o museu como pólo de atracçao turística
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Alexandra Rodrigues Gonalves, Francisco Ramos & Carlos Costa O museu como plo de atraco turstica
N t e m t i c o - T u r i s m o e P a t r i m o n i o
O museu como plo de atraco turstica1
Alexandra Rodrigues Gonalves
Escola Superior de Gesto, Hotelaria e Turismo - Universidade do Algarve
Resumo
As funes tradicionais do patrimnio cultural esto a ser reinventadas e hoje os visitantes esperam experimentar o patrimnio. Por sua vez, os museus, no raramente promovem actividades tursticas que esto na base de economias locais e regionais. Na actualidade, os turistas representam uma parte importante das visitas aos museus, assumindo nalguns casos uma percentagem expressiva do seu pblico. No entanto, a relao entre os museus e o turismo possui pontos de conflito.
A discusso sobre os museus, o turismo e o seu territrio parte de uma clarificao do conceito de museu actual e da emergncia de novos paradigmas na sociedade, aos quais o museu do futuro no poder ficar indiferente. Consciente dos desafios desta relao procura-se demonstrar com este trabalho que existem benefcios claros resultantes de uma aproximao entre estes campos.
A partilha de conhecimento entre estes dois poderes o turismo e os museus ser fundamental para o dilogo entre estas reas.
Alguns autores argumentam que existe em curso um processo global de homogeneizao em face da estandardizao de ofertas entre diferentes destinos tursticos, pelo que, se estabelece como essencial o estmulo diversidade cultural, que as abordagens mais prximas do territrio e dos seus recursos tendem a evidenciar.
O trabalho emprico desenvolve-se em torno dos 4 museus do Algarve que integram a Rede Portuguesa de Museus.
Palavras-chave
Gesto do patrimnio cultural, Turismo e territrio, Museus e experincia turstica.
Abstract
Museums and patrimony are being reinvented and visitors expect to experiment the cultural heritage. Frequently, museums promote tourist activities that are central to local and regional economies development. Nowadays tourists are an important share of the total museum visitors, becoming in some cases a major percentage of its public. Nonetheless, the relationship between museums and tourists has some points of conflict. The discussion between museums, tourism and the territory departs from
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the meaning of the present museum definition and of the emergence of new society paradigms to which the future museum cant stay indifferent. Aware of the challenges of this relationship this research tries to show that are mutual benefits arising from a closer relation between both domains.
The share of knowledge between these two powers the tourism and the museums will be fundamental to the dialogue of these areas.
Some authors defend that there is an ongoing process of cultural homogenisation due to the standardization of the offers between different tourist destinations. That is why it is essential to stimulate the cultural diversity that those strategies near to the territory and to its resources tend to better evidence.
The empirical work is centred in the 4 museums of the Algarve that integrate the National Museum Network.
Key-words
Heritage management, Tourism and territory, Museums and the tourist experience
Introduo2
A cultura assume-se cada vez mais como uma forma de lazer, como uma opo de
ocupao de tempos livres, disposio de uma sociedade mais instruda e com mais
rendimento disponvel. Assiste-se a uma conscincia mais generalizada da importncia
da cultura como factor de desenvolvimento das sociedades. Por outro lado, a viso de
que a arte e a cultura se constituem como um domnio do bem-estar pblico tambm
est ultrapassada.
Regra geral, os profissionais do turismo no possuem um conhecimento aprofundado
de gesto do patrimnio cultural e por sua vez, os responsveis pelo patrimnio cultural
encontram em vrios documentos internacionais (Cartas, Declaraes, Convenes)
algum suporte gesto sustentada destes locais, com benefcios para a cultura e o
turismo. O turismo assume um papel associado transformao, ao desenvolvimento,
ao marketing e orientao do produto, enquanto que a gesto do patrimnio cultural
a proprietria dos bens, assumindo a responsabilidade de os gerir e de evitar os impactes
negativos resultantes da sua visitao.
Nos ltimos 20 anos, tem-se assistido a um aumento exponencial de projectos
culturais, pela proliferao de festivais e encontros artsticos, mas tambm ao incio
da construo de espaos qualificados para a aco cultural: bibliotecas, cine teatros,
auditrios, anfiteatros, centros culturais, museus.
A organizao institucional da cultura e do patrimnio difere de pas para pas e
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Alexandra Rodrigues Gonalves, Francisco Ramos & Carlos Costa O museu como plo de atraco turstica
tende a reflectir as diferentes tradies administrativas, bem como as realidades sociais
e polticas.
A cultura tem ganho uma dimenso estratgica e os museus, no raramente
promovem actividades tursticas que esto na base de economias locais e regionais.
A discusso sobre os museus, o turismo e o territrio parte de uma clarificao do
conceito de museu actual e da emergncia de novos paradigmas na sociedade, aos quais
o museu do futuro no pode ficar indiferente, sobretudo, como forma de potenciar a sua
atraco junto do pblico turista, mas tambm se se pretende afirmar como equipamento
de lazer. Consciente dos desafios desta relao procura-se demonstrar com este trabalho
que resultam benefcios claros resultantes de uma aproximao entre estes campos.
A partilha de conhecimento entre o turismo e os museus ser fundamental para
o dilogo entre estas duas reas e o seu sucesso depender da discusso conjunta de
formas de trabalho em equipa.
Neste artigo, um dos assuntos discutidos a funo do museu. Outros aspectos
incluem: o museu como produto turstico; a relao entre museus, territrio e experincia
turstica; os museus, o turismo e a comunidade local; a gesto e o marketing dos museus;
e as estratgias com vista ao desenvolvimento dos museus como atraces tursticas.
Alguns autores argumentam que existe em curso um processo global de homogeneizao
em face da estandardizao de ofertas entre diferentes destinos tursticos, pelo que, se
estabelece como essencial o estmulo diversidade cultural, que as abordagens mais
prximas do territrio e dos seus recursos tendem a evidenciar.
O reconhecimento da importncia da sustentabilidade cultural j foi apreendido pelo
turismo cultural e os agentes do turismo esto hoje conscientes que o futuro da indstria
turstica depende da proteco dos recursos ambientais, patrimoniais e culturais de cada
regio.
A importncia de planear o turismo com base nos recursos culturais e naturais
do territrio, as necessidades de cooperao entre os agentes dos vrios domnios,
a emergncia de novos consumos tursticos e a inovao na gesto dos espaos
museolgicos, so alguns dos tpicos mais relevantes a abordar. No final, desenvolve-se a
anlise emprica aplicada ao territrio do Algarve, cujos resultados se espera contribuam
para um alargamento da discusso ao nvel nacional.
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1. O problema de investigao e a metodologia
Este trabalho centra-se numa avaliao do museu enquanto equipamento ao
dispor do turista e representao da cultura e da identidade de um territrio, ou de
uma comunidade. A discusso da temtica Museus, Turismo e Territrio emerge
como problemtica de interesse relacionada com a investigao de Doutoramento
em desenvolvimento com o tema: A cultura material, a musealizao e o turismo: a
valorizao da experincia turstica nos museus nacionais., mas tambm de outros
trabalhos de investigao desenvolvidos no mbito da temtica do turismo cultural.
1.1 Objectivos e tcnicas de investigao
No decurso da reviso de literatura efectuada, determinou-se como problema
de investigao: Como podem os museus tornar-se atraces tursticas principais?.
Outras questes emergiram da recolha de informao secundria e de outras leituras
complementares, que contriburam para a definio dos seguintes objectivos principais:
Caracterizar a actual relao entre os museus e o turismo.
Determinar o actual modelo de gesto do museu.
Analisar o potencial de utilizao dos museus como recursos tursticos.
Apresentar e discutir propostas de desenvolvimento dos museus como plos de atraco
turstica a partir de uma base territorial (Algarve).
A recolha de informao secundria tambm se determinou essencial para a
caracterizao do panorama museolgico actual em Portugal (estatsticas oficiais
de visitantes, estudos de pblicos) e para a definio do estado da arte em relao
aos estudos aplicados ao turismo cultural e, em particular, aos museus e turismo
(documentao de organismos internacionais, estudos e investigao publicada a nvel
internacional, documentao dos organismos nacionais, tais como da Rede Portuguesa
de Museus e do Instituto dos Museus e da Conservao, estudos e trabalhos desenvolvidos
no territrio nacional).
Por sua vez, a informao primria que se apresenta resulta da combinao de vrias
tcnicas de recolha e anlise de dados:
1. Entrevista exploratria semi-estruturada para avaliar como perspectiva o/a responsvel pelo museu o relacionamento entre o museu e o turismo; tendo utilizado a anlise de contedo como tcnica para o tratamento da informao obtida;
2. Questionrio tcnico desenvolvimento de uma ficha do museu que acrescenta ficha do museu da Rede Portuguesa de Museus, elementos identificados pela autora como essenciais para o turismo e o turista (enquanto pblico do museu).
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3. Observao participante no sentido de avaliar algumas das questes referidas nas entrevistas e verificar constrangimentos e potencialidades resultantes do caso de cada museu em particular.
4. Anlise textual a partir da recolha de casos de estudo, internacionais e nacionais.
Acrescer que a anlise de contedo um dos mtodos de anlise utilizados em
metodologias qualitativas e pressupe, no caso das entrevistas, a transformao dos
registos orais em textos que se codificam, criando categorias a partir da leitura, que tm
por base a relevncia da taxonomia na sua relao com o enquadramento emprico de
onde emergem, o que envolve reflexo e o questionar das categorias e cdigos a partir do
contexto real (Jennings, 2005).
Optou-se por uma utilizao de metodologias diversas porque possibilita uma
maior riqueza da informao recolhida e, em simultneo, uma confirmao (ou no)
da investigao qualitativa baseada na entrevista semi-estruturada. Esta abordagem
insere-se nas novas tendncias do paradigma do relativismo que defende que as tcnicas
de investigao e de anlise de dados devem ser seleccionadas e combinadas em face
dos objectivos da investigao. A entrevista semi-estruturada possibilita a manuteno
de um tipo de conversao com um grau de profundidade relativa e menor grau de
subjectividade que numa entrevista no estruturada (Jennings, 2005).
