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Interdisciplinary Scientific Journal. ISSN: 2358-8411
Nº 3, volume 5, article nº 01, July/September 2018 D.O.I: http://dx.doi.org/10.17115/2358-8411/v5n3a1
Accepted: 10/05/2018 Published: 28/09/2018
Interdisciplinary Scientific Journal v.5, n.3, p.1-14, Jul-Set, 2018
ANAEROBIC BIODIGESTER AS A TECHNOLOGY FOR THE USE OF
SWINE DRAWS: SUSTAINABLE ALTERNATIVE IN THE
MUNICIPALITY OF BARREIRA, CEARÁ.
BIODIGESTOR COMO UMA TECNOLOGIA DE APROVEITAMENTO
DOS DEJETOS DE SUÍNOS: ALTERNATIVA SUSTENTÁVEL NO
MUNICÍPIO DE BARREIRA, CEARÁ.
Maria Luciene da Silva1 Mestre em Sociobiodiversidade e Tecnologias Sustentáveis - UNILAB
Juan Carlos Alvarado Alcócer2 Doutor em Engenharia Elétrica - UNICAMP
Olienaide Ribeiro de Oliveira Pinto3
Doutora em Agronomia/Fitotecnia - UFC
Dayse Maria Benevides de Queiroz4 Graduanda em Engenharia de Energias - UNILAB
Abstract: The technology of the anaerobic biodigester is presented as a sustainable alternative of taking advantage of organic waste produced in rural properties, which are often wasted. Through the anaerobic anaerobic biodigester these residues can be transformed into biogas and biofertilizer by anaerobic digestion. The objective of this work was to analyze the use of anaerobic biodigester technology with a sustainable alternative of treatment of swine manure in a small rural property, located in the community of Uruá, municipality of Barreira, Ceará. In this community, an anaerobic biodigester was built using low cost materials, one part found in the property and the other part in the local commerce, thus reducing installation costs. For the operation of the anaerobic biodigester was used pig slurries that were previously discarded without treatment and caused unpleasant odors the neighboring properties. On the other hand, the products from the biodigestion of these wastes that were biogas and the biofertilizer contributed to reduce the production costs in the property. Biogas began to be produced from 40 days, while the biofertilizer was at 60 days. An artisanal filter was constructed to filter the sulfur from biogas, as it also influences the calorific value of biogas. The LPG (liquefied petroleum gas) cooking gas was replaced by biogas and the
1Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira. E-mail: [email protected]
2Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira. E-mail: [email protected]
3Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira. E-mail: [email protected]
4Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira. E-mail: [email protected]
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biofertilizer was used as an organic fertilizer in the various plantations. The installed anaerobic biodigester, besides treating the hogs' pigs from the property, minimized the environmental damages, and it became an alternative of extra income to this family.
Keywords: sustainability; biomass; biogas; biofertilizer.
Resumo: A tecnologia do biodigestor se apresenta como uma alternativa sustentável de aproveitamento de resíduos orgânico produzidos em propriedades rurais, que muitas vezes são desperdiçados. Através do biodigestor esses resíduos podem ser transformados em biogás e biofertilizante pela digestão anaeróbia. Objetivou-se com esse trabalho analisar o uso da tecnologia do biodigestor com uma alternativa sustentável de tratamento dos dejetos de suínos em uma pequena propriedade rural, localizada na comunidade Uruá, município de Barreira, Ceará. Nessa comunidade, construiu-se um biodigestor utilizando materiais de baixo custo, sendo, uma parte encontrada na propriedade e a outra parte no comércio local, reduzindo assim, os custos de instalação. Para o funcionamento do biodigestor foi usado os dejetos de suínos que antes eram descartados sem tratamento e ocasionavam odores desagradáveis as propriedades vizinhas. Por outro lado, os produtos oriundos da biodigestão desses dejetos que foram o biogás e o biofertilizante contribuíram para reduzir os custos de produção na propriedade. O biogás começou a ser produzido a partir de 40 dias, enquanto o biofertilizante foi aos 60 dias. Um filtro artesanal foi construído para a filtragem do enxofre do biogás, já que, o mesmo influencia no poder calorífico do biogás. O gás de cozinha GLP (Gás liquefeito de petróleo) foi substituído pelo biogás e o biofertilizante foi usado como adubo orgânico nas diversas plantações. O biodigestor instalado, além de tratar os dejetos de suínos da propriedade, minimizou os danos ambientais, e tornou-se uma alternativa de renda extra a essa família. Palavras-chave: sustentabilidade; biomassa; biogás; biofertilizante. INTRODUÇÃO
O biodigestor tem se apresentado como uma tecnologia alternativa, viável e
sustentável, especialmente por ser projetado de acordo com a quantidade de
resíduos orgânicos gerados em uma propriedade rural (Toller, 2016). As tecnologias
alternativas se caracterizam por serem razoavelmente simples, adaptáveis a
pequena ou média propriedade e de baixo custo de instalação, operação e
manutenção (Ventura, Garcia & Andrade, 2012).
