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A ILHA DO MEL NO CONTEXTO DO DESENVOLVIMENTO TURÍSTICO
Ilha do Mel in the Context of Tourism Development
Oswaldo Dias dos Santos Junior*
RESUMO
Este artigo aborda o desenvolvimento da atividade turística na Ilha do Mel - PR, a partir do processo de ocupação na década de 1920, relacionando-o às principais conseqüências dos impactos causados nas Unidades de Conservação existentes em sua área. Localizada no litoral do Estado do Paraná, com uma área de 2.762 ha, a ilha é dividida em duas partes extensas de terra, ligadas por um istmo. Considerada Patrimônio Histórico, Artístico e Natural, 95% de seu território é ocupado por Unidades de Conservação. Com a implantação de infra-estrutura básica, a ilha tornou-se um dos principais destinos turísticos do Estado do Paraná, recebendo um número de visitantes superior à sua capacidade. Em decorrência de sua atratividade turística, a especulação imobiliária e o aumento do interesse por parte de empreendedores, houve um aumento desordenado do turismo, expondo os ambientes naturais mais frágeis à ação antrópica. O número de leitos disponíveis no entorno das Unidades de Conservação supera o limite permitido de visitantes, o que estimula a concorrência e a divulgação em massa da Ilha do Mel, sem considerar a fragilidade do ambiente natural e a legislação que incide sobre ele.
Palavras-Chave: Turismo. Turismo em áreas naturais. Unidades de Conservação. Ilha do Mel.
ABSTRACT
This article approaches the development of the tourist activity in Ilha do Mel, State of Paraná, from the process of occupation in the decade of 1920, relating it to the main consequences of the impacts caused in the existing Conservation Units in its area. Located in the coast of the State of Paraná, with an area of 2.762 ha, the island is divided in two extensive land parts, linked by an isthmus. Considered a Historic, Artistic and Natural Patrimony, 95% of its territory is occupied by Conservation Units. With the implantation of the basic infrastructure, the island became one of the main tourist destinations of the State of Paraná, receiving a number of visitors superior to its capacity. As a result of its tourist attractiveness, the real estate speculation and the increase of the interest on the part of entrepreneurs, it had a disordered increase of tourism, exposing the more fragile natural environments to human action. The number of available beds in the *Professor do Curso de Turismo das Faculdades Integradas Curitiba. Mestre em Turismo e Hotelaria pela Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, Graduado em Turismo pela Universidade Paulista – UNIP. [email protected]
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surroundings of the Conservation Units surpasses the allowed limit of visitors, what stimulates the competition and the advertising on a large scale of Ilha do Mel, without considering the fragility of the natural environment and the legislation that bears on it. Keywords: Tourism. Tourism in Natural Areas. Conservation Units. Ilha do Mel.
Introdução
Na década de 1980, o crescimento da demanda por viagens à natureza aumentou
consideravelmente, já que no mesmo período, termos como “turismo ecológico” e
“desenvolvimento sustentável” não estavam mais limitados às pesquisas acadêmicas, mas através
dos meios de comunicação já alertavam a sociedade para o crescimento da população mundial e
para a conseqüente escassez dos recursos naturais não-renováveis (SWARBROOKE, 2000).
A relação do “desenvolvimento sustentável” com o turismo está atrelada a uma forma de
lazer mais harmoniosa com o meio natural, pois além de valorizar a necessidade de conservação
dos recursos naturais é uma forma de incentivar a preservação dos valores culturais das
comunidades locais.
Assim, caracterizou-se o “turismo sustentável”, que é uma forma mais branda e tranqüila
de atividade turística, com viagens individuais ou em pequenos grupos, as quais são relacionadas
com a natureza (RUSCHMANN, 2000). Desta forma, pode-se destacar que, dentre as
possibilidades existentes, o ecoturismo é a modalidade mais próxima dos interesses do
desenvolvimento sustentável.
A partir destas relações, este artigo apresenta de que forma ocorreu o desenvolvimento do
turismo na Ilha do Mel, no Estado do Paraná, desde o início do processo de ocupação até a
criação do Parque Estadual da Ilha do Mel. Além de relacionar as principais conseqüências do
turismo desordenado para as Unidades de Conservação.
