1,0, sendo que para determinar o factor de
segurança também foi necessário um processo iterativo. Como referido anteriormente, para determinar
o factor de segurança foi necessário arbitrar inicialmente um valor e depois ir alterando este até obter
uma diferença entre factores relativamente baixa.
No caso do método Geral de Equilíbrio Limite primeiro é necessário escolher o tipo da função das
forças de interacção (f(x)) e da percentagem, em forma decimal, da função usada (λ). Neste caso em
estudo o λ considerado é igual a 0,6 e o tipo de função é Half-Sine, que se encontra representada a
vermelho no gráfico apresentado na figura seguinte.
Figura 5.25. Função Half-Sine para calcular as força interacção, para análise analítica
Com estes valores e recorrendo às expressões anteriormente apresentadas é possível determinar o
factor de segurança para o equilíbrio de forças (FSf) e para o equilíbrio de momentos (FSm). No
Quadro 5.4 apresentam-se aspectos geométricos das fatias, as forças actuantes em cada fatia, para o
caso em que se atinge o factor de segurança igual a um.
No caso do método de GLE o valor do factor de segurança inicialmente adoptado serve para
determinar ambos os factores de segurança, por isso para garantir um valor próximo entre o factor de
segurança adoptado, FS, e FSm ou FSf, vai-se garantir que diferença entre ambos (FS-FSf e FS-FSf)
seja igual. O valor de factor de segurança próximo de 1,0 para ambos os casos foi atingido para um
ângulo de atrito de 28,1º.
0
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
0,6
0,7
0,8
0,9
1
0 2 4 6 8 10 12 14 16
f(x)
x - Nº da Fatia
λ = 1,0
λ = 0,6
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
103
Quadro 5.4.Resultados analíticos para o Método Geral de Equilíbrio Limite (GLE)
W.x
(kN
.m/m
)
2183
51,3
5475
96,0
7384
98,9
8457
42,4
8938
56,7
8972
33,2
8658
60,5
8048
65,9
6174
62,8
4541
02,3
3120
06,2
1937
38,9
1016
42,0
3790
1,6
4587
,1
7533
445
,7
1,0
06
0,0
013
Ni.R
.tgϕ
(kN
.m/m
)
1292
71,4
2922
96,0
3869
85,1
4672
18,7
5507
55,8
6439
25,4
7473
31,9
8718
50,7
8053
61,7
7432
59,5
6554
67,3
5406
23,6
4025
54,3
2499
41,7
9404
8,2
7580
891
,3
FS
m=
|FS
-FS
m|=
Ni.senα
(kN
/m)
1585
,1
3322
,4
4056
,4
4485
,7
4803
,1
5049
,6
5203
,9
4976
,8
4280
,8
3352
,2
2428
,5
1567
,8
843,3
32
2,4
46
,0
4632
3,8
1,0
04
0,0
013
Ni.tgϕ.cosα
(kN
/m)
377,9
1115
,9
1734
,3
2342
,2
3002
,8
3747
,9
4581
,7
5658
,3
5302
,8
5019
,6
4517
,3
3784
,8
2851
,0
1783
,8
67
3,9
4649
4,3
FS
f=
|FS
-FS
f|=
Ni
(kN
/m)
1735
,9
3925
,0
5196
,6
6274
,0
7395
,7
8646
,8
1003
5,4
1170
7,5
1081
4,7
9980
,7
8801
,8
7259
,7
5405
,6
3356
,3
1262
,9
Σ=
XR
(kN
/m)
170,2
962,4
2351
,9
4073
,1
5775
,0
7098
,0
7733
,6
7236
,5
6298
,6
4894
,5
3336
,4
-1932,2
900,9
301,4
0,0
XL
(kN
/m)
0,0
-170,2
-962,4
-2351,9
-4073,1
-5775,0
-7098,0
-7733,6
-7236,5
-6298,6
-4894,5
-3336,4
-1932,2
-900,9
-301,4
ER
(kN
/m)
1309
,0
3790
,3
6431
,1
8852
,3
1084
2,1
1224
1,1
1290
0,5
1225
2,5
1128
6,8
9722
,3
7778
,9
5726
,0
3872
,3
2539
,4
2032
,0
EL
(kN
/m)
0,0
-1309,0
-3790,3
-6431,1
-8852,3
-1084
2,1
-1224
1,1
-1290
0,5
-1225
2,5
-1128
6,8
-9722,3
-7778,9
-5726,0
-3872,3
-2539,4
Mi
-0,7
80
-0,5
74
-0,4
31
-0,3
18
-0,2
22
-0,1
36
-0,0
57
0,0
49
0,0
82
0,1
47
0,2
12
0,2
78
0,3
44
0,4
14
0,4
85
FS
1,0
05
Wi
(kN
/m)
1720
,1
4647
,3
6792
,7
8490
,9
9877
,6
1102
5,1
1198
1,1
1274
4,0
1126
7,8
9777
,8
8192
,4
6517
,1
4756
,2
2912
,5
985,1
αi
(°)
65,9
4
57,8
3
51,3
1
45,6
4
40,5
0
35,7
3
31,2
4
25,1
6
23,3
2
19,6
3
16,0
2
12,4
7
8,9
8
5,5
1
2,0
9
Δx
i
(m)
9,1
1
9,1
1
9,1
1
9,1
1
9,1
1
9,1
1
9,1
1
9,1
1
8,3
6
8,3
6
8,3
6
8,3
6
8,3
6
8,3
6
8,3
6
x
(m)
126,9
117,8
108,7
99,6
90,5
81,4
72,3
63,2
54,8
46,4
38,1
29,7
21,4
13,0
4,7
Nº
Fatia
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
104
No caso do método de Bishop simplificado os resultados obtidos para cada uma das fatias apresentam-
se no Quadro 5.5. Sendo que para obter o factor de segurança igual a um apresentado no quadro foi
atingido um ângulo de atrito de 27,8º.
Quadro 5.5. Resultados analíticos para o Método de Bishop Simplificado
Nº Fatias
xl yc Δxi α Wl FSa Mi(α)
Wl.tgϕ.(1/Mi(α)) Wl.senα
(m) (m) (m) (°) kN/m kN/m kN/m
1 126,94 20,41 9,11 65,94 1720,1
1,000
0,89 1020,0 1570,6
2 117,83 14,49 9,11 57,83 4647,3 0,98 2503,4 3933,7
3 108,72 11,38 9,11 51,31 6792,7 1,04 3454,9 5302,3
4 99,61 9,32 9,11 45,64 8490,9 1,08 4160,1 6070,6
5 90,49 7,78 9,11 40,50 9877,6 1,10 4722,3 6414,9
6 81,38 6,56 9,11 35,73 11025,1 1,12 5191,6 6438,4
7 72,27 5,53 9,11 31,24 11981,1 1,13 5597,9 6212,8
8 63,16 4,28 9,11 25,16 12744,0 1,13 5950,0 5417,4
9 54,80 3,60 8,36 23,32 11267,8 1,13 5271,3 4460,1
10 46,44 2,98 8,36 19,63 9777,8 1,12 4607,1 3284,1
11 38,08 2,40 8,36 16,02 8192,4 1,11 3903,1 2260,4
12 29,73 1,85 8,36 12,47 6517,1 1,09 3151,6 1407,4
13 21,37 1,32 8,36 8,98 4756,2 1,07 2343,6 742,0
14 13,01 0,81 8,36 5,51 2912,5 1,05 1468,0 279,8
15 4,66 0,30 8,36 2,09 985,1 1,02 510,0 35,9
Σ= 53854,8 53830,6
FS = 1,000
Os dois métodos utilizados para avaliar analiticamente a estabilidade do talude apresentam valores
próximos de ângulo de atrito, no Método Geral de Equilíbrio Limite atinge o valor de 28,1º e no
Método de Bishop Simplificado atinge o 27,8º, isto para um factor de segurança igual a um. É normal
que exista uma diferença nos ângulos de atrito, visto que cada um deles tem as suas hipóteses para
determinar a força normal à base de cada fatia (Ni) porque esta força é estaticamente indeterminada. É
necessário ter em atenção também que o método GLE tem em consideração as forças de interacção
tangenciais às fatias, enquanto o método de Bishop Simplificado não as considera.
5.4.3. MÉTODO NUMÉRICO NA ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE TALUDES
Dos métodos numéricos existentes para proceder à análise de estabilidade para taludes com possível
instabilidade circular vão-se considerar os programas de Slope/W e Phase2.
No Anexo E é possível ver a folha de cálculo utilizada na análise da estabilidade deste talude.
5.4.3.1. Programa Slope/W
Na utilização deste software vai-se proceder à análise recorrendo aos métodos de GLE e de Bishop,
para ser mais fácil a comparação com os métodos analíticos. A principal dificuldade da realização
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
105
desta análise era garantir que a superfície de rotura fosse igual à determinada na Figura 5.24, para
assim melhor comparar os resultados.
O primeiro passo a tomar é definir a geometria do talude em estudo, em seguida foi necessário garantir
que o talude iria ter a superfície de rotura definida anteriormente, e para isso é necessário garantir que
a”slip surface grid” e a “slip surface radius” estejam colocadas no local certo para obter a mesma
superfície de rotura. Ou seja, teve-se de recorrer a várias tentativas até obter a posição exacta da “grid”
e “radius”, como se mostra na Figura 5.26.
Para além da “grid” e “radius” estarem na posição certa pode-se também impor limites à superfície de
deslizamento recorrendo ao comando “slip surface limits”, onde os limites são colocados recorrendo a
duas setas verdes que se aplicam nos pontos de entrada e de saída da superfície de deslizamento,
respectivamente ponto 7 e 4 da figura seguinte.
Neste talude, na definição da circunferência que corresponde à superfície de deslizamento, esta era
tangente ao pé do talude, por isso admitiu-se que os “radius” paralelos à base do talude e a mesma
cota do pé do talude.
Figura 5.26. Representação da determinação da instabilidade circular, pelo software Slope/W
O mais difícil na determinação da superfície de deslizamento que corresponde à utilizada na análise
analítica foi aplicar a “grid” de forma a obter a superfície desejada. Por isso foi necessário recorrer a
um método iterativo onde é alterada a posição da “grid” até obter o mesmo mecanismo de rotura. Para
ser mais fácil a sua avaliação aplicou-se uma “grid” de apenas 4 pontos.
