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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ
CENTRO DE HUMANIDADES
DEPARTAMENTO CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO
CURSO DE BIBLIOTECONOMIA
ANA KARLA SOUZA DA SILVA
A MÚSICA COMO FONTE DE INFORMAÇÃO:
DÉCADA DE 80 CONTADA PELA BANDA PARALAMAS DO SUCESSO
FORTALEZA-CE
2010
ANA KARLA SOUZA DA SILVA
A MÚSICA COMO FONTE DE INFORMAÇÃO:
DÉCADA DE 80 CONTADA PELA BANDA PARALAMAS DO SUCESSO
Monografia apresentada ao curso de
Biblioteconomia, da Universidade Federal do
Ceará, como pré-requisito para obtenção do título
de Bacharelado em Biblioteconomia.
Orientação: Prof.ª MSc. Gabriela Belmont de
Farias
FORTALEZA-CE
2010
S578m Silva, Ana Karla Souza da
A música como Fonte de Informação: Década de 80 contada pela banda
Paralamas do Sucesso [manuscrito] / por Ana Karla Souza da Silva. –
2010.
210 p.: il. ; 30 cm.
Cópia de computador (printout(s)).
Monografia (graduação) – Universidade Federal do Ceará, Centro de
Humanidades, Departamento de Ciências da Informação, Curso de
Biblioteconomia, Fortaleza (CE), 2010.
Orientação: Profª MSc Gabriela Belmont de Farias.
Inclui bibliografia.
1-MÚSICA E SOCIEDADE - BRASIL. 2-GRUPOS DE ROCK -
BRASIL. I – Farias, Gabriela Belmont de, orientador. II –
Universidade Federal do Ceará. Centro de Humanidades, Departamento de
Ciência da Informação, Curso de Biblioteconomia. III – Título.
CDD (22ª ed.) 781.660981
ANA KARLA SOUZA DA SILVA
A MÚSICA COMO FONTE DE INFORMAÇÃO:
DÉCADA DE 80 CONTADA PELA BANDA PARALAMAS DO SUCESSO
Monografia apresentada ao Curso de Biblioteconomia, da
Universidade Federal do Ceará como pré-requisito para
obtenção do título de Bacharelado em Biblioteconomia.
BANCA EXAMINADORA
___________________________________________
Prof.ª MSc. Gabriela Belmont de Farias - Orientadora
Universidade Federal do Ceará
(Orientadora)
____________________________________
Prof.ª Esp. Ivone Bastos Bomfim Andrade
Universidade Federal do Ceará
(1º Examinador)
____________________________________
Prof.º Heliomar Cavati Sobrinho
Universidade Federal do Ceará
(2º Examinador)
As minhas “Mães”, Fátima, Francisca (In
memoriam) e Anunciação por estarem sempre
comigo e com amor e carinho me levarem a ser o
que sou hoje.
AGRADECIMENTOS
Acredito que toda e qualquer forma de gratidão primeira deve ser voltada aquele
que nos criou e nos deu a vida, Deus! A ele o meu coração grato por me dá forças e me fazer
perseverar mesmo em meio a minha fraqueza e à minha lentidão.
A minha família, meu sustentáculo, minha base, meu tudo. Minha Mãe, Fátima,
meu Pai José Sidou e minha irmã Andressa. Ao meu marido, Hugo, pelo amor sempre
constante e fiel; aos meus filhos, Ana Letícia e Gabriel, o tesouro da minha vida, a minha
sogra-mãe Anunciação por sempre cuidar de mim com tanto zelo e carinho e a Cilene, muito
mais do que uma secretária, cuidava da casa enquanto eu estava estudando.
A minha amiga Bia, por ter me ajudado no levantamento e nas pesquisas para a
realização do mesmo, vi nesse ato dela um traço de uma amizade que vai fazer história, a
nossa amizade.
A minha amiga Bruninha, pela tradução do resumo e pela gargalhada que sempre
me incentivou.
A minha orientadora, Professora e Mestra Gabriela Belmont de Farias, pela
disponibilidade, estímulo, paciência e pelos puxões de orelha também, sem eles talvez não
tivesse conseguido chegar ao fim.
A todos os Professores que passaram pelo departamento de ciência da
informação, por desempenharem tão bem seus papéis.
Enfim, a todos que me ajudaram de alguma forma no desenvolvimento e
conclusão deste trabalho.
“Ó mundo tão desigual,
Tudo é tão desigual.
De um lado esse carnaval,
de outro a fome total!”
(Disco Selvagem, Paralamas do Sucesso)
RESUMO
O presente trabalho apresenta de que forma a Banda Paralamas do Sucesso utiliza a música,
como fonte de informação, para retratar os anos 80. Para tanto, fizemos um levantamento
bibliográfico com intuito de conceituar a tipologia das fontes de informação, dando uma visão
geral das fontes e suas atribuições. Logo após abordamos a música como fonte de informação,
e uma descrição sobre a Banda Paralamas do Sucesso, bem como a contextualização da
época. A metodologia do trabalho constitui-se de pesquisa bibliográfica e análise de conteúdo
como forma de analisar as músicas da Banda Paralamas do Sucesso na década de 80. Ao
analisar as músicas e ver o conteúdo que cada uma traz, conclui-se que a Banda Paralamas do
Sucesso utiliza suas músicas para retratar o contexto político, econômico e social dos anos 80,
constituindo-se assim em uma fonte de informação.
Palavras-chave: Fonte de informação. Música. Sociedade Brasileira. Paralamas do Sucesso.
Década de 80.
ABSTRACT
This project aims to show how the band „Paralamas do Sucesso‟ uses the music as an
information source to portray the 80's. To discuss this topic, we will present the concept and
the typology of information sources, giving an overview of sources and their assignments.
Right after we will discuss the music as a source of information, giving an explanation of the
band „Paralamas do Sucesso‟ and the contextualization of the epoch. The methodology of the
study consisted of literature‟s search and content‟s analysis as a way of studying the music of
the band „Paralamas do Sucesso‟ in the 80‟s. By analyzing the songs and view the contents of
each one brings, we will show that the band, indeed, uses his music to portray the 80‟s, thus
constituting a source of information.
Keywords: Source of information. Music. Society. Paralamas do Sucesso. 80‟s.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO..................................................................................................... 10
2 REFERENCIAL TEORICO................................................................................ 12
2.1 Fontes de informação......................................................................................... 12
2.2 Tipologia.............................................................................................................. 13
2.3 Música como fonte de informação.................................................................. 16
2.4 A banda Paralamas do Sucesso......................................................................... 17
3 CONTEXTO HISTÓRICO ANOS 80................................................................. 19
4 METODOLOGIA.................................................................................................. 24
4.1 Discografia – Paralamas do Sucesso – Década de 80...................................... 26
5 ANÁLISE DE DADOS.......................................................................................... 29
5.1 Análise das músicas............................................................................................ 30
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................ 43
REFERÊNCIAS....................................................................................................... 44
10
1 INTRODUÇÃO
A música dos anos 1980 como fonte de informação, revela a realidade em que se
viveu naquela época e todo o seu contexto social. O ano 1980 retratou uma época de
descobertas e modificações na juventude, seja na música, no modo de vestir, nos gestos, nas
informações, enfim, tudo aquilo que envolve a sociedade.
No contexto social da época se vivia um clima de expectativa e mudança,
oriundos da pós-ditadura. Isso influenciou diretamente na temática dos álbuns lançados,
captando de forma fiel a realidade de um País que sofria com a miséria e outros problemas
sociais.
