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JA228 Jornal Arquitectos /// Publicação Trimestral da Ordem dos Arquitectos /// Portugal /// 228 /// Julho – Setembro 2007 /// € 10,00 ISSN-0870-1504 9 7 7 0 8 7 0 1 5 0 0 0 6 0 0 2 2 8

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PÚBLICO

EDITORIAL

CRÍTICA

DOSSIER

PERSONA

VÍRUS

PROJECTO

BIOS

ABSTRACTS

002

018 Comunidades fechadas, cidades moribundas Carlos Vasques

022 Limite público Leonor Cintra

024 Não é uma escola como outra qualquer: novos equipamentos escolares em São PauloAna Vaz Milheiro

030 Barcelona, espaço público Bet Cantallops

032 O Mundo num centro comercial Margaret Crawford

038 Sonhadores José Adrião

044 André Príncipe

050 Gonçalo Byrneconversa com José Adrião e Ricardo Carvalho

065 Marta Galvão Lucaseditora

082 Torre “Phare”, Paris Morphosis

086 Intervenção no Espaço Urbano de Montemor-o-VelhoMiguel Figueira

090 Teatro Municipal da GuardaCarlos Veloso

094 Mercado Público da Comenda, GaviãoTelmo Cruz, Maximina Almeida, Pedro Soares

098 Centro de Ciência Viva, BragançaGiullia de Appolonia

102 Cromeleque de Xerez, Monsaraz Daniel Monteiro

106 Parque Camillo Tarello, BresciaJoão Gomes da Silva, Teresa Figueiredo Marques, Jacopo Pellegrini, Inês Lobo

110

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JORNAL ARQUITECTOS – PUBLICAÇÃO TRIMESTRAL DA ORDEM DOS ARQUITECTOS. PORTUGAL

Presidente da Ordem dos Arquitectos: Manuel Vicente Director: José Adrião Sub-Director: Ricardo CarvalhoEditor Principal: Pedro Cortesão Monteiro Editora de Projecto: Joana Vilhena Projecto gráfico: Pedro Falcão Edição de fotografia: Daniel Malhão Conselho Editorial: Ana Tostões, Inês Lobo, Francisco Aires Mateus, João Belo Rodeia, Jorge Carvalho, Manuel Aires Mateus, Nuno Grande, Ricardo Bak Gordon Secretário de Redacção:Tiago Lança Colaboraram neste número: Ana Vaz Milheiro, André Príncipe, Bet Cantallops, Carlos García Vázquez, Carlos Veloso, Daniel Monteiro, Giulia de Appolonia, Gonçalo Byrne, João Gomes da Silva / Jacopo Pellegrini / TeresaFigueiredo / Inês Lobo, José Adrião, Leonor Cintra Gomes, Margaret Crawford, Marte Galvão Lucas, Miguel Figueira,Morphosis, Telmo Cruz / Maximina Almeida / Pedro Soares

Traduções: Language at Work, Lda Marketing e Publicidade: Maria Miguel e Sofia Marques Revisões: José Sousa Tipo de letra: FTF Flama Impressão: Gráfica Maiadouro, SA. Rua Padre Luís Campos, 686, Vermoim, Apartado 1006,4471-909 Maia Distribuição Comercial: Caleidoscópio – Edição e Artes Gráficas, SA. Rua de Estrasburgo, 26, R/c Dto,2605-756 Casal de Cambra Tiragem: 13400 Redacção e administração: Edifício dos Banhos de São Paulo, Travessa doCarvalho, 21/23, 1249-003 Lisboa Tel.+351213241110 Fax+351213241101 // [email protected]// www.ordemdosarquitectos.pt Depósito legal: 27.626/89 ISSN: 0870-1504 Registo ICS: 108.271 (Jornal Arquitectos)Propriedade: Ordem dos Arquitectos – Centro Editor Livreiro da OA NIPC: 500802025

Fotografia da capa e do editorial: Daniel Malhão

O Jornal Arquitectos foi distinguido com o Merit Award na categoria de Magazine Layout nos European Design Awards de 2007. www.ed-awards.com

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O domínio do “público” nunca conheceu como hoje uma ambiguidade relativa à sua delimitação eidentificação colectiva. A falência do espaço público na cidade contemporânea gerou mercado pa-ra a proliferação de condomínios fechados, privatizando aquilo que sempre foi considerado públi-co, a rua. O centro comercial e a televisão acabaram por esboroar ainda mais o já frágil dualismopúblico/privado.

Os espaços de uso público em Portugal têm hoje dois tipos de génese: ou são promovidos porinstituições públicas ou pela iniciativa privada, esta última sempre associada ao consumo. No pri-meiro caso as instituições procuram (ou são constrangidas a) construir lugares de pertença – porvezes com sucesso, por vezes reféns de modelos desadequados associados a uma ideia de pro-gresso. Mas o resultado da acção pública deveria ser, sempre, a produção de espaço onde as popu-lações pudessem construir bases mais sólidas de cidadania.

Da iniciativa privada resulta uma dinâmica e vitalidade de espaços percebidos por muitos comode uso público. Estes têm como base estratégias bem sucedidas e com uma enorme adesão porparte das populações, desde que se assumam como consumidores – daí a associação às activida-des lúdicas e recreativas que se generalizaram na sociedade actual em espaços privados. O núme-ro de hipermercados e centros comerciais construídos nas últimas décadas comprovam que estesprogramas estão numa fase de crescimento. Em poucas décadas as zonas comerciais das cidades(os seus centros) esvaziaram-se e os espaços privados de consumo popularizaram-se. Os antigosutilizadores dos mercados e das feiras, das zonas periféricas das cidades principais e das zonas decontacto entre o campo e as áreas urbanas, mudaram de hábitos de consumo e, com o mesmo estí-mulo, aderiram às grandes superfícies cobertas. Os valores publicitados anunciam vantagens co-mo a diversidade, o conforto, a limpeza, abundância e a segurança.

Hoje assistimos a um fenómeno de reacção nos centros das cidades tradicionais. Confrontadascom a decadência e o abandono sucessivo, as instituições públicas procuram adequar os seus es-paços públicos a programas em tudo semelhantes às estratégias testadas nos centros de consumoprivados. Assim tornou-se recorrente a colocação de câmaras de vigilância nas principais artériasdas cidades, a pedonalização de ruas, o estabelecimento de novos horários de funcionamento,mais compatíveis com as actividades diárias dos consumidores, e operações de marketing sobreas vantagens do regresso à cidade.

Quais são as implicações sociais destes fenómenos? Neste JA abordam-se questões em torno dadicotomia público/privado, incluindo projectos que assumem o público como a sua génese, recupe-rando um alerta lançado em 1992 por Michael Sorkin: “Nos espaços “públicos” dos parques temáti-cos ou dos centros comerciais o discurso fica restringido: na Disneylandia não há manifestações. O esforço por recuperar a cidade é a luta da própria democracia”. José Adrião + Ricardo Carvalho

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CARLOS GARCÍA VÁZQUEZ

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Comunidades fechadas, cidades moribundasO fenómeno das comunidades fechadas é perfeitamenteenquadrável do ponto de vista temporal e relativamentelocalizado do ponto de vista geográfico. Começaram a difundir-se na década de 80, associadas a uma transfor-mação do paradigma económico e social decorrente dachegada do tardo-capitalismo. Nesse momento circuns-creviam-se aos Estados Unidos, mas durante a última dé-cada disseminaram-se por todo o mundo, especialmentea América do Sul.São três as origens, diferentes mas inter-relacionadas, que alimentam este fenómeno: a obsessãopela segurança, o aparecimento de uma nova geração desubúrbios e a desregulamentação urbanística.

A obsessão pela segurança.A globalização introduziu no ocidente uma polarização

social desconhecida desde o final da Segunda Guerra Mun-dial. Muitos são os dados que validam esta constatação,que é especialmente evidente nos Estados Unidos: entre1968 e 1998 a proporção de pobres neste país passou de12,5 por cento da população para 14 por cento; quase umterço dos cidadãos negros e hispânicos vive abaixo do limi-te da pobreza; os vencimentos de 1/5 dos habitantes supe-ram os dos outros 4/5.

Segundo Saskia Sassen1, a polarização social é intrínse-ca à nova ordem tardo-capitalista, onde os trabalhos debaixo nível salarial são fundamentais ao crescimento eco-nómico. Este converte a pobreza, não como ocorria ante-riormente, em sintoma de decadência urbana, mas em algo complementar ao desenvolvimento. À crescente desi-gualdade económica soma-se ainda a diversidade racialderivada da imigração.

Pobreza e exclusão confluem para o reduzido âmbitoespacial das cidades, onde se vêem obrigados a conviveros dois extremos do arco social, além das minorias racial-mente marginalizadas. Uma combinação explosiva que fezdisparar a violência urbana. Em cidades cujo funcionamen-to está sustentado na coexistência de grupos humanosmuito distintos, mas unidos entre si por laços sociais mui-to débeis, a irrupção do conflito é inevitável. Os guetos, ra-ciais e económicos, transformam-se em zonas selvagens,zonas que alimentam os medos, fobias e inseguranças daclasse média.

O resultado de tudo isto foi o aumento da obsessão pelasegurança, do desejo de controlar a ameaça do desconhe-cido eliminando qualquer tipo de contacto com “o outro”.A fórmula: recolher-se em recintos urbanos fechados e au-todefendidos, recintos protegidos por muros, barreiras, se-guranças e sofisticados sistemas de detecção electrónica.

A última geração de subúrbiosA última geração de subúrbios é conhecida como “edge

cities”. Alguém as definiu como a maior descoberta do ur-banismo norte-americano desde 19802. Outros acreditamque se trata da principal transformação na forma de fazer

cidades que se operou nos Estados Unidos nos últimos sé-culos. Quem assim pensa é Joel Garreau3, inventor destetermo traduzível como “cidade de periferia”. Garreau justi-ficava-o porque as “edge cities” assumem todas as funçõesde uma cidade, ainda que o façam longe do centro, em luga-res onde há 30 anos somente existiam aldeias e fazendas.

As suas características formais e funcionais diferemtanto das dos subúrbios tradicionais, que alguns autorespreferem olhá-las como um fenómeno diferente. Em con-traste com o subúrbio dos anos 60, a “edge city” é uma entidade urbana funcionalmente autónoma, que integraresidências, escritórios, espaços comerciais e zonas de la-zer. Responde aos requisitos do tardo-capitalismo, já queserve como sede a empresas de ponta, a quem oferecemuitas vantagens: solo mais barato, segurança, boasacessibilidades, equipamento tecnológico avançado e, oque é o principal, uma elevada qualidade de vida para osseus empregados e dirigentes.

Efectivamente, estes encontram aí envolventes de altovalor ambiental onde podem, não só trabalhar, mas tam-bém residir. Termina-se assim com o pesadelo dos engarra-famentos de tráfego quotidianos associados à pendularida-de que rege o modelo urbano centro-subúrbio (numa “edgecity” ninguém reside a mais de 30 quilómetros – 45 minu-tos em automóvel do seu emprego, a que acede através devias rápidas não congestionadas). A isto se adicionam osespectaculares centros comerciais, fantásticas instala-ções desportivas, selectos clubes de golfe, magníficos co-légios e inclusivamente universidades elitistas. Tudo numaenvolvente de altíssima qualidade ambiental e estética, jáque as tácticas de concepção das “edge cities” se centramno atractivo físico. O seu modelo é o “campus” universitárioamericano. A rede viária deve estruturar-se segundo umserpenteante eixo viário principal de onde partem ruas se-cundárias que serpenteiam igualmente dentro dos diversosbairros, habitualmente denominados “villages”. As parcelasresidenciais são enormes e normalmente só destinadas ahabitações unifamiliares isoladas. O centro espacial e co-munitário deve ser ocupado com um ou vários “shoppingmalls” de última geração, ou seja, espaços interiores arti-culados por ruas e praças cobertas, mas de inspiração mui-to urbana: cheias de cafetarias, quiosques, jogos infantis,fontes... além de árvores e plantas permanentemente flori-das. Limitando tudo isto existe uma infinidade de lojas reta-lhistas que apresentam as melhores marcas internacio-nais. Perante a inexistência de praças e alamedas, os hiper-vigilados “shopping malls” convertem-se no verdadeiro eúnico espaço público das comunidades fechadas.

A desregulamentação urbanísticaHistoricamente, a definição física da cidade americana

sempre esteve de mãos dadas com o mercado. O historia-dor Sam Bass Warner descrevia-a da seguinte forma: “Natradição americana o principal propósito do cidadão é a

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busca pessoal do benefício; o objectivo de uma cidade éconverter-se numa comunidade de ‘money-makers’. (...)desde os meados do século XIX os êxitos e fracassos dascidades americanas dependeram de consequências de al-terações de mercado não previstas, da sua capacidade pa-ra dividir o solo, construir casas, armazéns e fábricas; assuas necessidades de serviços públicos determinaram aforma e a qualidade das metrópoles americanas. O que omercado não podia executar bem, as cidades americanasnão executaram bem; o que o mercado fez mal ou abando-nou é algo que as nossas cidades foram incapazes de su-perar”4. Isto explica que muitas delas, sobretudo nos esta-dos do sul, não estejam dotadas de algum instrumento ur-banístico que regule o seu crescimento. Este estáliteralmente nas mãos do mercado.

Paradoxalmente, este facto gera uma imprevisão do fu-turo que põe nervosos os promotores e proprietários, ouseja, o próprio mercado. Nestas cidades radicalmente des-regulamentadas, os valores imobiliários estão por um fio.O descontrolo estético, a implantação de usos não deseja-dos, a chegada de residentes não “adequados” ou, simples-mente, a degradação ambiental que deriva da inexistênciade poderes públicos, preocupam muito especialmente osque têm propriedades nas zonas residenciais, comerciais eterciárias mais exclusivas, zonas onde o estabelecimentode uma oficina de reparação de veículos, de um clube noc-turno ou de um bloco de habitação social pode ser catas-trófica. A inexistência de “zoning” (a figura urbanísticamais habitual nos Estados Unidos) torna possíveis todosestes cenários.

O dilema é: como conciliar os sacrossantos ditamesneoliberais com os benefícios que advêm da prática urba-nística (basicamente, assegurar a estabilidade futura deinversões imobiliárias)? A resposta está nos “convéniosprivados” ou “Covenants Conditions and Restrictions”(CC&R), regulamentos de tipo urbanístico que os promoto-res introduzem nas escrituras de compra-venda de lotesdas suas urbanizações mais luxuosas. Desta forma ofere-cem aos proprietários segurança sobre o futuro dos terre-nos adjacentes ao seu.

O número e tipo de restrições que estabelecem os CC&Rvaria, mas deve cumprir-se uma máxima: são mais e maisestritas quanto mais cara for a urbanização. Em muitasocasiões prescrevem estilos arquitectónicos obrigatórios5,materiais de construção, cores, tipos de gradeamento...Noscasos mais extravagantes chegou-se a proibir o parquea-mento de veículos todo-o-terreno na rua, aulas de música,infantários, aluguer de habitações; definiu-se o tipo de ve-getação passível de ser plantada no jardim, a dimensão dasbandeiras que podem ondular nos alpendres de entrada,quantos animais domésticos e que tamanho podem ter, sese admitem crianças ou a idade mínima dos residentes6.

Georges Greanias7, político do Partido Democrata e can-didato à presidência do município de Houston, qualificou osconvénios privados com “planeamento na sombra”. Supõeque os instrumentos urbanísticos tradicionais (direito de ex-propriação, zonificação funcional, estabelecimento de re-gras), ou seja, tudo o que está vedado à determinação da ad-ministração pública, passou para as mãos dos promotores.

As comunidades fechadasObsessão pela segurança, “edge cities” e desregula-

mentação... como dizíamos, as três origens do fenómenodas comunidades fechadas. O que os fez confluir foi uma

reivindicação das “Home Owners Associations”, associa-ções de proprietários que queriam defender a paz (e altarentabilidade) das suas exclusivas zonas residenciais,frente aos “perigos” que as rodeavam. A sua principal rei-vindicação era conseguir que as autoridades as declaras-sem “community”, um estatuto que, segundo a legislaçãonorte-americana, lhes permite autogerir-se, ou seja, tor-nar-se independente do município a que pertencem.

Desta forma irromperam as “comunidades fechadas”,enclaves suburbanos concebidos para os sectores maisafortunados do arco social contemporâneo. Caracterizam-se por se excluírem do resto da cidade através de muros eexaustivos controlos de acesso; e porque os seus serviçose espaços públicos estão consagrados ao uso exclusivodos seus acomodados residentes.

Apesar de serem entidades jurídicas independentes, ascomunidades fechadas contam com todos os serviços deuma cidade convencional: política privada, bombeiros, re-colha de resíduos sólidos... Quem organiza tudo isto? Umavez mais as associações de proprietários, organizações pri-vadas que Joe Garreau não hesitou em classificar como“aberrantes governos na sombra”8. Acumulam poderesquase ilimitados: impõem taxas, dirimem disputas, ofere-cem protecção policial, providenciam serviços de saúde,constroem estradas, encarregam-se do transporte público,editam jornais, recolhem resíduos sólidos, abastecem deágua e electricidade, determinam regras estéticas... e ofe-recem os melhores serviços sociais dos Estados Unidos.

O seu poder conhece poucos limites e os abusos e inva-sões dos universos de decisão pessoal não são nada inco-muns. Graças aos convénios privados, as associações deproprietários podem, por exemplo, proibir a construção deuma sinagoga ou determinar que tipo de pessoas pode re-sidir na comunidade. A imoralidade subjacente a este tipode decisões aumenta quando se examina a mais que discu-tível legitimidade em que assentam as associações de pro-prietários. Raramente os seus membros são eleitos demo-craticamente, e quando o são não prima a regra “um ho-mem, um voto”, sendo este proporcional à dimensão dapropriedade que representa. Ou seja, uma casa de 100m2

de superfície, um voto, uma casa de 500m2, cinco votos”...Os órgãos legislativos norte-americanos apoiam as de-

cisões das associações de proprietários perante as queixasdos particulares que tenham ousado fazer-lhes frente, jáque entendem que ao assinar o convénio privado renuncia-ram à sua liberdade e privacidade (tudo em prol da segu-rança e ordem). Nos últimos anos, as únicas regulamenta-ções de comunidades fechadas anuladas pelos tribunaisforam as que pretendiam impor algum tipo de segregaçãoracial, religiosa ou por orientação sexual, expressamenteproibido pela Constituição dos Estados Unidos.

Cidades condenadasA expansão acelerada do fenómeno das comunidades

fechadas está a afectar gravemente as cidades norte-americanas, cujas bases sociais e formais em que histori-camente assentavam se estão a desgastar.

Efectivamente, se os habitantes da cidade tradicionalconfiguravam um “continuum” social onde pessoas declasses e condições muito distintas partilhavam um mes-mo espaço urbano, as comunidades fechadas caracteri-zam-se por filtrar a sociedade para seleccionar e segregardo restante os segmentos mais afortunados. E fá-lo numduplo sentido, já que, como denuncia Mike Davis9, nos Es-

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21Comunidades fechadas, cidades moribundas / Carlos García Vázquez

tados Unidos “community” significa homogeneidade sociale racial dissimulada da classe media alta e branca.

Homogeneidade social porque, como já vimos, aos pro-motores das comunidades fechadas só interessam as eli-tes do mercado laboral, a quem tentam atrair favorecendoa instalação de corporações de alto nível tecnológico, en-quanto afastam as empresas mais convencionais (que tra-riam classe média tradicional) e proíbem a instalação deindústrias (que atrairiam operários). Homogeneidade ra-cial porque as “communities” favorecem a segregação.Neste sentido, a sua história está marcada de escândalos.Em 1926, a River Oaks Corporation introduziu nos CC&Rda elegante zona de River Oaks (Houston) regulamenta-ções que estabeleciam a obrigação de construir residên-cias unifamiliares, isoladas... e só para brancos. Estiveramem vigor até 1955, quando foram declaradas ilegais. Pre-sentemente, a segregação racial existe de forma igual-mente contundente, mas procurando não entrar em confli-to com a legislação norte-americana. Um dos escândalosmais ruidosos das últimas décadas aconteceu nos conda-dos do norte de Atlanta, os mais conservadores e próspe-ros dos Estados Unidos. As “communities” de Cobb Countyrecusaram a entrada nos seus territórios das linhas demetro que haviam de ligá-las ao centro e sul da cidade (on-de habita a população negra). Concretamente, numa co-munidade fechada, “o outro” não existe: todos partilhamraça, credo e “status” social.

Mas, como comentávamos, estas também estão a criaruma crise na base formal sobre que assentava a cidade tra-dicional, já que está a acabar com a continuidade física dostecidos urbanos. Os espaços verdes, estacionamentos, edemais serviços públicos das comunidades fechadas sãosegregados do resto a cidade e consagrados ao uso exclusi-vo dos seus acomodados residentes. O território marca-sede forma muito expressiva, às vezes com estratégias para-militares: muros, barreiras, câmaras, postos de vigilância...inclusivamente fossos. A preocupação de segurança che-gou a tais extremos que se pode falar de um processo de“bunkerização” e “fortificação” da cidade. É o que Mike Da-vis10 qualificou como a “militarização do espaço urbano”.

