aula 2 - ascaris - aplicada

66
Nematelmintos I Ascaris lumbricoides, Toxocara canis, Trichuris trichiura, Enterobius vermicularis Prof. Ricardo Riccio Faculdade de Farmácia Universidade Federal da Bahia FARA72 - PARASITOLOGIA APLICADA A FARMÁCIA

Upload: talita-almeida

Post on 03-Jan-2016

42 views

Category:

Documents


1 download

TRANSCRIPT

Nematelmintos I Ascaris lumbricoides, Toxocara canis,

Trichuris trichiura, Enterobius vermicularis

Prof. Ricardo Riccio

Faculdade de Farmácia Universidade Federal da Bahia

FARA72 - PARASITOLOGIA APLICADA A FARMÁCIA

Ascaris lumbricoides

Prof. Ricardo Riccio

2012.2

Faculdade de Farmácia Universidade Federal da Bahia

FARA72 - PARASITOLOGIA APLICADA A FARMÁCIA

Etiologia: Ascaris lumbricoides Filo: Aschelminthes Classe: Nematoda Família: Ascarididae Gênero: Ascaris Popularmente conhecido como “lombriga” ou “bicha”

Ascaridíase

EPIDEMIOLOGIA

Ascaridíase

• Geo-helmintíase: infecção adquirida pela ingestão de ovos

infectantes presentes no solo

• Helminto mais frequente nos países pobres

• Grande resistência e viabilidade dos ovos no ambiente (> 01

ano)

• Embrionamento dos ovos dependente de temperatura,

umidade, solo e incidência de luz

• Alta prevalência em regiões de clima úmido e quente

• Mede indiretamente grau de limpeza e higiene doméstica

medida das condições de desenvolvimento

socioeconômicos e culturais de uma população

MORFOLOGIA

Ascaridíase

Macho: 15 a 20 cm de comprimento 2 a 4 mm de diâmetro Extremidade posterior encurvada.

Fêmea: 25 a 40 cm de comprimento 3 a 6 mm de diâmetro Extremidade posterior retilínea.

MORFOLOGIA

Ascaridíase

Ovo: Fértil: Oval ou quase esférica, resistentes ao meio ambiente, medem 60 x 45 µm Embrionado Larvado

Infértil: Alongados, membrana mamilonada mais delgada, medem 80 a 90 µm

Ecdise

Ascaridíase

HABITAT Intestino delgado TRASMISSÃO Água ou alimentos contaminados com ovos larvados (L3)

Homem (Fezes)

Ovos não embrionados (férteis)

Ovo embrionado (L1-L2 não infectante)

Ovo embrionado (L3 infectante)

2 a

8 s

em

an

as

CICLO BIOLÓGICO SOLO

CICLO BIOLÓGICO

Ovo embrionado (L3)

Intestino delgado: eclosão larva

Vasos sanguíneos ou linfáticos do sistema porta

Fígado

Coração

Pulmão (ciclo pulmonar)

Alvéolos (L4 e L5)

Traqueia e laringe (Deglutição)

Estômago

Intestino (jejuno e íleo): adulto macho e fêmea ovos

Ingestão

HOMEM 8

a 9

dia

s a

s a

in

fec

çã

o

2 a

3 m

es

es

ap

ós

a in

fec

çã

o

CICLO BIOLÓGICO

http://www.dpd.cdc.gov/dpdx/HTML/Ascariasis.htm

1. Ação das larvas (migração)

– Infecção leve: assintomática

– Infecção maciça:

• Lesões hepáticas (focos hemorrágicos: inflamação,

necrose e hepatomegalia)

• Lesões pulmonares (quadro pneumônico – febre, tosse,

dispneia e eosinofilia)

– Síndrome de Löeffler:

» Edema dos alvéolos pulmonares, manifestações

alérgicas, febre, bronquite e pneumonia

» Pneumonia eosinofílica induzida por parasitos

Ascaridíase

PATOGENIA

2. Ação dos vermes adultos

– Espoliadora: Proteínas, carboidratos, lipídeos, vitaminas

(A e C) – subnutrição e depauperamento físico e mental

– Tóxica: reação entre os antígenos parasitários e os

anticorpos dos pacientes (edema, urticária, convulsões)

– Mecânica: irritação da parede e enovelamento na luz

intestinal – obstrução intestinal (frequente em crianças)

– Localizações ectópicas: “Ascaris errático” – apendicite e

pancreatite aguda, eliminação do verme pelo nariz e boca.

