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OmniPax Editora Rev Bras Terap e Saúde, 1(2):83-94, 2011 Análise da Prevalência de Sobrepeso e Obesidade em Adolescentes Matriculados na Rede Pública de Ensino de Ivaí (PR) Analysis of Overweight Prevalence and Obesity in Adolescents Enrolled in Public Education Schools of Ivaí (PR) Naudimar di Pietro Simões, Maria Simoni Raifur * Instituto Brasileiro de Therapias e Ensino – IBRATE, Curitiba (PR) Resumo: Contextualização: Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) 23,4% da população mundial está acima do peso, sendo a obesidade infanto-juvenil um fator prévio para a obesidade no adulto. Objetivo : Este estudo analisou a prevalência de sobrepeso e obesidade em adolescentes da rede pública de ensino no município de Ivai (PR). Métodos : A amostra utilizada constituiu- se de 150 voluntários de ambos os sexos e com idades entre 14 e 18 anos. Foi aplicado aos indivíduos pesquisados um questionário e um exame antropométrico, mensurando peso, estatura, massa gorda e massa magra. Os instrumentos utilizados foram uma fita métrica e balança de impedanciometria, a avaliação ocorreu no próprio colégio. A obesidade foi definida a partir do percentil 95 do índice de massa corporal (IMC). Para as estimativas de sobrepeso os valores de referência foram estabelecidos a partir do percentil 85 do IMC relativo à idade e ao sexo, com base no National Health and Nutrition Examination Survey (NHANES I). Foi utilizada a bioimpedanciometria e uma tabela de conversão para calcular os valores de massa gorda. Resultados : Foi possível observar que as meninas estão com mais excesso de peso do que os meninos (32–46% das meninas contra 2–19% dos meninos) e elas expressam maior intenção de perder peso. Os fatores associados ao excesso de gordura corporal apontados pela pesquisa foram o baixo nível de atividade física e uma possível hereditariedade paterna. Não houve diferença significativa entre a população urbana e rural do estudo. Conclusões : Conforme os resultados encontrados, os níveis de prevalência de sobrepeso e obesidade na amostra de adolescentes pesquisados são semelhantes a estudos da mesma natureza, sugerindo a necessidade de políticas de conscientização e prevenção a esta população. Palavras-chave: sobrepeso, obesidade, adolescente. Abstract: Contextualization : According to the WHO – World Health Organization, 23.4% of the world population has overweight, and the teenager obesity is a preliminary factor for obesity in adults. Objectives : This study analyzed the prevalence of overweight and obesity in adolescents at public schools in the city of Ivaí (PR), Brazil. Methods : The sample used was composed of 150 volunteers of both genders, with ages between 14 and 18 years old. To the volunteers, a questionnaire and an anthropometric examination were applied in order to measure their weight, height, fat mass and fat-free mass. The tools used were a measurement tape and a impedanciometric scale, and the evaluation took place in their own schools. The obesity was defined from the percentile 95 of the BMI (Body Mass Index). For estimating overweight, the reference values were established from the percentile 85 of the BMI relative to the age and gender, based on the National Health and Nutrition Examination Survey (NHANES I). Biompedanciometry and a conversion table to compute values of fat mass. Results : The girls are more overweight than the boys, (32–46% of girls and 2–19% of boys), and the girls are firmly intended to lose weight. The research pointed out that the main factors associated to the excess of body fat were the low level of physical activities and a possible paternal inheritance. There was no significant differences between urban and rural population of the study. Conclusions : According the results of the study, the levels of prevalence of overweight and obesity in the sample of teenagers are similar to those reported in another studies, suggesting the necessity of awareness and prevention policies to this population. Keywords: Overweight, obesity, adolescent. 1. Introdução A obesidade tem se tornado um dos maiores pro- blemas de saúde do século XXI, haja vista os agra- vos dela decorrentes e, consequentemente, do cor- rente aumento nos custos sociais de cuidados com a saúde 25,21 . Nos países desenvolvidos, estudos reve- lam que os custos com patologias associadas direta ou indiretamente à obesidade consome entre 1 e 5% de todo o orçamento para a saúde 19 . * Autor correspondente: E-mail: [email protected] Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), 23,4% da população mundial estão acima do peso. No Brasil, estima-se que 40% da população esteja com sobrepeso 23 . A obesidade é considerada uma doença integrante do grupo de Doenças Crônicas Não-Transmissíveis (DCNT). A obesidade se enquadra neste grupo por apresentar história natural prolongada, múltiplos fatores de risco, interação entre fatores etiológicos desconhecidos complicando a determinação da do- ença, causa necessária desconhecida, especificidade de causa desconhecida, longo período de latência, longo curso assintomático, curso clínico em geral ISSN 2177-9910

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Page 1: Análise da Prevalência de Sobrepeso e Obesidade em ... · atividade física e uma possível hereditariedade paterna. Não houve diferença significativa entre a população urbana

OmniPax Editora Rev Bras Terap e Saúde, 1(2):83-94, 2011

Análise da Prevalência de Sobrepeso e Obesidadeem Adolescentes Matriculados na Rede Pública de Ensino de Ivaí (PR)

Analysis of Overweight Prevalence and Obesity

in Adolescents Enrolled in Public Education Schools of Ivaí (PR)

Naudimar di Pietro Simões, Maria Simoni Raifur∗

Instituto Brasileiro de Therapias e Ensino – IBRATE, Curitiba (PR)