No conjunto desenvolveram-se quatro entrevistas (Albufeira, Faro, Portimo e
Tavira) junto dos responsveis dos museus do Algarve (integrados na Rede Portuguesa
de Museus), entre Agosto e Outubro de 2007, tendo determinado sete pontos de reflexo,
em torno das quais se desenvolveu a entrevista. Na anlise emprica do panorama
museolgico regional e da sua relao com o turismo sero tambm utilizados alguns
dos resultados do inqurito por questionrio administrado junto de 60 residentes de Faro
entre Outubro e Novembro de 20063.
O trabalho resulta de uma abordagem regional fragmentada (pois integra apenas
os quatro museus do Algarve, da Rede Portuguesa de Museus) mas considera-se que as
mesmas questes de investigao so facilmente transpostas para uma qualquer realidade
geogrfica (quer outra regio, quer mbito nacional) porque os seus fundamentos tericos
tm uma base internacional. Certamente outras tendncias podero ser identificadas se
a investigao assumir um mbito mais alargado, enriquecendo os contributos para a
definio de novos modelos de gesto e de planeamento dos museus.
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2. Enquadramento conceptual museus, turismo e territrio
Conforme referido e sistematizado na Figura 1, a temtica apresenta dois tipos de
inter relaes chave que se props analisar, que constituem: por um lado, a relao dos
museus com o territrio e a comunidade que nele vive; e por outro lado, a relao entre
museus e turismo. Identificam-se igualmente alguns pontos de contacto e de conflito,
procurando apontar aces e estratgias de cooperao que esto a emergir nos domnios
dos museus e do turismo.
A actividade turstica utiliza a singularidade e as especificidades dos locais como
foras principais de atraco dos destinos. O turismo por sua vez, tem-se relacionado
com o patrimnio cultural concebendo uma grande variedade de produtos culturais,
contudo, esta relao nem sempre tem sido equilibrada. Entre os benefcios mais
destacados emergem os recursos econmicos e financeiros que o turismo pode gerar
para a conservao e preservao do patrimnio cultural (McKercher e du Cross, 2002;
Russo e Van der Borg, 2002).
A sociedade actual enfrenta novos desafios que tm determinado o crescimento de
uma viso sustentvel, assente na valorizao e preservao de recursos endgenos, que
por sua vez, tem contribudo para que o patrimnio cultural assuma maior importncia
enquanto factor de desenvolvimento local e regional (Gonalves, 2003; Herbert, 1995;
Hernndez e Tresseras, 2001; Nuryanti, 1996).
Turismo
Territrio Museu
Comunidade
Turismo
Territrio
Turismo
Territrio Museu
Comunidade
Figura n.1 Base conceptual Fonte: autora, 2007
Contudo, a utilizao do patrimnio cultural pelo turismo revela-se ainda um assunto
com alguma sensibilidade (Herbert, 1995). O patrimnio cultural pode ser concebido
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Alexandra Rodrigues Gonalves, Francisco Ramos & Carlos Costa O museu como plo de atraco turstica
como um recurso principal para a comunidade, o que exige uma utilizao equilibrada.
Neste contexto, os museus so parte de uma unidade global e parceiros privilegiados,
no dilogo entre passado e futuro, todavia, na actual sociedade do lazer, disputam o
nosso tempo livre com um cada vez maior nmero de atraces.
Existe uma extensa literatura disponvel associada s questes do patrimnio
cultural e do turismo que se procuram sistematizar nos vrios quadros includos neste
ponto. Destacam-se as diferenas de estrutura, objectivos, agentes envolvidos, utilizao
dos bens e organismos que os representam (vide McKercher e du Cros, 2002 e 2006).
Algumas interaces positivas tambm j foram apontadas:
A cultura e o turismo comeam a definir objectivos econmicos em conjunto, como
resultado dos benefcios mtuos j identificados.
O processo de transformao dos recursos culturais em produtos tursticos pode
constituir-se como um incentivo para revitalizar a identidade cultural da comunidade.
O patrimnio cultural contribui para um ambiente favorvel para a incubao e
desenvolvimento de projectos tursticos, que podem criar condies para a inovao e
diversificao dos produtos tursticos e dos destinos, respondendo a novas necessidades
do mercado turstico (Jansen-Verbeke e Lierois, 1999).
O turismo com base no patrimnio cultural mais do que a observao da
arquitectura, da histria ou da natureza. verdade que relativamente fcil promover
o patrimnio cultural atravs de apresentaes descontextualizadas e sem significado
(ou com adulterao desse significado) (Phelps, 1994) e caber sobretudo a cada local
a responsabilidade de apresentar e interpretar o seu patrimnio, para o seu pblico,
atravs dos seus artefactos.
Ashworth relembra algumas especificidades que interessa considerar relativa
natureza dos recursos culturais:
1. A enorme heterogeneidade de produtos e servios culturais que se oferecem aos turistas.
2. A natureza do conceito de cultura confere-lhe alguma ubiquidade, pois todos os locais tm uma histria e um passado. difcil definir estratgias assentes em recursos culturais e patrimoniais naqueles locais que no renam condies de verdadeira distino.
3. Os produtos e servios culturais possuem uma grande variedade de utilizadores para alm dos turistas e servem uma grande variedade de funes para alm do turismo.
4. O turismo utiliza com frequncia recursos culturais que no foram produzidos para o mercado turstico, e que so de propriedade e gesto de pessoas que so indiferentes, ou at hostis ao mercado turstico (Ashworth, 1995).
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expectvel que a integrao com sucesso do desenvolvimento turstico numa
comunidade, d melhores resultados do que a imposio do turismo como modelo de
desenvolvimento de forma no relacionada.
Os residentes so parte do produto turstico e o facto de se apelar participao
da comunidade local no projecto de desenvolvimento turstico contribui para uma
reduo dos impactes negativos (Timothy e Boyd, 2003). O envolvimento dos residentes
no planeamento d s comunidades a oportunidade de participar na forma como o seu
patrimnio cultural protegido e mostrado aos turistas. O que por sua vez, pode contribuir
para o aumento do orgulho e sentimento de pertena (McArthur e Hall, 1993).
As comunidades receptoras tm reagido de forma diferente ao desenvolvimento do
turismo, variando as suas respostas em funo do nvel de desenvolvimento do turismo,
mas tambm conforme os interesses dos grupos (Costa e Ferrone, 1995). As comunidades
raramente possuem uma viso uniforme do turismo, e as reaces podem ir do suporte
entusistico ao seu desenvolvimento, como total oposio. Quanto maior envolvimento
da comunidade for promovido no processo de planeamento e desenvolvimento do
turismo, maiores garantias de aceitao, sucesso e sustentabilidade ter o projecto
do seu desenvolvimento (Butler, 1999). De facto, o relacionamento que se estabelece
entre as comunidades receptoras e o turista em regra superficial e breve, assentando
maioritariamente em objectivos comerciais (Holloway, 1998).
A investigao identificou outros efeitos positivos do turismo, tais como: as
trocas culturais, a revitalizao de tradies locais, o aumento da qualidade de vida, a
melhoria da imagem da comunidade, o aumento do sentimento de lugar. Como factores
determinantes das percepes e das atitudes dos residentes em relao ao turismo, os
autores apontam os factores econmicos e sociais, o tempo de residncia na rea e a
dependncia econmica do turismo (Besculides et al., 2002).
A concluso comum aos estudos em geral, consiste na necessidade de envolver
as comunidades locais no processo de planeamento e desenvolvimento do turismo,
pois apenas pela participao activa da comunidade local se poder conseguir que o
patrimnio cultural produza benefcios econmicos e sociais reais (Besculides et al.,
2002; Hampton, 2005).
No entanto, os debates associados relao do turismo na gesto e planeamento
do patrimnio cultural transcendem largamente a questo da participao activa das
comunidades. No Quadro 1 procura-se sistematizar alguns desses tpicos de debate mais
correntes sobre a gesto do patrimnio cultural e turismo.
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Alexandra Rodrigues Gonalves, Francisco Ramos & Carlos Costa O museu como plo de atraco turstica
Quadro n.1- Debates correntes na gesto do patrimnio cultural e turismo
Debates correntes na gesto do patrimnio cultural
Descrio
Musificao-banalizao das cidades
Patrimnio como mero cenrio preparado para consumo tursticoModelos estereotipados de renovao urbana- operaes de clonagem + monofuncionalizao de alguns sectores urbanos
Contaminao arquitectnica
Construo das infra-estruturas tursticas - integrao entre as infra-estruturas tursticas e a envolvente (em particular das caractersticas do meio natural)Urbanizao sem respeito pelas reas naturais ou histricas
Competio pelo espao /desertificao do centro histrico/tercearizao e gentrificao
Expulso dos antigos moradores + aumento acentuado dos preos dos terrenos e imobiliria Tercearizao da rea concentrao de actividade comercialGentrificao reconquista da rea por classes sociais mais elevadas
Perda de autenticidade/Commodification
Aculturao- comercializao da cultura; alteraes na cultura receptora e na identidade local pela assimilao da cultura do turistaInteresses econmicos manipulao de tradies e costumes para entretenimento
Patrimnio e Identidade Segundo alguns autores descoberta de um patrimnio pode significar a morte de uma identidade, dado que, a patrimonializao representa a introduo de mutaes na identidade. Diz respeito ao medo de que a cultura local assimile as influncias da cultura dos turistas que mais preponderante sobre as tradies, valores e costumes nas chamadas sociedades tradicionais, mas tambm a necessidades decorrentes do desenvolvimento da actividade turstica, de fornecer aos turistas as comodidades a que esto habituados nos seus pases de origem e de instituies que tm a responsabilidade de fornecer as imagens e as narrativas associadas a esse patrimnio, no inclurem nas suas narrativas todo o patrimnio, sobretudo dos grupos tnicos minoritrios.
Sustentabilidade do Turismo Cultural e capacidade de carga
Super-povoamento de muitos locais histricos - deteriorao fsica (e.g. Veneza, Bruges, Florena)Maximizao da utilizao/congestionamento
Fonte: Gonalves, 2003 (a partir de Barr, 1995; Bianchini e Parkinson, 1993; Bourdieu, 1979, Bourdieu e Darbel, 1991; Misiura, 2006; Peixoto, 2004; Prentice, 1993a e 1994; Richards e Bonink, 1995; Richards, 1996 ;Silberberg, 1995; Smith, 2003; Van der Borg e Costa, 1993).
