mulher e poder: viúva, vida cotidiana, moral e bons...
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Sobral, ano 5, v.1, n. 9, Jul/Dez 2016, p. 73-95. ISSN: 2317-2649
MULHER E PODER: viúva, vida cotidiana, moral e bons
costumes em Campanário – Ce
(1952-1974)
WOMAN AND POWER: widow, daily life, morals and
good manners in Campanário – Ce
(1952-1974)
RESUMO
O presente artigo apresenta a trajetória de vida de
Leonília Marques Veras, que foi uma mulher muito
influente na vida da população campanarense através da
igreja e de sua fazenda no local, para, assim, realizar um
estudo sobre o cotidiano das pessoas simples que viviam
na dependência social de sua família e, com este,
entender um pouco mais sobre a formação social e
organizacional da sociedade campanarense na segunda
metade do século XX, numa abordagem da micro história.
Palavras-Chaves: Estudo– Cotidiano – Sociedade - Campanarense
SUMMARY
This article has the purpose of discussing the life trajectory of Leonília Marques Veras, who was a very
influential woman in the life of the people of Campania through the church and her farm in the place,
in order to carry out a study about the daily life of Simple people who lived in the social dependence
of their family and, with this, to understand a little more about the social and organizational formation
of the Campanian society in the second half of the twentieth century.
Key-Words: Study- Daily life - Society – Campanarense.
EXPEDITO ARRUDA DE
VASCONCELOS NETO
e-vasconcelos-neto@bol.com.br
Chrislene Carvalho dos Santos
Pereira Cavalcante
INTA/UVA
Sobral, ano 5, v.1, n. 9, Jul/Dez 2016, p. 73-95. ISSN: 2317-2649
INTRODUÇÃO
A trajetória de vida do ser humano é complexa, em um cotidiano de detalhes que
fundamentam o desenvolvimento da sociedade. A História, enquanto ciência que estuda o
passado a partir do presente1 nos possibilita perceber esses detalhes através de uma dinâmica
diferente. Não mais enfatizando, exclusivamente, na apresentação dos grandes heróis, grandes
líderes ou mesmo de nomes importantes da política, como acontecia no período da escola
metódica2, ou, quando a História era entendida como ‘história-relato’3 das coisas importantes,
mas analisando todos os indivíduos envolvidos na construção da imagem pública dessas
pessoas. Segundo afirma François Dosse, “a Nova História se esconde, então, na busca das
tradições, ao valorizar o tempo que se refere às voltas e reviravoltas dos indivíduos4”.
Nessa perspectiva, com o intuito de entender a formação social e organizacional de
Campanário, distrito de Uruoca, localizado na região Noroeste do Estado do Ceará, a cerca de
300 quilômetros da capital, Fortaleza, venho por meio da produção deste trabalho realizar um
estudo sobre a trajetória de vida da senhora Leonília Marques Veras (Dona Liú) que foi uma
figura muito influente na política, na religiosidade e na organização social, nas décadas de
1950/60 e 70, a partir da capela católica e de sua fazenda no local.
Foto: Mapa do Ceará
Fonte: https://www.google.com.br/maps
1 BOSCHI, Caio César. Por que estudar História? São Paulo: Ática, 2007. 2 A escola metódica, dita positivista, fugia da análise subjetivista em nome da verdade e se utilizava apenas de
documentos oficiais para o desenvolvimento das pesquisas. Somente com a escola dos Annales tornou-se possível
a realização de pesquisas utilizando novas fontes, como a oralidade, e se tornou possível a análise de tais
documentos. 3 DOSSE, François. A história em migalhas: dos Annales a nova História. SANTOS, Dulce Amarante Oliveira
dos (Trad.). Bauru – SP: EDUSC, 2003. P. 39 4 Ibidem. p. 249.
Sobral, ano 5, v.1, n. 9, Jul/Dez 2016, p. 73-95. ISSN: 2317-2649
O presente artigo possui a finalidade de discutir sobre as relações sociais, vividas por
trabalhadores rurais e fazendeiros abastados, na gênese do distrito de Campanário, para assim
contribuir com o conhecimento histórico da formação social e urbana da sociedade
campanarense. Para isso, sabendo da amplitude da temática e das dificuldades a serem
enfrentadas, diante da promoção de um estudo tão abrangente, realizei uma pesquisa
direcionada para o conhecimento da trajetória de vida de Leonília Marques Veras, que foi uma
figura de destaque social em Campanário, Ceará, no final do século XX.
Foto: Leonília Marques Veras. (195?)
Fonte: cedida por Irisvaldo Frota Veras (neto de Leonília).
Observa-se nessa imagem que o ato de fotografar já representa uma imagem feminina do
tempo, pois ela aparece sozinha, uma senhora sem família, sem agregados, é Ela, uma mulher
dona de si. A compreensão da trajetória de vida de Dona Leonília é, uma estratégia para se
conhecer o modo de vida dos trabalhadores que a cercavam e compartilhavam de uma rede de
relações. Pois, sabendo que, “o indivíduo constrói-se socialmente, em meio às redes de
sociabilidades em que se inscreve5” e que a proposta de um relato de experiência é, na verdade,
“compreender o coletivo, expressão de uma época, de um grupo, de uma geração, de uma classe,
5 CONCEIÇÃO, Livia Beatriz da. História e Biografias: limites e possibilidades teóricas. Revista Cantareira, jul,
dez, 2011, p. 4.
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de uma narrativa comum de identidade6”. Na historiografia cearense alguns trabalhos já usam
metodologicamente essa escrita histórica, como SANTOS (2005) ao abordar a vida de Deolindo
Barreto para compreender a história política de Sobral na década de 1920.
Venho, por meio do texto que se segue, analisar de maneira menos superficial, a trajetória
de vida de Dona Leonília para entender sobre a vida dos indivíduos que eram ligados a ela. Para
uma melhor delimitação temporal dessa pesquisa, analisei os discursos dos entrevistados
baseado na ênfase do período da possível ascensão de Leonília em 1952, com a morte de seu
marido, o senhor Francisco Marques Vieira, e finalizei minhas pesquisas com a análise do seu
próprio sepultamento, em 1974, que, de fato, não significou o término de sua existência, pois
ela continua presente na memória de muitas pessoas até os dias atuais.
Para entender o contexto social em que Dona Leonília estava inserida é necessário
compreender que, Segundo Nilo Matos Cunha7 em seu trabalho monográfico intitulado
Oligarquia Rocha de Uruoca, o município de Uruoca foi controlado pela família Rocha por
quase 50 anos, período este que representa a segunda metade do século XX, com uma política
pressionadora e intimidadora. O poderio dessa oligarquia era mantido através das relações de
poder com a maioria dos fazendeiros do município. Nesse período, Leonília Marques Veras já
possuía poder político e, ao lado de seu marido, apoiava a Oligarquia Rocha, seu poder era
exercido através do controle das terras da então Fazenda da Lagoa que, posteriormente, com a
emancipação do município de Uruoca, viria a se transformar no distrito de Campanário8.