Resumo: Contextualização: Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) 23,4% da população mundial está acima dopeso, sendo a obesidade infanto-juvenil um fator prévio para a obesidade no adulto. Objetivo: Este estudo analisou a prevalência desobrepeso e obesidade em adolescentes da rede pública de ensino no município de Ivai (PR). Métodos: A amostra utilizada constituiu-se de 150 voluntários de ambos os sexos e com idades entre 14 e 18 anos. Foi aplicado aos indivíduos pesquisados um questionárioe um exame antropométrico, mensurando peso, estatura, massa gorda e massa magra. Os instrumentos utilizados foram uma fitamétrica e balança de impedanciometria, a avaliação ocorreu no próprio colégio. A obesidade foi definida a partir do percentil 95 doíndice de massa corporal (IMC). Para as estimativas de sobrepeso os valores de referência foram estabelecidos a partir do percentil85 do IMC relativo à idade e ao sexo, com base no National Health and Nutrition Examination Survey (NHANES I). Foi utilizada abioimpedanciometria e uma tabela de conversão para calcular os valores de massa gorda. Resultados: Foi possível observar que asmeninas estão com mais excesso de peso do que os meninos (32–46% das meninas contra 2–19% dos meninos) e elas expressammaior intenção de perder peso. Os fatores associados ao excesso de gordura corporal apontados pela pesquisa foram o baixo nível deatividade física e uma possível hereditariedade paterna. Não houve diferença significativa entre a população urbana e rural do estudo.Conclusões: Conforme os resultados encontrados, os níveis de prevalência de sobrepeso e obesidade na amostra de adolescentespesquisados são semelhantes a estudos da mesma natureza, sugerindo a necessidade de políticas de conscientização e prevenção aesta população.

Palavras-chave: sobrepeso, obesidade, adolescente.

Abstract: Contextualization: According to the WHO – World Health Organization, 23.4% of the world population has overweight, and theteenager obesity is a preliminary factor for obesity in adults. Objectives: This study analyzed the prevalence of overweight and obesity inadolescents at public schools in the city of Ivaí (PR), Brazil. Methods: The sample used was composed of 150 volunteers of both genders,with ages between 14 and 18 years old. To the volunteers, a questionnaire and an anthropometric examination were applied in orderto measure their weight, height, fat mass and fat-free mass. The tools used were a measurement tape and a impedanciometric scale,and the evaluation took place in their own schools. The obesity was defined from the percentile 95 of the BMI (Body Mass Index). Forestimating overweight, the reference values were established from the percentile 85 of the BMI relative to the age and gender, based onthe National Health and Nutrition Examination Survey (NHANES I). Biompedanciometry and a conversion table to compute values of fatmass. Results: The girls are more overweight than the boys, (32–46% of girls and 2–19% of boys), and the girls are firmly intended tolose weight. The research pointed out that the main factors associated to the excess of body fat were the low level of physical activitiesand a possible paternal inheritance. There was no significant differences between urban and rural population of the study. Conclusions:According the results of the study, the levels of prevalence of overweight and obesity in the sample of teenagers are similar to thosereported in another studies, suggesting the necessity of awareness and prevention policies to this population.

Keywords: Overweight, obesity, adolescent.

1. Introdução

A obesidade tem se tornado um dos maiores pro-blemas de saúde do século XXI, haja vista os agra-vos dela decorrentes e, consequentemente, do cor-rente aumento nos custos sociais de cuidados com asaúde25,21 . Nos países desenvolvidos, estudos reve-lam que os custos com patologias associadas diretaou indiretamente à obesidade consome entre 1 e 5%de todo o orçamento para a saúde19.

∗Autor correspondente: E-mail: [email protected]

Segundo dados da Organização Mundial da Saúde(OMS), 23,4% da população mundial estão acima dopeso. No Brasil, estima-se que 40% da populaçãoesteja com sobrepeso23.

A obesidade é considerada uma doença integrantedo grupo de Doenças Crônicas Não-Transmissíveis(DCNT). A obesidade se enquadra neste grupo porapresentar história natural prolongada, múltiplosfatores de risco, interação entre fatores etiológicosdesconhecidos complicando a determinação da do-ença, causa necessária desconhecida, especificidadede causa desconhecida, longo período de latência,longo curso assintomático, curso clínico em geral

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lento, prolongado e permanente, manifestações clí-nicas com períodos de remissão e de exacerbação,lesões celulares irreversíveis e evolução para dife-rentes graus de incapacidade ou para a morte20.

A etiologia da obesidade é de determinação di-fícil, apesar do crescente número de estudos reali-zados com este objetivo. A dificuldade decorre dofato de ela ser uma doença multifatorial3. O que setem notado é que o aumento mundial da prevalên-cia da obesidade se deve principalmente às mudan-ças nos estilos de vida, com uma alimentação ricaem alimentos gordurosos, e redução da atividade fí-sica, que incidem sobre uma certa susceptibilidadeou predisposição genética para ser obeso17.

O indivíduo torna-se obeso quando a quantidadede gordura, relativa à massa corporal, se iguala ouultrapassa 30% em mulheres e 25% nos homens,considerando que a porcentagem de gordura idealpara as mulheres vai de 20 a 25% e em homens de15 a 20%23,22.

A obesidade infanto-juvenil é um fator prévio paraa obesidade no adulto. Devido a isto, com o intuitode se buscar a prevenção, tem sido recomendadasintervenções na infância e na adolescência, por se-rem períodos críticos no desenvolvimento de obesi-dade19,24. O rastreamento de excesso de peso naadolescência tem sido pesquisado mais a fundo, de-vido ao aumento considerável desta prevalência esuas implicações a doenças futuras tais como Di-abetes Mellitus, doenças cardiovasculares, doençaaterosclerótica, hipertensão arterial, transtornos or-topédicos e articulares, doenças de pele, maior riscocirúrgico, dentre outras complicações25,8,14.

A prevalência da obesidade está crescendo inten-samente na infância e na adolescência, tendendo apersistir na vida adulta: cerca de 50% de criançasobesas aos seis meses de idade e 80% das criançasobesas aos cinco anos de idade permanecerão obe-sas. No Brasil, já em 1989, a região Sul apresentavaas maiores prevalências nacionais de obesidade emadolescentes21,19.