Na metade do ano 1980, o rock brasileiro já tinha ocupado o seu devido lugar ao
sol. Várias bandas nacionais despontavam nas programações das rádios e desfilavam seus
“hits” nas paradas de sucesso. A sonoridade das músicas causou impacto por ser
extremamente peculiar, fugindo dos padrões da época. Tendo como característica marcante, a
fusão de vários ritmos e estilos em um só trabalho, algo que, apesar da globalização e da
moda “Word music”, foi ousado, gerando polêmica especialmente entre os críticos de música,
que discutia qual seria o futuro do Rock brasileiro.
Em meio a essa explosão estavam os Paralamas do Sucesso, que viviam o apogeu
de sua carreira, após a apresentação histórica no Rock in Rio I (evento que os consagrou
definitivamente, como um dos grupos mais importantes do país) e também do grande êxito de
seu segundo disco: O passo do Lui, que chegara a incrível marca de 200.000 cópias vendidas.
O trio buscava uma sonoridade diferente da qual estavam acostumados e que
predominava entre as bandas da época, além de buscar em suas letras uma temática nova,
pois, a temática juvenil tinha sido explorada em exaustão por vários artistas. Para eles a
mudança de rumo tornava-se imprescindível, não só pelo fato do grupo querer ir por outros
“caminhos sonoros”, mas todos buscavam fôlego para sobreviver no cenário musical que
estava sendo sufocado pela falta de criatividade de grupos nacionais e internacionais. E é daí
11
que nasce “Selvagem”, o disco que revolucionou o cenário musical da época, mostrando a
realidade brasileira.
O interesse por esse tema, a música como fonte de informação, surgiu da
curiosidade em estudar a sociedade brasileira, principalmente a época de minha infância
(década 80) e conseqüentemente tudo que a rodeava. Além de verificar o papel social das
bandas e cantores de pop rock que pautaram suas carreiras, denunciando, criticando a nossa
realidade.
A partir das considerações acima, surgiu o seguinte questionamento: De que
maneira as letras das músicas da Banda Paralamas do Sucesso retratam o cotidiano da
sociedade brasileira nos anos 80?
Tendo por base a problemática acima descrita, estabelece-se como objetivo geral
analisar as letras das músicas da Banda Paralamas do Sucesso da década de 80. Para alcançar
o objetivo geral temos os seguintes objetivos específicos:
a) Conhecer os conceitos sobre fontes de informação e suas tipologias;
b) Contextualizar a musica como fonte de informação na década de 80;
c) Identificar as músicas da banda Paralamas do Sucesso que retrataram a década
de 80;
d) Identificar que tipos de informação essas músicas transmitiam com suas
mensagens.
12
2 REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 Fontes de informação
Sainero (1994) afirma que fontes de informação são todos os materiais ou
produtos, originados ou elaborados, que trazem notícias ou testemunhos, através dos quais se
acessa o conhecimento, qualquer que seja este. Tudo que forneça uma notícia, uma
informação ou um dado. Neste conceito, continua a mesma autora, se encontram todos
aqueles elementos que, submetidos à interpretação, podem transmitir conhecimento, tais
como hieróglifo, uma cerâmica, um quadro, uma partitura musical, uma fotografia, um
discurso, uma tese doutoral e outros. Nesse contexto quase tudo é considerando como fonte de
informação dependendo da necessidade de informação que se apresente. E muitas dessas
fontes podem não ser tão fidedignas, dependendo do usuário que a queira e da situação.
No dicionário o conceito que melhor se aplica ao nosso objeto de estudo, fontes
de informação, é, origem, causa, princípio. È com esse significado que iremos pensar em
fontes de informação, como sendo meios, instrumentos de origem, onde os pesquisadores,
profissionais e os indivíduos buscam as informações de que precisam. Já o conceito de
informação, no dicionário, vem do latim, information, onis, (delinear, conceber idéia), ou seja,
dar forma, moldar na mente.
Fazendo uma reflexão sobre os dois conceitos, temos a origem, princípio, somado
a concepção, portanto, fontes de informação é o lugar onde se busca originalmente conceber
uma idéia sobre determinado assunto ou estudo.
A Biblioteca Virtual em Saúde – BVS conceitua fonte de informação como
qualquer recurso humano ou digital que responde a uma necessidade de informação ou que
promove disseminação de informação, então podemos concluir que, podem ser fontes de
informação, coleções de textos, serviços de referência, comunidades virtuais, etc.
Já para Cunha (2001), o conceito de fonte de informação ou documento é muito
amplo, pois pode abranger manuscritos e publicações impressas, além de objetos, como
amostras minerais, obras de arte ou peças museológicas. Há uma enorme variedade de tipos
13
de material informacional com funções diferenciadas e em diferentes suportes de
armazenagem (do meio impresso ao eletrônico).
Ao verificar os conceitos acima expostos, podemos descrever fontes de
informação como, todo e qualquer documento ou recurso informacional que dê acesso a
informações, que permite a realização de nossos estudos, pesquisa e outras atividades. Dessa
forma podemos concluir também que as fontes podem ser pessoais, documentos escritos ou
audiovisuais, opiniões, dados, entre outros.
Para melhor entender as fontes de informação como objetos de trabalho dos
bibliotecários, veremos a sua tipologia bem como seu uso.
2.2 Tipologia
Quando uma fonte se destina ao público de uma forma geral, ou a todo o
conhecimento, chamamos de fontes gerais. Nesse âmbito das fontes gerais podemos encontrar
as fontes de informação primárias, que são documentos originais ou que trazem uma nova
idéia do documento, bem como as fontes secundárias, que tem a função de nos remeter as
fontes primárias, com uma informação filtrada e resumida. Quando uma fonte se destina a
uma área restrita do conhecimento, chamamos de fontes específicas ou especializadas.
Conforme Campello (2000), na área de Biblioteconomia e Ciência da
Informação, as fontes são classificadas em primárias, secundárias e terciárias, como segue
abaixo:
Fontes primárias: São documentos originais ou documentos que tenham uma
nova interpretação. São monografias, artigos de periódicos, publicações
seriadas, relatórios técnicos, trabalhos apresentados em congressos, teses,
dissertações, patentes, literatura comercial, normas técnicas, etc.
Fontes secundárias: São documentos que têm a função de facilitar o uso do
conhecimento das fontes primárias; contém informação filtrada e resumida,
organizada de acordo com um arranjo estabelecido, dependendo qual a função
14
da obra. São enciclopédias, dicionários, manuais, tabelas, revisões de
literatura, bibliografias, tratados, etc.
Fontes terciárias: Guiam o usuário para as fontes primárias e secundárias.
São bibliografias de bibliografias, periódicos de indexação e resumo,
catálogos coletivos, guias de literatura, diretórios, etc.
Segundo Grogan (1992), as fontes primárias, por sua natureza, são dispersas e
desorganizadas do ponto de vista da produção, divulgação e controle. As fontes primárias
registram informações que estão sendo lançadas, no momento de sua publicação, no corpo de
conhecimento científico e tecnológico. Por essas razões, difíceis de serem identificadas e
localizadas. Dessa forma podemos perceber o porquê do surgimento das fontes secundárias,
que organizam todo o conhecimento desorganizado das fontes primárias. Vejamos alguns
exemplos de fontes primárias:
Periódicos Científicos (artigos de periódicos): O periódico nasceu da
necessidade de uma nova comunicação entre os cientistas, onde o alcance fosse mais amplo
que a comunicação oral. Os periódicos têm como função divulgar os resultados de uma
pesquisa. Entretanto a Royal Society, nos diz que são quatro as funções atuais do periódico
científico: Comunicação formal dos resultados da pesquisa original para a comunidade
científica e os interessados; preservação do conhecimento registrado; estabelecimento da
propriedade intelectual; manutenção do padrão da qualidade da ciência.