Por isto, a continuidade da trama ortogonal de muitascidades norte-americanas está em dissolução para setransformar em agregação de sectores edificados interre-lacionados por paisagens ambíguas de coesão débil, cam-

pos de indeterminação. Estes últimos têm um papel funda-mental. Lars Larup denominou estas zonas que separamas comunidades fechadas de “paisagem intermédia”, umlugar incompleto, um espaço “in-between” difícil deapreender, difícil de descrever11. Neles se percebe a enra-recida sensação psicológica que, em grande parte, é res-ponsável pela permanente sensação de insegurança queinvade os habitantes de cidades como Houston e Atlanta.Nestas entrezonas parecem concentrar-se as ameaças, oque liberta a irracional lógica do medo. Ele é enormementeprodutivo para os promotores das comunidades fechadas,já que serve para colocar em evidência os valores dos seusprodutos imobiliários. A organização, o controlo e a segu-rança das “communities” brilham com mais intensidadesobre o escuro fundo do caos, a hostilidade e a violênciadas paisagens intermédias. Disto, do medo urbano da clas-se média branca norte-americana deriva a obsessão pelasegurança, o que generaliza a reclamação pela segrega-ção social e étnica. As pessoas não querem viver em teci-dos contínuos, mas em tramas fragmentadas em comuni-dades fechadas. O medo, portanto, como factor de rentabi-lidade imobiliária.

O resultado de tudo isto é o que Davis denominou “o ar-quipélago carcerário”, ou seja, a transformação do espaçourbano numa sucessão de ilhas fortificadas, num territóriofragmentado em infinidade de enclaves muralhados. Amutação genética que as comunidades fechadas estão aintroduzir nas bases social e formal das cidades significa,em certo modo, a renúncia ao “urbano”, que teria deixadode ser uma condição “sine qua non” para a existência da ci-dade. Esta fica assim definitivamente condenada. ^

01 SASSEN, Saskia The Global City. New York, London, Tokyo, Princeton, Princeton University Press, 1991, p. 10.

02 SUDJIC, Dejan: The 100 mile city, Orlando, Harcourt Brace & Company, 1992, p. 116.03 GARREAU, Joel: Edge City. Life on the New Frontier, Nova Iorque, Doubleday, 1991.04 Em PERRY, David C. y WATKINS, Alfred J. (editores), The Rise of the Sunbelt Cities,

Beverly Hills-Londres, Sage Publications, 1977, p. 281.05 Em Beverlywood (Los Ángeles) decretaram-se três áreas residenciais associadas

a três estilos diferentes: “mediterrâneo”, “chateau” e “tudor”.06 Como ocorre nas urbanizações construídas pela empresa Leisure World, onde não

podem residir pessoas com idade inferior a 45 anos.07 GREANIAS, Georges: “Shadow Planning is the Way Houston works, for Good – and for

Bad”, Cite. The architecture and design review of Houston, No. 42, Houston, Rice Design Alliance, 1998.

08 Opus cit., pp. 179-208.09 DAVIS, Mike: ”Fortress Los Angeles: the Militarization of Urban Space”, Em: AA. VV.:

Variations on a Theme Park. The New American City and the End of Public Space, Nova Iorque, Hill and Wang, 1992, pp. 154-180.

10 Ibid., pp. 154-180.11 LARUP, Lars, After the City, Cambridge (Mass.), The MIT Press, 2000.

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22 Jornal Arquitectos / 228

LEONOR CINTRA GOMES

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Limite público1 — O arquitecto, nas diversas formas do exercício da pro-fissão, decide a linha que separa o privado do público.

– Ao projectar uma habitação, define as áreas mais ínti-mas, das áreas ditas sociais.

– Ao desenhar o alinhamento de um muro ou um planode fachada, define o que será espaço privado e o que seráespaço público.

– Ao propor a implantação de um edifício ou a sua orga-nização ao nível do solo, define o que será privado e o queserá público.

– Ao recuperar um edifício classificado ou ao projectarum equipamento, define as áreas de serviço e as áreas pú-blicas.

– Ao desenvolver uma operação de loteamento, defineos lotes e as áreas de cedência para o domínio público.

– Ao elaborar um plano, regulamenta a ocupação priva-da permitida e define os espaços públicos.

– Mesmo ao apreciar um projecto ou um plano, tambémdecide sobre a linha que separa o privado do público.

Esta constante, no exercício da profissão, é mais visívelquando se fala de desenho urbano, porquanto, a legislaçãoem vigor obriga a que se distinga claramente o solo priva-do do solo público.

2 — Vejamos então quais os modos, previstos nos diplo-mas legais vigentes, de fazer desenho urbano:

– quando a iniciativa é da administração, o plano de por-menor é o instrumento que “… desenvolve e concretiza pro-postas de organização espacial de qualquer área específicado território municipal, definindo com detalhe a concepçãoda forma de ocupação …” (artigo 90º do DL 380/99).

– quando a iniciativa é privada, apresentam-se, paraaprovação pela administração, projectos de operações deloteamento que são definidas como “as acções que tenhampor objecto ou por efeito a constituição de um ou mais lotesdestinados imediata ou subsequentemente à edificação ur-bana …” ( artigo 2º do DL 555/99).

De referir que, para uma análise mais completa destamatéria, poderiam ser consideradas outras variantes nes-te sistema, como sejam as divisões jurídicas de terrenosem empreendimentos turísticos, a figura de condomínio na gestão do espaço ou as parcerias público privadas co-mo promotores. Mas limitemo-nos às duas formas acimadescritas.

Sobre a elaboração dos ditos projectos e planos estátambém em vigor um diploma que estabelece os princípiosrelativos à definição das qualificações oficiais a exigir aosseus autores. Esta disposição, de 1995, estipula que, tantoos planos de pormenor como as operações de loteamento,devem ser elaborados por equipas multidisciplinares, mascuriosamente exige que os técnicos que elaborem planostenham experiência profissional efectiva de, pelo menos,três anos.

Dadas as semelhanças de conteúdos destes dois pro-cessos de construção do território, é de salientar esta par-ticular preocupação da administração na autoria dos ins-trumentos da sua responsabilidade.

Nesta sequência, e partindo do pressuposto que, naconcepção do desenho urbano de um plano de pormenor,promovido pela administração, está salvaguardado o inte-resse público, sendo privilegiada a implantação dos espa-ços destinados ao uso colectivo, parece oportuno avaliarcomo tem sido regulamentada a construção do território,quando promovida pelos particulares, tanto mais que, amaioria do solo urbanizável é privado.

De referir que muitas vezes se critica a forma comotem sido ocupado o território, culpando os promotores pri-vados, sem mencionar os meios que têm sido dados aosmunicípios para controlar a situação ou a inoperância daadministração no planeamento atempado.

Curiosamente, nos preâmbulos dos diplomas que, aolongo do tempo, regulam as urbanizações promovidas porparticulares, essa questão é focada.

3 — Data de 1965 o primeiro diploma regulamentador dasoperações de loteamento. Pretendia-se então desincenti-var as “urbanizações clandestinos”. À data, a preocupaçãoda administração, relativamente ao solo para domínio pú-blico, resumiu-se em salvaguardar área para o traçado darede viária, espaços livres e arborizados, parques de esta-cionamento e à cedência de terreno para equipamento ur-banístico.

Em 1973 esta situação foi revista com a publicação deum novo diploma. Este já menciona o interesse colectivo efoi completado com uma portaria que definiu, “atenta a ne-cessidade de salvaguardar o interesse público, promoven-do o seu justo equilíbrio com os interesses privados” (por-taria nº 678/73 de 9 de Outubro), a área mínima a ceder àscâmaras municipais para instalação de equipamentos.

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23Limite público

Nove anos depois, e face “… às transformações dos con-dicionalismos políticos e a superação da visão centraliza-dora …” do anterior regime, foi publicado um novo diploma.Verifica-se um alargamento do conceito de interesse pú-blico ao mencionarem-se valores patrimoniais e ambien-tais. Este novo diploma veio também obrigar à cedência deparcelas para outros usos (por ex.: áreas públicas livresenvolventes das edificações destinadas ao movimento e es-tar dos peões ou superfícies verdes para convívio) não osquantificando.

Em 1991, surge um novo diploma que visava sobretudosimplificar os procedimentos, clarificar competências dosvários níveis da administração e responsabilizar os demaisintervenientes no processo. Relativamente às áreas a ce-der foi publicado um diploma complementar que fixa osparâmetros para espaços verdes e de utilização colectiva,equipamentos de utilização colectiva, arruamentos e esta-cionamento por tipologias de ocupação, habitação, habita-ção/comércio/serviços, serviços e comércio ou indústria.

Finalmente em 1999 é publicado um novo diploma, quefoi objecto de uma alteração, em 2003, e está agora a serrevisto. No seu preâmbulo é por diversas vezes focado ointeresse público e o controlo da actividade dos particula-res pela administração. Este diploma também foi comple-

mentado, por uma portaria, fixando as áreas a prever paraimplantação de espaços verdes e de utilização colectiva,infra-estruturas viárias e equipamentos.

Desta resenha podemos concluir que a administraçãopública, desde 1965, permitiu que a iniciativa privada urba-nizasse o território, tendo procurado ao longo dos anos re-gulamentar e controlar a situação, em defesa do interessepúblico. Denota-se também, de uma leitura mais detalha-da dos diplomas, uma tentativa de simplificação dos pro-cedimentos, associada a uma maior responsabilização dospromotores e autores dos projectos, cabendo à adminis-tração um papel fiscalizador.

4 — Podemos constatar genericamente que a administra-ção, não dispondo de solo, não conseguiu competir com ainiciativa privada na urbanização do território, mas, simul-taneamente, tendo necessidade de resolver as questõesdo alojamento e de instalação de equipamentos, foi esta-belecendo princípios de convivência: o promotor privadopode urbanizar, mas terá que ceder ao domínio públicoáreas, bem estabelecidas nos diplomas vigentes.

Ora sabemos que os interesses privados, raramente, seadequam ao interesse público, e, a ocupação do território éfeita visando o seu melhor rendimento, privilegiando por-tanto as áreas a afectar à construção, deixando o remanes-cente para as autarquias. É frequente ver os terrenos commaior pendente serem destinados a equipamentos, os es-paços verdes serem o interior de rotundas ou os arruamen-tos terminarem em impasses nos limites das parcelas.

Esta situação, visível por todo o país, não tem por certocontribuído para um correcto ordenamento do território oupara a qualidade de vida das pessoas. Tratam-se, no en-tanto, de projectos de ocupação elaborados por equipasmultidisciplinares e sancionados pela administração, emque parece não ter sido defendido o interesse público.

Por curiosidade será de transcrever uma disposição doEstatuto da OA: “O arquitecto deve, no exercício da sua pro-fissão, pôr os seus conhecimentos e a sua criatividade aoserviço do interesse público, mantendo sempre e em quais-quer circunstâncias a maior independência e isenção”.

Neste contexto, e num momento em que estão em revi-são os regimes que regulam a ocupação do território, deiniciativa pública e privada, e os diplomas que definem asresponsabilidades de todos os intervenientes neste pro-cesso, parece-me oportuno reflectir sobre o interesse pú-blico e a definição do seu limite. ^

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Ultimamente… a escola não ensina, a igreja não catequiza,os partidos não politizam.

— Darcy Ribeiro, 1995

A alfabetização massiva das populações desfavorecidase urbanas, no Brasil, permanece uma questão urgente porresolver. O analfabetismo é “a imagem do subdesenvolvi-mento econômico e social”, escrutinado já nos anos 70 eapontado por João Vilanova Artigas (1970, 2004: 122).Já então se admitia que “a cidade de São Paulo estevesempre menos servida que as cidades do interior” circuns-crevendo o problema a uma geografia hiper-urbana (idem:130). Mas “alfabetizar não basta”. Para Artigas, o arqui-tecto moderno deveria empenhar-se na concepção dos es-paços de ensino, tornando a escola um problema discipli-nar. Este pensamento reflecte-se ainda hoje: dentro dacultura contemporânea, a educação mobiliza o seu ladomais “moderno”, assinalado pela direcção progressista quea modernidade imprimiu ao desenvolvimento do século XXe que no Brasil assumiu um significado fundador. Após adécada de 30, a arquitectura brasileira foi, com o pensa-mento de Lúcio Costa, projectada como uma base de apoioà construção de uma cultura nacional, o que equivale àmontagem de um projecto pedagógico em larga escala.Oscar Niemeyer apontou as linhas estruturantes dessa ar-quitectura e criou uma linguagem capaz de eclipsar a His-tória e de se transformar numa representação nacional.Estes factos, determinantes na construção de uma naçãoforte, justificam por um lado como o debate sobre a mo-dernidade se reveste ainda de importância vital e, por ou-tro, como persistem no país bolsas dinâmicas de produçãoarquitectónica com relevância internacional.

A produção paulista é claramente um desses focos.No seu centro, Paulo Mendes da Rocha e uma herança mo-derna que passa directamente por Vilanova Artigas, desa-parecido no início de 1985, mas também pelo posiciona-mento “pré-moderno” que o percurso de Lina Bo Bardi foiassumindo (cf. Wisnik, AAVV, 2006a: 180, nt 14).

Um passado anti-centro – de sublevação à cultura do-minante representada no plano nacional pelo Rio de Janei-ro – pode muito bem ajudar a caracterizar uma espécie demovimento de “autonomia intelectual” que tem sido culti-vado na região paulista.

“Como construíram os paulistas?... Dá-se que a condiçãode subdesenvolvimento, o mundo dos homens a alfabetizar,exige a recusa decidida de alguns caminhos já palmilhados.Em arquitetura há caminhos a recusar” (Artigas, idem: 124/131). Determina-se aqui a carga genética da chamada “Es-cola Paulista”, uma cultura de projecto aprofundada dentrode um sentido de “elementaridade”, formal e técnico, quetem sido, apesar de outras orientações locais, predominante.

São Paulo é, ao contrário do mito brasiliano de Pêro Vazde Caminha, um território nascido da “escassez”. “O motorque movia aqueles velhos paulistas era, essencialmente, apobreza da feitoria paulistana, mera vilazinha alçada no pla-nalto, a quatro dias de viagem do mar, que se alcançava difi-cultosamente através da selva e de águas tormentosas, subindo e descendo escarpadas morrarias” (Ribeiro, 1995:106). O que talvez explique porque, a partir deste território,se tenha formado a matriz da colonização quinhentista, san-guinária e cultora da “tábua rasa”; ou, ainda, que D. Pedro aítenha declarado independência em 1822. O café, a capaci-dade de investimento em novos meios de produção e a espe-cificidade de uma imigração centro-europeia e italiana dita-riam o futuro progressista da cidade e a sua potencialidadede atracção de novos fluxos migratórios que, com o final doséculo XX, se tornaram maioritariamente internos.

Dá-se, num espaço de cem anos, a invenção da metró-pole: “Essa metrópole se fez a partir das respostas con-cretas às urgências de um processo tardio, porém extre-mamente veloz, de industrialização” (AAVV, 2006b: 16).

Hoje São Paulo constitui um dos lugares míticos daAmérica. “Se chamamos de cidade selvagem, com íntimajustiça, sabemos que isto não impede que ela goze da re-putação de cidade mais civilizada do país e, digamos, comanáloga justiça” (Machado, 2002: 60). É este cenário para-doxal que se constitui como matéria de trabalho da arqui-tectura contemporânea de raiz moderna e laboratório parao seu partido mais social. “Um ambiente de construção eoutro de defesa” reflectem as dinâmicas transformadorasmais imediatas da face da metrópole (Lefèvre, AAVV,2004: 115). Trata-se do reconhecimento da existência deduas forças opostas na construção da cidade: o estado decarência das populações mais pobres e o sentimento de in-segurança das classes médias e altas. O primeiro geraria“solidariedade”, o último “segregação”. Acredita-se que aescola, na dupla face espaço/ensino, pode inverter estacondição. É aqui que a arquitectura contemporânea entra,constituindo “mais um passo em uma longa história de in-teração” com “educadores… para enfrentar a perversidadedo processo de urbanização” das cidades brasileiras(Anelli, 2004). Artigas tinha já situado historicamente:“Contar com a massa dos arquitetos paulistas para pro-gramas arquitetônicos que, como este, ... mostram de leveo porte das tarefas que o futuro nos propõe, é empregadoaté hoje” (idem: 130).

A arquitectura amplia a sua dimensão política ao agirnum campo estruturante como a educação. De modo a mi-nimizar a sua esfera de influência acaba por sofrer críticas(vindas de um universo não disciplinar): “Não é um prédioque resolve o problema” (José Aristodemo Pinotti, Secretá-rio de Estado da Educação do governo de José Serra, cit.

Não é uma escola como outra qualquer: novos equipamentos escolares em São Paulo

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Una Arquitetos (Cristiane Muniz, Fabio Valentim, Fernanda Barbara, Fernando Viegas), Escola Telêmaco Melges, Campinas, 2003

Vinicius Andrade e Marcelo Morettin, Escola Jornalista Roberto Marinho, Campinas, 2003-2004

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por C. Agostine, 29/11/2005). Reservas a um excessivo pe-so disciplinar na resolução de problemas sociais têm sidopronunciada dentro do círculo político, o mesmo que cir-cunstancialmente também exige respostas aos arquitectos.

No âmbito do programa escolar duas experiências fo-ram desencadeadas em São Paulo já no século XXI. OsCentros Educacionais Unificados (CEU), um projecto muni-cipal lançado durante a prefeitura de Marta Suplicy (2000-2004), ainda que idealizado antes, e o programa estadualda Fundação para o Desenvolvimento da Educação (FDE).Este organismo governamental, que coordena os serviçosde projecto, construção e manutenção dos edifícios esco-lares do estado paulista, existe desde 1987, tendo introdu-zido em 2003 alterações importantes no plano funcionalnas novas encomendas, incluindo a requisição de “quadrade esportes coberta” e salas de informática.

A implantação destes equipamentos privilegia os luga-res “marginais” e “favelados” das cidades: os CEU, respon-sabilidade do município, destinam-se às periferias de SãoPaulo; já as escolas da FDE cobrem o território estadual,disseminando-se um pouco pelas áreas problemáticas dascidades paulistas localizadas na envolvente próxima dacapital, como Campinas, Guarulhos ou Barueri. A cons-ciência de que “os prédios públicos são a face visível do Es-tado” (Lefèvre, Idem: 117) é determinante na mudança deorientação do poder político perante o investimento, quersocial como cultural, que caracteriza todo este processode intervenção. Persiste, contudo, uma forte dependênciados ciclos eleitorais. No passado este facto inviabilizouavaliações objectivas de projectos semelhantes.

Beneficiando de experiências anteriores, enraizadas nahistória moderna da cultura arquitectónica local, os CEU e

as escolas da FDE desafiam, como se afirmou antes, o ac-tual entendimento dos limites disciplinares, reencontran-do-se com as teses de Artigas. O recurso a uma arquitec-tura “elementar” consubstancia o seu lado mais visceral.No centro do debate, colocam a questão do programa e asua determinação na avaliação do desempenho arquitec-tónico. A discussão recua à década de 50. “A premissa pa-ra edifícios construídos em função de sedes escolares, àprimeira vista, parece transpor o problema arquitetônico,mas é pelo contrário a ele estritamente ligado”, escreve Lina Bo Bardi a partir de São Paulo, em 1951, para entãoconcluir: “Comecemos pelas escolas e sobretudo comece-mos pela arquitetura” (1951, 1993: 67).

Há portanto uma forte consciência de hereditariedade,decorrente dos espaços educacionais que o século XX pau-lista levantou, e cujo arranque foi assinalado pela passa-gem de Hélio Duarte na direcção da Comissão Executivado Convênio Escolar (1948-1952), que se pode descrevercomo um “protocolo” acordado entre Prefeitura e GovernoEstadual, destinado na época a resolver a falta de equipa-mentos educativos na cidade, detectada após o rápidocrescimento demográfico da década de 40. (cf. Anelli,Idem). Hélio Duarte transpôs para a arquitectura, primei-ro em Salvador e depois em São Paulo, os conceitos peda-gógicos do baiano Anísio Teixeira, ajudado por arquitectoscomo Eduardo Corona ou Roberto Tibau. Um pouco comoacontecerá, mais tarde, entre Darcy Ribeiro e Niemeyer, nacriação das escolas do programa CIEP (Centros Integra-dos de Educação Pública) montado pelo governador Leo-nel Brizola no estado do Rio de Janeiro e que hoje totali-zam 506 unidades (a primeira, que tomou o nome de Tan-credo Neves, foi inaugurada em 1985). Os CIEP foram

Núleo de Arquitetura (Luciano Margotto, Marcelo Ursini, Sérgio Salles), Escola Jardim Angêlica III, Guarulhos, 2004-2006

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27Não é uma escola como outra qualquer / Ana Vaz Milheiro

idealizados como um bloco arquitectura/programa peda-gógico, obedecendo a um projecto tipo, de grande escala,formado por três corpos autónomos: o edifício principal, osalão polivalente e a biblioteca. Recorrendo a um sistemade pré-fabricação (estrutura de betão armado) e com umprograma de intervenção social muito ambicioso, os CIEPtêm tido uma utilização intermitente, nem sempre relacio-nado com os objectivos iniciais do projecto, tendo sido ci-clicamente abandonados e retomados.

