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ANÁLISE DA CONCORRÊNCIA E CONCENTRAÇÃO DE MERCADO NA
INDÚSTRIA DE REFINO DE PETRÓLEO NO BRASIL
Juan Peixoto Barroco Magalhães¹
Resumo
O trabalho objetiva identificar as estratégias e avaliar a organização da indústria de
refino petrolífero no Brasil, no período de 2007 a 2016. Utiliza-se como base teórica na
análise o modelo estrutura-conduta-desempenho (ECD), e o modelo capacitação-
estratégia-desempenho adaptado (CEDa). Aspectos referentes à estrutura da indústria
foram avaliados, calculando-se os índices de razão de concentração (Cr), Hirschmann-
Herfindahl (HH), de Gini e de Theil. Os resultados da avaliação mostram que a
concentração da indústria variou durante o período avaliado, sendo que em 2016 todos
os índices tiveram uma tendência à desconcentração e igualdade se comparado com
2007. Os resultados obtidos mostraram como a interdependência entre as estratégias,
a capacitação e o desempenho podem levar às empresas envolvidas a estarem em
constante transição seguindo as novas tendências de mercado e se adaptando às
novas práticas e requisitos adotados por seus principais clientes. Uma mudança na
visão de negócios seguindo a metodologia CEDa apresenta o potencial de assegurar
um melhor desempenho e ainda aumentar a concorrência no segmento.
Palavras-chave: Indústria; CEDa; ECD. Abstract
The present work aims to identify the strategies and evaluate the organization of the oil
refining industry in Brazil, from 2007 to 2016. The structure-conduct-performance model
(SCP) is used as a theoretical basis, and the compact- adapted strategy-performance
(CaSP).
¹Bacharel em Engenharia Metalúrgica, Universidade Estadual do Norte Fluminense – UENF,
Campos dos Goytacazes,RJ. E-mail: [email protected]
2
Aspects related to the structure of the industry were evaluated by calculating the
concentration ratio (Cr), Hirschmann-Herfindahl (HH), Gini and Theil indexes. The
results of the evaluation show that the concentration of the industry varied during the
evaluated period of time, and that all indexes in the year of 2016 had a tendency
towards deconcentration and equality compared to 2007. The obtained results showed
how the interdependence between the strategies, the training and the performance can
lead the companie2s involved to be in constant transition following the new market
trends and adapting to the new practices and requirements adopted by their main
customers. A change in business vision following the CaSP methodology has the
potential to ensure better performance and further increase competition in the segment.
Keywords: Industry; CaSP; SCP.
INTRODUÇÃO
A indústria petrolífera surgiu na segunda metade do século XIX, quando Edwin
Drake perfurou o primeiro poço de petróleo em Titusville na Pensilvânia – 1859, sendo
que até os dias atuais é uma das mais importantes e competitivas, assim caracterizada
por inúmeras especificidades, dentre as quais, destaca-se o fato do petróleo ser um
recurso mineral não renovável e a principal fonte de energia consumida no mundo,
aproximadamente 34% e junto com o Gás Natural somam 55% (SOARES, 2012). Dada
a sua importância, o petróleo tornou-se um produto estratégico para muitos países,
principalmente após os choques do petróleo durante a década de 70, quando o mundo
sofreu graves consequências econômicas e políticas com o aumento abrupto do preço
do barril de petróleo.
Outra característica importante consiste na natureza do petróleo, esse por ser
um recurso natural, encontra-se distribuído pelo globo de forma desigual. Portanto,
nem todos os países possuem esse recurso em abundância, ou de forma igualitária, ou
mesmo na quantidade que necessitam para suprir sua demanda. Além disso, o
mercado mundial está voltado quase que completamente para o consumo de petróleo e
seus derivados, desta forma, este se tornou um recurso estratégico para todos os
3
países, principalmente para os países mais desenvolvidos que mais necessitam do
produto, influenciando desta forma, a geopolítica global, de modo a desenvolver países
e por outro lado colocar outros dependendo de produtos de petróleo vindo de
importação de países com maiores reservas e com tecnologia para processar o óleo.
