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CLAQUET A L T E R N A T I V A POR TRÁS DO CINE BELAS ARTES O CINEMA FABRICADOR DE SONHOS QUE REABRIU EM 2014 ISMOS A INFLUÊNCIA DO SURREALISMO NO CINEMA PERFIL ALMODÓVAR E O TRIUNFO DAS CORES NA SÉTIMA ARTE

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CLAQUETA L T E R N A T I V A

POR TRÁS DO CINE BELAS ARTESO CINEMA FABRICADOR DE SONHOS QUE REABRIU EM 2014

ISMOSA INFLUÊNCIA DOSURREALISMO NOCINEMA

PERFILALMODÓVAR E O TRIUNFO DAS CORES NA SÉTIMA ARTE

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ÍNDICE

RECORDANDO5. MARCOU VOCÊ6. CINE HISTÓRIA

7. MESTRES8. ISMOS

CINE MANIA10. CAPA

13. CINE GOURMET14. VIAJANDO

FIQUE POR DENTRO16. ESTREIAS E

ANÁLISES

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EDITORIAL

A CLAQUETE ALTERNATIVA tem como missão di-fundir o cinema alternativo no Brasil de maneira inovadora, aprofundando os fatos, discutindo, in-terpretando, analisando e formando opinião. É uma revista feita para quem gosta de ler, que quer saber sempre mais sobre pessoas interessantes que fazem coisas que fogem aos padrões que normalmente vemos na mídia — no caso, filmes.

Queremos que nossas matérias sejam tão inovado-ras quanto os filmes que nos inspiram e fazem parte do nosso dia-a-dia. Porque a CLAQUETE ALTERNA-TIVA é feita especialmente para aqueles que respi-ram cinema, que acham que um dia sem filme é um dia menos alegre.

A revista não se prende apenas a fazer uma análise fria das produções alternativas, ela quer entrar no universo, se aproximar da realidade e trazê-la para seus leitores, para que possam não apenas com-preender, mas interpretar e interagir com o mundo alternativo das produções cinematográficas, au-mentando ainda mais seu prazer e amor por esse gênero.

EXPEDIENTEDiretora de redação

Profª Drª Fábia Dejavite

Editor-chefe Felipe Henrique Lima

Editores e repórteresBarbara Godoy

Felipe Henrique LimaJéssica ParolinRenata Aloise

Diretor de arteProf Ms. Ricardo Senise

DiagramaçãoFelipe Henrique Lima

Renata Aloise

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MARCOU VOCÊ ...Por Jéssica Parolin

Filme: Horizonte Perdido, 1973

“Filmes e música certamente dependem do mo-mento, idade e o envolvimento sentimental por qual está passando. Diversos motivos nos levam ao cinema e, quando somos levados ao cinema no inicio de namoro e ainda na idade juvenil, a marca é maior. Horizonte Perdido o filme que ainda povoa minha mente por enquanto deve ter sido um dos primeiros filmes no cinema que vi. Marcou muito minha vida, a partir desse momento, meus valores da vida mudaram para muito melhor. Minha namorada era Bernadete, que veio a ser mi-nha esposa, que me presenteou com dois filhos ma-ravilhosos, Ana Tulipa e Cesar Sasso. Me lembro ter assistido mais uma vez.”

Pascoal Tadeu Lignelli, 63 anos, diretor do IMESP. Filme: Ghost, 1990.

“O filme que marcou a minha vida foi Ghost – Do Outro Lado da Vida, porque a história tem um lado cômico, mas também tem um lado do amor verda-deiro, do amor puro que tinha entre o casal. Eu acre-dito que as famílias podem ser eternas e que nós vamos viver depois dessa vida. É lógico que ali tem um pouco de fantasia, mas o fundamento, a essên-cia do filme marcou minha vida e é muito bonito, o amor pode ser eterno.”

Cleyfer Franco Reishoffer, 54 anos, professor universitário.

Filmes: Maltilda, 1996 e A Viagem deChiriro, 2001.

“São vários filmes que marcaram minha vida, na mi-nha infância sempre gostei do filme Matilda, porque era um filme que não tinha limites, era pura magia, eu levava isso pra minha realidade, então minha in-fância foi bastante vivida pelo fato de ter essa ima-ginação que o filme traz. Já um filme que marcou minha adolescência foi A Viagem de Chiriro. Essa ani-mação foi muito especial pra mim, me grudou na tela do cinema do inicio ao fim hipnoticamente, é um filme que faz você querer mais.”