Relatórios Técnicos: Segundo Campello (2000), os relatórios técnicos são
documentos que descrevem os resultados ou o andamento de pesquisas para serem
submetidos à instituição financiadora ou àquela para a qual o trabalho foi feito. São
publicações características de entidades que desenvolvem pesquisa, e seus processos de
produção são os mais variados. Servem como meio de divulgação confidencial de pesquisas
tecnológicas e científicas nas áreas de defesa, aeronáutica e energia nuclear. É um tipo de
publicação não convencional, ou seja, literatura cinzenta.
Teses E Dissertações: Documento não convencional que apresenta uma pesquisa
original sobre determinado tema, que tem como objetivo a obtenção de graus acadêmicos,
mestrado e doutorado. É disponibilizado um número pequeno de cópias e pode ser
15
considerado como literatura cinzenta. Não contam como publicação para distribuição
comercial, porém, poucas são as teses que conseguem ser publicadas, devido ao grau de
especialidade do seu conteúdo, bem como as teses que abordam temas mais amplo e que
podem ser publicadas como livros e são bem mais divulgadas.
Normas Técnicas: Norma técnica é um documento que reflete a consolidação de
uma tecnologia; nela podem encontrar-se a definição dos parâmetros de um produto, sua
provável padronização e os métodos para sua certificação; também pode definir as
especificações de projetos, as características das matérias-primas, os procedimentos de
fabricação e os métodos de ensaio e inspeção. À medida que o tempo vai passando, a
tecnologia avança e novas normas devem ser criadas para cobrir esses novos campos, sempre
para assegurar a padronização.
Patente: Uma patente é uma concessão pública, conferida pelo Estado, que
garante ao seu titular a exclusividade de negociar comercialmente sua invenção. Os direitos
garantidos pela patente referem-se ao direito da prevenção de outros fabricarem, usarem,
venderem ou importar a dita invenção.
São dois os objetivos do sistema patentário, o primeiro trata de recompensar o
autor de uma novidade técnica, que tenha uma aplicação industrial e através da concessão
concedida pelo Estado tendo a exclusividade de explorar sua invenção por um prazo
determinado. O segundo objetivo é plena divulgação das inovações tecnológicas que a
invenção gerou, para possibilitar o uso em prol da humanidade e desenvolver as artes e a
indústria.
A patente é considerada, em tese, como a principal fonte primária de informação
tecnológica, por que possibilita o conhecimento das inovações para a indústria, rapidamente, á
partir da descrição do invento.
Para avaliar a qualidade dessas fontes são importantes alguns aspectos, como, a
atualidade, a cobertura das fontes de informação, os países e línguas que abrangem o grau de
seletividade dos itens, a tipologia do material usado, a inclusão de índices de autores e
assuntos, a competência do organizador, dos colaboradores e a seriedade da editora e outros.
16
2.3 Música como fonte de informação
Entretanto no ambiente acadêmico, ainda existe certa restrição quando se fala em
fontes de informação não tão usual como a música. Pois já se estabeleceu os parâmetros
necessários para que uma fonte seja considerada como parte do discurso científico. Assim as
fontes mais conhecidas e consideradas são as fontes bibliográficas, como livros, periódicos,
monografias, teses. Agora até disponibilizados em formato eletrônico.
A música expressa e traduz uma forma de pensamento, sentimentos e valores
coletivos de uma sociedade numa determinada época num determinado local. Desta forma
vemos que do ponto de vista histórico e cultural são de fundamental importância para a
compreensão da informação do que uma música deseja passar, bem como o inverso, ou seja, o
fato histórico e cultural pode também se beneficiar dessa produção musical. Nos anos 80 não
se tinha tantos recursos em relação às fontes como se tem hoje, as mídias eram outras e a
forma de pensamento também. E mesmo com poucos recursos muitas bandas conseguiram
usar a música e passar, através de seu conteúdo de protesto a informação que desejavam
transmitir.
Toda música, mesmo sendo uma arte diferenciada das demais, tem um lugar
histórico e cultural determinado, quando forem abordados sobre esses dois aspectos. A partir
do século XVII os compositores começam a compor sob um novo sistema, não mais baseado
em modos, mas em tons. Pode-se dizer que a partir do século XVIII o idioma modal
praticamente desaparece, sendo suplantado pelo idioma tonal, já estabelecido.
Podemos dizer que a partir do século 18 o idioma modal tornou-se obsoleto, sendo
substituído pelo idioma tonal, já amplamente utilizado. Do século 19 para o século 20, criou-
se uma nova linguagem de música, chamada vulgarmente de atonal e apesar das previsões
sobre o fim do sistema tonal, este permanece mais presente do que nunca, inserido na maioria
dos estilos atuais, como rock, MPB, pop, etc.
Desta forma, observamos que historicamente, é possível classificar em três os
idiomas musicais: O modal, o tonal e o atonal, cada um deles possui escalas e acordes
diferentes por conta do sistema harmônico, sendo essa a principal diferença entre eles.
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Periodizando a história da música, temos a música medieval, a música
renascentista, barroca, clássica, Romantismo e a música do século 20. Onde a música
medieval se baseia em modos; a renascentista já contrasta muito com a medieval, já que o tipo
de trabalho polifônico é mais expressivo; a música barroca é construída sobre nítidas bases
tonais e difere muito de suas antecessoras; O estilo clássico é essencialmente homofônico –
isto é, constituído por uma melodia principal, sustentada por um acompanhamento de acordes
e marcado pela busca de equilíbrio entre forma e expressão.
No Brasil há também uma grande efervescência musical, basicamente
representada por movimentos como o modernismo nacionalista, pelo grupo música viva, novo
nacionalismo, além de outros mais recentes. Deve-se salientar que a maioria da música
popular consumida hoje se enquadra no gênero canção, isto é, melodia cantada sobre
acompanhamento instrumental, aliada ao texto poético.
O número de publicações sobre música tem aumentado significantemente no
Brasil, assim como a qualidade do que é publicado. Além das editoras comerciais, organismos
como a Funarte têm oferecido ao público, além de partituras, valiosas coleções de livros sobre
diversos períodos da música brasileira.
2.4 A banda Paralamas do Sucesso
A Banda Paralamas do Sucesso também conhecida como Paralamas é uma banda
de rock brasileiro formada no Rio de Janeiro no fim dos anos 70, início dos anos 80. Seus
integrantes são: Herbert Vianna (Guitarra e vocal), Bi Ribeiro (Baixo) e João Barone
(Bateria). No início a banda misturava rock com reggae, depois passaram a usar instrumentos
de sopro e ritmos latinos. Juntamente com outras bandas como Titãs, RPM e Barão Vermelho
foram a banda de maior popularidade e prestígio no Brasil nos anos 80.
O início da banda se deu entre 1977 e 1983, onde ela era conhecida como “a
turma de Brasília”, mesmo tendo sido formada no Rio de Janeiro, os integrantes eram de
Brasília. Herbert e Bi se conheceram crianças ainda em Brasília por serem vizinhos. Herbert
foi estudar no colégio militar do Rio, onde reencontra Bi que tinha ido fazer o 3º ano. Os dois
resolveram formar uma banda, Herbert com sua guitarra Gibson e Bi no baixo. Aos dois
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depois se juntaria o baterista Vital. Separaram-se em 1979 para fazerem vestibular e em 1981
se reencontraram.
Em 1984, lançaram o álbum O passo do Lui, que teve enorme sequência de
sucessos ("Óculos", "Me Liga", "Meu Erro", "Romance Ideal", "Ska") e aclamação crítica,
levando o grupo a tocar no Rock in Rio, no qual o show dos Paralamas foi considerado um
dos melhores.