A indústria do petróleo compreende todas as atividades que envolvem desde
óleo cru, gás natural a seus derivados, como a pesquisa, prospecção, exploração e
importação ao refino, distribuição, exportação. O refino gera os derivados acabados ou
semiacabados ser utilizado na sociedade. O refino, ou processamento de petróleo,
consiste em um conjunto de operações de separação de suas frações de
hidrocarboneto, tais como destilação fracionada e craqueamento (SOARES, 2012).
As atividades de refino tornaram-se mais rentáveis ao longo da década de 2000,
especialmente relacionada à elevação dos preços do petróleo. Na busca por mais
petróleo leve e doce para atender a demanda de derivados leves, como gasolina e óleo
diesel, os refinadores contribuíram no aumento dos preços. Assim com o aumento do
preço dos derivados, houve um acréscimo na margem de lucro do refino (crack
spread). Aproximadamente quase 30 anos (1970-2000), as refinarias mantiveram
elevados níveis de capacidade em excesso, por conta de economias de escala e
concorrência crescente, já que os custos de processamento diminuem com o tamanho
da refinaria, e importar derivados é mais caro do que importar petróleo bruto. Além
disso, são investimentos de longo prazo, que correm o risco de atravessar períodos de
menores e maiores demanda de derivados. Contudo, no início dos anos 2000, o
crescimento da demanda de derivados não foi acompanhado de crescimento da
capacidade de refino, o que elevou os preços dos derivados e a margem das refinarias.
Assim, é indispensável, tanto do ponto de vista da definição de políticas públicas
setoriais, quanto da estratégia de investimentos privados, a compreensão da dinâmica
competitiva dessa indústria. No presente trabalho, desejando-se contribuir para este
tipo de questão, propõe-se a conjugação dos modelos de organização industrial e de
estratégia competitiva ECD e CED, para análise do padrão de concorrência no setor de
refino de petróleo na no Brasil, através de uma perspectiva dinâmica, com ênfase na
concentração do mercado.
4
1 METODOLOGIA
-
CEDa
- Herfindahl (HH) e
entropia de Theil (E). Utilizou-se o índice de Gini para estudar um provável aumento ou
queda de concentração de mercado pelas menores empresas. O modelo CEDa foi
abordado com um maior foco nas estratégias adotadas pelas duas maiores refinarias
no país em realizar investimentos, não somente no melhoramento de processos já
existentes, mas também na incorporação de novos serviços e produtos que se
apresentam mais alinhados com as novas práticas adotadas pelo mercado de refino de
petróleo. O portal de transparência da PETROBRÁS serviu como principal fonte de
dados sobre o direcionamento de investimentos por cada refinaria em diferentes
períodos: 2007-2011 e 2012-2016.
1.1. Modelo estrutura-conduta-desempenho (ECD)
O uso do modelo estrutura-conduta-desempenho é importante na determinação
das forças responsáveis pela organização da indústria e como estas têm se alterado no
tempo (CORTE e MARION-FILHO, 2009). De acordo com Teixeira et al. (2009), em
sua primeira formulação, o modelo ECD baseava-se um encadeamento causal das
condições básicas de oferta e demanda para a estrutura de mercado. A estrutura de
mercado, por sua vez, estabeleceria a conduta das firmas e o seu desempenho
econômico. Com o passar do tempo, o modelo ECD passou por várias formalizações e,
segundo Corte e Marion-Filho (2011), apesar das versões mais tradicionais
considerarem o sentido de casualidade seguindo da estrutura para o desempenho,
sendo a primeira determinada exogenamente; as versões atualizadas abandonaram
5
este sentido de casualidade, admitindo que a estrutura possa ser determinada
endogenamente. Nesse presente trabalho o modelo será utilizado para estimar a
estrutura de mercado com relação à concentração, a partir do cálculo de alguns
índices.
1.1.1. A estrutura de mercado
As ideias propostas por Galdino e Garcia (2008)
-
-
1.1.1.1. Razão de concentração (Cr)
-
-
pode ser calculada da seguinte forma:
6
∑
(equação 1)
Neste caso:
Pi = parcela da capacidade produtiva de cada empresa no mercado.