Depois definir a superfície de deslizamento, pode-se finalmente passar à análise da estabilidade do
talude. Para uma fácil comparação com os valores obtidos anteriormente pelos métodos analíticos
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
106
procedeu-se a duas análises distintas uma com os valores obtidos para o método de Bishop
Simplificado e outro para o método de GLE.
Na análise do método de Bishop adoptou-se o valor de ângulo de atrito de 27,8º e sem coesão. E no
caso de GLE adoptou-se o ângulo de atrito de 28,1º também sem coesão. Na figura seguinte apresenta-
se os mecanismos de rotura bem como os factores de segurança obtidos para cada um dos métodos.
Figura 5.27. Mecanismos de rotura e factores de segurança, pelo Método de Bishop (a) e pelo Método GLE (b)
Como se pode observar pela figura anterior o factor de segurança para o Método de Bishop é igual a
um, enquanto para o método de GLE o valor obtido para ambos os factores de segurança (FSm e FSf),
foi de 1,009.
5.4.3.2. Programa Phase2
No programa Phase2 para efectuar uma análise que se assemelha-se às anteriormente realizadas,
considerou-se que a massa deslizante encontra-se delimitada por descontinuidades, ficando com a
forma igual à da Figura 5.24. A modelação adoptada foi uma malha de elementos finitos triangular e
de três nós, como se encontra representada na Figura 5.28. O material utilizado é o solo residual de
granito, onde as suas características estão apresentadas no Quadro 5.1, sendo que se considerou o
material elasto-plástico. Neste caso o material utilizado entre as descontinuidades foi considerado
igual ao do maciço, para assim garantir uma melhor homogeneização da massa deslizante.
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
107
Figura 5.28. Modelo do talude com possível instabilidade circular no programa Phase2
O estudo realizado consiste em fazer variar em cada fase de 0,5º o ângulo de atrito do maciço e das
descontinuidades. De seguida procede-se à análise de um gráfico que relaciona o deslocamento total
num ponto com a variação do valor do ângulo de atrito. Este gráfico foi obtido num ponto que
corresponde ao pé do talude. Com este gráfico é possível determinar o ângulo de atrito crítico (ϕcrit)
que corresponde ao factor de segurança crítico, este valor é equivalente a um intervalo onde existe
uma “quebra” no gráfico. Na Figura 5.29 apresentam-se os deslocamentos totais e os vectores
deslocamentos, para uma melhor percepção do deslizamento, sendo que ao observar esta figura e as
Figura 5.18 e Figura 5.15, percebe-se que o deformada representada a cinzento, em todos os caos, é
muito semelhante.
Figura 5.29. Representação dos deslocamentos totais para a instabilidade circular, do programa Phase2
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
108
Na Figura 5.30 mostra-se o gráfico obtido da relação do deslocamento total e do ângulo de atrito, para
o ponto situado no pé do talude, sendo que o equilíbrio do talude é atingido para o valore de ângulo de
atrito compreendido entre 27,5º e 28,0º.
Figura 5.30. Gráfico que relaciona o deslocamento total e o valor do ângulo de atrito, para o caso 3
5.4.4. COMPARAÇÃO ENTRE OS RESULTADOS ANALÍTICOS E NUMÉRICOS
Na comparação entre a análise analítica e o programa Slope/W, o método de Bishop obteve o mesmo
de valor do factor de segurança igual a 1,0, para ambas as análises. Já em relação ao Método de GLE
isto não sucedeu, os valores obtidos do factor de segurança para ambos os casos (FSm e FSf) foi de
1,009, enquanto na análise analítica foram de 1,004 para o factor de segurança para o equilíbrio de
forças (FSf) e 1,006 para o calculado pelo equilíbrio de momentos, FSm. Esta diferença entre valores
deve-se essencialmente à diferença entre as percentagens da função usada, λ, visto que a função Half-
Sine utilizada é igual. Na análise analítica o valor de λ adoptado foi de 0,6, enquanto o considerado
pelo programa Slope/W foi de 0,76. Na Figura 5.31 apresenta-se a função utilizada pelo Slope/W (λ=1)
que coincide com a utilizada na analise analítica, e a função para o λ=0,76, valor adoptado pelo
Slope/W.
25,5
26
26,5
27
27,5
28
28,5
29
29,5
30
30,5
31
31,5
2,7 2,9 3,1 3,3 3,5 3,7 3,9 4,1 4,3 4,5 4,7
Ân
gu
lo a
trit
o (
o)
Deslocamento total (m)
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
109
Figura 5.31. Função Half-Sine para calcular as força interacção, utilizada pelo Slope/W
No caso do programa Phase2, o ângulo de atrito para garantir a estabilidade do talude encontra-se
compreendido entre 27,5º e 28,0º, enquanto os métodos analíticos os valores de ângulo de atrito são de
27,8º no caso do Método de Bishop e de 28,1º no caso de Método GLE, por isso pode-se dizer que o
software Phase2 tem uma bom aproximação aos valores calculados analiticamente.
0
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
0,6
0,7
0,8
0,9
1
0 4 8 12 16
f(x
)
x - nº da fatia
λ=1,0
λ=0,76
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
110
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
111
6 DIFERENTES INSTABILIDADES
POR TOPPLING
6.1. CONSIDERAÇÕES GERAIS
Neste capítulo pretende-se apresentar três casos com diferentes situações que originam instabilidades
por toppling. Os três casos são os seguintes:
1. O talude tem instabilidade por toppling, onde a geometria base é semelhante ao caso 1,
apresentada no capítulo anterior, mas admite-se que os blocos têm diferentes inclinações na
base (Caso 4);
2. O talude tem instabilidade por slide toe toppling, onde a instabilidade por toppling,
localizada na base, deve-se a um deslizamento de dois blocos situados na parte superior do
talude (Caso 5);
3. O talude tem instabilidade do tipo slide toe toppling, onde neste caso a instabilidade por
toppling que acontece no talude é originada pelo deslizamento de solo (Caso 6).
Para estes três casos elaboraram-se novas equações analíticas, tendo em conta o Método de Equilíbrio
Limite, para assim fazer um estudo da estabilidade do talude. De seguida procedeu-se à análise
numérica destes taludes, para assim se poder validar as equações anteriormente determinadas. Esta
análise foi elaborada pelo programa Phase2.
6.2 TALUDE COM POSSÍVEL INSTABILIDADE POR TOPPLING, SENDO QUE OS BLOCOS MUDAM DE
DIRECÇÃO – CASO 4
6.2.1. GEOMETRIA DO TALUDE EM ESTUDO
Considera-se o estudo de um talude susceptível à instabilidade por toppling, sendo que as
descontinuidades que formam os blocos têm duas inclinações diferentes, tal como se encontra
representado na Figura 6.1. Isto é, nos primeiros oito blocos a base dos blocos tem uma inclinação de
40º com a horizontal, enquanto entre os blocos dez e dezassete a base tem uma inclinação igual a 30º.
O talude tem 102,5m de altura e é constituído por dezassete blocos, onde o nono bloco tem uma forma
triangular, devido à diferença de inclinações das descontinuidades. A largura dos blocos (x) é
constante e igual a 10m, com a excepção do bloco nove que tem 6,5m de largura. Entre o primeiro e o
nono bloco, a altura (yn) varia entre 4m e 37m, sendo que o bloco n+1 tem um acréscimo de 5m em
relação ao bloco n, e do décimo ao décimo sétimo bloco o valor de altura (yn) varia entre 4m e 46m,
sendo que existe uma diminuição de 5m de altura em cada bloco. Os blocos estão colocados em uma
escada, pelo que o bloco n+1 está elevado de 1m do bloco n.
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
112
Figura 6.1. Talude com possível instabilidade por toppling, onde os blocos têm diferentes inclinações
6.2.2. MÉTODO ANALÍTICO NA ANÁLISE DA ESTABILIDADE DO TALUDE
Neste caso em estudo a análise analítica efectuada é igual à apresentada anteriormente para o caso 1,
sendo que existe algumas diferenças na sua aplicação. A principal diferença é na utilização das
expressões analíticas apresentadas em 5.2.2.1, onde deve-se ter em consideração que os blocos têm
inclinações diferentes, logo têm de se aplicar as expressões apresentadas para dois valores diferentes
de α, e para além disso as expressões não se aplicam para o bloco triangular. Por isso no caso do bloco
triangular teve-se determinar as novas expressões analíticas, recorrendo ao Método de Equilíbrio
Limite.
O método de análise utilizado para determinar a possibilidade de um bloco experimentar toppling
consiste na verificação das condições de estabilidade em cada bloco, a partir do topo do talude. Logo a
análise deste talude divide-se em três partes:
1. Primeiro faz-se a análise do bloco 17 até ao 10, recorrendo às expressões apresentadas em
5.2.2.1, sendo que procedeu-se a análise para um α igual a 30º;
2. De seguida procede-se à análise do bloco 9 atendendo às novas expressões que se
apresentam de seguida;
3. E finalmente, faz-se a análise dos blocos 8 até ao 1, recorrendo as expressões expostas em
5.2.2.1, tendo em conta que a análise elaborada foi desenvolvida para uma inclinação do
bloco (α) igual a 40º.
Na análise de estabilidade recorrendo ao Método de Equilíbrio Limite deve-se iniciar por determinar a
altura do bloco (yn) e a sua largura (Δx). Em seguida calcula-se as forças actuantes no bloco triangular,
estas forças encontram-se representadas na Figura 6.2. Sendo que as forças actuantes são: o peso do
bloco n (Wn); as forças de interacção entre o bloco n e n+1 (Pn e Qn); as forcas de interacção entre o
bloco n e n-1 (Pn-1 e Qn-1); e as forças actuantes na base do bloco n (Sn e Rn). Nesta figura representam-
se também as distâncias entre a base e os pontos de aplicação das forças Pn e Pn-1 (Mn e Pn), o xe e ye
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
113
representam a distância ao centro de gravidade do bloco, α é a inclinação do bloco; e θ é a diferença
entre as inclinações do bloco n-1 e n+1.
Figura 6.2. Forças que actuam no bloco triangular
As forças de interacção na direcção tangencial Qn e Qn-1 podem ser calculados pelas expressões 5.1 e
5.2.