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A localização geográfica da Ilha do Mel
A Ilha do Mel está localizada no litoral do Estado do Paraná, na entrada da Baía de
Paranaguá. Ao norte, localiza-se a Ilha das Peças e o Parque Nacional de Superagüi, separados
pelos canais Norte e Sudeste; ao sul, localiza-se o Balneário de Pontal do Sul, em Pontal do
Paraná, separado pelo Canal da Galheta (SEMA/IAP, 1996). De acordo com o Estado do Paraná
(1984 apud SEMA/IAP, 1996, p.7), a Ilha do Mel está inserida no Complexo Estuarino-Lagunar
de Iguape-Cananéia-Paranaguá.
A área total da Ilha do Mel é de aproximadamente 2.762 ha, sendo a ilha dividida em duas
partes extensas de terra, ligadas por um istmo. Na parte norte da ilha, com um perímetro
aproximado de 22 quilômetros, localiza-se a Estação Ecológica da Ilha do Mel. O Parque
Estadual da Ilha do Mel localiza-se na porção sul da Ilha do Mel (CERDEIRA, 2004).
A “Ilha do Mehl”
O nome da ilha não é um assunto de consenso. Desta maneira não é possível afirmar com
exatidão a real origem do nome “Ilha do Mel”. Até a Segunda Guerra Mundial, a ilha era
chamada de “Ilha do Almirante Mehl”, em virtude das freqüentes visitas da família Mehl. Neste
período, a ilha era freqüentada por famílias alemãs vindas de Curitiba, e havia a produção de
farinha de mandioca, o que tornava a ilha conhecida como “Ilha da Farinha” e, de acordo com o
idioma alemão, a grafia utilizada para farinha é “mehl”. Outra possível origem do nome é o fato
de que, na década de 1960, marinheiros aposentados que moravam na ilha passaram a dedicar-se
à apicultura. Outra hipótese pouco aceita é a alta presença de ferro na água doce existente na ilha,
dando uma tonalidade amarela semelhante à cor de favos de mel (SEMA/IAP, 1996; 2004;
NIEFER, 2002).
As Unidades de Conservação existentes na Ilha do Mel
A Ilha do Mel é em toda a sua extensão um Patrimônio Histórico, Artístico e Natural, com
aproximadamente 95% de seu território formado por Unidades de Conservação, sendo elas uma
Estação Ecológica e um Parque Estadual. A Estação Ecológica da Ilha do Mel cobre grande
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extensão territorial da ilha na parte norte, mais isolada e com pouco contato com os turistas.
Enquanto, o Parque Estadual da Ilha do Mel está localizado na parte sul, junto a três núcleos de
ocupação humana. As duas unidades de conservação estão sob responsabilidade do Instituto
Ambiental do Paraná (SEMA/IAP, 1996; 2004).
A Estação Ecológica da Ilha do Mel
De acordo com o MMA (2000), a Estação Ecológica da Ilha do Mel segue a
regulamentação específica para a sua categoria de manejo, tendo como objetivos a preservação da
natureza e a realização de pesquisas científicas. Não são permitidas as atividades turísticas ou
mesmo recreativas no seu interior, com exceção da visitação pública com objetivos educacionais.
A Estação Ecológica da Ilha do Mel foi criada em 1982, com o propósito de proteger os
recursos naturais da parte norte da ilha de forma permanente. Atualmente possui os mesmos
limites que foram definidos no Plano de Uso de 1982, com a área total de 2.240,69 ha,
representando cerca de 85% da extensão total da Ilha do Mel (SEMA, 2004).
Não houveram grandes modificações na Estação Ecológica da Ilha do Mel desde a sua
criação em 1982. Principalmente em relação às áreas de entorno, pois com as melhorias
implementadas na parte sul da ilha como energia elétrica, água e os trapiches, a atividade turística
neste lado da Ilha do Mel aumentou, contribuindo inclusive para conter os conflitos existentes
entre a Estação Ecológica e a ocupação humana (SEMA, 2004).