Depois de grande turnê, lançaram Selvagem? em 1986. O álbum contrapunha a
"manipulação" desde sua capa (com o irmão de Bi no meio do mato apenas com uma
camiseta em torno da cintura), e misturava novas influências, principalmente da MPB. Com
sucessos como "Alagados", "A Novidade" (a primeira com participação de Gilberto Gil, e a
segunda co-escrita com ele), "Melô do Marinheiro" e "Você" (de Tim Maia), Selvagem?
vendeu 700.000 cópias e credenciou os Paralamas a tocar no cultuado Festival de Montreux,
em 1987. O show no festival da cidade suíça viraria o primeiro disco ao vivo da banda, D.
Nele, a novidade, em meio ao show com os sucessos já conhecidos, era a inclusão de um "4º
paralama", o tecladista João Fera, que excursiona com a banda até hoje, como músico de
apoio.
O sucessor de Selvagem?, Bora-Bora (1988) acrescentou metais ao som da banda.
O álbum mesclava faixas de cunho político-social como "O Beco" com as introspectivas
"Quase Um Segundo" e "Uns Dias" (reflexo talvez do fim do relacionamento com a vocalista
da banda Kid Abelha, Paula Toller). Bora-Bora é tão aclamado pela crítica quanto O Passo
do Lui.
Big Bang (1989) seguia o mesmo estilo, tendo como hits a alegre "Perplexo" e a
lírica "Lanterna dos Afogados". Seguiu-se a coletânea Arquivo, com uma regravação de
"Vital" e a inédita "Caleidoscópio" (antes gravada por Dulce Quental, do grupo Sempre
Livre).
As músicas, os álbuns, são narrativas que expressam e traduzem formas de
pensamento, sentimentos e valores coletivos, ou seja, os costumes e as tradições de um
determinado grupo social em uma determinada época em um determinado local.
Considerando que as músicas da Banda Paralamas do Sucesso sendo de natureza narrativa é,
portanto uma importante fonte de informação.
19
3 CONTEXTO HISTÓRICO ANOS 80
O contexto histórico dos anos 80 contribuía para as manifestações rebeldes, pois a
luta na época era pela abertura política e pela redemocratização. A reforma partidária e a
anistia política, que permitiu a volta de alguns exilados ao país, como Leonel Brizola, Luís
Carlos prestes e tantos outros, propostas no governo de Figueiredo, eram insuficientes para o
anseio da juventude que queria liberdade de expressão e usou a música para tal fim, por isso o
som agressivo e as letras de protesto.
O sistema econômico neoliberal marca o início da década de 1980. Margareth
Thatcher e Ronald Reagan nos Estados Unidos dão início a uma onda conservadora global.
Que vai caracterizar os anos 80 em relação às revoluções sociais, políticas e sexuais das duas
décadas anteriores. No mundo inteiro, por um bom tempo, os conservadores e direitistas
assumem o poder.
A Europa vivia outro estágio social com maior grau de participação popular,
enquanto proclamávamos a República e abolíamos a escravidão. A França, de onde nos
vinham os modelos culturais, já tinha feito sua revolução no século anterior. A burguesia
francesa estava, portanto solidamente implantada no poder, poder esse que a nossa burguesia
tanto sonhava.
O mundo se depara com o fim da União Soviética, onde o marco é a queda do
muro de Berlim e na destruição de generais e ditaduras em diversos países. Também é uma
década conhecida como “perdida” principalmente para os países subdesenvolvidos em função
dos choques de petróleo e da recessão mundial, já que agora o mundo é globalizado e
neoliberal.
Já o Brasil perde nesse período, grandes nomes da música, literatura e artes
plásticas. O escritor Nelson Rodrigues; o músico e poeta Vinícius de Moraes; o artista
plástico Helio Oiticica e o compositor Cartola. No que se refere à cultura e lazer, no âmbito
estadual, concertos, circuitos de MPB, circuitos de exposições, atividades teatrais para o
público juvenil e adulto, entraram de forma vigorosa no campo de cultura e ação cultural na
década de 1980.
20
O movimento estudantil nesse período teve muita relevância no que diz respeito
ao ato político, com capacidade até de falar em nome de outros setores da sociedade, usando
bandeiras de transformação social e garantindo com isso seu lugar na mesma. A maior parte
dos acontecimentos que estão ligados a juventude nos anos 80, parece estar ligado à formação
de tribos (bandas, estilos e culturas), ligadas a vários estilos musicais.
No dia 1 de março de 1982, entrava no ar a mais poderosa aliada do circo voador,
a rádio fluminense, que através de seus fracos sinais, os felizes ouvintes tiveram o privilégio
de escutar fitas demo de grupos iniciantes como Paralamas do Sucesso, Legião Urbana, Plebe
Rude e Biquine Cavadão.
E assim a música assumiu um papel de expressão dos sentimentos de toda uma
geração. O músico assume seu papel político ao cantar ou compor, através de suas músicas
ele quer que o ouvinte reflita sobre seus valores (família, social, amor, político). Portanto a
crítica ao sistema e a ordem social e econômica são temas constantes das músicas oitentistas.
A música retratada nos anos 80 sintetizava os impasses vividos nesta década. No
final dos anos 70, início dos anos 80 há grandes manifestações da classe operária, o
movimento que andava desarticulado, agora ganhara um novo impulso.
A música como toda manifestação artística e cultural, representa a realidade em
que vive o compositor, portanto fazer música é também fazer história. Ao analisarmos as
músicas da Banda Paralamas do Sucesso, veremos retratado um panorama do Brasil, críticas
ao consumismo, classes sociais, a constituição e a violência.
No que se referem à literatura, os anos 80 foram considerados bem agitados. O
país estava se modernizando e perdendo o jeito de donzela antiga. Dinamizou-se a vida social
e a literatura virou moda. Nos salões elegantes declamava-se Bilac ao som de piano. Surgiu o
cinema, a iluminação elétrica.
A literatura começou então a alterar seu perfil. A defesa e exaltação do casamento
geraram críticas e denuncias de adultério. A literatura-lazer deu lugar a literatura-denúncia.
Assim, a literatura, aliando-se a essas lutas, veio trazer para seus leitores, problemas políticos
e sociais, a violência da pobreza e da miséria na ordem burguesa.
21
Ao lembrar-se dos anos 80 com relação à cultura, é fácil ligar à Madonna,
Michael Jackson, Paralamas do Sucesso, RPM, Cazuza, seriados e produtos que mudaram de
embalagem, mas pensar em questões de ideologia e cultura é mais árduo.
Diante da efervescência no campo político e ideológico, a cultura também estava
em ebulição. Releitura e criações convivem em um cenário de predominância, pelo menos no
cinema, da cultura norte-americana. Mas parece um vale tudo, numa mistura de erudito e
popular, sem fronteiras delimitadas.
A década de 1980 não foi apenas de rock o cenário nacional, mas também de
cinema de vanguarda, arte multimídia e algumas tendências comportamentais e existenciais.
Influência de uma cultura hippie que não acredita em nada, pois o mercado resolve tudo. E
por outro lado, uma cultura de maldição em uma tensão entre conformismo e rebeldia, mas
sem cunho político como na década de 60. Na verdade, aqui a oposição é ao mercado.
Nessa oposição, o pós-modernismo surge como uma posição pós - tudo, sem
vanguardas, onde a repetição não só é permitida como incentivada. Talvez isso explique a
onda de remakes no cinema, a moda de décadas passadas, revista e arte misturando todo tipo
de vanguarda passada.
Lipovetsky (2004) trata como hiper modernidade a fase conhecida como pós
modernidade e critica a valorização exacerbada dos valores criados pela modernidade, como
individualismo, consumismo e ética hedonista. Hiper modernidade é então, a cultura do
excesso, do hipermercado, do hiper consumismo, hiper corpo. Tudo é elevado à potência do
sempre mais.