Experiências nacionais igualmente determinantes nocampo do desenho de componentes pré-fabricados serãoas desenvolvidas por Lelé (João Filgueiras Lima) em dife-rentes regiões do país, caso do Rio e de Salvador. O envol-vimento de artistas como Athos Bulcão no processo de de-senho é bastante revelador do propósito pedagógico quese estendia à participação das populações na própria cons-trução dos equipamentos públicos. Na capital baiana, du-rante a gestão do prefeito Mário Kertész, Lelé ajudaria aimplementar a Fábrica de Equipamentos Comunitários(FAEC), activa entre 1985 e 1989, que forneceu os compo-nentes construtivos para os programas “Creches Mais” e“Escolas em Argamassa Armada – FAEC”. A partir de1990, envolver-se-ia no projecto Centros Integrados deEnsino (CIAC), implantado a nível federal que pretendiaalcançar as 5.000 unidades (cf. Ekerman, 2005).

Os CEU são, pela escala e vocação comunitária, ondeparte do programa foi desenhado para uso da população –não exclusivamente estudantil –, o projecto que aparente-mente mais se aproxima da resposta que os CIEP tenta-ram oferecer nos anos 80. Reúnem ainda vários ciclos deensino, facto que contribui para a sua grande dimensão.

Uma forte carga ideológica assinalaria o arranque des-

te programa, incutindo à vertente “técnica” (aqui repre-sentada pela arquitectura) uma agilidade interpretada co-mo próxima da intervenção política. Concebidos por umaequipa de arquitectos do Departamento de Edificações daPrefeitura de São Paulo (EDIF), coordenada por AlexandreDelijaicov, André Takiya e Wanderley Ariza, enquanto “con-juntos de equipamentos urbanos sociais”, concentram-senuma proposta “universal”, um projecto padrão com capa-cidade de adaptação a diferentes implantações.

Cada unidade resulta da composição de três edifícios ti-po que incluem “equipamentos educacionais (CEI – centrode educação infantil, EMEF – escola municipal de educaçãofundamental e EJA – escola de jovens e adultos), culturais(Teatro, Biblioteca e Casa de Cultura), de Esporte e Lazer(balneário – conjunto aquático, Ginásio de Esportes e Par-que Esportivo – skate, quadras e campos de futebol), equi-pamentos do governo de inclusão digital (Telecentro) e Pa-daria-Escola” (Delijaicov, Takiya, Ariza, 2004: 88). A opçãopela pré-fabricação garante um nível de eficácia e celeri-dade na resposta. Dos 45 conjuntos previstos, 21 estavamconcluídos em 2004. Com esta operação, pretendeu-setambém aumentar a rede de equipamentos comunitários(caso da padaria), desportivos e culturais. Como exemplo,note-se que em São Paulo a rede pública de espaços paraartes cénicas, anterior à construção da primeira fase doprojecto, se resumia a nove unidades. Com a sua conclu-são, a cidade passou a contar com 30 teatros municipais.

O conceito assenta em três pilares que Alexandre Deli-jaicov tem descrito como “arquitectura do programa, dolugar, e da construção” (Almada: 11º Congresso dos Arqui-tectos Portugueses, 24/11/2006). A transformação do lu-gar inicia-se com as decisões que norteiam a implantação

MMBB Arquitetos (Fernando De Mello Franco, Marta Moreira, Milton Braga), Escola do FDE Campinas F1, 2003

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de cada CEU que, pela necessidade de áreas extensas emregiões de elevada densidade, adquire uma forte presençaaté pela “abertura” de um vazio – e consequente criaçãode um espaço “público”. A imposição – através da arquitec-tura – de uma ordem a territórios de ocupação precária enão infra-estruturada confere um sentido urbano ao lugar.A excepcionalidade do conjunto é popularmente reconhe-cida, não somente pela qualidade dos serviços disponibili-zados às populações, mas pela marca visível da arquitec-tura. Há uma estratégia no desenho: abstracção, repetiçãoe monumentalidade são aqui factores determinantes. “Nãoé uma escola como outra qualquer”, testemunha umautente do CEU Alvarenga (Rosângela Aparecida, cit. por C.Agostine, 29/11/2005). Pensado como um espaço aberto,de “participação comunitária”, o seu êxito social continua adepender da qualidade das actividades programadas. Já aresposta da arquitectura pode ser aferida pelas proprieda-des de apropriação que estes complexos têm e por possuiruma identidade iconográfica reconhecível: “Em outras es-colas era tudo feio, abafado... Aqui é muito bom e todas asescolas deveriam ser assim” (Isabel da Silva, estudantedo CEU Vila Atlântica, cit. por C. Agostine, 29/11/2005).Um pouco como definira Lina Bo Bardi em 50s: “Aquele arde ‘não severidade’, é o primeiro passo para a abolição debarreiras” (idem). Os CEU integram hoje, por direito pró-prio, a paisagem da região metropolitana paulista.

As novas unidades da FDE revelam um posicionamento(oficial) distinto face ao papel do edifício escolar na comu-nidade, traduzido por uma escala de ocupação mais próxi-ma das respectivas envolventes. Trata-se de escolas demenores dimensões, destinadas a um só ciclo de ensino eocupando lotes incomparavelmente mais reduzidos que osCEU. Tomam, no entanto, o seu exemplo social ao justifica-rem a inclusão de novas valências programáticas como“ambientes que ampliam as funções do prédio e incenti-vam sua utilização” pelas populações em períodos não lec-tivos (Ferreira, Mello, 2005: 21). A aposta na especificida-de de cada projecto – que é uma aposta política, com re-percussões na prática da arquitectura – faz das escolas daFDE laboratórios de soluções formais, apesar das restri-ções tecnológicas e programáticas, revelando posiciona-mentos diferentes dentro da cultura arquitectónica paulis-ta contemporânea. Nesse sentido, compõem um conjuntode respostas traçadas num campo claramente disciplinar,neutralizando a face mais “política” de outras experiênciasa que o país assistiu durante o século XX.

O processo iniciou-se com quatro escolas realizadasentre 2003 e 2004 em Campinas, envolvendo escritóriossedeados em São Paulo: MMBB (Fernando de Mello Fran-co, Marta Moreira, Milton Braga), Una Arquitetos (Cristia-ne Muniz, Fábio Valentim, Fernanda Barbara, FernanandoViegas), Andrade/Morettin (Vinícius Andrade, Marcelo Mo-rettin) e a dupla André Vainer e Guilherme Paoliello. Foisolicitado às equipas o desenvolvimento de um sistemaconstrutivo de componentes pré-fabricados de betão e co-bertura metálica que pudesse servir de protótipo para fu-turas propostas, constituindo um quadro de referênciasconstrutivas, mediante “as especificações da estrutura, osdetalhes genéricos, as modulações e dimensionamentos”(Ferreira, Mello, idem: 28). Os materiais e o caderno de en-cargos foram estabelecidos pela FDE, estendendo-se a to-das os projectos, que obedeceram a requisitos programáti-cos normalizados. Um elemento, porém, haveria de ser de-terminante: a exigência de um campo desportivo cobertoacabaria por estabelecer a volumetria dos edifícios e assuas variações ajudaram a fixar diferentes espacialidades.Como esclarece Mirela Geiger de Mello, membro da equipada FDE responsável pelo programa, o que “surpreende écomo peças idênticas, com parâmetros fechados e amar-rados, deram projectos tão variados” (depoimento,18/06/2007). Realizaram-se até ao momento 100 projec-tos, envolvendo 75 equipas de arquitectos. 35 escolas fo-ram entretanto construídas, 15 encontram-se em estalei-ro, e o programa está a ser reavaliado.

É no recurso generalizado à pré-fabricação que se ma-nifesta o partido “elementar” da tradição paulista, agoraprojectado para fora da cultura local e tratado dentro deum entendimento mais “global”. A concretização destasprimeiras obras possibilitou ainda definir um padrão de in-tervenção plástico, através da exploração de uma “ima-gem arquitectónica forte” baseada na configuração unitá-ria do edifício-pavilhão e num elevado índice compositivode abstracção. Algumas soluções apresentadas em Cam-pinas posicionaram-se como referências futurantes: a uti-lização de cobogó – elemento vazado de sistematizaçãomoderna e inspiração popular (MMBB) ou a introdução deuma “pele” protectora – recorrendo a componentes indus-trializados (Una, Andrade/Morettin, Vainer/Paoliello).

Realizações concluídas depois iriam, de algum modo,tentar outros modelos. São os casos de duas escolas ter-minadas já durante 2006. Em Guarulhos, o escritório Nú-cleo de Arquitetura (Luciano Margotto, Marcelo Ursini,

Alexandre Delijaicov, Andrea Takiya e Wanderley Ariza, Escola Ceu Campo Limpo, São Paulo, 2003©

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Sérgio Salles) introduz complexidade nas relações dos es-paços internos, jogando com o desnível acentuado do ter-reno. Já na Escola Jardim Ataliba Leonel, em São Paulo,Álvaro Puntoni e Ângelo Bucci quebram a regra do “bloco”pavilhonar, construindo sobre uma linha e desenhando umedifício delicado e leve, permeável à envolvente. Com a Es-cola Telêmaco Melges, a equipa Una recupera o tema damonumentalidade, contrariando uma certa “domesticida-de” que caracteriza a maioria destes projectos e “verticali-zando” o edifício. O vazio do térreo estende-se pelo terrenolivre, potencializando, para “brincar”, toda a área disponí-vel do lote.

Dá-se a instrumentalização de um repertório “mínimo”,inscrito na tradição paulista, reflectindo a escassez demeios com que estas escolas são desenhadas numa espé-cie de exteriorização da condição “social” do país. A sínte-se pode ser dada pela descrição da Escola Jornalista Ro-berto Marinho: “A partir de elementos construtivos modu-lares e autônomos… a escola foi concebida como umgrande galpão que abriga em um único espaço … as diver-sas atividades previstas no programa” (Andrade/Morettin,AAVV, 2006a: 149). A proposta mais “crua” pertence, toda-via, ao Projeto Paulista (Fábio Mariz Gonçalves, HenriqueFina, Luís Mauro Freire, Maria do Carmo Vilariño) para aEscola Bairro Pimentas em Guarulhos: uma estrutura rígi-da e monolítica, em betão, preenchida por cobogó. Aqui, aarquitectura quase “desaparece”. No seu lugar surge um“pavilhão elementar” e primitivo no sentido profundo dapalavra.

Tratando-se de estruturas unitárias, dada a exiguidadedos terrenos onde se implantam, procuram (genericamen-te) compactar todo o programa, criando, no seu interior,

espaços referenciados em “lugares públicos” – como pra-ças urbanas, ainda que procurando uma escala “intimista”,talvez tentando facilitar uma convivência comunitária. É assim que surge a decisão de definir o campo desportivo,ao centro do edifício e sob a mesma cobertura, conceben-do “uma escola ampla e festiva” (MMBB, AAVV, 2006a:145); de “construir o vazio” (Núcleo, AAVV, 2006a: 189);ou, mais genericamente, de buscar “relações hamoniosasentre o equipamento público e o conjunto habitacional”(Una, AAVV, 2006a: 133).

Há aqui uma construção civilizacional que se insere nociclo histórico da arquitectura do país. É o momento deresgatar novamente Darcy Ribeiro: “Na verdade das coi-sas, o que somos é a nova Roma. Uma Roma tardia e tropi-cal” (Idem: 454). ^

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Barcelona, espaço público1A partir da década de 1980, Barcelona converteu-se nummodelo de criação de espaços públicos. Por iniciativa daCâmara Municipal, promoveu-se um modelo de cidade quelogrou granjear sucesso e reconhecimento através do seuempenho na recuperação do espaço público para os cida-dãos. Passados cerca de 25 anos desde a criação do De-partamento de Projectos Urbanos, vale a pena indagar seos preceitos e intenções que deram origem à sua criaçãose mantêm vigentes.

Numa conferência recente sobre o espaço público, o an-tigo arquitecto chefe do município de Barcelona, José An-tonio Acebillo, formulou o que, na sua opinião, são as prin-cipais características do espaço público contemporâneo.

A primeira define o espaço público como uma platafor-ma de fluxos, onde se encontram, de onde partem e ondechegam todo o tipo de movimentações. Deve, por isso, serum lugar intercultural que admita qualquer res civica. De-ve ser um espaço fisicamente estratificado e que possuauma espessura cada vez maior, em virtude dos diferentesníveis de infra-estruturas e utilizações que transcendem onível da rua. A quarta característica define o espaço públi-co como espaço universal e híbrido, que deve permitiracrescentos e transformações, pelo que, segundo Acebil-lo, não pode ser um espaço de autor. Deve ser um espaçoprotector, um lugar onde o cidadão se sinta seguro. Tam-bém deve ser fractal, isto é, o espaço público é um conti-nuum que se reproduz nas suas partes individuais de for-ma análoga à totalidade. Por último, deve ser um espaçotemporal, um lugar de acção, onde ocorrem coisas e a queocorrem coisas, e pode modificar-se constantemente.

2Estas definições, que subscrevo quase integralmente,

são as que servirão de guia de análise a algumas das inter-venções levadas a cabo em Barcelona nos últimos anos, nasua maioria sob a supervisão do próprio Acebillo.

Trata-se de uma selecção pessoal que não tem o intuitode universalizar ou tirar conclusões generalistas. Tanto emespaços emblemáticos e conhecidos, como em interven-ções mais modestas, aplicaremos o filtro das característi-cas atrás enunciadas para entender a forma como o cha-mado modelo Barcelona está a evoluir e quais os aspectosem que este cumpre ou falha os seus pressupostos.

Começaremos por um dos projectos recentes mais em-blemáticos e publicitados, os espaços do Forum 2004. Ochamado Parque del Forum é um grande espaço aberto, si-tuado numa das zonas limítrofes da cidade, no final da Ave-nida Diagonal, entre o rio Besòs, a Ronda Litoral e o mar.Hoje em dia, findos os eventos de 2004, este espaço vai de-finindo a sua utilização enquanto área de acolhimento degrandes concentrações de pessoas, desde a Feira de Abril,aos megafestivais de música. Isto implica que o seu usoseja temporal e que as características de espaço público secumpram apenas em momentos descontínuos no tempo.

Esta descontinuidade de uso poderá levantar dúvidassobre o sucesso deste espaço, mas talvez que ninguém te-

nha tido a preocupação de explicar claramente que o Par-que del Forum não é exactamente um espaço público: oseu principal compromisso foi, desde o início, o de acolhermega-infra-estruturas, tais como depuradores, geradoressolares e incineradores, infra-estruturas que geravam, até recentemente, espaços necessariamente residuais da cidade.

Com a operação ocorrida no Fórum, estes espaços con-verteram-se em lugares que funcionam pontualmente co-mo espaço público. Tal como sucede noutros casos, o tem-po dir-nos-á do sucesso ou insucesso desta intervenção.De momento, os juízos negativos deveriam ser imputadosà deficiente clarificação do que o Parque del Forum é e nãoé, e não tanto ao seu carácter de espaço público.

Situado muito próximo do Fórum, o Parque de DiagonalMar é claramente um espaço considerado de autor. Pro-jectado pelo estúdio EMBT, a mão de Enric Miralles é reco-nhecível tanto na disposição geral, como em muitos dosseus elementos de pequena escala. Ainda que pareça nãocumprir uma das características próprias do espaço públi-co enunciadas por J.A. Acebillo (a não autoria), é um espa-ço que encerra em si todas as outras. Talvez que, neste ca-so, o talento de Miralles consista no facto de o seu imagi-nário pessoal (pessoalíssimo) se relacionar tãoevidentemente com o público – a criação transcende o au-tor rapidamente e é apreendida pela cidadania. Embora oespaço seja reconhecido entre profissionais como um pro-jecto de Miralles, este já não lhe pertence.

Concebida como centro do plano de expansão da cida-de, da autoria de Ildefonso Cerda, a Plaza de las Glorias éum exemplo histórico de espaço público pela negativa.Embora cumpra de forma inequívoca algumas das carac-terísticas enunciadas anteriormente – é, por exemplo, umdos espaços públicos de Barcelona de maior espessura euma plataforma de fluxos bastante evidente –, este pro-jecto da década de 1980, dada a sua concepção e requisi-tos, nunca foi um espaço protector e cedo deixou de poderser um espaço intercultural. Converteu-se num espaço re-sidual, que deve permanecer encerrado para evitar a suaprogressiva degradação. Na minha opinião, este é o maiorfracasso possível do espaço público: ver-se privado deutentes por ser um espaço perigoso e inseguro. O projectoque substituirá a actual rotunda de circulação viária poruma praça sem barreiras visuais encontra-se em marcha.Talvez pudéssemos dizer, num registo generoso, que a suatransformação ao longo dos tempos, tão rápida, confere à praça um estatuto de paradigma, mas creio que uma cidade não se pode permitir muitos insucessos desta dimensão.

O projecto da Rambla del Raval configura precisamenteo oposto. Desenvolveu-se debaixo de grande polémica, jáque implicava a demolição e, por conseguinte, o esqueci-mento de uma parte histórica da cidade. O Barrio Chino erafamoso pela sua atmosfera decadente, profusamente cita-da na literatura e no cinema, mas também um claro exem-plo de bairro degradado. As operações de saneamento queaí foram levadas a cabo, e que previam a criação da Ram-

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se sentam e que, obviamente, não permite que vagabundosse deitem a dormir (coisa que não os faz desaparecer).

3Nas zonas de novo crescimento, a proporção entre o es-

paço edificado e o espaço público dilata-se excessivamen-te. Parece não existirem cidadãos suficientes para preen-cher, usar e dar vida a estes espaços. A densa cidade medi-terrânica desaparece, para dar lugar a espaços que, demomento, não conseguem criar um carácter próprio, umavez que a sua utilização não está assegurada. Talvez que ocidadão, por se tratar de espaços recentes, os percepcionecomo espaços alheios. Toda a mudança necessita de tem-po. Mas também é possível que os projectos destes espa-ços, logo desde o seu planeamento, sejam tratados igual-mente como repertório. Que alguns sejam destacados eoutros tratados de forma menos cuidadosa, com receitassabidas de memória que resultam insonsas.

Esperemos que novas iniciativas atenuem esta tendên-cia. Intervenções como a Plaza Lesseps e a Plaza de laGardunya, cujos projectos foram criados a partir de proces-sos em que os cidadãos participam, abrem um novo tempoem que a opinião do utente é tida em conta desde a origemdo programa e em que, portanto, a sua corresponsabilidadepode aproximá-lo dos espaços projectados, do seu futuro eda sua manutenção. Esta é a experiência que está a ser de-senvolvida em muitos países europeus e americanos e queabre novas perspectivas a cidadãos, administração públicae arquitectos para a criação de melhores cidades. ^

bla del Raval, originaram o desaparecimento de ruas histó-ricas e da memória lúmpen da cidade. No entanto, com opassar do tempo, ficou demonstrado que o espaço criado,dada a sua escala, proporção, situação geográfica e con-cepção, é um dos mais utilizados, quer no quotidiano, querem eventos festivos pontuais, e em relação ao qual osseus vizinhos depressa adquiriram o sentido de pertença.A polémica caiu no esquecimento. Hoje em dia, podemosreferir a Rambla del Raval como um dos espaços cívicosde maior sucesso dos últimos anos. O seu traçado perdeurelevância em face da presença e utilização dos cidadãos.

Por fim, gostaria de falar sobre o que não se vê: as in-tervenções de pequena escala. Desde o início da sua activi-dade, o Departamento de Projectos Urbanos da CâmaraMunicipal tem-se dedicado à criação de um repertório dacidade funcional e formal para as intervenções de pequenaenvergadura. Entradas de garagens, paragens de autocar-ros, postes de luz, papeleiras, sinalética, cadeiras e bancosestão catalogados e homologados para a sua utilização naurbanização da cidade. Com este repertório, conseguiu-seuma imagem geral digna e de grande qualidade, que seprolonga em todas as ruas e praças. Parece-me tratar-sede um dos maiores sucessos do espaço público de Barce-lona, mas, ao mesmo tempo, representa uma faca de doisgumes. Saneia e clarifica o espaço, mas, por vezes, é ex-cessivamente rígido. Além disso, nalguns casos, constituiuma arma da ordem pública, tal como no da substituiçãode bancos por cadeiras individuais, em que se criam situa-ções estranhas de relacionamento entre as pessoas que

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O mundo num centro comercial

Segundo o livro de recordes Guinness, o centro comercialde West Edmonton é o maior do mundo: a sua superfície ésuperior à de cem campos de futebol juntos, medindo483.000m2. Trata-se do primeiro megacentro do mundo,medindo quase duas vezes mais do que o segundo, o cen-tro comercial de Del Amo, em Los Angeles, que mede tãosomente 280.000m2. O centro comercial de Edmonton exi-be outros recordes Guinness: é o maior parque de atrac-ções coberto do mundo, o seu parque de estacionamento éo maior do mundo. Para além de contar com mais de 800lojas, 11 grandes armazéns e 110 restaurantes, o centroalberga ainda uma pista de gelo de grandes dimensões, umhotel com 360 quartos, um lago, uma capela aconfessio-nal, 20 cinemas e 13 clubes nocturnos. Todas estas activi-dades se encontram dispostas ao longo de corredores commontras repetitivas, distribuídos por diversas alas, queimitam os boulevards parisienses do século XIX ou a ruaBourbon de Nova Orleães. Dos andares superiores do hotelpodem ver-se, ao longe, as torres de vidro do centro urba-no de Edmonton.