O índice mais utilizado é o CR4, que calcula a parcela de mercado correspondente
às quatro maiores empresas do segmento analisado. As faixas de valores podem ser
separadas qualitativamente segundo o nível de concentração segundo a tabela 1
(embora o CR não seja o método mais ideal para analisar a competição de mercado,
sendo este o HH, que será o próximo índice introduzido).
Tabela 1: Indicação de níveis de mercado para as faixas de valores de CR4
Fonte: Bain (1959 apud SCHIRIGATTI et al., 2012).
1.1.1.2. Índice Herfindahl-Hirschman (HH)
É o índice mais aconselhado para indicar a c de mercado de um
segmento com n empresas, pois leva em conta a diferença de tamanho entre as
empresas. -Hirschman
equação 2.
7
∑
(equação 2)
Neste caso:
Pi: parcela da capacidade produtiva de cada empresa no mercado elevado ao
quadrado.
Conforme Carminatti et al. (2008), elevar cada parcela da capacidade produtiva
ao quadrado implica atribuir um p
-
no total da capacidade produtiva da 1. Se HH = 1 pode-se
lio; se HH = 1/n, o mercado estará igualmente
repartido entre n empresas, e se HH tende à 0, teremos uma concorrência perfeita.
1.1.1.3. Coeficiente de Gini
O Coeficiente de Gini, que também pode ser chamado de Índice de Gini,
corresponde a um dado estatístico que mede o grau de desigualdade de renda em um
determinado território. O parâmetro foi criado pelo matemático italiano Conrado Gini
(1884-1965) e publicado originalmente e “V ”
(Variabilidade e mutabilidade, na tradução literal).
∑
(equação 3)
Esse dado numérico é mensurado em um número que vai de 0 a 1 (Tabela 3),
de forma que 0 representa um estado totalmente igualitário, e 1 representa um estado
totalmente desigual, em que apenas uma empresa ou uma parcela muito restrita de
8
empresas concentram toda a produção existente. Uma coisa importante sobre esse
dado é que leva em conta no cálculo o crescimento ou queda de pequenas empresas
do mercado, sendo possível detectá-la mesmo com uma concentração de mercado
equilibrada.
Tabela 3: Representação de como se comporta a desigualdade em função do
índice de Gini
1.1.1.4. Índice de Entropia ou Índice de Theil
O Índice de Theil é uma medida estatística da distribuição de produção. Ele tem
seu foco na desconcentração do mercado, de modo que, se Theil for próximo à zero,
indica uma boa distribuição e próximo a um, indica uma pior distribuição da produção.
Ou seja, proporciona uma informação inversa a concentração. Além disso, o índice
atribui menos importância às maiores empresas, devido ao fator dentro do logaritmo.
Pode-se dizer que é um índice complementar ao HH, pois enquanto este dá uma maior
ênfase às empresas de maior porte, o contrário pode-se dizer para o de Theil.
∑
(equação 4)
9
1.2. A conduta das empresas
pode ser expressa como o comportamento que as firmas apresentam no mercado em
1.3. O Desempenho das empresas
-
devem-se observar os resultados obtidos.
-
mais utilizadas.
1.4. o o p o – – desempenho (CED)
desenvolvidas.
Conforme Ferraz et al. (1997 - -
-
10
Entretant
“ ” -
-
capacitada para adotar est
7).
-
Figura 1: Estratégia Competitiva no nível da firma/ Modelo CED.
Fonte: Ferraz et al (1996)
11
No
caso, est
instituc 7).
1.5. o o p o – – desempenho adaptado (CEDa)
competitiva de duas firmas de uma determinada -
de acordo com os seus respectivos desempenhos (
“
” tria.
Fonte: Souza (2011)
12
et al, 1998)
2 RESULTADOS E DISCUSSÕES
2.1. Capacitação
O desempenho do mercado é reflexo das estratégias das empresas,
fundamentadas em suas respectivas capacitações, além dos condicionantes do padrão
de concorrência setorial e da dinâmica competitiva local. Para avaliar brevemente o
desempenho da indústria de refino de petróleo, foram consideradas as variáveis de
crescimento do mercado e perspectivas futuras.
Ao longo dos anos, a PETROBRAS vem investindo na capacitação das suas
refinarias aumentando constantemente suas capacidades instaladas de refino, de
acordo com a tabela 2, e esta mesma política de investimento será mantida até 2022
em que a empresa pretende investir quase cinco bilhões de reais.
