a prática da psicoterapia infantil na visão de terapeutas nas seguintes abordagens - psicodrama,...

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A prática da psicoterapia infantil na visão de terapeutas nas seguintes abordagens: psicodrama, Gestalt terapia e centrada na pessoa The child psychotherapy practice according to the following approaches: psychodrama, Gestalt therapy and person- centered Maria Ivone Marchi Costa I, 1 ; Cristina Maria Souza Brito Dias II, 2 I Departamento de Psicologia, Universidade do Sagrado Coração de Bauru II Pós-Graduação em Psicologia Clínica, Universidade Católica de Pernambuco Endreço para correspondência RESUMO Este trabalho objetivou conhecer como psicoterapeutas - de psicodrama, Gestalt terapia e abordagem centrada na pessoa (dois de cada abordagem) - que trabalham com crianças experienciam sua prática cotidiana. A pesquisa qualitativa utilizou entrevistas semidirigidas para o levantamento dos dados. A análise e a discussão dos resultados basearam-se na literatura consultada e permitiram concluir que os sentimentos experimentados são a valorização do caráter preventivo do trabalho com a criança, a frustração, a solidão e a impotência quando não contam com a colaboração dos pais. Em relação aos obstáculos enfrentados, têm-se a dificuldade em obter aliança com os pais, o pequeno número de profissionais atuantes na especialidade e a escassez de pesquisas e literatura. Os recursos utilizados são a rede social da criança, brinquedos (estruturados ou não), testes e técnicas; as necessidades sentidas são a atualização constante e a troca de experiência com outros profissionais. Em relação à avaliação da especialidade, conclui-se que a atuação na área requer esforço físico, compreensão da linguagem infantil e superação das limitações da própria formação. Palavras-chave: Gestalt terapia, Psicodrama, Psicoterapeutas, Psicoterapia da criança. ABSTRACT

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A Prática Da Psicoterapia Infantil Na Visão de Terapeutas Nas Seguintes Abordagens - Psicodrama, Gestalt Terapia e Centrada Na Pessoa

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Page 1: A Prática Da Psicoterapia Infantil Na Visão de Terapeutas Nas Seguintes Abordagens - Psicodrama, Gestalt Terapia e Centrada Na Pessoa

A praacutetica da psicoterapia infantil na visatildeo de terapeutas nas seguintes abordagens psicodrama Gestalt terapia e centrada na pessoa

The child psychotherapy practice according to the following approaches psychodrama Gestalt therapy and person-

centered

Maria Ivone Marchi CostaI 1 Cristina Maria Souza Brito DiasII 2

I Departamento de Psicologia Universidade do Sagrado Coraccedilatildeo de Bauru II Poacutes-Graduaccedilatildeo em Psicologia Cliacutenica Universidade Catoacutelica de Pernambuco

Endreccedilo para correspondecircncia

RESUMO

Este trabalho objetivou conhecer como psicoterapeutas - de psicodrama Gestalt

terapia e abordagem centrada na pessoa (dois de cada abordagem) - que

trabalham com crianccedilas experienciam sua praacutetica cotidiana A pesquisa qualitativa

utilizou entrevistas semidirigidas para o levantamento dos dados A anaacutelise e a

discussatildeo dos resultados basearam-se na literatura consultada e permitiram

concluir que os sentimentos experimentados satildeo a valorizaccedilatildeo do caraacuteter

preventivo do trabalho com a crianccedila a frustraccedilatildeo a solidatildeo e a impotecircncia quando

natildeo contam com a colaboraccedilatildeo dos pais Em relaccedilatildeo aos obstaacuteculos enfrentados

tecircm-se a dificuldade em obter alianccedila com os pais o pequeno nuacutemero de

profissionais atuantes na especialidade e a escassez de pesquisas e literatura Os

recursos utilizados satildeo a rede social da crianccedila brinquedos (estruturados ou natildeo)

testes e teacutecnicas as necessidades sentidas satildeo a atualizaccedilatildeo constante e a troca de

experiecircncia com outros profissionais Em relaccedilatildeo agrave avaliaccedilatildeo da especialidade

conclui-se que a atuaccedilatildeo na aacuterea requer esforccedilo fiacutesico compreensatildeo da linguagem

infantil e superaccedilatildeo das limitaccedilotildees da proacutepria formaccedilatildeo

Palavras-chave Gestalt terapia Psicodrama Psicoterapeutas Psicoterapia da crianccedila

ABSTRACT

The present study has investigated how is the daily practice of childrens therapists

from Psychodrama Gestalt Therapy and Person-Centered (two of each approach)

Semi guided interviews had been used to the qualitative data research and the

analysis of the results were based on the adequate literature This study has

appraised consequent feelings as the childrens treatment preventive issue and the

frustration loneliness and impotence as feelings related to those cases when

parents dont want to be part of the process Also the difficulties in establishing

parents link or cooperation and lack of specialized professionals literature and

researches was considered the obstacles of these therapy approaches practices

Childrens therapy practice uses resources such as toys childrens social net tests

techniques and requires the professionals good health condition childrens

language comprehension ability and the to overcome the graduation limitations

Key words Gestalt therapy Psychodrama Psychotherapists Child psychotherapy

O psicoterapeuta infantil com orientaccedilatildeo de base humanistaexistencial tem como

meta realizar um trabalho cliacutenico no qual exercer o papel de facilitador do

autoconhecimento possibilitando agrave crianccedila vivenciar e experienciar a liberdade e o

poder de escolha por meio de espaccedilo escuta nominaccedilatildeo de seus desejos e

respeito pela sua singularidade Deve propiciar ainda o reencontro consigo mesmo

e a emergecircncia de outras possibilidades por intermeacutedio das quais possa encontrar

recursos para ressignificar o sofrimento psiacutequico denunciado ou natildeo em forma de

sintomas Essas possivelmente tenham sido as manifestaccedilotildees que motivaram a

busca geralmente dos pais ou responsaacuteveis pelos serviccedilos profissionais de um psicoterapeuta

Para o psicoterapeuta cliacutenico infantil de orientaccedilatildeo de base humanista-existencial

quase sempre satildeo inquietantes a solidatildeo de se atuar nessa especialidade e as

abordagens quando o assunto eacute troca de experiecircncia com outros profissionais da

mesma aacuterea A escassez de congressos e cursos voltados para essa praacutetica eacute

tambeacutem outra dificuldade constante a ser enfrentada Eacute possiacutevel encontrar um

certo nuacutemero de referecircncias bibliograacuteficas sobre o desenvolvimento infantil ou

teorias de personalidade psicopatologia psicomotricidade No entanto quanto a

teorias da praacutetica satildeo poucas as opccedilotildees na literatura Essa carecircncia eacute sentida

especialmente nas abordagens terapecircuticas psicodrama Gestalt terapia e centrada

na pessoa direcionadas agrave praacutetica infantil - que necessitam de atualizaccedilotildees eou

complementaccedilotildees por meio de parceria com outros autores eou busca e traduccedilotildees de textos vindos do exterior

A dificuldade de conseguir estabelecer uma alianccedila com os pais ou responsaacuteveis e

por conseguinte a sua colaboraccedilatildeo no processo terapecircutico da crianccedila tambeacutem

produz no terapeuta um sentimento de impotecircncia e solidatildeo Natildeo que o processo

somente com a crianccedila natildeo possa avanccedilar mas sem duacutevida a colaboraccedilatildeo dos pais ou responsaacuteveis aumenta as chances de aproveitamento

