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Page 1: Barbara Usp Fibras Biodegradaveis

A busca pelo conforto e o estudo das fibras biodegradáveis

The search for comfort and the study of biodegradable fibers

Bárbara Maria Gama Guimarães, Karina Mitie Takamune, Raquel Seawright Alonso,

Júlia Baruque Ramos, José Jorge Boueri Filho, Regina Aparecida Sanches

Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH)

Universidade de São Paulo (USP)

São Paulo, Brasil

[email protected], [email protected], [email protected],

[email protected], [email protected], [email protected]

Abstract

To designate a comfortable and high-quality product of clothing, there is a need to select

the materials, like the raw fiber, yarn and fabrics. There is a growing concern in textile

industry about the environment, and especially, about the comfort for costumers. Results

obtained of studies with biodegradables fibers resulted of soy, corn, bamboo and cotton

organic posses several characteristic that can become a bet in sustainable development.

Keywords: 1.Comfort 2. Clothing 3. Biodegradable Fibers.

Resumo

Para designar um produto de qualidade e conforto para o vestuário, há a necessidade de

selecionar materiais como fibras, fios e tecidos. Há uma crescente preocupação na

indústria têxtil com o ambiente e, especialmente, sobre o conforto para os consumidores.

Os resultados obtidos através de estudos com fibras biodegradáveis de soja, milho,

bambu e algodão orgânico demonstraram diversas características que podem tornar-lás

uma aposta no desenvolvimento sustentável.

Palavras-chave: 1. Conforto 2. Vestuário 3. Fibras Biodegradáveis

Introdução

A Indústria Têxtil sempre foi uma atividade econômica de grande relevância desde

os primórdios da civilização, fazendo parte do desenvolvimento econômico e social dos

povos. De acordo com (FILGUEIRAS, 2008) desde que estudiosos passaram a explorar,

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investigar e divulgar sabe-se que o homem utiliza as fibras para, no princípio, atender às

necessidades básicas de proteção, pudor e/ou estética, mas com o passar do tempo a

utilização das fibras se tornou tão abrangente que ultrapassou essas funções iniciais,

assim, fibras têxteis são todos e quaisquer materiais fibrosos passíveis de serem fiados

ou tecidos.

A procura de um modo de vida sustentável torna-se cada vez mais importante para

o mundo atual e ainda mais para as futuras gerações. Para (SACHS, 2004) “a

sustentabilidade no tempo das civilizações humanas vai depender da sua capacidade de

se submeter aos preceitos de prudência ecológica e de fazer um bom uso da natureza”.

Atualmente, com a crescente preocupação com a consciência ambiental, são

necessários cada vez mais estudos na área de desenvolvimento sustentável, incluindo o

setor têxtil, pois este é um dos que mais poluem o ambiente.

Fibras têxteis com baixo impacto ambiental utilizadas no vestuário

Em busca de uma perspectiva ecológica alguns novos materiais já foram

desenvolvidos com o intuito de diminuir os danos causados, como a produção de fibras

ecológicas (CHAVAN, 2004).

As principais fibras, com apelo ecológico, usadas na fabricação de têxteis são:

algodão orgânico, liocel, soja, milho, fibra da viscose da celulose do bambu e fibras

obtidas a partir da reciclagem de polietileno tereftalado (PET).

O algodão responde por aproximadamente 80% das fibras utilizadas nas fiações

brasileiras: na tecelagem, 65% dos tecidos são produzidos a partir de fios de algodão,

enquanto na Europa gira em torno de 50% (OLIVEIRA, 1995 apud ALVES, 2006). A

adoção do algodão orgânico seria bastante impactante, pois sua cultura é a que mais

polui e mais mata agricultores no mundo. Segundo estimativas da Organização Mundial

da Saúde, no mundo existem entre 500 mil a dois milhões de vítimas de intoxicações

agroquímicas, e um terço delas é de cultivadores de algodão (SCHULTE, 2007). A fibra

totaliza 3% das terras cultiváveis no planeta, mas contabiliza 25% dos agrotóxicos

consumidos no mundo (ZANESCO, 2008). Para que o algodão seja considerado

orgânico, ele necessita ser certificado, isso garante que ele foi cultivado dentro de um

conjunto mínimo de normas, no Brasil a entidade habilitada internacionalmente para

conceder certificação para produtos orgânicos é o IBD – Associação de Certificação

Instituto Biodinâmico.

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Além do algodão orgânico, existe outra fibra que tem baixo impacto ambiental como

o liocel, nome genérico para uma fibra de celulose regenerada obtida por fiação da polpa

de madeira dissolvida em um solvente orgânico, é fabricado por um processo de

dissolvimento direto com N-metil morfolina-N-óxido sendo este facilmente recuperado e

reciclado (CHAVAN, 2004).