Tabela 4: Evolução da capacidade de refino, segundo Refinarias – 2007-2016
Fonte: ANP/SPC, conforme as Resoluções ANP n° 16/2010 e 17/2010.
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Com todos esses investimentos previstos, a expectativa é que a capacidade do
parque de refino brasileiro passe de 2,063 milhões de barris diários atualmente, para
3,362 milhões de barris diários em 2021. Este total equivale a um crescimento de
aproximadamente 63% em relação à capacidade atual, sendo que não inclui o segundo
módulo da refinaria Premium I, que terá capacidade de processar 300 mil barris diários,
ainda sem previsão para entrar em operação. A soma é composta pela entrada em
operação da Rnest, com capacidade de processar 230 mil barris por dia (bpd); do
Comperj, com 465 mil bpd; do primeiro módulo da Premium I, com 300 mil bpd; da
Premium II, com mais 300 mil bpd; e da ampliação do parque atual, que deve adicionar
mais 4 mil bpd à capacidade total.
2.1.1.
Para a determinação da
-
-se a razão
de concentração (CR) considerando as duas e quatro maiores empresas no mercado
em 2007, sendo estas REPLAN (SP), RLAM (BA), REVAP (SP) e REDUC (RJ),
respectivamente. Também foram calculados outros índices complementares como HH,
entropia de Theil e coeficiente de Gini.
-
14
Tabela 5: Volume de carga processada segundo refinarias de 2007 a 2016.
Tabela 6: Os índices calculados a partir do volume de carga processada por refinaria.
Fonte: (ANP)
2.1.1.1. Coeficiente de concentração (CR)
Nota-se que a REPLAN e a RLAM tiveram suas parcelas de mercado reduzidas
entre 2007 e 2009, resultando em uma diminuição do CR2, já que estas foram as duas
maiores produtoras durante o período considerado, e a produção total durante o
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período não sofreu muita alteração. Além disso, em 2009, a REVAP assumiu a
segunda posição da RLAM. O CR4 também sofreu uma queda, pois embora a REVAP
tenha sofrido um incremento da sua parcela de mercado, este não foi tão significativo
comparado com as quedas da REPLAN e RLAM. Além disso, a REDUC também teve
queda de sua parcela de mercado. Entre 2009 e 2011, nota-se que as parcelas de
mercado da REPLAN e a RLAM sofreram um aumento, aumentando com isso o CR2.
Além disso, o CR4 também sofreu um incremento, pois embora a REVAP tenha tido
sua parcela de mercado reduzida, essa não foi tão significativa, pois a refinaria ainda
manteve a sua posição como segunda maior produtora entre esse período. Já entre
2011 e 2014, o mercado se manteve bastante estável, pois embora a produção das
quatro principais refinarias tenha aumentado, a produção total do mercado também
aumentou. Entre 2014 e 2016, no entanto, ocorreu uma redução de índice de
concentração CR2 e CR4, devido a redução de parcela de mercado das quatro
maiores.
2.1.1.2. HH e Índice de entropia
Entre 2009 e 2011, ocorreu um aumento da concorrência no mercado de refinarias,
o que é confirmado pela redução do HH e o aumento índice de Theil. Isso se deve a
queda de mercado das maiores, e um incremento da parcela de mercado das menores.
Além disso, mais empresas surgiram nesse período. Entre 2009 e 2011, tem-se que as
parcelas de mercado pelas duas empresas sofre um aumento, especialmente pelo
aumento da fatia de mercado pela Replan, enquanto o HH se mantém praticamente
constante, o que se deve principalmente à ascensão da Revap, compensando a queda
da Rlam, que passou a ser a terceira maior produtora do mercado nacional. Já entre
2011 e 2014, o mercado se manteve bastante estável, com exceção do período entre
2012 e 2013, onde houve um aumento da parcela de mercado pela Replan e Rlam, que
assumiu a segunda colocação no mercado nacional novamente, devido a um
espetacular aumento de produção. HH e Theil mostram que isso resultou em uma
menor concorrência no mercado. Finalmente, entre 2014 e 2016, houve uma
diminuição do HH e aumento de Theil, indicando um maior equilíbrio de mercado.