O uso de biodigestor para o aproveitamento dos dejetos animais e resíduos
vegetais como fonte de biomassa para a produção de energia minimiza os
problemas ambientais causados pelo descarte incorreto, além de gera produtos que
favorecem o desenvolvimento econômico da propriedade rural (Aquino et al., 2014).
A utilização do biodigestor contribui para integração e sustentabilidade das
atividades agropecuárias, aproveitando o dejeto, o qual normalmente é dado pouco,
ou mesmo nenhum valor comercial, convertendo em duas grandes fontes de
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desenvolvimento: energia (biogás) e adubo (biofertilizante) (Baungratz et al., 2013;
Quadros et al., 2015).
O biogás é composto basicamente de metano (CH4), dióxido de carbono
(CO2) e sulfeto de hidrogênio (H2S). Outros componentes, tais como vapor d’água,
nitrogênio (N2) e traços orgânicos, estão presentes em pequenas quantidades. O
biofertilizante possui macronutrientes e micronutriente de suma importância para o
desenvolvimento das plantas (Nascimento, 2010).
O desenvolvimento do processo da biodegradação, a partir da instalação de
biodigestores em propriedades rurais, tem sido uma solução de destino dos dejetos
gerados a partir da atividade da suinocultura especialmente por carregam o
preconceito de ser uma produção que gera odores desagradáveis incomodam os
seres humanos e degrada o meio ambiente (Pereira et al., 2015).
O tratamento desses resíduos minimiza a proliferação de pragas e doenças,
a contaminação da água, do solo e do ar, além de proporcionar melhoria na
qualidade de vida das pessoas por não precisarem estar em contato direto com os
mesmos. A matéria orgânica que antes era descartada passa a ser utilizada para a
produção do biogás, que pode ser utilizado em substituição ao gás de cozinha e o
biofertilizante por ser um excelente adubo serve para as pastagens e plantações em
geral, além de, contribuir para a ciclagem de nutrientes no solo (Barbosa & Langer,
2011).
Dos vários tipos de biodigestores, os mais difundidos são os modelos
indianos e chineses. De uma forma geral, a instalação de qualquer tipo de
biodigestor depende da disponibilidade de espaço e da quantidade de biomassa,
assim como da finalidade prevista. Outra questão a ser considerada são as
condições de segurança, pois, o local deve ser isolado do trânsito de crianças e
animais, pois o metano contido no biogás é inflamável e a infraestrutura construída
poderá provocar acidentes (Iclei, 2010).
Diante disso, a aplicação da tecnologia do biodigestor em propriedades
rurais no município de Barreira, Maciço de Baturité, Ceará, torna-se uma alternativa
viável para os produtores dessa região, já que, o índice de desenvolvimento de sua
população da zona rural é de 28,95%, sendo que a maior parte é pobre, vivendo em
pequenas propriedades rurais com a criação de animais e da agricultura familiar
para subsistência (Ipece, 2015).
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A instalação do biodigestor nesse município e o acompanhamento
sistemático de seu funcionamento possibilita a utilização dos dejetos de suínos
existente na propriedade rural para a produção de biogás e biofertilizante,
demostrando ser uma alternativa viável através do viés econômico, ambiental e
social contribuindo com a melhoria da qualidade de vida de seus habitantes
beneficiados com essa tecnologia sustentável.