Alguns indicadores apontam que a melhoria no IDH (Índice de desenvolvimento
humano) no país. O analfabetismo reduziu de 26% em 1980 para 18,8% no final da década.
Além disso, a diferença entre a taxa de analfabetos no campo e na cidade diminuiu – em 1989,
36,4% da população rural eram analfabeta contra 13,4% da que está nas cidades. Em 1981 a
taxa era de 41,8% contra 16%.
Outro indicador de melhoria no índice de desenvolvimento humano entre a
população brasileira, é que nos anos 80, a expectativa de vida aumentou de em cinco anos,
22
enquanto a mortalidade infantil reduziu de 75 para 47,5 óbitos em mil nascidos. O aumento na
expectativa de vida a partir do final da década de 70 também reflete a melhoria nas condições
de vida do brasileiro e na eficácia de políticas públicas.
Outro índice interessante é a taxa baixa de desemprego no país, apesar do PIB
estar reduzido em relação à década anterior. No período recessivo, entre 1981/83, a taxa
chegou a 4,9% e no restante da década oscilou 3,5% e 4%. No entanto, o trabalho informal
aumentou a partir de 1986.
Após o acirramento das desigualdades sociais e concentração de renda, entrega
das economias ao controle do capital internacional, os países latino americanos com governos
ditatoriais, tornam-se os maiores devedores mundiais. Nesse sentido, a influência da nova
política norte-americana não é central, mas contribui para os processos de redemocratização.
A década de 80 apresenta em geral, melhores níveis de escolaridade,
envelhecimento da população, distribuição mais equitativa entre homens e mulheres e uma
concentração ainda maior de atividades urbanas em detrimento do campo.
Politicamente falando, a década de 80 é marcada por profundas mudanças
políticas, como já foi dito, em especial, pela queda de vários regimes ditatoriais em países de
várias partes do mundo. No Brasil, a redemocratização se baseia na mobilização social, na
formação do partido dos trabalhadores e na adesão ao neoliberalismo acentuadamente com a
vitória de Collor, já nos anos 90.
Para melhor visualização de nossa viagem pelos fatos históricos dos anos 80,
apresentamos uma síntese sobre os principais acontecimentos desses anos e suas respectivas
áreas.
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Tabela 1 – Principais acontecimentos dos anos 80
PERÍODO ACONTECIMENTO
1980 Olimpíadas de Moscou (União soviética) – EUA boicotam os jogos por
motivos políticos.
Publicado padrão da ethernet (tecnologia para redes locais).
Fundação do PT (Partido dos trabalhadores em São Paulo).
Lançado o canal de notícias norte-americano CNN.
Sai do ar a Rede Tupi de Televisão.
Lançamento do filme Star Wars: O Império contra-ataca (Episódio V).
No Brasil, o cineasta Glauber Rocha lança o filme Idade da Terra.
O cineasta Stanley Kubrick lança o sucesso do terror “O Iluminado”.
O arquiteto brasileiro Oscar Niemeyer cria o Memorial JK.
1981 A nave espacial Colúmbia faz seu primeiro vôo.
Rondônia deixa de ser território e passa a ser um Estado da federação.
Entra no ar o SBT (Sistema Brasileiro de Televisão).
1982 Copa do Mundo – Espanha – Itália campeã.
Argentina invade as Ilhas Malvinas. Começa a guerra das Malvinas entre
Argentina e Grã-Bretanha.
Entra em funcionamento a usina hidrelétrica de Itaipu.
O cantor norte-americano Michael Jackson faz sucesso mundial com o
álbum Thriller.
Estréia nos cinemas o filme “E.T, o Extra Terrestre”.
Fundação do Museu Afro- brasileiro em Salvador (Bahia).
1983 Nelson Piquet torna-se bi-campeão mundial de fórmula um.
A empresa Apple lança o computador Macintosh.
1984 Jogos Olímpicos de Los Angeles.
Nasce o primeiro bebê de proveta no Brasil.
Movimento Diretas Já.
É exibido no Brasil, pelo SBT, o primeiro episódio da série Chaves.
1985 Identificado, por climatologistas, o buraco na camada de ozônio.
Tancredo Neves é eleito de forma indireta, porém morre antes de assumir.
Assume o vice - presidente José Sarney.
Fim da ditadura militar mo Brasil.
1986 Copa de Mundo - México – Argentina Campeã.
Aparição do cometa Halley.
Criação do Plano Cruzado.
Vai ao ar na Rede Globo, a 1ª edição do Criança Esperança.
1988 Olimpíadas de Seul (Coréia do sul).
Amapá e Roraima deixam de serem territórios e passam a ser Estados
brasileiros.
Criado o estado de Tocantins.
1989 Queda do muro de Berlim (Ato simbólico que marcou o fim da Guerra
Fria).
Década de 80 Música: Cantores e bandas internacionais que fizeram sucesso: Bom Jovi,
Def Leppard, Duran Duran, Pet Shop Boys, Prince, Madonna, Michael
Jackson, Guns N‟ Roses, U2, Iron Maiden.
Cantores e Bandas nacionais que fizeram sucesso: Ney Matogrosso, Blitz,
Paralamas do Sucesso, Titãs, Roberto Carlos, RPM, Cazuza, Engenheiros
do Havaí, Legião Urbana, Caetano Veloso, Chico Buarque.
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4 METODOLOGIA
Antes de descrevermos como serão e quais serão os procedimentos a serem
tomados na pesquisa, faremos uso da metodologia, definindo cada procedimento e as
ferramentas que serão usadas.
Em seu sentido mais geral, o método é a ordem que se deve impor aos diferentes
processos necessários para atingir um fim dado ou um resultado desejado. Nas
ciências, entende-se por métodos, o conjunto de processos que o espírito humano
deve empregar na investigação e demonstração da verdade! (CERVO, 1978)
Nossa pesquisa é bibliográfica, elaborada a partir de material já publicado,
constituído principalmente de livros, artigos de periódicos e materiais disponibilizados na
internet, ou seja, material que seja acessível ao público em geral. Nosso objeto de estudo será
a discografia da Banda Paralamas do sucesso durante toda a década de 80.
Analisaremos os conteúdos das mensagens que as músicas trazem e de que forma
essas mensagens são passadas.
A análise do conteúdo das mensagens dos enunciados do discurso e das informações
é bem mais antiga do que a reflexão científica. Recentemente, no século dezenove, o
Francês Bourbon, tentou captar as expressões das emoções e das tendências da
linguagem e usou o livro do Êxodo, analisando-o de forma rigorosa com uma
classificação temática e de respectiva quantificação. (FRANCO, 2005).
O ponto de partida da análise de conteúdo é a mensagem, seja ela verbal, gestual,
silenciosa, figurativa, documental ou diretamente provocada. Além disso, torna-se
indispensável considerar que a relação que vincula a emissão das mensagens então,
necessariamente vinculadas às condições contextuais de seus produtores.
Piaget pressupõe sobre as questões que se colocam no momento que estamos
tentando classificar, objetivar e organizar um discurso, sem dúvida, esta empreitada é
tipicamente intelectual.
A análise de conteúdo é um procedimento de pesquisa que se situa em um
delineamento mais amplo da teoria da comunicação e tem como ponto de partida, a
mensagem. Toda comunicação é composta por cinco elementos básicos: Uma fonte
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(emissão); processo decodificador que resulta em uma mensagem e se utiliza de um canal de
transmissão; um receptor e seu respectivo processo decodificador.
É com base no conteúdo manifesto e explícito que se inicia o processo de análise.
