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-------�-_____ _ :<cFÃTIMA DMASCARADA» JOAO ILHARCO que volve, à mistura com ·o pre- sente; ainda que em fótn1a hip- bólica e a contracoénte de res- sâncias auto-irónicas, é a me- O professor sr. Jo Ilharco, que 'rência .a tudo o que é português deve ter dedicado grande parte da o que sobrela nos _pœmas. ·Mas sua vida a documtar o livro que isto são aspectos que interessarão au de blicar sobre Fátima, ap à lusitanidade do autor, vem de arpreseii'ta. um volumt de· para quem a Ew·opa,_ se ·ão aca- פrto de trezentas páginas, volu· ba, começa pelo men·os c o seu me a que d o nome de «Fá- mundo, _o ·mundo português, atra- tima smàscarada» e o subtítulo · · vés do qual a Europa se reflecte e Verdade Histórica . Acerca de e sem o qua , I a Europa lhe pare- Fátima. umentada com Pro- ce diminuída. Outros astos ha- vas'». Obra em que pretende - verá, po r , a idenciar. plicar e expHca o que s e pass Escrevia eu, para •Aqui e Ou- com aquela comJicad a his ria tros P as», que esia descri- que intervieram Í[)ums,ras .פtiva, poesia aHiditiva, discur- s e se escreveram várias outras sividade e ,ntientropia, ex ,preso páginas, que coloca a questão polifónica, emblemática, magia, presença de factos que mais pare.' aneantização, para-ôntica, persona- cem um romance do que pràpria- lização e despersização, f mente um caso acontido, que m ologfa lírica, esia pura e uni- t em tomado uma extensa e adim- dade cósmica, o conju mágico, ravel manra e ser res o lvido. ex p loração das possibiidades s Ora o dr. João Ilharco, c este noras e associativas das paJavras, seu novo volume que me dizem já objectivação e desobjoctivação, ter esgotado e publicado ou a objectificação e desobjtifiêação, publicar nov a edição, apa·rece a go. abstracção e coneção, consonân- a com palpáveis provas do que e ia e diss ância, formalismo e afi.rma e que chega a possibilidade simJificação e lírica dinâmica, de não admitir o caso de Fátima coessionalismo e antkfessiona- e o ue em seu dor se tem vin- !ismo, humanização e desumani- do a acentuar no sen f ido de se z ação, parataxe e substaintivação, fazer o reolame ao cuJto no sítio fragmentação e tensão, forças aló- onde até um dete r minado Pa p a , gicas e ré-sen1iologia, i,ndetermi- Paulo VI, veio, com a sua psen- nação dos determinantes, simul· ça concona com o que se t . dito e redito no sentido de, afinal, neísmo, descontinuidade, mímmo não aceitar não acreditar o telegráfico, ideogrân1ica, e muito que no cam da verdade se ex- mais do que arbiràriamte se p lica como acont u. O que é ver- ci a a, - tudo tava no pœ ta dade é que o caso de Fátima que , e na Pœsia, cuando Poesia e pœ· se conta de infantil maneira, tem levado dezenas de פssoas a inven- tarem a forma de cplicarem· o que é simples, a fim de acompa- ooar, como se costuma di, -UIIII ta eram hitória. lição, eram · tem. Mais dizia que não é - . _ ta qᵫm quer, não é t a quem sabe, e que mal dos etas que não soubessem, maJ dos tas que não quisessem, - pois que pœtas somos todos nós. O r a t . das estas palav , ras de 1, acres- cidas das que inuziram o antamto presça, conti- n� váJ i das e interessa;rão, como intrução ao ta e à pœsia de «Aqui e Outros Pœmas» e de «Eu Continuo a Falar de Amor». Mas há nveniência propor mais aJgun tópicos. A exemplo, e a propósito destes livi r os, �ia fa- lar-se de lirismo antilírico, ou de antlirismo · lírico? Não se podia fouJar a sugestão de um antili- rismo? Não seria altura de se di- z mais algumas coisa, de dar- ca,r tenos? Não seria, r outro lado de chamar a atenção para a Arte Ptica que consütui o 2.