Portanto, a utilização de biodigestores, pode ser considerada pelos
produtores, como uma tecnologia alternativa e sustentável de tratamento e
destinação da biomassa residual gerada. A suinocultura tem significativa importância
para a economia, mas é necessário que a atividade produtiva seja desenvolvida de
forma tecnicamente correta e levando em consideração a necessidade de
tratamento dos dejetos, que são altamente poluentes, evitando maiores prejuízos
ambientais e econômicos.
Nesse contexto, objetivou-se analisar a tecnologia do biodigestor com uma
alternativa sustentável de tratamento dos dejetos de suínos em uma pequena
propriedade rural, localizada na Comunidade Uruá, Município de Barreira, Ceará.
1. Material e métodos
Este trabalho foi conduzido na comunidade Uruá, localizada no município de
Barreira, Maciço de Baturité, Ceará, situado nas coordenadas: 4º 17’ 13’’S e 38º 38’
35’’W. O município de Barreira possui clima tropical semiárido e possui divisas com
os municípios de Acarape, Redenção, Aracoiaba, Ocara, Chorozinho e Pacajus. Em
linha reta, fica distante 63 km da capital Fortaleza (Ipece, 2015), sendo o acesso à
cidade realizado pela rodovia BR 116/CE 354 ou pela rodovia CE 060/CE 354.
A instalação do biodigestor na comunidade de Uruá fundamentou-se na
necessidade de um dos agricultores da comunidade para destinar os dejetos de
suínos, já que os dejetos da criação desses animais ocasionavam odores fétidos, as
propriedades vizinhas.
A propriedade rural tem aproximadamente 1(um) hectare e possuem
pequenas plantações de hortaliças, fruteiras tropicais e pequenas criações de aves,
de suínos e de bovinos. Na baia dos suínos fez-se uma ligação direta para que
durante a limpeza os dejetos tivessem como destino o biodigestor. A baia de criação
dos suínos possui 9 m² e tem capacidade para 8 animais (Silva et al., 2015).
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A construção do biodigestor baseou-se no modelo indiano e os materiais
utilizados para a sua instalação foram de baixo custo, sendo que, uma parte
encontrou-se na propriedade e a outra parte no comércio local do município. A
instalação foi próximo à residência da propriedade, distante aproximadamente 12
metros, para facilitar o acompanhamento, manutenção e viabilizar a captação do
biogás para a cozinha. Na Figura 1, ilustram-se as etapas da construção do
biodigestor na propriedade rural.
O biodigestor é formado de uma estrutura principal (tanque de 2m de
profundidade e 3,50m de circunferência) e no fundo colocaram-se quatro batentes,
que serviu como suporte para a caixa de fibra de vidro (câmara do biodigestor). Esse
suporte evitou que o fundo do tanque se feche para as entradas e saídas dos
dejetos da câmara de biodigestão (Figura 1 - A, B, C, D e E).
Construíram-se duas caixas, sendo, uma caixa de carga com a finalidade de
entrada dos dejetos e a outra de descarga tendo como destino a saída do
biofertilizante (Figura 1 - L e M). Instalou-se ainda, canaletas em declive na parte
baixa da estrutura principal do biodigestor para as caixas de carga (2 m de
comprimento) e descarga (3 m de comprimento).
A B C
D E F
G H I
J L M
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Figura 1. Etapas da construção de um biodigestor na comunidade Uruá,
munícipio de Barreira, Ceará. Confecção das placas para a parede do
biodigestor (A), construção do piso (B), cano guia fixado no centro da estrutura
principal (C), batentes de sustentação da câmara (D), instalação do cano guia
(E), sustentação do cano guia (F), ponto central na caixa de fibra de vidro para
instalação do cano guia (G), caixa de fibra de vidro como câmara do biodigestor
(H), lastro de zinco instalado sobre a caixa de fibra (I), biodigestor instalado e
barrote de madeira que servi de trave de segurança (J), caixa de carga (L) e
caixa de descarga (M).