O Parque Estadual da Ilha do Mel
Os parques foram instituídos pelo Código Florestal com o objetivo de conservar os
recursos naturais e paisagísticos, como também proporcionar atividades de caráter recreativo,
educativo e científico junto a natureza. São considerados bens públicos inalienáveis e
indisponíveis (SEMA, 2004).
Com a aprovação da Lei 9.985/00, as Unidades de Conservação da categoria “Parque”
mantém os mesmos objetivos do Código Florestal de 1965. No entanto, estas referências também
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passaram a ser aplicadas aos Parques criados pelos Estados ou Municípios (MMA, 2000; SEMA,
2004).
Localizado na porção sul da Ilha do Mel, o Parque Estadual da Ilha do Mel foi criado em
2002, contando com uma área de 337,84 ha. Atualmente está localizado na área denominada
“Reserva Natural” ou “Área Especial ZP-2”, conforme destaca o Plano de Uso de 1982
(SEMA/IAP, 1996; SEMA, 2004).
Conforme estabelece o Decreto n.º 5.506/02, entre os objetivos do Parque Estadual estão a
preservação e conservação dos ambientes naturais, de forma a proporcionar a proteção integral da
diversidade biológica (SEMA, 2004).
Em função de sua localização geográfica, atualmente o Parque Estadual da Ilha do Mel é a
Unidade de Conservação que mais sofre pressão junto à população, pois as comunidades
localizadas nas áreas de entorno são as mais procuradas pelos turistas e visitantes.
O processo de ocupação humana
A Ilha do Mel é um dos principais destinos turísticos do Estado do Paraná, recebendo
atualmente um grande número de visitantes principalmente no verão e nos feriados. No entanto,
não se tem conhecimento preciso da data em que a primeira embarcação entrou na Baía de
Paranaguá e quando foi o início da ocupação humana na Ilha do Mel. Segundo alguns relatos
históricos, a Baía de Paranaguá teria sido descoberta por náufragos espanhóis e portugueses, que
se fixaram na Ilha de Superagüi, mas somente em 1531 Martin Afonso haveria explorado com
mais detalhe a Baía, inclusive com a ajuda destes náufragos (SEMA/IAP, 1996; 2004).
A ocupação humana na Ilha do Mel teve seu inicio vinculado ao desenvolvimento e à
ocupação dos demais municípios da Baía, principalmente de Paranaguá e seu porto conforme
destaca a SEMA/IAP (2004):
Com o desenvolvimento do Porto de Paranaguá que era um dos principais portos da Capitania de São Paulo, o rei de Portugal D. José I ordenou em 1767 a construção na Ilha do Mel da Fortaleza de Nossa Senhora dos Prazeres da Barra de Paranaguá ou Fortaleza da Barra, para proteger a Baía de Paranaguá das naus estrangeiras. A Ilha do Mel adquiriu importância como local estratégico de defesa e iniciou sua ocupação pelos portugueses. Nesta época desenvolveu-se na Ilha apenas economia de subsistência – mandioca e pesca, para atender aos militares que ali moravam (SEMA/IAP, 2004 p.10).
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Mais foi no início do século XX que a Ilha do Mel passou a ser considerada um balneário.
Muitas famílias, já na década de 1920, possuíam casas e lá descansavam. Basicamente a
ocupação estava concentrada na região próxima à fortaleza. Na década de 1930 a região norte da
Ilha era a mais procurada por turistas, sendo a Praia da Fortaleza a que abrigava a maior infra-
estrutura turística, com um hotel com 100 ou 120 quartos e várias casas de famílias de Curitiba.
Outra praia de interesse dos turistas era a Praia do Farol, onde atualmente concentra-se o
maior número de visitantes. Os nativos trabalhavam em serviços domésticos e atividades mais
pesadas. Mas com a implantação de um sistema de transporte terrestre e ferroviário para outras
praias do litoral, como Matinhos, Caiobá e Guaratuba, o fluxo de turistas começou a diminuir.
Outro motivo que contribuiu para a redução de turistas foi a ocupação militar da ilha no período
da Segunda Guerra Mundial, em função da sua localização estratégica. As casas de veraneio e o
hotel foram desapropriados para servir de alojamento para os soldados (SEMA/IAP 1996; 2004;
ESTEVES, 2004).