Diante dessas questotildees este trabalho buscou investigar junto a psicoterapeutas

que trabalham com crianccedilas com diferentes abordagens teoacutericas (psicodra-ma

Gestalt terapia e centrada na pessoa) como estaacute sendo experienciada a sua praacutetica

cotidiana sinteti-zando-a nas seguintes dimensotildees sentimentos experimentados

obstaacuteculos vivenciados recursos utilizados necessidades sentidas e avaliaccedilatildeo da

especialidade categorias que emergiram como as mais relevantes por ocasiatildeo da

anaacutelise das entrevistas

Meacutetodo

Esta pesquisa de caraacuteter qualitativo foi realizada com seis psicoterapeutas

humanistas-existenciais (psicodrama Gestalt terapia e centrada na pessoa) do

sexo feminino que trabalham com crianccedilas sendo duas de cada abordagem Com

exceccedilatildeo de uma psicoterapeuta (centrada na pessoa) que tinha 30 anos de

experiecircncia como psicoacuteloga cliacutenica infantil as demais tinham entre 10 e 18 anos de

experiecircncia Trecircs das psicoterapeutas - uma de cada abordagem - eram tambeacutem

professoras do curso de graduaccedilatildeo de psicologia e supervisoras em cliacutenica-escola

em universidades particulares Todas as terapeutas entrevistadas eram da cidade

de Recife Estado de Pernambuco A dificuldade em encontrar psicotera-peutas do

sexo masculino que atuassem na praacutetica infantil determinou que as entrevistas se

realizassem apenas com terapeutas do sexo feminino

Utilizaram-se entrevistas semidirigidas como instrumento de pesquisa por

propiciarem a emergecircncia dos conteuacutedos de forma espontacircnea singular e livre O

iniacutecio da entrevista com cada colaboradora se deu mediante a seguinte questatildeo

estimuladora Me conte sobre a sua experiecircncia de ser uma psicoacuteloga cliacutenica

infantil A pesquisadora fez ainda algumas perguntas visando agrave ampliaccedilatildeo eou agrave

compreensatildeo das respostas As entrevistas foram realizadas individual e

pessoalmente com as colaboradoras sendo gravadas em fita cassete transcritas na

iacutentegra e analisadas qualitativamente A anaacutelise e a discussatildeo dos resultados

tiveram por base a literatura consultada

Resultados e Discussatildeo

Como jaacute referido apoacutes a transcriccedilatildeo das entrevistas observou-se que as respostas

poderiam ser agrupadas em cinco temas comuns sentimentos experimentados

obstaacuteculos ou dificuldades sentidas no exerciacutecio profissional recursos utilizados

necessidades sentidas e avaliaccedilatildeo da especialidade As psicoterapeutas tambeacutem fizeram outras observaccedilotildees que foram relacionadas

Sentimentos experimentados

As psicoterapeutas relataram que trabalhar com crianccedilas eacute algo muito valioso pela

possibilidade de uma accedilatildeo precoce eou preventiva tornando-se gratificante pela

contribuiccedilatildeo que representa junto agrave crianccedila famiacutelia e sociedade A espontaneidade

da crianccedila na sua comu-nicaccedilatildeo verbal e natildeo-verbal normalmente favorece o

viacutenculo entre profissional e cliente e consequumlente-mente a evoluccedilatildeo da crianccedila no

processo terapecircutico tende a ser naturalmente mais raacutepida salvo quando a colaboraccedilatildeo da sua rede social eacute imprescindiacutevel mas inexistente

Tais resultados evidenciaram a necessidade de estabelecer uma comunicaccedilatildeo

efetiva entre terapeuta e crianccedila sendo importante a atenccedilatildeo que o profissional

deve dar agrave sua proacutepria linguagem disponibilizando-se a sair do mundo adulto e

intelectualizado para alcanccedilar o mundo luacutedico da crianccedila com todo o seu

simbolismo Conectar-se com a capacidade cognitiva da crianccedila no seu momento

evolutivo colocando-se aberto agrave gama de conteuacutedos nem sempre verbais que a

crianccedila desenvolve eacute imprescindiacutevel ao terapeuta que apenas dessa forma poderaacute

eliminar o abismo existente entre ambos muitas vezes reforccedilado ateacute pela proacutepria

diferenccedila da estrutura fiacutesica do adulto Assim sendo eacute bem possiacutevel que a crianccedila o compreenda e se sinta compreendida

Para Axline (1980b) o terapeuta deve se apresentar amigavelmente adulto e

digno trazendo agrave sala de terapia algo mais que sua presenccedila laacutepis e papel eacute

necessaacuterio que a crianccedila confie no terapeuta Segundo Oaklander (1980) o

terapeuta deve se mover junto com a crianccedila no sentido de saber quando falar e

quando permanecer em silecircncio Para Bermuacutedez (1997) a tarefa do diretor

(terapeuta) eacute a de acompanhar e seguir o protagonista (cliente) na busca de sua

verdade oferecendo-lhe para que possa encontraacute-la todos os recursos pessoais teacutecnicos e metodoloacutegicos de que dispotildee

De acordo com Grandesso (2000b) trabalhar com crianccedilas exige do terapeuta a

habilidade de aproveitar ou criar oportunidades desde o momento em que se vecirc

frente a frente com a crianccedila desenvolver uma conversaccedilatildeo em torno de seus

interesses habilidades conhecimentos e particularidades de modo que ela possa

emergir como sujeito e possa ser levada a seacuterio mesmo durante a brincadeira

Mais do que isso na visatildeo dessa autora trabalhar com a crianccedila envolve poder

falar de modo luacutedico das dificuldades mas de modo suficientemente seacuterio para

gerar alternativas de mudanccedila A autora complementa que o grande desafio para o

psicoterapeuta assim orientado estaacute em inserir-se no mundo da crianccedila deixar-se

conduzir pela curiosidade genuiacutena permitir-se admirar o material trazido por ela

usando a riqueza da imagina-ccedilatildeo infantil Enfatiza tambeacutem que embora o

psicoterapeuta tenha muitos planos e objetivos natildeo deve haver expectativas cada

sessatildeo eacute uma experiecircncia existencial o que tiver que acontecer aconteceraacute Eacute

importante manter uma atitude que sustente o potencial pleno e saudaacutevel da

crianccedila num ambiente de seguranccedila e de respeito agraves suas capacidades e sentimentos

Nesse sentido Epston (1997) considera como tarefa do psicoterapeuta assistir a

crianccedila na produccedilatildeo de conhecimento gerando suas proacuteprias soluccedilotildees Para o

autor a estranheza que tal afirmaccedilatildeo pode causar decorre do fato de

habitualmente o adulto esperar que a crianccedila o leve a seacuterio tentando trazecirc-la para

o mundo adulto em vez de consideraacute-la seriamente procurando compreender o seu

mundo

Axline (1980) em seu sexto princiacutepio psicote-raacutepico alerta sobre a

responsabilidade do psicotera-peuta quando entra no mundo da crianccedila para que

tenha o cuidado de natildeo ser invasivo de maneira que a crianccedila natildeo seja bloqueada

pela intromissatildeo de sua personalidade no momento de brincar Eacute importante estar

atento agraves suas sinalizaccedilotildees e indicaccedilotildees de caminhos ficando o terapeuta na condiccedilatildeo de acompanhaacute-la