A caixa de carga foi construída de placas de cimento e armação de ferro a
uma altura de 0,50 m no nível do terreno. Possui formato cilíndrico e 0,80 m de
circunferência. Esse modelo de caixa facilitou a mistura dos dejetos com a água e a
homogeneização antes de coloca-los no biodigestor (Figura 1 - L).
A instalação da caixa de descarga ficou abaixo do nível do terreno e
construiu-se de tijolo, formato retangular com 1,0 m de comprimento, largura de 0,50
m e profundidade 0,60 m. No interior da caixa colocou-se brita para reter a parte
sólida do biofertilizante e a parte líquida armazenou-se em outra caixa (Figura 1 - M).
No centro da estrutura principal do biodigestor foi fixado um cano guia de 40
mm e 3,5 m de comprimento (Figura 1 – C, D, E, F, G, H e I). Para garantir a
sustentação, um cano de ferro foi preenchido até o topo com cimento, colocou-se um
parafuso de 6” x 3/8” no centro e a uma rosca do mesmo ficou para fora permitindo
a instalação de um barrote de 7 x 7 cm que serviu de trave de segurança ao
biodigestor (Figura 1 - E, F, G e H).
A caixa de fibra de vido (3000 Litros) foi colocada sobre a estrutura principal,
faz-se um furo no fundo para colocar um flange e instalar um cano guia de PVC
permitindo que a caixa (câmara de biodigestão) suba e desça livremente (Figura 1 –
E, F, G, H, I e J).
Na coleta, uso e armazenamento do biofertilizante, o agricultor, construiu
uma estrutura composta de um cano de 75 mm e 9 m de comprimento, uma caixa
plástica de fibra de vibra com 310 Litros de capacidade, uma bomba de 1 cv e canos
de 25 mm. O cano de 75 mm serviu para coletar o material da caixa de descarga e
depositar na caixa plástica. Os canos de 25 mm serviram para a fertirrigação e
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através de aspersores, a parte liquida do biofertilizante foi aplicada nas fruteiras,
hortaliças e nas plantas forrageiras existentes na propriedade.
A filtragem das impurezas e a eliminação dos odores fétidos do biogás foram
eliminadas através de um filtro constituído de forma artesanal usando um garrafão
de água mineral de 20 Litros, um registro e dois adaptadores com flange. Esse filtro
foi desenvolvido pelo agricultor da propriedade com base em modelos de filtros
utilizados em outras unidades de biodigestores na região do Maciço de Baturité.
O filtro funcionou da seguinte forma: o biogás que saia do biodigestor
passava pela uma tubulação com água dentro do garrafão de água, fazendo
borbulhas, as impurezas contidas no biogás ficaram retidas na água e os odores
fétidos foram eliminados. Trocava-se a água do garrafão a cada 45 dias.
No filtro os adaptadores com flange funcionaram da seguinte maneira: um
adaptador de maior extensão foi colocado na entrada no biodigestor e outro mais
curto serviu de saída do biogás até o fogão da residência na propriedade. O garrafão
foi colocado com a boca para baixo, vedado com um tampão de borracha, para que
a água permanece até o nível da parte rosqueada do adaptador de maior extensão.
Instalou-se também uma união logo após o registro de gaveta que permitiu a
conexão de uma tubulação flexível para a condução do biogás até o fogão da
cozinha da residência e o um segundo registro foi instalado para reter ou liberar o
excesso de biogás.
No biodigestor, diariamente, foram introduzido 20 kg de dejetos de suínos por
um período de 30 dias, totalizando 600 kg de dejetos fresco. A alimentação do
biodigestor foi cessada por um período de 08 dias para que os microrganismos da
biomassa realizasse o processo de degradação anaeróbia. Após esse período, o
biodigestor passou a ser alimentado diariamente com 20 kg de dejetos e água na
mesma proporção.
2. Resultados e discussão
A implantação do biodigestor na comunidade de Uruá apresentou-se como
uma alternativa sustentável dando destino aos dejetos de suínos, que muitas vezes,
são simplesmente desperdiçados.
Dentro do biodigestor ocorreu à degradação dos dejetos de suínos por
microrganismos anaeróbios e resultaram em dois produtos, o biogás e o
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biofertilizante. O biogás aproveitou-se como energia renovável e utilizou-se o
biofertilizante como adubo orgânico.