Entre os fatores de risco associados à obesidadena adolescência pode-se citar eventos de ocorrên-cia precoce na vida, tais como o crescimento intra-uterino, a prematuridade, o peso materno, a ama-mentação e o crescimento acelerado, além de fato-res relacionados à adolescência, como maturaçãosexual, atividade física, tabagismo, nutrição e es-tado emocional23,14.

O sobrepeso ou a obesidade podem ser decor-rentes de eventos endógenos e exógenos. A formaexógena representa a grande maioria, com 95% doscasos. Neste caso, a origem do excesso de gor-dura se relaciona a fatores ambientais, culturais,sociais e emocionais, prevalecendo o sedentarismoe alimentação inadequada. A forma endógena re-presenta apenas 5% dos casos de obesidade e pode

ser de origem congênita, psicogênica, medicamen-tosa, neurológica e endócrina23.

Os adolescentes vêm adotando práticas alimen-tares inadequadas, não se preocupam com as con-sequências disto. Fazem consumo excessivo de re-frigerantes, açúcar, diminuem da ingestão de frutase verduras, adotam dietas equivocadas e omissão derefeições, como o café da manhã18,26.

A obesidade não está relacionada apenas comdoenças somáticas. O excesso de peso também temimplicações psicoemocionais. A insatisfação corpo-ral focaliza claramente preocupações com o peso,forma do corpo e gordura corporal. Dependendoda intensidade, esta insatisfação pode afetar aspec-tos da vida do indivíduo no que diz respeito a suaalimentação, auto-estima e desempenhos psicosso-cial, físico e cognitivo11,27.

A presente pesquisa tem como objetivo avaliar aprevalência de sobrepeso, obesidade e fatores as-sociados, em adolescentes na faixa etária de 14 a18 anos, no município de Ivaí, Estado do Paraná.Busca-se descobrir se há diferenças entre estudan-tes da zona urbana e rural em relação à adiposi-dade. Também são apresentadas alternativas paraintervenção, no caso de sobrepeso ou obesidade.

2. Metodologia

Trata-se de um estudo transversal, com dadosprimários em condições de campo. O projeto foisubmetido aprovado pelo Comitê de Ética em Pes-quisa do IBRATE, sob número 094/2009.

A amostra foi composta por 150 adolescentes nafaixa etária de 14 a 18 anos, de ambos os sexos, deraça caucasianas e negra, saudáveis, não foi levadoem consideração as classes sociais ou grupo econô-mico. Os indivíduos pesquisados são estudantes deum colégio da rede estadual de ensino, situado nomunicípio de Ivaí, Estado do Paraná. A amostra foidividida em dois grupos, um grupo de adolescentesresidentes na zona urbana e outro grupo compostopor alunos residentes na zona rural do municípioem questão. A divisão foi feita de acordo com oendereço de cada participante. O procedimento foiexatamente o mesmo para os dois grupos, a divisãofoi feita somente para fins comparativos.

Os participantes foram avaliados em posição or-tostática, descalços e usando apenas o uniforme es-colar (calça e camiseta). Para a medida de pesodos participantes, foi utilizada balança eletrônica damarca Plenna, com capacidade de 150 Kg e precisãode 50 gramas.

Os participantes foram pesados permanecendoeretos no centro da balança, com os braços esten-didos ao lado do corpo, sem se movimentar. Ainda,os indivíduos da pesquisa foram submetidos a umaavaliação de impedanciometria, com utilização de

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uma balança de bioimpedância bipolar da marcada Plenna, onde foram coletados os percentuais demassa magra e massa gorda. Para a medida da es-tatura foram empregados fita métrica inextensível(fixada em paredes lisas e sem rodapés) e esqua-dro. Para a medição, os indivíduos foram colocadoseretos, com os pés e calcanhares paralelos, ombrose nádegas encostadas na parede. As medidas depeso e estatura foram realizadas três vezes segui-das, calculando-se a média dos valores para a ob-tenção do resultado final. Através dos dados altura(m) e peso (kg) foi calculado o Índice de Massa Cor-poral (IMC) do indivíduo. Foi considerado o adoles-cente com sobrepeso aquele que teve seu valor deIMC para os percentis 85 - 97 e obesidade acima dopercentil 97, de acordo com as normas técnicas daVigilância Alimentar e Nutricional (SISVAN). Os da-dos coletados na impedanciometria foram subme-tidos à classificação de uma tabela para determi-nação de sobrepeso e obesidade, proposta por Loh-man15.

Para finalizar, o participante respondeu a um bre-ve questionário sobre os seus hábitos alimentares ede atividade física, elaborados pelos autores da pre-sente pesquisa (Anexo 1).

O questionário foi composto por 14 questões. Oparticipante respondeu o questionário de forma ativae voluntária, no mesmo local da coleta do peso eestatura. Qualquers dúvidas que os participantestenham tido sobre o questionário foram elucidadaspelo pesquisador.

Os dados obtidos foram analisados por meio detécnicas estatísticas para a aceitação ou rejeiçãodas hipóteses. Os dados foram tratados e proces-sados com auxílio do software estatístico StatisticalPackage for Social Sciences (SPSS).

A primeira hipótese de trabalho é: "H1: Mais de20% da população pesquisada apresenta obesi-dade ou sobrepeso". Para testar H1, primeiramenteforam constituídos dois grupos, conforme sugeridopor Lohman15 (Tabela 1). Os grupos foram assimconstituídos:

Grupo 1 – dentro do peso ou magro: porcentagemde massa gorda do subgrupo Masculino: ≤20%;porcentagem de massa gorda do subgrupo Fe-minino: ≤25%;

Grupo 2 – com sobrepeso ou obeso: porcentagemde massa gorda do subgrupo Masculino: >20%;porcentagem de massa gorda do subgrupo Fe-minino: > 25%;

Para testar a hipótese e, por considerar a estima-tiva de proporção, o tamanho da amostra é cons-tituído de uma população infinita, calculada pela

Tabela 1: Massa gorda em crianças e adolescentes de 7 a 18anos. Fonte:15.