Oaklander (1980) ratifica esse aspecto ao salientar que o psicoterapeuta tem que

ter a habilidade de natildeo ser invasor de ser leve e delicado sem ser demasiadamente passivo

Paradoxalmente a esses aspectos que tornam o trabalho valioso e gratificante

sentimentos como frustraccedilatildeo solidatildeo e impotecircncia tambeacutem acompanham a praacutetica

dessa especialidade no que se refere agrave dependecircncia que o processo psicoteraacutepico

da crianccedila tem em relaccedilatildeo aos pais ou agrave rede social Embora se encontrem pais que

cresccedilam muito com o processo e sejam exiacutemios colaboradores haacute outros que por

razotildees diversas acabam por dificultar o processo de crescimento de seus filhos

Isso deixa o profissional solitaacuterio impotente e frustrado jaacute que a crianccedila tem

pouca autonomia ou seja ela eacute dependente deles ateacute mesmo para iniciar ou

suspender o processo

Acredita-se que muito da resistecircncia principal-mente dos pais eacute decorrente da

crenccedila de que seratildeo apontados como culpados pelos problemas da crianccedila e que o

psicoterapeuta estaraacute ali desempenhando o papel de denunciador dessa culpa

crucificando-os Tais sentimentos que permeiam o imaginaacuterio dos pais

provavelmente satildeo decorrentes de praacuteticas que ainda se apoacuteiam numa visatildeo que

foca mais as deficiecircncias do que as competecircncias e que acabam por desqualificar o

saber dos pais salientando o saber do terapeuta que eacute o especialista jaacute que

estudou para isso Concorda-se com Grandesso (2000a) quando afirma que

posturas terapecircuticas respaldadas num posicionamento em que o terapeuta eacute o

expert do conhecimento contribuem para dificultar a parceria com a rede social da

crianccedila minimizando o trabalho colaborativo tornando vulneraacutevel o processo

despertando sentimentos de solidatildeo impotecircncia e frustraccedilatildeo nos terapeutas

Acredita-se que esse tipo de praacutetica acentue a dificuldade de conseguir um trabalho

colaborativo isente a famiacutelia como co-participante do processo da crianccedila

possibilitando campo feacutertil em predispocirc-la a desenvolver resistecircncias e assim

dificultar o processo de parceria Isso pode ter influecircncia na motivaccedilatildeo do

profissional inclusive desmotivando-o a continuar a se dedicar a essa especialidade Entretanto sugerem-se pesquisas futuras a esse respeito

A maturidade emocional do psicoterapeuta e a experiecircncia profissional na aacuterea satildeo

citadas - tanto pelas colaboradoras como pela literatura - como propulsora do

desenvolvimento de uma habilidade maior na articulaccedilatildeo entre teoria e praacutetica

especialmente no que concerne ao acircmbito familiar Destaque-se que isso propicia

ao profissional uma maior seguranccedila que seraacute refletida numa accedilatildeo mais efetiva na

articulaccedilatildeo e viabilizaccedilatildeo da conquista da alianccedila terapecircutica atenuando as

dificuldades quanto agrave cooperaccedilatildeo da rede social da crianccedila favorecendo uma maior efetividade nos resultados do processo

Nessa dimensatildeo ainda os psicoterapeutas tambeacutem relataram experienciar solidatildeo

profissional visto que haacute poucos terapeutas atuando na aacuterea de psicoterapia

infantil nas abordagens pesquisadas o que inviabiliza trocas de experiecircncia e

encaminhamentos

Obstaacuteculos ou dificuldades no exerciacutecio profissional

Um dos maiores obstaacuteculos apontados na praacutetica da psicoterapia infantil diz

respeito agrave dificuldade de se conseguir o apoio dos pais Aleacutem disso as participantes

acrescentaram que haacute poucos profissionais trabalhando na aacuterea e que a literatura eacute

escassa A dificuldade de se conseguir alianccedila com os pais ou outros membros

significativos da rede social da crianccedila eacute algo que se destaca na praacutetica cliacutenica

infantil Muitas vezes o progresso terapecircutico da crianccedila fica estagnado por questotildees pessoais dos pais especialmente quando natildeo aceitam ajuda

Mesmo diante desses limites quatro das psicoterapeutas afirmaram que continuam

investindo na crianccedila acreditando que de alguma forma ela seraacute beneficiada pela

terapia pois eacute melhor uma ajuda limitada do que nenhuma As demais preferem

natildeo atender a crianccedila quando natildeo tecircm o apoio dos pais principalmente se

perceberem que as dificuldades da crianccedila tecircm relaccedilatildeo direta com o contexto

familiar Acreditam que mesmo que a crianccedila esteja em psicoterapia natildeo

conseguiraacute transferir o crescimento conseguido jaacute que as forccedilas contraacuterias seratildeo

constantes e por parte de pessoas que lhe satildeo significativas Esse posicionamento

ratifica a posiccedilatildeo de Dorfman (1974) que considera que eacute demais pedir a uma

crianccedila pequena que lide sozinha com as relaccedilotildees muitas vezes inflexiacuteveis e

traumatizantes com os pais

Oaklander (1980) a esse respeito relata que eacute importante ajudar a crianccedila a fazer

as escolhas que quiser e a compreender quando elas satildeo impossiacuteveis destacando

que eacute de grande importacircncia auxiliaacute-la na compreensatildeo de que natildeo pode assumir responsabili-dades por aquilo que natildeo pode escolher

Outro obstaacuteculo vivenciado pelas terapeutas refere-se ao pequeno nuacutemero de

profissionais que atuam nessa especialidade dificultando assim uma troca muacutetua e

os encaminhamentos Logo se existem poucas pessoas trabalhando na praacutetica

cliacutenica e considerando que a teoria eacute fruto dela entatildeo satildeo tambeacutem escassas as

pesquisas bem como a literatura a respeito da praacutetica infantil nas abordagens

estudadas Esses obstaacuteculos tecircm toda uma repercussatildeo na motivaccedilatildeo das pessoas para trabalhar com crianccedilas

Recursos utilizados

Atraveacutes das falas pocircde-se distinguir dois tipos de recursos usados pelas

terapeutas a rede social da crianccedila e os recursos teacutecnicos Quanto agrave rede social as

psicoterapeutas acreditam na importacircncia da famiacutelia como recurso fundamental

para auxiliar o processo da crianccedila Entendem tambeacutem que muitas vezes a

crianccedila eacute o paciente identificado o denunciador de toda a disfuncionalidade familiar

Eacute consenso entre as terapeutas que a famiacutelia pode atuar como colaboradora e

mantenedora do sintoma da crianccedila e nesse caso colocam em duacutevida os

resultados da psicoterapia infantil quando natildeo se faz um trabalho conjunto com a

famiacutelia Todas trabalham com a rede social da crianccedila no entanto a forma de

trabalhar eacute que varia de orientaccedilatildeo Para elas a terapia deveria possibilitar aos

familiares serem atores ativos de sua histoacuteria e natildeo apenas a plateacuteia que assistiraacute e

receberaacute todas as informaccedilotildees a respeito de como recuperar as circunstacircncias que

estatildeo produzindo sofrimento O fato de natildeo se colocar como pessoas que

participam como agentes transformadores de sua proacutepria histoacuteria os isenta de uma

maior responsa-bilidade tornando a relaccedilatildeo com o psicoterapeuta e com o

processo psicoteraacutepico superficial e pouco comprometida sendo assim mais difiacutecil conquistar o crescimento