Para iniciar o estudo da estabilidade para uma susceptível instabilidade por toppling deve-se fazer o
somatório das forças na direcção normal e tangencial à base do bloco, para assim ser possível
determinar a força normal à base (Rn) e a força tangencial à base (Sn), respectivamente. Nas expressões
6.1 e 6.2 apresentam-se os somatórios e as equações para determinar as forças de interacção.
cos)(cos
0coscos0
1
1
nsnsnn
nnnnnn
WtgPsentgPR
WsenPQQRF (6.1.)
senWPtgsenPS
senWPsenQPSFt
nnsnn
nnnnn
1
1
)cos(
0cos0 (6.2.)
Considerando que o bloco é instável, porque situa-se perto da crista do talude, pode-se enquadrar em
duas situações: deslizamento pela base ou derrube pelo ponto “O”. No caso em que se pretende
determinar a força necessária para evitar toppling do bloco (Pn-1,t) deve-se fazer o somatório dos
momentos no ponto “O” igual a zero, como se representa na expressão 6.3. O ponto “O” encontra-se
representado na Figura 6.2.
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
114
0cos
coscoscos
cos0 1
enenn
nn
nnnO
ysenWxWsenMnsenP
MnPMnsenQ
senMnQLPM
(6.3.)
Substituindo na expressão anterior o Qn pela expressão 5.1, obtêm-se que a força necessária para evitar
toppling pode ser descrita pela seguinte equação.
)cos(
)cos(
)(coscos1
,1
een
snn
snn
n
tn
xysenW
tgsensenMP
tgsenMP
LP
(6.4.)
No caso em que se pretende evitar o deslizamento pela base (Pn-1,s) considera-se a expressão 6.5, para
assim alcançar o equilíbrio limite, obtendo por fim a expressão 6.6, para determinar Pn-1,s.
snsnsn
nnsn
snn
tgWtgPsentgP
senWPtgsenP
tgRS
coscos
cos
1
1 (6.5.)
s
snsn
nsntg
tgsenPtgsenWPP
2,11
2)cos(cos
(6.6.)
Agora que se encontram definidas todas as expressões para determinar as forças actuantes em cada um
dos blocos, e tendo em conta os cinco critérios para garantir a estabilidade de cada bloco, apresentados
em 5.2.2.1, é finalmente possível calcular o factor de segurança (FS).
O FS é calculado de forma iterativa, isto, é o ângulo de atrito é feito variar progressivamente até
garantir as condições de equilíbrio limite do bloco situado na base do talude, ou seja quando se
encontra na iminência de deslizar.
Tendo em conta as expressões 5.3, 5.4, 5.6, e 5.8, para os blocos rectangulares e as expressões
anteriores para o bloco triangular, é possível estimar as forças actuantes em cada bloco, e com estas
forças e recorrendo a um processo iterativo é possível determinar o valor do ângulo de atrito
necessário para atingir o equilíbrio limite (ϕcrit).
No Quadro 6.1 apresenta-se os valores das forças actuantes nos blocos para as condições de equilíbrio
limite, sendo que o valor atingido para ângulo de atrito foi de 43,6º.
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
115
Quadro 6.1. Resultados analíticos para o caso 4 em estudo
Modo
de
rotu
ra
Está
vel
Está
vel
Está
vel
Topplin
g
Topplin
g
Topplin
g
Topplin
g
Topplin
g
Desliz
am
en
to
Topplin
g
Topplin
g
Topplin
g
Topplin
g
Topplin
g
Desliz
am
en
to
Desliz
am
en
to
Desliz
am
en
to
Sn/R
n
0,5
77
0,5
77
0,5
77
0,5
48
0,5
36
0,5
30
0,5
27
0,5
01
0,9
51
0,8
55
0,8
76
0,8
97
0,9
19
0,9
42
0,9
52
0,9
52
0,9
56
Sn
(kN
/m)
500,0
1250
,0
2000
,0
2457
,5
2984
,1
3552
,6
4128
,8
4290
,4
-8028,0
5632
,5
5650
,6
5654
,8
5638
,1
5586
,0
4635
,7
3090
,5
1628
,5
Rn
(kN
/m)
866,0
2165
,1
3464
,1
4484
,9
5571
,5
6697
,8
7831
,6
8570
,9
-8439,7
6594
,6
6457
,3
6306
,7
6136
,1
5932
,0
4873
,4
3249
,0
1703
,7
Pn-1
(kN
/m)
0,0
0,0
0,0
292,5
808,4
1505
,8
2376
,9
3836
,5
1437
6,4
1388
6,2
1273
5,1
1093
7,0
8512
,8
5498
,0
2790
,6
985,7
Pn-1
,s
(kN
/m)
-3402,0
-8504,9
-1360
7,9
-1871
0,8
-2352
1,3
-2810
8,3
-3251
3,8
-3674
5,6
1437
6,4
7156
,8
7569
,0
7320
,4
6424
,7
4903
,0
2790
,6
985,7
Pn-1
,t
(kN
/m)
-832,5
-457,5
-82,5
292,5
808,4
1505
,8
2376
,9
3836
,5
5977
,9
1388
6,2
1273
5,1
1093
7,0
8512
,8
5498
,0
1965
,3
-2246,1
Pn
(kN
/m)
0,0
0,0
0,0
0,0
292,5
808,4
1505
,8
2376
,9
3836
,5
1437
6,4
1388
6,2
1273
5,1
1093
7,0
8512
,8
5498
,0
2790
,6
985,7
Wn
(kN
/m)
1000
2500
4000
5500
7000
8500
1000
0
1150
0
3012
8000
7000
6000
5000
4000
3000
2000
1000
Ln
(m)
4
10
16
22
28
34
40
41
32
27
23
19
15
11
7
3
0
Mn
(m)
0
5
11
17
23
29
35
41
39
32
28
24
20
16
12
8
4
α
(º)
30
30
30
30
30
30
30
30
40
40
40
40
40
40
40
40
40
yn
(m)
4
10
16
22
28
34
40
46
37
32
28
24
20
16
12
8
4
Nº
17
16
15
14
13
12
11
10
9
8
7
6
5
4
3
2
1
Em comparação com o caso 1, pode-se referir que o valor de ângulo de atrito para garantir o equilíbrio
limite é superior, mas isso já seria de esperar visto que a inclinação de uma parte do talude é superior
do caso 1. Nota-se também que os valores das forças actuantes são ligeiramente superiores aos
apresentados no caso 1, mas isto deve-se essencialmente à diferença dos valores de ângulo de atrito.
Em relação aos modos de rotura de cada bloco verifica-se que o talude tem o mesmo sistema de rotura
do caso 1, à excepção do bloco triangular, que tem um comportamento de deslizamento, enquanto os
blocos adjacentes experimentam toppling.
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
116
No Anexo F apresenta-se a folha de cálculo utilizada para determinar a análise analítica da
estabilidade do talude.
6.2.3. MÉTODO NUMÉRICO NA ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE TALUDES
Para validar as expressões, atrás apresentadas, recorre-se à análise numérica pelo software Phase2,
para que isso aconteça é necessário que o valor de ângulo de atrito para o equilíbrio limite, obtido por
este programa, seja próximo do calculado pelos métodos analíticos.
Na modelação do talude considerou-se igual à apresentada para o caso 1, ou seja, usou-se uma malha
de elementos finitos triangular de três nós, e as condições de fronteira, para reprodução da
continuidade do maciço, considerou-se apoios de roletes, com impedimento de deslocamentos
horizontais, nas faces laterais, e apoios duplos na parte inferior do talude. Na Figura 6.3 apresenta-se o
modelo do talude utilizado.
Figura 6.3. Modelo do talude para o caso 4, no programa Phase2
O material do maciço considerado para a análise foi o granito, sendo que as características encontram-
se no Quadro 5.1. Em relação ao material que se encontra nas descontinuidades considerou-se os
parâmetros do critério de Mohr-Coulomb, onde a coesão (c) é nula e o ângulo de atrito das
descontinuidades (ϕ) é variável ao longo das fases que dividem a análise. Neste caso o ângulo de atrito
variou de 0,5º em cada fase até um valor inferior ao crítico.
Na Figura 6.4 apresenta-se um esquema da deformada de todo o talude, sendo que se fez um pormenor
na base do triângulo, onde consegue-se perceber que o triângulo está a sofrer deslizamento. Com esta
figura é perceptível que os blocos próximos da crista do talude, tirando o bloco triangular, sofrem
toppling, enquanto os mais próximos da base do talude deslizam.
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
117
Figura 6.4. Representação da deformada e dos deslocamentos totais para o talude do caso 4
Como referido anteriormente, o ângulo de atrito nas descontinuidades vai variar de 0,5º em cada fase.
Em cada uma destas fases determina-se o deslocamento total, este é medido no pé do talude mais
precisamente na base do último bloco, no ponto “O” representado na Figura 5.6.
Na figura seguinte apresenta-se a relação entre o deslocamento total e o valor de ângulo de atrito do
material nas descontinuidades, medido no ponto “O”, obtido para cada uma das fases consideradas.
Pela análise do gráfico é visível que ao unir os pontos existentes estes formam duas linhas distintas,
onde existe um ponto em que elas concorrem, esse ponto é para o ângulo de atrito de 43,0º, logo pode-
se dizer que ângulo de atrito para atingir o equilíbrio limite do talude é de aproximadamente 43,0º.
Figura 6.5. Gráfico que relaciona os deslocamentos totais com o ângulo de atrito, para o caso 4
40
40,5
41
41,5
42
42,5
43
43,5
44
44,5
45
45,5
2,637 2,6375 2,638 2,6385 2,639 2,6395 2,64 2,6405 2,641 2,6415
Ân
gu
lo d
e a
trit
o (
º)
Deslocamento total (mm)
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
118
6.2.4. COMPARAÇÃO ENTRE OS RESULTADOS ANALÍTICOS E NUMÉRICOS
O estudo numérico efectuado pelo programa Phase2
dá um valor próximo de ângulo de atrito ao
determinado pelo estudo analítico, na análise analítica o valor obtido é igual a 43,6º e na análise
numérica o valor é de 43,0º. Outro aspecto onde são idênticos é no modo de rotura dos blocos, na
analise analítica obteve-se que os blocos próximos da crista do talude sofrem toppling, com a
excepção do bloco triangular, e que os blocos próximos da base to talude experimentam deslizamento,
e ao observar a Figura 6.4 percebe-se que o modelo tem o mesmo comportamento. Pelo que pode
dizer-se que as expressões 6.1, 6.2, 6.4, e 6.6 apresentadas são válidas, para o estudo de blocos
triangulares.