Massa Gorda Masculino Feminino% %

Excessivamente baixa ≤6 ≤12Baixa 6,01 – 10 12,01 – 15Adequada 10,01 – 20 15,01 – 25Moderadamente alta 20,01 – 25 25,01 – 30Alta 25,01 – 31 30,01 – 36Excessivamente alta >31 >36

equação 1:

n =Z2.p.q

ε2(1)

onde: Z = 1,96 (nível de confiança de 95%); p é aproporção amostral da população com sobrepeso ouobesidade (foi considerado p = 0,25 a partir de dadosda Organização Mundial da Saúde, que a proporçãoda população obesa seja de 23,4%); q = 1 − p = 0,75(proporção amostral da população que não pertenceao grupo de sobrepeso ou obesidade); ε = 0,07 (erroamostral (considerou-se que a verdadeira proporçãopoderá situar-se 6% acima ou abaixo da proporçãoobtida na amostra); n = 150 (tamanho da amostraaleatória simples).

A segunda hipótese de trabalho é: "H2: A obesi-dade ou sobrepeso dos adolescentes da zona ur-bana é diferente da zona rural". Para testar estahipótese, foi utilizado o teste t-Student para amos-tras independentes. A estatística de teste é dadapela equação 2:

T =(XA − XB) − (µA − µB)

S√

1nA

+ 1nB

(2)

onde: XA é média da amostra dos adolescentes dazona urbana; XB é média da amostra dos adoles-centes da zona rural; S é o desvio-padrão conjunto;nA e nB é o tamanho das duas amostras; µA é amédia da população da zona urbana; µB média dapopulação da zona rural, e µA − µB = 0

Para aceitação de H2 é necessário que XA sejadiferente de XB. Para XA < XB tem-se que os ado-lescentes da zona urbana têm menor incidência epropensão à sobrepeso e obesidade, e para XA > XB

tem-se que os adolescentes da zona rural têm menorincidência e propensão à sobrepeso e obesidade.

3. Resultados e Discussão

O presente estudo compôs-se de uma amostra de150 adolescentes, sendo 85 (57%) do sexo femininoe 65 (43%) do sexo feminino. Com base nos dados

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de 2009 do Instituto Brasileiro de Geografia e Esta-tística (IBGE)13, a população brasileira por gêneroé de 48% de homens e 52% de mulheres. O testede qui-quadrado classificou a amostra, segundo ogênero, aderente à população dada pelo IBGE (p >0,05).

Na Tabela 2 observa-se que 38,5% dos adoles-centes do sexo feminino estão obesos ou com sobre-peso, enquanto que no sexo masculino o índice é de12,3%. Incluindo o erro amostral, tem-se que entre31,8% e 45,8% do gênero feminino apresenta obesi-dade, enquanto no sexo masculino a faixa situa-seentre 5,3% e 19,3%. Desta forma, aceita-se H1 ape-nas para o gênero feminino.

Tabela 2: Estatística do percentual de massa gorda (MG) porgênero.

% Massa Gorda Feminino MasculinoFi % Fi %

Excessivamente baixo 0 0,0 7 10,8Baixo 1 1,2 22 33,8Adequado 51 60,0 28 43,1Moderadamente Alto 23 27,1 3 4,6Alto 7 8,2 3 4,6Excessivamente Alto 3 3,5 2 3,1TOTAL 85 100,0 65 100,0

Em uma pesquisa relacionada21, o sobrepeso ea obesidade apresentaram um percentual mais altonos meninos do que nas meninas (sobrepeso: 8,92%e 6,16%; obesidade: 3,90% e 3,27%, respectiva-mente) ao contrário da presente pesquisa.

Resultados confrontantes foram encontrados numestudo realizado em Londrina (PR), onde os acha-dos revelaram que a prevalência de sobrepeso foium pouco menor que de obesidade, contrariandoos resultados da presente pesquisa. Em relação aobesidade os resultados foram semelhantes a pre-sente pesquisa, as moças foram mais atingidas peloexcesso de gordura e de peso corporal que os ra-pazes, sobretudo no final da adolescência. Aindaneste período, por volta de 23% das moças e 17%dos rapazes analisados apresentaram quantidadesde gordura corporal que caracterizam o estado deobesidade12.

Em um terceiro trabalho usado para confronta-mento de dados, não foi observado diferenças de so-brepeso e obesidade em relação ao sexo18.

No confronto entre sexo e etnia, verificou-se quenão houve diferença significativa no sexo mascu-lino. Entretanto, como pode ser observado na Ta-bela 3, o teste de t-Student para amostras indepen-dentes mostrou que existe diferença (p = 0,05) nopercentual de massa gorda entre brancos e negrosno gênero feminino. Pode-se verificar que as negras

estão com mais tecido adiposo em comparação comas caucasianas.

Tabela 3: Massa gorda (MG): comparativo por etnia (feminino).Etnia N Média Desvio- Erro-padrão

padrão da médiaBranco 73 23,5342 4,84915 0,56755Negro 12 26,5083 5,87513 1,69601

Em outros estudos confrontados não foram apre-sentados resultados discordantes da presente pes-quisa, pois não houve diferença na ocorrência deobesidade em relação a cor da pele em ambos ossexos18,7.

A partir da Tabela 4, rejeita-se H2 concluindo-se que não existe diferença no IMC e percentual demassa gorda entre a população urbana e a rural.