16
2.1.1.3. Índice de Gini
Entre 2007 e 2009 o mercado passou a ter uma maior quantidade de empresas
com menores parcelas do mercado, o que é indicado pelo aumento índice de Gini. Isso
pode ser explicado pela entrada de pequenas empresas no nicho de mercado e pela
redução da parcela de mercado das menores que já se encontravam no mercado.
Entre 2009 e 2010, ocorreu um outro aumento do índice, que pode ser também
explicado pelo surgimento de pequenas refinarias. Por exemplo, o número de refinarias
com uma produção diária de barril de abaixo de 15 000 aumentou de 4 para 6. Já entre
2011 e 2014, Gini mostra que as pequenas empresas do mercado tiveram suas
parcelas diminuídas ainda mais. Entre 2014 e 2016, a redução do índice de Gini
mostrou que as pequenas refinarias tiveram sua produção diária de barril aumentada.
Como exemplo, nota-se que a segunda pior produtora em 2014 tinha uma produção de
menos de 3000 barris por dia, sendo que em 2016, a segunda (coincidentemente, a
mesma) passou a produzir aproximadamente 8000 barris por dia.
2.2. Estratégias
Baseando-se nas características de produção, a estratégia competitiva mais
adequada para o caso das indústrias de refino petrolífero é a liderança em custo.
Assim, a empresa irá investir para aumentar sua capacidade de produção, a fim de ter
maior flexibilidade refino de petróleo pesado bem como de Gás Nat ural, para diminuir
seus custos. O Plano Decenal de Expansão de Energia 2021, desenvolvido pela
Empresa de Pesquisa Energética (EPE), prevê que a Petrobrás vá destinar US$ 94,6
bilhões às suas refinarias até 2021, contando com ampliações das plantas em
funcionamento e com a montagem das novas unidades, como Comperj, Rnest,
Premium I e Premium II. De acordo com o estudo realizado pela EPE, as quatro novas
unidades vão consumir US$ 70,6 bilhões em recursos até lá. Além das novas plantas
de refino, a pesquisa estima que a Petrobras deva investir outros US$ 24,2 bilhões na
ampliação e na modernização de suas refinarias já em funcionamento – incluindo a
conclusão da Refinaria Potiguar Clara Camarão (RPCC) -, com maior ênfase na
construção de novas Unidades de Hidrotratamento (os HDTs).
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Outra iniciativa observada através da pesquisa realizada, foi que a PETROBRAS,
assim como suas refinarias tem assumido uma posição de produzir combustíveis que
gerem menor impacto ambiental. Em especial o óleo Diesel, que por muitos anos, no
Brasil, foi um dos com maiores teores de enxofre do mundo. O nível de enxofre no
Diesel brasileiro vem sendo reduzido para poder atender uma nova frota de veículos
pesados que trabalharão com este combustível, tal como ilustra o gráfico abaixo:
Figura 3: Análise da frota de veículos pesados brasileiros, segundo o tipo de Óleo
Diesel
Fonte: IEMA
Neste gráfico nota-se que os veículos P7, que requerem um diesel de ultra baixo
teor de enxofre, vêm sendo fabricados, desde 2012, em uma quantidade maior que o
até então líder do setor, o P5, que começou a ter uma diminuição na frota nesse
mesmo período. Essa mesma tendência é observada nos anos anteriores, em que ao
mesmo tempo em que o novo líder do setor passa a aumentar a produtividade, os
demais sofrem uma queda. Sendo assim o mercado de combustíveis sofrerá mudanças
devido a uma maior demanda por diesel de melhor qualidade. Sendo assim, a
PETROBRAS realizou um investimento de 73,6 bilhões de dólares para aumentar a
capacidade de suas refinarias de produzir diesel de melhor qualidade, onde foi
investido aproximadamente 50% desse total na ampliação do parque de refino com a
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RNEST, PREMIUM e COMPERJ, 29% para modernização e implementação de
hidrodessulfuração nas suas refinarias, 11% em melhoria ocupacional através da
otimização, manutenção da capacidade de refino e investimentos em logística, e os
10% restantes em ampliação de frota e destinação dos óleos diesel nacional e
internacional (Figura 4).