Na discusso sobre as divergncias e convergncias entre os agentes do turismo, os
responsveis pelo patrimnio cultural e a comunidade local, a Comisso Australiana do
Patrimnio Cultural reconhece que muitos locais patrimoniais so altamente valorizados
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pelas comunidades locais e regionais, que se constituram como as suas principais
protectoras.
As comunidades desejam desenvolver o turismo, mas tambm proteger a sua
privacidade, e preocupam-se com os efeitos que o turismo pode trazer, pelo que apontam
como fundamental que se: estabeleam as necessidades, os interesses e aspiraes da
comunidade local na fase de pr-planeamento; tenham em considerao as sensibilidades
culturais ou religiosas associadas ao uso e apresentao do local patrimonial; identifiquem
e consultem os lderes da comunidade local; apresente a perspectiva da comunidade
local; analisem formas da populao local ter um papel activo na gesto e operao da
atraco turstica (os amigos do patrimnio; aces de voluntariado; story telling;
visitas guiadas; entre outros); procurem maximizar os benefcios para a comunidade
local e reduzir ou evitar os impactes negativos (AHC, 2004).
Inskeep 4 (1994) apontava como formas de evitar os impactes negativos derivados
do turismo e de potenciar o desenvolvimento do turismo cultural: proporcionar
oportunidades para intercmbio cultural entre comunidade local e turistas (interaco);
assegurar o acesso cultura por parte das comunidades locais; preservao dos estilos
arquitectnicos locais; preservar a autenticidade das artes locais e dos festejos culturais;
proteger e apoiar os mtodos de produo cultural locais; favorecer a criao de centros
culturais locais integrando espaos de exposio e de espectculos; e quando necessrio,
preveno das visitas a espaos religiosos e a cerimnias onde os impactes possam ser
menos positivos1.
Uma nova mentalidade tem vindo a emergir baseada no desenvolvimento e na
implementao de estratgias de marketing que garantam padres de qualidade que
no afectem os objectivos sociais do patrimnio cultural, ou que possibilitem que os
lucros comprometam a sua existncia (Izquierdo e Samaniego, 2004). Mas outras vises
subsistem como o caso de Desvalles que muito crtico aco do turismo associando-a
mercantilizao dos museus, pois considera que se verifica um consumo excessivo
dos bens das coleces, mas tambm dos bens patrimoniais que permanecem in situ e
fala em massificao:
() tem[-se] assistido aos bilies investidos para transformar estes locais culturais em supermercados do objecto patrimonial. Certamente que os nossos museus precisavam de rejuvenescimento; mas permitiu-se que os mercadores entrassem no templo. Conservaram o seu pblico fiel de intelectuais, de quadros e de classe mdia que visitam pelo menos uma exposio por ano () e a frequncia familiar aumentou ligeiramente passando de 19% a 25% no decorrer dos ltimos dez anos; no entanto, globalmente, em lugar de passar de um no-pblico a um pblico de proximidade, passou-se a um pblico de superfcie, ou
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Alexandra Rodrigues Gonalves, Francisco Ramos & Carlos Costa O museu como plo de atraco turstica
seja o dos turistas, os quais segundo o programa dos operadores fazem o Louvre numa hora visitando sobretudo a Samotrcia5 e a Monalisa e constituem 25% dos visitantes deste museu e mais de metade nos museus paisienses. (Desvalles, 2003: 54-55).
No entanto, no decorrer do artigo o autor relembra que no s ao turismo deve ser
apontado o perigo de comercializao, mas tambm ao mercado das artes e acusa o
museu de utilizar uma linguagem inacessvel maioria das pessoas.
Internacionalmente tem vindo a ser promovida alguma reflexo sobre o conceito
de museu e a sua evoluo, e defende-se hoje que os museus combinem o seu objectivo
social de instituies guardis de memrias, com responsabilidades na preservao
de um patrimnio, na investigao e na educao com outro tipo de actividades de
promoo desses objectivos, com a concepo e implementao de estratgias de
marketing, que no comprometam a sua existncia (Kotler e Kotler, 1998; Izquierdo e
Samaniego, 2004), e que gerem impactes econmicos positivos para as comunidades e
para o prprio museu (McLean, 1997; Reussner, 2003).
Para uma melhor compreenso do contexto cultural e da evoluo do museu atravs
do tempo apresenta-se a definio de museu.
2.1 A definio de museu
O papel do museu na actual sociedade encontra-se em acesa discusso, reconhecendo-
se de forma crescente que o conceito tradicional de exposio e de museu est em crise e
declarando-se a necessidade do museu se tornar mais dinmico e competitivo, procurando
uma ligao mais estreita e participada com a sociedade, utilizando um discurso mais
comercial, mas sem que se distancie das misses de conservao e conhecimento da
arte (Martos e Santos, 2004:86). Os museus so, ou deviam ser espelhos da sociedade,
do seu desenvolvimento e da sua cultura, do passado e do presente. As alteraes
resultantes da evoluo da sociedade determinaram que o conceito de museu tradicional
se tornasse obsoleto (McLean, 1987).
Nos anos 60 o museu era um templo de cultura e as suas paredes eram opacas.
No sculo XX a cultura democratizou-se e o interesse pblico pelos museus cresceu
e diversificou-se. Hoje, o museu um instrumento educacional capaz de promover o
reconhecimento de novos patrimnios (ex. do patrimnio industrial, onde se insere o
caso do novo Museu Municipal de Portimo).
O conceito de museu do ICOM (International Council of Museums) tambm tem sido
frequentemente redefinido e adaptado realidade: A museum is a non-profit making,
permanent institution in the service of society and of its development, and open to the
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public, which acquires, conserves, researches, communicates and exhibits, for purposes
of study, education and enjoyment, material evidence of people and their environment.
(ICOM Statutes, 1989, article 2, paragraph I). Esta definio foi adoptada em Haia, na
Holanda em 1989, tendo sido revista em 1995 e novamente em 2001. Como se pode
verificar, as referncias aquisio e conservao permanecem prioritrias sobre as
questes de educao e de entretenimento.
As funes principais de qualquer museu so: identificar, recuperar e reunir grupos
de objectos e de coleces; document-los; preserv-los; estud-los; apresentar ou
expor esses objectos ao pblico em geral; e interpret-los ou explic-los (Hernndez e
Tresseras, 2001). As primeiras funes so as mais tradicionais e historicamente as mais
reconhecidas, constituindo-se as restantes como a que esto mais associadas ao pblico
e s dimenses sociais da gesto do patrimnio cultural.
A questo do uso social do patrimnio cultural ganhou maior relevncia a partir
de 1920-30s, pela tomada de conscincia de que a perda de ligao com o contexto
de produo e uso desse patrimnio significaria a perda do seu significado. Qualquer
coleco ou museu s pode ser explicado atravs da sua histria (Hernndez and
Tresseras, 2001). Foi neste perodo que os responsveis pelos museus se tornaram mais
sensveis aos desejos e motivaes da procura e se demonstraram mais abertos a uma
interaco entre proteco, difuso e estudo. Datam deste tempo as primeiras grandes
exposies temporrias, as visitas escolares, e os primeiros departamentos pedaggicos, e
educativos dos museus. So introduzidos novos sistemas de exposio e de apresentao
das coleces e surgem os primeiros estudos de pblicos. Contudo, o perodo de Guerra
instalou uma crise na museologia internacional e s em 1984 com a Declarao do
Qubec se reafirmou a importncia da funo social do museu (ICOM, 1989).
Outro conceito apresentado pela primeira vez no referido documento foi o da
Museologia Activa que envolve o desenvolvimento das pessoas e das comunidades pela
sua associao a projectos futuros dos museus, com o objectivo principal de contribuir
para um sentimento de orgulho local e contribuir para a preveno da destruio das
identidades culturais. nos anos 80 com a emergncia dos turismo de massas que os
locais patrimoniais comeam a assumir o papel de atraces, sendo nos anos 90 que o
edifcio do museu perde nfase e ganha maior relevncia a possibilidade de transferir
temporariamente as exposies para fora dos museus (Boniface e Fowler, 1993; Garcia,
2003; Hernndez e Tresseras, 2001; Misiura, 2006).
Em Portugal, segundo o conceito de museu adoptado e introduzido na Lei-Quadro dos
Museus Portugueses, um museu : uma instituio de carcter permanente, com ou sem
personalidade jurdica, sem fins lucrativos, dotada de uma estrutura organizacional que
lhe permite: a) Garantir um destino unitrio a um conjunto de bens culturais e valoriz-
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los atravs da investigao, incorporao, inventrio, documentao, conservao,
interpretao, exposio e divulgao com objectivos cientficos, educativos e ldicos; b)
Facultar acesso regular ao pblico e fomentar a democratizao da cultura, a promoo
da pessoa e o desenvolvimento da sociedade. (Lei n.47/2004 de 19 de Agosto).
Este conceito aproxima-se da definio do ICOM e introduz, pela primeira vez, a
necessidade de se possuir uma coleco visitvel, bem como um processo de credenciao
dos museus, para que tenha lugar o reconhecimento oficial da qualidade tcnica desse
museu (requisitos e processo encontram-se regulamentados pelo Despacho Normativo
n.3/2006 do Ministrio da Cultura e foram publicados em Dirio da Repblica, I Srie-B,
N 18 de 25 de Janeiro de 2006).
2.2 A gesto e o marketing aplicado aos museus
Regra geral, as definies de museu centram-se mais no lado da produo do que
no da procura, demonstrando-se uma abordagem de consumo numa fase incipiente,
associando-se a um entendimento de espao pblico (ou semi-pblico). Numa viso ps-
moderna do papel do museu referida a importncia dos servios educativos e culturais,
assim como, a importncia de incluir cinemas, teatros, bibliotecas especializadas,
bons bares e restaurantes, novos espaos comuns, criando uma oferta diversificada e
complementar, que possa dar origem a permanncias mais longas e agradveis naquele
espao (Quadro 2).