Quanto perguntado sobre quantas refeições osrespondentes fazem diariamente, foi obtida uma mé-dia de 4,1 com desvio padrão de 0,9, cuja estatísticadescritiva encontra-se apresentada na Tabela 5.

Tabela 5: Número de refeições diárias.No Feminino Masculino Total

Fi F% Fi F% Fi F%2 1 1,2 0 0,0 1 0,73 22 26,2 16 24,6 38 25,54 36 42,9 32 49,2 68 45,65 15 17,9 14 21,5 29 19,56 10 11,9 3 4,6 13 8,7

Total 84 100,0 65 100,0 149 100,0

Foi observado em outro estudo que o númerode refeições diárias mostrou-se inversamente asso-ciado ao sobrepeso em ambos os sexos, ou seja,quanto maior o número de refeições, menor o sobre-peso. Este efeito foi maior nas meninas do que nosmeninos. Isto vem corroborar o encontrado na pre-sente pesquisa, onde verificou-se que quanto maioro número de refeições, menor o IMC do voluntário7.

Em outra pesquisa relacionada, as meninas omi-tiram mais refeições que os meninos, sugerindo quemesmo aquelas com pesos normais usam do re-curso da omissão de refeições para evitar o ganhode peso. Porém, tanto entre os meninos quanto en-tre as meninas, a omissão do desjejum foi positiva esignificativamente associada ao IMC9.

Esta pesquisa acompanha as conclusões obtidasna literatura, onde foi observada a correlação entrenúmero de refeições e índice de massa corporal (r =-0,170; p = 0,038).

Quanto ao consumo de produtos enlatados in-dustrializados, observou-se que não há diferença

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Tabela 4: Teste t-Student para média do Índice de Massa Corporal (IMC) e porcentagem de Massa Gorda (MG) entre as populaçõesUrbana e Rural.

t-Student para IMC t-Student para % MGGênero Local N Média Erro-padrão p-value Média Erro-padrão p-value

da média da média

FemininoUrbana 23 21,108 0,71392 0,689 23,487 1,07102 0,608Rural 62 21,435 0,41772 0,689 24,127 0,64565 0,608

MasculinoUrbana 28 21,704 1,09636 0,471 13,3464 1,62927 0,565Rural 37 20,847 0,42497 0,471 12,3459 0,86482 0,565

neste perfil alimentar em termos de gênero. Observou-se, também, que em torno de 32% dos respondentesafirmaram que consomem sempre ou quase sempreprodutos enlatados e/ou industrializados. Não foiencontrada relação significativa entre consumo deprodutos enlatados/ industrializados e percentualde massa gorda ou índice (IMC), conforme mostradona Tabela 6.

Tabela 6: Consumo de produtos enlatados ou industrializados.

Frequência Feminino Masculino TotalFi F% Fi F% Fi F%

Sempre 9 10,6 6 9,2 15 10,0Quase sempre 20 23,5 13 20,0 33 22,0

Às vezes 38 44,7 38 58,5 76 50,7Muito pouco 16 18,8 7 10,8 23 15,3

Nunca 2 2,4 1 1,5 3 2,0Total 85 100,0 65 100,0 150 100,0

Em estudos brasileiros, os resultados indicamque o consumo de alimentos industrializados irres-trito tem forte potencial deletério para a saúde. Eainda afirmam que a ingestão aumentada de calo-rias pode acarretar em obesidade, hipertensão, dis-lipidemia, resistência insulínica e diabetes tipo 2,que são importantes fatores de risco para doençacardiovascular10.

Carvalho et al4 relacionam a ingestão de enla-tados ao aumento de peso e consequentes danosà saúde de adolescentes como o aparecimento dosobrepeso e obesidade, além de de outras doenças.Este estudo ainda afirma que o padrão alimentar dobrasileiro tem sofrido muitas influências e transfor-mações e o estilo da vida moderna tem favorecido oconsumo de alimentos industrializados, da alimen-tação fora de casa e da substituição das refeiçõestradicionais pelos lanches. Estas mudanças levamao consumo excessivo de produtos gordurosos, comdiminuição no consumo de cereais integrais e au-mento no consumo de açúcares, doces e bebidasaçucaradas.

A Tabela 7 apresenta o consumo de água por gê-nero. Foi observado que existe diferença (p = 0,05)no perfil de consumo de água entre pessoas do sexo

masculino e feminino, sendo que o primeiro grupoconsume mais água. Não foi encontrada relação en-tre a quantidade de água consumida e o percentualde massa gorda ou IMC. No cruzamento dos dadosestatísticos da Tabela 7 com a Tabela 9, foi encon-trada correlação entre consumo de água e prática deesportes (r = 0,271; p = 0,003), concluindo-se quequanto maior a prática de esportes, maior o con-sumo de água, como já era esperado.

Tabela 7: Consumo de água.No copos Feminino Masculino Total

Fi F% Fi F% Fi F%> 10 10 11,9 4 6,2 14 9,47 – 9 35 41,7 17 26,2 52 34,95 – 6 24 28,6 25 38,5 49 32,92 – 4 10 11,9 18 27,7 28 18,8≤1 6 7,1 1 1,5 7 4,7

Total 84 100,0 65 100,0 149 100,0

Machado-Moreira et al16 confirmam estes dadosafirmando que quanto maior o nível de atividade fí-sica, maior será a necessidade do indivíduo se re-hidratar. O mesmo estudo ainda defende que a hi-dratação é um fator determinante para a prática deatividades físicas.

Com relação ao consumo de verduras e legumes,observou-se que menos de 20% dos pesquisadosinformaram consumir verduras e legumes uma oumais vezes por dia. Ainda, 36,7% afirmaram con-sumir 1 a 2 vezes por semana, enquanto 26,7% dis-seram que raramente consomem verduras e legu-mes. Não foi encontrada relação significativa entreconsumo de verduras e legumes e o percentual demassa gorda ou IMC (Tabela 8).