Kelvin Yuki Korotsu, 22 anos, estudante.

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CINE HISTÓRIAPor Jéssica Parolin

A lguns filmes, principalmente os alternativos tem uma grande capacidade de nos envolver

na trama, mas mais do que isso, podem nos ensi-nar muito. A história de algum momento pode ser contada de várias formas e se torna ainda melhor quando é contada da maneira que gostamos, atra-vés de filmes.

Um exemplo disto é o filme: Todos os Homens do Presidente (1976), do diretor Alan J. Pakula.

A narrativa se inicia em 1972, quando, sem ter a menor noção da gravidade dos fatos, um repórter (Robert Redford) do Washington Post inicia uma investigação sobre a invasão de cinco homens na sede do Partido Democrata, que dá origem ao es-cândalo Watergate e que teve como consequência a queda do presidente Richard Nixon. Estes fatos foram manchete nos principais jornais do mundo e ainda são discutidos em muitas salas de jornalismo, por historiadores e críticos.

Relação com Jornalismo

O filme mostra grande embasamento ao apre-sentar as teorias do jornalismo contemporâneo. Agenda-Setting e Newsmaking, analisados de ma-neira livre dentro das cenas, além disso, o filme exibe reuniões de pauta como momentos até certo ponto descontraídos em que os editores, comentavam as prováveis matérias a entrar no próximo jornal. O fil-me foi baseado no livro homônimo de Woodward e Bernstein (que chegaram a receber um prêmio Pu-litzer, em 1973).

O jornalismo exemplificado no filme é de uma ordem um tanto rara em nossos dias. Podemos di-zer que as notícias correm atrás dos jornalistas hoje, mas Bob e Carl foram buscar notícias onde ninguém as via e onde nem sabia que poderiam ser encon-tradas.

Pelos estes motivos, o filme Todos os homens do presidente mostra-se muito atual e pertinente para ser estudado por alunos de cursos de Comunica-ção/Jornalismo e áreas afins.

Todos os Homens do Presidente

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Todos os Homens do Presidente (1976)

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MESTRESPor Renata Aloise

H á certos cineastas que têm uma identidade visual tão forte que são facilmente reconheci-

dos pelas cores de seus filmes. Pedro Almodóvar é um deles. Seus filmes são uma explosão de cores, que na verdade escondem a melancolia de quem viveu os difíceis anos da ditadura de Francisco Fran-co na Espanha.

Nascido em Calzada de Calatrava, na província de Ciudad Real, comunidade autônoma de Castilla--La Mancha na Espanha em 1951, sua família emi-grou para Extremadura quando ele tinha apenas oito anos e lá ele estudou com os Salesianos e Fran-ciscanos. Essa educação religiosa apenas o ensinou a perder a fé em Deus. Durante esse tempo, em Cá-ceres, ele começou a ir ao cinema compulsivamen-te. Quando tinha 16 anos mudou-se para Madri, so-zinho e sem dinheiro, mas com um objetivo sólido: estudar e fazer filmes. Era o final dos anos 60 e ape-sar da ditadura, Madri para um adolescente provin-ciano era a capital da cultura e da liberdade.

Almodóvar nunca estudou cinema, pois nem ele nem a sua família tinham dinheiro para pagar os seus estudos. Já que não teve acesso à teoria, decidiu aprender na prática. Comprou sua primei-ra câmera Super-8 quando começou a trabalhar na Companhia Telefônica Nacional. Lá ficou por doze anos como assistente administrativo e neste perío-do teve sua verdadeira educação.

Durante as manhãs ele tinha contato com uma classe social que não teria conhecido diante de ou-tras circunstâncias: a classe média espanhola, que na época, estava em plena era do consumismo. Du-rante as tardes e noites, ele escreveu, amou, se jun-tou ao grupo de teatro independente Los Gollardos, fez filmes em Super-8, escreveu para várias revistas alternativas e também pequenas estórias, algumas das quais foram publicadas. Essa crescente cultura alternativa de Madri se mostrou o cenário perfeito para os talentos de Almodóvar. Ele foi uma figura crucial na Movida Madrileña, movimento de renas-

cimento cultural que surgiu após a morte do ditador Franco. Após um ano e meio de difíceis filmagens em 16mm estreou, em 1980, seu primeiro longa, Pepi, Luci, Bom e outras garotas de montão.