Outra opção viável é produção de fibras a partir da reciclagem do Polietileno

Tereftalato (PET), sua utilização, na indústria têxtil, para fabricação de tecidos para

diversos fins cresce a uma taxa média de aproximadamente 24% ao ano desde 1998. A

fibra de poliéster tem propriedades que reduzem a tendência a amassar do tecido

confeccionado, possui elevada resistência à umidade e aos agentes químicos, é não-

alérgica e apresenta elevada resistência à tração. Adicionada ao algodão, gera aumento

da resistência do fio, o que leva a um aumento na velocidade do processo têxtil e, por

consequência, a uma maior produtividade (VEZZÁ, 2006).

A fibra derivada da soja é conhecida como “fibra têxtil verde” por sua matéria-prima

é renovável. Através de bioengenharia da pasta residual obtida pela extração do óleo de

soja que se retira o polímero para a produção da SPF (Soybean Protein Fibre)

(FALCETTA, 2003). Por ser uma fibra protéica regenerada, não é considerada de origem

vegetal natural e sim, artificial, ainda assim sua produção não contamina o meio

ambiente, pois após a retirada das proteínas os resíduos da pasta servem como ração

para os animais.

A fibra PLA (Poliláctico), extraída do milho, também pode ser considerada uma fibra

sintética, pois é obtida através da polimerização do ácido láctico do milho, seu

lançamento oficial se deu em janeiro de 2003, onde passou a ser chamado de INGEO

(VALLE et al, 2004). O processo de desenvolvimento dessa fibra, assim como a SPF,

não polui o meio ambiente, pois não são utilizados produtos químicos à base de petróleo,

é considerada uma fibra biodegradável, uma vez que ao fim de sua vida útil se

decompõe facilmente sem causar danos.

A fibra do bambu proporciona várias características ao vestuário, tais como:

transpiração (quatro vezes mais que o algodão), frieza excepcionais (secção transversal

da fibra que é repleta de micro-furos e micovilosidades), capacidade termodinâmica

(gelada no verão e mais quente no inverno), grande flexibilidade, não amassa, não forma

pilings, a malha de bambu é suave, fluida e não cola na pele, possui propriedades

bacteriostáticas naturalmente (comprovaram a diminuição de 75% no crescimento

bacteriano comparado ao algodão), desodorantes do bambu são naturais da própria

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fibra, boa higroscopicidade, permeabilidade, anti-raio ultravioleta (a incidência de Raios

UV na fibra de bambu é de 0.6 enquanto no algodão é de 250, o que mostra que o

bambu tem a capacidade de proteger 417 vezes mais), o tecido é liso, macio como a

seda, favorece a cor dos tecidos, forte função de evacuar suor, biodegradável, secagem

rápida, confortável, alta durabilidade, fibra com poder regulador de temperatura. Contêm

vários tipos de aminoácidos que fazem bem a pele, como a celulose e a pectina que

hidratam a pele e recupera a aparência cansada. Ajuda na microcirculação. É resistente

a eletricidade estática. Estas são ótimas características ao que tange conforto adquirido

no vestuário (BAMBRO TEX, 2008).

Para o campo da moda, é um desafio conceber novos produtos para o vestuário de

acordo com um princípio sustentável, já que possui ciclos de vida curtos e seu apelo ao

consumismo torna-se um entrave a tal princípio. Para o setor têxtil torna-se também um

desafio, pois sua cadeia de produção é um processo poluente e que gera muitos

resíduos.

Todas essas iniciativas de utilização de fibras ecologicamente corretas vão além

dos impactos sociais e crescimento econômico, visto que o mercado é crescente,

acarretam ainda impactos sociais através do favorecimento para os pequenos

produtores, assim como para as cooperativas de coleta de recicláveis.

Conforto nos artigos têxteis

Outro fator de grande importância, além da problemática ambiental, é o conforto.

Estudos de mercado demonstram que o consumidor atual considera o conforto como um

dos mais importantes atributos de tomada de decisão na compra de uma peça de

vestuário (VALLE, 2004).

Frente a essa necessidade, a engenharia têxtil trabalha em prol de pesquisas que

aliem qualidade, sustentabilidade, funcionalidade e conforto.

Relacionar as propriedades das fibras com a funcionalidade do fio é uma maneira

eficaz de se obter roupas com tecnologia e melhor desempenho (GASI, 2008). Assim, ao

realizar a combinação das propriedades de diversos tipos de fibras, contribui-se para a

obtenção de produtos adequados a determinados usos e situações, como por exemplo, a

prática esportiva.

A roupa esportiva atende a necessidades do atleta quanto à proteção, conforto,

segurança, performance (TECNICOURO, 2004). Desta forma, observa-se a importância

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que o vestuário reflete nas práticas esportivas, para que o atleta tenha uma melhor

desenvoltura e conforto ao se movimentar.