Segundo Kraemer (1978 apud SEMA, 2004 p.63), após o final da guerra os turistas
desapareceram:
Com o abandono da ilha pelos banhistas, a população cabocla local entrou em ampla decadência. Todos voltam-se integralmente às atividades de subsistência, agora sem as oportunidades de trabalho que os banhistas ofereciam. A população passou a viver em um isolamento relativo, pois não sendo economicamente auto-suficiente, necessita realizar trocas para obter dinheiro e comprar alguns produtos necessários à sobrevivência. Assim, a pesca é exercida tanto para subsistência como para troca, apesar das dificuldades de transporte e conservação (KRAEMER, 1978 apud SEMA, 2004 p.63).
Pode-se perceber com base nas citações, que, no início da ocupação pelos turistas na Ilha
do Mel, já existia uma relação de dependência econômica da atividade.
No início da década de 1970, a Ilha do Mel volta a ser vista como um destino turístico,
quando foi concluída a rodovia BR-277. Em 1969, o movimento de jovens em busca de aventuras
e contato com a natureza se intensificou (SEMA/IAP, 2004). Nota-se uma mudança no perfil dos
turistas em relação às famílias abastadas da década de 1920. Embora o acesso ao litoral fosse
mais fácil com a inauguração da nova rodovia, a travessia do Canal da Galheta e a pouca infra-
estrutura como a falta de energia elétrica afastava os grupos familiares nesta época.
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O aumento da atividade turística na Ilha do Mel na década de 1970 modificou as relações
entre os moradores nativos e as atividades de subsistência e alterou também o processo de
ocupação humana em função do turismo, conforme destaca a SEMA/IAP (2004):
O aumento do número de visitantes, a dificuldade dos pescadores locais de competir com embarcações equipadas de tecnologia avançada e a decadência da agricultura levaram os moradores a se dedicar às atividades ligadas ao turismo. Moradores originários e novos empreendedores vindos do continente ocuparam principalmente a região de Nova Brasília e Prainha (Encantadas) atraídos pelos visitantes que desembarcavam nestas praias. [...] Encantadas, Nova Brasília e a Praia do Farol se transformaram nas praias de maior ocupação da Ilha, abrigando atividades voltadas para o turismo e grande número de residências de veranistas (SEMA/IAP, 2004 P.38).
A ocupação da parte sul da Ilha do Mel também foi maior a partir da década de 1970,
estendendo-se até 1982. Neste período surge a Comunidade de Praia Grande. Sendo
remanescente da ocupação dos primeiros moradores nativos, a comunidade está localizada na
Praia Grande, voltada para o Oceano Atlântico. Com baixa ocupação nos dias de hoje, é uma área
que sofre uma grande pressão para a implantação de novos lotes, principalmente pelo grande
atrativo que é a sua praia para os turistas que praticam o surf (SEMA/IAP 1996; 2004).
Em 1982, o Governo do Estado do Paraná recebeu da Secretaria de Patrimônio da União o
direito de administrar a Ilha do Mel. Neste ano foi implantado o Plano de Uso para definir os
padrões de construção e a configuração da ocupação. Durante este período o Instituto de Terras,
Cartografia e Florestas do Estado (ITCF) era o responsável pelo cumprimento das normas
estabelecidas pelo Plano de Uso. No final da década de 1980, uma série de desentendimentos
entre os moradores e o Estado, em função da não-aceitação das normas impostas pelo ITCF,
deixou a Ilha do Mel sem administração efetiva até 1992. Sem fiscalização, a ilha teve grande
parte de seus terrenos desmembrados, o que ocasionou um adensamento populacional, mas em
1992, com a extinção do ITCF e a criação do Instituto Ambiental do Paraná (IAP), vinculado à
Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Recursos Hídricos, as normas do Plano de Uso
voltaram a ser consideradas para a fiscalização. Este adensamento, principalmente em Nova
Brasília e em Encantadas que faz limite com o Parque Estadual da Ilha do Mel, foi o principal
responsável pelos problemas atuais encontrados na ilha (SEMA/IAP, 2004).