º poema de «Eu Contuo a Falar de Amor», ou seja: «Este ciga r ro não é po cigarro»? S � rUHLJLAM Kt- fKtNUAS AOS LI· ·vROS Dt QUE NOS SEJAM ENVIADOS DOl� EXEMPLARES «A mu.Jher palhaço», q de Félici Roque III IIIIIIIIIIIIIIIIIIIUIIII IIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIUIHIIIIIIIIIIIHIIIIIIIIIIIIIIIUlllllllſtlllHIIIIIIIIUIUflll lll lllſt •• a água ao seu moinho. O dr. João Ifüarco usa de uma impressionan- maneira de conduzir o caso com a sua calma e s pressa demasiada, c o fim de conven· r os que ptend ouvi-lo com a prisa ate,nção e apresta r ALBERTO DURER vas que convencem os que ainda não estão convencidos. Mas, como ctuma dizer, não há mais p gosos cegos do que aqueles que não quer ver. «EU CONTINUO A FALAR DE AMOR» JOS DE MELO Ora no próprio livro vêm as pa- lavras que seguem e que as re- comendo aos leitos, visto c.ue os mas que o autor apresenta me- rem cuidado e atenção e pare- ce-me de curioso apsentar o que Jorge Daun assina nest e pequeno volume, que diz assim: E em «Continuo a Falar de Am�r», é logo o mito sebástico Hllllllll'llllllllllltltlllllllllllllllllllllllllll'llllllllllllllll PROFECIA Um a vir t chamar-me Amigo Co quem diz Perdão E eu abraçá-los-ei Como nada tives acontid o ALBERTO MARTINS RODRIGUES SLOS-ALBUNS MATERIAL FILATÉLICO LISTA DE PREÇOS GRATIS ·ELADIO DE SANTOS RUA BERNARDO LIMA, 1 . , ! elef. 4 97 25 LISBOA-1 : i. ••(Continuado da odgrna anter1011 des italianas, trouxe gran- de benefício culturaJ e artístico que veio a rtir-se na quali- dade dos seus trabalhos. regressar a Nurembga, no ano de 1495, abriu um atier e meçou a tarbalhar p conta própria, vta , ndo de novo à gra- vura. Como gravador, Dürer é consi- derado um dos maiores de tod os tems. As primeiras gravu- que o tornar conhido fo- ra para a ilustração do «Apa- lipse de S. Jo» e «Paixão». Quaisuer destas obras estão ain- da muito impregnad de medie- vismo. Mas as suas melhores gra- vuras, csideradas obras-primas da gravura aJã, são: «O Cava- leiro, a Morte e o Diabo», «S. Je- rónimo na sua cela» e «Melanc lia». Esta última é a mais origi- nal de todas as suas criações: ple- na de simbologia, acumUJ!a uma série de detalhes numa פquena superfície ( cea de 24 x 17) con- seguindo um conjunto פrfeito. «Melancolia» é uma mensagem de tristeza e de solidão pernte as limitações do conhecimento hu- mano. Diz-se que Dürer nasceu grava- dor, se é certo que nasceu grava- dor, não é menos certo que se tornou um grande pintor e um colorista de muita sensibi.Jidade, como o prova a harmonia cromá- tica dos seus óleo s e aguarelas. A motivação da sua p i ntura a ól é quase sempre de carácter religioso, c o m cepção dos auto- etratos e retratos que foi exí- mio, não só. pelo· rdismo da ima- g, como , פla פnetrao ps1e . lógica· · dos tados. Na imssihidade de far em todas as obras, aas destacare- mos três dos seus óleos mais re- presentativos, tados a rtir de 1507, da1a em que o artista regressou da sua última viagem à ltáJia: «Adão e Eva» - dum gifismo mais livre e harmonioso. Esta é a sua única · obra csidada in- teiramente moderna e que melh acusa a influência do classic i o itaJiano. «Adoração da