Visto de cima, o centro comercial parece um aglomera-do desleixado de caixas enormes, plantadas no meio de umimenso mar de asfalto, rodeadas de uma paisagem inter-minável de habitações unifamiliares. No seu interior, o cen-tro comercial oferece um espectáculo vertiginoso deatracções e diversões: uma réplica da caravela Santa Ma-ría de Colón flutua no centro de uma lagoa artificial, ondesubmarinos verdadeiros avançam por uma paisagem im-

possível de coral importado e algas de plástico, habitadopor pinguins vivos e tubarões de borracha controlados porvia electrónica. Colunas de fibra de vidro desmoronam-se,simulando ruínas, sob uma nova e assombrosa ponte vito-riana de ferro. Golfinhos amestrados saltam à frente daLeather World1 e da Kinney’s Shoes2; ondas simuladas, ti-gres siberianos de verdade, vasos oriundos da dinastiaChing, bandas de jazz mecânicas: tudo o que se pode justa-por dentro de uma sequência interminável de átrios ilumi-nados a luz zenital. Acrescentemos os espelhos de colunase paredes que fragmentam o cenário, decompondo o cen-tro comercial num caleidoscópio de imagens que, em últi-ma análise, resultam ilegíveis. A confusão reina por toda aparte. O passado e o futuro fundem-se de forma absurdano presente. As fronteiras entre o real e o falso, entre opróximo e o distante, diluem-se à medida que a história, anatureza e a tecnologia são processadas sem distinçõespela maquinaria fantasiosa deste centro comercial.

Sem dúvida que esta inverosímil colecção de imagensaparentemente escolhidas ao acaso foi concebida com umpropósito explícito: apoiar a reivindicação de que o centrocomercial contém o mundo inteiro entre as suas paredes.Na cerimónia de inauguração, um dos promotores do cen-tro, Nader Gherrnezian, gritou triunfalmente, a bordo daSanta María: «O que fizemos significa que já não precisa-mos de ir a Nova Iorque, a Paris, à Disneylândia ou ao Ha-waii! Tudo isso está aqui, para vocês, num único lugar: emEdmonton, Alberta, Canadá!».3

A esta enciclopédica aglomeração de actividades faltaapenas que se lhe acrescentem casas, existentes nas me-gaestruturas de outros centros comerciais urbanos, paraque este espaço seja completamente habitável: um mundoperfeito em si mesmo. Num certo sentido, as formas e fun-ções fragmentadas da vida moderna reuniram-se sob a cú-pula luminosa do centro comercial. O centro comercial su-gere a possibilidade de que o mundo unificado dos tempospré-modernos pode ser recuperado através do consumo,uma irónica contradição das concepções redentoras queos utopistas do século XX, como Fourier ou Owen, imagina-ram, vislumbrando a unidade através da produção colecti-va e da reorganização social.

Embora também os falanstérios de Fourier fundissemjá a passagem comercial e o palácio de uma forma queprefigurava os actuais centros comerciais, os seus corre-dores de vidro visavam fomentar o intercâmbio social e asemoções colectivas, e não estimular o consumo.

A magia das lojasOs centros comerciais lograram alcançar o seu sucesso

por via de uma diversidade de estratégias que dependem,todas elas, da «mercantilização indirecta», um processoatravés do qual determinados objectos, actividades e ima-gens que não estão à venda se incorporam deliberadamen-te no mundo mercantilizado do centro comercial. O princí-pio de marketing fundamental é a «atracção adjacente»,em virtude da qual «os objectos mais diversos se apoiamentre si quando colocados ao lado uns dos outros.»4 Ri-

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Woodfield) e festas de finalistas. Passar o tempo num cen-tro comercial substitui o passeio pelas ruas. Hoje em dia,os centros comerciais representam para os jovens autênti-cos centros sociais, onde muitos deles encontram o seuprimeiro trabalho, para além de constituírem cada vezmais centros sociais para adultos.

A vida pública sob uma cúpula de prazeresA passagem de uma economia de mercado a uma cultu-

ra do consumo, assente na circulação intensificada demercadorias, tornou-se patente no primeiro espaço físicode consumo de massas: o grande armazém parisiense que,a partir de 1850, transformou radicalmente a paisagemcomercial da cidade. A enorme quantidade de bens exibi-dos num único espaço deslumbrava os compradores,acostumados a lojas pequenas com existências limitadas.Desde 1870, o maior dos magasins, o Bon Marché, ofereciauma enorme variedade de produtos a 10.000 clientes diá-rios. Além disso, os preços fixos dos grandes armazéns al-teraram as relações sociais e psicológicas característicasdo pequeno comércio. A obrigação de comprar, inerente aointercâmbio activo próprio do regateio, foi substituída peloconvite a olhar, convertendo o comprador num espectadorpassivo, um indivíduo isolado, um rosto entre a multidãodos grandes armazéns que contemplava silenciosamenteas mercadorias.

Os grandes armazéns foram descobrindo paulatinamen-te as estratégias de mercado que esta nova passividade exi-

chard Sennett explicou este efeito como uma suspensãoprovisória do valor de uso do objecto, de modo que a suaposição descontextualizada o converte em algo inespera-do e, portanto, estimulante. Assim, quando colocamos umjarro absolutamente comum na montra de uma loja mar-roquina, o objecto converte-se em algo exótico, misteriosoe desejável. Esta lógica associativa faz que os valores nãocomerciais das mercadorias reforcem a sua comercialida-de, mas também fomenta o processo inverso: as entidadesque não foram comercializadas anteriormente passam aconstituir parte integrante do mercado. Quando o inter-câmbio entre a qualidade dos objectos é absorvido pelo in-tercâmbio, indeterminado e interminável, entre as merca-dorias e as necessidades, as associações multiplicam-seinfinitamente.

Numa primeira fase, os centros comerciais procederamà incorporação de serviços muito diversificados, tais comocinemas, restaurantes, corredores com estabelecimentosde comida rápida, salas de videojogos ou pistas de patina-gem, os quais, ainda que envolvendo um investimento con-siderável, constituíam uma expansão do papel recreativodo centro comercial. À medida que o «tempo despendidono centro comercial» se foi convertendo em unidade stan-dard de medição cada vez mais importante, surgiram acti-vidades de promoção cada vez mais habituais: no início,desfiles de moda e parques zoológicos de animais domés-ticos; mais tarde, concertos sinfónicos (a Orquestra Sinfó-nica de Chicago toca regularmente no centro comercial de

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gia, procedendo à teatralização da apresentação dos produ-tos. Émile Zola situa o seu romance «Au Bonheur desDames» no Bon Marché. O romance retrata a moderna em-presa de vendas ao pormenor, como uma astuta planificaçãocomercial pensada para suscitar fascínio e fantasia. Zoladescreve com grande vivacidade os modos de exposição quedeslumbravam e intoxicavam os compradores, na sua maio-ria mulheres: «Entre um profundo leito de veludo, todos osveludos, brancos, negros ou de cores, entretecidos com se-das ou cetim, formavam, com os seus desenhos cambiantes,um lago imóvel onde os reflexos do céu e da paisagem pare-ciam dançar. As mulheres, pálidas de desejo, inclinavam-sesobre eles como se pudessem ver-se a si próprias».

Após a Segunda Guerra Mundial, a América parecia pro-meter a realização de muitos destes sonhos. A economiaconsumista florescente criou uma prosperidade inimaginá-vel até então, com um índice elevado de emprego criadorde consumidores para os produtos distribuídos em largaescala, enquanto a publicidade e um obsoletismo planifica-do asseguravam a sua constante circulação. A normaliza-ção da semana de trabalho criava tempo livre para as no-vas actividades de lazer. Enquanto os postos de trabalho ea habitação se deslocaram para os subúrbios, impulsiona-dos pelas subvenções federais e os seguros sobre as hipo-tecas, a planificação de auto-estradas iniciava um ciclo decrescimento fomentador da indústria da automobilidade,do petróleo e da construção. Nas cidades, também os me-nos favorecidos economicamente dispunham de habitação

e dinheiro para gastar. À margem das cidades, o crescimen-to dos subúrbios criou uma paisagem económica de zonasde habitação unifamiliar ligadas entre si por super-auto-es-tradas e pontuadas por centros comerciais.

No auge dos subúrbios e dos automóveis, os grandes ar-mazéns dos centros urbanos perderam importância. Asauto-estradas interestaduais e os subúrbios geraram umaprocura de serviços comerciais nas áreas recentementedesenvolvidas. Os grandes armazéns dos centros urbanosconstruíram sucursais suburbanas. As franjas junto às es-tradas e os centros nelas situados (grupos de lojas comestacionamento comum) foram crescendo junto às princi-pais estradas e nas intersecções mais importantes. Ospromotores continuaram a construir elegantes centros co-merciais nos subúrbios da classe alta, seguindo os protóti-pos mais antigos. Todos estes modelos incluíam o seu res-pectivo parque de estacionamento.

J. C. Nichols, considerado o pai dos centros comerciaisdevido ao seu papel na promoção do Country Club Plaza(1924), em Kansas City, estabeleceu muitos dos conceitosfinanceiros, empresariais e comerciais que, mais tarde, se-riam fundamentais nos centros comerciais do pós-guerra.5

O artigo que Nichols publicou na revista do Urban LandInstitute, «Mistakes We Have Made in Developing Shop-ping Centers» (1945), compilava a sua experiência numalista de 150 máximas exaustivas, que tudo abarcavam:desde as estratégias para conseguir o apoio político local,até ao pé direito adequado. Embora a elaborada arquitectu-

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ra mediterrânica do Country Club Plaza, ornamentada defontes de azulejos e varandas de ferro forjado, fosse muitodistinta das frivolidades exteriores dos centros comerciaisposteriores, Nichols opunha-se a qualquer tipo de gastodesnecessário com a decoração. Defendia que a chave dosucesso dos centros comerciais era a oferta abundante,mesmo ilimitada, de lugares de estacionamento. Por voltade 1950, quando os tipos distintos de centros comerciaisde bairro se fundiram numa forma nova e única, o centrocomercial regional, a visão de Nichols confirmou-se.

Na sua origem, o desenho dos centros comerciais refor-çou os valores domésticos e a ordenação física dos subúr-bios. Tal como na casa suburbana, em que se repudiava oambiente socializador dos alpendres dianteiros e dos pas-seios e se optava pelos jardins traseiros, os centros co-merciais optaram também pela introversão e voltaram ascostas ao espaço público. Situados no meio de nada, estaspaisagens do consumo reflectiam a profunda desconfiançaface à rua enquanto espaço do foro público, sendo este umaspecto visível nas obras de urbanistas tão díspares comoFrank Lloyd Wright e Le Corbusier. Em contrapartida, asruas, e sobretudo as auto-estradas de alta velocidade, fun-cionavam apenas como ligações motorizadas entre zonase estruturas diferenciadas segundo a sua função. Aindaque os apologistas dos centros comerciais insistissem emreferir as tipologias dos mercados antigos para os legiti-mar, na verdade ignoravam as suas diferentes consequên-cias para a vida urbana. Enquanto os bazares islâmicos ouas passagens parisienses reforçavam os modelos das ruasexistentes, os centros comerciais, ilhas pedonais num marde asfalto, acabaram por destroçar uma paisagem urbanajá de si fragmentada. À medida que os subúrbios se expan-diam, expandiam-se também os seus únicos espaços pú-blicos. As formas baixas e horizontais dos centros subur-banos invertiam a ordem rigorosamente vertical do espaçourbano tradicional. Zonas abertas e informais, decoradascom canteiros de tijolo e árvores desengonçadas, reprodu-ziam o imaginário dos jardins dianteiros. Os centros co-merciais, formados por fileiras de caixas idênticas entre si,avivadas por coberturas semelhantes a alpendres, se-guiam a mesma lógica conceptual das zonas suburbanas.O económico prevalecia sobre o estético.

Em 1956, o primeiro centro comercial coberto, Southda-le, em Edina, um subúrbio de Minneapolis, alterou o estadode coisas. Ainda que o seu pátio central, rodeado por doispisos de lojas, tenha sido prontamente superado por va-riantes cada vez mais extravagantes, a concepção inovado-ra de Southdale consolidou a inclusão de Victor Gruen nopanteão dos pioneiros dos centros comerciais. Através doencerramento dos espaços abertos e do controlo da tem-peratura interior, Gruen criou um tipo de edifício completa-mente introvertido, que eliminava em absoluto qualquer li-gação perceptiva com os arredores do centro comercial. Nointerior, o potencial comercial dos seus espaços imensosfoi aproveitado através da criação de pequenos «cenários»teatrais, em que era possível representar o «teatro da ven-da ao pormenor». Os impulsionadores dos centros comer-ciais haviam aprendido a lição dos grandes armazéns pari-sienses e transformaram os seus espaços interiores focali-zados em mundos de fantasia para o consumo. […]Southdale fora coberto por razões de ordem prática: o cli-

ma do Minnesota permite fazer compras ao ar livre apenasdurante 126 dias por ano. O contraste entre o frio gélido e ocalor tórrido do exterior, e os 22ºC constantes do interiordo centro é levado ao extremo no átrio central, o GardenCourt of Perpetual Spring, repleto de orquídeas, azáleas,magnólias e palmeiras. A exacerbação da diferença entre omundo exterior e o interior estabelecia um dos conceitosbásicos do centro comercial: era um espaço invertido, cujoexterior proibido escondia um interior paradisíaco. Estacombinação foi bastante determinante para assegurar aprosperidade rápida dos centros comerciais cobertos, in-clusivamente nos climas mais temperados.

Esta recriação de uma «segunda» natureza foi apenas oprimeiro passo. O seguinte consistia em reproduzir um ele-mento singular, ausente nos subúrbios: a cidade. O centrocomercial coberto comprimia e intensificava o espaço. Oselevadores de vidro e as escadas rolantes em ziguezagueacrescentaram um movimento dinâmico vertical e diago-nal ao plano horizontal básico do centro comercial. Os ar-quitectos manipularam o espaço e a luz com o fim de re-produzir a densidade e o bulício do centro de uma cidade,criando em definitivo um urbanismo de fantasia, libertodos aspectos mais negativos da cidade: o ambiente, o trân-sito e os pedintes. A consolidação do espaço também alte-rou a identidade comercial dos centros. Se na sua origemforam construídos para facilitar o acesso a lojas e serviçossob um mesmo tecto, os centros comerciais recentementeadornados lograram substituir as lojas que cobriam neces-sidades básicas – supermercados, farmácias ou lojas deferragens – por lojas especializadas e galerias de comidarápida. As fileiras de lojas suburbanas, extensíveis até aoinfinito, converteram-se nos novos locais das funções co-merciais ausentes do mundo cada vez mais exclusivo docentro comercial. Distinta das tarefas da vida quotidiana, oacto de comprar transformou-se numa actividade lúdica eo centro comercial numa envolvente escapista.

O feito de reproduzir a cidade num contexto seguro, cla-ro e controlado outorgou mais valor ao centro comercialenquanto centro comunitário e social. O centro comercialcoberto oferecia centralidade espacial, carácter público e

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densidade humana: os elementos inexistentes nos subúr-bios em expansão. O centro comercial seria o eixo da vidapública suburbana, criando um foco comum de consumono seio dos subúrbios amorfos. Invertendo o modelo cen-trífugo do crescimento suburbano, os centros comerciaisconverteram-se em pólo de atracção de um desenvolvi-mento concentrado que atraiu oficinas, edifícios de aparta-mentos e hospitais em torno de si, reproduzindo desse mo-do um grande bairro/centro de negócios.

O sucesso financeiro destes estimulantes centros-ur-banos-dos-subúrbios favoreceu igualmente os centros ur-banos reais, que anteriormente se viram debilitados em fa-ce do surgimento dos centros comerciais regionais. Oscentros comerciais urbanos construídos mais recente-mente transladaram os seus «valores» suburbanos para acidade. No contexto urbano, as estruturas fortalecidas doscentros comerciais suburbanos reproduziram literalmenteos seus significados, privatizando e controlando funções eactividades que até então se haviam desenvolvido na rua.Actualmente, os centros comerciais, muito vigiados, ofere-cem um espaço urbano seguro, com uma clientela tão ho-mogénea quanto a das suas réplicas suburbanas. Em mui-tas cidades, a construção de centros comerciais urbanosfoi utilizada para segregar uma vez mais as zonas comer-ciais urbanas. Em Chicago, por exemplo, os habitantesbrancos das zonas residenciais foram-se deslocando paraa nova sucursal da Marshall Field, situada no interior docentro comercial Water Tower Place, no extremo superiorda Avenida Michigan, deixando os grandes armazéns anti-gos Marshall Field, situados no centro urbano, para os ci-dadãos negros e hispânicos6 .

Sob vários aspectos, os centros comerciais dos centrosurbanos tiraram proveito da perspectiva paradoxal de umanova ordem na experiência urbana, bem protegidos das pe-rigosas e desordenadas ruas do exterior. Com o intuito derealizar uma dupla simulação de Nova Iorque, o HeraldCenter, situado na Rua 34, dispunha de diversos pisos te-máticos baptizados com os nomes dos lugares mais fami-liares da cidade, tais como Greenwich Village, CentralPark ou Madison Avenue, os quais imitavam os seus homó-nimos através de produtos que estimulavam o seu carác-ter comercial: lojas de sandálias ou de material desportivoe boutiques europeias. Não só os lugares reais eram repre-sentados através do seu nome, mas também os produtosde venda «típicos» reduziam à caricatura a rica mescla deum bairro urbano real. Reproduzindo a cidade no interiordos seus muros, o centro comercial pretendia insinuar queseria mais seguro e mais limpo vivenciar Nova Iorque den-tro dos seus espaços climatizados, do que nas ruas reais

do exterior. Esta experiência peculiar fracassou, mas nãofoi impeditiva de que se realizassem posteriores tentati-vas. Em Times Square, um novo centro comercial projec-tado por Jon Jerde, o Metropolis Times Square, tentou su-perar os deslumbrantes lampejos da sua localização atra-vés do seu próprio espectáculo interior de luzes, comcentenas de televisores, néons e projectores de raios la-ser. Em vez de sanear a mesquinhez e a vulgaridade do ex-terior, o hiper-real centro comercial de Times Square ofe-recia o submisso deleite das lojas, os restaurantes e os ci-nemas abertos 24 horas por dia.

Na cidade, entretanto, começavam a surgir promoçõesque imitavam o estilo suburbano, os subúrbios tornavam-se cada vez mais urbanos. Muitíssimos postos de trabalhohaviam sido deslocados para os subúrbios, convertendo asditas áreas em novas regiões metropolitanas: «aldeias ur-banas» ou «centros urbanos suburbanos». Os centros co-merciais supraregionais, localizados junto a ligações deauto-estradas, como o Gallen, nos arredores de Houston, oSouth Coast Plaza, em Orange County e o Tyson’s Corners,perto de Washington DC, transformaram-se em cataliza-dores de novas mini-cidades suburbanas, atraindo a si to-da uma constelação de funções tipicamente urbanas.A sua actual importância é o culminar de várias décadasde crescimento urbano.

O mundo como um centro comercialA proliferação de centros comerciais por todo o mundo

acostumou muitas pessoas a pautas de conduta que vincu-lam de forma íntima o acto de comprar à diversão e ao pra-zer. O facto de a compra se ter transformado numa expe-riência que pode ser vivida em qualquer lugar, provocou oseguinte passo no desenvolvimento dos centros comer-ciais: a «aparição espontânea de centros comerciais», umprocesso através do qual muitos espaços urbanos sãotransformados em centros comerciais, sem existir a ne-cessidade de novos edifícios nem de promotores. Em 1946,os arquitectos Ketchum, Gina e Sharp propuseram a rees-truturação da Main Street, em Rye, Nova Iorque, comocentro comercial pedonal. Mais tarde, Victor Gruen pla-neou a transformação do centro urbano de Fort Worthnum centro comercial coberto, cercado por 60.000 luga-res de estacionamento. Mais recentemente, muitas cida-des remodelaram algumas zonas como centros comer-ciais, com o simples processo de as designar como zonaspedonais, o que favoreceu o desenvolvimento de um co-mércio concentrado. A auto-regulação do valor imobiliáriopermitiu a estes novos mercados a criação da sua própriamistura de arrendatários, organizada em redor de um te-ma unificador. Por sua vez, este facto atraiu outras activi-dades suplementares, como os restaurantes ou os cafés.Em Los Angeles, mesmo sem ter sido necessário impedir acirculação de automóveis, algumas ruas (como a AvenidaMelrose ou Rodeo Drive) revitalizaram-se espontanea-mente sob a forma de centros comerciais especializados,inspirados, em termos temáticos, nas novas correntes e namoda do europeu.