O biodigestor é um local destinado a receber a biomassa e seu produto. É uma
tecnologia antiga, constituída de uma câmara fechada que pode ser construída de alvenaria,
concreto ou outros materiais (Gonçalves et al., 2017). Esse aparelho, contudo, não produz o
biogás, uma vez que sua função é fornecer as condições propícias para que um grupo
especial de bactérias anaeróbias degrade o material orgânico (Barrera, 1993).
A produção de biogás iniciou-se a partir de 40 dias, liberando um gás com
odor fétido. Foi então, que se aplicou a filtragem, usando um filtro construído com
materiais de baixo custo desenvolvido na propriedade rural. Passados oito dias de
filtragem, o biogás começou a ser usado em substituição ao gás de cozinha GLP
(Gás liquefeito de petróleo) na residência da propriedade para a cocção dos
alimentos e na fabricação de doces das frutas existentes, proporcionando, uma fonte
de renda extra para essa família.
A filtragem feita no biogás foi importante, visto que, o odor fétido é
característico do enxofre e influencia no poder calorífico do biogás. O biogás possui
um alto poder calorífico condigno à grande quantidade de metano em sua
composição, mas sua utilização torna-se limitada pela presença do enxofre (Frare,
Gimenes & Pereira, 2009).
Salientar-se, portanto, incluir etapas de filtragens no biogás antes do processo
final de seu aproveitamento energético, sendo que os principais parâmetros que
precisam ser controlados são: umidade, H2S, CO2, compostos halogenados e
siloxanos. Mesmo em baixas concentrações, estes compostos têm efeitos deletérios
sobre o meio ambiente, a saúde humana e os equipamentos de conversão de
energia. O sulfeto de hidrogênio é o mais perigoso, tóxico e corrosivo entre eles, e a
sua remoção é uma necessidade para qualquer eventual utilização do biogás
(Lindberg & Wellinger, 2006).
A literatura expõe que o biogás oriundo de dejeto de animais é formado de
vários gases. Os principais componentes do biogás são: o metano (CH4): 40-70% do
volume, dióxido de carbono (CO2): 30-60% do volume e outros gases 1-5% do
volume (Matinc et al., 2013). Em relação o metano, a produção começa a ser
processada depois de 20 dias, vai aumentando até chegar ao máximo na terceira
semana. Em seguida, começa a decrescer lentamente durante o período de
fermentação da biomassa chegando próximo de 90 dias (Arruda et al., 2002).
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Em geral, qualquer material orgânico pode ser utilizado na digestão anaeróbia,
porém os mais comuns são: esterco fresco de bovino, esterco seco de suíno e esterco seco
de galinha, sendo este último o que apresenta o maior rendimento por m3 de biogás (Silva et
al., 2005).
O biogás produzido por diferentes tipos de estercos podem variar a sua quantidade e
isso implicará em tamanhos diferentes de biodigestores e, com isso, o custo de construção
variará muito em função desta decisão. O esterco fresco de bovino apresenta 0,04 m3 kg-1, o
esterco seco de galinha 0,43 m3 kg-1 e o esterco seco de suíno 0,35 m3 kg-1 (Nogueira,
1986).
O biogás, ao contrário do álcool da cana-de-açúcar e de óleos extraídos de outras
culturas, não compete com a produção de alimentos em busca de terras disponíveis. Afinal
ele pode ser inteiramente obtido de resíduos agrícolas, ou mesmo de excrementos de
animais e dos homens. Assim, ao contrário de ser um fator de poluição, transforma-se em
um auxiliar do saneamento ambiental (Bonturi & Dijk, 2017).
A produção do biofertilizante começou aos 60 dias. A parte sólida foi aplicada
diretamente nas plantas existentes na pequena propriedade rural. Como respostas,
as plantas aumentaram seus rendimentos com a produção de frutas, hortaliças e as
plantas forrageiras apresentaram as folhas mais vigorosas (verde mais intenso) após
15 dias de sua utilização. A parte liquida foi aplicado também nas plantas via
fertirrigação e ainda serviu como defensivo natural para controle de algumas pragas
e doenças.