Com a implantação da energia elétrica em 1988, os visitantes passaram a dispor de um
maior conforto, o que passou a atrair novamente as famílias para as praias da Ilha do Mel. Nesta
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época, a Ilha deixou de ser uma exclusividade para os jovens aventureiros e o estilo de turismo
que se iniciou na década de 1970 passou a ser fortemente modificado. A eletricidade permitiu a
utilização de eletrodomésticos nas pousadas, restaurantes e casas de veraneio e isto facilitou a
conservação de alimentos. Da mesma forma, a eletricidade permitiu a realização de festas na
temporada e o aumento do consumo. Em 1996, outro aspecto que contribuiu para o aumento de
turistas na ilha foi a construção do Terminal de Embarque em Pontal do Paraná (SEMA/IAP,
1996; 2004).
Segundo a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Recursos Hídricos e o Instituto
Ambiental do Paraná (2004), a Ilha do Mel possui atualmente 652 lotes, sendo que 47 estão
vazios e os restantes são ocupados por 1448 moradores. Mas a pressão para ocupação é maior em
Encantadas, Nova Brasília e Farol, onde as praias são mais procuradas pelos turistas. Ainda,
segundo a SEMA (2004):
A dinâmica da Ilha, no entanto, conta também com uma população flutuante, que varia conforme os diferentes períodos do ano (finais de semana, feriados) e, principalmente, a temporada de verão que entre os meses de dezembro de março recebe entre 2000 e 5000 pessoas ao dia (SEMA, 2004 p.116).
Com relação à população da Ilha do Mel, Cerdeira (1989 apud SEMA, 2004 p.118)
identificou pelo menos quatro grupos denominados: nativos, residentes, veranistas proprietários e
turistas. Os nativos, descendentes das famílias mais antigas da ilha, estão lá estabelecidos há
várias gerações. Conforme destaca Cerdeira (1989 apud SEMA, 2004 p.118):
São os elementos mais simples, alguns são proprietários de pousadas e bares, e os demais são pescadores, barqueiros, carregadores, prestadores de serviços, etc. A população nativa da Ilha é derivada de 3 a 4 famílias, acarretando um alto grau de consangüinidade da população (CERDEIRA, 1989 apud SEMA, 2004 p.118).
Já os residentes são as famílias que vivem na Ilha do Mel há vários anos, mas sua origem
não é a mesma da dos nativos, muitos são paranaenses, mas também é possível encontrar
paulistas, gaúchos, entre outros. Basicamente, ocupam-se de atividades comerciais e das
atividades ligadas diretamente ao turismo, como pousadas e restaurantes. No caso dos veranistas
proprietários, são pessoas com maior poder aquisitivo, utilizando inclusive o barco próprio para o
deslocamento entre a ilha e o continente. Sua freqüência também é sazonal e não há ligação
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cultural com a ilha. Os turistas podem ser encontrados quase durante todo o ano, sendo que as
idades são variáveis, embora a maioria seja jovem, e o tempo de estadia possa ser desde alguns
dias até mesmo semanas (SEMA, 2004).
Ao longo do histórico de desenvolvimento e ocupação da Ilha do Mel, é possível afirmar
que o turismo é atualmente o melhor negócio na visão de empreendedores residentes na ilha,
conforme destaca a SEMA (2004):
Estabeleceram-se diferentes maneiras de exploração das atividades turísticas na Ilha, surgindo e influenciando novas formas de geração dos recursos sustentáveis, tornando-se a principal atividade econômica praticada hoje em dia, seja na visão econômica, social ou ambiental. Devido a estas mudanças na forma de gerar recursos próprios, que foram processadas e introduzidas na Ilha durante os últimos anos (15), atualmente observam-se diferentes cenários desconformes, ocasionando impactos negativos estabelecidos pela forma descontrolada da prática do turismo (SEMA, 2004 p.137).
Os investimentos realizados inicialmente em infra-estrutura básica, como a construção
dos trapiches e a instalação de energia elétrica na década de 1990, contribuíram com a
especulação imobiliária e o aumento do interesse por parte de empreendedores do continente. A
dificuldade de controle destes aspectos contribui para o crescimento do turismo desordenado na
ilha, principalmente nos meses de dezembro a março. De acordo com a SEMA (2004), o número
de lugares disponíveis na ilha supera o limite diário permitido de 5000 visitantes:
Em maio de 2004 o IAP realizou um levantamento de campings e pousadas mostrando na região central (Fortaleza, Brasília, Farol e Praia Grande) a existência de 43 campings e 41 pousadas e na região de Encantadas, 28 campings e 39 pousadas. Isto representa 151 estabelecimentos para a acomodação de visitantes com capacidade de atendimento de aproximadamente 8000 pessoas (SEMA, 2004 p.138).