Este processo pode iniciar-se através de diversos estí-mulos. A construção de um centro comercial regional nu-ma zona rural do condado de DuPage, nos arredores deChicago, transformou completamente toda a actividade

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37O mundo num centro comercial / Margaret Crawford

comercial da zona. Temendo que o centro comercial lhesretirasse clientela, os comerciantes locais de Naperville,uma antiga cidade ferroviária, transformaram a sua ruaprincipal numa zona comercial para gente endinheirada,com lojas de antiguidades e boutiques de luxo. Recalcandoo carácter histórico de Naperville e a sua condição de cida-de pequena, oferecendo estacionamentos fora da via pú-blica e lojas especializadas que não existiam nos centroscomerciais, Naperville criou uma identidade comercial quelhe permitiu conviver em harmonia com o centro comer-cial. Quando o seu centro histórico foi inundado por turis-tas, Florença transformou a Via Calzaioli, entre o Duomoe a Piazza della Signoria, numa zona pedonal, que rapida-mente se transformou num centro comercial semelhantea uma «renascimentolândia» ao ar livre, com os dois mo-numentos assumindo as funções de autênticas âncorasculturais. As sapatarias, as lojas de curtumes, os estabe-lecimentos de comida rápida, assim como as inevitáveissucursais da Benetton, que ofereciam produtos já disponí-veis em todos os centros comerciais do mundo, substituí-ram as lojas mais antigas, ao mesmo tempo que os turis-tas superavam em grande número os residentes locais.Em França, as políticas estatais encarregues de garantira conservação dos centros históricos, ofereceram consi-deráveis subsídios a pequenas cidades como Rouen, Gre-noble e Estrasburgo. Assim, redefiniram o seu comércio,mesmo sem o ter proposto, na medida em que as zonaspedonais desviaram mais compradores para o centro e oaumento dos benefícios atraiu as cadeias nacionais de lo-jas de luxo, as lojas dedicadas a satisfazer as necessida-des quotidianas começaram a desaparecer e foram substi-tuídas por boutiques de roupa de marca, joalharia e lojasde souvenirs. É evidente que o centro comercial foi muitoalém das suas origens. Actualmente, os hotéis, os prédiosde escritórios, os centros culturais e os museus imitamvirtualmente o traçado e os formatos dos centros comer-ciais. Um simples passeio pela ampliação do MetropolitanMuseum de Nova Iorque, com os seus enormes espaçosinteriores, a sua apresentação cenográfica das obras dearte e as numerosas oportunidades de comprar diversosobjectos relacionados com as ditas obras, constitui umaexperiência muito parecida à de passear por um centro co-mercial. A ala leste da National Gallery of Art de Washing-ton DC, projectada por I. M. Pei, é ainda mais parecida.O seu enorme vestíbulo com luz zenital está rodeado porcorredores ligados por pontes e escadas rolantes. Umasgalerias independentes, situadas exactamente no lugaronde num centro comercial se encontrariam as lojas,abrem-se para este espaço. Vasos com plantas, o usoabundante de mármore e latão e, no vestíbulo do andar in-ferior iluminado com néon, as fontes, as lojas e os quios-ques de comida rápida, fazem que a semelhança seja aindamais assombrosa.

De facto, tal como assinalou um especialista, todo o Ca-pitol Mall foi transformado num centro comercial. Umaamálgama de exposições ao ar livre, um dinossáurio gigan-te, um carrossel de 1890 que ainda funciona, a fantasiagótica do castelo de areia de Smithson, os foguetões daNASA: tudo insinua o tempo e o espaço que exploram osmuseus dos arredores. Nestes museus, os métodos anti-quados de ordenação sistemática e de identificação dos

objectos deram lugar às exposições destinadas a provocarimpactos sensoriais imediatos. Uns collages gigantes con-têm objectos históricos autênticos, como o The Spirit of St.Louis, apoiado por um fundo e uns sons simulados que evo-cam o famoso voo de Lindbergh. No Air and Space Mu-seum, os aviões, os foguetões e as cápsulas espaciais en-contram-se pendurados num enorme pátio central, en-quanto que uns engenhosos grafismos dirigem osvisitantes para o teatro omnimax, e as lojas de souvenirsoferecem réplicas pequenas dos objectos em exposição.A avalanche de imagens, as multidões aturdidas: tudo pa-rece demasiado familiar. O museu poderia muito bem serconfundido com o WEM. O Museum of Science and Indus-try de Chicago oferece um espectáculo parecido. Mane-quins colocados dentro de umas vitrinas reproduzem al-guns momentos significativos da história da ciência. Os vi-sitantes formam fila para visitar uma mina de carvão àescala natural. As famílias comem gelados no nostálgicoambiente da Yesterday’s Main Street, com o pavimentoempedrado e iluminada a candeeiros a gás. Nas lojas domuseu, os cartazes e as t-shirts são os substitutos consu-míveis dos artefactos que estimulam a vontade de com-prar, mas que não estão à venda.

Se as mercadorias deixaram de ser dominantes, deve-se ao facto de os produtos à venda já não terem a impor-tância que tinham antes, dado que a história, a tecnologia ea arte, tal como são apresentadas nos museus, passarama ser artigos de consumo. O princípio da atracção adjacen-te funciona actualmente à escala social, impondo um in-tercâmbio de qualidades entre o museu e o centro comer-cial, entre o comércio e a cultura. Também a Association ofMuseum Trustees, no encontro que organizou no DisneyWorld para debater as novas estratégias de investigação edesenvolvimento, reconheceu esta nova realidade. O mun-do dos centros comerciais, que não respeita nenhumafronteira nem se vê limitado pelo imperativo do consumo,transformou-se no mundo inteiro. ^

Texto retirado de «The World in a shopping mall»

01 Cadeia de produtos de pele [N. da T.].

02 Cadeia de sapatarias de calçado infantil [N. da T.].

03 Gordon M. Henry, “Welcome to the Pleasure Dome” in Time, 27 de Outubro de 1986, p. 60.

Entre outras descrições do WEM, ver: William S. Kowinslci, “Endless Summer at the World’s

Biggest Shopping Wonderland”, in Smithsonian, Dezembro de 1986, pp. 35-41; Ian Pearson,

«Shop Till You Drop”, in Saturday Night, Maio de 1986, pp. 48-56. Para uma abordagem mais

académica, ver: R. Shields, “Social Spadalization and the Built Environment: The West

Edmonton Mall”, in Environment and Planning’ D: Society and Space, vol. 7, 1989, pp. 147-164.

04 Richard Sennett, The Fall of Public Man, Vintage, Nova Iorque, 1976, pp. 144-145;

(versão castelhana: El declive del nombre público, Península, Barcelona, 2002).

05 Richard Cobb, “The Great Bourgeois Bargain”, in New York Review of Books, 16 de Julho.

06 Peter Muller, Contemporary Suburban America, Prentice Hall, Englewood Cliffs, New Jersey,

1981, p.128

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Sonhadores

JOSÉ ADRIÃO

Lisboa, Março 2004

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Lisboa, Maio 2003

Lisboa, Março 2003

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Lisboa, Março 2003

Lisboa, Junho, 2006

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Lisboa, Agosto, 2006

Lisboa, Julho 2003

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Lisboa, Abril 2004

Funchal, Novembro 2002

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43Sonhadores / José Adrião

Lisboa, Outubro 2003

Lisboa, Janeiro 2003

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NE CONVERSA COM JOSÉ ADRIÃO E RICARDO CARVALHO

LISBOA, 26 DE JULHO DE 2007

Com a consolidação da democracia em Portugal, a partir de 1974, seria de esperarque o espaço público fosse o verdadeiro protagonista do discurso arquitectónico. Noentanto, desde o final dos anos 80 a arquitectura tem-se materializado principalmen-te em edifícios que muitas vezes estabelecem relações débeis com a envolvente.

Não estou de acordo. O espaço público foi o grande protagonista do pós-25 de Abril.No entanto, não na perspectiva arquitectónica. Se há manifestação popular, de cidada-nia, ela nunca foi tão espontânea, tão forte, tão violenta como na ocupação do espaço pú-blico. O “25 de Abril faz-se na rua!”, dizia-se na altura. E fez-se concretamente na “rua”, ea rua é um espaço público. Lembro-me bem das manifestações eufóricas imediatamentea seguir ao 25 de Abril, a começar pela do Largo do Carmo, aqui em Lisboa.

Há uma espontaneidade de ocupação desse espaço como espaço de representação,sem que as pessoas tivessem muita consciência da sua essência urbana ou, se quiser-mos, paisagística. Era usado mas não reivindicado, como começa a ser reivindicado hoje.Foi usado porque era simplesmente um suporte de encenação sem ser um suporte se-quer qualificado. Escolheram-se os sítios por outras razões que não são arquitectónicas,ou melhor, não se escolheu o sítio. O Largo do Carmo funcionou porque estava lá prisio-neiro Marcello Caetano.

As avenidas que convergiam para o Estádio 1º de Maio transbordavam de pessoas,com enormes manifestações – e para esse estádio porque aí funcionava a FNAT [Funda-ção Nacional para Alegria no Trabalho, actualmente INATEL]. Podia ter sido o EstádioNacional, por exemplo; como arena se calhar era um espaço mais qualificado; podia tersido a Praça do Comércio, que sempre foi um espaço urbano – mais tarde foi usada por-que era o sítio do governo, o sítio representativo e, além disso, era o sítio da qualidade ar-quitectónica.

Porque é que não se passa de um sentido de utilização de um espaço assim para a rei-vindicação da qualidade do espaço público? É uma pergunta interessante. De facto, nãose passa.

O espaço público foi protagonista do 25 de Abril enquanto campo de explosão de cida-dania. Na altura não se chamava assim, chamava-se das “forças populares” mas foi defacto um espaço de encenação. Nessa explosão de cidadania e acção popular, não trans-pareceu sequer, e ainda hoje transparece pouco, aquilo que é o verdadeiro significado decidadania. A cidadania começa e realiza-se na cidade. Cidadania quer dizer “cidade”. Aténa raiz etimológica da palavra cidadania! Efectivamente, o exercício da cidadania em Por-tugal, ainda hoje, não toca na cidade enquanto suporte físico de vida. Cidadania ainda éhoje um discurso que fala fundamentalmente dos direitos, subsidiariamente dos deveres,mas não plasmados no espaço físico da cidade. Esta percepção de que cidadania tem aver com a cidade, mesmo até com a cidade no sentido alargado – a “civitas” romana, que éo sentido de organização de todo o espaço humanizado mas que tem esse significado físi-co de contentor formal, morfológico, etc. – está muito longe dos discurso que ouvimos.

Quando se intervém sobre o espaço público há reacções. A cidadania, neste momentoem Portugal, neste aspecto da relação com a cidade, é finalmente um processo que estáem progressão.Progressão positiva?

Francamente positiva! Está num processo de interiorização, de aprendizagem. E aíacho que estamos todos, desde o cidadão comum até nós, arquitectos, exercitando umaprofissão que tem implicação sobre a cidade. Estamos a caminhar para um tipo de cida-dania que tem como actor principal a própria cidade no sentido do espaço público e daqualidade ambiental.

A cidade hoje já está no nível da espacialidade metropolitana, interterritorial, o quequer dizer que também tem a ver com as infra-estruturas, com as opções ecológicas,

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com as questões da paisagem. Falo da paisagem dos grandes espaços – o “espacement”,como diz o Nuno Portas, que prefere essa palavra ao vazio –, mas também dos espaçosda cidade histórica, consolidada, compacta, que é talvez aquela onde hoje começa a ha-ver alguma reacção. Mais resistência?

São reacções a posteriori, de reboque e de resistência, e com um cunho muito conser-vador. Isto para mim é o sintoma de que estamos num processo de aprendizagem.

Não me surpreende que tendo a democracia sido iniciada com um uso até à exaustão,quase um desgaste, do espaço público como espaço de encenação, não tenhamos transi-tado para a exigência do espaço público como espaço de qualidade, num exercício de ci-dadania de qualidade. Porque esse é um processo em relação ao qual estávamos todosmuito alheados.Após a revolução, a reacção foi de euforia: de adesão e de festa. Hoje há um alhea-mento cada vez maior do cidadão em relação aos processos políticos. Nas eleiçõesintercalares de Julho de 2007 para a Câmara Municipal de Lisboa houve cerca de 60por cento de abstenção. O Estado parece não ter cultivado a base para que as pes-soas continuassem a acreditar na democracia e na ideia de espaço público.

Há um alheamento da política. É que política é “polis”. “Polis” é causa pública. A “civi-tas” em romano não era a cidade propriamente dita, era o território, cidade-território. O alheamento da política é o alhear da causa pública. A política passa a ser a pressão dogrupo, dos interesses partidários. E perde esta dinâmica mais universal da coisa pública,que é o campo da cidadania como reivindicação. Como é que um cidadão pode participar na discussão da arquitectura evitando a ma-nipulação política? Como é que os arquitectos podem chegar aos cidadãos evitandomanipulações políticas que usam a arquitectura para monitorizar forças que esca-pam aos próprios projectos?

O explodir deste fenómeno é curioso, é não é só uma característica nossa, acontecenoutros países. No entanto, com algumas diferenças significativas. O conflito é uma coi-sa sempre subjacente e que faz parte destes processos. Costumo dizer que os conflitosfazem parte dos processos de aprendizagem.

A participação no SAAL, no pós-25 de Abril, é um tema longe de estar resolvido, e pro-vavelmente nunca estará resolvido. Se calhar é como o próprio processo democrático.São processos de aprendizagem, de transformação, em que se amadurece e se vai reco-nhecendo e conhecendo, mas também os dados vão mudando.

Há um fundo importante que tem a ver com a questão educacional e cultural que nãoé atribuída oficialmente aos políticos. Temos uma tendência grande em reduzir a discus-são deste tema à corrupção da classe política. O problema é mais complexo, difícil e ge-neralizado. É um problema social e cultural. Pergunto muitas vezes porque é que comtantas reformas educacionais dos sistemas de ensino em Portugal chegamos a este es-tado hoje, sobretudo no ensino médio, muito mais grave que no universitário.

Há também factos positivos, como a questão da ecologia. Há uma sensibilidade razoá-vel para a reciclagem, para a questão dos desequilíbrios ecológicos. Quanto a mim, essaquestão foi mal posta, foi posta só de um lado do binário. E não só não acrescentou nadana educação da cidadania enquanto construção da cidade, como remeteu a construçãopara o domínio da “ameaça do betão”. E isto é grave. Os programas de ecologia na pers-pectiva naturalista são o mito do retorno ao selvagem, ao primitivo. Se formos só por umlado do binário acabamos aí impreterivelmente, e nunca pelo sistema equilibrado.

A ecologia é um problema de equilíbrios entre artifício e natureza. Porque é que só sefoi do lado da natureza e nunca se foi do lado do artifício? Ir do lado do artifício é ir do la-do do projecto de qualidade, ou da qualidade do projecto. O artifício combina o equilíbrioecológico com a proposta projectada, resultante de uma ideia. Aquilo que foi apelidadode “betão” acaba por conter todo o seu valor metafórico a projecção do artifício. A ecolo-

Rossio, fotografia do final do Séc. XIX, Alcobaça

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gia é o sistema de equilíbrio entre o artificial e o natural. E se é importante estar do ladoda natureza, é tão ou mais importante estar do lado do artificio de qualidade! E do lado do homem.

Do lado do homem como projecção da ideia, do projecto. Claro que há boas razões pa-ra esta “ameaça do betão”. A especulação, a ausência de planeamento, de previsão, sãofactores de peso, mas vão ao ponto de aniquilar a cultura do projecto. Como é que se ul-trapassa isto?

Em Alcobaça, quando arrancou o projecto de intervenção no Mosteiro, disse ao Presi-dente da Câmara: “Este é um processo que vai interferir na cidadania, que vai ser polémi-co”, porque é uma grande intervenção num espaço público que os alcobacenses conhe-cem há cinquenta e tal anos, portanto há três gerações!É a memória desses habitantes.

É a memória imediata. É aqui que se gerou a sua identidade próxima, mas essa identi-dade é também muito mais longa, são oitocentos anos de história! Quando esta questão é posta em causa porque se muda o invólucro, há uma reacção imediata. Esta pode serconservadora, ou de instabilidade psicológica porque é identificada com uma perda deidentidade, por dificuldade em perceber que pode ser uma melhoria. E gera-se uma desconfiança em relação aos decisores.

Exactamente! Desconfiança em relação a intervenções que são de má qualidade. A expansão descontrolada de Alcobaça deixou os profissionais e os promotores públicosnas ruas da amargura. As expansões urbanas dos últimos anos não só não têm qualidadecomo ainda por cima vieram criar grandes problemas nos centros históricos como a de-sertificação. No caso do nosso projecto para o Mosteiro de Alcobaça houve sessões pú-blicas de esclarecimento e as maquetas estiveram continuamente expostas.Foi promovido um debate inicial?

Foram três sessões de debate. Embora o Cine-Teatro estivesse cheio, pelo menos emduas sessões, foi pouco em relação à população de Alcobaça. Por outro lado, embora

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Manifestação do 1º de Maio, Lisboa, 1974

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tenha ficado convencido que as sessões foram úteis, não foi feita uma sondagem, e porisso não se sabe ao certo o que é que as pessoas pensaram na altura sobre o projecto.

A verdade é que nós arquitectos temos muitas limitações. Senti isso no Casal das Fi-gueiras, em Setúbal, na operação SAAL. Tem projectos em curso com esse tipo de programa, de espaço público?

Sim, em Trancoso, na zona do chamado Rossio da Feira que converge na entrada prin-cipal da muralha de Trancoso. Fizemos o Programa Polis de Coimbra, que está construí-do, que é a área envolvente do Mosteiro de Santa Clara-a-Velha. E também fizemos o Po-lis de Viseu, que não está construído mas é uma grande área de espaço público.Encontrou resistência como a que encontrou em Alcobaça?

Não, antes pelo contrário. Em São Martinho do Porto refizemos todo o passeio maríti-mo e uma zona interior que ainda está em construção. Esta obra enfrentou alguma resis-tência no início, mas agora teve uma adesão bastante generalizada. Como a obra de San-ta Clara-a-Velha em Coimbra. Em Alcobaça ainda há reacção negativa, resistência, hácríticas mesmo! Reconheço que de todas estas três intervenções, a de Alcobaça é a quetoca mais fundo, é a mais radical em relação à transformação do que lá está. Em que altura do processo as pessoas devem ser chamadas a participar? Muitas ve-zes não são chamadas para participar já com o projecto concluído. Não será mais in-teressante a consulta no início, ainda na fase da construção do programa?

Há uma real dificuldade das pessoas em interpretar e entender os projectos. O que lávem normalmente são slogans, raciocínios homologados de ideias feitas que alguém lan-ça. Não é linear que aquilo em que o arquitecto está absolutamente seguro que se vaimaterializar seja transmissível a quem ouve.

Há o problema de aprendizagem, que passa por recuperar a confiança na cultura deprojecto. Assim como está pelas ruas da amargura a cultura dos políticos, o grande dra-ma é que a cultura do projecto está na lama. Temos motivos para dizer isto porque hámuitos projectos maus. O planeamento tem sido fundamentalmente comandado pelaespeculação. As pessoas começam a duvidar do projecto. À partida pensam que é uma

Casal Figueiras, Setúbal, 1975-7

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coisa má, e que vai deixar a situação pior do que estava. Enquanto não se restabelecer omínimo de confiança nesta cultura, é difícil de dialogar.

Do lado dos arquitectos são importantes duas coisas. Primeiro, têm que criar meca-nismos para veicular a antecipação das transformações e, por outro, têm de ser capazesde transmitir confiança nessas transformações, ou seja, fazer projectos de qualidadeque é a sua responsabilidade. Os slogans são mais que muitos. É o “betão contra a natu-reza”. O “progresso contra a cidade histórica”. O “novo contra o velho”. A “inovação contraa memória”. E começámos a entrar em campos de especialização. Onde é que o cidadão deve entrar?

Para mim não é muito claro onde é que o cidadão deve entrar. Acho que não é possívelgerir um projecto em democracia participada em todas as suas fases. O cidadão tem queacreditar que os decisores que elegeu têm uma coisa chamada “poder de governar”.

Estas decisões têm de ser compartilhadas e contribuir para a cidadania alargada. Masnão quer dizer que qualquer cidadão seja arquitecto! Ou acreditamos que há mediaçõesou não vamos a lado nenhum. Estamos num mundo onde há diluição de fronteiras, no en-tanto não acredito num parque projectado pela cidadania.

Houve um programa de intervenção no espaço público em Chelas, no edifício da PanteraCor-de-Rosa, em que interveio a artista Fernanda Fragateiro. Fizeram-se coisas mas de-pois ninguém as manteve e desapareceram. Dizia-me alguém envolvido no processo que aúnica coisa que se manteve viva foi um talhão grande em que foi a população que construiuo jardim. Não conhecia o caso. O que se passa é que é o único jardim que é mantido! Porque é afectivo.

É afectivo, exactamente! Disseram-me: “Arquitecto, é um jardim completamente‘kitsch!’”.Muitas vezes não se está a discutir o conteúdo, mas a forma. Em Alcobaça talvez tenha acontecido também.

A primeira coisa que decidiram não construir em Alcobaça, por uma contestação partidária, foi o parque de estacionamento coberto no Rossio.

