camarate 3ª parte

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  • 8/2/2019 Camarate 3 Parte

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    TODO O PLANO PARA O ASSASSNIO DO DR. FRANCISCO

    S CARNEIRO

    (3 PARTE)

    Tenho depois reunies em Lisboa, com o agente da CIA, Frank Sturgies, queconheo pela primeira vez. Frank Sturgies uma pessoa de aspecto sinistro e comgrande frieza, e organizador das foras anti-castristas, sediadas em Miami, e elo de ligao com os "contra" da Nicargua. Frank Sturgies refere-me ento, queest em marcha um plano para afastar, definitivamente, (entenda-se eliminar)uma pessoa importante, ligada ao Governo Portugus de ento, sem dizer contudoainda nomes.

    Algum tempo depois, possvelmente em Setembro ou Outubro de 1980, jogo tniscom Frank Cariucci quase toda a tarde, na antiga residncia do embaixador dosEUA, na Lapa.

    Janto depois com ele, onde Frank Cartucci refere novamente que existemproblemas em Portugal para a venda e transporte de armas, e que Francisco SCarneiro no era uma pessoa querida dos EUA.

    Depois j na sobremesa, juntam-se a ns o Gen. Diogo Neto, o Cor. Vinhas, o Cor.Robocho Vaz e Paulo Cardoso, onde se refere novamente a necessidade de se

    afastarem alguns obstculos existentes ao negcio de armas. Todos esteselementos referem a Frank Caducci que eu sou a pessoa indicada para apreparao e implementao desta operao.

    Em Outubro de 1980, num juntar no Hotel Sharaton onde participo eu, FrankSturgies (CIA), Vilfred Navarro (CIA), o General Diogo Neto e o Coronel Vinhas (jfalecidos), onde se refere que h entraves ao trfico de armas que tm de serremovidos.

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    Depois h um outro jantar tambm no Hotel Sharaton, onde participam, entreoutros, eu e o Cor. Oliver North, onde este diz claramentete que " preciso limaralgumas arestas" e "se houver necessidade de se tirar agum do caminho, tira-se", dando portanto a entender que haver que eliminar pessoas que criamproblemas aos negcios de venda de armas. Oliver North diz-me tambm queest a ter problemas com a sua prpria organizao, e que teme que o possam

    querer afastar e "deixar cair", o que acabou por acontecer.H tambm Portugueses que estavam a benificiar com o trfico de armas, como oMajor Canto e Castro, o Gen. Pezarat Correia, Franco Charais e o empresrio Zoio.

    Sabe-se tambm j nessa altura que Adelino Amaro da Costa estava a tentaracabar com o trfico de armas, a investigar o fundo de desenvolvimento doUltramar, e a tentar acabar acabar com lobbies instalados.

    Afastar essas duas pessoas pela via poltica era impossvel, pois a AD tinha ganhoas eleies. Restava portanto a via de um atentado.

    Passados alguns dias, recebo um telefonema do Major Canto e Castro(pertencente ao conselho da revoluo), que eu j conhecia de angola, pedindopara eu me encontrar com ele no Hotel Altis.

    Nessa reunio est tambm Frank Sturgies, e fala-se pela primeira vez em"atentado", sem se referiremainda quem o alvo. referem que contam comigopara esta operao.

    O Major Canto e Castro diz que preciso recrutar algum capaz de realizar estaoperao.

    Tenho depois uma seegunda reunio no Hotel altis com Frank Sturgies e PhilipSnell, onde Frank Sturgies me encarrega de preparar e arranjar algunsoperacionais para uma possvel operao dentro de pouco tempo, possvelmentedentro de 2 ou 3 meses. Perguntam-me se j recrutou a pessoa certa para realizareste atentado, e se eu conheo algum perito na fabricao de bombas e em armasde fogo. Respondo que em Espanha arranjaria algum da ETA para vir c fazer oatentado, se tal fosse necessrio. Quem paga a operao e a preparao doatentado a Cia e o Major Canto e Castro.

    Canto e Castro colabora na altura com os servios Secretos Franceses, para ondeentrou atravs do sogro na poca. O sogro era de Nacionalidade Belga, quetrabalhava para a SDEC, os servios de inteligncia franceses, em 1979 e 1980.Canto e Castro casou com uma das suas filhas, quando estava em Luanda, emAngola, ao servio da Fora Area Portuguesa.

    Em Luanda, Canto e Castro vivia perto de mim.

    Tendo que organizar esta operao, falo ento com Jos Esteves e mais tarde comLee Rodrigues (que na altura ainda no conhecia).

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    O elo de ligao de Lee Rodrigues em Lisboa era Evo Fernandes, que estava ligado resistncia moambicana, a renamo. Falo nessa altura tambm com duaspessoas ligadas ETA militar, para caso do atentado ser realizado atravs dearmas de fogo.

    Depois, noutro jantar em casa de Frank Carlucci, na Lapa, na mansarda, no ltimo

    andar, onde jantamos os dois sozinhos, Frank Carlucci diz abertamente e pelaprimeira vez, o que eu tinha de fazer, qual era a operao em curso e que estavisava Adelino Amaro da Costa, que estava a dificultar o transporte e venda dearmas a partir de Portugal ou que passavam em Portugal, e que havia luz verdedada por Henry Kissinger e Oliver North.