6.3. TALUDE COM POSSÍVEL INSTABILIDADE POR SLIDE TOE TOPPLING, DEVIDO AO DESLIZAMENTO
DE BLOCOS NO TOPO DO TALUDE – CASO 5
6.3.1. GEOMETRIA DO TALUDE EM ESTUDO
Neste quinto exemplo adaptou-se a estrutura do caso 1, apresentado no capítulo anterior, de forma a
obter uma instabilidade por slide toe toppling, como pode-se observar na Figura 6.6. O talude tem uma
altura de 147m e é constituído por doze blocos, sendo que dez blocos, situados na base do talude, têm
uma inclinação de 30º com a horizontal, e os outros dois blocos (A1 e A2) têm uma inclinação de 40º,
e estão localizados no topo do talude, sendo que ao deslizarem podem provocar uma instabilidade por
toppling aos restantes. Estes dois blocos têm uma largura de 15m, constante ao longo do talude. No
caso dos dez blocos as suas larguras (x) são constantes e igual a 10m. A geometria dos dez blocos na
base do talude é igual ao apresentado no caso 1.
Figura 6.6.Talude com possível instabilidade por slide toe toppling, devido ao deslizamento de blocos situados no
topo do talude
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
119
6.3.2. MÉTODO ANALÍTICO NA ANÁLISE DA ESTABILIDADE DO TALUDE
A instabilidade slide toe toppling sucede geralmente quando surge instabilidade por toppling no pé do
talude, devido à carga de uma massa rochoso que sofreu deslizamento na parte superior do talude.
Neste caso a massa deslizante são dois blocos (A1 e A2).
O estudo analítico deste caso é semelhante ao caso 1, visto que os 10 blocos que formam o talude são
iguais ao caso1. A única diferença no método de cálculo deste talude é que o primeiro bloco a calcular
as forças actuantes, ou seja, o bloco nº 10, deve-se ter em conta as forças actuantes nos blocos A1 e
A2. Logo será necessário reescrever as expressões das forças actuantes no bloco nº 10, e os restantes
blocos serão calculados com as expressões determinadas em 5.2.2.1.
A metodologia de cálculo tem a mesma linha base descrita em 5.2.2.1, ou seja, começa-se com a
determinação da altura de cada bloco (yn) e a largura (Δx). Em seguida são determinadas as forças
actuantes em cada bloco. Na determinação das forças actuantes apenas apresentam-se as expressões
para o bloco nº 10, porque para os restantes blocos podem ser calculados com as expressões 5.2, 5.3,
5.4, 5.6 e 5.8, que correspondem, respectivamente, a força de interacção entre o bloco n e n-1 na
direcção tangencial (Qn-1), as forças actuantes na base na direcção normal (Rn) e tangencial (Sn), e as
forças para evitar o toppling no bloco n (Pn-1,t) e evitar o deslizamento no bloco n (Pn-1,s).
No caso em estudo apresenta-se de seguida a determinação destas forças actuantes no bloco nº 10, na
Figura 6.7 representa-se um esquema destas forças presentes neste bloco.
Figura 6.7. Forças que actuam no bloco nº 10, para o caso 5
Onde PA1 e QA1 são as forças de interacção entre o bloco n e A1, respectivamente na direcção normal e
tangencial, e PA2 e QA2 são as forças de interacção entre o bloco n e A2, respectivamente na direcção
normal e tangencial. Encontra-se também representada as distâncias entre a base do bloco e os pontos
de aplicação das forças PA1 e PA2, que corresponde a y1 e y2.
Na análise de possível instabilidade por toppling inicia-se o processo de cálculo com a decomposição
das forças actuantes na base do bloco (Sn e Rn). Mas primeiro é necessário definir as forças de
interacção entre o bloco n e os blocos A1 e A2. Estas forças são obtidas pelas componentes do peso
dos blocos A1 e A2 (WA1 e WA2), sendo que para simplificar as expressões do bloco nº 10 rebateu-se as
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
120
forças para que fiquem na direcção normal e tangencial ao bloco. Nas expressões 6.7 e 6.8, apresenta-
se a determinação das destas forças, onde Ω é a inclinação dos blocos A1 e A2, que no presente caso
em estudo é 40º, e α é a inclinação da base do bloco, que neste caso é 30º.
)cos(cos)( sensenWQ AiAi (6.7.)
)(cos)cos( sensenWP AiAi (6.8.)
Com as forças determinadas anteriormente já é possível estimar as forças actuantes na base do bloco
(Sn e Rn) recorrendo ao somatório das forças na direcção normal e tangencial à base do bloco. Nas
expressões seguintes apresentam-se estes somatórios e as forças actuantes na base.
cos
0cos0
121
211´
nsnAAn
nAAnnn
WtgPQQR
WQQQRF (6.9.)
senWPPPS
senWPPPSF
nnAAn
nAAnnt
121
211´ 00 (6.10.)
Para determinar a força Pn-1,t, ou seja a força necessária para evitar toppling, deve-se considerar o
somatório dos momentos no ponto “O” igual a zero, que apresenta-se na expressão 6.11. Na expressão
6.12. apresenta-se a equação para determinar o Pn-1,t.
0)(
22cos0
221121
1
yPyPxQQ
ysenW
xWLPM
AAAA
n
nnnnO (6.11.)
221121
,1
)(
cos2
1
yPyPxQQ
xysenW
LP
AAAA
n
n
n
tn
(6.12.)
Quando pretende-se determinar a força para evitar o deslizamento pela base (Pn-1,s) pode ser
determinado pela expressão 6.14, sendo que é obtido o valor da força quando está garantida a
expressão 6.13.
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
121
snsnAAnnAA
snn
tgWtgPQQsenWPPP
tgRS
cos121121
(6.13.)
s
AAsnAA
sntg
QQtgsenWPPP
1
)cos( 2121
,1 (6.14.)
Agora que estão encontradas todas as expressões das forças actuantes no bloco nº 10 definidas, pode-
se finalmente verificar as condições de equilíbrio limite do talude, ou seja, será feito variar o ângulo de
atrito através de um processo iterativo até garantir as condições de equilíbrio limite na base do talude.
Tendo em conta as cinco condições que garantem a estabilidade, que encontram-se descritas no ponto
5.2.2.1.
No Quadro 6.2 utiliza-se as fórmulas anteriormente expressas para o bloco nº 10 e as apresentadas em
5.2.2.1. para os outros 9 blocos, fez-se variar o valor do ângulo de atrito até obter o valor de 38,1º que
traduz o equilíbrio limite do talude.
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
122
Quadro 6.2. Resultados analíticos para o caso 5 em estudo
Modo
de
rotu
ra
Topplin
g
Topplin
g
Topplin
g
Desliz
am
en
to
Desliz
am
en
to
Desliz
am
en
to
Desliz
am
en
to
Desliz
am
en
to
Desliz
am
en
to
Desliz
am
en
to
Sn/R
n
0,7
37
0,7
74
0,7
84
0,7
84
0,7
84
0,7
84
0,7
84
0,7
84
0,7
84
0,7
85
Sn
(kN
/m)
4484
8,5
8407
,9
7712
,4
6759
,6
5794
,0
4828
,3
3862
,6
2897
,0
1931
,3
968,8
Rn
(kN
/m)
6086
3,1
1085
9,1
9839
,8
8618
,7
7387
,4
6156
,2
4925
,0
3693
,7
2462
,5
1233
,7
Pn-1
(kN
/m)
2066
1,8
1675
3,9
1304
1,6
9782
,0
6988
,0
4659
,7
2797
,1
1400
,1
468,8
Pn-1
,s
(kN
/m)
-2517
6,2
1647
0,9
1302
8,7
9782
,0
6988
,0
4659
,7
2797
,1
1400
,1
468,8
Pn-1
,t
(kN
/m)
2066
1,8
1675
3,9
1304
1,6
9590
,2
6595
,2
4065
,7
2001
,8
691,4
-1946,8
Pn
(kN
/m)
-
2066
1,8
1675
3,9
1304
1,6
9782
,0
6988
,0
4659
,7
2797
,1
1400
,1
468,8
Wn
(kN
/m)
1000
0
9000
8000
7000
6000
5000
4000
3000
2000
1000
Ln
m)
40
36
32
28
24
20
16
7
3
0
Mn
(m
)
- 35
31
27
23
19
15
11
7
3
yn/
x<
cot
KO
KO
KO
KO
KO
KO
OK
OK
OK
OK
yn
(m
)
40
36
32
28
24
20
16
12
8
4
Nº
10
9
8
7
6
5
4
3
2
1
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
123
Na terceira coluna do quadro anterior, a condição da estabilidade do talude encontra-se validada, mas
os blocos só podem ser considerados estáveis se estiverem próximos da crista do talude e como neste
caso os blocos 1, 2, e 3 estão na base do talude, não podem ser considerados estáveis.
Os blocos deste talude encontram-se divididos por dois conjuntos de roturas, e não têm blocos
estáveis. As roturas presentes são a instabilidade por toppling no topo do talude e a instabilidade por
deslizamento junto à base do talude.
Observando os valores das forças Pn-1,t e Pn-1,s percebe-se que nos casos em que ocorre toppling,
tirando o bloco nº 10, os valores das forças são próximos, sendo a força necessária para evitar toppling
ligeiramente superior a força necessária para impedir deslizamento. A partir do bloco nº 7 esta
proximidade de valores vai diminuindo de forma gradual, dando assim mais relevância à instabilidade
por deslizamento.
Para uma melhor percepção da análise analítica efectuada apresenta-se no Anexo G a folha de cálculo
utilizada.
6.3.3. MÉTODO NUMÉRICO NA ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE TALUDES
Para verificar as expressões elaboradas anteriormente utilizou-se o programa Phase2. Com este
programa é possível efectuar a análise de equilíbrio limite, sendo assim possível comparar este valor
com o obtido anteriormente.
O modelo elaborado teve em consideração todos os aspectos considerados no caso 1, como por
exemplo a definição da malha de elementos finitos e as condições de fronteira. Na Figura 6.8
apresenta-se a modelação efectuada para este caso. Sendo que as linhas representadas a laranja são as
descontinuidades que limitam os blocos, foram consideradas descontinuidades abertas.
Figura 6.8. Modelo do talude utilizado no programa Phase2, para o caso 5
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
124
O maciço considerado foi o granito, onde as suas características encontram-se representadas no
Quadro 5.1. No que se refere às propriedades das descontinuidades considerou-se o critério de Mohr-
Coumlob, onde a coesão foi considerada nula e o ângulo de atrito das descontinuidades é variável.