Isto não significa que não se pode realizar uma sólida análise acerca do conteúdo “oculto” das
mensagens e suas entrelinhas, usando códigos especiais e simbólicos. Para o efetivo caminhar
desse processo, a contextualização deve ser considerada como um dos principais requisitos no
sentido de garantira relevância dos resultados a serem divulgados e socializados.
O delineamento de pesquisa é um plano para coletar e analisar dados a fim de
responder à pergunta do investigador. Um bom plano garante que teoria, coleta, análise e
interpretação de dados estejam integrados. Por isso é muito importante a elaboração de um
plano de investigação que antecede a análise do conteúdo dos dados a serem obtidos.
Definido os objetivos da pesquisa, delineado o referencial teórico e conhecido o
tipo de material a ser analisado, o pesquisador começa a se defrontar com problemas técnicos.
Eis então, o primeiro desafio: definir as unidades de análise. As unidades de análise dividem-
se em: Unidades de registro e unidades de contexto.
As unidades de registro podem devem ser combinadas, compartilhadas e inter-
relacionadas, para garantir a possibilidade de realização de análises e interpretações mais
amplas e que levem em conta as variadas instâncias de sentido e significados implícitos nas
comunicações orais e simbólicas.
As unidades de contexto podem ser consideradas como o “pano de fundo” que
imprime significado às unidades de análise. É a parte mais ampla do conteúdo a ser analisado,
porém é indispensável para a necessária análise e interpretação dos textos a serem
decodificados.
Definidas as unidades de análise, chega o momento da definição das categorias. A
categorização é uma operação de classificação dos elementos constitutivos de um conjunto,
por diferenciação seguida de um reagrupamento baseado em analogias, a partir de critérios
definidos. O critério de categorização pode ser semântico, sintático ou léxico ou ainda
26
expressivo. A análise conceitual se sustenta ou não por suas categorias, por isso é tão
importante.
Para a elaboração de categorias, existem dois caminhos que podem ser seguidos.
Categorias criadas a priori, onde as categorias e seus respectivos indicadores são
predeterminados em função da busca a uma resposta específica do investigador. Quando as
categorias não são definidas a priori, emergem da “fala”, do discurso, do conteúdo das
respostas e implicam constante ida e volta do material de análise à teoria.
4.1 Discografia – Paralamas do Sucesso – Década de 80
Para uma melhor visualização do nosso objeto de estudo segue um roteiro da
discografia a ser analisada.
Fotografia 1 – Capa do disco Cinema Mudo, lançado em 1983. Com
as respectivas músicas: 1.Vital e Sua Moto; 2. Foi o Mordomo; 3.
Cinema Mudo; 4. Patrulha Noturna; 5. Shopstake (Instrumental; )6.
Vovó Ondina é Gente Fina; 7. O Que Eu Não Disse; 8. Química; 9.
Encruzilhada; 10. Volúpia.
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Fotografia 2 – Capa do disco O Passo do Lui, lançado em 1984. Com
as respectivas músicas: 1.Óculos; 2. Meu Erro; 3. Fui Eu; 4. Romance
Ideal; 5. Ska; 6. Mensagem de Amor; 7. Me Liga; 8. Assaltaram a
Gramática; 9. Menino e Menina; 10. O Passo do Lui.
Fotografia 3 – Capa do disco Selvagem?, lançado em 1986. com as
respectivas músicas: 1. Alagados; 2. Teerã; 3. A Novidade; 4. Melô do
Marinheiro; 5. Marujo Dub; 6. Selvagem; 7. A Dama e o Vagabundo;
8. There`s a Party; 9. O Homem; 10. Você; 11. Teerã Dub.
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Fotografia 4 – Capa do disco Bora Borá , lançado em 1988. Com as
respectivas músicas: 1. O Beco; 2. Bundalelê; 3. Bora Borá; 4.
Sanfona; 5. Um a Um; 6. Fingido; 7. Don`t Give Me That; 8. Uns
Dias; 9. Quase um Segundo; 10. Dois Elefantes; 11. Três; 12.
Impressão; 13. O Fundo do Coração; 14. The Can
Fotografia 5 – Capa do disco Big Bang , lançado em 1989. com as
respectivas músicas:1. Perplexo; 2. Dois Restos; 3. Pólvora; 4.
Nebulosa do Amor; 5. Vulcão Dub; 6. Se Você Me Quer; 7. Rabicho
do Cachorro Rabugento; 8. Esqueça O Que Te Disseram Sobre O
Amor; 9. Lanterna Dos Afogados; 10. Bang Bang; 11. Lá Em Algum
Lugar; 12. Jubiabá; 13. Cachorro Na Feira.
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5 ANÁLISE DE DADOS
A pesquisa trabalhou com a análise das letras das músicas da banda Paralamas do
Sucesso na década de 80. E dentre a discografia apresentada na metodologia, escolhemos as
músicas que tinham conteúdo relevante para nossa pesquisa. Cuja tabela segue abaixo,
especificando as categorias de assunto abordadas nas letras das respectivas músicas.
Tabela 2 – Categorias de assuntos, por ordem alfabética, conforme as músicas.
Categorias de Assunto Música
Censura
- O beco
- O homem
- Patrulha Noturna
- Perplexo
- Pólvora
- Selvagem
Desigualdade Social
- Alagados
- A novidade
- Dos restos
- Perplexo
- Selvagem
Economia - Encruzilhada
- Perplexo
Religião
- Alagados
- Big Bang
- O homem
- Pólvora
Repressão
- O beco
- Pólvora
- Selvagem
Política - Perplexo
Violência
- Big Bang
- Dos restos
- O beco
- Patrulha Noturna
- Pólvora
- Selvagem
- Teerã
5.1 Análise das músicas
A análise das músicas seguirá o critério de ordem alfabética conforme as
categorias de assunto acima relacionadas.
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O Beco
No beco escuro explode a violência – (categoria de assunto – violência e repressão)
Eu tava preparado
Descobri mil maneiras de dizer o seu nome
Com amor, ódio, urgência
Ou como se não fosse nada
No beco escuro explode a violência
Eu tava acordado
Ruínas de igrejas, seitas sem nome
Paixão, insônia, doença
Liberdade vigiada – (categoria de assunto – censura)
No beco escuro explode a violência
No meio da madrugada
Com amor, ódio, urgência
Ou como se não fosse nada
Mas nada perturba o meu sono pesado
Nada levanta aquele corpo jogado
Nada atrapalha aquele bar ali na esquina
Aquela fila de cinema
Nada mais me deixa chocado
Nada!
O contexto da música repassa o período pós-ditadura, onde a liberdade de
expressão que fora dada era vigiada e a violência explodia as escondidas. Também retrata o
descaso das pessoas, a frieza com que encaramos os problemas da sociedade atual: “Nada
mais me deixa chocado, nada!”. O que pode levar a essa conduta é a repressão imposta pela
violência e pela censura.
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O Homem
O homem traz em si a santidade e o pecado
Lutando no seu íntimo
Sem que nenhum dos dois prevaleça
O homem tolo se põe a lutar por um lado
Até perceber
Que golpeia e sente a dor
Ele é o alvo da própria violência
Só então vê
Que às vezes o covarde é o que não mata
Que às vezes é o infiel que não trai
Às vezes benfeitor é quem maltrata
Nenhuma doutrina mais me satisfaz - (Categoria de assunto – Religião)
Nenhuma mais
Nessa canção o dilema tão vivido por cada um de nós, a eterna luta do “bem
contra o mal”. E ainda a crítica a religião e suas doutrinas, bem como as falsas aparências,
onde nem sempre o que parece ser o certo o é de verdade.