Pousada de Estoi, Faro, 2003©

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Eles nem viram a forma do estacionamento. Expliquei-lhes o projecto mas não que-riam saber daquilo para nada! A contestação foi: “Não queremos um estacionamento en-terrado no espaço do Rossio!” Expliquei porque é que se tinha combinado com a Câmara,dizendo uma coisa que era um pouco contraditória, mas verdade, que era: “Reparem, es-tamos a tirar os carros do adro, estamos a tirar os autocarros, estamos a propor interfa-ces afastados de maneira a que os turistas quando vierem ao mosteiro percorram a pé ocentro histórico, ou com um ‘shuttle’. Isto para evitar que os autocarros parem em fren-te do mosteiro, o que, além de tirar a vista, faz com que as pessoas saiam do autocarro,entrem na igreja e um quarto de hora depois saiam e vão-se embora. Isto é um tema queinteressa aos cidadãos: se se estacionar ao fundo, atravessa-se o centro histórico, as es-planadas enchem, as lojinhas vão vendendo coisas que não vendiam; pouco a pouco, osalcobacenses estão a dar-se conta disto.

No entanto, o estacionamento era muito importante para os moradores do centro his-tórico que estão todos a comprar casas na periferia. Se os centros históricos são medie-vais, têm estruturas onde não entra o carro. Por isso dissemos: “O Rossio, antes da obra,levava 160 carros. Destes, pelo menos 100 são de moradores. Os turistas? É bom quevão para outro sítio, sobretudo os autocarros. Se quiserem vir para aqui, pagam”.

O que me parecia uma coisa extremamente sólida do ponto de vista programático, ge-rou uma reacção que defendia que a obra punha em risco as fundações dos prédios limí-trofes. E eu disse: “Não é invenção. Vocês estão é traumatizados pelo túnel do Terreiro doPaço! Erros de engenharia e de projecto sempre se fizeram, e eu não estou incólume,mas posso-vos garantir que por isso mesmo este estacionamento é caro porque tem quedrenar por baixo, por cima, pelos lados, as fundações são em micro estacas, etc., etc.,precisamente porque também sabemos! No mínimo, dêem-nos o benefício da dúvida”.Caiu em programa com o estudo prévio feito.

No planeamento já existem os inquéritos públicos, e períodos em que os projectos es-tão expostos, explicados e sujeitos à participação pública. A experiência que tenho, e jáfiz vários Planos Pormenor, é que isso não evita a contestação. O hotel Estoril-Sol giranum mundo de blogues e de abaixo-assinados, e o projecto foi aprovado com participa-ção pública. Não acredito que seja possível um projecto continuamente participado. É im-portante uma contínua informação. Sempre fui acusado de ser defensor do diálogo. Se odiálogo for bem gerido, o próprio projecto pode beneficiar. Isto não retira a especificida-de da arquitectura, e que nós temos que gerir os nossos técnicos e as nossas equipas.

Sinto, como projectista, uma grande dificuldade dos encomendadores em definir pro-

Centro de Feiras e Iniciativas Empresariais (Pavilhão Multiusos), Trancoso, 1995-2003

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gramas. Sempre defendi que os projectistas devem, quando há essa dificuldade, contri-buir para esclarecer questões de programa. Mas nunca se podem substituir ao encomen-dador em termos de definição do programa. Mas está a falar de obra pública e não de encomenda privada.

Refiro-me sobretudo à obra pública. A encomenda privada no campo da habitação co-lectiva em Portugal gera-se na total incerteza! Nunca se sabe se os apartamentos são pe-quenos, se são grandes, o que é que o mercado está a vender, não há qualquer segurança.Está a fazer um novo edifício de habitação colectiva na Avenida dos Combatentes em Lisboa?

São dois quarteirões de um plano que estava definido pela Câmara. O que fizemos foiuma coisa que quisemos fazer no Estoril-Sol, e que não funcionou, que é estudar um sis-tema estrutural para o edifício que permita uma certa flexibilidade.

A partir de uma localização da distribuição vertical, elevadores e escadas, propuse-mos uma modelação que basicamente é uma estrutura que permite definir circulaçõesno centro. O outro problema agarrado a este é o da flexibilidade das instalações porque ogrande problema na habitação em flexibilizar o espaço são as zonas infra-estruturadas:as casa de banho e as cozinhas, que são fixas. Esta proposta tem uma ligeira perda deárea bruta mas permite uma flexibilidade total na tipologia dos apartamentos. De acordo com estatísticas recentes, Portugal é o sétimo país mais idoso do mundo.Isto vai influenciar a produção arquitectónica nacional. Quais são, na sua opinião, osaspectos positivos e negativos deste novo fenómeno?

O fenómeno é previsível e tem a ver com efeito de cascata da descida da taxa de nata-lidade. Começou nos países nórdicos. O mediterrâneo está neste momento a passar o ci-clo baixo e ainda não tocou no fundo mas presume-se que esteja lá perto.

A primeira grande consequência tem a ver com todo o esquema do Estado-Providên-cia. Já se sabe que não haverá reformas ou que baixarão substancialmente, porque hámuitos a consumir e poucos a produzir.

Em termos de arquitectura, não é nada linear que este fenómeno se traduza, porexemplo, numa retracção da construção. Espanha, que está pior no que toca à taxa denatalidade, desde há cinco anos que nunca construiu tanto. Estamos a construir não paraa população do censo português, mas para os alemães ou ingleses que irão viver a tercei-ra idade em Óbidos, Lisboa ou Algarve.

Outro fenómeno ignorado pelos censos populacionais é o problema das imigrações. O geógrafo Jorge Gaspar defende que em 2020 a cidade metropolitana de Lisboa vai

Pousada S. Teotónio, demolição e transformação do Edifício do Antigo Hospital S. Teotónio, Viseu, 2002-©

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ter cinco milhões de habitantes. Ou seja, metade da população portuguesa. Estará este envelhecimento a criar uma sociedade cada vez mais conservadora emrelação ao que se constrói?

Sim. Mas preocupam-me mais as mecânicas de mercado do que o envelhecimento dapopulação. O que introduz mecanismos conservadores são os mecanismos de produçãodo mercado, de oferta da habitação, nos planos de urbanização que se aproximam dosmodelos dos “resorts” americanos.

O Bom Sucesso, que é muito interessante ao nível da arquitectura, tem um plano queé banalíssimo. Foi a WATG (Wimberly Allison Tong & Go) que o projectou, e porquê? Por-que o mecanismo da oferta tem um grande inimigo que é o risco. Um investidor quandoinveste, tudo o que seja risco, se puder, deita fora. E portanto, só actua com padrões re-conhecidos.

O que é que isto quer dizer na arquitectura?Tudo o que é o chamado referencial no mer-cado é o modelo sobre o qual se investe. Isto é que é muito preocupante. O que se passaem termos culturais não é já tão linear assim. A noção que tenho é que estamos a evoluirpara uma sociedade em que o que é dominante é a pluralidade, onde há nichos para tudo.Caminhamos para um lugar de diversidade.

Diversidade em tudo. Temos uma sociedade envelhecida, mas nunca tivemos tantosfenómenos de representação de juventude extremamente criativa. Para não falar já napluricultura que resulta da mobilidade. A globalização é uma coisa que me preocupa en-quanto fenómeno de homogeneização da cultura, mas também é verdade que nuncahouve, como agora, tantos fenómenos de contra-cultura. Será ainda possível falar de cidade ou apenas falar em urbanizar o território?

E porque é que isso não há-de ser cidade? Na gíria da arquitectura, e sobretudo na gí-ria da arquitectura portuguesa, quando falamos de cidade estamos na cidade compacta,na cidade histórica, na melhor das hipóteses é a cidade decimonónica ainda. A cidade dacontinuidade.

O que está a acontecer no mundo são dois fenómenos paralelos muito interessantes.Pela primeira vez a economia global e nacional está nas cidades. Hoje os grandes produ-tores de riqueza são as cidades. Desde o dia 3 de Novembro de 2006, 50 por cento da po-pulação está nas cidades A tendência é nos próximos vinte anos passar a ser 70 por cento.

O que é que são essas cidades? Não têm nada a ver com as cidades compactas. Esta-mos a falar de territórios metropolitanizados. A dicotomia campo/cidade vai continuar aexistir, mas o que se está a desenvolver são cidades-países.

Foi publicado na revista “Newsweek” um estudo sobre a nova geografia económica domundo. O plano de trabalho do investigador é a fotografia nocturna do planeta Terra comessas grandes manchas de luz. Assim, isolou territórios de continuidade luminosa. Conti-nuidade luminosa não é continuidade espacial, que é o conceito da cidade histórica e tra-dicional. E definiu novas áreas – a que ele chamou novos países – e depois acompanhoueste trabalho com um estudo com os seus alunos de potencial económico destas man-chas. E isso gera países!

O primeiro país em termos de produção económica, neste momento, chama-se Bos-wash (Boston/Washington), o segundo era Tochi (Toronto/Chicago), e vai por aí fora…São potências económicas e de criatividade também.

Claro, estão ligadas. Na Península Ibérica existem três grandes áreas metropolita-nas. Uma que começa em França e vai até Valência, englobando obviamente Barcelona,outra em volta da grande Madrid, e por último a área metropolitana na costa ocidentalque é um corredor que vai desde a Corunha até Setúbal. Não estou em condições de dizerque o termo “cidade” vai desaparecer. O termo romano por trás da palavra cidade, que é o“civitas”, era uma realidade territorial e não nuclear.O planeamento poderá vir atrás, mas a força e a energia da expansão urbana é maior.Apesar de muitas vezes acontecer de forma acrítica como uma mancha de óleo quevai progredindo. Esta cidade linear atlântica não foi planeada, foi urbanizada.

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59Gonçalo Byrne

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60 Jornal Arquitectos / 228

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61Gonçalo Byrne

Acho que não foi planeada nem urbanizada, foi infra-estruturada. O grande mecanis-mo da planificação das cidades metropolitanas é a infra-estrutura. No fundo, é um con-ceito muito mais alargado e muito mais rico do conceito de rua.

O mecanismo de urbanização da cidade tradicional é a rua. A praça já é uma conse-quência da rua, é um quarteirão que não se constrói. E a rua gera a malha. Isto hoje é ainfra-estrutura. A infra-estrutura tanto é uma rede de auto-estradas, como é o caminho-de-ferro, como é a localização dos aeroportos.Ou do traçado do TGV.

O TGV é uma infra-estrutura de caminho de ferro de alta velocidade. É um mecanismode serviços e de gestão de tempo. As distâncias nas áreas metropolitanas não se medemem metros mas em minutos, ou fracções de tempo. A questão de mobilidade é uma ques-tão de suporte de vida.

Não conseguimos falar de cidade sem trabalhar nos seus vários níveis: o nível subter-râneo, que permite lançar as raízes, os esgotos, as infra-estruturas; o nível do rés-do-chão, que é onde se gere a relação entre os vazios e os cheios, etc.Essas infra-estruturas que vão organizar o território têm uma componente pública mascomeçam a ser geridas por privados. A matriz do “público” vai sendo “privatizado”.

Essa é outra característica da cidade metropolitana que é o problema da diluição dassoleiras: o que é público e o que é privado na cidade contemporânea? É a história dosnão-lugares. O que é que é um espaço público hoje? É o Centro Comercial Colombo ouum aeroporto?Verificam-se hoje duas tendências; por um lado, as autarquias começam a investirem espaço público com alguma qualidade, por outro, os privados fazem espaçosprivados com características de espaço público (como é o caso dos centros comer-ciais). Como é que se posiciona sabendo que estes últimos são bem sucedidos a ní-vel de adesão?

Num centro comercial um grupo de ciganos, por exemplo, é rigorosamente seguido eà primeira é convidado a sair. Acho que apesar de tudo há diferenças importantes entre oespaço público e o privado. Costumo responder a estas perguntas com outra provocaçãoque é tirar o “ou” e pôr o “e”. É público ou é privado? Eu digo: “é público e é privado”.

O que está a acontecer tem a ver com a perda da influência do Estado-Providência ecom a falência dos modelos socialistas, comunitaristas. Esquecemo-nos que a BaixaPombalina foi construída, em 90 por cento, pela iniciativa privada. Tirando os ministériose as igrejas, tudo o resto é máquina privada. E isto sempre existiu. O que se está a passarhoje é que cada vez mais há fenómenos de transferência e de sobreposição. É um proble-ma político e um problema de cidadania. Têm que se encontrar mecanismos de colabora-ção e participação entre o privado e o público – o centro da Europa tem já muitos casos,as chamadas grandes operações de intervenção dos três P’s, como se diz em Itália, Par-cerias Público-Privadas. Tem algum projecto que siga essa linha?

Tive duas intervenções em Itália em planos desta natureza. São mecanismos de umacomplexidade incrível, sobretudo jurídica e económica. O privado quer saber onde é quevai pôr o dinheiro.

Num desses projectos em Asiago, cidade no planalto dos Alpes, perto de Vicenza, oterreno que era totalmente privado, passa a ser terreno público entre 60 a 70 por centodepois da intervenção. E isto feito sem que o investidor público invista quase nada, ge-rando mais valias muito bem localizadas.Com que programa?

Um programa misto com habitação, comércio, equipamento público, um polidesporti-vo coberto e um enorme parque público aberto à paisagem.

O poder público, a cidadania, deve continuar a reivindicar a parte principal da definiçãoe eventualmente da construção do espaço público. Hoje o próprio espaço público não é a

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62 Jornal Arquitectos / 228

rua e a praça; é muito mais do que isso. Mas também é verdade que o parque urbano, ojardim, entre nós, passou a ser substituído pelo centro comercial porque não havia ne-nhuma produção de espaço público.

Temos um exemplo que comprova o oposto, que é a Parque Expo. Há aí uma quantida-de generosíssima de espaço público qualificado. O plano do arquitecto paisagista JoãoNunes desde o Trancão até à marina é de grande qualidade, onde há investimentos demanutenção altíssimos, e está cheio de gente. Na obra “O Leopardo” de Tomaso Lampedusa o protagonista afirma “É preciso quetudo mude para que tudo continue na mesma.” A sua atitude reflecte este olhar demudança e continuidade. O arquitecto deve ser um gerador de consensos?

Sinto uma necessidade quase visceral de gerar sínteses, coerências projectuais queenvolvam essa situação de diálogo. E talvez por isso se possa aproximar um pouco doquerer gerar consensos. Defendo uma arquitectura muito dialogada. Defendo tambémuma dimensão experimental na arquitectura, embora sinta na nossa prática que não te-mos a disponibilidade de uma amplidão experimental, nem tecnológica nem cultural.

Chamaria ao que estamos a falar não tanto “consenso” mas mais uma “busca de para-doxo”; se é que é possível buscar o paradoxo e se é que o paradoxo tem a ver com a reali-dade. Esta ideia de que a arquitectura é uma actividade em que a síntese é inclusiva e nãoexclusiva, um pouco a estratégia do “e” e não do “ou”, em que a realidade é de tal maneiracomplexa que no fundo se pode traduzir numa simplificação.

O limite do diálogo é aquele que termina na coerência da obra. O que tem de prevale-cer é a sua própria coerência. Tenho dificuldade em ter uma leitura da arquitectura en-quanto imagem, enquanto visualidade. Creio que a arquitectura é qualquer coisa em queo essencial está para lá da contingência da discussão das linguagens.

A nossa arquitectura, sobretudo nos anos 70, 80 e também parte dos anos 90, sofreuum processo de evolução linguística: vem do estruturalismo. A discussão começa nosanos 60, com o Noam Chomsky. É um tema que me continua a interessar: os processosque geram forma – os ingleses chamam-lhe “design method”. Sempre me interessouchegar à forma enquanto instrumento concreto, finito. Uma forma que tem conter toda aoutra carga e que tem de conter vida!

Nós, arquitectos, não produzimos exclusivamente objectos de desfrute visual, emoti-vo, embora a componente intuitiva ou a componente estimuladora seja fundamental na

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63Gonçalo Byrne

arquitectura. Um edifício tem de ser um contentor de vida. O contentor não é apenas oque cumpre uma função. Poderá ser desde de que passe de um alargamento tal da fun-ção que acaba por caber lá tudo. O problema de “cumprir a função” é que a certa alturapensou-se que a vida se continha numa série de parâmetros estatísticos. Arquitectos como Charles & Ray Eames e Alison + Peter Smithson trabalharam bas-tante sobre as questões da informalidade do quotidiano.

Isso é quando se começa a pôr em causa a estreiteza do funcionalismo. É muito im-portante a ideia de que a obra construída, habitada, possa contribuir para que a relaçãoentre quem lá vai e esse objecto possa desencadear coisas que estão para além do seulado concreto. A maneira como entra a luz, como se interrompe a visão, como se escolhea janela, como se trata a acústica, tudo isto é um problema da arquitectura. Charles Baudelaire dizia que a modernidade é o transitório, o fugitivo, o contingente;a obra de arte conjugaria isso com o imutável e o eterno. O Gonçalo Byrne tem feitomais a apologia da longa duração, relativamente à arquitectura. Quer comentar?

Baudelaire está a falar do paradoxo que acabei de defender! O paradoxo é uma pala-vra maldita. Na minha geração era a fraqueza e a mistificação.

O discurso que constrói a cultura dos anos 60 é a dialéctica. O discurso da tese, da an-títese e da síntese como resultante de duas situações opostas. É possível construir apartir de duas situações opostas, mas não é a única maneira de construir. Álvaro Siza es-creveu que o arquitecto tem de construir o projecto, fazer a obra, e construir também ofascínio à volta dessa obra. Diz que não há receitas para os projectos. O que é importanteé não perder o objectivo, e tentar manter o que é aparentemente inconciliável.

Os poetas sempre andaram por aqui. Um dos escritores que mais me fulminou, aindabastante novo, foi Rainer Maria Rilke. Os grandes momentos da poesia, da arte, normal-mente andam por aqui. Geram situações extremamente ambíguas. Quando se está a lerum livro este pode-se tornar extraordinário devido à forma como o recebemos. Por vezesestamos para lá daquilo que ali está. Isto não acontece com muita frequência, masacontece. Estar a ler um livro, com o projecto a correr na cabeça, não parando de ler por-que aquilo me está a ajudar a fazer o projecto!

Quando é que uma obra de arquitectura gera isso? Uma obra de arquitectura para ter essadimensão tem que fazer isso na vivência dessa obra. É esta capacidade de a partir do concre-to gerar relações criadoras ou criativas que torna a questão da arquitectura importante. ̂

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EXTRA JA 3 PROGRAMAJUAN HERREROSFERNANDAFRAGATEIRORUI MENDES28-9-2007 TEATRO S.LUIS JARDIMINVERNO 18H

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82 Jornal Arquitectos / 228

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Torre “Phare”, La Défense, ParisDesignação do projectoConcurso Internacional de Arquitectura para a “Phare Tower” em La DéfenseLocalizaçãoParis, FrançaData Concurso2006ArquitecturaMorphosisEquipa (concurso)Thom Mayne, responsável pelo projectoSilvia Kuhle, coordenador de projectoAnne Marie Burke, John Carpenter; NataliaTraverso Caruana, Guiomar Contreras, NovellaD’Amico, Leonore Daum, Marty Doscher, Patrick Dunn-Baker, Mauricio Gomez, NutthawutPiriyaprakob, Penny Herscovitch, Joseph Justus,Michelle Lee, Michael Sargent, Aleksander Tamm-Seitz, colaboradoresEspecialidadesConsultor arquitecturaJean-Marie Charpentier, chefe projecto, Andrew Hobson, Director projecto e AntonioFausto, AssociadoEstrutura da fachadaRFR Ingénieurs – Matt King, Grace TanFísica do edifícioIBE Consulting Engineers – Peter SimmondsOCI – Jacques de PastreInstalações mecânicasVan Deusen & Associates – Rick SayahClienteDéfense business district, ParisImagensMorphosis

MORPHOSIS

No dia 24 de Novembro de 2006, o escritórioMorphosis foi escolhido de entre um conjuntode dez escritórios internacionais para dese-nhar a Torre “Phare” [Farol] para a Unibail,em parceria com a l’Etablissement Publicd’Aménagement de La Défense (EPAD). Pro-gramada para estar concluída em 2012, estatorre de 300 metros, 68 andares, 175.000 m2de área (entre os quais 130.000 m2 para es-critórios) será fundamental no redesenvolvi-mento da zona financeira de La Défense.

A Torre “Phare” pretende distinguir-se co-mo um símbolo de optimismo e progresso. Pro-grama, design e engenharia foram integradosnuma visão inovadora para uma torre do séc.XXI, que emerge organicamente da condiçãocomplexa da sua localização para se transfor-mar num marco no skyline daquela região.

A abordagem procurou sintetizar os ele-mentos programáticos, físicos e infra-estru-turais díspares, através de uma série de espa-ços sensivelmente escalados de modo a tra-zerem coerência, ressonância e um sentidode lugar àquela área.

Conectividade urbanaEm vez de produzir um edifício isolado e

autónomo, procurou-se desenvolver uma es-trutura híbrida em que a circulação traz afluidez desde a cota inferior (concentradorade tráfego), através do CNIT (Centre Natio-

nal des Industries et des Techniques), atéaos espaços públicos que se transformam –horizontal e verticalmente – criando uma ri-queza de experiências culturais e comerciaisao longo desse percurso.