Na figura seguinte apresenta-se a deformada do talude e os deslocamentos totais. Ao verificar esta
deformada percebe-se que no modelo não existe toppling, os blocos estão apenas sujeitos a
instabilidade por deslizamento.
Figura 6.9. Representação da deformada e dos deslocamentos totais para o talude do caso 5
A determinação do ângulo de atrito para atingir o equilíbrio limite, foi elaborado tendo em conta a
variação do ângulo de atrito de 0,5º em cada uma das fases, até um valor aceitável. Para cada novo
valor de ângulo de atrito retirou-se o deslocamento total, e assim conseguiu-se executar o gráfico da
relação entre o deslocamento total e o valor de ângulo de atrito, que se representa na Figura 6.10. Os
deslocamentos foram medidos no ponto “O” que se encontra representado na Figura 5.6. Pela análise
do gráfico, representado na Figura 6.10, percebe-se que o valor de ângulo de atrito para garantir o
equilíbrio limite do talude é 38,0 º.
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
125
Figura 6.10. Gráfico que relaciona os deslocamentos totais com o ângulo de atrito, para o caso 5
6.3.4. COMPARAÇÃO ENTRE OS RESULTADOS ANALÍTICOS E NUMÉRICOS
Os valores obtidos para ângulo de atrito do equilíbrio limite do talude por métodos analíticos e
numéricos são muito próximos, no caso analítico tem um valor de 38,1º e no programa Phase2 o valor
obtido é de 38º. Embora exista uma ligeira diferença nos modos de rotura dos blocos do topo do talude
o valor de ângulo de atrito não varia muito. Logo isto permite dizer que as expressões apresentadas
neste subcapítulo estão verificadas.
6.4. TALUDE COM POSSÍVEL INSTABILIDADE POR SLIDE TOE TOPPLING, DEVIDO AO DESLIZAMENTO
DE SOLO NO TOPO DO TALUDE – CASO 6
6.4.1. GEOMETRIA DO TALUDE EM ESTUDO
Neste último caso considerou-se uma instabilidade por slide toe toppling, onde o toppling na base do
talude é provocado por um solo, que encontra-se representado na Figura 6.11. Neste talude a
geometria adoptada foi igual à inclinação do talude do caso 1, ou seja, considerou-se um talude com
uma altura de 88,7m fazendo uma inclinação de 33,4º com a vertical, sendo que a parte superior do
talude não é horizontal, tendo uma pequena inclinação de 3,4º. Este talude é constituído por dois
materiais, um solo residual de granito e uma rocha granítica. Os blocos de granito que são susceptíveis
a ter uma instabilidade por toppling foram definidos tendo em conta o método das fatias da
instabilidade circular do solo residual de granito, que foi apresentado no capítulo anterior, em 5.4.2.3.
Na figura seguinte representa-se também uma linha a traço interrompido que coincide com a
instabilidade circular obtida anteriormente.
35,5
36
36,5
37
37,5
38
38,5
39
39,5
40
40,5
41
2,068 2,069 2,07 2,071 2,072 2,073 2,074 2,075 2,076
Ân
gu
lo d
e a
trit
o (
o)
Deslocamento total (mm)
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
126
Figura 6.11. Talude com possível instabilidade por slide toe toppling, devido ao deslizamento de solo
6.4.2. MÉTODO ANALÍTICO NA ANÁLISE DA ESTABILIDADE DO TALUDE
No método analítico utilizado para determinar a estabilidade do talude considerou-se os cálculos
efectuados 5.4.2.3. para estimar as forças de interacção que o solo residual de granito aplica ao
primeiro bloco do talude. Estas forças de interacção são as calculadas pelo Método Geral de Equilíbrio
Limite que são XL e EL que representam, respectivamente, as forças de interacção na direcção
tangencial e normal aplicadas na face esquerda do bloco. Os valores utilizados estão apresentados no
Quadro 5.4, e neste caso corresponde à fatia número 9.
Na
Figura 6.12 apresenta-se um esquema das forças actuantes no bloco nº 7. Sendo que esta figura pode
ser admitida para qualquer um dos blocos apresentado na Figura 6.11, mas tem de substituir a força XL
pela Qn e a ER pelo Pn.
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
127
Figura 6.12. Forças que actuam no bloco nº 7, para o caso 6
Em seguida procedeu-se à análise de estabilidade do talude, como as expressões genéricas do cálculo
da instabilidade por toppling não são válidas é necessário por isso determinar as novas equações para
este sistema de forças.
Em primeiro lugar é necessário determinar as forças actuantes na base do bloco (Rn e Sn), estas forças
são obtidas pelo somatório das forças na direcção normal e tangencial à base do bloco, como se
expressa em 6.15 e 6.16.
cos
0coscos
cos0
11
11
snRRnn
R
Rnnnn
tgPXWsenEPR
XW
senEQsenPRF
(6.15.)
cos
0cos
cos0
11
11
nRsnRn
Rn
Rnnn
PEsentgPXWS
XsenW
senEsenQPSFt
(6.16.)
Tendo as forças Rn e Sn é possível determinar a força necessária para evitar toppling do bloco (Pn-1,t)
recorrendo ao equilíbrio de momentos no ponto “O” do bloco, obtendo então a seguinte expressão:
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
128
0cos
coscos
coscoscos
2cos2coscos
2
coscos
coscos0
11
11
senMnx
XMnsenX
xsenMnsenEMnE
senyx
Wy
senW
senLnQLnsenQ
senLnsenPLnPM
RR
RR
n
n
n
n
nn
nnO
(6.17.)
Colocando em evidência a força Pn-1,t é possível determinar a equação para determinar o seu valor.
2
1,1
xWxXtgxMnE
LnP nRRtn (6.18.)
Para determinar a força para evitar deslizamento pela base (Pn-1,s) é necessário garantir a expressão
6.19, ou seja, e necessário estabelecer o estado de equilíbrio limite. Recorrendo à expressão 6.19 e
colocando em evidência a força Pn-1,s é possível determinar o seu valor recorrendo à expressão 6.20.
ssnRRn
nRsnR
snn
tgtgPXWsenEP
PEsentgPXW
tgRS
cos
cos
11
11 (6.19.)
ss
sRsR
sntgtgsen
tgsenEtgsenXWP
2,1
cos2cos
cos)cos(
(6.20.)
Estas expressões 6.15, 6.16, 6.18, e 6.20. podem ser alteradas para que possam-se ser utilizar para os
restantes blocos, sabendo que Qn pode ser determinado pela expressão 5.2. então para os restantes
blocos existe as seguintes expressões para determinar as forças actuantes no bloco n.
cos)( 11 snnnnn tgPPWsenPPR (6.21.)
cos)( 11 nnsnnn PPsentgPPWS (6.22.)
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
129
2
1,1
xWtgxPtgxMnP
LnP nsnntn (6.23.)
ss
snssn
sntgtgsen
tgsenPtgsentgPWP
2,1
cos2cos
cos)cos(
(6.24.)
O procedimento de análise é igual aos anteriores, ou seja, utiliza-se as expressões anteriores definidas
e calcula-se as forças actuantes em cada bloco, depois recorrendo a uma folha de cálculo faz-se variar
o ângulo de atrito até atingir o equilíbrio limite, neste caso os valores apresentados no Quadro 6.3
referem-se a um ângulo de atrito crítico igual a 44,8º.
Neste talude está-se perante dois modos de rotura dos blocos, isto é existe deslizamento na base e no
primeiro bloco do talude, e os restantes blocos do talude experimentam toppling.
No Anexo H apresenta-se a folha de cálculo utilizada para determinar a análise de estabilidade deste
talude.
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
130
Quadro 6.3. Resultados analíticos para o caso 6 em estudo
Modo
de
rotu
ra
Desliz
am
en
to
Topplin
g
Topplin
g
Topplin
g
Topplin
g
Topplin
g
Desliz
am
en
to
Sn/R
n
0,9
92
0,3
67
0,2
84
0,1
83
-0,0
10
-2,2
78
0,9
97
Sn
(kN
/m)
7873
,1
3397
,9
2229
,4
1130
,8
-41,9
-2126,3
1165
9,4
Rn
(kN
/m)
7939
,4
9263
,3
7857
,4
6188
,5
4132
,9
933,3
1170
0,1
Pn-1
(kN
/m)
8165
,0
8075
,7
8100
,9
8333
,2
9019
,4
1122
5,5
Pn-1
,s
(kN
/m)
8165
,0
-413,8
-1775,8
-2928,2
-3687,8
-3514,0
Pn-1
,t
(kN
/m)
6020
,3
8075
,7
8100
,9
8333
,2
9019
,4
1122
5,5
Pn
(kN
/m)
-
8165
,0
8075
,7
8100
,9
8333
,2
9019
,4
1122
5,5
Wn
(kN
/m)
1126
7,8
9777
,8
8192
,4
6517
,1
4756
,2
2912
,5
985,1
Ln
m)
66,4
56,7
46,5
35,6
24,3
12,4
0,0
Mn
(m)
37,8
66,4
56,7
46,5
35,6
24,3
12,4
α
(º)
23,3
19,6
16,0
12,5
9,0
5,5
2,1
yn
(m)
71,0
61,6
51,6
41,0
30,0
18,3
6,2
Nº 7
6
5
4
3
2
1
6.4.3. MÉTODO NUMÉRICO NA ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE TALUDES
A análise numérica deste talude será elaborada pelo programa Phase2, onde através deste pretende-se
determinar o ângulo de atrito para o equilíbrio limite do talude. Este valor é determinado através da
relação do deslocamento total num ponto com o valor de ângulo de atrito. Os valores dos ângulos de
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
131
atrito são feitos variar de 1º. Sendo que o modelo utilizado para se proceder ao cálculo apresenta-se na
Figura 6.13. Os materiais considerados para os maciços foram o granito, para o maciço rochoso e o
solo residual de granito, para o maciço de solo e para as propriedades das descontinuidades. As
características dos materiais encontram-se apresentadas no Quadro 5.1. No solo residual de granito
considerou-se um material elasto-plástico. A variação do ângulo de atrito será atribuída ao solo
residual de granito e nas descontinuidades.