Segundo Manoel Chaves9, poeta e memorialista campanarense, após a morte de seu
marido, o senhor Francisco Marques Vieira (1892-1952) conhecido por Chico Ramos, dona
Leonília (1899-1974) desenvolveu uma intervenção mais atuante na sociedade. Ela organizou
e manteve regras de ‘moral e bons costumes', através de sua interferência social por meio da
igreja católica e de sua fazenda, para com a população que era subordinada a sua família, ou
seja, agregados, funcionários e moradores de suas terras. Entretanto, através da análise das
fontes orais, suponho que a autoridade da Sra. Leonília tenha raízes mais profundas e
consistentes mesmo antes da morte de seu marido, pois uma figura tão notável no meio social
6 ARFUCH, Leonor. Op. Cit. Rio de Janeiro: EDUERJ, 2010, P.100. 7 CUNHA, Nilo Matos. Oligarquia Rocha de Uruoca. Monografia apresentada ao curso de História da
Universidade Estadual Vale do Acaraú. 2003. 8 Diário Oficial. Lei nº 6751 de 5 de novembro de 1963. 9 Manoel Chaves. 80 anos. Entrevista realizada no dia 6 de agosto de 2015.
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não ascenderia de maneira tão repentina, com tamanho poder, sem que houvesse pré-
estabelecido esse sistema de atuação.
Partindo dessa perspectiva, pretendo refletir sobre a trajetória de vida de Dona Leonília,
porém com o objetivo de entender melhor sobre a vida cotidiana da sociedade campanarense, a
fim de promover uma reflexão sobre a vida social e individual, para a construção do
conhecimento da história de vida das pessoas simples, tecendo ‘um novo olhar sobre os
indivíduos, suas ações e posições na história10’.
A construção do presente artigo toma por base a história da Sra. Leonília porque, mesmo
inserida numa sociedade patriarcal e tendo a figura masculina como autônoma e preponderante
em relação a mulher, que foi o município de Uruoca, ela conseguiu grande visibilidade e
influência na cidade. Sua atuação como chefe de família, em meados do século XX, lhe rendeu
status e poder. O mandonismo desenvolvido por Dona Líu não é indiferente ao contexto
político que está inserida, pois o autoritarismo dos coronéis, nesse período, ainda era
contundente e promissor. Assim, ela era resultado da sociedade e do tempo em que viveu,
executando atividades cabíveis ao estilo de vida de políticos e fazendeiros de sua época.
SER VIÚVA EM TEMPOS DE CORONÉIS
Antes de adentrarmos definitivamente na temática discutida é necessário conhecer alguns
eventos que sucediam paralelamente ao poderio e a política de compromissos11, baseada num
certo cooperativismo e/ou troca de favores entre patroa e empregados numa relação de
compadrio, promovida por Leonília em Campanário, Ceará.
O coronelismo, Segundo José Murilo de Carvalho, é um sistema político, uma complexa
rede de relações que vai desde o coronel até o presidente da República, envolvendo
compromissos recíprocos’12. O poderio dos coronéis no Estado do Ceará, segundo Francisco
Josênio C. Parente, foi marcado pela atuação de forças políticas fragmentadas13. A dinâmica da
política das oligarquias cearenses, distintas das fortes oligarquias de outros estados
10 GUARINELLO, Norberto Luís. História científica, história contemporânea, história cotidiana. Rev. Bras.
Hist., vol. 24, nº.48, São Paulo, 2004. 11 JANOTTI, Maria de Lourdes Monaco. Coronelismo: uma política de compromissos. 8º ed. São Paulo:
Brasiliense, 1992. P. 8. 12 CARVALHO, José Murilo de. Mandonismo, coronelismo, clientelismo: uma discussão conceitual. In.: Revista
Brasileira de História. São Paulo: v. 40, nº. 02, 1997. Disponível em: http://www.scielo.br/ 13 Ibidem. P. 384
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nordestinos14, não permitia um fortalecimento da base do poder dos governantes no Estado.
Além disso, a própria localização geográfica e as condições climáticas (secas periódicas) não
favoreceram ao desenvolvimento de uma política mais estável.
Ainda segundo o sociólogo Francisco Josênio C. Parente, o Estado do Ceará era dividido
em três polos políticos importantes: a região do Cariri, o Norte e o Sertão Central15. Sendo que,
a região Norte era bem mais estruturada em relação ao eleitorado e a manutenção do poder. A
cidade de Granja, inserida na região Norte do Estado, possuía uma grande extensão territorial
e abarcava alguns dos municípios vizinhos, inclusive Uruoca (antigo Riachão), que estava sob
o domínio da oligarquia Rocha, sob a liderança do então deputado estadual Aniceto Rocha16 e
que se tornara chefe do executivo local em 1983.
No período que concerne ao recorte temporal desta pesquisa, ou seja de 1952 até meados
de 1974, o Estado do Ceará, a princípio, era administrado pelo governador Raul Barbosa (1951-
54)17, sendo sucedido pelo Jornalista Paulo Sarasate (1955-58)18, período este que antecede a
parceria dos coronéis Cesar Cals, Adauto Bezerra e Virgílio Távora no governo do Estado, num
momento que ficou conhecido como ‘tempo dos coronéis’ (1962-1985)19. Nessa época o Estado
passava por fortes ondas de migrações internas, para a capital e outros centros urbanos,
promovendo uma explosão da população20 nesses centros; e externas, para outros estados, como
consequência do processo de industrialização, projetado pelas elites brasileiras21 no Governo
de Vargas, que se consolidou com o espírito de modernidade22.
14 PARENTE, Francisco Josênio C. o Ceará dos coronéis (1945-1986). In: SOUZA, Simone de. Uma nova história
do Ceará. 2º ed. Fortaleza: Demócrito Rocha, 2002. Pp. 382 – 384. 15 Ibidem. 16 CUNHA, Nilo Matos. Oligarquia Rocha de Uruoca. Monografia apresentada ao curso de História da
Universidade Estadual Vale do Acaraú. 2003. 17 MOTA, Aroldo. História Política do Ceará. 1947-1966. Rio-São Paulo – Fortaleza: ABC editora, 2005. 18 Ibidem. 19 SILVEIRA, Edvanir Maia da. Três décadas de Prado e Barreto: a política municipal em Sobral do golpe militar
a nova república. Tese (doutorado) - Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Instituto de Filosofia e Ciências
Humanas. 2013. P. 109. 20 PARENTE, Francisco Josênio C. o Ceará dos coronéis (1945-1986). In: SOUZA, Simone de. Uma nova história
do Ceará. 2º ed. Fortaleza: Demócrito Rocha, 2002. P. 381. 21 GOMES, Ângela de Castro. O populismo e as ciências sociais no Brasil. Revista Tempo, Rio de Janeiro, v. 1, nº
2, 1998, pp. 31 – 58. Disponível em: http://www.historia.uff.br/tempo/artigos_dossie/artg2-2.pdf 22 ADRIAO, Maria Antonia Veiga. “Lá onde eu tava num tinha futuro”: migração sertão–cidade de Sobral 1950–
1980. AEDOS, v. 7, n. 17, 2015, p. 325
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A população pobre que sofria com a decorrência das secas migrava para os núcleos
urbanos como Fortaleza, Sobral23, Camocim24, e para outros estados como o de São Paulo.