Conveacutem ressaltar que assim como Grandesso (2000b) entende-se como

imprescindiacutevel respeitar os conhecimentos dos pais da crianccedila em relaccedilatildeo ao

problema que vivem Como protagonistas da histoacuteria vivida seu conhecimento

caracteriza-se como uma espeacutecie de conhecimento a partir de dentro Os pais

por viverem com a crianccedila conhecem-na muito melhor que qualquer terapeuta

tomando como referecircncia o seu lugar como pais Comunga-se tambeacutem com tais

ideacuteias pois se entende que os pais tecircm recursos naturais na praacutetica de convivecircncia com a crianccedila que podem ser mobilizados terapeuticamente

Grandesso (2000b) considera importante que o terapeuta esteja atento quanto aos

ganhos perdas apreensotildees medos e aborrecimentos accedilotildees narrativas

organizadoras dos problemas que os membros da famiacutelia vivem que podem favorecer ou dificultar a busca de alternativas de mudanccedila

Em relaccedilatildeo aos recursos teacutecnicos de maneira geral as psicoterapeutas utilizam

brinquedos e outros recursos normais de uma sala de ludoterapia - previstos na

abordagem que tecircm como diretriz - que variam entre estruturados e natildeo estruturados sendo os uacuteltimos priorizados pelas psicoterapeutas psicodramatistas

As terapeutas tambeacutem consideram o valor de se utilizarem como recurso algumas

teacutecnicas de outras abordagens desde que com conhecimento responsa-bilidade e

concordacircncia do cliente Molina-Loza (2002) partilha essa ideacuteia considerando que

se servir de um tipo de abordagem natildeo implica necessariamente abandonar todas

as outras Para o autor uma forma de intervir que fosse igualmente vaacutelida para

todo mundo representaria um empobrecimento pois natildeo se utilizaria essa ou

aquela abordagem segundo os problemas apresentados pelos clientes mas se

adaptariam os clientes aos limites das teorias Infelizmente eacute isso que acaba

acontecendo quando se pertence a um modelo

Assim quanto agrave utilizaccedilatildeo de teacutecnicas concorda-se com os psicodramatistas

Bermuacutedez (1997) e Ferrari (1984) Oaklander (1980 1994 1999 2000) da

Gestalt terapia e Axline (1980a 1980b) da abordagem centrada na pessoa de

que a teacutecnica para a praacutetica infantil eacute necessaacuteria como instrumento mediador de

comunicaccedilatildeo mas natildeo deve ser tomada como um fim

Necessidades sentidas pelas psicoterapeutas

As psicoterapeutas entendem que aleacutem do aperfeiccediloamento permanente eacute

igualmente importan-te estarem atualizados em relaccedilatildeo ao universo infantil de

maneira geral suas brincadeiras linguagem jogos que estatildeo no mercado

literatura programas de TV muacutesicas informaacutetica vida escolar por meio de visitas

agrave escola que a crianccedila frequumlenta enfim conhecer o cotidiano dessa crianccedila no paiacutes no estado na cidade e na sua famiacutelia

Eacute ainda sentido como necessidade estarem atentos ao trabalho pessoal do

profissional por meio de psicoterapias jaacute que a sua crianccedila estaacute constante-mente

sendo acionada Revisar a praacutetica mediante supervisotildees e trocas entre profissionais

eacute tambeacutem uma necessidade Infelizmente em virtude de existirem poucos

profissionais que atuem nessa especialidade haacute dificuldade nesse sentido assim como dificuldade em encaminhamentos e indicaccedilotildees

Essa carecircncia se estende consequumlentemente para a literatura da teoria e praacutetica

dessa especialidade que eacute pouca e desatualizada Os profissionais interessa-dos

tecircm de buscar apoio em outras abordagens e fazer um esforccedilo grande de

articulaccedilatildeo para que natildeo fique fragmentada Nesse sentido Osoacuterio e Valle (2002)

fazem uma ressalva trabalhar com distintos marcos referenciais teoacutericos requer

um niacutevel de habilitaccedilatildeo ao qual soacute tecircm acesso profissionais mais experientes

Tambeacutem foi relatada uma carecircncia muito grande em relaccedilatildeo a congressos palestras e cursos voltados para a praacutetica cliacutenica infantil

Avaliaccedilatildeo da especialidade

As psicoterapeutas acreditam que a praacutetica cliacutenica infantil estaacute restrita por ser mais

difiacutecil trabalhar com a crianccedila e por exigir do profissional a compreen-satildeo da

linguagem simboacutelica manifesta pela crianccedila atraveacutes da fantasia da brincadeira

Tambeacutem foi destacado que essa praacutetica eacute altamente frustrante exigindo grande

limiar do psicoterapeuta para natildeo desistir considerando a dependecircncia que o

processo da crianccedila manteacutem em relaccedilatildeo agrave sua rede social principalmente seus

pais Portanto trabalhar com a crianccedila eacute trabalhar simultaneamente com a famiacutelia

tornandose assim uma praacutetica de grande complexidade

Tambeacutem foram feitas referecircncias agrave demanda fiacutesica que a crianccedila requer do

psicoterapeuta sendo considerado um fator que gera cansaccedilo nos psicotera-peutas

mais velhos que muitas vezes acabam por desistir de trabalhar com ela por natildeo

aguumlentarem mais abaixar levantar sentar-se no chatildeo ou ateacute pular

O sucesso do trabalho do terapeuta depende muitas vezes da

habilidadeconhecimento do profissional nesse acircmbito familiar E natildeo se sabe se os

profissionais estatildeo com formaccedilatildeo eou habilitaccedilatildeo para tais praacuteticas e consequumlentemente quais satildeo os niacuteveis de frustraccedilatildeo que tecircm vivenciado

De maneira geral segundo as participantes o proacuteprio enfoque do curso de

psicologia estaacute mais voltado ao adulto do que agrave crianccedila Num contexto mais amplo

isso repercute na formaccedilatildeo do psicoacutelogo e na escolha dos estudantes ao fazerem

sua opccedilatildeo de atuaccedilatildeo por conseguinte essa aacuterea cada vez mais tem um reduzido

nuacutemero de pessoas

Branco (1998) traz alguns questionamentos agraves universidades indagando sobre o

tipo de profissional que se quer formar no curso de psicologia se comprometido com a mudanccedila ou com a legitimaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais

Webber Botomeacute e Rebelatto (1996 p11) criticaram os curriacuteculos dos cursos de

formaccedilatildeo considerando-os mais voltados ao ensino de teacutecnicas e modelos de

atuaccedilatildeo existentes (e consagrados) do que ao desenvolvimento de atuaccedilotildees profissionais socialmente significativas

Silva (2001) afirma que atualmente se vive em busca de uma psicologia cliacutenica que

levando em conta os saberes dos quais se dispotildee efetue intervenccedilotildees nas vidas

nas relaccedilotildees nas subjetividades das pessoas sem cair em contradiccedilatildeo ou ser

rechaccedilada pelas proacuteprias criacuteticas de quem a pratica Uma cliacutenica que invente praacutexis eacuteticas e politicamente comprometidas

Segundo Bock (1997) a meta do psicoacutelogo deve ser estar sempre em movimento

Um psicoacutelogo aliado da transformaccedilatildeo do movimento da sociedade e dos

interesses da maioria da populaccedilatildeo Um psicoacutelogo inquieto conspirador que saiba

estranhar aquilo que na realidade se tornou tatildeo familiar que chega a ser pensado

como natural Um psicoacutelogo permeaacutevel agraves inovaccedilotildees que aceite o desafio de coletivamente produzir alternativas agrave psicologia tradicional