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Patrulha Noturna
Desce daí garoto
Senão atiro em você – (Categria de assunto – Violência)
Porque cê não mostra que é homem
Porque cê não tenta correr
Qual é seu guarda
Que papo careta
Só tô tirando chinfra
Com a minha lambreta
Tá bem seu guarda,
Que papo careta
Só tô tirando chinfra
Com a minha lambreta
Tá bem seu guarda
eu me rendo
Eu reconheço que sou marginal
Eu colo nas provas da escola
Eu gosto de ver nu frontal
Qual é seu guarda
Que papo careta
Só tô tirando chinfra
Com a minha lambreta
Polícia é fogo, meu chapa
Combate o crime de verdade
Prende os garotos de moto
Para moralizar a cidade- (Categoria de assunto – Censura)
Qual é seu guarda
Que papo careta
Só tô tirando chinfra
Com a minha lambreta
A música apresenta nas entrelinhas resquícios da Ditadura Militar, onde a polícia
tentava repreender toda atitude, mesmo aquelas que não apresentavam risco nenhum à
sociedade, usando dessa forma do abuso de poder, para dar satisfação, “mostrar serviço”.
Desviando muitas vezes o foco de atos criminosos que realmente ofereciam perigo à
sociedade.
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Selvagem
A polícia apresenta suas armas – (Categoria de assunto – Violência)
Escudos transparentes, cassetetes
Capacetes reluzentes
E a determinação de manter tudo
Em seu lugar – (Categoria de assunto – Censura)
O governo apresenta suas armas
Discurso reticente, novidade inconsistente
E a liberdade cai por terra – (Categoria de assunto – Repressão)
Aos pés de um filme de Godard
A cidade apresenta suas armas
Meninos nos sinais, mendigos pelos cantos – (Categoria de assunto – Desigualdade Social)
E o espanto está nos olhos de quem vê
O grande monstro a se criar
Os negros apresentam suas armas
As costas marcadas, as mãos calejadas – (Categoria de assunto – Repressão)
E a esperteza que só tem quem tá
Cansado de apanhar
Selvagem, passa a nítida e clara consequência de uma sociedade injusta e
desigual, a violência. Onde cada “lado” apresenta suas armas e cada um dá o que tem. A
polícia, com seus poderes que não passam do campo simbólico; O governo, com um discurso
antigo e nada convincente; A cidade, com nossas crianças de rua nos sinais a pedir esmolas e
fazer trabalhos infantis e crimes; Os negros, que por sua vez, ainda na década, vivem o
preconceito.
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Alagados
Todo dia o sol da manhã
Vem e lhes desafia
Traz do sonho pro mundo
Quem já não o queria
Palafitas, trapiches, farrapos
Filhos da mesma agonia
E a cidade que tem braços abertos
Num cartão postal
Com os punhos fechados na vida real
Lhe nega oportunidades – (Categoria de assunto – Desigualdade Social)
Mostra a face dura do mal
Alagados, Trenchtown, Favela da Maré
A esperança não vem do mar
Nem das antenas de TV
A arte de viver da fé
Só não se sabe fé em quê – (Categoria de assunto – Religião)
A arte de viver da fé
Só não se sabe fé em quê
Todo dia o sol da manhã
Vem e lhes desafia
Traz do sonho pro mundo
Quem já não o queria
Palafitas, trapiches, farrapos
Filhos da mesma agonia
E a cidade que tem braços abertos
Num cartão postal
Com os punhos fechados na vida real
Lhe nega oportunidades – (Categoria de assunto – Desigualdade Social)
Mostra a face dura do mal
Alagados, Trenchtown, Favela da Maré
A esperança não vem do mar
Nem das antenas de TV
A arte de viver da fé
Só não se sabe fé em quê
A arte de viver da fé
Só não se sabe fé em quê
Alagados, Trenchtown, Favela da Maré
A esperança não vem do mar
Nem das antenas de TV
A arte de viver da fé
Só não se sabe fé em quê
A arte de viver da fé
Só não se sabe fé em quê
Alagados, Trenchtown, Favela da Maré
A esperança não vem do mar
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Nem das antenas de TV
A arte de viver da fé
Só não se sabe fé em quê
A arte de viver da fé
Só não se sabe fé em quê
Alagados, Trenchtown, Favela da Maré
A esperança não vem do mar
Nem das antenas de TV
A arte de viver da fé
Só não se sabe fé em quê
A arte de viver da fé
Mas a arte de viver da fé
Só não se sabe fé em quê
A arte de viver da fé
Só não se sabe fé em quê
A arte de viver da fé
Alagados, descreve quase que toda a realidade, o contexto da década de 80. Fala
da dificuldade de se viver em uma grande cidade como Rio de Janeiro, da desigualdade social,
da miséria e pobreza. Cita o Cristo Redentor usando-o como metáfora: “...e a cidade que tem
braços abertos num cartão postal, com os punhos fechados na vida real lhe nega
oportunidades, mostra a face dura do mal...” Mostra também a realidade das favelas e o
crescimento das mesmas e a total desesperança em que se encontram os cidadãos que a
habitam: “...a arte de viver da fé, só não se sabe fé em que...”
Alagados é o nome de uma favela de Salvador, Favela da Maré, do Rio de Janeiro, e
Trenchtown, da Ja maica, onde viveram músicos famosos de reggae, como Bob Marley,
Bunny Wailer e Peter Tosh, que formavam inicialmente a banda The Wailers. O próprio Bob
cita a terra natal na sua mais famosa música, No Woman no Cry (“I remember when we used
to sit / In the government yard in Trenchtown“). O objetivo é fazer uma comparação entre a
vida nessas três favelas, onde a miséria é miséria em qualquer canto do mundo.
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A Novidade
A novidade veio dar a praia
Na qualidade rara de sereia
Metade o busto de uma deusa maia
Metade um grande rabo de baleia
A novidade era o máximo
Um paradoxo estendido na areia
Alguns a desejar seus beijos de deusa
Outros a desejar seu rabo pra ceia
O mundo tão desigual
Tudo é tão desigual
O, o, o, o...
De um lado esse carnaval
De outro a fome total - (Categoria de assunto – Desigualdade Social)
O, o, o, o...
E a novidade que seria um sonho
O milagre risonho da sereia
Virava um pesadelo tão medonho
Ali naquela praia, ali na areia
A novidade era a guerra
Entre o feliz poeta e o esfomeado
Estraçalhando uma sereia bonita
Despedaçando o sonho pra cada lado
Ô Mundo tão desigual...
A Novidade era o máximo...
Ô Mundo tão desigual... – (Categoria de assunto – Desigualdade Social)
Mais uma vez a desigualdade social vivida na época vem à tona e a música deixa
claro isso, onde a “novidade” era a guerra entre o poeta que almejava a sereia e o esfomeado
que a via como o alimento para matar sua fome. É feita também uma comparação: “de um
lado esse carnaval, de outro a fome total...”, o que mostra o mundo desigual em que viviam e
que se vive até os dias atuais.
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Dos restos
Do lixo deixado
Dos restos que o mundo
Não tem como esconder
Nos cantos escuros
Nas fendas dos muros – (Categoria de assunto – Desigualdade Social)
Veja se você vê
Surgem novas criaturas
Novos pontos de interrogação
Nossa casa não é mais tão segura – (Categoria de assunto – Violência)
E as crianças querem alguma explicação
Mas é preciso coragem pra não desistir
E não achar que tudo que vivemos foi em vão
Pra essa nova moral oportunista
Eu me viro e digo não
Mais uma vez critica o surgimento de uma realidade, que deveria ter sido mais
democrática e realmente sem censura. Onde só aparece o beleza das grandes cidades e a
miséria e a fome da população fica nos “cantos escuros, nas fendas dos muros!”