Como afirma Maria Antonia Veiga Adrião25, esse movimento se desenvolve de diversas formas,
tanto da zona rural para a zona urbana, que é o mais comum, como ocorre o contrário, ou seja,
algumas pessoas também se destinam das cidades para o campo. A partir desse período as
migrações que ocorriam, principalmente para o sudeste26, representavam a fuga da população
que almejava uma qualidade de vida melhor e se esforçava para superar as dificuldades
econômicas.
Essas migrações ocorrem em todo o Ceará e favorecem também ao crescimento de alguns
pequenos núcleos urbanos, além da dinamização econômica provocada pela estrada de ferro,
ou melhor, pelo caminho percorrido pelo trem que não promovia apenas o trânsito de pessoas,
mas também de conceitos, costumes e/ou culturas de grande importância no desenvolvimento
da modernidade, essas migrações foram de grande valia para que pequenos distritos se
transformassem e alcançassem a categoria de município, como foi o caso de Uruoca27 em 1957.
Os dois distritos – Campanário e Paracuá – que, antes também eram adjacentes ao município
de Granja, foram subordinados ao novo município.
A emancipação política do município se iniciou em 1958, no final do mandato de
governador de Paulo Sarasate (1955 – 1958), com a eleição de Joaquim Gomes Garcez Rocha28
que foi o primeiro prefeito da cidade. Até então a cidade era governada pelos políticos29
granjenses e, principalmente, pelos grandes latifundiários30 do município que executavam as
funções de verdadeiros coronéis no sertão cearense. É nesse espaço que surge a figura de
Leonília Marques Veras com influência política no distrito de Campanário, em Uruoca - CE.
23 Ibidem. 24 SANTOS, Carlos Augusto Pereira dos. Entre o Porto e a estação: cotidiano e cultura dos trabalhadores urbanos
de Camocim-CE (1920-1970). Tese de Doutorado: Recife, 2008. 25 ADRIAO, Maria Antonia Veiga. “Lá onde eu tava num tinha futuro”: migração sertão–cidade de Sobral 1950–
1980. AEDOS, v. 7, n. 17, 2015, p. 325. 26 Ibidem. 27 Lei de emancipação nº 3.560 de 26 de março de 1957. 28 Disponível em: http://uruoca.ce.gov.br/ acessado em 28 de janeiro de 2016. 29 CUNHA, Nilo Matos. Oligarquia Rocha de Uruoca. Monografia apresentada ao curso de História da
Universidade Estadual Vale do Acaraú. 2003. 30 FONTENELE, A. Batista. A marcha do tempo: os fonteneles. Fortaleza: SENAI/CE, 2001.
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MULHER E PODER: O CASO DE LEONÍLIA EM CAMPANÁRIO
É comum, nos meios de comunicação, apresentar um coronel como um fazendeiro
rustico, autoritário, brutal, ignorante, dispondo da vida dos demais habitantes do
lugarejo em que se reside. Este é um estereótipo que vem sendo consagrado e,
comumente, ridicularizado. Mas todo estereótipo é restritivo, empobrecedor, embora
contenha um fundo de verdade.31
A figura do coronel, sempre vista como alguém de muita autoridade, respeito e domínio
social e político, era desempenhada por Leonília Marques Veras em meados da segunda metade
do século XX. O distrito de Campanário, antes fazenda da Lagoa, pertencente a família de Dona
Liú, possuía uma população essencialmente agrícola32 que explorava o manuseio de alguns
instrumentos (enxada, pá, picareto, etc) na plantação de culturas para sobreviver, estes eram, na
verdade, em sua maioria, retirantes que buscavam minimizar as consequências da seca com o
amparo de um fazendeiro/patrão que lhes dessem a garantia de sobrevivência. Pois, como
afirma Maria Ferreira, filha de retirantes, que antes de morar em Campanário residiu em outras
cidades do Ceará e, inclusive, do Estado do Maranhão,
“nós morava no Bandeira, depois nós viemo morar aqui. Me lembro que mamãe batia
o milho no pilão e depois fazia cuscuz ou pixé pra nós comer, nós era tudo pobre,
tinha muita pobreza naquele tempo, a madrinha Liú matou a fome de muita gente,
dava trabalho e terra pras pessoa fazer suas casinha33”
A população de Campanário não tinha a oportunidade de frequentar escolas. Essa
limitação e/ou a inacessibilidade de estudar em uma escola é justificada pela inexistência de
uma instituição publica no distrito, porque a primeira escola fundada no distrito (sendo esta
fundação atribuída a família de dona Leonília) só ocorreu em 1977 depois do falecimento da
viúva; além disso, também havia a impossibilidade de arcar com a manutenção dos estudos dos
filhos numa cidade grande. Apenas os grandes latifundiários, no caso, Thomaz Moreira
Fontenele e Francisco Marques Vieira, dois dos donos do território que atualmente forma o
distrito de Campanário e localidades vizinhas, enviavam seus filhos e, posteriormente, seus
netos para estudarem na capital cearense, como faziam as classes dominantes do estado no
século XIX que antes enviavam seus filhos para estudarem na Europa ou mesmo no Rio de
31 JANOTTI, Maria de Lourdes Monaco. Coronelismo: uma política de compromissos. 8º ed. São Paulo:
Brasiliense, 1992. P. 8. 32 CUNHA, Nilo Matos. Oligarquia Rocha de Uruoca. Monografia apresentada ao curso de História da
Universidade Estadual Vale do Acaraú. 2003. 33 Fontes Orais. Maria Ferreira. 79 anos. Entrevista realizada no dia 6 de agosto de 2015.
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Janeiro, a capital do império. Colégios como Lourenço Filho, Farias Brito e Nossa Senhora de
Lourdes, recebiam os filhos dessas famílias abastardas campanarenses em Fortaleza.
Segundo Irisvaldo Frota34, dona Leonília era letrada e possuía, para a época, um favorável
conhecimento sobre a língua portuguesa, matemática e, principalmente, por ser beata da igreja
católica, conhecia e estudava a doutrina eclesiástica. Não se sabe como aconteceu a instrução
de Dona Liú, entretanto algumas cadernetas35 escritas à mão contendo anotações de dados
pessoais de sua família, tais como nomes, datas de nascimento, registros administrativos da
fazenda, indicam vestígios de que a mesma possuía um distinto grau de instrução levando em
consideração o contexto social que estava inserida.
Foto: Caderneta de anotações de Leonília Veras – (1940)
Fonte: Arquivo da família Veras.
Essas cadernetas eram usadas para o registro de dados familiares. Elas possuem desde
nomes de filhos, netos, bisnetos todos com suas respectivas datas de nascimento. É o único
documento estável que nos pode inquerir um pouco sobre o conhecimento que ela possuía.
Por ser uma latifundiária do interior do Ceará, Leonília representava uma mulher fora do
padrão que a sociedade exigia, pois ao contrário do que destaca Michelle Perrot36, em que
apresenta a mulher como sendo criada para a família, com a vocação de ser dona de casa para
benefício social, ela não gostava de exercer suas funções domésticas e, de acordo com
Aparecida Veras37, neta de Dona Leonília, a mesma mantinha duas ‘ajudantes’ para cuidar da
casa e da lavagem das roupas, sendo que essa era uma prática das mulheres ricas do período,
34 Entrevistas Orais. Irisvaldo Frota. 78 anos. 7 de agosto de 2015. 35 Cadernetas de anotações de compras, datas de nascimento. 36 PERROT, Michele. Mulheres Públicas. LEAL, Roberto (Trad.) São Paulo: UNESP, 1998. P. 9. 37 Aparecida Veras. 76 anos. Entrevista realizada no dia 6 de agosto de 2015.
