architecture: portuguese contemporary masterpieces

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Article published in Expresso - Única, December 2009

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Page 1: Architecture: Portuguese Contemporary Masterpieces

10+ARQUITECTURA

Edifíciosde culto

Metro do Porto (1997-2005)

EDUARDO SOUTO DE MOURA1.ª Fase: 4 linhas, 67 estações, 56 km; 2,4 mil milhões de euros

O megaprojecto do Metro do Porto transformou a cidade, dotando-a não apenas de uma rede detransportes própria de uma metrópole, mas qualificando o espaço público. E o que parecia quaseimpossível, compatibilizar as rigorosas regras técnicas do sistema do metropolitano com a aciden-tada topografia do centro histórico, tornou-se viável, com o redesenho da cidade. Estação a esta-ção, com pequenas alterações de cotas de ruas, recuperando ou criando jardins, praças, ilumina-ção e mobiliário urbano, o Porto renasceu. Projectado por Eduardo Souto de Moura, nele colabora-ram outros grandes nomes da nossa arquitectura. Herdeiro da estratégia de renovação urbana daCapital Europeia da Cultura 2001, hoje transporta cerca de 51,5 milhões de passageiros por ano.

Estádio Municipal de Braga (2000-2003)

EDUARDO SOUTO DE MOURA108 milhões de euros

É uma das mais emblemáticas e extraordinárias obras da nossa arquitectura. Umestádio escavado numa pedreira (1,7 milhões de metros cúbicos de granito esaibro foram extraídos antes do início da construção), com apenas duas bancadas(uma tipologia inovadora, já que a norma é quatro), que materializa o conceito defutebol-espectáculo (o palco relvado adquire uma força invulgar no contrastecom o cinzento da pedra e do betão), dotado de uma impressionante coberturacom um vão de 202 metros (inspirada nas pontes incas do Peru, os cabos suge-rem a continuidade da estrutura), que criou uma nova relação com a paisagem(reenquadrando a montanha e o vale do rio Cávado) e com o território (servindode âncora à expansão da cidade a Norte). Obra-prima da arquitectura, o conceitoe o desenho são de Eduardo Souto de Moura, e da engenharia civil, desenvolvidapor Rui Furtado, o Estádio Municipal de Braga, construído para o Euro-2004,revolucionou a concepção dos recintos desportivos.

Estas são as obrasarquitectónicas quemarcaram a últimadécada, símbolosde um Portugaldo século XXITEXTOS DE JOANA PINHEIRO

Os primeiros anos do novo

século viram erguer-se al-

gumas mais notáveis obras

da arquitectura contempo-

rânea nacional. O Estádio Municipal

de Braga, pela escala, pelo conceito

e pela inovação, a Casa da Música no

Porto, pela singularidade do volume

e pela relação com o contexto, e o

Metro do Porto, pela revolução que

operou na rede de transportes da ci-

dade e na requalificação dos seus es-

paços públicos, são casos incontor-

náveis. Noutro plano situam-se edifí-

cios com menor visibilidade pública,

mas de excelente qualidade arquitec-

tónica, quase todos premiados nacio-

nal ou internacionalmente, como o

Centro de Artes de Sines, a Igreja da

Santíssima Trindade, em Fátima, o

Centro de Artes da Calheta, na Ma-

deira, a Escola Superior de Tecnolo-

gia do Barreiro, a Biblioteca Munici-

pal de Viana do Castelo, o Fluviário

de Mora e a Torre de Controlo do

Porto de Lisboa. É uma escolha en-

tre outras possíveis. Elegemos obras

de carácter público, construídas de

raiz, em diversas regiões, com te-

mas, programas e linguagens dife-

rentes, assinadas por conceituados

arquitectos de várias gerações. n

172 REVISTA ÚNICA · 31/12/2009

Page 2: Architecture: Portuguese Contemporary Masterpieces

Igreja da Santíssima Trindade(2003-2007), Fátima

ALEXANDROS TOMBAZIS, colaboração de PAULA SANTOS12.315m2; 80 milhões de euros

O corpo circular, com 125 metros de diâmetro, é suportado por duas proeminen-tes vigas centrais. Treze portas, 12 laterais, uma por cada apóstolo, e a do pórticocentral, dedicada a Cristo, dão acesso ao templo. Lá dentro, os quase nove millugares distribuem-se em anfiteatro, aproveitando o declive do terreno, e a luznatural vem de cima, dos painéis em vidro da cobertura. A arquitectura monumen-tal e contemporânea é do grego Alexandros Tombazis, em colaboração comPaula Santos, o projecto de engenharia civil, da equipa liderada por José MotaFreitas. Os muitos milhões de euros investidos na Igreja da Santíssima Trindadenão foram pacíficos, mas invocou-se a necessidade de construir uma obra dofuturo para acolher os cerca de 4,2 milhões de peregrinos que anualmente sedeslocam a Fátima.

Casa da Música(1999-2005),Porto

REM KOOLHAAS22.000m2; 111 milhões de euros

O volume de faces assimétricasinclinadas, em betão branco evidro, converteu-se na imagemde marca do novo Porto. Naesteira de Serralves e de outrasgrandes obras de Álvaro Siza oude Souto de Moura, a Casa daMúsica, projecto do holandêsRem Koolhaas e do ateliê OMA,lançou a cidade no mapa mun-dial do turismo de arquitectura.A partir da entrada, com umpé-direito de 30 metros, o edifí-cio desdobra-se em dez pisosgeometricamente complexos,três dos quais subterrâneos.Todos os espaços merecem serapreciados, mas destacam-se ogrande auditório, com panos devidro ondulados que deixamentrar a luz, e o terraço emanfiteatro, com um tecto vidradoque se abre à cidade. Para trásficaram as polémicas e as suces-sivas derrapagens de prazos eorçamentos, recorde-se que oex-líbris da Capital Europeia daCultura 2001 só foi inauguradoem 2005 e registou um desviode 228% face ao custo inicial.Hoje a Casa da Música cumpre,com qualidade e rigor, o desíg-nio para que foi criada: ser umareferência internacional na áreada música, promovendo o Portocomo produto cultural.