    Cumprimento ambos, referindo que sou "o homem deles em Lisboa".

    Trs semanas antes dos atentado, Canto e Castro e frank Surgies, referem pelaprimeira vez, que o alvo do atentado Adelino Amaro da Costa.

    O Major Canto e Castro afirma que ir viajar para Londres.

    Frank Sturgies pede-me que obtenha um carto de acesso ao aeroporto para umtal Lee Rodrigues, que referido como sendo a pessoa que levar e colocar abomba no avio.

    Recebo depois um telefonema de Canto e Castr, referindo que est em Londres epara eu ir ter l com ele.

    Refere-me que o meu bilhete est numa agncia de viagens situada na Av. daRepublica , junto pastelaria Ceuta. Chegado a Londres fico no Hotel Grosvenor,ao p de Victoria Station. Canto e Castro vai buscar-me e leva-me a uma casaperto do Hotel, onde me mostra pela primeira vez, o material, incluindoexplosivos, que serviro para confeccionar a "bomba" nesta operao. Essa casaem Londres, era ao mesmo tempo residncia e consultrio de um dentista indiano,amigo de Canto e Castro, Canto e Castro refere-me que esse material ser levadopara Portugal pela sua companheira Juanita Valderrama. O Major Canto e Castropede-me ento que v ao Hotel Altis recolher o material. Vou ento ao Hotelacompanhado de Jos esteves, e recebemos uma mala e uma carta da senhoraJuanita, Jos Esteves prepara ento uma bomba destinada a um avio, com essesmateriais, com a ajuda de Carlos Miranda.

    O Major Canto e Castro volta depois de Londres, encontra-se comigo, e digo-lheque a bomba est montada.

    Lee Rodrigues -me apresentado pelo Major Canto e Castro.

    Alguns dias depois Lee Rodrigues telefona-me e encontramo-nos para jantar norestaurante Galeto, junto ao Saldanha, juntamente com Canto e Castro, ondeaparece tambm Evo Fernandes, que era o contacto de Lee Rodrigues em Lisboa.

    Fora Evo Fernandes que apresentara Lee Rodrigues a Canto e Castro. LeeRofrigues era moambicano e tinha ligaes Renamo.

    Nesse jantar alinham-se pormenores sobre o atentado.

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    Canto e Castro refere contudo nesse jantar que o atentado ser realizado emAngola.

    Perante esta afirmao, pergunto se ele est a falar a srio ou a brincar, e se meacha com cara de palhao"- fazendo teno de me levantar.

    Refiro que, atravs de Frank Carlucci, j estava a par de tudo.Lee Rodrigues pede calma, referindo depois Canto e Castro que desconhecia queeu j estava a par de tudo, mas que sendo assim nada mais havia a esconder.

    Possivelmente em Novembro, -me solicitado por Philip Snell que participe numareunio em Cascais, num iate junto antiga marina (na altura no existia a actualmarina).

    Vou e levo comigo Jos Esteves. Essa reunio tem lugar entre as 20 e as 23 horas,nela participando Philips Snell, Oliver North, Frank Sturgies, Sydral e LeeRodrigues e mais cerca de 2 ou 3 estrangeiros, que julgo serem americanos.

    Nesta reunio referido que h que preparar com cuidado a operao que serpara breve, e falam-se de pormenores a ter em ateno.

    referido tambm os cuidados que devem ser realizados depois da operao, eo que fazer se algo correr mal.

    A lngua utilizada na reunio o Ingls.

    Jos Esteves recebeu ento USD 200.000 pelo seu futuro trabalho.

    Eu no recebi nada pois j era pago normalmente pela CIA.

    Eu nessa altura recebia da CIA o equivalente a cinco mil Dolares, dispondotambm de dois cartes de crdito Diner's Club e Visa Gold, ambos com plafondsde 10.000 Dolres.

    Lee Rodrigues pede-me ento que arranje um carto para Jos Esteves entrar noaeroporto.

    Para este efeito, obtenho um carto forjado, na mouraria, em Lisboa, numatipografia que hoje j no existe.

    Lee Rodrigues diz-me tambm que ir obter uma farda de piloto numa loja ao pdo Coliseu, na Rua das Portas de Santo Anto.

    A meu pedido, Joo Pedro Dias, que era carteirista, arranja tambm um cartopara Lee Rodrigues.

    Este carto foi obtido por Joo Pedro Dias, roubando o carto de Miguel Wahnon,que era funcionrio da TAP.

    Apenas foi necessrio mudar-se a fotografia desse carto, colocando a fotografiade Lee Rodrigues.

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    Jos Esteves prepara ento em sua casa no Cacm, um engenho para o atentado.Conta com a colaborao de outro operacional chamado Carlos Miranda,especialista em explosivos, que recrutado por mim, e que eu j conhecia deAngola, quando Carlos Miranda era comandante da FNLA e depois CODECO emPortugal.