No que diz respeito a alimentação, há outras pes-quisas nacionais afirmando que alimentos impor-tantes e de consumo diário aparecem com baixafrequência semanal, como leite e derivados, horta-liças e vegetais folhosos, principalmente. As fru-tas são mais consumidas na forma de suco e houvepouca preferência pelo peixe. Tendo em vista a im-portância nutricional de vitaminas, minerais, fibras,ácidos graxos w-3 e substâncias antioxidantes pre-

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88 Simões & Raifur

Tabela 8: Consumo de verduras e legumes.

Frequência Feminino Masculino TotalFi F% Fi F% Fi F%

≥2/dia 7 8,2 7 10,8 14 9,31/dia 8 9,4 7 10,8 15 10,0

±3/semana 16 18,8 10 15,4 26 17,31 – 2/semana 27 31,8 28 43,1 55 36,7

Raramente 27 31,8 13 20,0 40 26,7Total 85 100,0 65 100,0 150 100,0

sentes em muitos destes alimentos, pode-se inferirque os adolescentes estudados podem vir a apre-sentar alterações nutricionais devido às deficiênciasalimentares nestes constituintes4.

Na presente pesquisa foi apresentada uma re-feição e foi solicitada a percepção quanto a prefe-rência. Na refeição foram considerados os seguin-tes itens: feijão preto, arroz, batata inglesa, bróco-lis, peito de frango, salada de alface e suco naturalde laranja. Para a questão, 87% dos respondentesdisseram ser uma refeição muito apetitosa ou ape-titosa. Partindo-se do pressuposto que a refeiçãobuscou um equilíbrio nutricional, observou-se quehá aceitação por refeições nutricionalmente saudá-veis.

Quanto a distribuição de macronutrientes na ali-mentação, observou-se que o consumo de nutrien-tes foi maior entre os meninos e meninas normaisem comparação com aqueles com sobrepeso. O con-sumo de energia (p = 0,04) e de carboidratos (p =0,02) mostraram valores significantemente maiorespara os meninos classificados como normais em re-lação aos com sobrepeso9.

Em outro estudo, verificou-se que 78% dos pes-quisados consomem frutas e verduras durante o al-moço. Porém, no jantar o consumo destes alimentoscaiu 58%. Observou-se também maior predileçãodas hortaliças em relação às frutas5.

Em uma pesquisa relacionada, o autor cita quea pressão das indústrias de alimentos e da mídialeva a distorções no consumo de alimentos, com au-mento excessivo da ingestão de alimentos comer-ciais desequilibrados (basicamente carboidratos egorduras), com consequências preocupantes quantoao consumo alimentar da população. Entre os jo-vens, a alimentação desajustada tende a gerar défi-cits em mecanismos atencionais e reflexos na apren-dizagem escolar, com eventual aquisição de maushábitos alimentares que podem resultar em obe-sidade e outras consequências para o desenvolvi-mento e a saúde física e mental2.

Na Tabela 9 observou-se que existe relação entrea prática de atividade física e o percentual de massagorda. Algumas relações encontradas não demons-

tram muita consistência, como foi o caso da massagorda estar positivamente correlacionada com o nú-mero de horas de atividades físicas (r = 0,177; p =0,030). Desta forma, à medida que aumenta quan-tidade de horas de atividade física, aumenta o per-centual de massa gorda. A mesma interpretaçãoserve para o caso da prática de esporte (r = 0,201;p = 0,014). Estas conclusões contrariam outros es-tudos que mostraram forte associação entre sobre-peso e obesidade e prática de atividade física, ondeos adolescentes mais ativos fisicamente se mostra-ram com porcentagem de gordura menor do que osadolescentes menos ativos. Este fato pode ser expli-cado ao se levantar a hipótese de que adolescentescom sobrepeso e obesidade estão se preocupandocom a estética e a saúde e aderindo a comporta-mentos preventivos.

Um outro estudo também mostrou forte associ-ação entre sobrepeso e obesidade e prática de ati-vidade física, onde os adolescentes mais ativos fisi-camente se mostraram com percentual de gorduramenor do que os adolescentes menos ativos. Essefato pode ser explicado ao se levantar a hipótese deque adolescentes com sobrepeso e obesidade estãose preocupando com a estética e a saúde e ade-rindo a comportamentos preventivos. Em pesqui-sas desenvolvidas em diferentes regiões brasileiras,constatou-se que a frequência de sobrepeso foi maiorconforme aumentou o número diário de horas deTV23,7. Isto também foi observado em pesquisas in-ternacionais, para a faixa etária de 8 a 16 anos foiencontrado maior adiposidade entre meninos e me-ninas que assistem televisão por mais que quatrohoras diárias, quando comparados àqueles que as-sistiam televisão por menos de duas horas18.

Em termos de percepção corporal, observa-se naTabela 10 que há predominância do gênero femi-nino para a variável "gordo". Entretanto, não foi ob-servada diferença estatisticamente significativa comrelação a este aspecto.

Em um estudo nacional relacionado à satisfaçãocorporal verificou-se maior prevalência de insatis-fação corporal no sexo feminino, resultados seme-lhantes aos da presente pesquisa. Para toda a po-pulação estudada a insatisfação foi de 63,9%. Hádiferentes graus de insatisfação com o corpo nosdois sexos, demonstrando maior prevalência de me-ninas que desejam o corpo menor ou mais magro27.

Numa outra pesquisa quanto às condutas dosjovens frente às insatisfações corporais, aproxima-damente 40% das jovens do sexo feminino e 25%dos jovens do sexo masculino norte-americanos ini-ciam dietas na adolescência. Ainda, jovens insa-tisfeitos mostram-se mais suscetíveis ao desenvol-vimento de patologias de ordem alimentar, como aanorexia nervosa, bulimia ou obesidade6. Estes da-dos coincidem com o presente estudo pois, em re-

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Análise da prevalência de sobrepeso em adolescentes 89

Tabela 9: Correlação de Pearson – porcentagem de Massa Gorda (MG) versus atividades físicas.