Ascaridíase

PATOGENIA

2. Ação dos vermes adultos

– Capacidade obstrutiva do A. lumbricoides

Ascaridíase

PATOGENIA

VÍDEO

Ascaridíase

SINAIS E SINTOMAS

• A fase larvária costuma ser assintomática;

• Quadro respiratório variável: tosse, sibilos e dor retroesternal (Síndrome de Löeffler);

• Anorexia, dor abdominal, distensão abdominal, cólicas, náuseas, vômitos e diarreia;

• Sinais de desnutrição, déficits cognitivos em crianças;

• Irritabilidade, déficits de atenção e insônia;

• Oclusão intestinal, obstrução hepática, migração errática – perfuração intestinal, seguida de peritonite.

Ascaridíase

DIAGNÓSTICO

• Diagnóstico Clínico

• Infecção difícil de ser diagnosticada (dependente do número de parasitas)

• Diagnóstico Laboratorial

• Pesquisa de ovos nas fezes: sedimentação espontânea ou Kato-Katz

• Encontro de ovos inférteis: infecções somente com fêmeas

• Exame sempre negativo: somente com machos

• Exame do escarro ou lavado gástrico (larvas ou vermes adultos)

• Hemograma: eosinofilia sanguínea

Ascaridíase

TRATAMENTO

I – Benzimidazóis:

• Albendazol (400 mg – dose única – cura: 100%)

• Mebendazol (100 mg – 2x/dia por 3 dias – cura: 90 – 100%)

• Mecanismos de ação: impede a divisão celular, a

captação de glicose e formação de ATP

• Causam a morte de forma lenta, podendo induzir a

ocorrência de complicações decorrente da mobilização dos

vermes

II – Outras drogas:

• Levamisol, Pamoato de pirantel, Ivermectina

III – Fitoterápicos: necessidade de confirmação do valor terapêutico

Toxocara canis

Prof. Ricardo Riccio

2012.2

Faculdade de Farmácia Universidade Federal da Bahia

FARA72 - PARASITOLOGIA APLICADA A FARMÁCIA

• Principais agentes etiológicos:

Toxocara canis e T. catis

• Classificação:

Filo: Aschelminthes

Classe: Nematoda

Família: Ascarididae

Gênero: Toxocara

Toxocaríase Humana

Toxocaríase Humana

• Zoonose que raramente afeta os homens

• Quando ocorre produz doença grave, principalmente em

crianças

• Hospedeiros de importância:

Animais domésticos (cães e gatos jovens): transmissão via

congênita, ingestão de ovos embrionados, ingestão de tecidos

de presas infectadas com larvas L3

Infecção humana: ingestão de ovos embrionados

• Embrionamento dos ovos no solo geohelmintíase

• Toxocaríase humana sinônimo de Larva Migrans Visceral

Larva migrans

• Larva migrans visceral (LMV) – larvas permanecem nas vísceras (fígado, rins, pulmão, coração) até morrerem, sem atingir o estágio adulto

• Larva migrans ocular (LMO) – larvas migram para o globo ocular (coroide, retina, humor vítreo)

Síndrome determinada por migrações prolongadas de larvas de

nematódeos comuns de animais, no organismo humano

Morfologia e habitat do T. canis

Vermes adultos (intestino delgado de cães e gatos)

• Macho: 4 -10 cm

• Fêmea: 6 -18 cm (200.000 ovos/dia)

• Após alguns meses de infecção ocorre eliminação espontânea dos vermes e o cão torna-se resistente a nova infecção

Ovos (fezes de cães e gatos solo)

• Esféricos (75 a 90 µm)

• Casca mamilonada

Larvas (semelhante ao A. lumbricoides)

Morfologia: ovos e larvas do T. canis

Larva

Biologia

• Hospedeiro definitivo: cães e gatos

• Hospedeiro acidental: homem

• Transmissão:

– Cães e gatos:

• Ingestão de ovos embrionados (L3 rabditoide)

• Ingestão de pequenos roedores infectados (larvas)

• Via placentária e por amamentação (larvas)

– Homem

• Ingestão acidental de ovos (solo ou alimentos contaminados com fezes de cães)

Ciclo biológico

• No cão: semelhante ao de A. lumbricoides no homem

Ingestão de ovos (L3) intestino (eclosão) fígado

coração pulmão (L4) árvore brônquica

intestino (verme adulto) ovos (fezes)

• No homem: larvas migram pelos tecidos sem sofrer mudas

Ingestão de ovos intestino (eclosão) fígado, pulmões,

coração, gânglios linfáticos, músculos estriados, olhos, etc.

Ciclo biológico

Toxocaríase humana:

Manifestações clínicas

• Forma ocular (LMO): – Acometimento ocular unilateral com dor,

hiperemia ocular e diminuição da acuidade visual

– Ocorre principalmente em crianças

– Ocorre em indivíduos infectados por pequenas quantidades de larvas, que não apresentam eosinofilia importante e apresentam níveis baixos de anticorpos anti-Toxocara

• Assintomática (infecções leves): eosinofilia persistente e infecção auto limitante

• Forma visceral (LMV): • Febre, hepatomegalia, linfadenite, sintomas respiratórios, manifestações

neurológicas variadas e eosinofilia crônica • Ocorre principalmente em crianças

Diagnóstico

• Clínico:

Difícil (só com biopsia de tecido)

Anamnese (idade, geofagia, contato com animais, etc.)