    Jos Esteves foi tambm um dos principais comandantes da FNLA, indo muitasvezes a Kinshasa.

    Depois do artefacto estar pronto, vou novamente a Paris.

    No Hotel Ritz, tarde, tenho um encontro com Oliver North, o cor. Wilkison ePhilip Snell, onde se refere que o alvo a abater era Adelino Amaro da Costa,Ministro da Defesa.

    Volto a Portugal, cerca de 5 ou 6 dias antes do atentado.

    marcado por Oliver North um jantar no hotel Sheraton.

    Nesse jantar aparece e participa um indivduo que no conhecia e que me apresentado por Oliver North , chamado Penaguio.

    Penaguio afirma ser segurana pessoal de S Carneiro.

    Oliver North refere que Penaguio faz parte da segurana pessoal de S Carneiro eque o homem que conseguir meter S Carneiro no Avio.Penaguio afirma, de forma fria e directa que s Carneiro tambm iria no avio,"pois dessa forma matavam dois coelhos de uma cajadada! " Afirma que a suaeliminao era necessria, uma vez que S Carneiro era anti-americano, eapoiava incondicionalmente Adelino Amaro da Costa na denncia do trtico dearmas, e na descoberta do chamado saco azul do Fundo de Defesa do Ultramar,pelo que tudo estava, desde o incio, preparado para incluir as duas pessoas. SCarneiro e Adelino Amaro da Costa.

    Fico muito receoso, pois s nesse momento fiquei a conhecer a incluso de SCarneiro no atentado.

    Pergunto a Penaguio como que ele pode ter a certeza de que S Carneiro ir noavio, ao que Penaguio responde de que eu no me preocupasse pois queele, com mais algum, se encarregaria de colocar S Carneiro naquele avionaquele dia e naquela hora, pois ele coordenava a segurana e a sua palavra erasempre escutada.

    No final do jantar, juntam-se a ns trs o Gen. Diogo Neto e o Cor. Vinhas.

    Fico estarrecido com esta nova informao sobre S Carneiro, e decido ir, nessamesma noite, residncia do embaixador dos EUA, na Lapa, onde estava FrankCarlucci, a quem conto o que ouvi.

    Frank Carlucci responde que no me preocupasse, pois este plano j estavadeterminado h muito tempo.

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    Disse-me que o homem dos EUA era Mrio Soares, e que S Carneiro, devido sua maneira de ser, teimoso e anti-americano, no servia os interessesestratgicos dos EUA.

    Mrio Soares seria o futuro apoio da poltica americana em Portugal, junto comoutros lideres do PSD e do PS.

    Aceito ento esta situao, uma vez que Frank Carlucci j me havia dito antes quetudo estava assegurado, inclusivamente se algo corresse mal, como a minha sadade Portugal, a cobertura total para mim e para mais algum que eu indicasse, eque pudesse vir a estar em perigo.

    Isto e a usual realpolitik" dos Estados Unidos, e suspeito que sempre ser.

    Trs dias antes do atentado h uma nova reunio, na Rua das Pretas no PalcioRoquete, onde participam Canto e Castro, Farinha Simes, Lee Rodrigues, JosEsteves e Carlos Miranda

    Carlos Miranda colaborou na montagem do engenho explosivo com Jos Esteves,tendo ido vrias vezes a casa de Jos Esteves.

    Nessa reunio so acertados os ltimos pormenores do atentado.

    Nessa reunio, Lee Rodrigues diz que ele est preparado para a operao e Cantoe Castro diz que o atentado ser a 3 ou 4 de Dezembro.

    Nessa reunio dito que o alvo Adelino Amaro da Costa.

    No dia seguinte encontramo-nos com Canto e Castro no Hotel Sheraton, e vamosjantar ao restaurante " O Polcia".

    No dia 4 de Dezembro, telefono de um telefone no Areeiro, para o Sr. WilliamHasselberg, na Embaixada dos EUA, para confirmar que o atentado para realizar,tendo-me este referido que sim.

    Desse modo, tarde, Jos Esteves traz uma mala a minha casa, e vamos os doispara o aeroporto.

    Conduzo Jos Esteves ao aeroporto, num BMW do Jos Esteves.

    J no aeroporto, Jos Esteves e eu entramos no aeroporto, por uma porta lateral,junto a um posto da Guarda Fiscal, utilizando o carto forjado, anteriormentereferido.

    Depois Jos Esteves desloca-se e entrega a mala, com o engenho, a LeeRodrigues, que aparece com uma farda de piloto e tambm visto por mim.

    Depois de cerca de 15 minutos, sai j sem a mala, e sai comigo do aeroporto.

    Separamo-nos, mas mais tarde Jos esteves encontra-se novamente comigo nocabeleioreiro Bacta, no centro comercial Alvalade.

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    Depois Jos esteves aparece em minha casa com a companheira da poca, denome Gina, e com um saco de roupa para l ficar por precauo.

    Ouvi-mos depois o noticirio das 20 horas na televiso, e Jos Esteves fica muitosurpreendido, pois no sabia que S Carneiro tambm ia no avio.

    (CONTINUA...)