Figura 6.13. Modelo do talude utilizado no programa Phase2, para o caso 6
Na Figura 6.14 apresenta-se a deformada delimitada em cinzento e os deslocamentos totais do talude
na fase em que atinge o equilíbrio limite. Pela deformada percebe-se que quase todos os blocos do
talude experimentam toppling, à excepção do bloco na base que sofre deslizamento. Através da
ampliação da deformada na base do bloco que faz fronteira com o solo deslizante, observa-se que este
bloco e o seu adjacente sofrem toppling.
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
132
Figura 6.14. Representação da deformada e dos deslocamentos totais para o talude do caso 6
Na análise do gráfico, apresentado na Figura 6.15, da relação entre os deslocamentos totais e o ângulo
de atrito é possível estimar o ângulo de atrito para o equilíbrio limite, neste caso o valor é
aproximadamente 41º.
Figura 6.15. Gráfico que relaciona os deslocamentos totais com o ângulo de atrito, para o caso 6
39
40
41
42
43
44
45
46
47
48
49
34 34,5 35 35,5 36 36,5 37 37,5 38 38,5 39 39,5 40
Ân
gu
lo d
e a
trit
o (
º)
Deslocamento total (mm)
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
133
6.4.4. COMPARAÇÃO ENTRE OS RESULTADOS ANALÍTICOS E NUMÉRICOS
Neste caso os valores obtidos para os ângulos de atrito para os dois métodos têm uma diferença de
3,8º, sendo que os valores obtidos numericamente são inferiores aos analíticos. Nos modos de rotura
de cada bloco também se verificou que no caso do bloco que faz fronteira com o solo, tem
comportamento diferente pelos dois métodos, isto é os métodos analíticos determinaram que esse
bloco tem uma rotura de deslizamento nos blocos do topo e da base do talude, e os blocos intermédios
sofrem instabilidade por toppling. Mas pelo programa Phase2, todos os blocos experimentam toppling,
à excepção do bloco situada na base do talude que tem rotura por deslizamento.
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
134
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
135
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
7.1. CONCLUSÕES DO TRABALHO REALIZADO
Nesta dissertação pretendeu-se fazer a combinação de soluções analíticas no estudo da estabilidade de
um talude com uma estrutura mais complexa e, posteriormente, proceder à validação dessas soluções
através de uma análise numérica, recorrendo aos programas Slope/W e Phase2. Os resultados obtidos
pela análise numérica em comparação com as soluções analíticas foram próximos, o que pode
concluir-se que os resultados obtidos são satisfatórios. Isto significa que o projectista, depois de
caracterizar correctamente a estrutura de um maciço rochoso, pode construir um modelo analítico com
base no método de equilíbrio limite que pode ser extremamente útil na verificação da estabilidade e no
dimensionamento de sistemas de reforço e suporte (pregagens, ancoragens, muros, entre outros).
Nas comparações de métodos analíticos e numéricos através do programa Phase2 verificou-se que os
resultados obtidos numericamente para os casos 1 e 2 foram superiores aos determinados
analiticamente, sendo que a diferença entre ângulos de atrito dos dois métodos não ultrapassa 0,5º.
Nos restantes casos os valores obtidos numericamente foram menores que os determinados
analiticamente, indicando assim que as soluções obtidas analiticamente poderão ser mais
conservativas. De qualquer modo existe uma concordância geral entre os resultados, o que valida as
soluções analíticas desenvolvidas para os casos mais complexos, ou seja, os casos 4, 5 e 6.
Em relação aos valores obtidos pelo programa Slope/W, que foi utilizado no cálculo dos casos de
instabilidade planar e circular (caso 2 e 3, respectivamente), os factores de segurança obtidos foram
ligeiramente superiores aos obtidos analiticamente para o Método Geral de Equilíbrio Limite (GLE),
enquanto no Método de Bishop Simplificado, os valores obtidos, foram iguais. No caso 2 esta
diferença nos factores de segurança de 0,02, não sendo muito significativo, pode dever-se
essencialmente ao facto dos métodos utilizados no programa Slope/W serem métodos simplificados. Já
no caso 3 isto não se aplica visto que os métodos analíticos utilizados foram os mesmos do programa,
mas no Método GLE é necessário adoptar a percentagem da função da força de interacção
representativa da direcção relativa do resultado da força de interacção (λ) e, neste caso, os valores
adoptados são ligeiramente diferentes, verificando assim uma ligeira diferença de factor de segurança
(FS).
Numa comparação entre métodos numéricos, nos casos 2 e 3, o Phase2
obteve valores superiores aos
do Slope/W. Deve-se, provavelmente, ao facto do Phase2 utilizar o MEF, o que leva a uma melhor
aproximação da realidade. No entanto os valores obtidos são próximos, devido ao facto do valor
médio do ângulo de atrito adoptado pelo Phase2 ser de 27,75º, sendo que a diferença para o Método de
Bishop Simplificado é de 0,05º e no Método GLE é de 0,35º. Logo a diferença não é significativa.
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
136
Deve-se destacar que as soluções analíticas são rápidas para a verificação da estabilidade de taludes
com geometrias simples, como os três primeiros casos apresentados. A utilização de métodos
analíticos para casos mais complexos necessita de uma maior atenção na determinação do equilíbrio
limite, mas estes casos são possíveis de se realizar, como demonstrado ao longo desta dissertação.
Por outro lado, os métodos numéricos permitem uma análise mais rápida da estabilidade de taludes
com geometrias mais complexas, permitindo a combinações de soluções analíticas de estruturas
simples. Mas deve-se ter em conta que a realização de soluções numéricas e analíticas em simultâneo
permite uma melhor compressão dos resultados e, assim, uma melhor ponderação dos métodos de
estabilização a desenvolver.
7.2. RECOMENDAÇÕES PARA DESENVOLVIMENTOS FUTUROS
Em relação ao desenvolvimento de estudos futuros, no âmbito do tema abordado nesta tese, poderá
realizar-se a combinação de soluções analíticas para o estudo de estabilidade de taludes que se
apresentaram no capítulo 4. Onde a validação destas soluções pode ser elaborada recorrendo a
soluções numéricas.
Alguns dos modos de instabilidade que podem solicitar um maior interesse em realizar a análise de
estabilidade são:
Os diferentes tipos de rock slumping, que podem dividir-se em três tipos o flexural slumping
(a), o block slumping (b), e o block flexural toppling (c), que se encontram representados na
Figura 7.1;
Figura 7.1. Diferentes tipos de rock slumping: a) flexural slumping, b) block slumping, c) block flexural slumping
(Goodman e Kieffer)
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
137
A instabilidade devido a soil-type slumping, que se encontra representado na Figura 7.2.
Sendo que esta instabilidade deve-se a um estrato impermeável localizado na base do talude,
neste caso tem-se que trabalhar com diferentes tipos de solos;
Figura 7.2. Instabilidade por soil- type slumping (Goodman e Kieffer)
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
138
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
139
BIBLIOGRAFIA
Apontamentos de Geologia de Engenharia, FEUP - Porto: 2009.
Apontamentos de Métodos Numéricos em Geotecnia, FEUP - Porto: 2009.
Bobet, A. - Analytical Solutions for Toppling Failure. International Journal of Rock Mechanics and