Outras observaccedilotildees

O trabalho com a crianccedila foi considerado muito importante visto que lidar

precocemente com as questotildees que trazem inquietaccedilotildees e sofrimento eacute muito mais

proveitoso do que lidar com elas quando jaacute estatildeo muito cristalizadas

As participantes avaliaram que ser psicoterapeuta eacute muito gratificante mas

tambeacutem muito difiacutecil porque o profissional eacute o proacuteprio instrumento de trabalho e

isto significa que para se oferecer um trabalho de boa qualidade eacute preciso estar

bem pessoalmente e capacitado com conhecimentos teoacuterico-teacutecnicos mediante

supervisotildees especializa-ccedilotildees e isso tudo eacute muito dispendioso financeiramente Entretanto o desafio natildeo paacutera por aiacute

Colombo (2000) considera estimulante e desafiador o fato de que o psicoterapeuta

escolhe uma atividade profissional na qual eacute chamado a utilizar como instrumento

baacutesico de trabalho o proacuteprio self Para a autora eacute inquietante saber que a maacutegica

que o terapeuta deve oferecer eacute a sua integridade aqui e agora habitar a sua

morada estar em conexatildeo consigo com a proacutepria histoacuteria crenccedilas e preconceitos

com o humano e o sagrado dentro de si Enfim trazer o que somente eacute possiacutevel na

singularidade e integridade Whitaker e Bumberry (1990) destacaram que apenas

quando se luta consigo proacuteprio eacute que se fica livre para trazer a si mesmo para o

consultoacuterio psicoteraacutepico e natildeo apenas o uniforme de terapeuta

Consideraccedilotildees Finais

Quando esta pesquisa foi iniciada uma das inquietaccedilotildees que a pautavam referia-se

agrave necessidade de se buscar recursos natildeo apenas em uma abordagem e tambeacutem

natildeo somente na psicologia Havia inicialmente uma grande convicccedilatildeo da

necessidade e importacircncia de buscar em outras aacutereas o apoio substancial para um

pleno desenvolvimento do processo terapecircutico da crianccedila Entretanto tal

convicccedilatildeo natildeo se estendia agrave busca de apoio em outras abordagens visto a

incompletude de cada teoria diante da amplitude e complexidade do ser humano -

especialmente no que se refere a uma abordagem psicoteraacutepica infantil

Incomodava a possibilidade de que colegas e comunidade cientiacutefica considerassem

tal procedimento como ecleacutetico salada embora a experiecircncia demonstrasse

que uma integraccedilatildeo cuidadosa muito poderia enriquecer a praacutetica cliacutenica

Apoacutes todo o percurso de campo e teoacuterico a necessidade de busca de apoio em

outras abordagens tambeacutem foi encontrada em algumas psicoterapeutas

colaboradoras aleacutem de ter ficado evidente na revisatildeo literaacuteria que alguns autores

compartilham essas ideacuteias A partir de entatildeo tal posicionamento tornou-se mais

confortaacutevel pois se constatou que na verdade a inquietaccedilatildeo suscita mudanccedilas e

natildeo eacute prudente fechar--se em uma soacute verdade quando haacute o comprometi-mento

com o avanccedilo da ciecircncia psicoloacutegica Hoje a ideacuteia de fixar-se a um soacute modelo jaacute

estaacute sendo superada e vista como possibilidade de ficar amarrado ao dogmatismo

de uma ou outra corrente do pensamento constituiacutedo Ficar preso a um soacute modelo eacute

demais limitante se por um lado isso possa trazer uma certa seguranccedila por

outro fica-se amarrado Essas amarras contradizem o processo de autonomia que

todo terapeuta propotildee possibilitar que o cliente encontre Se houver maior

flexibilidade eacute possiacutevel adaptar os recursos agraves necessidades dos clientes e natildeo os adaptar agrave teoria em que se acredita

No dizer de Fernando Pessoa navegar eacute preciso viver natildeo eacute preciso (precisatildeo)

Portanto diante desse viver tatildeo impreciso como eacute possiacutevel trabalhar com a

subjetividade dos clientes de forma tatildeo precisa Eacute preciso suportar as incertezas

deixar soltas as amarras das teorias que aprisionam para que se possa atuar

realmente numa postura eacutetica e esteacutetica com os clientes Acredita-se que acima da

modalidade psicoteraacutepica estaacute a eacutetica a postura do profissional diante do fazer

terapecircutico

Branco (1998) afirma que o perfil do psicoacutelogo hoje deve ser o de um profissional

criacutetico natildeo necessariamente de um especialista mas sim de um estudioso

permanente das situaccedilotildees nas quais sua praacutetica esteja implicada Um profissional

que se habitue a exercitar-se numa visatildeo complexa e que perceba as contradiccedilotildees

inerentes agrave sua praacutetica e a necessidade de refazecirc-la ajudando os grupos

indiviacuteduos e instituiccedilotildees a eliminarem os processos de desuma-nizaccedilatildeo e alienaccedilatildeo responsaacuteveis pelo sofrimento psiacutequico

A formaccedilatildeo do psicoacutelogo precisa possibilitar o engajamento do futuro profissional

na sociedade aleacutem de reelaborar o conhecimento constituiacutedo Natildeo se deve com

isso eliminar as diferenccedilas teoacutericas e metodo-loacutegicas apesar das finalidades

comuns O trabalho acadecircmico coletivo deve explicitar e aprofundar as

divergecircncias Aleacutem disso a exigecircncia por uma articulaccedilatildeo entre teoria e praacutetica natildeo

poderaacute significar ativismo que diminua o estudo das teorias Eacute preciso pois

abarcar de forma profunda todas as matrizes do pensamento psicoloacutegico em uma

dinacircmica de trabalho que permita o confronto de pontos de vista e projetos que reuacutenam vaacuterios campos do saber

Para isso eacute preciso estar atento agraves poliacuteticas acadecircmicas que priorizam

determinadas abordagens normalmente uma ou outra dentre as mais consa-

gradas fechando o aluno em algumas verdades em termos teoacutericos e praacuteticos

atraveacutes dos estaacutegios e da pesquisa impossibilitando-o de ter acesso a uma visatildeo

mais global e com praacuteticas comprometidas com o avanccedilo da ciecircncia psicoloacutegica

Para que ratificando o pensamento de Bock (1997) seja possiacutevel formar

profissionais criacuteticos inquietos permeaacuteveis agraves inovaccedilotildees e que aceitem o desafio

de coletivamente produzir alternativas agrave psicologia tradicional tudo isto aliado agrave

transformaccedilatildeo ao movimento da sociedade e aos interesses da maioria da

populaccedilatildeo haacute de se olhar criticamente a proacutepria atuaccedilatildeo como cliacutenicos e docentes

avaliando se a postura estaacute sendo coerente com o avanccedilo da ciecircncia psicoloacutegica ou de especialista de conhecimento fechado numa soacute verdade