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pois historicamente, no Brasil, o trabalho braçal desnobrece o indivíduo. Assim, segundo o
memorialista Manoel Chaves38, “toda hora que você chegasse na casa dela (Dona Liú), de dia
ou de noite, segunda ou domingo, ela tava prontinha, capaz de ir pra missa. Ela só andava nos
‘trinco’”. O fato de Leonília se ocupar na administração da fazenda e ainda na administração
da capela católica, e, tomando por base a simplicidade e realidade social que esta estava
inserida, permitia esta visão sugerida pelo memorialista.
Na década de 1950, Francisco Marques Vieira possuía uma vasta extensão territorial em
Uruoca, pois havia comprado todas as terras de seu irmão José Marques Vieira39. Estes eram
oriundos, a princípio, da localidade do ‘Cosmo40’ vinculada a antiga vila de Martinópole
também pertencente ao município de Granja e que também foi elevada à categoria de município
em março de 1957. Chico Ramos se tornou, dentro do núcleo urbano que se formava
gradativamente, nos derredores da igreja de São Sebastião, o homem mais rico e mais influente.
Este veio a falecer em outubro de 1952, deixando para a mulher e os filhos seu legado e suas
riquezas. A partir de então se iniciava ou, talvez, se fortalecia o poderio social e político de
Leonília em Campanário.
A intervenção política das mulheres na sociedade cearense, no século XX, é uma
atividade muito mais de apoio do que de atuação efetiva e praticamente algo impensável diante
do poder das oligarquias e, consequentemente, dos coronéis41 que possuíam influência. Havia
notadamente uma preponderância masculina, pelo legado tradicional, na política do Ceará. A
política seria uma profissão de homens, como afirma Perrot42, ‘concebida e organizada no
masculino’. Apesar de que D. Leonília nunca adentrou efetivamente na política partidária, pois
nunca correspondeu a necessidade de exercer algum cargo público oficialmente, mas atuou
indiretamente a partir de seu poderio econômico. A presença forte de Leonília influenciando no
campo político correspondia a perspectiva de René Rémond43, por ser “o lugar de gestão do
social e do econômico”. Ela mantinha uma organização social com base na dependência de
terras e também na relação de compadrio que ligava os trabalhadores por um laço mais forte do
que a simples subjugação econômica. Essa relação de apadrinhamento era tão forte que, é
comumente perceptível, mesmo entre os entrevistados, o direcionamento a pessoa de dona Liú
38 Fontes Orais. Manoel Chaves. 80 anos. Entrevista realizada no dia 6 de agosto de 2015. 39 Idem. 40 Fontes Orais. Aparecida Veras. 76 anos. Entrevista realizada no dia 6 de agosto de 2015. 41 LEAL, Victor Nunes. Coronelismo, enxada e voto: o município e o regime representativo no Brasil. 2º ed. São
Paulo: Alfa-Ômega, 1975. 42 PERROT, Michele. Mulheres Públicas. LEAL, Roberto (Trad.) São Paulo: UNESP, 1998. P. 129. 43 RÉMOND, René. Por uma história política. ROCHA, Dora (Trad.)2º ed. Rio de Janeiro: FGV, 2003. P. 10
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como sendo ‘madrinha Liú’ mesmo sem possuir esse vínculo sacro selado pela igreja. Dessa
forma, essa relação era muita mais simbólica do que real. Simbolismo este que era reforçado
através da atuação de Leonília na igreja e que perdura até os dias atuais mesmo depois de mais
de quarenta anos de sua morte.
Dona Leonília desenvolveu uma espécie de regência social e, a partir desse poderio,
administrou a vida pública e privada de muitas famílias. E, apesar de dificultosa a inserção de
mulheres no meio político essa possibilidade não se tornou alheia à Leonília que, assim como
a matriarca maranhense D. Ana Jânsen Pereira44 que ainda no século XIX ‘tornou-se chefe da
facção mais influente da província do Maranhão’, ela fundamentou o seu prestígio e ascendeu
como uma figura coronelística, ainda que nas terras longínquas do sertão cearense, mas que
correspondia aos seus interesses.
Apesar de não estar inserida no organograma político oficial, primeiramente no município
de Granja e depois Uruoca, Leonília possuía forte influência diante da oligarquia Rocha45 que
viera a governar o município de Uruoca por quase 50 anos. Sua participação indireta garantia a
manutenção do poderio que possuía em Campanário e lhe rendia mais status e poder pela
estreita relação que esta possuía com os políticos. Nos anos eleitorais, ainda na sede do
município de Granja, Leonília destinava o voto de seus trabalhadores e agregadas para os
candidatos de seu interesse. “Ela recebia-os em sua casa e os apresentava para o povo, afim de
que estes percebessem a boa relação que ela possuía com as autoridades municipais”46. A
Oligarquia Rocha não possuía uma oposição forte no distrito de Campanário, mas os eleitores
do distrito proporcionavam uma força maior na disputa diante da forte oposição que possuíam
de correntes lideradas por outras famílias latifundiárias, em destaque os Valdivinos e Eduardos,
na sede do município47.
Sabendo, pois, que o poderio de Leonília estava embasado essencialmente na posse de
terras e, consequentemente, nas relações de compromissos48, fundamentados pelas trocas de
favores públicos ou privados, acredita-se que a boa convivência com o grupo político se firmava
44 JANOTTI, Maria de Lourdes Monaco. Coronelismo: uma política de compromissos. 8º ed. São Paulo:
Brasiliense, 1992. P. 25. 45 CUNHA, Nilo Matos. Oligarquia Rocha de Uruoca. Monografia apresentada ao curso de História da
Universidade Estadual Vale do Acaraú. 2003. 46 Fontes Orais. Galvanír Chaves. 86 anos. Entrevista realizada no dia 6 de agosto de 2015. 47 CUNHA, Nilo Matos. Oligarquia Rocha de Uruoca. Monografia apresentada ao curso de História da
Universidade Estadual Vale do Acaraú. 2003. 48 JANOTTI, Maria de Lourdes Monaco. Coronelismo: uma política de compromissos. 8º ed. São Paulo:
Brasiliense, 1992. P. 8.
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também como pretensão de manter a paz social e evitar problemas e intrigas familiares nas
fazendas, o que não ficou claro durante as pesquisas, mas que deixou subentendido ao se
descobrir que a mesma possuía uma guarda privada49 muito forte que, posteriormente a sua
morte, viera a ser substituída pela polícia municipal. Tal milícia seria resultado de uma medida
protetiva direcionada para conter possíveis invasões territoriais e/ou embates sociais já que o
município de Uruoca ficou conhecida como cidade violenta por causa das constantes brigas
entre muitas famílias latifundiárias50. Servia, na perspectiva de Michel Foucault51, “para manter
a disciplina”. Mantinha, principalmente, a manutenção do poder e o controle social sobre os
trabalhadores e, consequentemente, suas famílias. A milícia era a justiça na ausência do Estado.