Quadro n. 2 Dimenses do museu em face do tipo de gesto/direco
Product/service dimensions
Emphasis of custodialmanagement
Emphasis of marketingmanagement
Education Value and importance inaesthetic termsMaintained, designed forpreservation of collections
Relevance to visitorsCreate impact, differentiation,visitor-friendly environment
Accessibility Standard opening hours, limited proximity of customers to some valuable collections
Proactive staff-visitorinteractions and proximityencouraged
Communication Predominantly passiveobservation encouragedStandardisedmessages/attention,impersonal approach, littleattempt to involve visitors
Visitors participate inexperienceMore individualisedmessages/ attention. Personalapproach and emotionalinvolvement of visitors
Fonte: Gilmore e Rentschler, 2002:757
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exedra n temtico - Turismo 2009
Alguns museus colocam a nfase da sua actuao nas actividades tradicionais de
investigao e nas coleces. No recorrem por isso a consultores, no analisam o
mercado, no fomentam as visitas ou as doaes/mecenato. Os museus mais modernos
so geridos com um enfoque empresarial: centram-se na promoo de programas
criativos, preocupam-se com gerar fundos atravs de exposies temporrias; donativos;
festas; entre outras. Estes museus acentuaram nas suas polticas e na sua programao a
participao do pblico. Para tornar o museu mais acessvel a uma audincia mais ampla
e atrair em particular aqueles visitantes que no iriam ao museu tradicional, promovem
um crescente nmero de eventos de grande alcance. Os museus esto a adoptar uma
orientao para o mercado (Gilmore e Rentschler, 2002) e querem oferecer experincias
excitantes (Kirshenblatt-Gimblett, 1998).
De acordo com Izquierdo e Samaniego (2004) o xito do museu requer a utilizao de
uma combinao de estilos apresentados no Quadro 2, colocando uma nfase crescente
na abordagem empresarial. Todavia, o museu v a sua gesto restringida por um conjunto
de factores de diferente natureza, onde se incluem questes financeiras, administrativas
e legais, que por vezes, se tornam inibidoras da introduo de alguma flexibilidade
(Martos e Santos, 2004). Inserem-se tambm no sector no lucrativo, o que dificulta
uma atitude mais orientada para o mercado e desempenhos de qualidade.
Weil aponta quatro factores principais para a avaliar qualidade da aco do museu:
possuir uma misso claramente definida (que se perpetue, mas que seja exequvel); ter
capacidade em termos de recursos (fiscais, fsicos e humanos); avaliar a eficcia global
do museu (se o museu fez a diferena; se produziu impacto junto da audincia desejada);
e medir a eficincia (a utilizao racional e equilibrada dos recursos) (Weil, 2002). O
elemento relativo eficcia, o mais difcil de avaliar, porque nos sectores considerados
no- lucrativos, o rendimento gerado ou a recuperao dos gastos no so os indicadores
que se costuma considerar.
Admite-se que no fcil introduzir e aplicar os conceitos e os modelos dos negcios
lucrativos, no sector dos museus, e que podero resultar daqui alguns pontos de conflito
com o turismo. Contudo, o museu que no futuro deseje desenvolver uma programao
que obedea a padres de qualidade e ombrear com outras ofertas de lazer ter que
promover uma anlise: do mercado; da concorrncia; do consumidor; e dos canais de
distribuio (Weil, 2002).
S ser possvel definir a estratgia se se conhecerem as audincias. Os museus
possuem uma crescente diversidade de programao dirigida a diferentes audincias
(Garcia, 2003; Kotler e Kotler, 1998). O marketing importante porque permite ao museu
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Alexandra Rodrigues Gonalves, Francisco Ramos & Carlos Costa O museu como plo de atraco turstica
confirmar a sua misso e dar uma resposta eficiente aos seus pblicos, na medida em
que atravs das suas tcnicas so identificados: o perfil do visitante; o mercado em que
o museus opera; o potencial de desenvolvimento dos principais segmentos do mercado e
as estratgias com vista a aumentar a base dos consumidores, bem como de atraco de
novas audincias.
No caso Portugus, os museus tm uma capacidade de gesto reduzida salvo os casos
em que se constituem como entidades privadas autnomas a sua estrutura orgnica
difere pouco de regio para regio, e os seus meios humanos e os recursos econmicos
so estabelecidos fundamentalmente em funo dos gastos com o pessoal, dos gastos
correntes para o funcionamento dos servios, e do plano de actividades aprovados
pela entidade que tem a tutela. Por exemplo, as receitas provenientes das entradas nos
museus da administrao central, bem como das vendas nas suas lojas no revertem
a favor do oramento do prprio museu, mas so reintegrados a nvel central. Uma
capacidade de gesto to limitada dificulta a afirmao do museu enquanto instituio
dinamizadora de uma aco cultural e social em torno do espao em que se desenvolve
a sua actividade. Tambm se verifica uma grande diversidade de tipologias de museus
e das suas tutelas que conduzem a formas e a situaes de gesto oramental muito
dspares, no correspondendo em muitos casos a oramentos autnomos do museu, mas
dependentes de entidades que lhes so exteriores (Serra, 2007).
A maioria dos museus tambm no tem procurado integrar a sociedade civil no seu
projecto e o tecido social tem em regra uma participao de espectador em face da aco
promovida pelos museus.
Verifica-se um crescimento das expectativas da parte dos visitantes e consumidores
em relao ao facto da experincia no museu incluir mais diverso e envolvimento. Sabe-
se que os mecanismos interactivos e a oferta de outros servios de lazer de qualidade
como o merchandising, comrcio e restaurao, aumentam a notoriedade dos museus,
bem como alargam o seu mercado de aco. Algumas organizaes tm apostado numa
gesto do tipo best value, recrutando pessoal com as competncias necessrias para
gerar novas fontes de financiamento e manter as qualidades competitivas (Lennon e
Graham, 2001, do o exemplo do Museu de Cincia de Londres).
A venda livre dos bens declarados de interesse cultural encontra-se fortemente
restringida em muitos pases pela legislao nacional, pelo que, os museus possuem um
nmero de peas elevado em reserva, que consideram sem grande valor, mas que por
vezes, o seu emprstimo ou o seu intercmbio podem contribuir para a valorizao do
esplio.
Em regra, os museus em funo da sua insero territorial, possuem um maior
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exedra n temtico - Turismo 2009
nmero de peas de determinadas civilizaes que, podem no existir noutros pases ou
noutros territrios e pelo intercmbio podem dar a conhecer em outros museus, outras
culturas. No caso Europeu, Martos e Santos (2004) falam na partilha desse patrimnio
como forma de contribuir para um maior conhecimento da histria europeia, propondo
a criao de uma Rede de Museus de Civilizao Europeia no mbito da Comisso
Europeia. Por outro lado, o emprstimo temporal destes objectos no expostos a outras
instituies, permitiria a rentabilizao desse patrimnio, e at estar na base de novas
aquisies, pelas receitas que da podem advir.
Os museus actuais procuram uma renovao e adaptao ao visitante (Izquierdo
e Samaniego, 2004). A monitorizao dos visitantes nos museus uma das medidas
mais implementadas internacionalmente. Por exemplo, no Natural History Museum em
Londres, que recebe cerca de 1,7 milhes de visitantes ao ano, promoveu um processo
de reorganizao, criando equipas de especialistas dedicadas a estudar os percursos e a
experincia do visitante. Conceberam ainda circuitos temticos e orientam as visitas para
aqueles visitantes com tempo limitado (Garcia, 2003). Para estudar o perfil do visitante
e do no visitante implementaram inquritos nos autocarros de Londres, entrevistas
pessoais e questionrios aos visitantes dos museus. Outros autores propem a adopo
do modelo de experincia interactiva (Interactive Experience Model) que pressupe
cuidados acrescidos com elementos como o contexto fsico espaos para descansar/
sentar; legendagem e percurso (itinerrio) (Falk e Dierking, 1992).
Uma recomendao chave ser assim o desenvolvimento de estratgias de base
territorial. Prope-se hoje uma alterao aos tradicionais discursos evolucionistas dos
museus e defende-se a introduo de uma organizao museolgica orientada para
correspondncias e relaes que possibilitem a abrangncia de uma multiplicidade de
histrias, bem como, um maior leque de possveis interpretaes (Semedo, 2006).
Esta quebra com a organizao clssica da exposio pode estar, no entanto, na base de
alguma desorientao.
O museu no deve ser um mero local onde esto depositados materiais que funciona
como centro de investigao e apenas pode ser visitado por uma minoria, mas deve
ser perspectivado como um ncleo de projeco cultural e social, com uma contnua
e decisiva funo didctica, com uma aproximao viva cultura. (Martos e Santos,
2004:80).
Segundo Alice Semedo est-se a operar uma revoluo e renovao dos museus que
coloca a nfase na promoo da experincia; [e] que revela novos horizontes ticos,
epistemolgicos e estticos. A procura de relevncia fora dos seus contextos habituais
sem qualquer dvida, um dos eixos desta metamorfose museolgica. (Semedo, 2006:6).
As pessoas esperam hoje que a visita ao museu seja relaxante, divertida e que se traduza
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Alexandra Rodrigues Gonalves, Francisco Ramos & Carlos Costa O museu como plo de atraco turstica
num espao de sociabilizao, tal como em outros centros de lazer ou de educao. O
museu emerge num leque alargado de opes de lazer, pelo que, tm que se modernizar
para ir ao encontro de um mercado mais exigente e isso significa programas educativos
diferenciados e com propostas adequadas aos seus pblicos mas tambm a necessidade
de melhorar as infra-estruturas do museu. Mas ser que os responsveis pela gesto do
museu so da mesma opinio?
Um estudo desenvolvido junto dos directores dos museus norte americanos6
demonstrava que as estratgias de marketing mais importantes que os directores
desejavam desenvolver eram: novas exposies para promover a repetio de visitas;
oferecer programas para diferentes visitantes; aumentar a reputao do museu pelo
reforo da publicidade, relaes pblicas e patrocnio. As estratgias menos apontadas
foram (ordem crescente de ponderao): estabelecimento de sucursais/seces noutros
locais para chegar a outras audincias; e pagar a uma agncia de publicidade para
fortalecer a identificao/imagem do museu. O planeamento das exposies tinha em
conta sobretudo (ordem decrescente de importncia): as necessidades de diferentes
grupos de visitantes; avaliar a orientao (ou no) da exposio para os visitantes;
preparar actividades interactivas para ir ao encontro dos estilos de aprendizagem dos
visitantes (Yeh e Lin, 2005). Verificou-se tambm que o peso das entradas de visitantes
no oramento do museu j substancial (segunda fonte principal de rendimento), mas
mais surpreendente foi que os directores dos museus evidenciaram que acreditam que os
meios de comunicao tradicionais, como a rdio, a TV, os jornais e as revistas so mais
eficientes, do que o e-mail ou a pgina on-line (Yeh e Lin, 2005).