Figura 4: Plano de investimento para modernização das plantas de refino.
Fonte: ANP
2.3. Análise Capacitação – Estratégias – Desempenho - Adaptado (CEDa)
Figura 5: Modelo CEDa da Replan e Rlam para o período de 2007 a 2016.
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2.3.1. 2007-2011 (RLAM)
atual de proces
-
asfaltos.
Influenciada pela estrutura do mercado de commodities
-
downstream da Companhia, estavam
2.3.2. 2007-2011 (REPLAN)
O projeto de ampliação e modernização da Refinaria de Paulínia (Replan), um
investimento de mais de R$ 5 bilhões, foi concluído com a inauguração da Unidade de
Tratamento de Gás Residual (UTGR).
De acordo com a Petrobrás, os novos equipamentos aumentam a eficiência na
recuperação do enxofre gerado no processo produtivo, além de aumentar a produção
de diesel e gasolina graças a integração e otimização com as demais unidades da
refinaria. Os equipamentos também se destacam pela importância ambiental,
produzindo derivados mais limpos.
A Replan é a maior refinaria da Petrobrás em capacidade de processamento de
petróleo, alcançando 433 mil barris por dia em 2017. Ao todo, 20% de todo o refino de
petróleo brasileiro é feito em Paulínia. Seus principais produtos são diesel, gasolina,
gás liquefeito de petróleo (GLP), óleos combustíveis, querosene de aviação (QAV),
20
asfaltos e nafta petroquímica, entre outros. Sua produção abastece os mercados do
interior de São Paulo, assim como Minas Gerais e estados do Centro-Oeste e Norte.
2.3.3. 2012-2016 (RLAM)
Estratégia - Empresa que surgiu em 1950, com um programa de investimento
orçado em R$ 3 bilhões em 2010. A maior parte dos recursos seria destinada à
modernização da planta. A Rlam é uma das unidades da Petrobras com maior grau de
complexidade. Com 26 unidades de refino, a planta é responsável pela produção de 38
diferentes tipos de derivados de petróleo. O investimento na unidade pretendia
melhorar a rentabilidade da refinaria. Segundo a Petrobras, seriam criados 14 mil
empregos diretos até o final das obras.
A unidade começou a operar com capacidade para processar 2,5 mil barris de
petróleo por dia. Em 2011, ela podia processar 279 mil barris por dia, mais de 100
vezes a capacidade inicial. A refinaria era, em 2011, a segunda maior do país, atrás
apenas da Replan, em Paulínia, no interior de São Paulo, que podia processar 415 mil
barris por dia.
O colosso industrial baiano era responsável por nada menos que 18% da
arrecadação da Bahia. Apenas em ICMS, a Rlam recolhia mais de R$ 750 milhões por
ano aos cofres estaduais, cerca de 8% da arrecadação do governo com esse imposto.
2.3.4. 2012-2016 (REPLAN)
A Refinaria de Paulínia (Replan) é a maior refinaria do sistema Petrobrás,
responsável pelo refino de 20% de todo o petróleo processado no Brasil. Os objetivos
do trabalho foram: reduzir a captação de água e minimizar a geração de efluentes
hídricos, identificando todas as fontes de consumo de água e vapor. As unidades de
processo da refinaria são: Unidades de destilação, unidades de craqueamento,
unidades de coqueamento e de hidrotratamento.
A ação foi dividida em três níveis de redução do consumo e/ou reuso:
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Aplicação Imediata: Eliminação dos desperdícios e redução no consumo/reuso
através de modificações em procedimentos operacionais. Inclui-se nessa categoria a
Estação de Tratamento de Água e as Unidades de Craqueamento Catalíticos.
Aplicação de Médio Prazo: Eliminação/redução no consumo ou reuso a partir de
pequenas modificações de processo que demandavam pequenos investimentos ou
manutenção corretiva simples a partir da identificação da causa básica de pequenas
anomalias (vazamentos, etc.) Inclui-se: Unidades de destilação 1 e 2, Estação de
Tratamento de Água, Unidade de Coqueamento Retardado, Unidades de geração de
hidrogênio e hidrotratamento, Áreas de utilidade, Unidades de craqueamento catalítico
e Área de transferência e estocagem.