A patente das milícias correspondia a um título de nobreza que irradia poder e
prestígio... a patente embranquece e nobilita... a organização militar constitui uma
casta privilegiada com poderes para se esquivar à justiça, a ela confiada a tarefa de
compelir os recalcitrantes.52
A milícia de Leonília tinha a função de proteger as pessoas, manter a ordem e a boa
vivência social de acordo com os interesses dela. Não se tem o conhecimento sobre a ocorrência
de mortes ou de violência exacerbada por parte da guarda privada, mas, segundo Manoel
Chaves53, a milícia era forte e atuante na sociedade. É possível que, Leonília Veras vinculada a
Oligarquia Rocha, possuía uma milícia ou Jagunços que serviria de proteção contra os
opositores da Oligarquia, pois Como afirma Antonia Milvia de Carvalho Siqueira, sabendo que
“a força política da família Rocha era baseada na violência, no mandonismo local, era a ‘ferro
e fogo’. Havia a temeridade em não obedecer e quem falasse contra a oligarquia Rocha estava
sujeito a morte54”. Assim, era necessário, tanto para apoiadores como opositores, a manutenção
de uma guarda privada que os protegesse em momentos de conflitos.
Essas ações de imposição de poder através de uma força privada não difere a família de
Leonília dos outros latifundiários do Estado, pois os grupos dominantes do campo, como afirma
Regina Ângela Landim Bruno55, possuíam dois traços marcantes: “a defesa da propriedade
como direito absoluto e a violência como prática de classe”. Isso para garantir direito da posse
49 Fontes Orais. Manoel Chaves. 80 anos. Entrevista realizada no dia 6 de agosto de 2015. 50 CUNHA, Nilo Matos. Oligarquia Rocha de Uruoca. Monografia apresentada ao curso de História da
Universidade Estadual Vale do Acaraú. 2003. 51 FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: nascimento da prisão. RAMALHETE, Raquel (Trad.). 37º ed. Petrópolis
– RJ: Vozes, 2009. P. 165. 52 FAORO, Raymundo. Os donos do poder. Porto Alegre: Globo, 1975. P. 192. 53 Fontes Orais. Manoel Chaves. 80 anos. Entrevista realizada no dia 6 de agosto de 2015. 54 SIQUEIRA, Antonia Mílvia de Carvalho. Céu e Inferno Uruoquense. Monografia apresentada ao curso de
História da Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA. 2001. P. 37. 55 BRUNO, Regina Ângela Landim. Nova República: a violência patronal rural como prática de classe. Sociologia,
Porto Alegre, ano 5, nº 10, jul/dez 2003, p. 285.
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de terras sendo de valor incontestável por ter sido adquirido com trabalho ou por herança. Essa
garantia do direito embasada no recurso da violência pode ser associada a perspectiva
apresentada por Raymundo Faoro56 do ‘rústico militarismo dos senhores territoriais’.
O distrito de Campanário, nesse período, era habitado por diversas famílias57, mas apenas
três eram os donos dos latifúndios que formavam o distrito: Thomaz Moreira Fontenele
(Thomaz Demétrio) e Maria Moreira Batista Fontenele, sendo donos da localidade do Alto
Jaraguassuí; Francisco Marques Vieira (Chico Ramos) e Leonília Marques Veras (Dona Liú),
donos da Fazenda da Lagoa (sede de Campanário), juntamente com José Marques Vieira (Zé
Ramos); e, por fim, Agostinho Rodrigues de Sousa e Francisca Rodrigues de Sousa donos da
localidade nas proximidades do rio Poção, como destaca o mapa apresentado a seguir, feito a
partir dos dados adquiridos nas entrevistas orais.
Foto: Distrito de Campanário 2016.
Fonte: Google Mapas.
Os demais habitantes de Campanário eram, em suma, trabalhadores58 que viviam em
condição de dependência à essas famílias59. Estes se dispunham ao arrendamento das terras para
conseguirem moradia e sustento. Ocorria, de fato, o que sugere Maria de Lourdes Mônaco
Janotti: “O trabalhador rural, habitante das terras do fazendeiro, entregava ao proprietário quase
a totalidade do fruto de seu labor, cabendo-lhe, apenas, o mínimo para subsistência.60”
56 FAORO, Raymundo. Os donos do poder. Porto Alegre: Globo, 1975. 57 FONTENELE, A. Batista. A marcha do tempo: os fonteneles. Fortaleza: SENAI/CE, 2001. 58 Fontes Orais. Aparecida Veras 76 anos. Entrevista realizada no dia 06 de agosto de 2015. 59 CUNHA, Nilo Matos. Oligarquia Rocha de Uruoca. Monografia apresentada ao curso de História da
Universidade Estadual Vale do Acaraú. 2003. 60 JANOTTI, Maria de Lourdes Monaco. Coronelismo: uma política de compromissos. 8º ed. São Paulo:
Brasiliense, 1992. P. 42.
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Segundo Chaves61, o fazendeiro mais rico era o Chico Ramos e, por isso, as pessoas se
destinavam a ele em busca de trabalho e proteção. O trabalhador buscava refúgio com ele na
fuga das intempéries das secas. A necessidade de proteção também emergia em virtude das
secas, porém as frequentes disputas entre as famílias abastadas uruoquenses deixava a
população atônita e temerosa, o que provocou o fortalecimento de muitos laços de fidelidade
entre os fazendeiros e peões. Com certo tempo Chico Ramos era um dos homens que possuía o
maior número de agregados e trabalhadores em suas terras. Sua família, era, pois, semelhante
“a instituição da família colonial, da casa-grande, que habitua-se a exercer um poder sobre uma
grande massa de homens, formada por um certo números de agregados e dependentes em torno
do patriarca62”.
Em virtude da entrega de quase a totalidade da produção desenvolvida na agricultura, os
trabalhadores rurais pobres em Campanário passavam por situações severas em decorrência das
secas que assolavam o Estado do Ceará, pois eles estavam em um lugar onde a assistência do
Estado não chegava63 e não existia a garantia de direitos para a população subalterna do interior
que, governado pelos latifundiários, através de concessões e/ou favores64 desenvolvendo uma
política de ajuda social às famílias fazendo a manutenção de uma estratégia de estabilidade no
poder, se tornava cada vez mais difícil a sobrevivência dessas pessoas. Então, a dependência à
Leonília era um meio de escape da miséria que assolava as famílias que habitavam a região, ao
mesmo tempo que a ‘ajuda’ de Leonília correspondia a política de compromissos65
desenvolvida por ela na sociedade. Ela (Leonília) oferecia proteção e exigia ‘adesão irrestrita’66.
Sabendo, pois, que a base das relações de trabalho entre os moradores e os proprietários
das terras, comum na paisagem sertaneja do Ceará até meados de 197067, era fixada nas relações
tradicionais de uma certa reciprocidade desigual do Paternalismo68. Os trabalhadores,
geralmente, tinham a figura do coronel como a de um pai por dar-lhes trabalho, lugar para
61 Fontes Orais. Manoel Chaves. 80 anos. Entrevista realizada no dia 6 de agosto de 2015. 62 CUBAS, Viviane de Oliveira. Segurança Privada. São Paulo: Associação Editora Humanitas, Fapesp, 2005.