Durante a próxima década, o cineasta causou bastante polêmica, especialmente o filme Maus há-bitos, uma sátira direcionada à Igreja Católica, o que reforçou sua reputação de enfant terrible do cine-ma Espanhol. O reconhecimento crítico, porém, só veio em 1988 com a estreia de Mulheres à beira de um ataque de nervos, que trouxe a Almodóvar sua primeira indicação ao Oscar de Melhor Filme Estran-geiro.

A partir daí, seus próximos filmes eram ansiosa-mente esperados pelos fãs de cinema ao redor do mundo, que já esperavam ver as marcas do espa-nhol: o exagero, as mulheres fortes, as cores. E prin-cipalmente a liberdade.

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Pedro Almodóvar

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ISMOS...Por Barbara Godoy

O cinema pode ir muito além da definição por gêneros, e é isso o que a CLAQUETE ALTERNA-

TIVA produzirá nessa seção, por meio de categorias contidas de estéticas predominantes, ampliaremos seu conhecimento sobre os períodos importantes da sétima arte. Ao fim da leitura lançamos um desa-fio mental, você consegue relacionar algum de seus filmes preferidos nas categorias apresentadas?

Surrealismo

Inspirado pelo psicólogo Sigmund Freud, o Sur-realismo apresenta a proposta de fugir das forma-lidades trazidas pela educação tradicional à mente humana, usando como saída o estudo dos sonhos, com imagens incomuns e desprovidas de racionali-dade, que buscam o inconsciente. O poeta francês André Breton relata em seu livro Manifesto do Jorna-lismo, “é uma arte com base na ausência do controle da razão, isenta de preocupação estética ou moral.”

O Surrealismo possui origens marcadas pelas artes plásticas, pintores surrealistas como Salvador Dalí (figura também importante para o cinema), Fer-nand Léger, Man Ray e Marcel Duchamp deixaram obras essenciais para o movimento e contribuíram na composição de diversos filmes, como o clássico surrealista Um cão andaluz (1929), concebido por Luis Buñuel e Dalí.

O cinema foi uma plataforma importante para a difusão do mundo surrealista, diversos cineas-tas optaram por retratar esse movimento em suas obras, fugindo do tradicionalismo cinematográfi-co, entre eles estão Luis Buñuel, Jean Cocteau, Man Ray, incluindo os cineastas Walerian Borowczyk e Wojciech Has do leste euroupeu, que trabalhavam sob pressão do regime repressivo. No cenário atual, o diretor David Lynch é conhecido por retomar esse fôlego surrealista, assim como o roteirista Charlie Kaufman.

CLAQUETE INDICA

Um cão andaluz, 1929, Luis Buñuel

Quero ser John Malkovich, 1999, Spike Jonze

Cidade dos sonhos, 2001, David Lynch

O mundo imaginário do Dr. Parnassus, 2009, Terry Gilliam

Cidade dos sonhos

Um cão andaluz

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ISMOS...

Pós-modernismo

Esse movimento é conhecido pela autoconsci-ência trazida em seus filmes, quebrando a barreira existente entre mídia e realidade, recicla imagens do passado e mistura gêneros, radicalizando ele-mentos do noir, suspense, policial, road movie, e ou-tras vertentes cinematográficas, apresentando uma desconstrução da narrativa convencional e com-pondo irônicas citações que nos remetem às pla-teias de iniciados na história do cinema americano.

Essas referências podem facilmente ser identifi-cadas nos filmes do diretor Woody Allen, por exem-plo. O diretor explora os limites entre realidade e ficção, utilizando influências de Ingmar Bergman, Federico Fellini e Stanley Kubrick. Em seu filme O dorminhoco (1973), Allen atua na pele de Monroe, um personagem caracterizado como um judeu res-munguento e neurótico com uma visão de futuro moldada por filmes como 2001: Uma odisseia no es-paço (1968) e Laranja mecânica (1971).

O diretor Guy Maddin apresenta influências ainda mais antigas no mundo cinematográfico, retratando do cinema mudo alemão e soviético, a pintura, a música erudita e a literatura. Na França, Jean-Jacques Beinex e Luc Besson baseavam-se na estética de comerciais de tv para a produção de seus filmes, assim como os filmes Cães de aluguel (1992) e Pulp Fiction (1994) do aclamado diretor Quentin Tarantino.