Entende-se que atraveacutes do percurso percorrido na elaboraccedilatildeo desse estudo seja

possiacutevel com base em abordagens tradicionais promover reflexotildees que

possibilitem avaliaacute-las de forma respeitosa pelas valiosas contribuiccedilotildees que

oferecem agrave praacutetica cliacutenica poreacutem sem esquecer que satildeo algumas possibilidades

dentro de um leque de opccedilotildees Natildeo se pode portanto fechar-se nessas verdades e

tambeacutem natildeo se pode deixar de consideraacute-las como uacuteteis e eficazes mesmo diante

do avanccedilo da ciecircncia

Embora este estudo tenha partido das praacuteticas tradicionais natildeo se restringiu a

apenas uma abordagem e tambeacutem possibilitou algumas reflexotildees para aleacutem delas

atraveacutes dos temas emergentes nas entrevistas No entanto fica a contribuiccedilatildeo para

futuras pesquisas e tambeacutem a reflexatildeo de que as praacuteticas tradicionais satildeo muito

importantes mesmo com todo avanccedilo da psicologia Mas como cliacutenicos e docentes

formadores de psicoacutelogos eacute necessaacuteria uma certa permeabilidade que possibilite

criacutetica e flexibilidade para acompanhar a evoluccedilatildeo e exercer uma praacutetica para aleacutem do instituiacutedo a serviccedilo da humanizaccedilatildeo e desalienaccedilatildeo

Vale ressaltar tambeacutem a localidade onde essa pesquisa foi realizada - realidade

Pernambucana ficando tambeacutem a sugestatildeo para futuras pesquisas em outras regiotildees brasileiras

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Endereccedilo para correspondecircncia

Maria Ivone Marchi Costa

Rua Irmatilde Arminda 10-50

7044-160 Bauru SP Brasil E-mailmarchicostatravelnetcombr

Recebido para publicaccedilatildeo em 23 marccedilo de 2004 Aceito em 21 de junho de 2004

1 Departamento de Psicologia Universidade do Sagrado Coraccedilatildeo de Bauru Bauru

SP Brasil 2 Poacutes-Graduaccedilatildeo em Psicologia Cliacutenica Universidade Catoacutelica de Pernambuco Recife PE Brasil

Page 2: A Prática Da Psicoterapia Infantil Na Visão de Terapeutas Nas Seguintes Abordagens - Psicodrama, Gestalt Terapia e Centrada Na Pessoa

The present study has investigated how is the daily practice of childrens therapists

from Psychodrama Gestalt Therapy and Person-Centered (two of each approach)

Semi guided interviews had been used to the qualitative data research and the

analysis of the results were based on the adequate literature This study has

appraised consequent feelings as the childrens treatment preventive issue and the

frustration loneliness and impotence as feelings related to those cases when

parents dont want to be part of the process Also the difficulties in establishing

parents link or cooperation and lack of specialized professionals literature and

researches was considered the obstacles of these therapy approaches practices

Childrens therapy practice uses resources such as toys childrens social net tests

techniques and requires the professionals good health condition childrens

language comprehension ability and the to overcome the graduation limitations

Key words Gestalt therapy Psychodrama Psychotherapists Child psychotherapy

O psicoterapeuta infantil com orientaccedilatildeo de base humanistaexistencial tem como

meta realizar um trabalho cliacutenico no qual exercer o papel de facilitador do

autoconhecimento possibilitando agrave crianccedila vivenciar e experienciar a liberdade e o

poder de escolha por meio de espaccedilo escuta nominaccedilatildeo de seus desejos e

respeito pela sua singularidade Deve propiciar ainda o reencontro consigo mesmo

e a emergecircncia de outras possibilidades por intermeacutedio das quais possa encontrar

recursos para ressignificar o sofrimento psiacutequico denunciado ou natildeo em forma de

sintomas Essas possivelmente tenham sido as manifestaccedilotildees que motivaram a

busca geralmente dos pais ou responsaacuteveis pelos serviccedilos profissionais de um psicoterapeuta

Para o psicoterapeuta cliacutenico infantil de orientaccedilatildeo de base humanista-existencial

quase sempre satildeo inquietantes a solidatildeo de se atuar nessa especialidade e as

abordagens quando o assunto eacute troca de experiecircncia com outros profissionais da

mesma aacuterea A escassez de congressos e cursos voltados para essa praacutetica eacute

tambeacutem outra dificuldade constante a ser enfrentada Eacute possiacutevel encontrar um

certo nuacutemero de referecircncias bibliograacuteficas sobre o desenvolvimento infantil ou

teorias de personalidade psicopatologia psicomotricidade No entanto quanto a

teorias da praacutetica satildeo poucas as opccedilotildees na literatura Essa carecircncia eacute sentida

especialmente nas abordagens terapecircuticas psicodrama Gestalt terapia e centrada

na pessoa direcionadas agrave praacutetica infantil - que necessitam de atualizaccedilotildees eou

complementaccedilotildees por meio de parceria com outros autores eou busca e traduccedilotildees de textos vindos do exterior

A dificuldade de conseguir estabelecer uma alianccedila com os pais ou responsaacuteveis e

por conseguinte a sua colaboraccedilatildeo no processo terapecircutico da crianccedila tambeacutem

produz no terapeuta um sentimento de impotecircncia e solidatildeo Natildeo que o processo

somente com a crianccedila natildeo possa avanccedilar mas sem duacutevida a colaboraccedilatildeo dos pais ou responsaacuteveis aumenta as chances de aproveitamento

Diante dessas questotildees este trabalho buscou investigar junto a psicoterapeutas

que trabalham com crianccedilas com diferentes abordagens teoacutericas (psicodra-ma

Gestalt terapia e centrada na pessoa) como estaacute sendo experienciada a sua praacutetica

cotidiana sinteti-zando-a nas seguintes dimensotildees sentimentos experimentados

obstaacuteculos vivenciados recursos utilizados necessidades sentidas e avaliaccedilatildeo da

especialidade categorias que emergiram como as mais relevantes por ocasiatildeo da

anaacutelise das entrevistas

Meacutetodo

Esta pesquisa de caraacuteter qualitativo foi realizada com seis psicoterapeutas

humanistas-existenciais (psicodrama Gestalt terapia e centrada na pessoa) do

sexo feminino que trabalham com crianccedilas sendo duas de cada abordagem Com

exceccedilatildeo de uma psicoterapeuta (centrada na pessoa) que tinha 30 anos de

experiecircncia como psicoacuteloga cliacutenica infantil as demais tinham entre 10 e 18 anos de

experiecircncia Trecircs das psicoterapeutas - uma de cada abordagem - eram tambeacutem

professoras do curso de graduaccedilatildeo de psicologia e supervisoras em cliacutenica-escola

em universidades particulares Todas as terapeutas entrevistadas eram da cidade

de Recife Estado de Pernambuco A dificuldade em encontrar psicotera-peutas do

sexo masculino que atuassem na praacutetica infantil determinou que as entrevistas se

realizassem apenas com terapeutas do sexo feminino

Utilizaram-se entrevistas semidirigidas como instrumento de pesquisa por

propiciarem a emergecircncia dos conteuacutedos de forma espontacircnea singular e livre O

iniacutecio da entrevista com cada colaboradora se deu mediante a seguinte questatildeo

estimuladora Me conte sobre a sua experiecircncia de ser uma psicoacuteloga cliacutenica

infantil A pesquisadora fez ainda algumas perguntas visando agrave ampliaccedilatildeo eou agrave

compreensatildeo das respostas As entrevistas foram realizadas individual e

pessoalmente com as colaboradoras sendo gravadas em fita cassete transcritas na

iacutentegra e analisadas qualitativamente A anaacutelise e a discussatildeo dos resultados

tiveram por base a literatura consultada

Resultados e Discussatildeo

Como jaacute referido apoacutes a transcriccedilatildeo das entrevistas observou-se que as respostas

poderiam ser agrupadas em cinco temas comuns sentimentos experimentados

obstaacuteculos ou dificuldades sentidas no exerciacutecio profissional recursos utilizados

necessidades sentidas e avaliaccedilatildeo da especialidade As psicoterapeutas tambeacutem fizeram outras observaccedilotildees que foram relacionadas