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Page 3: Architecture: Portuguese Contemporary Masterpieces

10+ARQUITECTURA

Centro de Coordenaçãoe Controlo do TráfegoMarítimo do Porto de Lisboa(1999-2001)

GONÇALO BYRNE2280m2; 2,5 milhões de euros

Icónica e simbólica, marca a frente ribeirinha ocidental deLisboa e enobrece a entrada na cidade pelo Tejo. Pousadana ponta de um molhe, em Algés, a torre sugere, em simesma, o tema do controlo marítimo e fluvial que a origi-na. A inclinação do volume parece fazê-la deslizar nosuporte, o seu carácter híbrido é dado pelos materiais.Nasce na solidez da pedra, reveste-se de cobre e culminana ligeireza e transparência do vidro, concluindo-se naimaterialidade das ondas hertzianas captadas pelas ante-nas. O arquitecto Gonçalo Byrne concebeu uma torre queousou representar o seu tempo e se tornou parte integran-te da paisagem.

Escola Superiorde Tecnologiado Barreiro(2003-2007)

ARX PORTUGAL10.500m2; 8,6 milhões de euros

O corpo que se ergue em altu-ra, uma caixa rectangular magis-tralmente recortada por abertu-ras em vidro, é o elementomais marcante do projecto.Assinalando a entrada principal,acolhe o espaço dos docentes.O complexo programa estrutu-ra-se em blocos horizontaisparalelos, conectados entre si,que ora se fundem com a topo-grafia ora se demarcam daenvolvente. Concilia o natural eo artificial, combina o cinzentodo betão aparente com o bran-co do reboco pintado. Exemplonotável no campo dos equipa-mentos universitários, a EscolaSuperior de Tecnologia doBarreiro, do ateliê ARX Portu-gal, de José Mateus e NunoMateus, configura um novosinal urbano, revitalizando ossubúrbios da cidade.

Centro de Artesde Sines(2002-2006)

MANUEL e FRANCISCOAIRES MATEUS8065m2; 8,2 milhões de euros

Revestidos a pedra lioz, osvolumes monumentais sãorasgados por vazios geométri-cos, evocando a arquitectura dasmuralhas do castelo de Sines.Concebido como porta do nú-cleo histórico, o Centro de Artes,dos arquitectos Manuel e Francis-co Aires Mateus, marca o inícioda rua principal de ligação aomar. O programa, que incluiáreas expositivas, auditório,biblioteca e arquivo municipal,desenrola-se numa cota inferior,sendo os interiores iluminadosatravés de faixas em vidro aber-tas ao nível da rua. O modocomo se trabalha a luz em espa-ços com escalas muito dísparesé verdadeiramente excepcional. F

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174 REVISTA ÚNICA · 31/12/2009

Page 4: Architecture: Portuguese Contemporary Masterpieces

Fluviário de Mora (2004-2007)

PROMONTÓRIO ARQUITECTOS3000m2; 6 milhões de euros

Isolado num campo de oliveiras e sobreiros, o edifício, envolto por finos pórticosem betão branco, evoca a presença de um monte alentejano. O lago exteriorafirma-se como um dos mais importantes habitats em exposição. No interior, umconjunto de caixas acolhe o programa, que inclui aquários com centenas deexemplares dos rios ibéricos e de cursos de água exóticos. Projecto pioneiro naEuropa, o Fluviário de Mora, projectado pelo Promontório Arquitectos, que já seconverteu no novo local de romaria do Alto Alentejo, testemunha como umpequeno concelho pode reinventar-se através de um equipamento singular.

Biblioteca Municipalde Viana do Castelo(2005-2008)

ÁLVARO SIZA VIEIRA3130m2; 4,5 milhões de euros

Com aberturas panorâmicas para o rio Limae o centro histórico de Viana do Castelo, ovolume suspenso, de 45x32 metros, dese-nha um amplo vazio central que reenquadraa paisagem ribeirinha. Prolonga-se emrés-do-chão para leste, através de um pisoem forma de L. É em betão branco aparente,com embasamento em granito. O programareparte-se por dois pisos, com salas ilumina-dos por originais lanternins. Da autoria deÁlvaro Siza Vieira, a nova biblioteca veiocolocar a cidade no mapa referencial daarquitectura contemporânea.

Centro de Artes da Calheta — Casadas Mudas (2001-2004), Madeira

PAULO DAVID12.000m2; 15 milhões de euros

Esculpindo o cume de um monte, que acaba abruptamente sobre omar, o Centro de Artes da Calheta, na Madeira, desenvolve-se, orgâni-ca e geometricamente, numa cota inferior à da antiga Casa das Mudas.A partir do topo, desce-se uma escadaria e descobrem-se diferentespercursos, pátios e miradouros. Revestido a basalto, para se fundircom o entorno, é rasgado aqui e ali por panos de vidro. No interior, osespaços brancos são magistralmente traçados para acolher mostrasvariadas e funções diversas. Da autoria de Paulo David, esta é uma dasmais sublimes obras arquitectónicas da última década.

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