Massa gordaCorrelação de PearsonSig. (bicaudal)N

Horas de atividades físicasCorrelação de Pearson 0,177*Sig. (bicaudal) 0,030N 150

Horas de práticas de esporteCorrelação de Pearson 0,201* 0,400**Sig. (bicaudal) 0,014 0,000N 150 150

Tempo de permanência em frente a TVCorrelação de Pearson 0,250** 0,190* 0,140Sig. (bicaudal) 0,002 0,020 0,087

ou videogames N 150 150 150* Correlação é significativa ao nível de 0,01 (bicaudal)** Correlação é significativa ao nível de 0,01 (bicaudal)

Tabela 10: Percepção corporal.Com relação ao seu peso, Feminino Masculino Total

você se sente Fi F% Fi F% Fi F%Muito gordo(a) 3 3,5 2 3,1 5 3,3

Gordo(a) 28 32,9 10 15,4 38 25,3Normal (nem gordo, nem magro) 37 43,5 41 63,1 78 52,0

Magro(a) 16 18,8 11 16,9 27 18,0Muito magro(a) 1 1,2 1 1,5 2 1,3

Total 85 100,0 65 100,0 150 100,0

lação à percepção corporal, as meninas demonstra-ram se sentir mais gordas.

Na Tabela 11 pode ser observado que a percep-ção acerca do próprio peso coincide com o seu graude gordura, tanto mediante a utilização do IMC, comoo percentual de gordura. Desta forma pode-se dizerque os respondentes têm consciência se estão ma-gros ou gordos.

Resultado confrontante foi encontrado em ou-tro estudo, onde foi verificado uma distorção en-tre a realidade corporal e a satisfação que os ado-lescentes têm com seu corpo. Foi verificado que apercepção foi mais comprometida nas meninas doque nos meninos. Das 348 adolescentes em eu-trofia, 152 (43,6%) se identificaram com algum ex-cesso de peso. Das 42 que apresentaram sobrepeso,20 (47,6%) se acharam obesas. Para os meninos,verificou-se que, dos 443 eutróficos, 85 (19,2%) seacharam com sobrepeso. Dos 95 em sobrepeso, 25(26,3%) se consideraram eutróficos. Dos 35 comobesidade, 15 (42,8%) se identificaram com as fi-guras de sobrepeso e 1 (2,8%) em eutrofia. Isto de-monstra que, para ambos os sexos, a percepção cor-poral real de seu estado está distorcido. Além disto,há mais casos de superestimação da condição realnas meninas, e de subestimação nos meninos1.

Uma das questões do questionário abordava o in-

teresse em modificar o seu peso. Foi observado, peloteste t-Student que houve diferença significativa (p= 0,002) entre os grupos em função do gênero. Aspessoas do sexo masculino pretendem manter o seupeso como está, enquanto as do sexo feminino pre-tendem perder entre um e dois quilos (Tabela 12).

Tabela 12: Teste t-Student – alteração do peso.Sexo N Média Desvio- Erro-padrão

padrão da médiaMasculino 65 3,0154 1,39746 0,17333Feminino 85 3,7294 1,29457 0,14042

O fato dos adolescentes realizarem dieta para ema-grecer também apresentou associação significativacom o sobrepeso para a amostra total, para ambosos sexos, sendo que o gênero feminino (8,6%) fazmais dieta do que o masculino (3,0%), conforme umtrabalho realizado no sul do Brasil7. O mesmo foiobservado em outra pesquisa, onde 9% dos meninoscom sobrepeso fazem dieta, enquanto que, no casodas meninas, este número foi de 62,4%. Mesmoentre as meninas com peso normal, 24,3% fazemdieta para emagrecer, o que quase não ocorre en-tre os meninos com IMC normal. Ainda no mesmoestudo, outra variável também associada às varia-

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Tabela 11: Índice de Massa Corporal (IMC) / porcentagem de Massa Gorda versus percepção do próprio peso.

Índice de Massa CorporalCorrelação de PearsonSig. (bicaudal)N

Massa GordaCorrelação de Pearson 0,714**Sig. (bicaudal) 0,000N 150

Percepção do PesoCorrelação de Pearson -0,619* -0,529**Sig. (bicaudal) 0,000 0,000N 150 150

** Correlação é significativa ao nível de 0,01 (bicaudal)

ções do IMC foi a descendência de pais gordos. Osmaiores valores de IMC foram encontrados para asadolescentes com história de adiposidade de ambosos pais21,9.

Quanto à questão com relação à dieta (Tabela 13),como já era esperado, existe diferença significativa(p = 0,000) entre os gêneros, tendo mais frequênciano gênero feminino, conforme a Tabela 12. A par-tir das médias observou-se que a prática de dietaentre os adolescentes é pouco frequente. Também,como já era esperado, existe relação entre a porcen-tagem de massa gorda e dieta. No gênero masculinoa relação foi significativa (r = 0,686; p = 0,000), deforma que, por meio do coeficiente de determinação(r2), verificou-se que a dieta explica 47% do percen-tual de massa gorda. Da mesma forma houve rela-ção significativa no gênero feminino (r = 0,383; p =0,000), porém, com menor poder de determinação(r2 = 15%). Por associação, também foi encontradarelação significativa, nos dois gêneros, entre "dieta"eIMC. A prática de dieta é mais recorrente entre o gê-nero feminino.