CLAQUETE INDICA

O fundo do coração, 1982, Francis Ford Coppola

Pulp Fiction - Tempo de violência, 1994, Quentin Tarantino

O grande Lebowski, 1998, Joel e Ethan Coen

Corra, Lola, corra, 1998, Tom Tykwer

O grande Lebowski

O fundo do coração

Pulp Fiction

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CAPAPor Barbara Godoy, Felipe Henrique Lima e Renata Aloise

O Cine Belas Artes é um desses lugares cheios daquelas narrativas que nos encantam. Afi-

nal são mais de 70 anos de existência, acompanhan-do os amantes do cinema em aventuras que só po-dem ser vividas através dos filmes.

Tudo começou em 14 de julho 1956, no cruza-mento da Rua da Consolação com a Avenida Pau-lista, em São Paulo, com a inauguração do Cine Tria-non, que possuía apenas uma sala de 1400 lugares e era administrado pela Companhia Cinematográfica Serrador Ltda. O primeiro filme exibido lá foi Eles se casam com as morenas (1955), de Richard Sale.

Foi apenas em 1967, em seu aniversário de 11 anos, que o nome do local mudou para Cine Belas Artes. Com menos lugares — 1200 — a primeira exi-bição foi do filme Os russos estão chegando (1966), de Norman Jewison.

Cinema Alternativo

A programação do Belas Artes passou a ser do-minada pelo cinema de arte, organizada pela Socie-dade Amigos da Cinemateca, a SAC, cujo presidente era Dante Ancona Lopez, que popularizou esse tipo alternativo de filmes em São Paulo, em especial nos

pequenos cinemas Scala e Picolino.O lema da SAC era “Espetáculo, Polêmica e Cul-

tura”, e assim, para o Belas Artes se adequar, haviam apresentações não cinematográficas que comple-mentavam filmes de duração menor que os comuns 90 minutos.

Em seu primeiro andar, funcionava a secretaria e a biblioteca da SAC, além de uma galeria com ex-posições permanentes. No hall de entrada ficavam estandes com os últimos lançamentos de livros e discos de vinil e um palco com iluminação e sistema de som para peças, música, dança e palestras.

Com a grande capacidade de lotação do cinema, a escolha dos filmes exibidos não podiam levar em consideração um público seleto. Era necessário se ater ao lema da SAC mas, ao mesmo tempo, atrair um maior número de pessoas, chamar a atenção de um grande público.

Em 1970, o Belas Artes é dividido em duas salas, Villa Lobos e Portinari, e cinco anos mais tarde uma terceira é aberta, a Mário de Andrade, reservada para ciclos e mostras especiais.

Em 10 de maio de 1982 ocorreu o episódio mais triste da história do Belas Artes. Um incêndio na madrugada destruiu todas as instalações das duas

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maiores salas do complexo, a Villa-Lobos e a Porti-nari. O fogo se alastrou mais rapidamente devido à enorme quantidade de materiais de fácil combus-tão, como poltronas, isolantes acústicos, cortinas e carpetes. A perícia concluiu que o incêndio foi cri-minoso, pois foram encontrados portas e cofres ar-rombados.

Três anos após o ocorrido, o Belas Artes foi rea-berto, completamente reformado e agora com seis salas: Carmen Miranda, Mário de Andrade, Oscar Niemeyer, Aleijadinho, Cândido Portinari e Villa--Lobos.

A partir daí, a administração do cinema passa para a distribuidora francesa Gaumont – que inau-gura na cidade o conceito de multiplex – mas conti-nua com a programação de filmes de arte.

Em 29 de janeiro de 1987, o Circuito Alvorada passa a controlar o Belas Artes, expandindo as exi-bições para filmes mais comerciais, o que faz com que o público fiel vá desaparecendo pouco a pouco, fazendo com que o cinema entre em crise e sua es-trutura comece a se deteriorar cada vez mais.

Sua administração muda mais uma vez em 2001, passando agora para a Estação Botafogo, que muda o nome do cinema para Estação Belas Artes. Apesar de voltar a programação para filmes de arte, clássi-cos, filmes independentes e nacionais, o grupo não teve sucesso e o fechamento do cinema é anuncia-do.

Ressurgimento

O movimento “Viva Belas Artes”, de 2002, conse-gue adiar seu fechamento por alguns dias. Em 5 de dezembro, o cinema iria exibir suas últimas sessões, e por isso, faixas foram colocadas em frente ao pré-dio, afirmando que o Belas Artes seria um patrimô-nio de São Paulo, e por isso não poderia fechar.