Gostava de destacar a relevncia dada pelos inquiridos necessidade de possuir
actividades hands-on, do tipo atelis, e uma loja, como formas de possibilitar uma
melhoria das experincias interactivas nos museus.
Quanto ao catering ou incluso de servios de restaurao no museu, Falk e
Dierking (1992) defendem que este servio pode contribuir para melhorar a experincia
do visitante no museu e que at a preparao de pratos especiais que vo ao encontro
da exposio em curso, pode ser uma das formas de passar a mensagem do museu.
inegvel tambm o contributo que pode dar para o aumento das receitas do museu e, tal
como Yeh e Lin (2005) afirmam, ningum conseguir desfrutar de uma visita ao museu
se estiver com fome. Por sua vez, as sucursais so referidas por Kotler e Kotler (1998)
como forma de projectar a imagem dos museus noutros locais, o que pode contribuir
para a atraco de novos visitantes.
Hein (1998) afirma que a aprendizagem se deve constituir como a funo principal
dos museus, todavia, h que acompanhar os novos processos de aprendizagem e adapt-
los aos estilos dos tempos modernos: Museums are extraordinary places where visitors
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exedra n temtico - Turismo 2009
have an incredible range of experiences (Hein, 1998:2). Yeh e Lin reconhecem que o
museu apresenta vantagens associadas s formas de aprendizagem informais e afirmam
Learning in museums give visitors a self-directed learning opportunity to construct
personal learning atmosphere, scheduling, and content. (Yeh e Lin, 2005:281). Mas
para que tal se verifique, ser necessrio que os museus acompanhem a sociedade e tal
como afirmava um dos directores que se entrevistou: No concebo que em minha casa
tenha por exemplo o acesso a determinadas tecnologias e que no museu no tenha os
computadores, a informao via audiovisual, j h museus virtuais, j h museus com
interpretao interactiva.7.
No est em causa a discusso do museu como parque de atraces, mas a verdade
que o museu um espao onde se contam histrias e hoje as pessoas esperam mais
do que a simples venda de uma mercadoria (i.e. o bilhete de entrada numa exposio),
procuram uma experincia (Quadro 3).
Quadro n. 3 A experincia como conceito econmico
Evoluo das abordagens econmicas at ao presente
Commodities Goods Services Experiences
Seller Market User Client Guest
Buyer Characteristics Features Benefits Sensations
Fonte: Pine e Gilmore, 1999:6
Segundo Pine e Gilmore a experincia criada quando: a company intentionally
uses services as the stage and goods as props, to engage individual customers in a way
that creates a memorable event. (Pine e Gilmore, 1999:11).
A experincia turstica por definio um processo subjectivo, da que segundo
Ryan (1997) ser fundamental o contexto da experincia, assim como os antecedentes
scio-culturais. A intangibilidade do produto turstico conduz a uma identificao da
experincia turstica como uma matria de percepo (Fainstein e Gladstone, 1999).
Os analistas culturais enfatizam os efeitos da indstria turstica sobre o espao e
as referncias simblicas. A autenticidade quase sempre uma referncia obrigatria
quando se discute a experincia turstica, considerada por inmeros autores como questo
fundamental, numa anlise desenvolvida por Judy Cohen (2002) sobre os trabalhos de
Dean MacCannell (1976), Daniel Boorstin (1987) e Umberto Eco (1983) a autora conclui
que nem sempre o turista tem como objectivo a procura de uma experincia autntica e
caracteriza o turista ps-moderno: () not so much a new type of animal, but rather a
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Alexandra Rodrigues Gonalves, Francisco Ramos & Carlos Costa O museu como plo de atraco turstica
decision-maker with a new array of options. (Cohen, 2002:34).
Cohen argumenta que os turistas modernos no so diferentes daqueles de tempos
passados e que desde longa data que o turista procura minimizar o desconforto e os
riscos associados s viagens. Por sua vez, a encenao da autenticidade sobre a forma
de cerimnias, actividades e eventos tem sido vastamente disseminada e hoje bastante
comum, ainda que criticada por alguns. Por seu lado, Smith (2003) considera que mais
importante do que discutir se a autenticidade real ou encenada, ser assegurar que as
comunidades locais se sentem confortveis com o seu papel de actores e animadores do
turista.
Os recursos autnticos sero os locais, servios ou eventos que reflectem o patrimnio
nacional, regional ou local. A autenticidade pode ser determinada com base em vrios
critrios. O recurso pode at nem reter todas as caractersticas culturais relevantes, mas
deve reter todas as que se relacionam com a sua identidade histrica ou a sua relao
com a tradio cultural (Lord, 2002). Em suma, as experincias tursticas autnticas
sero aquelas com significado.
De acordo com McKercher e du Cros (2002) ser ainda fundamental que se
identifiquem aqueles recursos que so realmente excepcionais e de valor nico, e que
sero os responsveis por atrair as pessoas ao destino.
Saliente-se uma vez mais, a importncia de consultar os vrios agentes dos dois
sectores para assegurar que se evitam conflitos. Todas estas reflexes so relevantes para
determinar o potencial de atraco do turismo por parte dos museus. Por outro lado,
deve existir a conscincia que, regra geral, os museus possuem um grande potencial
de atraco turstica, podendo constituir-se como contribuintes vlidos e parceiros
principais do desenvolvimento do turismo cultural na teoria e na prtica (Benediktsson,
2004).
2.3 O museu como plo de atraco turstica
Os grandes museus da Europa so um importante factor de mobilizao de pessoas,
sobretudo atravs das suas grandes exposies. Estes museus esto extremamente
interligados com a poltica da prpria cidade as decises sobre as grandes exposies
na Holanda, por exemplo, no provm do director do museu ou de um grupo de
conservadores, mas do departamento de marketing da cidade e da deciso colectiva de
um grupo de gestores para tentar aumentar as visitas. Este fenmeno teve incio nos
anos 90 na Holanda, com as exposies de Van Gogh, tendo sido seguido no Reino Unido
e em Frana, e esteve na origem de centenas de milhares de visitas s cidades (Bellacasa,
1999).
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exedra n temtico - Turismo 2009
Para conseguir concretizar este tipo de iniciativas tem que se adaptar as estruturas
dos museus ao novo consumidor. Em Espanha procurou-se promover este tipo de
iniciativas atravs do Ano de Goya e do Ano de Velsquez, mas sem o sucesso desejado,
que se atribui ao descurar do aspecto da comercializao turstica. Numa referncia ao
caso Espanhol, o autor conclui que os grandes museus ainda no perceberam que tm
que possuir gestores e alterar a sua estrutura de gesto. Num grande nmero de museus
os horrios no esto adaptados aos fluxos tursticos e encerram aos Domingos.
Bellacasa (1999) reconhece que o visitante contemporneo necessita de: flexibilidade,
informao em vrios idiomas, produtos comercializados pelo museu, realizar
actividades volta das coleces. Em suma precisa de viver o museu, estabelec-lo
como um marco da cidade e factor de desenvolvimento da mesma. Outros museus, como
o Museu do Louvre ou o Museu Britnico j introduziram a possibilidade de alugar salas
e outros espaos para jantares e para filmagens como forma de angariar mais recursos
financeiros.
No chega possuir um legado histrico relevante, necessrio que exista uma aco
poltica para que o local possa atrair turistas e afirmar-se como destino de turismo
cultural. Ser tambm fundamental envolver as populaes e conseguir a participao
da administrao pblica nos diversos nveis.
O territrio dinmico e por vezes converte-se em museu, por sua vez, o museu
representa um espao territorial, de expresso da histria e arte de uma rea geogrfica.
Existe uma dialctica entre ambos (Rocio, 2004). Os recursos patrimoniais possuem
uma forte ligao com o territrio que emerge como o espao em que se desenvolveu a
actividade humana ao longo dos tempos. A proteco e a dinamizao destes recursos
tm conduzido procura de solues que possibilitem um desenvolvimento sustentado
do potencial destes recursos, que tero estado na origem, em Espanha, dos parques
culturais e dos parques arqueolgicos, por exemplo (Martos e Santos, 2004).
Compreende-se hoje que necessrio associar os vestgios arqueolgicos e os
monumentos aos seus territrios, e por isso verifica-se uma crescente musealizao in
situ e ao proliferar dos centros de interpretao. Contudo, no s nestes casos isso deve
acontecer. O museu pode encontrar a sua base territorial numa cidade e est-se perante
um museu de cidade, ou pode assentar numa rea mais ampla, e a assume-se como a
base da estratgia de actuao as vrias reas patrimoniais do patrimnio em que se
insere. Veja-se o caso do Ecomuseu, conceito desenvolvido em Frana tem por base o
interesse pela ecologia e etnologia (Martos e Santos, 2004)
Tambm a necessidade de tornar os vestgios compreensveis conduziu a uma
tendncia para no descontextualizar, na medida em que a sua manuteno no territrio
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Alexandra Rodrigues Gonalves, Francisco Ramos & Carlos Costa O museu como plo de atraco turstica
possibilita uma leitura do objecto no lugar de origem. Uma nova viso do territrio estar
nos fundamentos de um novo conceito de museu, com base territorial e participao
da comunidade.: ()los ecomuseos, los museus integrales y los museos institutos se
apresentan como modelos ptimos para el desarrollo de estas polticas patrimoniales.
(Martos e Santos, 2004:92).
Quadro n. 4 - Rota Romana Andaluza
Estudo de caso: Museu e Territrio Rota Romana Andaluza (Ruta Btica
Romana)
Projecto de turismo cultural que procura valorizar o legado romano em torno da Via
Augusta no seu trajecto Andaluz.
Foram os municpios que tiveram a iniciativa e que constituram a organizao de uma
sociedade com os seguintes objectivos: colocar em valor este patrimnio; difundir esse
patrimnio; conservar o mesmo.
Integra patrimnio artstico, cultural, monumental, tradies e gastronomia em torno
do legado romano da Via Augusta.
parte do projecto europeu das vias romanas do Mediterrneo.
Transversalmente cada municpio organiza exposies itinerantes, produz guias,
vdeos promocionais e outros materiais como moedas, jogos, etc.