Trindade» - retá- bulo de comsiçã o con1plexa e mui.to esdada, onde se enc- t retratado3 os notáveis de Nuremberga e o próprio Dürer. Este retábulo segundo os críticos, é um precioso resumo do talento do artista. «Os quatro Apóstolos» - termi- nados dois anos antes da morte de Dürer, mal'Cam o apogeu da sua obra e constituem um testa- mento artístico feito à sua terra natal. Graves e majestosos, mas despidos de misticismo, «Os qua- tro Aipóstolos• ilustram a Bíblia de Lutero. Completam tes pai- néis advertências contra a i , nt lerância de católicos-e reformados trnmscritas plo calígrafo Johann Neudõrffer Entre as suas últimns obras taJmbém conta o «S. Jeróni· llllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllt!IIIIIIIIIIIIIIIIIII MADRIGAL DORA ꝃRINBA ANRINHA · UEL LIX mo», oferecido פlo artista, em 1521, a um «certo Rudrigo de Por- tug» e que encont aotua- mente em Lisa, no Museu Na- cion de Arte Antiga. Em 1528 mon- Alberto Dürer, o artesão-artista que, tendo vivido na confluência de dois mundos, herdara da Idade Mêdia: a fé, o simbolismo, a preupaçã,o da morte (quase spre presente nos ss trabalhos); e da Renascença: a inquietação intelectuaJ, o i , ndi- viduaismo, o sentido crítico e das porções. Tal como Leonardo de Vinci, de quem mui se aproxima como humanista. compôs vá1ias obras teóricas, entre elas wn tratado sobre as proporções do corpo hu- mano; e ain o Leonardo de Vinci, o seu interesse pela na - ture era constante: um caran- guejo, um papagaio, uma flor, o musgo d rhedo, um camp nês, um p , ríncipe... Tudo dcre- u com o mesmo carinho e força sem discriminação de b ele za ou de importância. Este rlismo universal proxi- ma-se de um panteísmo, mas de · um panteísmo פssimista, envol- vido numa poética atoentada em que entra uma simbologia car- regada de ameaças: a mpulheta que conta o tem, a morte com a foice inevitável. É todo o peso de uma velha herança germânica que vem desde os nibelung e que, sucess.ivamente tem s i d o transportada por Di.irer. por G the, Schopenhauer, Nietzche, Wa- gner ... Com efeito. Dürer viv a R nascença, mas ficou fiel à Idade Média. Foi um artista gótico s- _cinado פla Itá.Jia, um artista, um a,rtista que procurava a eza, mas que diz ia ignorá 0 la, um--m1s_ tico que era ao mesmo tem um humanista. Destas múltiplas antinomias re . ltaram a magnífica cp]ida· de e riqueza da obra de Dürer. Nesta oca de centenários · פrbólicos e· de comoraçs tóricas, omendo ao ltor uma romag discreta ao Mus Nacional de Arte Antiga pa c· tplar a la caba de S. Je nimo, obra de um hom que tinha «mã de airtífice, ração de poeta e cérebro de filósofo». S!LVIA SOARES 111111111111111111111111111111111111111111111111111111m111111mm SOMBRA DA NOITE É um rapaz melancólico, Tem o olhar dum alcoólico, Nunca ninguém o viu rir! Passeia sempre sozinho, Parece não ter caminho E sofrer em existir! Está quase sempre a mar, Afasta-se para chorar, Olha tudo com desdém! Que triste rapaz aquele: Não be nada dele, Não quer saber de niném! Mas nta-se , todavia, Que há num a casa sombria, Uma fechada janela, E que ele, de vez em qudo, AI! fica soluçando, Toda a noite, à olhar µ'ra ela! J. MONTALBERNE Porto, 1950 ,. • (Do livro «Fumo Negro,) • -· · r J NA 8 · flµu,u+1wuuwmiUHUQUUUUUUWHMllllnu111mum111 1 - f p a t,, A 111,1111111m1W11oom,nm1+1+111111111uim11m11+,111mnm1+n111111,11111m,11111111111111111111111111, ?'UO.l971