Ainda de acordo com informações da SEMA (2004), a Ilha do Mel recebe por ano
aproximadamente 140.000 visitantes. Relacionando-se esta informação à citação anterior, pode-
se facilmente concluir que, se não houver um controle rigoroso, o número máximo de visitantes
pode ser superado, expondo os ambientes naturais mais frágeis à ação antrópica.
O excesso de leitos disponíveis em toda a Ilha do Mel estimula a concorrência entre os
empreendedores e, por conseqüência, a divulgação em massa dos seus atrativos por parte de
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alguns empreendimentos, não sendo considerados muitas vezes aspectos importantes, como a
fragilidade do ambiente natural e a legislação que incide sobre ele.
Considerações finais
O desenvolvimento do turismo em áreas naturais só será positivo quando incorporar a
preocupação com o meio ambiente e a diversidade biológica. Para isto, o turismo junto à natureza
deve ser planejado, com destaque para as ações de educação ambiental junto aos turistas.
Em razão do crescimento da atividade turística, as Unidades de Conservação têm ficado
mais expostas a estas ações e aos impactos decorrentes da urbanização em suas áreas de entorno e
ainda à presença em massa de visitantes, nem sempre sensíveis aos objetivos e à importância
destas áreas (OMT, 2003).
No caso das Unidades de Conservação que aceitam a realização de visitas e atividades
recreativas como os Parques, a necessidade de planejamento da atividade torna-se ainda mais
importante, pois a visitação nestas áreas implica em um comportamento adequado ás normas
previstas no Plano de Manejo e no Programa de Uso Público.
A partir do conceito de ecoturismo, as atividades turísticas que utilizam as Unidades de
Conservação como atrativos, deveriam incluir ações que possibilitassem a educação e a
interpretação ambiental. No entanto, muitas vezes, o termo “ecoturismo” é utilizado apenas como
uma designação de segmento de mercado por parte de empresários que “exploram” este nicho, ou
mesmo pelos turistas “convencionais” que praticam o turismo de massa em áreas naturais. O fato
é que, como resultado do apelo comercial por parte dos empresários do setor que desejam
aumentar lucros, o ecoturismo não atende aos objetivos propostos para as Unidades de
Conservação. Gerando assim o uso dos recursos naturais de forma indiscriminada.
De qualquer forma, as questões relativas à conservação da natureza estão na vanguarda da
opinião pública: espécies em extinção, aquecimento global, preservação, e consumo de água são
assuntos que estimularam o apoio público à conservação e não é por acaso que o interesse pelo
ecoturismo tenha se expandido em paralelo à preocupação mundial (WEARING; NEIL, 2001). O
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importante é esclarecer o que diferencia uma atitude consciente com relação à conservação de
uma simples oportunidade de negócio.
O ecoturismo é o tipo de viagem que contém o elemento natural, proporcionando um
incentivo econômico para a preservação e a conservação do meio ambiente (OMT, 2001).
Portanto, qualquer iniciativa de desenvolvimento turístico ou do ecoturismo em áreas naturais,
mais precisamente em Unidades de Conservação como no caso do Parque Estadual da Ilha do
Mel, necessita, além de adequar-se às normas de manejo estabelecidas para o desenvolvimento da
atividade, proporcionar de forma responsável o bem-estar das comunidades locais (SEABRA,
2001).
A partir destas observações, pode-se inferir que, mesmo tratando-se de ecoturismo, as
atividades desenvolvidas devem estar adequadas aos objetivos da Unidade de Conservação.
Qualquer atividade ou comportamento por parte dos visitantes, que acarrete conflitos com os
objetivos de manejo, podem gerar impactos negativos na Unidade de Conservação.