Gerou emprego e dinamiza a economia assumindo a conservao do patrimnio em
causa atravs de polticas integradas nos mbitos do: urbanismo, da economia, do
meio ambiente, do turismo e da cultura.
O projecto exigiu o compromisso de vrios nveis da administrao, da comunidade e
da Confederao de Empresrios da Andaluzia, da Consejeria de Turismo da Junta da
Andaluzia e o apoio da Consejeria da Cultura.
Fonte: Rocio, 2004
Este projecto vai ao encontro do conceito de museu integral (conceito introduzido
pela UNESCO em 1972), um museu que desenvolve as suas funes tradicionais, mas
integra o desenvolvimento de polticas patrimoniais sobre um territrio, integrando toda
a populao desse territrio na sua actuao, constituindo-se como ncleo dinamizador
del desarrollo cultural y tambin econmico de la zona (Martos e Santos, 2004:74).
Um exemplo que os autores apontam o de Aragn em que foi introduzido o conceito
de parque cultural que se assumem como instituies integradoras do patrimnio
histrico daquele territrio (Martos e Santos, 2004).
O total dos visitantes dos museus da Andaluzia em 2000 ascendeu a 1.222.283
visitantes, a que se acrescem 2.234.054 de visitantes da Alhambra, que representa quase
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exedra n temtico - Turismo 2009
o dobro dos visitantes dos museus no seu conjunto. S para registo a Andaluzia em 2000
recebeu 19.780.727 turistas (Martos e Santos, 2004), o que se significa que um nmero
elevado de turistas no visita qualquer museu.
Outro elemento interessante da regio de Andaluzia tem que ver com o facto da
distribuio geogrfica dos museus se encontrar muito concentrada em torno das 8 capitais
de provncia, que se constituem por sua vez, como aqueles locais de maior rentabilidade
econmica e de maior fluxo turstico, pois so tambm as maiores aglomeraes urbanas
(entre 20000 e 50000 habitantes). As zonas com mais de 2 museus ou at 5 museus so
as que constituem territrios e cidades com patrimnio de maior importncia: Sevilha,
Cdis, Mlaga, Granada, Crdoba, Huelva e Almeria encontram-se entre esses locais.
Se se pretender fazer uma anlise paralela do caso do Algarve, verifica-se que os
quatro museus estudados (que integram a Rede Portuguesa de Museus) situam-se todos
nas cidades de maior dimenso populacional do Algarve, na faixa litoral e nas zonas
de maior afluxo turstico da regio. Numa anlise de dimenso nacional em 2002, dos
591 museus que integraram a Base de Dados do Observatrio das Actividades Culturais,
apenas 6,9% se localizavam no Algarve (30,5% na zona de Lisboa e Vale do Tejo; 26,1%
no Norte; 19,8% no Centro; e 9,8% no Alentejo) (Lima dos Santos e Bairro Oleiro,
2005).
Existe um nmero crescente de autores que defendem na sua investigao que
os museus se constituem como elementos principais de atraco de turismo cultural,
advindo da possibilidades de desenvolvimento econmico local e regional muito
positivas (Prieto et al., 2002), o que tem contribudo para a disputa que se vive entre as
cidades numa tentativa de conseguir possuir um museu emblemtico, com projecto de
assinatura de um arquitecto de renome.8
Um outro caso que merece referncia da Esccia, onde desde 1999 foi criado um
Visitor Attractions Monitor (VAM) que recolhe e publica as estatsticas do sector das
atraces tursticas integrando os museus (Lennon e Graham, 2001). A perspectiva do
museu enquanto atraco turstica no ainda hoje pacfica e grande parte das galerias e
museus do Reino Unido so propriedade do sector pblico, de associaes e de organismos
sem fins lucrativos. J foram vrios os autores que referiram a funo comercial dos
museus, no lazer e no turismo (Ambrose, 1994), outros afirmaram a necessidade de uma
maior orientao para o mercado (Cossons, 1985), ou mesmo evidenciaram a necessidade
de uma revisitao dos objectos, procurando criar uma ligao com o presente (Hall,
1997) para se desenvolverem como locais competitivos (Lennon e Graham, 2001).
Na Esccia, a atitude perante o turismo tem permanecido ao longo dos tempos
quase imutvel apontando-se como o turismo como responsvel por tornar a histria
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Alexandra Rodrigues Gonalves, Francisco Ramos & Carlos Costa O museu como plo de atraco turstica
em mercadoria (Hewison, 1987), mas uma orientao comercial emergente na poltica
pblica levou a que se introduzissem padres de excelncia nas organizaes de servios
pblicos. Alguns dos indicadores introduzidos nesta avaliao qualitativa foram:
padres de desempenho, informao e abertura; consulta e escolha; cortesia e ajuda;
melhorias na qualidade do servio; melhorias planeadas e inovao; com a centralidade
da avaliao colocada no cliente. As estatsticas j so utilizadas pelas atraces para
medir o seu desempenho relativamente aos seus concorrentes e alguns dos indicadores
incluem a monitorizao do nmero de visitantes, a sua permanncia mdia e a despesa
por visitante (Lennon e Graham, 2001).
Lennon e Graham (2001) apontam o desenvolvimento de novas estruturas, mais
flexveis, tais como, o trabalho em rede, a colaborao ou a partilha de recursos como
medidas capazes de contribuir para uma maior eficcia das polticas, que levaria a
interpretaes mais coerentes do patrimnio cultural e a um maior estmulo procura.
Apontam trs factores principais que tm dificultado uma maior orientao para o
mercado dos museus: resistncias dos museus que aumentaram a sua dependncia do
mecenato e tendem a aguardar um maior suporte das suas redes normais de financiamento
(sector pblico, fundaes, voluntrios); ausncia por parte dos profissionais dos museus
das competncias de gesto necessrias para lidar com as presses financeiras, legais e
comerciais; as obrigaes ticas do sector dos museus levam a que considerem prioritrio
a noo de servio pblico, pela proteco e preservao do seu legado para as geraes
futuras.
Esto assim identificados exemplos de esforos internacionais no sentido de tornar os
museus espaos atractivos e atraces de lazer competitivas. Tal como afirma Silberberg
(1995) a relao que se estabelece entre os museus e os locais histricos, e o turismo tem
de deixar de centrar-se No que que podes fazer por mim? e reflectir uma abordagem
do tipo O que posso fazer por ti?. Entre algumas das polticas e prticas que os museus
podem adoptar Silberberg refere:
Ajudar os hotis a definir packages de fim-de-semana para ultrapassar o problema
frequente das quebras nas taxas de ocupao.
Ajudar a definir programas complementares de lazer para os acompanhantes dos
participantes em congressos e seminrios.
O bilhete de ingresso pode ser considerado como passe alargado de um dia e incluir
descontos noutras atraces, ou na restaurao local.
Definio de horrios em coordenao com o comrcio local (Silberberg, 1995).
A investigao do museu actual inclui novas dimenses nomeadamente a
monitorizao do seu desempenho em termos de expectativas e nveis de satisfao do
visitante com a experincia. Alguns pases j incluram na sua agenda poltica a melhoria
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exedra n temtico - Turismo 2009
da qualidade das atraces culturais e patrimoniais, desenvolvendo mecanismos de
avaliao da qualidade. No caso Escocs, a estandardizao dos processos de avaliao
da qualidade dos museus assegurado pelo MAS Registration Scheme (Museums
Association), que resultou de uma iniciativa conjunta em 1998, da Museum and Gallery
Commission (MGC) e do Museum Training Institute, (MTI) (Lennon e , 2001)9.
Da reviso de literatura sobre a gesto do museu resultam algumas propostas que se
sumariam como propostas para um novo modelo de gesto dos museus:
1 - O museu deve constituir-se como instituio semi-pblica ou co-financiada, por fundaes
pblicas, consrcios, empresas pblicas ou organismos autnomos.
2 - Os recursos devem ser atribudos em funo de critrios objectivos, tais como: nmero
de visitantes, qualidade da coleco, quantidade da coleco, superfcie expositiva, plano
estratgico.
3 - Os recursos externos devem basear-se em: entrada de visitantes, patrocnio, explorao
de lojas.
4 - Introduzir dias de livre acesso: limitados a dias especiais e determinados grupos.
5 - Cooperao com outras instituies pblicas (desde a administrao central at aos
municpios).
6 - Concepo de sistema de museus bem vinculado rea geogrfica.
7 - Evitar descontextualizao das coleces, pelo contrrio lig-las envolvente imediata.
8 - A poltica relativa aos museus deve interligar-se com outras polticas meio ambiente,
obras pblicas, educao e turismo como instrumento de desenvolvimento local (Martos
e Santos, 2004; Serra, 2007).
H que ter conscincia que o visitante-turista (potencial ou efectivo) tem diferentes
tipos de necessidades de informao, que incluem a simples informao no local, mas
tambm informao mais complexa sobre os significados histricos e culturais do local
(interpretao) (Eagles et al., 2002).
Os museus devem dar resposta s necessidades de informao dos turistas, e a
informao mais elementar inclui: a lista e a descrio dos recursos patrimoniais e
culturais existentes; a sinaltica direccional e referncias para chegar ao local; os
horrios de funcionamento e o preo de ingresso; as diferentes actividades disponveis
no equipamento, entre outras. O principal benefcio de fornecer um programa de
interpretao reside na capacidade de construir audincias que compreendem e apreciam
os recursos a ser visitados, o que tambm contribuir para uma reduo de impactes
negativos e atrair maior suporte pblico para o local. Uma vez no museu, as necessidades
de informao tornam-se mais complexas e o visitante querer obter informao mais
detalhada e que possibilite estabelecer um dilogo entre passado, presente e futuro.
Os museus e a museologia moderna tm que ser capazes de contribuir para um
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Alexandra Rodrigues Gonalves, Francisco Ramos & Carlos Costa O museu como plo de atraco turstica
dilogo interdisciplinar, em especial porque tm um importante contributo para dar no
campo da conservao e desenvolvimento sustentado do turismo cultural.
3. Anlise emprica dos resultados
Uma breve contextualizao do panorama museolgico nacional dar lugar ao
panorama do Algarve, procurando descrever e analisar criticamente os resultados, com
base no enquadramento conceptual desenvolvido e das linhas orientadoras apontadas
para o museu do futuro.