P.30. 63 BARBALHO, Alexandre. Os modernos e os tradicionais: cultura política no Ceará contemporâneo. Estudos de
Sociologia, Araraquara, v.12, n.22, p.27-42, 2007. Pp. 30-31. 64 CUNHA, Nilo Matos. Oligarquia Rocha. Monografia apresentada ao curso de História da Universidade Estadual
Vale do Acaraú. 2006. 65 JANOTTI, Maria de Lourdes Monaco. Coronelismo: uma política de compromissos. 8º ed. São Paulo:
Brasiliense, 1992. P. 8 66 Ibidem. P. 57 67 PEREIRA, Francisco Ruy Gondim. Catolicismo e conflitos agrários nos sertões do Ceará (1980-1990). ANPUH
– XXV SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA – Fortaleza, 2009. 68 THOMPSON, E.P. Patrícios e Plebeus. In: Costumes em Comum. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.
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morar, sustento e proteção em tempo difíceis. Em Campanário, no caso, as relações eram
mantidas com a matriarca da família Veras que possuía as mesmas características de um coronel
e desenvolvia, praticamente, as mesmas funções na comunidade rural. As relações de trabalhos
possuíam uma manutenção de favores que correspondiam aos interesses tantos dos
trabalhadores quanto da Dona Leonília.
O poder de Leonília trata‐se, assim como no matriarcalismo69, da relação mantida entre a
elite e os subordinados, de proteção e trabalho, que notadamente a partir de concessões a
determinados grupos sociais, referentes a certas necessidades ou anseios, com o objetivo de
manutenção da hegemonia elitista, pretendendo-se evitar ou conter uma tensão social.
Nos períodos de seca a necessidade das famílias por alimentos é mais gritante e, contudo,
a situação destas, que não tinham outras rendas era vulnerável ao sistema dos latifundiários. A
década de 1950 foi muito conturbada para os agricultores por ter acontecido três períodos de
seca70 no Ceará. A primeira seca da década foi em 1951, um ano antes da morte de Chico
Ramos, sendo as outras em 1953-54 e a mais frustrante de todas que ocorreu no ano de 1958.
A família de Leonília, através dos trabalhadores arrendatários de suas terras, sempre possuíam
muitas reservas de grãos71 (feijão, arroz, milho) e não sofriam tanto com as condições
subversivas do clima. Assim, pela necessidade da manutenção dos trabalhadores e, além disso,
por possuir grandes reservas de alimentos, a Sra. Leonília sempre dividia ‘o pão de cada dia’
com as famílias pobres do distrito72. É nesse interim que Dona Leonília promove a criação de
sua imagem de ‘mulher bondosa e sempre acessível aos pobres’. Isso fazia com que as situações
de dependência das famílias rurais fossem mais consistentes e constantes. Segundo Maria
Ferreira73, ela alimentava as pessoas “porque era rica e era boa. Dava de comer a todo mundo.
Se adoecia um pobre daquele ela mandava o remédio, a comidinha dele....”. Sendo que,
exatamente por esse motivo, ela ficou conhecida como a “mãe dos pobres74”. Percebe-se, com
isso, uma maior ênfase na política de compromissos desenvolvida por Leonília, pois, de fato, o
que aconteceria se ela negasse um prato de comida aos trabalhadores pobres? Será que ela
conseguiria manter a boa relação e dependência destes indivíduos? A possibilidade é que,
69 Conceito apresentado por Marx e Engels em: ENGELS, Friedrich. A origem da família, da propriedade
privada e do Estado. Tradução de Ruth M. Klaus: 3ª. Centauro Editora, São Paulo, 2006. 70 História da Seca no Ceará. Jornal O Povo. Publicado online em 07/12/2013. Disponível em: www.opovo.com.br 71 Fontes Orais. Manoel Chaves. 80 anos. Entrevista realizada no dia 6 de agosto de 2015. 72 Idem. 73 Idem. 74 Fontes Orais. Maria Ferreira. 79 anos. Entrevista realizada no dia 06 de agosto de 2015.
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talvez, ela nem dividisse, necessariamente, seus alimentos com as famílias, mas lhes desse o
que estava sobrando.
O poder autoritário embasado nas relações de compromissos, com base na riqueza e
‘ajuda’ social que ela possuía e desenvolvia, respectivamente, certamente não se distancia da
ideia de ‘cumplicidade’, entre ela e das pessoas que estavam sujeitas a ela, como afirma Pierre
Bourdieu75: “O poder simbólico é, com efeito, esse poder invisível o qual só pode ser exercido
com a cumplicidade daqueles que não querem saber que lhe estão sujeitos ou mesmo que o
exercem”. A cumplicidade entre sujeitos para a efetividade do poder garante a distinção do
exercício desse mesmo poder. No caso de Campanário, a sujeição da sociedade a pessoa de
Dona Liú estava mais definida por uma questão de dependência social e econômica, pois as
pessoas moravam em suas ‘terras’ e eram ‘alimentadas’ por ela. A Sra. Leonília construiu a sua
imagem de ajudadora que protegia e alimentava os pobres, ao mesmo tempo em que era uma
temível senhora do sertão que controlava a vida das pessoas simples e que governava com
autoridade.
Eram exatamente os eventos cotidianos, a busca pela subsistência, as incertezas e as
necessidades das famílias, que reforçavam a condição de dependência à Leonília Marques
Veras. Essa subjugação das famílias rurais à família de latifundiários mantinha a relação
também de poder e influência social. As tradicionais formas de relações de trabalho (moradia e
parceria) eram estáveis no período em que Leonília atuou com o desenvolvimento de um poder
autoritário e prepotente.
Mais do que uma simples relação de patrão e empregado, ou mesmo de fazendeira e
peões, Leonília mantinha uma superioridade que a possibilitava uma interferência direta na vida
privada das famílias dos trabalhadores. Essa relação de respeito mantida até fora da fazenda era
afluente da atuação religiosa76 dela a frente da igreja católica no distrito, o que reforçava ainda
mais o paradoxo apresentado anteriormente.
75 BOURDIEU, Pierre. O poder simbólico. Lisboa: Difel, 1989. P. 9. 76 Fontes Orais. Galvanír Chaves. 86 anos. Entrevista realizada no dia 6 de agosto de 2015.
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Foto: Igreja São Sebastião 1940 – Campanário, Ce.
Fonte: cedida por Antônia Mundoca.
Além de possuírem grande domínio territorial, estes passaram também, a partir dos anos
de 1940, a ser promovidos como os “donos da igreja77”, o que ampliou o poderio da família por
envolver-se agora não simplesmente com as relações de trabalho, mas também com o
imaginário religioso da população. Ainda nos anos de 1939 foi iniciada as obras da Capela por
alguns dos membros da família de Tomaz Demétrio, porém, segundo Aparecida Veras78, devido
a falência do seu comércio foi transferido as obras da igreja para a responsabilidade de Chico
Ramos e Dona Leonília.