• Laboratorial:

Hemograma Leucocitose associada a intensa eosinofilia

Imuno-histoquímica em biopsia de tecido infectado

ELISA (anticorpo anti-Toxocara) e Western-blot

– Em locais onde é frequente a infecção humana por outros helmintos (A.

lumbricoides), deve-se fazer a absorção prévia dos soros suspeitos com

extrato destes helmintos para reduzir a ocorrência de reações cruzadas.

Obs: Exame de fezes é sempre negativo!

Diagnóstico laboratorial

Larva migrans visceral (LMV)

• Demonstração das larvas nos tecidos: baixa

sensibilidade

• Pesquisa de anticorpos anti -T. canis: ELISA e IFI

Larva migrans ocular (LMO)

• Detecção de anticorpos no soro: pouco eficiente

• Detecção de anticorpos no humor aquoso

Tratamento

Larva migrans visceral

• Tiabendazol (30 a 50 mg/kg/dia por 7-10 dias)

• Albendazol

• Ivermectina

Larva migrans ocular

• Corticóides associado ao tratamento anti-helmíntico

Trichuris trichiura

Prof. Ricardo Riccio

2012.2

Faculdade de Farmácia Universidade Federal da Bahia

FARA72 - PARASITOLOGIA APLICADA A FARMÁCIA

Trichuris trichiura

• Filo: Nematoda

• Classe: Secernentea

• Família: Trichuridae

• Gênero: Trichuris

Também denominado de “tricocéfalo” (do grego thrikhos = cabelo)

Trichuris trichiura

Tricuríase ou tricurose

Cosmopolita (~1 bilhão de pessoas infectadas)

Idade inferior a 15 anos

Maior prevalência nas regiões de clima quente e úmido e

condições sanitárias precárias

Prevalência paralela à de A. lumbricoides

O homem é o principal hospedeiro do parasita

Morfologia VERMES ADULTOS

3 - 5 cm de comprimento

Macho menores que as fêmeas

Nítido dimorfismo sexual (extremidade posterior curvada ventralmente)

Espículo copulador

cabeça

Verme adulto

Morfologia OVO

Formato elíptico característico com poros salientes e transparentes nas extremidades

Casca formada por 03 camadas distintas: 1ª- lipídica externa 2ª- quitinosa intermediária 3ª- vitelínica interna

Favorece a grande resistência do ovo no meio externo

50 - 55 µm comprimento 20 – 22 µm largura

Trichuris trichiura (Ovos não embrionados)

Trichuris trichiura (Ovo embrionado)

Comparação com ovos de outros parasitas

T. trichiura e A. lumbricoides

Comparação com ovos de outros parasitas

T. trichiura e Ancilostomídeos

Comparação com ovos de outros parasitas

T. trichiura e Taenia sp.

Aspectos biológicos

HABITAT

Infecções leves ou moderadas

Intestino grosso do homem (ceco e

colón ascendente)

Infecções intensas

Cólon distal, reto e porção distal do íleo

OBS: É um parasita tissular – alimenta-se de resto de enterócitos

lisados pelas enzimas proteolíticas secretadas pelas glândulas

esofagianas do parasita

Aspectos biológicos

CICLO BIOLÓGICO

Monoxênico

Reprodução sexuada (elimina até 200.000 ovos / dia nas fezes)

Desenvolvimento do ovo depende de fatores ambientais (Temp: 25ºC - alta viabilidade – 12 m)

Etapas:

1. Eliminação de ovos nas fezes

2. Embrionamento dos ovos no meio externo – estágio infectante

3. Ovo infectante contaminando alimentos: esôfago – estômago – eclosão no duodeno – migração para o ceco

4. Durante migração sofre 4 mudas – vermes adultos

(1- 3 mês após infecção – início da postura – período pré-patente)

Ciclo evolutivo

Infecção leve (<5.000 ovos/g fezes) assintomáticas

Infecção moderada (5.000 – 10.000 ovos/g fezes):

- Dores de cabeça, náusea e vômito, dor epigástrica, e

diarreia.

Colonoscopia

Patogenia

Infecção grave (>10.000 ovos/g fezes) :

- Dor abdominal, anemia, retardo no crescimento.

- Diarreia intermitente com muco e sangue

(síndrome disentérica crônica)

- Prolapso retal.