3.1 O panorama museolgico nacional
Em Portugal, foi com o trabalho conjunto do Observatrio das Actividades Culturais
e do Instituto Portugus de Museus que se deu incio a um estudo objectivo e profundo
do panorama museolgico portugus entre 2000 e 2003, recentemente publicado (Lima
dos Santos e Oleiro, 2005) e que tem vindo a ser actualizado (Soares Neves e Alves dos
Santos, 2006).
Os primeiros passos no sentido de melhor se conhecer a realidade museolgica
nacional datam de 1999 com o Inqurito aos Museus em Portugal desenvolvido pelo
Observatrio das Actividades Culturais e pelo Instituto Portugus de Museus (Soares
Neves e Alves dos Santos, 2001). data foram identificados 680 registos de museus
(tendo sido excludos os ncleos dos museus polinucleados e os museus desactivados em
projecto ou temporariamente fechados por obras). Desses 680 museus, foram recolhidas
530 respostas vlidas, tendo-se includo entre os inquiridos: os Jardins Zoolgicos,
Botnicos, Aqurios e Monumentos Musealizados (excluem-se os stios arqueolgicos e
as Reservas e Parques Naturais).
Em face dos dados disponveis e apresentados no Grfico 1, o nmero de museus
a funcionar em 31 de Dezembro de 2005 era de 1.018, o que representa um acrscimo
de 40% em relao a 1999. Foi nos museus com abertura espordica que se verificou
maior crescimento. Salienta-se uma tendncia crescente para a apresentao de novos
projectos de criao de museus, tendo sido identificados 326 em 2005 (o que representa
153% de crescimento em relao aos nmeros de 2000), sendo a administrao local a
grande responsvel por estes novos projectos, e pela declarao de intenes de criao
de mais museus. Este movimento alargado a todo o pas, com menor incidncia no
Alentejo.
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exedra n temtico - Turismo 2009
N de Museus (1993, 2000 e 2005)
260
728
1018
0
200
400
600
800
1000
1200
1993 2000 2005
N de Museus
Grfico n. 1 Evoluo do nmero de museus portuguesesFonte: Nabais, 1993; Soares Neves e Alves dos Santos, 2006
Ainda que seja mais reduzido o nmero de museus em situao de fecho, os
investigadores verificaram igualmente que entre 2000 e 2005 este nmero aumentou
substancialmente, o que explicam com base em: problemas derivados do mau estado
das infra-estruturas onde estavam implantadas, ao desaparecimento da prpria tutela
e (e mais comummente) a processos de reorganizao do sector dos museus por parte
das tutelas. (Soares Neves e Alves dos Santos, 2006:6). Tambm surgem algumas fuses
em unidades museolgicas e alterao de funes de espaos at ento consagrados
exposio de coleces, como resultado sobretudo de novas opes de gesto que visam
racionalizar o funcionamento de algumas unidades mais deficitrias. (Soares Neves e
Alves dos Santos, 2006:6).
A administrao local as cmaras municipais -, mas tambm algumas empresas
municipais (fenmeno emergente data de 2005), permanecem como a entidade
que mais museus tutela.. No que se refere ao tipo de museu, predominam como mais
representativos os museus de: Arte, Etnografia, Antropologia, Especializados e Mistos e
Pluridisciplinares, verificando-se uma reduo mais significativa nos museus de Cincias
Naturais e de Histria Natural. A maior concentrao geogrfica de museus permanece
na regio de Lisboa e Vale do Tejo, mas com uma perda de peso relativamente ao conjunto
do pas, devido sobretudo ao ganho de peso relativo da regio Norte. Em 2005 tem
tambm lugar uma reduo no nmero de concelhos sem museu, sendo no continente,
onde mais notrio o aumento de concelhos com pelo menos um museu (Soares Neves e
Alves dos Santos, 2006). Em 2006, os museus do IPM (Instituto Portugus dos Museus)
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Alexandra Rodrigues Gonalves, Francisco Ramos & Carlos Costa O museu como plo de atraco turstica
atingiram mais de um milho de visitantes, o que j no se verificava desde 2002 (IPM,
2006). Os meses de maior afluncia foram o ms de Maio (162 234 visitantes), pois tem
lugar neste ms o Dia Internacional dos Museus e a Noite dos Museus, e o ms
de Agosto (130.385 visitantes). Segundo a informao do IPM este aumento abrangeu
museus de entrada gratuita e paga, bem como foi generalizado a todos os museus da
RPM (Rede Portuguesa de Museus) (IPM, 2006).
Quadro n. 5 Entidades proprietrias dos museus em Portugal
Museus - Entidade Proprietria N %
Instituto dos Museus e da Conservao (ex-IPM) 28 23,3
Direco Regional da Cultura dos Aores 8 6,7
Direco Regional dos Assuntos Culturais da Madeira 6 5,0
Administrao Central 6 5,0
Administrao Local 50 41,7
Empresas Pblicas 2 1,7
Privados Associaes Fundaes Igreja Catlica Misericrdias
5942
4,27,53,31,7
Total 120 100
Fonte: Rede Portuguesa de Museus, 2007 (http://www.rpmuseus-pt.org/Pt/html.index2.html)
Por sua vez, as Estatsticas da Cultura, Desporto e Recreio 200510 publicadas pelo
INE em 2006 evidenciam os seguintes resultados em relao aos museus em Portugal:
Museus, por tipologia: 20% eram Museus de Arte, 18% Museus Mistos e Pluridisciplinares
e 13% de Museus de Etnologia e Antropologia; com igual percentagem foram identificados
os Museus de Histria e os Museus Especializados (9,5%), tendo sido a tipologia dos
Museus de Territrio a apresentar menor expressividade no conjunto geral dos museus
(2,5%).
Os museus considerados registaram em 2005 um total de 9,7 milhes de visitantes, dos
quais 1,8 milhes foram no mbito de grupos escolares (18%).
Os museus mais visitados foram: Monumentos Musealizados (27%), com uma mdia
de 190 mil visitantes, Jardins Zoolgicos, Botnicos e Aqurios (27%), Museus de Arte
(15%).
Nmero mdio anual de visitantes por museu: 34,1 mil pessoas.
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exedra n temtico - Turismo 2009
Acervo: total de 22,2 milhes de objectos, predominando os objectos de filatelia e
fotografia (52%). Os bens arqueolgicos e os naturais no vivos representaram 18% e
11%, respectivamente.
Os museus com maior dimenso de acervo foram: Museus de Cincia e de Tcnica (33%
dos objectos); Museus Especializados (21%) e Museus do Territrio (14%) (INE, 2006).
Os vrios estudos consultados fazem referncia ao facto de um nmero cada vez
maior de entidades museolgicas procederem ao registo do seu nmero de visitantes
anuais, contudo, em face da disparidade do nmero de museus auscultados em cada
investigao, difcil estabelecer uma evoluo das entradas de visitantes nos museus
portugueses, apontando a anlise do Observatrio das Actividades Culturais e do
Instituto Portugus de Museus publicada em 2005 para uma evoluo positiva entre
2000 e 2002 (Grfico 2).
Grfico n. 2 Evoluo dos visitantes nos museus portugueses
11.829.47912.963.695 13.609.609
1.860.679 2.187.027 2.239.439
02.000.0004.000.0006.000.0008.000.000
10.000.00012.000.00014.000.00016.000.000
2000 2001 2002
N de visitantes
N de visitantes escolares
Fonte: Lima dos Santos e Oleiro, 2005:61
Segundo informao actual prestada pela Rede Portuguesa de Museus (RPM), na
sua pgina da Internet, o nmero total de museus em Portugal aproxima-se dos 1000.
No entanto, alguns destes museus correspondem a coleces visitveis, monumentos,
stios ou at outras situaes, facto associado actual definio de Museu, conforme
a Lei Quadro dos Museus Portugueses. Destes 1000 apenas 120 integravam a Rede
Portuguesa dos Museus em Julho de 2007. Esta mesma Lei Quadro instituiu o processo
de credenciao para o reconhecimento da qualidade tcnica do museu (Artigo 110),
quanto adeso RPM voluntria e pressupe a resposta a um processo de candidatura,
de acordo com o Despacho Normativo n.3/2006 de 25 de Janeiro.
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Alexandra Rodrigues Gonalves, Francisco Ramos & Carlos Costa O museu como plo de atraco turstica
Em 2007 foi criado o Conselho Nacional de Cultura (CNC) e constituda uma Seco
de Museus e Conservao (SMC), rgo responsvel pela apreciao das candidaturas
integrao na Rede Portuguesa de Museus. Por sua vez, da Ministra da Cultura a
deciso de credenciao do museu, que tomada com base no relatrio tcnico elaborado
pelo Instituto dos Museus e da Conservao (IMC) e mediante parecer da SMC do CNC.
Hoje, com a fuso de servios esta credenciao foi transferida para uma diviso no seio
do prprio IMC.
Na pgina da Internet da Rede Portuguesa de Museus pode ler-se A Rede Portuguesa
de Museus um sistema organizado, baseado na adeso voluntria, configurado de forma
progressiva e que visa a descentralizao, a mediao, a qualificao e a cooperao
entre museus. (http://www.rpmuseus-pt.org/Pt/html/index2.html, 2007). Esta rede
pressupe uma dupla funcionalidade e constitui-se como: rede de informao possibilita
disseminao de informao e estimula a comunicao; e, rede fsica permite a interconexo
entre museus e a qualificao de equipamentos.
No processo de candidatura RPM h um conjunto de documentao que os museus
tm que entregar, contudo no existe referncia no processo necessidade de definio
estratgica da sua aco junto da comunidade, assim como, se refere a necessidade de
elaborar estudos de pblicos sem que defina periodicidade dessa auscultao ou os meios
que a Rede coloca ao dispor para o efeito.