Assim, D. Leonília mantinha uma organização da comunidade a partir dos princípios
religiosos católicos. Esta, por sua vez, possuía uma estreita relação com os padres que advinham
a comunidade para celebrar as missas. Ela, guiada pelo mesmo objetivo religioso do marido,
recebia em sua casa os padres e bispos que passavam por Campanário e iam em direção a cidade
de Camocim ou Sobral. Era, pois, uma das beatas mais notáveis da igreja79.
Segundo Aparecida Veras80,
Era ela quem hospedava padres e quem viesse (da igreja) ia pra casa dela, o povo tinha
maior atenção a ela, porque mandava na igreja... aí com 22 anos depois ela morre...
ele morreu em 52 e ela morreu em 74. Isso é o que consta na igreja, pois ele e ela são
enterrados nos fundos da igreja numa capelinha, meu pai (João Veras) também foi
enterrado lá, porque ficou no lugar dela. Quando ela morreu papai ficou no lugar dela
organizando tudo.
A aplicação do termo ‘mandava na igreja’, usado pela entrevistada, não foge a lógica do
poderio exercido por Leonília no imaginário religioso. O fato de a mesma ter, juntamente com
77 Idem. 78 Fontes Orais. Aparecida Veras. 76 anos. Entrevista realizada no dia 6 de agosto de 2015. 79 Ibidem. 80 Ibidem.
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o marido, terminado a edificação da igreja lhe conferia poderes eclesiais e tornava a igreja um
lugar de domínio social. Por esse motivo, ambos os patriarcas campanarenses foram sepultados
numa capela especial edificada atrás da igreja de São Sebastião, destacando a importância
destes para a sociedade. Ainda assim, João Veras, neto do casal, com 40 anos após a morte de
sua avó, dona Leonília, no ano de 2014, foi sepultado na igreja, mesmo depois dessa prática ter
sido banida. Isso demonstra a resistência da memória do poderio de sua família na sociedade
campanarense.
A interferência na vida privada baseia-se na organização de regras de moral e bons
costumes, a partir dos princípios cristãos e que eram, necessariamente, defendidos e divulgados
pela própria igreja. A capela era, na perspectiva de François Dosse81, ‘lugar especializado na
difusão cultural’. Em Campanário, aprendia-se na missa a obedecer a Deus, a servir ao padre e,
de maneira mais simbólica, a temer a Sra. Leonília. Ela possuía o controle sobre os dois espaços
sociais mais importantes do período: a igreja e a fazenda.
A opressão desenvolvida por Leonília era destinada a todos os indivíduos que habitavam
suas terras, mas especialmente aos difusores de contendas e as prostitutas que habitavam os
derredores da localidade. Sendo acometida por um sentimento religioso profundo, em
conformidade com a doutrina cristã católica, ela defendeu um ideário feminino moralista que
inibia a interação ou convivência de mães solteiras ou prostitutas no distrito, como apresenta
Rita Lara,
Ela queria me botar pra fora daqui, porque dizia que eu era rapariga... não gostava
dela porque ela queria me botar pra fora do Campanário... agora, dos filhos dela, do
Raimundinho, do João Veras, eram gente boa. Mas dela eu não podia gostar porque
era a dona do campanário. Assim mesmo, ainda tem o nome dela, Leonília Marques
Veras, na rua que é a ponta da minha casa hoje.82
Pela grande participação de Leonília na igreja católica ou, podendo dizer, pela sua
regência eclesiástica, sendo também a igreja o único canal que vinculava o divino à
Campanário, naquele período, ela desenvolvia uma função concedida pelo próprio Deus na
perspectiva da população e, por isso, o temor exacerbado a mulher que figurou medidas
interventivas de organização social nos moldes cristãos. Assim, era praticamente indiscutível
as ações que ela desempenhasse na sociedade, pois era inviável rebater contra o próprio Deus.
81 DOSSE, François. A história em migalhas: dos Annales a nova história. SANTOS, Dulce Oliveira Amarante
dos (Trad.). Bauru – SP: EDUSC, 2003. P.266. 82 Fontes Orais. Rita Lara (nome fictício) 80 anos. Entrevista realizada no dia 6 de agosto de 2015.
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Dona Leonília tinha repulsa por mulheres que não correspondessem ao destino
matrimonial que lhes propunha a igreja católica. Ela não permitia a circulação livre das
‘mulheres da vida’ nas ruas durante o dia, como afirma Maria Ferreira,
Naquele tempo as coisas tinham mais lei... a madrinha Liú não gostava de ver mulher
da vida, ela não queria mulher da vida aqui em Campanário... de noite elas iam brincar,
mas durante o dia elas ficavam presa dentro de casa porque ela não queria ver
nenhuma no meio da rua. Elas não podiam vim pra rua porque a velha (Dona Liú) não
aceitava.83
A reclusão delas em suas próprias casas era monitorada por Leonília através de sua milícia
privada, ou seja, seus homens de confiança84. Ela, ficava no interior de sua casa apenas a
observar o fluxo de pessoas na rua. Ficava em sua janela, como afirma Perrot85, ‘protegida’ e,
assim, desenvolvia a vigilância que, como destaca Foucault86, “é decisiva para a efetivação do
poder disciplinar” (grifo do autor). A noite era entendida como sendo pertencente aos homens
e às profissionais dedicadas ao uso deles.87 Nada de puro ou de divino se faria a noite, por isso
era o único momento permitido para essas mulheres (mães solteiras, prostituas) saírem de casa.
A milícia era responsável por fazer as mulheres ‘mal faladas’ retornarem para suas casas
sem infligirem as regras de Leonília e desagradarem as moças de família e as senhoras casadas.
E, ainda, para mantê-las longe dos homens e evitar a promiscuidade. Entretanto, o
distanciamento das moças aumentava ainda mais o interesse dos homens em procura-las nas
madrugadas, principalmente no movimentado cabaré conhecido por ‘Vai quem quer’88 que
possuía as raparigas mais belas e solicitadas do distrito. Na verdade, este prostíbulo era o único
existente até então em Campanário, mas nem todas as ‘mulheres da vida’ eram, de certa forma,
filiadas a ele. O cabaré também pode ser batizado como ‘recinto das Gabrielas’ porque a dona
do prostíbulo era a madame Gabriela e todas as suas filhas, que também seguiam a mesma vida
da mãe, tinham este nome.
A nomenclatura sugestiva do cabaré nos induz a reflexão sobre os frequentadores do
prostíbulo que, certamente, não possuía distinção de classe social na recepção dos clientes.
Todos os homens desejosos de prazer fácil eram bem recebidos, contanto que levassem o mais
83 Fontes Orais. Maria Ferreira. 79 anos. Entrevista realizada no dia 6 de agosto de 2015. 84 Fontes Orais. Manoel Chaves. 80 anos. Entrevista realizada no dia 6 de agosto de 2015. 85 PERROT, Michele. Mulheres Públicas. LEAL, Roberto (Trad.) São Paulo: UNESP, 1998. P. 48. 86 FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: nascimento da prisão. RAMALHETE, Raquel (Trad.). 37º ed. Petrópolis
– RJ: Vozes, 2009. P. 169. 87 PERROT, Michele. Mulheres Públicas. LEAL, Roberto (Trad.) São Paulo: UNESP, 1998. P. 29. 88 Fontes Orais. Manoela Ribas (Nome fictício). 58 anos. Entrevista realizada no dia 20 de novembro de 2015.