Alterações

sistêmicas

Alterações

locais

Patogenia

Prolapso retal na tricuríase

“Tricuríase Maciça da Infância”

Extravasamento de parte do intestino para fora do organismo, pelo

ânus

Ulcerações e sangramentos na mucosa retal

Início do reflexo de defecação (ausência de fezes) + alterações nas

terminações nervosas locais → aumento do peristaltismo →

prolapso

Maior frequência região Norte (crianças)

Não ocorre comprometimento da musculatura pélvica → reversão

após tratamento

Prolapso retal na tricuríase

Patogenia

Lesões confinadas ao local de encontro do verme (epitélio e

lamina própria do intestino)

Alterações histopatológicas: aumento da produção de muco,

áreas de descamação da camada epitelial, infiltração de

células mononucleares e eosinófilos

Alterações sistêmicas: anemia (?), desnutrição (?)

Alterações imuno-inflamatórias:

1. Produção de TNF- (anorexia)

2. Produção de IgE e degranulação de mastócitos - aumento

da permeabilidade intestinal e diarreia

Diagnóstico

CLÍNICO

Não específico

LABORATORIAL

1. Demonstração de ovos com morfologia característica (fezes)

Métodos: Sedimentação espontânea, Sedimentação por

centrifugação, Kato-Katz (quantitativo), etc.

2. Outros métodos: Visualização dos vermes adultos após

colonoscopia

Tratamento

Menos susceptível ao tratamento anti-helmíntico que o

Ascaris lumbricoides → localização que dificulta o acesso da

medicação (intestino grosso e reto)

Drogas mais eficientes: Benzimidazóis

Pacientes sintomáticos:

1. Albendazol (400 mg – dose única)

2. Mebendazol (100 mg – 2 x dia – 03 dias)

Outras drogas (derivado do nitrotiazol – recente)

1. Nitazoxanida (protozoários + helmintos)

Enterobius vermiculares

Prof. Ricardo Riccio

2012.2

Faculdade de Farmácia Universidade Federal da Bahia

FARA72 - PARASITOLOGIA APLICADA A FARMÁCIA

Classificação

Filo: Nematoda

Classe: Secernentea

Família: Oxyuridae

Gênero: Enterobius

Espécie: Enterobius vermiculares

• Enterobiose ou “oxiuríase”

EPIDEMIOLOGIA

Distribuição mundial

Incidência em regiões de clima temperado

Faixa etária 5-15 anos (pré-escolares e mães)

Hábito de sacudir as roupas de cama

A – Macho B – Fêmea repleta de ovo C – Ovo característico

Fêmea: 1 cm comprimento x 0.4 mm diâmetro

Dimorfismo sexual

Cor branca, filiforme

MORFOLOGIA

Fêmea:

1 cm de comprimento.

Cauda afiada.

Macho:

5 mm de comprimento.

Curvatura caudal.

MORFOLOGIA

Enterobius vermicularis

Detalhe da cabeça para mostrar as asas cefálicas (setas) Facilitar a movimentação do verme adulto

Fonte: http:/www.ufrgs.br

E. vermiculares (aspectos morfológicos)

Ovo:

Forma de letra D

Membrana lisa e transparente

5-16.000 ovos

MORFOLOGIA

50um de comprimento 20um de largura

1. Heteroinfecção:

Ovos ingestão e inalação

2. Autoinfecção (perianal):

Ovos boca ou vias aéreas por meio de mãos sujas

TRANSMISSÃO

HABITAT

Vermes adultos: ceco e apêndice cecal Fêmeas com ovos: região perianal, vagina, útero e bexiga

CICLO BIOLÓGICO

Longevidade da fêmea: 2 meses

Machos morrem após a cópula

Patogenia

Infecção geralmente assintomática

Quando sintomática:

• Prurido anal noturno

• Enterite catarral (infecções intensas)

• Inflamação de ceco e apêndice

• Insônia e nervosismo

• Vaginite e ovarite

• Formação de granulomas (raro)

Diagnóstico

1 – Clínico

• Prurido anal noturno e continuado

2 – Laboratorial

Exame de fezes – não adequado!

• Método de Graham ou Fita adesiva

(realizado pela manhã antes do asseio e repetida em

dias consecutivos, caso seja negativo – swab anal)

Ovos de E. vermiculares

Ovos não embrionados (sem coloração)

Ovos embrionados (corado com lugol)

Fonte. atlas Doles

• Fita adesiva de swab anal para pesquisa de E. vermiculares • Observar a presença de vários ovos com embrião

Ovos de E. vermiculares

Tratamento

Similar ao utilizado para Ascaris lumbricoides

• Drogas:

1. Albendazol (400 mg – dose única)

2. Mebendazol (100 mg – 2 x dia – 03 dias)

3. Ivermectina

85 % de cura. Contra indicados em pacientes com alterações do SNC, gravidez e amamentação