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Page 1: ALBERTO DURERhemerotecadigital.cm-lisboa.pt/.../FatimaDesmascarada/...0008.pdf · :

-------�-�,,._, _____ _

:<cFÃTIMA DESMASCARADA»

JOAO ILHARCO

que volve, à mistura com ·o pre­sente; ainda que em fótn1a hipeir­bólica e a contracorrénte de res­sonâncias auto-irónicas, é a me-

O professor sr. João Ilharco, que 'rência .a tudo o que é português deve ter dedicado grande parte da o que sobreleva nos _poemas. ·Massua vida a documentar o livro que isto são aspectos que interessarão acabou de publicar sobre Fátima, apenas à lusitanidade do autor, vem de arpreseii'tair. um volumt de· para quem a Ew·opa,_ se ·rião aca­perto de trezentas páginas, volu· ba, começa pelo men·os com o seu me a que deu o nome de «Fá- mundo, _o ·mundo português, atra­tima Desmàscarada» e o subtítulo · · vés do qual a Europa se reflecte e.A Verdade Histórica . Acerca de e sem o qua,I a Europa lhe pare­Fátima. Documentada com Pro- ce diminuída. Outros aspectos ha­vas'». Obra em que pretende ex- verá, porém, a evidenciar. plicar e expHca o que se passou Escrevia eu, para •Aqui e Ou­com aquela com,pJicada história tros Poemas», que poesia descri­em que intervieram Í[)ums,ras .pes· tiva, poesia arrHidesoritiva, discur­soas e se escreveram várias outras sividade e ,ntientropia, ex,pressão páginas, que coloca a questão em polifónica, emblemática, magia, presença de factos que mais pare.' aneantização, para-ôntica, persona­cem um romance do que pràpria- lização e despersonaJização, feno­mente um caso acontecido, que menologfa lírica, poesia pura e uni­tem tomado uma extensa e adim- dade cósmica, o conjuro mágico, ravel maneira ele ser resolvido. exploração das possibi.Jidades so­Ora o dr. João Ilharco, com este noras e associativas das paJavras, seu novo volume que me dizem já objectivação e desobjoctivação, :se ter esgotado e publicado ou a objectificação e desobjectifiêação, publicar nova edição, apa·rece ago. abstracção e concreção, consonân­.ra com palpáveis provas do que eia e dissOl!lância, formalismo e afi.rma e que chega a possibilidade simrpJificação e lírica dinâmica, de não admitir o caso de Fátima confessionalismo e antkOtnfessiona­e o c;,ue em seu redor se tem vin- !ismo, humanização e desumani­do a acentuar no senf.ido de se zação, parataxe e substaintivação, fazer o reolame ao cuJto no sítio fragmentação e tensão, forças aló­onde até um determinado Papa, gicas e rpré-sen1iologia, i,ndetermi­Paulo VI, veio, com a sua presen- nação dos determinantes, simulu:!· ça concon:lau- com o que se tem . dito e redito no sentido de, afinal, neísmo, descontinuidade, mímmo não aceitar ou não acreditar o telegráfico, ideogrân1ica, e muito que no campo da verdade se ex- mais do que arbitiràriamente se plica como aconteceu. O que é ver- ci-ta'Va, - tudo estava no poeta dade é que o caso de Fátima que , e na Poesia, c.uando Poesia e poe·se conta de infantil maneira, tem levado dezenas de pessoas a inven­tarem a forma de complicarem· oque é simples, a fim de acompa­ooarem, como se costuma dizer,

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ta eram hii,tória. lição, eram · tempo. Mais dizia que não é poe-

. _ ta quem quer, não é J)(Jeta quemsabe, e que mal dos JX)etas que não soubessem, maJ dos poetas que não quisessem, - pois que poetas somos todos nós. Ora to­

. das estas palav,ras de 1%4, acres-cidas das que introduziram o apontamento em presença, conti­n� váJidas e interessa;rão, como introdução ao poeta e à poesia de «Aqui e Outros Poemas» e de «Eu Continuo a Falar de Amor». Mas há conveniência em propor mais aJguncs tópicos. A exemplo, e a propósito destes liviros, �eria fa­lar-se de lirismo antilírico, ou de antitlirismo · lírico? Não se poderia foninuJar a sugestão de um antili­rismo? Não seria altura de se di­zer mais algumas coisa, de demar­ca,r terrenos? Não seria, por outro lado de chamar a atenção para a Arte Poética que consütui o 2.º

poema de «Eu ContiJnuo a Falar de Amor», ou seja: «Este cigarro não é pelo cigarro»?