Em março de 2003, André Sturm, da Pandora Filmes, o cineasta Fernando Meirelles, a produtora Andréa Barata Ribeiro e o cineasta Paulo Morelli, da 02 Filmes se tornam sócios do Belas Artes, evitan-do seu fechamento. Assinam uma parceria com o banco HSBC, que acrescenta seu nome ao cinema e dá início a uma grande reforma. A reinauguração do Cine HSBC Belas Artes ocorre em 28 de maio de 2004, com superlotação de todas as salas de exibi-ção.

A programação era feita de cinema de arte e filmes comerciais de qualidade. Eram exibidos de 6 a 8 filmes, um sendo sempre nacional. Uma vez por mês havia a sessão “Noitão”, que exibia filmes na noite de sexta até o início da manhã de sábado,

sempre com um filme surpresa.Apesar do sucesso, em março de 2010 o banco

HSBC deixa de patrocinar o Belas Artes. Há uma mo-bilização por parte de André Sturm para conseguir novos patrocinadores, pois os valores arrecadados com bilheterias não são suficientes para manter o complexo.

O fechamento do Belas Artes causa uma gran-de comoção entre os fãs do local, desencadeando passeatas, criação de páginas na Internet e abaixo--assinados físicos e eletrônicos com o registro de cerca de 28 mil adesões, além da manifestação de funcionários do cinema e protestos de cineastas e críticos. Mas nada disso impede que o cinema feche as portas em 17 de março de 2011.

O processo de tombamento do prédio do Belas Artes, aberto em janeiro de 2011, é negado tanto pelo órgão municipal quanto pelo estadual, permi-tindo que o dono alugasse o imóvel.

Mas três anos depois, as novidades eram boas para os cinéfilos que valorizavam tanto esse patri-mônio da cidade de São Paulo: o Cine Belas Artes seria reaberto. E assim foi, com o patrocínio da Caixa Econômica Federal, o cinema passou a chamar Cine Caixa Belas Artes e arrastou multidões no seu dia de reabertura, que contou com a presença de famosos, do prefeito Fernando Haddad, dos amantes, dos fãs, e também dos curiosos que ansiavam por conhecer o local.

Além de salas completamente reformadas, uma bomboniere com produtos requintados, visual re-novado com paredes decoradas por cartazes de fil-mes clássicos que trazem um ar de nostalgia e privi-légios aos usuários que apresentarem cartão Caixa, a organização do local também apresentou opções de planos para os cinéfilos assíduos, oferecendo o direito de um filme por semana durante um ano, es-tipulado por um preço específico.

A reabertura desse patrimônio teve uma impor-tância cultural imensa para a cidade de São Paulo, representou o resgate dos cinemas de rua, que tan-to contribuíram para a interação do público com a sétima arte durante os séculos passados, cinemas que foram esquecidos e substituídos pelos cinemas de shopping center. Os cinemas de rua atuais de-vem ser considerados relíquias dignas de visitação, lugares onde estão localizados os filmes cult, inde-pendentes, não superficiais, são lugares onde o ci-nema não é visto apenas como lazer, e sim como uma arte a ser admirada e analisada.

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CAPA

A trajetória de um ícone

1967 Inaugurado em 47

como Cine Ritz, passa a ser chamado de Cine Belas Artes.

1982

O cinema sofre um grande incêndio,

duas de suas salas foram destruídas.

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1989

Passa a ser assumido pelo grupo Gaumont,

entrando em decadência nos anos

90.

2004

Reaberto pelo cineasta André Sturm, em parceria com a

produtora O2, e com o apoio do banco HSBC.

2010/2011

O banco resolve não renovar patrocínio e o cinema é fechado

em fevereiro de 2011.

2014

Com patrocínio da Caixa Econômica, o cinema é reaberto com o nome Cine Caixa Belas Artes.

Uma linha do tempo para relembrar os momentos mais marcantes da história do Cine Belas Artes na cidade de São Paulo

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CINE GOURMETPor Renata Aloise

“... quebrar a cobertura do creme brûlée com a colher.”

A obra O fabuloso destino de Amélie Poulain, do cineasta Jean-Pierre Jeunet, lançada em 2001

e um sucesso ao redor do mundo, conta a história da francesa Amélie, interpretada pela atriz Audrey Tautou, uma jovem de Montmartre que sempre procura ver o melhor das pessoas e do mundo, nos ensinando a aproveitar os pequenos prazeres da vida. Um desses pequenos prazeres na vida de nos-sa heroína é quebrar a cobertura do tradicional cre-me brûlée. Esse “creme queimado” surgiu na França, mas é consumido por toda a Europa, com algumas pequenas modificações. Aprenda a fazê-lo para po-der compartilhar dessa pequena felicidade com a Srtª Poulain.