Apesar de tratar-se de uma Unidade de Conservação, o Parque Estadual da Ilha do Mel
não tem recebido a atenção necessária por parte de seus gestores. Pois o prazo para elaboração do
Plano de Manejo e do Programa de Uso Público termina em 2007. Isto implica em não
proporcionar à Unidade de Conservação por exemplo, um zoneamento adequado que possa
delimitar as áreas a serem utilizadas pelos turistas e visitantes e a programação de atividades
orientadas em função dos objetivos de conservação do Parque.
Atualmente, o que é possível encontrar no Parque são demonstrações claras de pouca
percepção com relação às questões ambientais. Pois na mesma medida em que boa parte dos
visitantes afirma que a paisagem e as “áreas preservadas” são os principais elementos
motivadores de suas visitas, estes não notam os diversos problemas existentes em decorrência do
“turismo desordenado” (SANTOS JUNIOR, 2006).
Como exemplos pontuais destas conseqüências destacam-se entre outras: a falta de
saneamento básico adequado, incluindo o recolhimento do lixo das praias e trilhas; a erosão e o
comprometimento da vegetação ao longo das trilhas no Parque; além de sinais evidentes de
vandalismo, como queimadas na vegetação dos costões.
Está mais do que provado que a natureza é um atrativo capaz de motivar e muito o
deslocamento de turistas, como a própria comparação das taxas de crescimento da atividade
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comprovam. No entanto, é importante deixar claro que mudando o ambiente, deve mudar
também o comportamento do turista. É necessário incentivar um comportamento mais
responsável, de forma a garantir a sustentabilidade dos recursos naturais e da atividade
econômica para as comunidades localizadas nas áreas de entorno das Unidades de Conservação.
O grande desafio é justamente conciliar os diversos “interesses” com os objetivos de
conservação do Parque Estadual da Ilha do Mel, assim como de outras Unidades de Conservação
da mesma categoria espalhadas pelo país.
Referências
CERDEIRA, P. A coleta do lixo reciclável na Ilha do Mel, litoral do Paraná. Curitiba: Instituto Ambiental do Paraná, 1994. ESTADO DO PARANÁ. Decreto n.º 5506, de 22 de março de 2002. Criação do Parque Estadual da Ilha do Mel. Disponível em: <http://www.pr.gov.br> Acesso em 28 set. 2005.
• ESTEVES, C. Turismo e qualidade da água na Ilha do Mel (Litoral do Paraná). Dissertação de mestrado em Geografia. Curitiba: Universidade Federal do Paraná, 2004. MMA. Ministério do Meio Ambiente. Lei n.º 9.985 - Sistema Brasileiro de Unidades de Conservação - SNUC. Brasília: MMA/SBF, 2000. NIEFER, I. Análise do perfil de visitantes das Ilhas do Superagüi e do Mel: Marketing como instrumento para um turismo sustentável. Tese de doutorado em Ciências Florestais. Curitiba: Universidade Federal do Paraná, 2002. ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO TURISMO. Introdução ao turismo. São Paulo: Roca, 2001. ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE TURISMO. Guia de desenvolvimento do turismo sustentável. NETZ, S (Trad.) Porto Alegre: Bookman, 2003. RUSCHMANN, D. Turismo e planejamento sustentável: A proteção do meio ambiente. Campinas: Papirus, 2000. SANTOS JUNIOR, O. O desenvolvimento do turismo em unidades de conservação: caracterização do uso público no Parque Estadual da Ilha do Mel. Dissertação de mestrado em Turismo e Hotelaria. Balneário Camboriú: Universidade do Vale do Itajaí, 2006.
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SEABRA, G. Ecos do turismo: O turismo ecológico em áreas protegidas. Campinas: Papirus, 2001. SEMA/IAP. Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos / Instituto Ambiental do Paraná. Plano de manejo da Estação Ecológica da Ilha do Mel. Curitiba, 1996. SEMA. Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos. Plano de controle ambiental e uso do solo da Ilha do Mel. Curitiba, 2004. SWARBROOKE, J. Turismo sustentável. São Paulo: Aleph, 2000. 4v. WEARING,S. ; NEIL, J. Ecoturismo: Impactos, potencialidades e possibilidades. Barueri: Manole, 2001.