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importante para a festa: o dinheiro.89 Políticos, fazendeiros e peões eram tratados com a mesma
disposição pelas donzelas que viviam desses gracejos.
A rejeição construída por Leonília à essas mulheres da vida era fundamentada,
principalmente, pela questão da honra feminina90. O objetivo dela era ‘preservar a dignidade
das famílias’ e evitar a inserção das mulheres faladas no meio das pessoas de boa índole, pois
as moças de família, se tivessem contato com essas mulheres, poderiam ter suas mentes
corrompidas e perderem sua honra diante da sociedade.91
O cabaré ‘vai quem quer’ estava localizado nas proximidades do rio Coreaú que banha
Campanário, e que foi batizado de Poção no distrito, justamente como forma de obediência à
Sra. Leonília que desejava que todas as ‘mulheres da vida’ morassem fora do perímetro urbano
do distrito. Como afirma Rita Lara,
Ela queria botar pra fora quem era rapariga, não era só eu... quem fosse rapariga era
pra tirar daqui... dizia que era pra botar todas pra rua do Poção...botar fora. Eu era da
irmandade do Coração de Jesus, aí a Galvanír era tesoureira e me tirou porque dizia
que eu era rapariga (a mandado da Dona Liú).92
Essas mulheres não eram excluídas apenas das atividades cotidianas, como comprar carne
no mercado ou óleo diesel na ‘bodega’, mas de todos os momentos incluindo as missas e festas
em clubes. Se, porventura, uma mulher ‘mal falada’ conseguisse adentrar aos recintos onde
aconteciam as festas eram expulsas imediatamente.93 Elas possuíam uma vida distante da
comunidade e só mantinham relações pessoais com os membros de suas próprias famílias. Em
virtude disso, elas mesmas realizavam suas festas na beira do rio e, de certa forma, desafiavam
o poderio de Leonília. Diversos rapazes, inclusive os filhos de Leonília94, participavam dessas
festas e se divertiam dançando com as mulheres.
O cabaré era, pois, assim como pontua François Dosse, o lugar de uma ‘cultura não
controlada’.95 Talvez fosse esse também o pensamento de Leonília em relação ao prostíbulo
que levaram-na a realizar as medidas tomadas para repressão e exclusão social das mulheres do
89 Ibidem. 90 HUNGRIA, Nelson. Comentários ao Código Penal – Decreto-lei n.º 2.848, de 07/12/1940. Rio de Janeiro:
Revista Forense, 1945. P. 33. 91 Fontes Orais. Rita Lara (nome fictício). 80 anos. Entrevista realizada no dia 6 de agosto de 2015. 92 Idem. 93 Idem. 94 Fontes Orais. Rita Lara (nome fictício). 80 anos. Entrevista realizada no dia 6 de agosto de 2015. 95 DOSSE, François. A história em migalhas: dos Annales a nova história. SANTOS, Dulce Oliveira Amarante
dos (Trad.). Bauru – SP: EDUSC, 2003. P.266.
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cabaré e das outras que seguiam a mesma vida. Mas esse trabalho não era dificultoso, pois ela
possuía o domínio sobre a capela católica do distrito que lhe dava embasamento e autoridade
para realizar a disciplina sócia.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
É sabido que o fim da trajetória de um indivíduo não necessariamente represente o fim de
sua existência, pois ainda que faleça pode se manter presente na memória das pessoas. E, a
história como mestra da vida, divulgadora de memórias, possibilita que as pessoas tenham uma
lembrança mais duradoura e mais crítica dos eventos que se sucederam no passado, através do
registro e da construção do conhecimento sobre as mesmas.
A história de Campanário, de certa forma, se confunde com a história da família de Dona
Leonília Veras, porque, como foi apresentado durante todo o artigo, eles eram os patriarcas e
dominavam a região com poder político e econômico. Através desse poder estabeleceram ‘leis
morais’ que eram seguidas pela população que vivia subjugada a essa família.
À guisa de concluir a presente pesquisa, estou satisfeito por haver coletado diversas
informações importantes, através da memória de pessoas simples, para a compreensão de um
período da história do distrito de Campanário, minha terra natal, a qual tenho grande apreço.
Pois, apesar de haver feito um estudo sobre a vida de Dona Leonília, a intencionalidade do
presente trabalho era compreender o desenvolvimento da vida cotidiana das pessoas que viviam
à sombra dela. Não quero, por meio deste, findar qualquer pesquisa que, porventura, venha a
discutir essa temática, pois sei que há muitas informações a serem descobertas que podem
favorecer a um estudo mais aprofundado sobre o tema. E, exatamente por isso, espero que o
meu trabalho sirva de estímulo para futuros historiadores campanarenses afim de que se
realizem muitos estudos sobre a vida rural e urbana, a religiosidade, a política e muitos outros
temas que ainda possam surgir ou que estejam ocultos a nossa jovem ótica dos fatos. Eis que, a
realização desta pesquisa me fez compreender que uma história nunca se finda, sempre se
transforma e que um homem nunca morre enquanto a história transcrever suas memórias através
do tempo.
Sobral, ano 5, v.1, n. 9, Jul/Dez 2016, p. 73-95. ISSN: 2317-2649
ENTREVISTAS ORAIS
APARECIDA VERAS. 76 anos. Entrevista realizada no dia 6 de agosto de 2015.
GALVANÍR CHAVES. 86 anos. Entrevista realizada no dia 6 de agosto de 2015
IRISVALDO FROTA. 78 anos. Entrevista realizada no dia 6 de agosto de 2015.
MANOEL CHAVES. 86 anos. Entrevista realizada no dia 6 de agosto de 2015.
MANOELA RIBAS (Nome fictício). 58 anos. Entrevista realizada no dia 20 de novembro de
2015.
MARIA FERREIRA. 79 anos. Entrevista realizada no dia 6 de agosto de 2015.
RITA LARA (nome fictício). 80 anos. Entrevista realizada no dia 6 de agosto de 2015.
REFERÊNCIAS
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de Sobral 1950–1980. AEDOS, v. 7, n. 17, p. 322-341.
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FJN; Ed. Massangana; São Paulo: Cortez, 2009. 340 p.
BARBALHO, Alexandre. Os modernos e os tradicionais: cultura política no Ceará
contemporâneo. Estudos de Sociologia, Araraquara, v.12, n.22, p.27-42, 2007. Pp. 30-31.
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RIBEIRO, Ana Paula Goulart; SACRAMENTO, Igor; ROXO, Marco. História da televisão no
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BRUNO, Regina Ângela Landim. Nova República: a violência patronal rural como prática de
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conceitual. Revista Brasileira de História. São Paulo: v. 40, nº. 02, 1997. Disponível em:
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CONCEIÇÃO, Livia Beatriz da. História e Biografias: limites e possibilidades teóricas.
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CUBAS, Viviane de Oliveira. Segurança Privada. São Paulo: Associação Editora Humanitas,
Fapesp, 2005. P.30.
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