Ingredientes- 6 gemas- 10 colheres de sopa de açúcar refinado- 1 fava de baunilha ou 1 colher de chá de essência de baunilha- 500ml de creme de leite fresco ou nata- Açúcar cristal para queimar

Como fazerLevar ao fogo uma chaleira com água e pré aque-

cer o forno a 180 graus. Passar as gemas por uma peneira para tirar a película do ovo e não dar gosto. Sem passar a colher, só furando as gemas e espe-rando escorrer. Adicionar o açúcar e bater com o batedor de claras até a mistura ficar clarinha. Abrir a fava ao meio e retirar as sementinhas com a ajuda da faca. Levar a uma panela a baunilha com o creme de leite e aquecer em fogo baixo. Deixar que infu-sione sem ferver, somente aquecer em temperatura de mamadeira. Retirar do fogo e misturar com as gemas. Distribuir a mistura em ramequins médios com a ajuda de uma concha. Dispor em uma forma, levar ao forno pré-aquecido a 180 graus, e então adicionar água fervendo na forma. Assar durante 1 hora, sempre verificando se a água não secou.

Caso aconteça, é só adicionar mais. Retirar do forno quando o creme estiver bem firme no topo, deixar esfriar e levar a geladeira. Deixar por no mí-nimo 3 horas resfriando. O melhor é de um dia para o outro. Na hora de servir, polvilhar o açúcar cris-tal por cima e queimar com um maçarico. Caso não tiver maçarico, esquentar uma colher na chama do fogão e ir queimando, aos poucos, o açúcar.

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VIAJANDOPor Barbara Godoy

Conhecendo Viena comCeline e JesseAntes do Amanhecer (1995) é o filme que dá início

a trilogia de Richard Linklater, sobre um casal, (1) Jesse (Ethan Hawke) e Celine (Julie Delpy), que se conhece por acaso durante uma viagem de trem que possui como destino Viena.

Após aceitar o pedido de Jesse, Celine passa um dia com ele pelas ruas da cidade e no meio de diver-sos diálogos fascinantes sobre amor, religião, arte e temas aleatórios, os dois passam a se encantar pelas diferenças um do outro. O desfecho desse filme traz uma angústia curiosa que só é revelada no segundo filme, Antes do Entardecer, lançando em 2004, segui-do pelo terceiro e último, Antes da Meia Noite (2013).

Nessa matéria conheceremos um pouco mais so-bre o dia 16 de Junho de 1995, o dia em que se deu início essa história de amor rodeada pelas arquite-turas e tradições vienenses.

(2) A cena da loja de discos, que possui o nome de Alt & Neu (Novo e Velho), é uma das mais mar-cantes do filme pela famosa troca de olhares ao fun-do musical de Kath Bloom’s, Come Here.

(3) Após pegarem um trem para fora da cidade, os dois vão parar perto do Friedhof Der Namenlo-sen (Cemitério dos Sem-nome), onde foram enter-rados corpos encontrados no rio Danúbio.

(4) Após o primeiro beijo do casal, eles se sentam no Kleines Cafã, onde acabam encontrando uma vi-dente que lê a mão de ambos. Ela vê que Celine é uma estranha e está em uma jornada, e que ela pre-cisa resignar-se aos constrangimentos da vida para encontrar a paz dentro de si mesma e a verdadeira conexão com os outros.

Ao ler a mão de Jesse, ela revela: “Você ficará bem, ainda está aprendendo.” Ao ir embora finali-za gritando para os dois “Vocês são pó de estrelas, não esqueçam. As estrelas explodiram bilhões de

anos atrás para formar tudo o que está nesse mun-do, tudo o que conhecemos é pó de estrelas, não se

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VIAJANDO

Conhecendo Viena comCeline e Jesse

(5) Caminhando pelas margens do rio Danúbio, Celine e Jesse encontram outra figura inusitada, um morador de rua que os oferece uma poesia com a palavra-tema que eles escolhessem. Celine escolhe a palavra “milkshake” e o rapaz lhes entrega um po-ema que mexe com a protagonista.