Sentimentos experimentados

As psicoterapeutas relataram que trabalhar com crianccedilas eacute algo muito valioso pela

possibilidade de uma accedilatildeo precoce eou preventiva tornando-se gratificante pela

contribuiccedilatildeo que representa junto agrave crianccedila famiacutelia e sociedade A espontaneidade

da crianccedila na sua comu-nicaccedilatildeo verbal e natildeo-verbal normalmente favorece o

viacutenculo entre profissional e cliente e consequumlente-mente a evoluccedilatildeo da crianccedila no

processo terapecircutico tende a ser naturalmente mais raacutepida salvo quando a colaboraccedilatildeo da sua rede social eacute imprescindiacutevel mas inexistente

Tais resultados evidenciaram a necessidade de estabelecer uma comunicaccedilatildeo

efetiva entre terapeuta e crianccedila sendo importante a atenccedilatildeo que o profissional

deve dar agrave sua proacutepria linguagem disponibilizando-se a sair do mundo adulto e

intelectualizado para alcanccedilar o mundo luacutedico da crianccedila com todo o seu

simbolismo Conectar-se com a capacidade cognitiva da crianccedila no seu momento

evolutivo colocando-se aberto agrave gama de conteuacutedos nem sempre verbais que a

crianccedila desenvolve eacute imprescindiacutevel ao terapeuta que apenas dessa forma poderaacute

eliminar o abismo existente entre ambos muitas vezes reforccedilado ateacute pela proacutepria

diferenccedila da estrutura fiacutesica do adulto Assim sendo eacute bem possiacutevel que a crianccedila o compreenda e se sinta compreendida

Para Axline (1980b) o terapeuta deve se apresentar amigavelmente adulto e

digno trazendo agrave sala de terapia algo mais que sua presenccedila laacutepis e papel eacute

necessaacuterio que a crianccedila confie no terapeuta Segundo Oaklander (1980) o

terapeuta deve se mover junto com a crianccedila no sentido de saber quando falar e

quando permanecer em silecircncio Para Bermuacutedez (1997) a tarefa do diretor

(terapeuta) eacute a de acompanhar e seguir o protagonista (cliente) na busca de sua

verdade oferecendo-lhe para que possa encontraacute-la todos os recursos pessoais teacutecnicos e metodoloacutegicos de que dispotildee

De acordo com Grandesso (2000b) trabalhar com crianccedilas exige do terapeuta a

habilidade de aproveitar ou criar oportunidades desde o momento em que se vecirc

frente a frente com a crianccedila desenvolver uma conversaccedilatildeo em torno de seus

interesses habilidades conhecimentos e particularidades de modo que ela possa

emergir como sujeito e possa ser levada a seacuterio mesmo durante a brincadeira

Mais do que isso na visatildeo dessa autora trabalhar com a crianccedila envolve poder

falar de modo luacutedico das dificuldades mas de modo suficientemente seacuterio para

gerar alternativas de mudanccedila A autora complementa que o grande desafio para o

psicoterapeuta assim orientado estaacute em inserir-se no mundo da crianccedila deixar-se

conduzir pela curiosidade genuiacutena permitir-se admirar o material trazido por ela

usando a riqueza da imagina-ccedilatildeo infantil Enfatiza tambeacutem que embora o

psicoterapeuta tenha muitos planos e objetivos natildeo deve haver expectativas cada

sessatildeo eacute uma experiecircncia existencial o que tiver que acontecer aconteceraacute Eacute

importante manter uma atitude que sustente o potencial pleno e saudaacutevel da

crianccedila num ambiente de seguranccedila e de respeito agraves suas capacidades e sentimentos

Nesse sentido Epston (1997) considera como tarefa do psicoterapeuta assistir a

crianccedila na produccedilatildeo de conhecimento gerando suas proacuteprias soluccedilotildees Para o

autor a estranheza que tal afirmaccedilatildeo pode causar decorre do fato de

habitualmente o adulto esperar que a crianccedila o leve a seacuterio tentando trazecirc-la para

o mundo adulto em vez de consideraacute-la seriamente procurando compreender o seu

mundo

Axline (1980) em seu sexto princiacutepio psicote-raacutepico alerta sobre a

responsabilidade do psicotera-peuta quando entra no mundo da crianccedila para que

tenha o cuidado de natildeo ser invasivo de maneira que a crianccedila natildeo seja bloqueada

pela intromissatildeo de sua personalidade no momento de brincar Eacute importante estar

atento agraves suas sinalizaccedilotildees e indicaccedilotildees de caminhos ficando o terapeuta na condiccedilatildeo de acompanhaacute-la

Oaklander (1980) ratifica esse aspecto ao salientar que o psicoterapeuta tem que

ter a habilidade de natildeo ser invasor de ser leve e delicado sem ser demasiadamente passivo

Paradoxalmente a esses aspectos que tornam o trabalho valioso e gratificante

sentimentos como frustraccedilatildeo solidatildeo e impotecircncia tambeacutem acompanham a praacutetica

dessa especialidade no que se refere agrave dependecircncia que o processo psicoteraacutepico

da crianccedila tem em relaccedilatildeo aos pais ou agrave rede social Embora se encontrem pais que

cresccedilam muito com o processo e sejam exiacutemios colaboradores haacute outros que por

razotildees diversas acabam por dificultar o processo de crescimento de seus filhos

Isso deixa o profissional solitaacuterio impotente e frustrado jaacute que a crianccedila tem

pouca autonomia ou seja ela eacute dependente deles ateacute mesmo para iniciar ou

suspender o processo

Acredita-se que muito da resistecircncia principal-mente dos pais eacute decorrente da

crenccedila de que seratildeo apontados como culpados pelos problemas da crianccedila e que o

psicoterapeuta estaraacute ali desempenhando o papel de denunciador dessa culpa

crucificando-os Tais sentimentos que permeiam o imaginaacuterio dos pais

provavelmente satildeo decorrentes de praacuteticas que ainda se apoacuteiam numa visatildeo que

foca mais as deficiecircncias do que as competecircncias e que acabam por desqualificar o

saber dos pais salientando o saber do terapeuta que eacute o especialista jaacute que

estudou para isso Concorda-se com Grandesso (2000a) quando afirma que

posturas terapecircuticas respaldadas num posicionamento em que o terapeuta eacute o

expert do conhecimento contribuem para dificultar a parceria com a rede social da

crianccedila minimizando o trabalho colaborativo tornando vulneraacutevel o processo

despertando sentimentos de solidatildeo impotecircncia e frustraccedilatildeo nos terapeutas

Acredita-se que esse tipo de praacutetica acentue a dificuldade de conseguir um trabalho

colaborativo isente a famiacutelia como co-participante do processo da crianccedila

possibilitando campo feacutertil em predispocirc-la a desenvolver resistecircncias e assim

dificultar o processo de parceria Isso pode ter influecircncia na motivaccedilatildeo do

profissional inclusive desmotivando-o a continuar a se dedicar a essa especialidade Entretanto sugerem-se pesquisas futuras a esse respeito