Um edifício ‘conector’, liga física e progra-maticamente o CNIT à torre. A partir desseedifício, escadas rolantes revestidas a vidrotransportam os utentes para o hall de entra-da da torre a 60 metros de altura, que funcio-na como grande praça pública suspensa no ar.

Procurou transformar-se a praça austerado piso térreo num espaço público vibrante.Os espaços urbanos sociais – jardins, cafés elojas, assim como uma zona de observação eum restaurante – são distribuídos vertical-mente ao longo da torre e acessíveis ao públi-co. Elevadores-expresso (tipo skip-stop) per-mitem que os trabalhadores se encontremdurante o dia de trabalho, funcionando decerta maneira como praças verticais.

SustentabilidadeA forma e a orientação do edifício corres-

pondem ao percurso solar; a dupla pele curvi-línea da fachada sul minimiza o calor e o bri-lho do sol, enquanto que a fachada norte, lisae com um envidraçado transparente, maximi-za a exposição do interior à luz natural duran-te o ano inteiro. Esta dupla pele trabalha sem-pre procurando a máxima eficácia energética.O benefício resultante do aumento de luz e deventilação naturais, cria um espaço de traba-lho de qualidade e conforto excepcionais.

Um parque eólico, que se destaca visual-mente, coroa a torre fornecendo energia lim-pa e alternativa que alimenta o sistema deventilação natural do edifício. Este sistemaauto-suficiente arrefece o edifício durantemetade do ano sem recorrer a qualquer fontede energia exterior, aquecimento ou arrefeci-mento suplementares.

“Há uma fluidez, uma sensibilidade, umasuavidade na forma à medida que se estendeem altura. Movendo-nos à volta da torre, estaparece-nos mudar constantemente depen-dendo do ponto de vista – não é uma imagemunificada mas uma estrutura dinâmica queresponde ao lugar, ao ambiente onde se inse-re e ao desempenho pretendido.” ^THOM MAYNE

Implantação

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Fotomontagem

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Corte

Pele Forma Estrutura

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Fotos maqueta e fotomontagem

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Intervenção no Espaço Urbano de Montemor-o-Velho

Designação do projectoIntervenção no espaço urbano de Montemor-o-VelhoLocalizaçãoMontemor-o-Velho, CoimbraData ProjectoDesde 1999 até 2000Data Construção2002ArquitecturaMiguel Figueira / GTL de Montemor-o-VelhoColaboradoresNelson Mota, Nuno Morais, Daniel Gameiro,arquitecturaIsabel Quinteiro, engenhariaMarlene Maricato, Márcio Ribeiro, levantamentoFlávio Imperial, arqueologiaSandra Lopes, históriaPedro Oliveira, serviço socialAntónio Assis, serviço administrativoCélia Parente, direitoEspecialidadesRedes de águas e esgotosGAT da Figueira da FozRedes eléctricasEDPRedes de gásLusitâniaGásTelecomunicaçõesPTcomunicaçõesClienteCâmara Municipal de Montemor-o-VelhoConstrutorAntónio Simões Rodrigues & Filhos Lda.Haparalela Construções Lda.Construção de infraestruturas:José Marques Grácio, SAÁrea de construção32 220.00 m2Custo2 134 931,00€FotografiaGTL de Montemor-o-Velho

MIGUEL FIGUEIRA

O programa e o projecto surgem por propos-ta do Gabinete Técnico Local no âmbito doPrograma de Recuperação de Áreas UrbanasDegradadas. Não estamos portanto no con-texto da encomenda que tem invadido o espa-ço urbano em jeito de cruzada contra o vazio,onde a construção e o desenho servem o ima-ginário dos autarcas e de outros umbigos,quando deveriam servir a cidade. A interven-ção aqui não é verdadeiramente de requalifi-cação do espaço público mas antes de qualifi-cação do espaço público, porque não haviapraça, rua ou largo, que funcionasse como tal.

Libertámos a Praça da República do atra-vessamento automóvel porque é ali o centrodo espaço público, espaço do cidadão e da ci-dadania. Para recuperar a praça tivemos quealterar o sentido de circulação da rua principale implementar dois sentidos na rua de trás.Construímos passeios onde antes tínhamosvaletas e carros mal parados. Na rua de trás,no lugar da vala que noutro tempo limitou aVila, organizámos o estacionamento, os aces-

sos viários e as ligações ao exterior. Aqui, a ex-propriação tornou-se inevitável perante a in-disponibilidade de um proprietário e o interes-se público da reconfiguração da forma urbana.A nova forma implicou a abertura de outratravessa... A nascente, na envolvente do Con-vento dos Anjos, desenhámos a articulação doCentro Histórico com a parte nova da Vila. Ostrinta e dois mil metros quadrados de inter-venção resultam do conjunto de compromis-sos vários neste quadro de interdependência.

Desenhámos o espaço do Centro Históricocom a pedra e a circulação viária na ligaçãoao exterior com o betuminoso. Ficou o parale-lo de granito na rua principal no mesmo tra-çado da antiga estrada nacional. Usámos cal-cário nas calçadas dos passeios, nos lancis,nos degraus... Os lajeados, também em calcá-rio, foram usados com parcimónia. Recuperá-mos o seixo para revestir e reforçar o carác-ter simbólico da praça e das principais entra-das no Centro Histórico. Empenámos assuperfícies para resolver drenagens e corrigirdeficiências na articulação com as edifica-ções. Negociámos com os confinantes a cons-trução de muros e de outras pequenas inter-venções, com a EDP, a Lusitaniagás e a PT arevisão das redes de infra-estruturas. A di-mensão da intervenção, forte à escala deMontemor-o-Velho, impôs o controle rigorosode custos. A obra sobreviveu à transição demandato na Câmara Municipal e foi concluídaem 2002 com um desvio orçamental de 3%. ^MIGUEL FIGUEIRA

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Miguel Figueira

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Planta

Planta

Planta

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89Miguel Figueira

Largo Macedo Sotto Mayor

Praça da Républica

Zona envolvente ao Convento dos Anjos

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Teatro Municipal da GuardaDesignação do projectoTeatro Municipal da Guarda (TMG)LocalizaçãoGuardaData Concurso1998Data ProjectoDesde 1998 até 2001Data ConstruçãoDesde 2002 até 2005ArquitecturaCarlos Jorge Coelho VelosoColaboradoresRui Filipe C. Veloso, Francisco Faria, Carla GuerraRicardo Sérgio Pinto, Teresa Sofia Fonseca, JoãoRodrigo Palmeira (3d)ClienteUnited Investments (Portugal), SAConstrutorEdifer / MrgSub Empreiteiros:Mobiliário: Often, Inde4Inst. Mecânicas: EcofluidoInst. Eléctricas/Segurança/Telefones/Iluminação: NorceteEquipamento Cénico/Iluminação Cénica e Som: TycoPré-Fabricados de Betão: PrainsaRevestimento Fachada Exterior: PavijopeÁrea de construção15 864,65 m2Custo11 935 626,06€FotografiaFG+SG – Fotografia de Arquitectura(www.fernandoguerra.com)Fotografia: Fernando Guerra l ProduçãoFotográfica: Sérgio Guerra

CARLOS VELOSO

No princípio era a arquitectura“Dois cubos. Caídos do céu. À volta, um con-vento franciscano e algumas hortas. Territó-rio do anjo da Guarda, que é desta terra, quenasceu aqui. Os dois cubos abrem-se, desdo-bram-se, transformam-se. Como a “Caixa pa-ra guardar o vazio”, de Fernanda Fragateiro,que aqui pousou durante meses. Criançasdentro abrindo janelas, inventando paisagens,sonhando portas.

Duas caixas, dois abrigos. Duríssimos. Só-brios. Rijos. Fortes, tão fortes como a cidadegranítica. Plantados aqui, no meio da rua, ser-ra ao fundo. Vidraças que roubam a luz aoscampos. Passos em volta destas caixas queguardam palavras, gestos e alguma loucurapor estrear.

Falamos de um Teatro, duas caixas de pal-co com vida dentro. Um actor que finge serdeus. Um músico que persegue a nota que,voando, se esfumou. Um mágico que erra onúmero da morte. Uma bailarina que, imóvel,pede ao público que pense na substância domovimento. E tanto por contar…

Tantas pessoas que encheram de tudo es-tas duas caixas. Caixa que guardam (já) tan-tas memórias e que hão-de abrir-se para tan-tas surpresas, desafiando o vazio. No meio dacidade, estes abrigos, são um símbolo do quequeremos ser. A Guarda tem duas caixasconstruídas à medida das nossas esperanças.Caixas que são Teatro, ou seja, o Mundo. E noprincípio era a arquitectura.” ^AMÉRICO RODRIGUES

Maqueta

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91Carlos Veloso

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Implantação

Planta Piso 2 Planta Piso -1

Perfil longitudinal

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93Carlos Veloso

Foyer e auditório

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Mercado público da Comenda, Gavião

Designação do projectoMercado Público da ComendaLocalizaçãoLugar da Comenda, GaviãoData ProjectoDesde 2001 a 2002Data ConstruçãoDesde 2005 a 2006ArquitecturaTelmo Cruz, Maximina Almeida, Pedro Soares Colaboradores (concurso)Hugo Alves, Luís Monteiro, Bárbara Silva,Alexandre BaptistaMaqueta: Pedro SantosEspecialidadesFundações e EstruturasBETAR – Miguel Villar, Eng.Instalações HidráulicasBETAR – Manuela Biguino e Marta Azevedo, Eng.Instalações EléctricasJES – João Esteves Santos, EngºRedes GásMiguel de Sousa, Eng.Espaços ExterioresSofia Castelo, arq. Pais.ClienteCâmara Municipal do GaviãoConstrutorFIRMINO FERNANDES BISPO, Lda José Bispo, Eng.Estrutura de Madeira FLEXILAM Cláudio Pires, Eng.Área de construção456,00 m2

TELMO CRUZ, MAXIMINA ALMEIDA, PEDRO SOARES

O lote destinado ao Mercado Público da Co-menda confina a Sul com a extensão do LargoPadre Horácio em direcção ao Largo Dr. Cere-jeiro, e nos três restantes lados com lotes pri-vados vizinhos.

A “rua” entre os dois largos fora alargada,alterando assim a planta original de cadastro,refazendo o alinhamento dos planos de fa-chada, originalmente curvilíneos, de forma aterem um desenvolvimento regular e recto. Oespaço resultante tornara mais evidente a re-lação entre os dois largos, conferindo à frentede rua um carácter não ornamentado, apenasmarcado pelas empenas triangulares origina-das pelo seccionar das edificações entãoexistentes e pelos topos dos muros de divisãodas propriedades.

Este espaço resultou num conjunto comapetência para equipamento público dada asua “nova centralidade”.

As pequenas dimensões da intervenção,aconselharam o recurso a soluções de distri-buição muito simples para o Mercado Públicoda Comenda.

Assim, foram criados dois corpos servidospor um pátio arborizado que se desenvolve desul para norte, desde a rua de acesso ao limi-te do lote. Este espaço exterior é o cataliza-dor de todas as interacções sociais que exis-tem neste equipamento e ao mesmo tempopermite operações de cargas e descargas.

O corpo a nascente, mais baixo, abriga aportaria, três lojas de produtos de mercearia,carne, pão e artigos diversos, uma cafetaria eesplanada.

No topo norte uma área exterior de conví-vio é equipada com um banco de granito, umbebedouro e o telefone público.

A escala da intervenção, procura simulta-neamente indicar a natureza pública do equi-pamento, camuflando-se entre o conjuntodos telhados das casas da Comenda quandovisto de longe, e sobressaindo algo, nas rela-ções de maior proximidade.

O portão de acesso ao recinto do mercado,integra com letras de grandes dimensões, aidentificação do equipamento. Tem duas posi-ções distintas. Durante o horário de funciona-mento do mercado permite o acesso franco aopátio arborizado e oculta os contentores do li-xo. Durante o restante tempo encerra o recin-to do mercado abrindo o espaço dos contento-res do lixo à rua, permitindo a sua recolha.

Este esquema de distribuição permitiu re-duzir as zonas de circulação interiores e opti-mizar as opções construtivas nos dois corposde alturas e programas distintos. Permitiutambém a gestão simples das diversas ne-cessidades de ventilação e higiene e funcio-namento independente dos dois corpos emhorários diferenciados. ^

Maqueta

Implantação

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95Telmo Cruz, Maximina Almeida, Pedro Soares

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Alçado rua

Corte transversal

Planta

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97Telmo Cruz, Maximina Almeida, Pedro Soares

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Centro de “Ciência Viva”, BragançaDesignação do projectoCentro de Ciência Viva / CMIALocalizaçãoBragança, PortugalData ProjectoDesde 2003 a 2004Data ConstruçãoDesde 2005 a 2007ArquitecturaGiulia de AppoloniaColaboradores (concurso)Concurso: Joana Sousa, Tiago SaraivaEstudo prévio: Joana Sousa, Leonardo PaiellaProjecto de execução: Tiago Castela, LeonardoPaiella , Ivan Teixeira, Ruben Ferreira EspecialidadesFundações e EstruturasFernando Rodrigues, Eng.Redes de águas e esgotosEngimodos – Pedro CorreiaRedes eléctricasRuben Sobral, EngºFísica dos edifícios/ intalações mecânicasnatural works – guilherme carrilho da graçaClienteCâmara Municipal de BragançaConstrutorSantana SAFotografiaFG+SG – Fotografia de Arquitectura

GIULIA DE APPOLONIA

O sítio caracteriza-se pela posição altimétri-ca extremamente baixa em relação ao núcleohistórico envolvente (o que dá grande visibili-dade às coberturas do edifício), por uma forteproximidade física com a água do rio Fervençae pela posição chave em relação a os novospercursos públicos relançados no âmbito doPrograma Polis.

O edifício desenvolve-se abaixo das cotasdo percurso pedonal urbano de chegada, cons-tituindo, com as suas coberturas, a ligação pe-donal entre este e o passeio do rio. Resume-sena definição de duas grandes naves expositivascom características volumétricas e de ilumina-ção natural diferentes e um espaço de ligaçãode apoio, que flui entre as duas salas e pelo ex-terior sem solução de continuidade: o limite in-terior/ exterior desmaterializa-se no plano en-vidraçado das fachadas, dilatando o espaço in-terior até aos muros de contenção de terra e aorio, fundindo a paisagem interior e exterior.

A cobertura em betão, moldada tridimen-sionalmente por planos inclinados, flutua aci-ma dos envidraçados da fachada suportadapor prumos metálicos, numa aparente sub-versão das leis de gravidade. ^

Maqueta

Maqueta

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99Giulia de Appolonia

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Cobertura / percurso e interior

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cibercafésala 1

mini-hídrica do riofervença

casa dasmáquinas

turbinaentrada norte

sala 1

cibercafé

administração

entrada nascente

bilheteira/ loja

sala 2

i.s. f.

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i.s. def.

cacifos

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RIO FERVENÇA

bar

i.s. m. 644.46643.60 643.52

101Giulia de Appolonia

Planta

RIO FERVENÇA

AÇUDE

L. L. Guerch

Rua dos Batocos

Rua dos Fornos/ Moreirinhas/ Ladeira

PONTE

640.00

N

Corte longitudinal

Planta cobertura

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Implantação

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Cromeleque de Xerez, Monsaraz

Designação do ProjectoInstalação Provisória do Cromleque do XerezLocalizaçãoMonsaraz, Reguengos de Monsaraz, ÉvoraData Projecto2001Data Construção2004Arquitectura, paisagemDaniel MonteiroColaboraçãoDiniz LourençoEspecialidadesEstabilidade e Infra-estruturasMiguel Pereira, EngºFotografiaPedro Mendo

DANIEL MONTEIRO

“O limite entre arte e arquitectura dilui-secada vez mais. Entre os artistas e arquitectosinstala-se uma relação de intercâmbios deexperiências e confronto que se leva a cabona paisagem. Enquanto a arte abandona osmuseus e procura observadores cada vezmais interessados em vivê-la, a arquitectura,do outro lado, define o território público e co-meça a ser considerada como objecto. Ambasreflectem a complexa situação do pensamen-to contemporâneo, que aborda de novo o pro-blema da linguagem e da relação com o con-texto no qual deverá inserir-se cada obra.” - inArtscapes, Luca Galoforo

A situação acima transcrita traduz, do la-do do arquitecto-paisagista, a ambiguidadepresente no momento da concepção do espa-ço que deveria albergar o Cromeleque do Xe-rez. Se, por um lado, a sua exposição era o objectivo central, não o era menos a necessi-dade de conferir ao espaço característicasque integrassem e preparassem a visita aomonumento.

Os elementos caracterizadores da inter-venção deviam, assim, apresentar algumaqualidade plástica, induzindo um sentimento

de excepção, que acentuasse a distância tem-poral que nos separa da época em que o monu-mento (original) foi construído; aqui esta sepa-ração é representada, por um lado, pela pre-sença do “umbral” que constitui a construçãodo núcleo interpretativo, e por outro, pela se-paração que o percurso, com a sua forma ecor, estabelece em relação à terra e à paisa-gem.

Assim, o projecto de reinstalação do Cro-meleque do Xerez assume a forma de cons-trução de um pedaço de paisagem, na qualum percurso leva a um local onde se expõe,separado do mundo – mas ligado à terra – amemória de um monumento megalítico, cons-tituindo o todo da intervenção um véu protec-tor em seu redor.

Ainda que esta seja a ideia presente, aconstrução deste espaço encontra-se aindaprivada de uma das suas mais importantescomponentes, que é a vegetação que darácorpo à vizinhança próxima dos monolitos. Asconstruções, pavimentos, muros e núcleo in-terpretativo e, claro, o Cromeleque, já se en-contram colocados no local na sua forma de-finitiva, permitindo desde já, uma apreciaçãodo monumento com alguma qualidade. ^

Maqueta

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103Daniel Monteiro

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105Daniel Monteiro

Recepção

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Parque Camillo Tarelo, BresciaDesignação do projectoParco Camillo TarelloLocalizaçãoBrescia, ItáliaData Concurso2000, 1º ClassificadoData ProjectoDesde 2001 a 2004Data Construção2007ArquitecturaArquitectura paisagista/Arquitectura: João Gomes da Silva, Teresa Figueiredo Marques,Jacopo Pellegrini(arquitectura paisagista)Inês Lobo (arquitectura)coordenador geral: Cesare Pellegrinicoordenador projecto de arquitectura paisagista:Global, João Gomes da Silvacoordenador projecto de arquitectura: Inês Lobo .Arquitectos, LdaColaboradoresCatarina Raposo, Víctor Beiramar Diniz, SebastiãoCarmo-Pereira (arquitectura paisagista)João Rosário, Pedro Oliveira (arquitectura)João Rosário (fotomontagem)Atelier associado Studio di Brescia (arquitectura): Mauro Armellini,Massimo Marai, Enzo Renon EspecialidadesCoordenação GeralCesare Pellegrini (parque)Fundações e EstruturasAFA, Pedro Morujão (estufa)Instalações Eléctricas e TelecomunicaçõesAFA, Fernando Aires (estufa)Acústica / TérmicaGuilherme Carrilho da Graça (estufa)Águas e EsgotosPaulo Silva, Engº (estufa)ClienteComune di BresciaÁrea de construção94 000,00 m2FotografiaLeonardo Finotti

JOÃO GOMES DA SILVA / TERESA MARQUES / JACOPO PELLEGRINI / INÊS LOBO

O caso do Parque Tarello, objecto de um concurso international, reflecte um conjuntode questões actuais do planeamento em quea transformação da paisagem implícita no fenó meno de expansão das cidades, é feita nagrande maioria dos casos em ruptura com um sistema existente de carácter rural e/ouindustrial.

A ideia de construção da paisagem não de-ve ser interpretada e analisada como umaconstrução parcial, mas deve ser lida e enten-dida como uma complexidade de sistemas na-turais e artificiais que constroem uma matriz,que se articulam em relações de complemen-tariedade e indispensabilidade. O território,por sua vez é o suporte físico da construção dapaisagem, que se constitui por um conjunto desistemas naturais como as formações geo-morfológicas, formações hidrológicas, vegeta-ção, luminosidade, que na sua totalidade, de-terminam a natureza especifica de cada lugar.

O Parque e Sistema Urbano O espaço do parque Tarello constitui-se co-

mo a terceira grande área do sistema de espa-ços verdes da cidade. O primeiro núcleo é acolina de Cidneo com o castelo dominante so-bre a paisagem, o segundo são os espaços emtorno das muralhas, potencialmente verdes,circulares e concêntricos. O espaço do futuroparque do Tarello corresponde a um espaçoaberto, filiforme e residual polarizado a nortepara a grande área verde do Cidneo e do Cas-telo. Localizado no centro de uma zona de ex-pansão este constitui um espaço residual quese afirma pela sua identidade com a cidade epela situação periférica em que se encontra.

O carácter específico do parque é dado pe-la articulação da grande escala do espaço,(bosque e a clareira de prado) com a escalado espaço urbano, e ainda da pequena escalado jardim, e das praças. O controlo da dimen-são e das proporções do parque a diferentesescalas faz parte do processo conceptual eassume um papel primordial na inserção doparque na paisagem.

O perímetro do parque confina com o limi-te diferenciado e adequado às diferentes si-tuações urbanas definindo-se através da suanatureza distinta de espaço verde e aberto.