Têm-se procurado desenvolver a cada época mais produtos têxteis com

características que dêem maior rendimento ao atleta, já que as características de

conforto na roupa podem interferir no resultado final, influenciando entre o desejado e o

obtido. A junção entre a ciência e a tecnologia segundo (BRAMEL, 2005) proporciona o

lançamento de artigos com propriedades superiores às dos produtos já existentes no

mercado.

Com (HALASOVÁ, 2005), o conforto é um dos aspectos de maior interferência no

desempenho desportivo. Destarte, a palavra chave é conforto, elo entre as propriedades

e o rendimento do utilizador.

Materiais e Métodos

O trabalho foi desenvolvido a partir de pesquisas bibliográficas em livros,

revistas, artigos científicos e sites especializados na área têxtil.

Serão produzidos tecidos de malha com fios 100% de “fibra de bambu”, algodão

orgânico, algodão orgânico colorido, liocel, PET, fibra de milho, soja e mistos, bem como

realizar ensaios físicos nessas malhas para verificar as características do produto final.

Resultados e Discussão

A utilização do algodão orgânico pode reduzir os impactos ambientais que seu

cultivo acarreta e danos à saúde de seus agricultores. As atividades relacionadas a ele

estão crescendo a nível mundial. O liocel pode ser considerado ainda mais favorável ao

meio ambiente porque os produtos químicos utilizados no processo de fabricação põem

menos carga sobre o ambiente em relação ao algodão convencional (CHAVAN, 2004). E

em relação à redução do resíduo sólido urbano, a reciclagem de PET surge como uma

prática sustentável que pode alavancar novos empreendimentos, traduzindo-se em

geração de emprego e renda para diversos níveis da pirâmide social (VEZZÁ, 2006).

A “fibra de bambu” apresenta propriedades intrínsecas que resultam num grande

conforto aos atletas quando combinadas com outras fibras. Além disso, a fibra é

renovável e 100% biodegradável (ALVES, 2006), fazendo com que reduza o impacto

ambiental causado pela indústria têxtil.

Fibras de soja e milho possuem características ideais ao segmento esportivo, o fio

produzido através da fibra derivada da soja possui capacidade maior que o algodão de

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absorver e transportar umidade ao meio ambiente, resistência aos raios UV muito

superior à fibra de viscose seda e algodão. Fios derivados da SPF promovem maior

conforto ao vestuário, podendo tornar-se como uma “segunda pele”. Misturas realizadas

com essa fibra também demonstraram excelentes resultados, fios de SPF com cashmere

resultaram em fios brilhosos e com toque macio semelhante ao de fibra natural, ao

misturá-la com sintéticas os fios obtiveram maior capacidade de absorção de umidade e

permeabilidade, resultando em um maior conforto no tecido e conservação da maciez da

fibra SPF, já com o algodão o tecido resultante apresentou melhor toque e leveza,

ventilação e resistência às bactérias, maior conforto, excelente na fabricação de

camisetas t-shirts e roupas esportivas (FALCETTA, 2003). O fio constituído de PLA

demonstra uma melhor capacidade de absorção e recuperação elástica do que todos os

fios sintéticos mais conhecidos atualmente, retardador de chamas, resistência à

proliferação de bactérias, baixa toxidade, propriedade hipoalérgica, fácil manutenção

(easy care). O tecido criado a partir do INGEO pode ser brilhante e fino como a seda ou

espesso como o jeans (ALVES & RUTHSCHILLING, 2008).

Misturar fibras sintéticas ou artificiais tem sido utilizado em grande escala pela

indústria têxtil (FILGUEIRAS, 2008). Com isso, a ciência dos materiais, as tecnologias de

transformação e a integração com a tecnologia da informação possibilitam a criação de

produtos e materiais com as características e propriedades necessárias e essenciais ao

conforto do consumidor. Especialmente, na prática de esportes, essa integração se torna

imprescindível, de forma que a qualidade ergonômica no que tange conforto esportivo

poder-se-á realizar através das fibras aqui apresentadas.

Conclusão

Atualmente, o estudo de fibras biodegradáveis se torna importante para incentivar

sua presença no mercado e consequentemente promover um desenvolvimento por meio

da sustentabilidade. Grande parte dos consumidores preocupados com essa temática

corrobora, que a qualidade do produto pode ser de grande relevância, e das

características importantes referentes ao requisito podendo citar o conforto. O estudo é

capaz de promover a diferenciação no mercado para marcas com a mesma

preocupação; desenvolvimento sustentável.

A aliança entre as necessidades do homem e artigos têxteis que ofereçam menores

agressões ao meio ambiente atinge níveis que vão além de um produto de marketing ou

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de um conceito “politicamente correto” apenas, pode realmente ajudar a mudar a

situação presente, outrossim, influenciar na construção de um futuro melhor.

Agradecimentos

Agradeço à Reitoria da Universidade de São Paulo e à Pró-reitoria de Graduação

pela bolsa concedida para desenvolvimento deste projeto, através do programa Ensinar

com Pesquisa.

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