Mining Sciences, USA. (Julho 1999).
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Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
140
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Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
141
ANEXOS
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
142
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
143
ANEXO A: GEOLOGICAL STRENGTH INDEX (GSI)
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
144
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
145
ANEXO B: PARÂMETRO D – FACTOR DE PERTURBAÇÃO DO MACIÇO
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
146
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
147
ANEXO C – FOLHA DE CÁLCULO PARA INSTABILIDADE POR TOPPLING – CASO 1
Constantes
Nº yn m
yn/Δx yn/Δx<cotα Mn m
Ln
m Wn
kN/m Pn
kN/m Pn-1,t kN/m
Pn-1,s
kN/m Pn-1
kN/m Rn
kN/m Sn
kN/m Sn/Rn
RnTanϕ' kN/m
|Sn|<RnTanϕ' Modo de
rotura FS
a1 (m) 5,0
16 4 0,4 OK 0 4 1000 0 -832,5 -470,6 0,0 866,0 500,0 0,577 680,2 OK Estável 1,36
a2 (m) 5,0
15 10 1 OK 5 10 2500 0,0 -457,5 -1176,5 0,0 2165,1 1250,0 0,577 1700,6 OK Estável 1,36
b (m) 1,0
14 16 1,6 OK 11 16 4000 0,0 -82,5 -1882,4 0,0 3464,1 2000,0 0,577 2721,0 OK Estável 1,36
Δx (m) 10,0
13 22 2,2 KO 17 22 5500 0,0 292,5 -2588,3 292,5 4533,4 2457,5 0,542 3560,9 OK Toppling 1,45
γ (kN/m3) 25,0
12 28 2,8 KO 23 28 7000 292,5 825,7 -3001,7 825,7 5643,4 2966,8 0,526 4432,8 OK Toppling 1,49
ϕ' (º) 38,15
11 34 3,4 KO 29 34 8500 825,7 1556,0 -3174,4 1556,0 6787,6 3519,7 0,519 5331,5 OK Toppling 1,51
α (º) 30,0
10 40 4 KO 35 35 10000 1556,0 2826,7 -3150,0 2826,7 7662,1 3729,2 0,487 6018,4 OK Toppling 1,61
9 36 3,6 KO 36 31 9000 2826,7 3922,2 -1408,6 3922,2 6933,8 3404,5 0,491 5446,4 OK Toppling 1,60
8 32 3,2 KO 32 27 8000 3922,2 4594,8 157,4 4594,8 6399,8 3327,3 0,520 5027,0 OK Toppling 1,51
7 28 2,8 KO 28 23 7000 4594,8 4837,1 1300,7 4837,1 5871,9 3257,8 0,555 4612,3 OK Toppling 1,42
6 24 2,4 KO 24 19 6000 4837,1 4637,6 2013,5 4637,6 5352,8 3199,5 0,598 4204,5 OK Toppling 1,31
5 20 2 KO 20 15 5000 4637,6 3978,3 2284,6 3978,3 4848,0 3159,3 0,652 3808,0 OK Toppling 1,21
4 16 1,6 KO 16 11 4000 3978,3 2825,8 2095,9 2825,8 4369,4 3152,5 0,722 3432,1 OK Toppling 1,09
3 12 1,2 KO 12 7 3000 2825,8 1103,3 1414,0 1414,0 3707,0 2911,8 0,785 2911,8 KO Deslizamento 1,00
2 8 0,8 KO 8 3 2000 1414,0 -1485,0 472,8 472,8 2471,3 1941,2 0,785 1941,2 KO Deslizamento 1,00
1 4 0,4 KO 4 0 1000 472,8
1237,4 972,8 0,786 971,9 KO Deslizamento 1,00
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
148
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
149
ANEXO D – FOLHA DE CÁLCULO PARA INSTABILIDADE PLANAR – CASO 2
Perfil do talude
Dados da Superfície de Rotura
Espessura das Fatias
Dados do terreno
x y
Δx1 9,11
γ c ϕ
1 0 0
Ponto de Entrada
Ponto de Saída
Δx2 8,36
kN/m3 kPa °
2 281 0
xe ye
xs ys
19 0 35,4
3 281 100
49,5 193
181 100
4 181 100
Inclinações do Talude
5 122,4 188,7
α1 3,4
Inclinação da Superfície de Rotura
6 0 195,67
α2 56,6
β 35,40
7 0 0
Circunferência da
Rotura Perfil do Talude
Fatias
X yc yt h hmedio
1 49,500 193,000 193,000 0,000
3,238
2 58,613 185,978 192,454 6,476
9,714
3 67,725 178,956 191,908 12,952
16,190
4 76,838 171,934 191,361 19,428
22,666
5 85,950 164,912 190,815 25,904
29,142
6 95,063 157,890 190,269 32,380
35,618
7 104,175 150,867 189,723 38,856
42,093
8 113,288 143,845 189,177 45,331
48,569
9 122,400 136,823 188,631 51,807
48,440
10 130,757 130,884 175,956 45,072
41,705
11 139,114 124,945 163,282 38,337
34,969
12 147,471 119,006 150,608 31,602
28,234
13 155,829 113,067 137,934 24,867
21,499
14 164,186 107,128 125,259 18,132
14,764
15 172,543 101,189 112,585 11,396
5,698
16 180,900 100,000 100,000 0,000
0
50
100
150
200
0 50 100 150 200 250 300
Alt
ura
(m
)
Comprimento (m)
Perfil do Talude
TALUDE
ROTURA
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
150
Método das Fatias
Nº Fatias
Δli α α Wl cosα senα tanϕ FS
Ni Ni *tgϕ*cosα Ni *senα
m ° rad kN/m kN/m kN/m kN/m
1 9,11 35,4 0,62 1121,2 0,82 0,58 0,71
1,000
913,9 529,4 529,4
2 9,11 35,4 0,62 2242,4 0,82 0,58 0,71 1827,9 1058,9 1058,9
3 9,11 35,4 0,62 3363,7 0,82 0,58 0,71 2741,8 1588,3 1588,3
4 9,11 35,4 0,62 4484,9 0,82 0,58 0,71 3655,8 2117,7 2117,7
5 9,11 35,4 0,62 5606,1 0,82 0,58 0,71 4569,7 2647,1 2647,1
6 9,11 35,4 0,62 6727,3 0,82 0,58 0,71 5483,6 3176,6 3176,6
7 9,11 35,4 0,62 7848,6 0,82 0,58 0,71 6397,6 3706,0 3706,0
8 9,11 35,4 0,62 8398,0 0,82 0,58 0,71 6845,4 3965,4 3965,4
9 8,36 35,4 0,62 7156,8 0,82 0,58 0,71 5833,7 3379,4 3379,4
10 8,36 35,4 0,62 6087,4 0,82 0,58 0,71 4962,0 2874,4 2874,4
11 8,36 35,4 0,62 5017,9 0,82 0,58 0,71 4090,2 2369,4 2369,4
12 8,36 35,4 0,62 3948,5 0,82 0,58 0,71 3218,5 1864,4 1864,4
13 8,36 35,4 0,62 2879,0 0,82 0,58 0,71 2346,8 1359,4 1359,4
14 8,36 35,4 0,62 1624,5 0,82 0,58 0,71 1324,2 767,1 767,1
15 8,36 35,4 0,62 452,4 0,82 0,58 0,71 368,8 213,6 213,6
Σ= 31617,1 31617,1
FSf= 1,000
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
151
ANEXO E – FOLHA DE CÁLCULO PARA INSTABILIDADE CIRCULAR - CASO 3
Perfil do talude
Dados da Superfície de Rotura
Espessura das Fatias
Dados do Terreno
x y
Δx1 9,11
γ c ϕ
1 0 0
Ponto de Entrada
Δx2 8,36
kN/m3 kPa °
2 281 0
xe ye
Centro
Bishop 19 0 27,8
3 281 100
49,5 193
xc yc
GLE 19 0 28,1
4 181 100
181 239,47
Inclinações do Talude
5 122,4 188,7
Ponto de Saída
α1 3,43
6 0 195,67
xs ys
Raio 139,47
α2 56,60
7 0 0
181 100
Circunferência da
Rotura Perfil do Talude
Fatias
X m
yc
m yt m
h m
hmedio
m
1 49,500 193,000 193,000 0,000
9,935 2 58,613 172,589 192,459 19,869 26,842
3 67,725 158,103 191,917 33,814 39,233
4 76,838 146,723 191,376 44,653 49,041
5 85,950 137,405 190,834 53,430 57,050
6 95,063 129,622 190,293 60,671 63,678
7 104,175 123,067 189,752 66,685 69,200
8 113,288 117,540 189,255 71,715 73,606
9 121,645 113,261 188,759 75,498 70,962
10 130,002 109,658 176,084 66,426 61,579
11 138,359 106,678 163,410 56,732 51,594
12 146,716 104,279 150,736 46,456 41,043
13 155,073 102,431 138,062 35,631 29,953
14 163,430 101,111 125,387 24,276 18,342
15 171,788 100,305 112,713 12,408
6,204
16 180,145 100,000 100,000 0,000
0
50
100
150
200
250
0 50 100 150 200 250 300
Alt
ura
(m
)
Comprimento (m)
Perfil do Talude
TALUDE
CENTRO
ROTURA
Fatias
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
152
Método de Bishop Simplificado
Nº
Fatias
xl yc Δxi α hmedio Wl FSa M (α)
Wl*tanϕ*(1/M(α)) Wl*senα
m m m ° m kN/m kN/m kN/m
1 126,94 20,41 9,11 65,94 9,93 1720,1
1,000
0,89 1020,0 1570,6
2 117,83 14,49 9,11 57,83 26,84 4647,3 0,98 2503,4 3933,7
3 108,72 11,38 9,11 51,31 39,23 6792,7 1,04 3454,9 5302,3
4 99,61 9,32 9,11 45,64 49,04 8490,9 1,08 4160,1 6070,6
5 90,49 7,78 9,11 40,50 57,05 9877,6 1,10 4722,3 6414,9
6 81,38 6,56 9,11 35,73 63,68 11025,1 1,12 5191,6 6438,4
7 72,27 5,53 9,11 31,24 69,20 11981,1 1,13 5597,9 6212,8
8 63,16 4,28 9,11 25,16 73,61 12744,0 1,13 5950,0 5417,4
9 54,80 3,60 8,36 23,32 70,96 11267,8 1,13 5271,3 4460,1
10 46,44 2,98 8,36 19,63 61,58 9777,8 1,12 4607,1 3284,1
11 38,08 2,40 8,36 16,02 51,59 8192,4 1,11 3903,1 2260,4
12 29,73 1,85 8,36 12,47 41,04 6517,1 1,09 3151,6 1407,4
13 21,37 1,32 8,36 8,98 29,95 4756,2 1,07 2343,6 742,0
14 13,01 0,81 8,36 5,51 18,34 2912,5 1,05 1468,0 279,8
15 4,66 0,30 8,36 2,09 6,20 985,1 1,02 510,0 35,9
Σ= 53854,8 53830,6
FS= 1,000
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
153
Método Geral de Equilíbrio Limite (GLE)
Nº
Fatias
x Δxi αi Wl FS Mi