S-0 �J:. rUHLJLAM Kt.­ft::KtNUAS AOS LI·

·vROS Dt QUE NOS SEJAM ENVIADOS DOl� EXEMPLARES

«A mu.Jher palhaço», quadro de Féliciein Roque

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•• a água ao seu moinho. O dr. João Ifüarco usa de uma impressionan­te maneira de conduzir o caso com a sua calma e sem pressa demasiada, com o fim de conven· cer os que pretendem ouvi-lo com a precisa ate,nção e apresenta J)ro-

ALBERTO DURER vas que convencem os que ainda não estão convencidos. Mas, como se costuma dizer, não há mais pe­rigosos cegos do que aqueles que não querem ver.

«EU CONTINUO A FALAR

DE AMOR» JOSI! DE MELO

Ora no próprio livro vêm as pa­lavras que seguem e que as re­comendo aos leitores, visto c.ue os poemas que o autor apresenta me­recem cuidado e atenção e pare­ce-me de curioso apresentar o que Jorge Daun assina neste pequeno volume, que diz assim:

E em «Continuo a Falar de Am�r», é logo o mito sebástico

Hllllllll'llllllllllltltlllllllllllllllllllllllllll'llllllllllllllll

PROFECIA Um dia virão todos chamar-me Amigo Como quem diz Perdão E eu abraçá-los-ei Como se nada tivesse acontecido

ALBERTO MARTINS RODRIGUES

StiLOS-ALBUNS MATERIAL FILATÉLICO LISTA DE PREÇOS GRATIS

·ELADIO DE SANTOSRUA BERNARDO LIMA, 1:1

.,!elef. 4 97 25 LISBOA-1

: i. •

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(Continuado da odgrna anter1011

des italianas, trouxe--lhe U/lTI gran­de benefício culturaJ e artístico que veio a repercutir-se na quali­dade dos seus trabalhos.

lv:J regressar a Nuremberga, no ano de 1495, abriu um atelier e começou a tarbalha.r por conta própria, voJta,ndo de novo à gra­vura.

Como gravador, Dürer é consi­derado um dos maiores de todos os tempos. As primeiras gravu­ras que o tornaram conhecido fo­ra para a ilustração do «Apoca­lipse de S. João» e «Paixão». Quaisc,uer destas obras estão ain­da muito impregnadas de medie­vismo. Mas as suas melhores gra­vuras, consideradas obras-primas da gravura aJemã, são: «O Cava­leiro, a Morte e o Diabo», «S. Je­rónimo na sua cela» e «Melanco­lia». Esta última é a mais origi­nal de todas as suas criações: ple­na de simbologia, acumUJ!a uma série de detalhes numa pequena superfície ( cerca de 24 x 17) con­seguindo um conjunto perfeito. «Melancolia» é uma mensagem de tristeza e de solidão pera,nte as limitações do conhecimento hu­mano.

Diz-se que Dürer nasceu grava­dor, se é certo que nasceu grava­dor, não é menos certo que se tornou um grande pintor e um colorista de muita sensibi.Jidade, como o prova a harmonia cromá­tica dos seus óleos e aguarelas.

A motivação da sua pintura a óleo é quase sempre de carácter religioso, com excepção dos auto­--retratos e retratos em que foi exí­mio, não só. pelo· readismo da ima­gem, como , pela penetração ps1eo-

. lógica· · dos retratados.

Na impossihhlidade de fa:lar em todas as obras, arpeITTas destacare­mos três dos seus óleos mais re­presentativos, exeoutados a partir de 1507, da1.a em que o artista regressou da sua última viagem à ltáJia:

«Adão e Eva» - dum graifismo mais livre e harmonioso. Esta é a sua única · obra consideirada in­teiramente moderna e que melhor acusa a influência do classicismo itaJiano.

«Adoração da Trindade» - retá­bulo de composição con1plexa e mui.to estudada, onde se encon­tram retratado3 os notáveis de Nuremberga e o próprio Dürer. Este retábulo segundo os críticos, é um precioso resumo do talento do artista.