Terres et al25 também identificaram que a dietateve uma forte associação com sobrepeso e obesi-dade, apresentando prevalência de 40,5% de sobre-peso e 16,2% de obesidade nos adolescentes que re-latavam estar fazendo dieta (p < 0,01). Adolescen-tes que relatavam omitir alguma refeição tambémapresentaram prevalência mais elevada de sobre-peso e obesidade (p < 0,01). Dados semelhantes fo-ram encontrados em outra pesquisa mostrando quefazer dieta para emagrecer foi um dos mais impor-tantes fatores explicativos para as variações do IMCnas meninas. Para os meninos, fazer dieta tambémfoi positivamente e significantemente relacionado aoIMC, apontando maior uso de dietas nos valoresmais altos de IMC, embora o percentual de meninosque tenha referido estar em dieta para emagrecer te-nha sido muito menor. Outra prática para a perdade peso entre os que apresentam obesidade é au-mentar a sua atividade física ou reduzir o consumode gorduras18,9.

Também foi observado, como apresentado na Ta-bela 13, que o IMC/%MG estão positivamente cor-relacionados com a intenção do respondente em al-terar seu peso. Levando-se em conta o coeficientede determinação (r2), observa-se que 35% da inten-ção de alteração do peso é explicada pelo seu IMC,enquanto que o percentual de massa gorda explica38%.

4. Considerações Finais

Os achados no presente estudo mostram que osníveis de prevalência de sobrepeso e obesidade naamostra de adolescentes pesquisados são semelhan-tes a estudos da mesma natureza, encontrados naliteratura. A prevalência da obesidade nos adoles-centes foi mais elevada entre as meninas. Ficou evi-denciado que as meninas estão com maior percen-tual de sobrepeso e obesidade e que praticam menosatividades físicas do que os meninos.

O número de atividades físicas semanais mostrou-se estar inversamente proporcional ao aumento depeso, e confirmou o que a literatura trás a respeitodisto. Outro dado importante da presente pesquisa,decorrente do questionário respondido, foi que aque-les adolescentes que apresentam sobrepeso ou obe-sidade responderam que seu pai também tem ex-cesso de peso, confirmando o que já é bem expostopela literatura, a influência da hereditariedade so-bre a obesidade.

Na relação entre o excesso de peso e a autoper-cepção da imagem corporal, os adolescentes pesqui-sados em geral apresentaram uma autopercepçãocondizente com seu peso corporal real. Os resul-tados mostraram que aqueles que estão abaixo ouacima do peso estão cientes e também apresenta-ram algum sentimento de insatisfação com a ima-gem corporal. Os mais insatisfeitos foram os indi-víduos que apresentaram percepção de sobrepeso eobesidade, principalmente as meninas que se sen-tem mais “gordas”x e pretendem perder entre um adois quilos. Porém, dieta é pouco frequente entre ospesquisados, mas aqueles que a realizam, a relação

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Análise da prevalência de sobrepeso em adolescentes 91

Tabela 13: Correlação de Pearson – Índice de Massa Corporal (IMC) / porcentagem de Massa Gorda versus alteração do peso.

Índice de Massa CorporalCorrelação de PearsonSig. (bicaudal)N

Massa GordaCorrelação de Pearson 0,714**Sig. (bicaudal) 0,000N 150

Percepção do PesoCorrelação de Pearson 0,593* 0,618**Sig. (bicaudal) 0,000 0,000N 150 150

** Correlação é significativa ao nível de 0,01 (bicaudal)

foi positiva com a diminuição do IMC ou percentualde gordura. Estes dados também confirmam outrosrelatos encontrados na literatura.

Neste estudo foi possível observar que atualmenteos adolescentes se preocupam com seu peso. No en-tanto, há forte apelo da mídia pelo consumo de ali-mentos pobres em nutrientes, como fast foods e re-frigerantes. Isto vem ocasionando uma alimentaçãonutricionalmente pobre. Outra imposição da mídiaé em relação ao corpo perfeito, exageradamente ma-gro. Isto reflete influencias principalmente sobre asmeninas, que quando comparadas aos meninos temuma superestimação do seu peso corporal e se pre-ocupam mais com dietas alimentares.

Observando-se os estudos relacionados a este temarealizados recentemente, percebe-se o número cadavez maior de adolescentes com excesso de peso cor-poral e a grande implicação negativa para a saúdepública. Assim, mesmo os resultados obtidos napresente pesquisa não se mostrarem alarmantes,faz-se necessário controlar estes números ou atémesmo melhorá-los. Sugere-se que isto poderia serfeito com campanhas direcionadas à orientação apopulação jovem, principalmente aqueles grupos quese mostram com os maiores níveis adiposidade. Ori-entações quanto ao seu peso corporal e medidaspreventivas, como bons hábitos alimentares, ativi-dade física e conscientização do problema, devemser uma prática recorrente, já que é comprovadoque este mal pode se estender para a vida adulta.Portanto, é extremamente importante iniciar, o quantoantes, o desenvolvimento de ações voltadas à pre-venção, controle e tratamento do excesso de pesocorporal nos adolescentes. A escola pode ser umbom começo para a realização desta intervenção.

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Notas Biográficas

Naudimar di Pietro Simões é graduada em Fisioterapia pelaUniversidade Tuiuti do Paraná (1985) e tem mestrado em Tec-nologia em Saúde pela PUC-PR (2007). Atualmente é professoratitular da Faculdade Evangélica do Paraná e diretora do InstitutoBrasileiro de Therapias e Ensino (IBRATE). Link para o currículoLattes: http://lattes.cnpq.br/7188117647149309.

Maria Simoni Raifur é graduada em Fisioterapia e tem especia-lização em Fisioterapia Dermato-Funcional pelo Instituto Brasi-leiro de Therapias e Ensino.

Histórico

Submetido em 27/05/2011Revisado em 28/06/2011Aceito em 30/06/2011Publicado on-line em 31/07/2011

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Anexo 1: Questionário de avaliação de sobrepeso e obesidade em adolescentes

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