Aplicação a Longo Prazo: Eliminação/redução do consumo ou reúso a partir de
grandes modificações de processo que demandavam novos estudos e projetos, cujos
investimentos eram de grande monta. Inclui-se: Unidades de destilação 1 e 2, Unidade
de coqueamento retardado, unidade de hidrotratamento.
O investimento do sistema de reutilização das águas dos vasos de topo das
unidades a vácuo foi de R$ 2,2 milhões. A redução obtida foi de mais de 300 m³/h que
corresponde a 38% da geração então praticada (785m³) quando do início do trabalho.
Esse resultado foi obtido através das ações imediatas associadas às ações de médio
prazo realizadas. A redução na captação de água e na vazão de efluentes pode ser
realizada sem afetar a otimização do processo e, por extensão, a rentabilidade do
negócio. Uma vez implementada, tende a reduzir os custos operacionais das plantas
industriais.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com os dados obtidos através dos índices concentração, verificou-se que o
desempenho do mercado entre 2007 e 2016 pode ser dividido em quatro períodos que
apresentaram resultados razoavelmente distintos entre si. Em todos, no entanto, o
mercado foi caracterizado como um oligopólio pouco concentrado, levando em conta o
o índice HH.
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Entre 2007 e 2009 o mercado experimentou um aumento significativo de
concorrência, devido à queda de parcela de mercado pela Replan e Rlam e ao
crescimento de outras empresas de médio porte, o que se deve a incentivos fiscais por
parte do governo devido à crise de 2008. Houve, no entanto um aumento da
desigualdade, pois pequenas empresas que apareceram e que já estavam no mercado
tiveram pouca parcela de mercado. No entanto, era considerada de fraca à média pelo
índice de Gini.
Já entre 2009 e 2011, a concorrência não sofreu grande alteração, confirmada
pelo HH e Theil. A desigualdade passou a ser considerada de média a forte a partir de
2010, o que se deve ao surgimento de mais empresas de pequeno porte.
Entre 2011 e 2014 destaca-se a ascensão da Rlam, que assumiu novamente a
segunda colocação, em 2013. Isso foi tão impactante que resultou em uma redução da
concorrência do mercado, justificada não só por Theil e HH quanto por Gini, cujo
aumento significa uma maior parcela de pequenas empresas.
E finalmente, entre 2014 e 2016, os índices tenderam à maior desconcentração
e igualdade (desigualdade de fraca à média), ou seja, o mercado tem-se mostrado
mais competitivo e com menos empresas de pequeno porte, o que provavelmente se
deve ao fato de o Brasil se apresentar como 4º maior mercado automobilístico em
2014, com um grande crescimento na frota e, consequentemente, um aumento na
demanda de combustíveis para os próximos anos.
O esperado para os próximos anos é de que, com um aumento na capacidade de
refino por parte das refinarias até 2021, a produção das empresas de pequeno, médio
e grande porte da Petrobrás continue aumentando, resultando em um aumento de
competitividade (redução do HH e aumento do Theil), e redução do coeficiente de Gini.
Esse fator tende a reduzir também pelas barreiras à entrada de novas refinarias de
pequeno porte, ou seja, a desigualdade não estará tão presente. A tendência para o
CR2 também é positiva, pois REPLAN e RLAM são pertencentes à Petrobrás.
A partir da análise realizada levando em consideração a metodologia CED
adaptado, pode-se concluir que o alinhamento das estratégias visando impactar, não
somente a capacitação, mas também o desempenho, apresenta duas vantagens para
as empresas envolvidas: um melhor alinhamento com as tendências do mercado em
23
questão e uma atualização constante com as preferências de seu cliente. A análise
realizada com as duas maiores refinarias do setor em dois períodos diferentes de
tempo permitiu a identificação das estratégias adotadas (curto, médio e longo prazo)
especificando como elas influenciam o direcionamento dos investimentos realizados e
previstos. A análise apresentada também mostra o papel da agilidade que um
alinhamento das estratégias com o desempenho pode influenciar na tomada de
decisão para uma possível mudança ao longo de um plano de ação.
REFERÊNCIAS
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