El Er Xl Xr Ni Ni *tgϕ*cosα Ni *senα N*R*tanϕ W*x
m m ° kN/m kN/m kN/m kN/m kN/m kN/m kN/m kN/m kN*m/m kN*m/m
1 126,94 9,11 65,94 1720,06
1,005
-0,780 0,0 -1309,0 0,0 -170,2 1735,9 377,9 1585,1 129271,4 218351,3
2 117,83 9,11 57,83 4647,29 -0,574 -1309,0 -3790,3 -170,2 -962,4 3925,0 1115,9 3322,4 292296,0 547596,0
3 108,72 9,11 51,31 6792,75 -0,431 -3790,3 -6431,1 -962,4 -2351,9 5196,6 1734,3 4056,4 386985,1 738498,9
4 99,61 9,11 45,64 8490,86 -0,318 -6431,1 -8852,3 -2351,9 -4073,1 6274,0 2342,2 4485,7 467218,7 845742,4
5 90,49 9,11 40,50 9877,55 -0,222 -8852,3 -10842,1 -4073,1 -5775,0 7395,7 3002,8 4803,1 550755,8 893856,7
6 81,38 9,11 35,73 11025,06 -0,136 -10842,1 -12241,1 -5775,0 -7098,0 8646,8 3747,9 5049,6 643925,4 897233,2
7 72,27 9,11 31,24 11981,12 -0,057 -12241,1 -12900,5 -7098,0 -7733,6 10035,4 4581,7 5203,9 747331,9 865860,5
8 63,16 9,11 25,16 12744,04 0,049 -12900,5 -12252,5 -7733,6 -7236,5 11707,5 5658,3 4976,8 871850,7 804865,9
9 54,80 8,36 23,32 11267,75 0,082 -12252,5 -11286,8 -7236,5 -6298,6 10814,7 5302,8 4280,8 805361,7 617462,8
10 46,44 8,36 19,63 9777,84 0,147 -11286,8 -9722,3 -6298,6 -4894,5 9980,7 5019,6 3352,2 743259,5 454102,3
11 38,08 8,36 16,02 8192,40 0,212 -9722,3 -7778,9 -4894,5 -3336,4 8801,8 4517,3 2428,5 655467,3 312006,2
12 29,73 8,36 12,47 6517,12 0,278 -7778,9 -5726,0 -3336,4 -1932,2 7259,7 3784,8 1567,8 540623,6 193738,9
13 21,37 8,36 8,98 4756,17 0,344 -5726,0 -3872,3 -1932,2 -900,9 5405,6 2851,0 843,3 402554,3 101642,0
14 13,01 8,36 5,51 2912,50 0,414 -3872,3 -2539,4 -900,9 -301,4 3356,3 1783,8 322,4 249941,7 37901,6
15 4,66 8,36 2,09 985,14 0,485 -2539,4 -2032,0 -301,4 0,0 1262,9 673,9 46,0 94048,2 4587,1
Σ= 46494,3 46323,8 7580891,3 7533445,7
FSf= 1,004 FSm= 1,006
|FS-FSf|= 0,0013 |FS-FSm|= 0,0013
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
154
Fatia Função Half-Sine
λ=0,6
Função Half-Sine
λ=1,0
1 0,032 0,054
2 0,130 0,217
3 0,254 0,423
4 0,366 0,610
5 0,460 0,767
6 0,533 0,888
7 0,580 0,966
8 0,599 0,999
9 0,591 0,984
10 0,558 0,930
11 0,503 0,839
12 0,429 0,715
13 0,337 0,562
14 0,233 0,388
15 0,119 0,198
16 0,000 0,000
0
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
0,6
0,7
0,8
0,9
1
0 2 4 6 8 10 12 14 16
f(x)
x - Nº da Fatia
Half-Sine para determinar as forças de interacção do Método GLE
λ = 1,0
λ = 0,6
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
155
ANEXO F – FOLHA DE CÁLCULO PARA INSTABILIDADE POR TOPPLING, SENDO QUE OS BLOCOS MUDAM DE DIRECÇÃO - CASO 4
Constantes
Nº yn
m yn/Δx yn/Δx<cotα
Mn
m
Ln
m
α
º
Wn
kN/m
Pn
kN/m
Pn-1,t
kN/m
Pn-1,s
kN/m
Pn-1
kN/m
Rn
kN/m
Sn
kN/m Sn/Rn
RnTanϕ'
kN/m |Sn|<RnTanϕ'
Modo de
rotura FS
a1 (m) 5
17 4,0 0,4 OK 0,0 4,0 30,0 1000,0 0,0 -832,5 -3402,0 0,0 866,0 500,0 0,6 823,8 OK Estável 1,65
a2 (m) 5
16 10,0 1,0 OK 5,0 10,0 30,0 2500,0 0,0 -457,5 -8504,9 0,0 2165,1 1250,0 0,6 2059,5 OK Estável 1,65
b (m) 1
15 16,0 1,6 OK 11,0 16,0 30,0 4000,0 0,0 -82,5 -13607,9 0,0 3464,1 2000,0 0,6 3295,1 OK Estável 1,65
Δx (m) 10
14 22,0 2,2 KO 17,0 22,0 30,0 5500,0 0,0 292,5 -18710,8 292,5 4484,9 2457,5 0,5 4266,2 OK Toppling 1,74
γ (kN/m3) 25
13 28,0 2,8 KO 23,0 28,0 30,0 7000,0 292,5 808,4 -23521,3 808,4 5571,5 2984,1 0,5 5299,7 OK Toppling 1,78
ϕ' (º) 43,568
12 34,0 3,4 KO 29,0 34,0 30,0 8500,0 808,4 1505,8 -28108,3 1505,8 6697,8 3552,6 0,5 6371,1 OK Toppling 1,79
Blo
co
9 Xe (m) 3,26205
11 40,0 4,0 KO 35,0 40,0 30,0 10000,0 1505,8 2376,9 -32513,8 2376,9 7831,6 4128,8 0,5 7449,6 OK Toppling 1,80
Ye (m) 24,6667
10 46,0 4,6 KO 41,0 41,0 30,0 11500,0 2376,9 3836,5 -36745,6 3836,5 8570,9 4290,4 0,5 8152,8 OK Toppling 1,90
θ (º) 10
9 37,0 3,7 KO 39,4 36,6 40,0 3017,4 3836,5 5232,3 14372,0 14372,0 -8431,7 -8020,4 1,0 -8020,4 KO Deslizamento 1,00
8 32,0 3,2 KO 32,0 27,0 40,0 8000,0 14372,0 13882,5 7152,3 13882,5 6593,9 5631,7 0,9 6272,3 OK Toppling 1,11
7 28,0 2,8 KO 28,0 23,0 40,0 7000,0 13882,5 12732,1 7565,4 12732,1 6456,6 5649,9 0,9 6141,7 OK Toppling 1,09
6 24,0 2,4 KO 24,0 19,0 40,0 6000,0 12732,1 10934,7 7317,4 10934,7 6306,0 5654,1 0,9 5998,4 KO Toppling 1,06
5 20,0 2,0 KO 20,0 15,0 40,0 5000,0 10934,7 8511,3 6422,4 8511,3 6135,5 5637,4 0,9 5836,2 OK Toppling 1,04
4 16,0 1,6 KO 16,0 11,0 40,0 4000,0 8511,3 5497,0 4901,5 5497,0 5931,4 5585,4 0,9 5642,1 OK Toppling 1,01
3 12,0 1,2 KO 12,0 7,0 40,0 3000,0 5497,0 1965,0 2789,7 2789,7 4873,4 4635,7 1,0 4635,7 KO Deslizamento 1,00
2 8,0 0,8 OK 8,0 3,0 40,0 2000,0 2789,7 -2245,6 984,8 984,8 3249,0 3090,5 1,0 3090,5 KO Deslizamento 1,00
1 4,0 0,4 OK 4,0 0,0 40,0 1000,0 984,8
1702,8 1627,6 1,0 1619,7 KO Deslizamento 1,00
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
156
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
157
ANEXO G – FOLHA DE CÁLCULO PARA INSTABILIDADE POR SLIDE TOE TOPPLING, DEVIDO AO DESLIZAMENTO DE BLOCOS NO TOPO DO TALUDE - CASO 5
Constantes
Nº yn
m yn/Δx yn/Δx<cotα
Mn
m
Ln
m
Wn
kN/m
Pn
kN/m
Pn-1,t
kN/m
Pn-1,s
kN/m
Pn-1
kN/m
Rn
kN/m
Sn
kN/m Sn/Rn
RnTanϕ'
kN/m |Sn|<RnTanϕ'
Modo de
rotura FS
a1 (m) 5
10 40 4 KO - 40 10000
20661,8 -25176,2 20661,8 60863,1 44848,5 0,737 47734,7 OK Toppling 1,06
a2 (m) 5
9 36 3,6 KO 35 36 9000 20661,8 16753,9 16470,9 16753,9 10859,1 8407,9 0,774 8516,8 OK Toppling 1,01
b (m) 1
8 32 3,2 KO 31 32 8000 16753,9 13041,6 13028,7 13041,6 9839,8 7712,4 0,784 7717,3 OK Toppling 1,00
Δx (m) 10
7 28 2,8 KO 27 28 7000 13041,6 9590,2 9782,0 9782,0 8618,7 6759,6 0,784 6759,6 KO Deslizamento 1,00
γ (kN/m3) 25
6 24 2,4 KO 23 24 6000 9782,0 6595,2 6988,0 6988,0 7387,4 5794,0 0,784 5794,0 KO Deslizamento 1,00
α (º) 30
5 20 2 KO 19 20 5000 6988,0 4065,7 4659,7 4659,7 6156,2 4828,3 0,784 4828,3 KO Deslizamento 1,00
ϕ' (º) 38,1
4 16 1,6 OK 15 16 4000 4659,7 2001,8 2797,1 2797,1 4925,0 3862,6 0,784 3862,6 KO Deslizamento 1,00
Blo
cos A
1 e
A2
WA1 (kN/m) 35647,5
3 12 1,2 OK 11 7 3000 2797,1 691,4 1400,1 1400,1 3693,7 2897,0 0,784 2897,0 KO Deslizamento 1,00
WA2 (kN/m) 43343
2 8 0,8 OK 7 3 2000 1400,1 -1946,8 468,8 468,8 2462,5 1931,3 0,784 1931,3 KO Deslizamento 1,00
Y1 (m) 32,4
1 4 0,4 OK 3 0 1000 468,8
1233,7 968,8 0,785 967,6 KO Deslizamento 1,00
Y2 (m) 17,2
QA1 (kN/m) 30871,6
QA2 (kN/m) 37536,1
PA1 (kN/m) 27307,6
PA2 (kN/m) 33202,7
Ω 40º
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
158
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
159
ANEXO H – FOLHA DE CÁLCULO PARA INSTABILIDADE POR SLIDE TOE TOPPLING, DEVIDO AO DESLIZAMENTO DE SOLO NO TOPO DO TALUDE - CASO 6
Constantes
Nº yn
m
α
º
Mn
m
Ln
m
Wn
kN/m
Pn
kN/m
Pn-1,t
kN/m
Pn-1,s
kN/m
Pn-1
kN/m
Rn
kN/m
Sn
kN/m Sn/Rn
RnTanϕ
kN/m |Sn|<RnTanϕ'
Modo de Rotura
FS
Δx (m) 8,36
7 71,0 23,3 37,8 66,4 11267,8 - 6020,3 8165,0 8165,0 7939,4 7873,1 0,992 7873,1 KO Deslizamento
1,00
γ (kN/m3) 25
6 61,6 19,6 66,4 56,7 9777,8 8165,0 8075,7 -413,8 8075,7 9263,3 3397,9 0,367 9186,0 OK Toppling
β (º) 56,6
5 51,6 16,0 56,7 46,5 8192,4 8075,7 8100,9 -1775,8 8100,9 7857,4 2229,4 0,284 7791,8 OK Toppling
ϕ' (º) 44,760
4 41,0 12,5 46,5 35,6 6517,1 8100,9 8333,2 -2928,2 8333,2 6188,5 1130,8 0,183 6136,9 OK Toppling
Blo
co
7 El (kN/m) 12252,5
3 30,0 9,0 35,6 24,3 4756,2 8333,2 9019,4 -3687,8 9019,4 4132,9 -41,9 -0,010 4098,4 OK Toppling
Xl (kN/m) 7236,5
2 18,3 5,5 24,3 12,4 2912,5 9019,4 11225,5 -3514,0 11225,5 933,3 -2126,3 -2,278 925,6 OK Toppling
Ye/2 (m) 37,8
1 6,2 2,1 12,4 0,0 985,1 11225,5
11700,1 11659,4 0,997 11602,5 KO Deslizamento
Combinação de soluções analíticas na análise da estabilidade de taludes rochosos reforçados
160