A partir dos estudos referidos, bem como de outros trabalhos sobre as prticas de
lazer e culturais dos portugueses, desenvolve-se a seguinte anlise dos principais factores
positivos e negativos relativos aos museus portugueses:
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exedra n temtico - Turismo 2009
Quadro n. 6 Factores negativos e positivos da anlise dos museus portugueses
Factores Negativos Factores Positivos
Estudos sobre as prticas culturais dos portugueses demonstram que a visita a museus uma das prticas de lazer com menor frequncia. Elevado peso da tutela pblica: 60% dos museus pertencem administrao pblica e nestes 40% so da administrao local. Insuficincia de recursos informticos. Cerca de 52% dos museus nacionais no possuem servio educativo organizado (num total de 591 museus em 2002). Muitos no possuem servio de acolhimento ou at folheto desdobrvel.Aumento do nmero de museus fechados que se atribuem a: mau estado das infra-estruturas; desaparecimento da tutela; processos de reorganizao do sector dos museus por parte das tutelas (fuses de unidades museolgicas, alteraes das funes do espao at ento consagrado coleco, redistribuio dos acervos, entre outros).Alguma dificuldade em garantir de forma continuada os requisitos exigidos pelo processo de qualificao como museu, pela Lei Quadro dos Museus Portugueses. Enquadramento legal entrave inovao, sobretudo ao nvel das carreiras.Perda da especificidade das coleces pela integrao de acervos com dificuldades de definio do seu corpo predominante (derivado sobretudo do alargamento do conceito de patrimnio).
Tendncia crescente para a apresentao de novos projectos de criao de museus. Criao da Rede Portuguesa de Museus/ Inqurito aos Museus/Base de dados dos Museus. Esforo de requalificao museolgica.Reduo do nmero de concelhos sem museu e esbatimento da predominncia geogrfica dos museus na Regio de Lisboa e Vale do Tejo. Exposies temporrias surgem como oportunidades de captao e alargamento de pblicos, e como instrumento de promoo. Crescente interesse pela museologia e museografia. Projectos de investigao que renem parcerias interessantes: OAC, INE, IPM. Novos eventos: Comemoraes do Dia Internacional dos Museus e Noite dos Museus tem vindo a funcionar com grande xito. Roteiro dos Museus (120 museus da RPM). Algumas oportunidades para o sector podem resultar da dinmica de crescimento dos museus. Nova Lei Quadro dos Museus e regime de credenciao pela Rede Portuguesa de Museus tornam mais rigorosas as condies de funcionamento e qualificao dos museus portugueses (existentes e novos).
Fonte: Autora, 2007 (a partir de Fortuna, 1995; Garcia, 2003; Lima dos Santos e Oleiro, 2005; Novais, 1997; Soares Neves e Alves dos Santos, 2001 e 2006).
O trabalho coordenado por M. de Lourdes Lima dos Santos e Manuel Bairro Oleiro
(2005) apontam como uma concluso principal a situao precria dos servios educativos
dos museus portugueses, na medida em que apenas 48% dos museus nacionais possuem
servio educativo.
A partir da anlise de vrios relatrios, estudos e trabalhos realizados torna-se
evidente que existe a necessidade de uniformizao dos procedimentos metodolgicos
para a recolha e anlise comparativa dos dados em relao a vrios aspectos dos museus,
com especial destaque para os nmeros de visitantes e nmero de museus existentes.
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Alexandra Rodrigues Gonalves, Francisco Ramos & Carlos Costa O museu como plo de atraco turstica
3.2 O panorama museolgico regional
Conforme referido, este ponto reflecte uma anlise dos quatro museus da RPM no
Algarve situados em Albufeira, Faro, Portimo e Tavira (os dois primeiros so museus
fundamentalmente arqueolgicos, o Museu de Portimo baseia-se num patrimnio
industrial regional (a indstria conserveira) e pode-se classificar de sociedade, enquanto
que o Museu de Tavira ainda est a definir o programa museolgico, mas integrar
tambm vestgios arqueolgicos). Paralelamente, desenvolveram-se fichas tcnicas, com
as caractersticas descritivas desses museus.
Em trs dos quatro casos a resposta entrevista semi-estruturada foi fornecida pelo
director/a do museu, tendo no caso do Museu Municipal de Albufeira sido respondida,
por escrito, pela Vereadora da Cultura da Cmara Municipal de Albufeira. Numa anlise
emprica dos elementos que se consideram essenciais para uma abordagem dos museus
atractiva e orientada para os diferentes pblicos, gostava de salientar os seguintes
aspectos dos museus do Algarve:
1. Localizao Em muitos equipamentos a sua localizao um dos primeiros elementos a
considerar no estudo de viabilidade do projecto. No caso dos museus esse elemento pode
no se constituir como fundamental, na medida em que o que est l dentro determina-se
como um elemento principal da sua atractividade. No entanto, existem algumas questes
que se levantam. Em 3 dos 4 museus estudados teve lugar uma reabilitao de edifcios
antigos, que no caso de Faro era um antigo Convento e no caso de Tavira era um Palcio
(Albufeira, antigo edifcio civil e anteriores instalaes da Cmara), que no entanto,
permanecem com problemas de temperatura, humidades, luminosidade, limitao de
espao e condies de exposio, bem como de acessibilidade a pessoas idosas ou de
pessoas com deficincia. O caso de Portimo excepcional, pois o edifcio era uma antiga
fbrica conserveira de sardinha pertencente famlia Feu, que a autarquia adquiriu e
atravs de uma candidatura ao Programa Operacional da Cultura tornou possvel uma
renovao e readaptao total s suas novas funcionalidade de futuro Museu Municipal
de Portimo (MMP). O MMP tem uma localizao privilegiada junto ao rio, mas no
deixa de ter problemas de acessibilidade e estacionamento.
2. Coleces O Museu Municipal de Albufeira (MMA) e o de Faro (MMF) apresentam como
exposies de referncia as suas coleces permanentes de arqueologia, ainda que com
enfoque sem perodos diferentes. No caso de Tavira o projecto ainda est em construo,
ainda que tenha previsto integrar no seu plo principal uma coleco arqueolgica
(perodo Fencio e Islmico) e se aponte para um modelo polinucleado de museu.
3. Horrio Os museus municipais de Albufeira e de Faro encerram Segunda-Feira,
o de Tavira encerra ao Domingo, e o de Portimo encontra-se ainda em adaptao e
renovao, apontando como abertura ao pblico prevista para Abril de 2008. No MMF
existe uma diferenciao de horrio entre Vero e Inverno, fechando mais tarde no
perodo de Vero.
4. Sites - Em todos os casos o museu disponibiliza a sua informao institucional atravs do
site da autarquia, o que no se demonstra adequado a um pblico no residente, pois
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exedra n temtico - Turismo 2009
as pginas de Internet das autarquias encontram-se em Portugus e reflectem uma
abordagem puramente descritiva, informativa e institucional. O grafismo, os contedos,
a navegao em qualquer dos casos descurada e centrada numa funo informativa ao
pblico portugus.
5. Comunicao, Mediao e Interpretao Muito centrada nas folhas de sala, legendagem,
brochuras e edio de catlogos em todos os casos. No caso do MMP est prevista a
introduo de udio guias. Em Tavira tambm se espera poder integrar uma maior
dimenso audiovisual e meios de interactividade. No caso de Faro, uma das exposies
permanentes tem apenas uma folha de sala bilingue (Portugus/Ingls que tem que ser
devolvida sada). Existe a possibilidade de visitas guiadas com reserva antecipada, mas
mais vocacionada para grupos escolares. Em Tavira, a autarquia possui uma avena com
uma guia que leva grupos de turistas a visitar o museu e faz com eles uma visita guiada
ao espao.
6. Poltica de preos O museu de Faro apresenta uma maior diferenciao de preos, com
os tradicionais descontos para jovens e reformados, e gratuitidade para visitas escolares,
mas com a inovao de aos Sbados a entrada ser gratuita para os muncipes. Em Tavira
a entrada gratuita para os grupos escolares. Em Albufeira a entrada gratuita para todo
o visitante.
7. Sinaltica direccional m em todos os casos, sobretudo se pensarmos no turista
estrangeiro, pois encontra-se em portugus apenas. No caso de Tavira dificultada pelo
facto de aparecer o nome antigo do edifcio que Palcio Galeria sem a correspondncia
a Museu da Cidade ou Museu Municipal de Tavira. Com a aproximao pedonal ao local
tende a melhorar a sua sinalizao.
8. Comunidade No caso de Faro11, o plano de actividades anual do museu engloba um
Programa de Interveno Comunitria, com um nmero muito razovel de iniciativas
que procuram atrair a comunidade a visitar e a participar no projecto do museu e possui
um projecto de investigao intitulado: Identidade, espao e comunidade, associando
dimenso cultural e social, a noo de espao fsico (de territrio). Tambm em Tavira
est em desenvolvimento um programa especfico para levar os vizinhos do museu a
visit-lo. O MMP tem em funcionamento um laboratrio de conservao e restauro que
presta servios gratuitos comunidade.
9. Modelo de Gesto no discurso patente entre os responsveis dos museus entrevistados
parece emergir uma mudana de uma viso curatorial da gesto dos museus que se est
a orientar para uma crescente aproximao dos seus mercados, ainda que a integrao
da comunidade no projecto do museu seja nos quatro museus a preocupao principal, e
o seu marketing se traduza fundamentalmente na sua funo de comunicao e relaes
pblicas.
Quase todos os museus possuem um Conselho Cientfico, ou pelo menos um conjunto
de especialistas que contribuem para o projecto cientfico do museu (museolgico
e museogrfico). No caso de Faro, existe uma grande proximidade das associaes
do concelho nomeadamente daquelas representativas de pessoas com necessidades
especiais, que procuram integrar no seu Programa Anual de Interveno Comunitria.
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Alexandra Rodrigues Gonalves, Francisco Ramos & Carlos Costa O museu como plo de atraco turstica
Em Portimo referida a possibilidade de criar o grupo dos Amigos do Museu e em
Tavira, recusa-se a ideia da comunidade ter assento num rgo consultivo, por falta d
conhecimento para avaliar as propostas cientficas a integrar no projecto do museu,
referindo que essa participao poder acontecer noutro tipo de rgo a definir, mas
tambm em seminrios, encontros ou outro tipo de actividades em que faa sentido a
participao activa da comunidade. Em Albufeira a interaco com a comunidade faz-se
junto dos seus pblicos escolares.
3.3 Anlise crtica dos resultados da investigao
Uma anlise particular dos resultados relativos aos museus RPM do Algarve, revelava
que:
1. Todos os museus possuem uma localizao privilegiada no casco antigo das respectivas
cidades, o que resulta num contributo positivo para atraco histrica e cultural
da zona, mas como negativo tem associadas as dificuldades de acessibilidade e de
estacionamento.
2. Existe uma cumplicidade crescente entre os museus do Algarve, sobretudo ao nvel das
equipas de direco dos mesmos.
3. Todos possue
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