O biofertilizante é um resíduo aquoso de natureza orgânica, que é usado na
fertilização do solo fornecendo os principais nutrientes para o crescimento das plantas,
podendo ser aplicado diretamente na forma liquida ou desidratada, dependendo das
condições locais de infraestrutura e necessidade da propriedade rural.
Teoricamente, a composição média do biofertilizante é de 1,5 a 4,0% de nitrogênio,
1,0 a 5,0% de fósforo e 0,5 a 3,0% de potássio, além de apresentar outros nutrientes como:
cálcio, magnésio, enxofre, boro, cobre ferro, manganês, molibdênio e zinco, o que lhe
garante inegáveis vantagens para utilização como complemento ou substituição dos adubos
nitrogenados químicos. Além de apresentar pH na faixa de 7 a 8, geralmente em torno de
7,5, levemente alcalino, proporcionando o crescimento de microrganismos benéficos para o
desenvolvimento das plantas (Marques et al., 2014).
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A tecnologia do biodigestor é considerada por alguns pesquisadores, como um poço
de petróleo, uma fábrica de fertilizantes e uma usina de saneamento, unidos em um mesmo
equipamento. Ele trabalha com qualquer tipo de material (animal ou vegetal) que se
decomponha biologicamente sob ação das bactérias anaeróbias. Os resíduos animais são o
melhor alimento para os biodigestores, pelo fato de já saírem dos intestinos dos mesmos
carregados de bactérias anaeróbias (Bonturi & Dijk, 2017).
Experiências como essa, demonstram que o Brasil, especialmente a região
semiárida, apresenta condições favoráveis para a instalação de biodigestores e
consequentemente para a produção de biogás e biofertilizante, faltando apenas
incentivos governamentais e organização da sociedade civil para disseminar a sua
utilização e exploração.
A evolução da instalação de um biodigestor, passando pela instalação de um
biodigestor de bancada, no laboratório da Universidade de Fortaleza (UNIFOR) e da
Universidade da Integração Nacional da Lusofonia Afro-brasileira (UNILAB) (Alcócer
et al., 2014), seguida de um segundo modelo implantado numa propriedade da
comunidade de Uruá, serviu de experiência para a implantação de um modelo mais
robusto e definitivo em condição de campo.
Na instalação de um biodigestor, é importante considerar os mais variados
tipos de biodigestores presentes no mercado, buscando adequar sempre para as
características de cada propriedade. Julgando a rentabilidade de instalações de
biodigestores, os objetivos de cada escolha tem importância decisiva (Oliver, 2008).
Os modelos mais difundidos são os chineses e indianos, sendo que cada um
possuem suas particularidades. Esses modelos de biodigestores são mais utilizados em
pequenas propriedades rurais, por serem de fácil instalação e utilizarem materiais baratos
na sua construção (Oliveira et al., 2016).
O modelo canadense por ser horizontal, é mais largo que os demais biodigestores,
apresentando uma maior área de exposição solar, por isso, demanda maior investimento na
sua instalação. O modelo em batelada adapta-se melhor quando a disponibilidade de
biomassa ocorre em períodos mais longos, como em granjas avícolas de corte, cuja
biomassa fica a disposição após a venda dos animais e limpeza do galpão (Deganutti et al.,
2002). Esse dois modelos de biodigestores são poucos recomendados para pequenas
propriedades rurais por conta das quantidades de matérias orgânicas disponíveis.
O biodigestor modelo indiano é um dos mais adaptados aos materiais disponíveis em
praticamente todas as lojas de material de construção das cidades do interior do país
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(Oliveira Júnior, 2017). Em termos de funcionamento, este modelo possui pressão de
operação constante, ou seja, à medida que o volume de gás produzido não é consumido de
imediato, o gasômetro tende a deslocar-se verticalmente, aumentando o seu volume,
portanto, mantendo a pressão do gás no interior constante (Deganutti et al., 2002).