«Os quatro Apóstolos» - termi­nados dois anos antes da morte de Dürer, mal'Cam o apogeu da sua obra e constituem um testa­mento artístico feito à sua terra natal. Graves e majestosos, mas despidos de misticismo, «Os qua­tro Aipóstolos• ilustram a Bíblia de Lutero. Completam estes pai­néis advertências contra a i,nto­lerância de católicos-e reformados trnmscritas pe,lo calígrafo Johann Neudõrffer

Entre as suas últimns obras taJmbém se conta o «S. Jeróni·

llllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllt!IIIIIIIIIIIIIIIIIII

MADRIGAL

DORA OORINBA

ANDORINHA

· EMANUEL Fl!.LIX

mo», oferecido pelo artista, em 1521, a um «certo Rudrigo de Por­tugail» e que se encontra aotua,1-mente em Lisboa, no Museu Na­

cionail de Arte Antiga. Em 1528 mon-eu Alberto Dürer,

o artesão-artista que, tendo vividona confluência de dois mundos, herdara da Idade Mêdia: a fé, osimbolismo, a preocupaçã,o da morte (quase sempre presente nosseus trabalhos); e da Renascença: a inquietação intelectuaJ, o i,ndi­vidua,lismo, o sentido crítico e dasp,roporções.

Tal como Leonardo de Vinci, de quem muito se aproxima como humanista. compôs vá1ias obras teóricas, entre elas wn tratado sobre as proporções do corpo hu­mano; e ainda corno Leonardo de Vinci, o seu interesse pela na­tureza era constante: um caran­guejo, um papagaio, uma flor, o musgo durrn rochedo, um campo­nês, um p,ríncipe... Tudo descre­veu com o mesmo carinho e força sem discriminação de beleza ou de importância.

Este realismo universal a,proxi­ma-se de um panteísmo, mas de

· um panteísmo pessimista, envol­vido numa poética atormentada em que entra uma simbologia car­regada de ameaças: a a,mpulheta que conta o tempo, a morte coma foice inevitável. É todo o peso de uma velha herança germânica que vem desde os nibelungrn; eque, sucess.ivamente tem s i d o transportada por Di.irer. por Goe­the, Schopenhauer, Nietzche, Wa­gner ...

Com efeito. Dürer viveu a Re­nascença, mas ficou fiel à Idade Média. Foi um artista gótico fas­_cinado pela Itá.Jia, um artista, um a,rtista que procurava a beleza, mas que dizia ignorá0la, um--m1s_

tico que era ao mesmo tempo um humanista.

Destas múltiplas antinomias re. sultaram a magnífica comp]exida· de e riqueza da obra de Dürer.

Nesta eyoca de centenários hi· perbólicos e· de comemorações re­tóricas, eu recomendo ao leitor uma romagem discreta ao Museu Nacional de Arte Antiga para coa· ternplar a bela cabeça de S. Jeró­nimo, obra de um homem que tinha «mãos de airtífice, coração de poeta e cérebro de filósofo».

S!L VIA SOARES

111111111111111111111111111111111111111111111111111111m111111mm

SOMBRA DA NOITE É um rapaz melancólico, Tem o olhar dum alcoólico, Nunca ninguém o viu rir! Passeia sempre sozinho, Parece não ter caminho E sofrer em existir!

Está quase sempre a fumar, Afasta-se para chorar, Olha tudo com desdém! Que triste rapaz aquele: Não se sabe nada dele, Não quer saber de ninguém!

Mas conta-se , todavia, Que há numa casa sombria, Uma fechada janela, E que ele, de vez em quando, AI! fica soluçando, Toda a noite, à olhar µ'ra ela!

J. MONTALBERNE

Porto, 1950

,. • (Do livro «Fumo Negro,)

• --c· ·r AGJ NA 8· fll111111Wmuu,u111wuuwmiPIIÍÍUllllJllillllHUQUJIUIHltUUUllUP1WHMllllllllllllllnu111mum111 1-f. p o-a t.,, A 111,1111111m1W11oom,wunm111111111111111uim11m1111,111mnm111n111111,11111m,11111111111111111111111111, ?'UO.l971