(6) É no restaurante Cafà Sperl que ocorre a fa-mosa cena da “ligação”, onde eles encenam uma falsa chamada e acabam criando coragem para di-zer indiretamente o que tinham sentido até então naquele dia.

(7) Após persuadir o dono de um bar e conseguir uma garrafa de vinho, os dois passam a noite no parque Palais Schwarzenberg, onde acabam dor-mindo na grama e ao acordarem se deparam com a hora da partida, momento que veio sendo discuti-do pelos dois a todo momento durante o filme.

Depois de várias controvérsias, ao chegarem a estação, os dois decidem combinar um encontro seis meses depois, sem nenhum tipo de contato. A despedida é seguida por uma sequência de cenas que mostra os lugares pelos quais os dois passaram, deixando o final do filme ambíguo e trazendo ao espectador um clima de satisfação acrescentado ao “quero mais”.

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ESTREIAS & ANÁLISESPor Felipe Henrique Lima

tando de acordo com a aproximação do clímax de cada cena, cantos misteriosos e, nas cenas externas, a neblina que sai do chão sob a luz do luar.

Apesar de algumas cenas soarem forçadas de-mais – como a que personagem Sara, amiga do protagonista, mesmo depois de já ter levado uma facada nas costas e caído no chão, reaparece na sala, caindo por detrás de uma cortina e morrendo bem na frente de Mark – o filme consegue prender a atenção com alguns ganchos de suspense e se-quências em que os personagens passam por situ-ações tensas de fuga e medo, embora a fórmula se desgaste ao longo da película.

Talvez o maior trunfo seja o mistério em torno da identidade do autor por trás dos acontecimen-tos sinistros e das mortes dos personagens. É de se elogiar também a belíssima fotografia que a obra apresenta com enquadramentos e um jogo de co-res bastante interessantes e o uso de uma câmera subjetiva que sugere o olhar do vento em busca de algo ou ainda o foco no luar, criando um ambiente enigmático na narração.

Por fim, a história do longa é interessante, mas tropeça em uma sequência surrealista e complica-da. Se os próprios personagens parecem confusos em diversas cenas, o que dirá dos espectadores? É preciso um olhar atento para entender o desenro-lar das ações e compreender a intenção de Argento com esta história, feita sob medida para os fãs do cinema místico.

Terror clássico de Argento exige amor ao místico para melhor compreensão

A Mansão do inferno (1980)Nota: 3 / 5 Título Original: InfernoDiretor: Dario ArgentoProduzido na Itália

O filme dirigido por Dario Argento, conhecido por sua influência no cinema de terror, é a se-

gunda parte da chamada “trilogia das mães bruxas” (que não chegou a ter uma continuação) que gira em torno da história das Três Mães Bruxas, Mater Suspiriorum, antagonista central do primeiro filme Suspíria (1977), Mater Tenebrarum e Mater Lacrima-rum.

Em Mansão do inferno, Rose Elliot, uma jovem poetisa que vive em Nova York, compra um livro antigo intitulado “As Três Mães”, escrito por um ar-quiteto e alquimista chamado Varelli, relatando seu encontro com as três mães do inferno. Ele construiu uma casa para cada uma delas, uma em Friburgo, outra em Roma e a terceira em Nova York.

Após ler o livro, Rose fica extremamente pertur-bada e acha que reside na casa da terceira bruxa, decidindo investigar tudo ao seu redor. Desespe-rada, ela escreve uma carta para seu irmão, Mark, que estuda música em Roma, pedindo que venha a Nova York ajudá-la. Após uma série de aconteci-mentos, Mark enfim lê a carta e decide viajar para ver sua irmã.

Argento se utiliza de vários elementos clássicos do gênero, como luzes que se ascendem e apagam misteriosamente, janelas que se movimentam com o vento, gatos assustando os personagens, porões escuros e medonhos, a típica trilha sonora para criar uma atmosfera de suspense, com a música aumen-

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A Mansão do Inferno

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Obra de Spike Jonze trazmagia da infância parapessoas de todas as idades

Onde vivem os monstros (2009)Nota: 4 / 5 Título Original: Where the wild things areDiretor: Spike JonzeProduzido nos Estados Unidos

P ara comentar sobre esse filme é preciso salien-tar ainda no início: trata-se de uma produção

criada com sensibilidade do primeiro minuto até o último, é preciso estar apto a sentir para captar toda a subjetividade magnífica que Spike Jonze coloca nas entrelinhas dessa obra moderna da sétima arte.