Parque, Paisagem, SustentabilidadeA estrutura vegetal do parque é composta

através da massa arbustiva do bosque dis-posta segundo alinhamentos rigorosos de árvores e pela superfície do prado regado ao centro. A sustentabiliade da gestão do parqueé dada pela criação de um sistema ecologica-mente equilibrado e pela introdução de técni-cas construtivas apropriadas. O bosque écomposto pelas espécies fundamentais dobiótopo original da floresta paduana resisten-tes às condições ambientais de temperatura,pluviosidade e solo. Evidencia-se o carvalho(Quercus petris), a Faia (Fagus selvatica), o Ulmeiro (Ulmux minor) e em situações húmidas o Amieiro (Alnus glutinosa) ou o Salgueiro (Salix caprea). O prado será se-meado com misturas de sementes baseadasna selecção de espécies naturais da zona, associadas a espécies resistentes ao pisoteioe sombra, de acordo com a sua localização no parque.

Estrutura do ParquePrograma articulado: o princípio do progra-

ma do parque consiste na combinação e arti-culação da grande superfície o prado e bosque,com espaços abertos construídos, ligados aosistema de percursos nos pontos de acesso.

Sistema de circulação: o sistema de circu-lação é constituído por um percurso perime-tral similar ao modelo existente no Jardimdas Tulherias, formando um sistema fechado.

Jardins: constituem-se como uma sequên-cia de plataformas que articulam o acessonascente com o parque.

Construção no Parque: Centro de ArteContemporânea, adaptação do edifício do ga-sómetro em espaço de exposição, PavilhãoMediateca, Café no Bosque.

Volumes edificados: os edifícios propostosrespeitam a superfície definida pelo plano deurbanização, dispostos de um modo diferente,mas assegurando a densidade prevista.

É proposto um sistema de edifícios que serelacionam com a cidade construída atravésde volumes verticais na extremidade do parque. São implantados nos pontos de aces-so ao parque e integrados na morfologia doterreno. ^

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107João Gomes da Silva / Teresa Marques / Jacopo Pellegrini / Inês Lobo

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Bio

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1Ana Vaz Milheiro (Lisboa, 1968), é licenciada e mestre em Arquitectura pelaFaculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa e defendeu dou-toramento na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de SãoPaulo. É autora dos livros “A Construção do Brasil – Relações com a Cultura Arquitectónica Portuguesa” (FAUP Publicações, 2005) e “A Minha Casa é umAvião” (Relógio d’Água, 2007). Crítica de arquitectura no jornal Público, tem ar-tigos publicados em Portugal, Espanha e Brasil. Actualmente lecciona no IS-CTE e no Departamento de Arquitectura da Universidade Autónoma de Lisboa.2André Príncipe (Porto, 1976) estudou Psicologia (Universidade do Porto), Fo-tografia, (Faxx Akademie, Holanda) e Cinema (Escola Superior de Teatro e Ci-nema, Lisboa, 1998-2001) e fez o Curso de Realização Avançada na LondonFilm School, 2005. Tem dividido a sua produção entre a fotografia e o cinema.Expôs nos Encontros de Imagem de Braga, CPF, e Silo e tem sido publicadoem revistas como a Dayfour e a Exit. Foi duas vezes nomeado para o DeutscheBorse Photography Prize. Publicou o seu primeiro livro, «Tunnels», na editoraBooth-Clibborn Editions. É fundador da editora de livros de fotografia, Pierrevon Kleist Editions.3Bet Cantallops Dalmau (Barcelona, 1966) é licenciada em Arquitectura pelaETSAB (1994). É professora nas escolas Elisava, BAU, IED e das pós-gradua-ções Habitar la Casa e Arquitectura, arte y espacio efímero da UPC. Em 1996,formou o gabinete Saeta Estudi com Pere Ortega. Prémio FAD de instalaçõesefémeras 1999 com o projecto La ciutat de les Paraules. Finalista FAD em2005 com a exposição Refugiados, desplazados, vivir huyendo e em 2007 comStand de Layetana en el Barcelona Meeting Point.4Carlos García Vázquez (Sevilha, 1961) é doutorado em Arquitectura, e desde1999 lecciona no Departamento de História, Teoria e Composição Arquitectó-nicas da Universidade de Sevilha. Foi Professor convidado da UniversidadeNorthwestern de Chicago, em 2001, e da Università degli Studi di Roma “LaSapienza” em 2002. Em 2004 foi Professor assistente na Universidade TexasTech, Lubbock, EUA. Publicou entre outros Momo Andalucía. Arquitectura delMovimiento Moderno en Andalucía, 1925-1965 (Sevilha, 1999), Berlín-Potsda-mer Platz: metrópoli y arquitectura en transición (Barcelona, 2000) e CiudadHojaldre. Visiones urbanas del siglo XXI (Barcelona, 2004, 2ª ed. 2006).5Carlos Veloso (Guarda, 1970) é licenciado em Arquitectura pela (FAUP, 1996)e pós-graduado em Planeamento e Projecto do Ambiente Urbano (FAUP/FEUP/UP, 1997). Colaborou com António Carvalho (1991/1995) e Adalberto Diasem 1992. Desde 1994, exerce actividade na área de Design de Mobiliário e Ar-quitectura. Em 1998 recebeu o Prémio Eng. António de Almeida, e em 1999constituíu o atelier Carlos Veloso – Arquitecto, Lda. Entre outros, ganhou osconcursos para o Conjunto de Habitações Sociais na Travessa de Salgueiros/PER, (Porto, 1996), I.N.H./EUROPAN, Passeio das Virtudes (Porto, 1998) e pa-ra o Infantário de Massarelos (Porto, 2001). O Teatro Municipal da Guarda foiseleccionado para o II Prémio de Arquitectura Ascensores ENOR 2005, e no-meado para os FAD, Mies van der Rohe e Prémio Secil (2006). Actualmente éProfessor Assistente do curso de Artes, Comunicação e Design da ESTG doInstituto Politécnico de Viana do Castelo.6Daniel Monteiro (Covilhã, 1963) é licenciado em Arquitectura Paisagista pelaUniversidade de Évora. Iniciou a actividade como arquitecto paisagista em1988. Em 2005 e 2007 venceu o Prémio Nacional de Arquitectura Paisagistacom os projectos do Cemitério Municipal de Monchique, e exteriores do Está-dio Municipal de Braga. Em 2006 recebeu a Menção Honrosa do prémio “Ale-xandre Herculano” da Associação Nacional de Municípios com Centro Históri-co, com o projecto para o Parque 25 de Abril, Caminha.7Giulia de Appolonia (Pordenone, 1969) é licenciada em Arquitectura pelo Po-litécnico de Milão, 1994. Foi colaboradora do arquitecto João Luís Carrilho daGraça entre 1993 e 2000. Cria atelier próprio em 2000, e desde 2005 em Itá-lia. Foi professora entre 2001 e 2004 no Departamento de Arquitectura daUniversidade Autónoma de Lisboa. Premiada em vários concursos internacio-nais entre os quais o do Campus Escolar de Schio, e o da Sede da Ordem dosArquitectos de Faro. Entre os principais projectos em curso, destaca-se o Cen-tro de Congressos/Escritórios do Instituto Zooprofilattico de Brescia.8Gonçalo Byrne (Alcobaça 1941) diplomou-se em Arquitectura na Escola Su-perior de Belas Artes de Lisboa (1968). Professor catedrático convidado, emPortugal e no estrangeiro, recebe em 2005 o título Honoris Causa pela FAUTL,e é condecorado pelo Presidente da Républica com a Grande Ordem de Santia-go da Espada. Da sua obra destacam-se a intervenção no Mosteiro de Al-cobaça, a Sede do Governo da Província do Brabant Flamengo em Lovaina,Bélgica, a Torre de Controle de Tráfego Marítimo da APL em Lisboa, Quar-teirão da Império no Chiado, Teatro de Faro, no Algarve, e o Museu NacionalMachado de Castro, em Coimbra, actualmente em construção. Realiza actual-mente os Planos de Pormenor para a área envolvente ao Palácio Nacional daAjuda, em Lisboa e para a Alta Universitária de Coimbra. Desenvolve aindaprojectos como o da Pousada de Estoi, no Algarve, a Pousada de Viseu, Com-plexo Imobiliário Estoril-Sol, Complexo Imobiliário “Jade” em Lisboa, NovoLaboratório Central da EPAL, em Lisboa, e diversas moradias no Resort BomSucesso em Óbidos e Vila Utopia em Carnaxide.9João Gomes da Silva (Lisboa,1962) é arquitecto-paisagista. É Professor con-vidado do Departamento de Arquitectura da Universidade Autónoma de Lis-boa, aonde é responsável pela área disciplinar de Estudos da Paisagem. É,com Inês Norton, sócio fundador da Global, arquitectura-paisagista desde1990, onde tem a sua prática de projecto e planeamento, que explora as trans-formações na paisagem, produzidas pelas dinâmicas económicas e sociais.Jacopo Pellegrini (Milão, 1968) é licenciado em Arquitectura pelo Politécnicode Milão em 1995. Colaborou no atelier Global, em Lisboa de 1996 a 1999. Co-laborou no atelier de Umberto Riva em 2003.

Teresa Figueiredo (Lisboa, 1968) licenciou-se em Arquitectura Paisagista em1995, pela UTL (Instituto Superior de Agronomia). Colaborou no atelier deLuis Cabral (Arpas Lda), em Lisboa de 1994 a 1999. Prémio Lennè Jovens Ar-quitectos Paisagistas em 2000, em Berlim. Desde 2003. é docente de Projectona Faculdade de Arquitectura Ambiental do Politecnico de Milão. Tem desde2000, em Lisboa, atelier de Arquitectura paisagista com Jacopo Pellegrini, edesde 2002 em Milão. Inês Lobo licenciou-se em Arquitectura pela FAUTL em 1989. É Professorado Departamento de Arquitectura na Universidade Autónoma de Lisboa. Esta-beleceu atelier no ano de 2002. Desde a sua formação tem desenvolvido pro-jectos em diferentes áreas de trabalho, da construção de equipamentos e ha-bitação à requalificação de edifícios e espaços públicos.10José Adrião (Lisboa, 1965) é licenciado pela FAUP, depois de estagiar comJosep Llinàs em Barcelona sob orientação de Eduardo Souto de Moura (1991).Concluiu o Mestrado pela U.P.C. de Barcelona, no programa Metropolis, coor-denado por Ignasi Solla-Moralles (2002). É docente no Departamento de Ar-quitectura na Universidade Autónoma de Lisboa. Desde Setembro de 2005 édirector (com Ricardo Carvalho) do JA (Jornal Arquitectos). Desde 1991 rea-liza trabalhos de autoria e co-autoria dos quais, tendo sido premiados, se des-tacam: Concurso de Ideias para o Terreiro do Paço, Lisboa (1992), 1º Lugar, 2ºPrémio; Jardins Garcia de Orta, Expo98 (1998); Europan 5, Deslocações e Pro-ximidades, Chelas (1999), 1º Prémio; Concurso de Ideias para Dinamizaçãode Área Arqueológica do Vale do Ocreza (2004), 1º prémio., Concurso deIdeias para o Mercado 1º Maio e envolvente, Barreiro (2005), 1º Prémio; Con-curso de Ideias para a Valorização de Frente de Mar de Albufeira (2006), 1ºPrémio. (www.joseadriao.com)11Leonor Cintra Gomes nasceu em Lisboa e licenciou-se em Arquitectura naEscola Superior de Belas Artes de Lisboa, em 1977. Colaborou em ateliers dearquitectura e trabalhou na Câmara Municipal de Coruche (1980-81), nos GATde Castro Verde (1983-88) e de Beja (1989-90). Desde 1991 trabalha naCCDR-LVT na área do ordenamento do território. Foi vogal do Conselho Direc-tivo Nacional (2002-2004) e Presidente do Conselho Directivo Regional Sul(2005-2007) da Ordem dos Arquitectos. 12Marta Galvão Lucas (Lisboa, 1971) licenciou-se em Escultura pela FBAUL em1997. Em 2001/02 frequentou a pós-graduação em Design Urbano do CentroPortuguês de Design em parceria com a Universidade de Barcelona. Em2003/04 concebeu e coordenou com Daniela Brasil o evento “Em Trânsito”,numa iniciativa do Goethe-Institut Lissabon. Desde 2002 tem apresentadotrabalhos individualmente e em colaboração com outros artistas em Portugal(Lisboa), Bélgica (Louvain-la-Neuve), Holanda (Nijmegen) e Alemanha (Ber-lim, Bremen, Colónia e Hamburgo).13Margaret Crawford licenciou-se em Berkeley/Universidade da California edoutorou-se em Planeamento Urbano pela UCLA. Foi docente na Universidadeda Califórnia e na Universiade de Florença. Actualmente é Professora de Ur-ban Design e Planning Theory na Harvard Graduate School of Design, ondelecciona diversas disciplinas centradas na história e teoria do desenvolvimen-to e planeamento urbano. A sua pesquisa centra-se na evolução, usos e signi-ficados do espaço urbano. Publicou «Building the Workingman’s Paradise: TheDesign of American Company Towns» (1995) e «Nansha Coastal City: Lands-cape and Urbanism in the Pearl River Delta» (2006); tendo sido coordenadotados livros «The Car and the City: The Automobile, the Built Environment andDaily Urban Life» e «Everyday Urbanism».14Miguel Figueira nasceu em Coimbra em 1969. Licenciou-se na Faculdade deArquitectura da Universidade do Porto em 1993 e inicia o seu percurso profis-sional com Pedro Maurício Borges, no atelier Bugio, Lda., em Lisboa.Manteve escritório em Lisboa, entre 1993 e 1997, com Pedro Maurício Borgese Paulo Fonseca. Entre 1997 e 2002, coordenou o Gabinete Técnico Local deMontemor-o-Velho. Actualmente vive e trabalha em Montemor-o-Velho.Em 1990, ganhou o Prémio “American Institute of Architects” e em 2003 oPrémio Nacional de Arquitectura “Alexandre Herculano”, com a obra realizadaem Montemor-o-Velho.15Morphosis é um atelier multidisciplinar fundado por Thom Mayne em 1972. Oatelier consiste num grupo de mais 40 profissionais, empenhados numa práti-ca colectiva e interdisciplinar em torno da Arquitectura. Com projectos em to-do o mundo, a sua produção abarca diversas escalas, da residencial à institu-cional, passando por grandes intervenções urbanas.Morphosis tem sido objecto de inúmeras publicações e exposições incluindo aexposição «Continuities of the Incomplete», a maior exposição retrospectivado seu trabalho, realizada no centro Georges Pompidou, em Paris, em 2006.En 2005, Thom Mayne venceu o Prémio Pritzker.16Telmo Cruz (Lisboa,1965) é licenciado em Arquitectura pela Faculdade de Ar-quitectura da Universidade Técnica de Lisboa, 1990. Desde 1992 divide a acti-vidade profissional entre o seu atelier e o de Gonçalo Byrne, onde é arquitectocoordenador. É Vogal do Conselho Directivo Regional Sul da Ordem dos Arqui-tectos (2002/2007)Maximina Almeida (Aveiro, 1967) é licenciada em Arquitectura pela Faculda-de de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa, 1991. Divide a activida-de profissional entre o seu atelier e a docência na Faculdade de Arquitectura eArtes da Universidade Lusíada de Lisboa. Foi vogal do CRAS (2002/2004) e éactualmente delegada do CND (2005/2007) da OA. Ambos exercem a profis-são liberal desde 1990 em co-autoria. De 2000 a 2006 desenvolveram traba-lhos com Pedro Soares.Pedro Soares (Lisboa, 1971) é licenciado em Arquitectura pela UniversidadeLusíada de Lisboa (1995), altura em que inicia a sua actividade profissional in-dependente realizando projectos de moradias, concursos e projectos na áreada cenografia. A partir de 1999 colabora também com Gonçalo Byrne comoarquitecto coordenador. Em 2006 constitui a empresa Pedro Soares - Arqui-tectura Unipessoal Lda.

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EDITORIALPublicJOSÉ ADRIÃO + RICARDO CARVALHOThe domain of the “public” has never been subject to as muchambiguity as to its demarcation and collective identification as itis today. The decline of the public space in the contemporary cityhas generated a market for the proliferation of gated communi-ties, privatizing what was always considered public – the street.The shopping centre and television have also done their part toweaken even more the already fragile public/private dualism. The public spaces in Portugal today have two types of origins: ei-ther they are developed by public institutions or by private initia-tive, in the latter case always in conjunction with consumption.In the former case, the institutions seek (or are obliged) to con-struct places of belonging – sometimes successfully, but also attimes as hostages to inadequate models linked to a certain ideaof progress. But the purpose of public actions should always beto produce spaces in which the population can construct moresolid bases for citizenship. Private initiatives produce a dynamicsand vitality of space perceived by many as being of public use.They are based on proven strategies and find enormous adher-ence on the part of the populations, provided the latter take onthe role of consumers – hence the close association with leisureand recreational activities, which are currently becoming wide-spread in private spaces. The number of hypermarkets and shop-ping centres built in the last few decades illustrate that such pro-grammes are in a growth phase. In just a few decades theshopping areas in cities (the city centres) have emptied and pri-vate spaces of consumption have become commonplace. The for-mer users of markets and fairs, of the peripheral areas of themain cities and the zones where the countryside and the urbanareas meet, have changed consumption habits and, with thesame stimulus, have flocked to the large covered shopping areas.The values promoted list advantages such as diversity, conve-nience, cleanliness, abundance and security. Today we are wit-nessing a reaction from the traditional city centres. Faced withdecay and successive abandonment, public institutions seek toadapt their public spaces to programmes very much similar tothe proven strategies in the private shopping centres. Hence theinstallation of surveillance cameras in the cities’ main thorough-fares, the pedestrianisation of streets, the establishment of newopening hours more compatible with the daily lives of shoppers,and marketing actions highlighting the advantages of the returnto the city have become common. What are the societal implica-tions of these phenomena? This edition of JA looks at questionssurrounding the public/private dichotomy, including projects thattake the public as their genesis, recalling a warning issued byMichael Sorkin in 1992: “In the ‘public’ spaces of the theme parkor the shopping mall, speech itself is restricted: there are nodemonstrations in Disneyland. The effort to reclaim the city is thestruggle of democracy itself”.

Gated communities, dying citiesCARLOS GARCÍA VÁZQUEZGate communities are the fruit of the confluence of three differ-ent but interrelated phenomena: the latest generation of suburbsin the United States, particularly the so-called “edge cities”; thederegulation in urban planning; urban insecurity and the growingobsession with security in American society. The article takes abrief look at each of these aspects before going on to focus on adescription of gated communities on the basis of two parame-ters: spatial logic and social logic. In the final section, the conse-quences for the contemporary city that derive from the expan-sion of gated communities are analysed.

Public limitLEONOR CINTRA GOMESIn the diverse forms in which they carry out their profession, ar-chitects define the dividing line between the private and the pub-lic. This constant is more visible in urban planning, be it the re-sponsibility of the public administration or private initiative. Thelaws that have regulated development and land parcelling opera-tions since 1965 stipulate the reservation of a certain area for in-frastructure networks and collective spaces, with a view to pro-tecting the public interest. Despite the legislation, privateinterests prevail in most situations. This matter must be safe-guarded in new legislation aimed at defining the limits of the pub-lic interest.

This is not a school like any other one:new school facilities in Sao PauloANA VAZ MILHEIROTeaching the underprivileged urban populations in Brazil to readand write remains one of the country’s urgent problems. The cityand state of Sao Paulo have traditionally developed programmesaimed at addressing this social problem in which architecture al-so plays a role. Two pilot programmes were launched in the 21st

century. The Unified Educational Centres (CEU), organised at themunicipal level, and the federal state programme by the Educa-tion Development Foundation (FDE). Both are based on the ex-ploitation of prefabricated construction techniques, using metaland concrete structures. The CEU are designed for the peripheralareas of Sao Paulo, applying a large-scale model project with ahigh degree of programmatic complexity. The FDE schools,smaller in size, are purpose-built for specific projects, cover thestate territory and are particularly disseminated in problem ar-eas of cities in Sao Paulo state in the environs of the capital.These projects raise the question of the programme and its de-termination in assessing the architectural performance.

Barcelona, public spaceBET CANTALLOPSThe article takes a subjective look at some of the recent publicspace projects in Barcelona – from the large urbanredevelopment operations such as Forum 2004 to interventionson a smaller scale. In his analysis of these spaces the authorprovides a personal view on the way in which the city and thecitizens incorporate them to the uses and the image of the city,making them part of its future or not. The text poses morequestions than it provides answers with a view to stimulatingdebate on the character that the public space should have, inBarcelona and in any other city.

The World in a shopping mall MARGARET CRAWFORDThe spread of malls around the world has accustomed numbersof people to behavior patterns that inextricabily linkshoppingwith diversion and pleasure. The transformation ofshopping into an experience that can occur in any setting has ledto the next stage in mall development: “spontaneous malling”, aprocess by which urban spaces are transformed into mallswithout new buildings or developers.The principle of adjacent attraction is now operating at a societallevel, imposing an exchange of attributes between the museumand the shopping mall, the commerce and culture. The world ofthe shopping mall – respecting no boundaries, no longer limitedeven by the imperative of consumption – has become the world.