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Perplexo
Tentei te entender
Você não soube explicar
Fiz questão de ir lá ver
Não consegui enxergar
Desempregado, despejado, sem ter onde cair morto – (Categoria de assunto – Desigualdade Social)
Endividado sem ter mais com que pagar
Nesse país, nesse país, nesse país
Que alguém te disse que era nosso – (Categoria de assunto – Política)
Ah, ah, ah, ah...
Mandaram avisar
Que agora tudo mudou
Eu quis acreditar
Outra mudança chegou
Fim da censura, do dinheiro, muda nome, corta zero – (Categoria de assunto – Economia)
Entra na fila de outra fila pra pagar
Quero entender, quero entender, quero entender
Tudo o que eu posso e o que não posso – (Categoria de assunto – Censura)
Não penso mais no futuro
É tudo imprevisível
Posso morrer de vergonha
Mas eu ainda estou vivo
Segunda-feira, Terça-feira, Quarta-feira
Quinta-feira, Sexta-feira, Sábado de aleluia
Eu vou lutar, eu vou lutar
Eu sou Maguila, não sou Tyson.
Em perplexo se vê uma música de protesto. A Nova República trouxe ao Brasil
um sentimento de que o Brasil se elevaria economicamente e socialmente, o que não se viu de
forma concreta, já que Tancredo nem se quer chegou a assumir o poder. Logo Sarney assumiu
e criou o plano cruzado que teve como principal conseqüência a privatização das estatais. Vê-
se também uma crítica as classes sociais, a desigualdade social e a problemas que essa
sociedade esconde como o desemprego.
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Encruzilhada
Tava deitado e o telefone tocou
Me levantei, liguei meu abajur
Quem me chamava era o meu amor
Que sussurava numa voz febril
Ficara presa no elevador
Havíamos saído com uma turma legal
Comemos feijoada, couve e pernil
Já na saída ela passava mal,
O elevador de serviço em manutenção
Ela subiu pelo social
No telefone o meu amor chorou
Nem me contou como o porteiro abriu
Agora veja que situação
Não sei se falo mal da safra do feijão – (Categoria de assunto – Economia)
Ou da imperfeição da indústria do Brasil – (Categoria de assunto – Economia)
“Não sei se falo mal da safra do feijão ou da imperfeição da indústria no Brasil”.
Neste verso a banda toca no assunto indústrial e de como o País se encontava na época com
uma crise na indústria onde o Brasil ficou muito mais vulnerável, com direitos a ataques
especulativos a sua moeda e relativamente atrasado, quando se fala em competitividade em
relação às economias mais avançadas ou mesmo aos países em estágio semelhante ao país.
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Big Bang
Se o sol pudesse ver
Tudo que iria acontecer
Talvez não nascesse aquele dia
Se as orações das mães
Tivessem sido ouvidas
Nada disso acontecia
Mas naquele dia até Deus se escondeu
Não quis ouvir pedidos de socorro
A voz da razão sumiu
Quando a polícia civil subiu o morro – (Categoria de assunto – Violência)
Fogo sobre os dois irmãos – (Categoria de assunto – Violência)
Nem mão nem contra-mão
É só sangue, terra e cocaína - (Categoria de assunto – Violência)
A ferida rasga a terra e mostra um coração
Que sangra e se contamina
Mas naquele dia até Deus se escondeu - (Categoria de assunto – Religião)
Não quis ouvir pedidos de socorro
A voz da razão sumiu
A música retrata a violência das grandes cidades bem como a desigualdade social.
A invasão de favelas feitas por policias que usam como artifício suas armas e a forma violenta
de punir. Dessa forma vemos que o inocente paga também pelo “pecador”. E por fim, a crítica
meio que velada a fé, “ Mas naquele dia até Deus se escondeu, não quis ouvir pedidos de
socorro...”
41
Pólvora
As teorias que explicam o universo
Os versos que vasculham o coração
Os garis, estivadores e arquitetos
A fé manipulada dos cristãos - (Categoria de assunto – Religião)
As alegrias, alergias, os afetos
Os fatos, frases, a simulação
O país ajoelhado, a morte, o sexo
A culpa e o olhar de acusação - (Categoria de assunto – Repressão e Censura)
O que é tudo isso diante da Pólvora?
(Dessa paixão que se renova)
Os dias, datas de aniversário
Os quartos de hotel, o avião
Os livros, discos, dicionários
A madrugada e o olhar sem direção
Os velhos, as crianças e os parques
Os templos, tumbas e memoriais
A nova velha forma do desastre
Bandeiras, panos, lenços, aventais
O que é tudo isso diante da pólvora?
(Dessa paixão que se renova)
Crítica - Religião – Guerras – Violência.
Pólvora, como o próprio conceito diz é uma mistura inflamável e explosiva, na
canção, a pólvora é sempre algo prestes a explodir, a religião e a manipulação; a repressão; a
censura e a violência.
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Teerã
Por quanto tempo ainda vamos ver
Fotografias pela manhã
Imagens de dor
Lições do passado
Recentes demais pra esquecer
E o futuro o que trará
Para as crianças em Teerã
Brincar de soldado por entre os escombros
Os corpos deitados não fingem mais - (Categoria de assunto – Violência)
E as marcas de sangue no chão são lembranças difíceis de
apagar - (Categoria de assunto – Violência)
Será que ainda existe razão pra viver
Em Teerã
Por quanto tempo ainda vamos ter
Nas noites frias e nas manhãs
Imagens de dor
Em rostos marcados
Pequenos demais pra se defender
E o futuro o que trará
Se essas crianças vão sempre estar
Pedindo trocado pros vidros fechados – (Categoria de assunto – Desigualdade Social)
Sentando no asfalto sem perceber
Que as marcas de sangue no chão são lembranças difíceis de
apagar
Será que ainda existe razão pra viver
Em Teerã
Durante a guerra Irã-Iraque entre 1980 e 1981, Teerã foi repetidamente atacada
por mísseis tipo scud, resultando em milhares de mortes e ferimentos entre a população civil.
43
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
No decorrer de todo o trabalho preocupo-se em analisar as letras das músicas da
Banda Paralamas do Sucesso, como importante fonte de informação sobre a realidade da
década de 1980.
Vimos que dentre os diversos tipos de fontes de informação, a música aqui
analisada, têm um papel importante como repassadora de informação seja ela política ou
ideológica e que apesar de não ser uma fonte comum, conhecida como tal, a música traz em si
todo um potencial para sê-lo.
Através da análise do conteúdo, percebemos que a informação estava embutida na
letra de cada música analisada e que as categorias de assuntos nos revelaram nas entrelinhas
até mesmo o que as músicas não passavam claramente.
As narrativas da Banda Paralamas do Sucesso como fontes de informação, trazem
inúmeras informações sobre a cultura, os costumes, a política, economia de uma sociedade,
aqui da década de 80. Elas podem, através das informações, mobilizarem os sentidos, quer
seja reforçando ou reordenando as significações instituídas, quer seja esclarecendo sentidos
antigos ou criando novos sentidos, ideologias e posições dos sujeitos dentro de suas relações
em sociedade.
Concluímos que toda uma história, seu contexto, sua política e ideologia foram
passadas pelas canções, percebemos claramente isso, quando fizemos nossa viagem pelo
contexto histórico da década de 80 e comparamos na análise do conteúdo das músicas.
44
REFERÊNCIAS
CAMPELLO, Bernadete Santos. Fontes de Informação especializada: Características e
utilização. 2 ed. Belo Horizonte: UFMG, 1993.
CAMPELLO, Bernadete Santos. Formas e expressões do conhecimento: Introdução às
Fontes de Informação. Belo Horizonte: Escola de Biblioteconomia da UFMG, 1998.
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