Onde vivem os monstros foi adaptado do livro Where the wild things are, escrito e ilustrado por Maurice Sendrak, em 1963. Maurice foi um mestre de histórias infantis, trouxe em seus livros uma mis-tura de magia e realidade que ajuda imensuravel-mente na sustentação de qualquer imaginação. Em entrevista a Spike para um documentário, ele diz:

“Eu acho que o que eu ofereci foi diferente, não porque eu desenhei ou escrevi melhor que os ou-tros, mas porque eu fui mais honesto que os outros, e sobre as crianças e a vida das crianças, e as fanta-sias das crianças, e a linguagem das crianças, eu dis-se tudo o que eu queria, porque eu não acredito em crianças. Eu não acredito em infância, não acredito que exista essa demarcação ‘Você não pode lhes di-zer isso! Você não pode lhes dizer aquilo!’, você diz a eles tudo o que quiser. Apenas diga, se for verdade.”

No filme, Max é um menino de 9 anos, que após contrariar sua mãe com uma crise de ciúmes e tei-mosia resolve seguir seus instintos selvagens e fugir à procura de uma nova realidade, ele acaba atingin-do seu objetivo quando chega em uma terra habita-da por monstros enormes e peludos que o tornam

rei.A adaptação conta com a direção de Spike Jon-

ze e do romancista Dave Eggers, no elenco atores como James Gandolfini e Paul Dano dão a origina-lidade encontrada nas vozes dos monstros, e Max Records atua como Max, o protagonista da história. A trilha sonora fica por conta de Karen O, que com-pôs canções exclusivas para o filme e contou com a ajuda de crianças, dando origem a uma trilha perfei-tamente adequada que colabora na imensidão de sentimentos transmitida pelo longa.

Jonze nos coloca dentro dessa história e nos faz ver que esses monstros não passam de meras re-presentações do nosso psicológico, é interessante notar como cada monstro apresenta alguma rela-ção com nosso protagonista, seja em seu lado soli-tário, ou em sua vontade de chamar atenção. Cada cena do filme carrega um forte conteúdo emocio-nal apoiado pela trilha e pela fotografia, é uma obra que merece destaque e valor no meio de tantas ou-tras histórias superficiais.

Me aproveito da inexistente demarcação da in-fância citada por Maurice para comentar que esse filme pode agradar as mais variáveis idades pois vai além de conceitos jogados pela tela, é um grande representante do principal princípio do cinema, que é fazer sentir.

Defino esse filme com o título dado à uma músi-ca da trilha; em Onde vivem os monstros, All Is Love.

ESTREIAS & ANÁLISESPor Barbara Godoy

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ESTREIAS & ANÁLISES

A trama se desenvolve através de fatos relacionados à vida de Yves Saint-Laurent, um estilista que fez história na alta costura franc-

esa entre os anos de 1967 e 1976. Além de sua criatividade, fotografias e entrevistas polêmicas, o filme retrata sua vida pessoal por meio de suas relações amorosas, com o marido e empresário Pierre Berger (Jérémie Renier), os casos extra-conjugais, e sua estreita relação com o álcool e as drogas.

O filme representa mais uma obra prima do diretor Richard Lin-klater, que possui enorme facilidade em retratar sobre a vida em

suas produções. Em Boyhood as gravações foram realizadas durante 12 anos, acompanhando a vida de um garoto (Ellar Coltrane) de sua infância até sua juventude. Considerado um dos melhores filmes do ano, Boyhood trata-se de uma obra sensível e simples sobre as imposições da vida.

A pós a terra se tornar um lugar inabitável, um grupo de astronau-tas recebe a ordem de verificar planetas para a possível migração

da população mundial. O astronauta Cooper (Matthew McConaughey) é escolhido para liderar o grupo e segue em busca de uma nova casa, até encontrar um buraco negro que é capaz de proporcionar viagens através do tempo e do espaço, além de outras dimensões.

O s personagens desse filme são vítimas da realidade imprevisível e ficarão a um passo da linha divisória entre civilização e caos. Os

motivos dos impulsos que os incitam a perder o controle encontram-se em uma traição amorosa, um retorno ao passado, uma tragédia e a violên-cia de um pequeno ocorrido no cotidiano.

Saint Laurent (2014)

Por Barbara Godoy

Boyhood (2014)

Interstellar (2014)

Relatos Selvagens (2014)

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