A construção e instalação do biodigestor na pequena propriedade rural teve
investimento de R$ 2.903,50 sendo considerando razoavelmente baixo, quando se
comparando aos resultados advindos da tecnologia de outros modelos. Em relação
ao retorno financeiro, este foi observado em 240 dias, pois anteriormente, no mesmo
período se utilizava 32 botijões de gás para na fabricação das refeições da família
desse local. O botijão de gás registra-se com um valor de R$ 65,00 a unidade.
O biogás, contudo só torna-se combustível eficiente quando o teor de metano
for superior ao de CO2. Sua eficiência é economicamente viável. Como exemplo
prático, um veículo de 70HP roda 15 Km com 1m³ de biogás, e uma família de cinco
pessoas fazendo três refeições por dia consome apenas 1m³ de biogás (Bonturi &
Dijk, 2017).
O biofertilizante substituiu o composto orgânico e estercos que antes eram
adquiridos em granjas e comércios da região pela a propriedade rural. A tonelada do
composto orgânico em média custa R$ 150,00, sendo necessária a aquisição anual
de 02 toneladas. Outro custo inserido no processo é o transporte desse adubo até a
propriedade, chegando a ser cobrados fretes de até R$ 80,00.
A instalação do biodigestor na pequena propriedade resolveu o problema de
descarte dos dejetos de suínos, que antes eram descartados sob o solo sem
nenhum tratamento, sendo motivo de reclamações dos vizinhos pela exalação de um
odor desagradável. Diariamente o agricultor limpa a baia onde ficam os animais,
sendo os dejetos encaminhados diretamente para a caixa de carga do biodigestor
através de uma tubulação. O agricultor relata que atualmente, além de não causar
mais incômodos aos vizinhos, ainda tem a possibilidade de produzir o biogás e o
biofertilizante incrementando sua renda.
Outro fator considerado foi à utilização do biogás para o cozimento dos
alimentos ou para o abate de frangos, eliminando o uso da madeira que antes era
usada no fogão à lenha, além de não haver mais a necessidade de comprar o gás
GLP e o biofertilizante para fazer a adubação do solo.
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Todas essas vantagens do biodigestor foram possíveis com investimentos
financiados pelo Banco do Nordeste (tendo 12 meses para pagar) ao agricultor da
propriedade rural. A eliminação da utilização da lenha, do gás de cozinha e a
substituição dos produtos orgânicos (obtidos em granjas ou comércios da região)
pelo o biofertilizante, observou-se que o retorno financeiro com o uso do biodigestor
foi após 1(um) ano de investimento: Dessa forma, além de destinar adequadamente
os resíduos gerados na propriedade, diminuiu os custos de produção e contribuir
para a conservação do meio ambiente. O agricultor relata que ao quitar o
investimento, já se tem o retorno financeiro do investimento no equipamento.
3. Conclusão
O uso de tecnologias alternativas, adequadas à realidade local, e o
aproveitamento dos potenciais recursos existentes na propriedade, é um fator
preponderante para a convivência com o semiárido, sendo de suma importância
para gerar renda e melhorar a qualidade de vida dos agricultores e bem-estar social.
Neste sentido, a instalação e o acompanhamento do funcionamento de um
biodigestor permite afirmar, que a utilização de sua tecnologia traz benefícios para
as propriedades rurais. Especialmente por serem de simples construção, de custo
razoavelmente baixo e por serem dimensionados de acordo com as quantidades de
resíduos existentes na propriedade rural.
A instalação do biodigestor atingiu as finalidades propostos, pois, observou-se
que o investimento realizado na construção, operação e funcionamento do
biodigestor é bastante atrativo se comparando aos resultados obtidos com o
processo.
No que concerne à tecnologia, notou-se que apresenta diversas vantagens
como: reaproveitar a matéria orgânica que antes era descartada e sem agregar
valor; a produção do biogás é utilizada como combustível para abastecer o fogão; e
o biofertilizante é usado como adubo orgânico em diversas culturas, gerando,
portanto, benefícios socioeconômicos e uma alternativa para minimizar os problemas
ambientais.
A divulgação da tecnologia do biodigestor e as suas vantagens têm
despertado o interesse de produtores locais para realizar investimentos em
equipamentos como esses, inclusive a propriedade onde o biodigestor está instalado
tem sido palco de diversas visitas.
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REFERÊNCIAS
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