A maturidade emocional do psicoterapeuta e a experiecircncia profissional na aacuterea satildeo

citadas - tanto pelas colaboradoras como pela literatura - como propulsora do

desenvolvimento de uma habilidade maior na articulaccedilatildeo entre teoria e praacutetica

especialmente no que concerne ao acircmbito familiar Destaque-se que isso propicia

ao profissional uma maior seguranccedila que seraacute refletida numa accedilatildeo mais efetiva na

articulaccedilatildeo e viabilizaccedilatildeo da conquista da alianccedila terapecircutica atenuando as

dificuldades quanto agrave cooperaccedilatildeo da rede social da crianccedila favorecendo uma maior efetividade nos resultados do processo

Nessa dimensatildeo ainda os psicoterapeutas tambeacutem relataram experienciar solidatildeo

profissional visto que haacute poucos terapeutas atuando na aacuterea de psicoterapia

infantil nas abordagens pesquisadas o que inviabiliza trocas de experiecircncia e

encaminhamentos

Obstaacuteculos ou dificuldades no exerciacutecio profissional

Um dos maiores obstaacuteculos apontados na praacutetica da psicoterapia infantil diz

respeito agrave dificuldade de se conseguir o apoio dos pais Aleacutem disso as participantes

acrescentaram que haacute poucos profissionais trabalhando na aacuterea e que a literatura eacute

escassa A dificuldade de se conseguir alianccedila com os pais ou outros membros

significativos da rede social da crianccedila eacute algo que se destaca na praacutetica cliacutenica

infantil Muitas vezes o progresso terapecircutico da crianccedila fica estagnado por questotildees pessoais dos pais especialmente quando natildeo aceitam ajuda

Mesmo diante desses limites quatro das psicoterapeutas afirmaram que continuam

investindo na crianccedila acreditando que de alguma forma ela seraacute beneficiada pela

terapia pois eacute melhor uma ajuda limitada do que nenhuma As demais preferem

natildeo atender a crianccedila quando natildeo tecircm o apoio dos pais principalmente se

perceberem que as dificuldades da crianccedila tecircm relaccedilatildeo direta com o contexto

familiar Acreditam que mesmo que a crianccedila esteja em psicoterapia natildeo

conseguiraacute transferir o crescimento conseguido jaacute que as forccedilas contraacuterias seratildeo

constantes e por parte de pessoas que lhe satildeo significativas Esse posicionamento

ratifica a posiccedilatildeo de Dorfman (1974) que considera que eacute demais pedir a uma

crianccedila pequena que lide sozinha com as relaccedilotildees muitas vezes inflexiacuteveis e

traumatizantes com os pais

Oaklander (1980) a esse respeito relata que eacute importante ajudar a crianccedila a fazer

as escolhas que quiser e a compreender quando elas satildeo impossiacuteveis destacando

que eacute de grande importacircncia auxiliaacute-la na compreensatildeo de que natildeo pode assumir responsabili-dades por aquilo que natildeo pode escolher

Outro obstaacuteculo vivenciado pelas terapeutas refere-se ao pequeno nuacutemero de

profissionais que atuam nessa especialidade dificultando assim uma troca muacutetua e

os encaminhamentos Logo se existem poucas pessoas trabalhando na praacutetica

cliacutenica e considerando que a teoria eacute fruto dela entatildeo satildeo tambeacutem escassas as

pesquisas bem como a literatura a respeito da praacutetica infantil nas abordagens

estudadas Esses obstaacuteculos tecircm toda uma repercussatildeo na motivaccedilatildeo das pessoas para trabalhar com crianccedilas

Recursos utilizados

Atraveacutes das falas pocircde-se distinguir dois tipos de recursos usados pelas

terapeutas a rede social da crianccedila e os recursos teacutecnicos Quanto agrave rede social as

psicoterapeutas acreditam na importacircncia da famiacutelia como recurso fundamental

para auxiliar o processo da crianccedila Entendem tambeacutem que muitas vezes a

crianccedila eacute o paciente identificado o denunciador de toda a disfuncionalidade familiar

Eacute consenso entre as terapeutas que a famiacutelia pode atuar como colaboradora e

mantenedora do sintoma da crianccedila e nesse caso colocam em duacutevida os

resultados da psicoterapia infantil quando natildeo se faz um trabalho conjunto com a

famiacutelia Todas trabalham com a rede social da crianccedila no entanto a forma de

trabalhar eacute que varia de orientaccedilatildeo Para elas a terapia deveria possibilitar aos

familiares serem atores ativos de sua histoacuteria e natildeo apenas a plateacuteia que assistiraacute e

receberaacute todas as informaccedilotildees a respeito de como recuperar as circunstacircncias que

estatildeo produzindo sofrimento O fato de natildeo se colocar como pessoas que

participam como agentes transformadores de sua proacutepria histoacuteria os isenta de uma

maior responsa-bilidade tornando a relaccedilatildeo com o psicoterapeuta e com o

processo psicoteraacutepico superficial e pouco comprometida sendo assim mais difiacutecil conquistar o crescimento

Conveacutem ressaltar que assim como Grandesso (2000b) entende-se como

imprescindiacutevel respeitar os conhecimentos dos pais da crianccedila em relaccedilatildeo ao

problema que vivem Como protagonistas da histoacuteria vivida seu conhecimento

caracteriza-se como uma espeacutecie de conhecimento a partir de dentro Os pais

por viverem com a crianccedila conhecem-na muito melhor que qualquer terapeuta

tomando como referecircncia o seu lugar como pais Comunga-se tambeacutem com tais

ideacuteias pois se entende que os pais tecircm recursos naturais na praacutetica de convivecircncia com a crianccedila que podem ser mobilizados terapeuticamente

Grandesso (2000b) considera importante que o terapeuta esteja atento quanto aos

ganhos perdas apreensotildees medos e aborrecimentos accedilotildees narrativas

organizadoras dos problemas que os membros da famiacutelia vivem que podem favorecer ou dificultar a busca de alternativas de mudanccedila

Em relaccedilatildeo aos recursos teacutecnicos de maneira geral as psicoterapeutas utilizam

brinquedos e outros recursos normais de uma sala de ludoterapia - previstos na

abordagem que tecircm como diretriz - que variam entre estruturados e natildeo estruturados sendo os uacuteltimos priorizados pelas psicoterapeutas psicodramatistas

As terapeutas tambeacutem consideram o valor de se utilizarem como recurso algumas

teacutecnicas de outras abordagens desde que com conhecimento responsa-bilidade e

concordacircncia do cliente Molina-Loza (2002) partilha essa ideacuteia considerando que

se servir de um tipo de abordagem natildeo implica necessariamente abandonar todas

as outras Para o autor uma forma de intervir que fosse igualmente vaacutelida para

todo mundo representaria um empobrecimento pois natildeo se utilizaria essa ou

aquela abordagem segundo os problemas apresentados pelos clientes mas se

adaptariam os clientes aos limites das teorias Infelizmente eacute isso que acaba

acontecendo quando se pertence a um modelo

Assim quanto agrave utilizaccedilatildeo de teacutecnicas concorda-se com os psicodramatistas

Bermuacutedez (1997) e Ferrari (1984) Oaklander (1980 1994 1999 2000) da

Gestalt terapia e Axline (1980a 1980b) da abordagem centrada na pessoa de

que a teacutecnica para a praacutetica infantil eacute necessaacuteria como instrumento mediador de

comunicaccedilatildeo mas natildeo deve ser tomada como um fim

Necessidades sentidas pelas psicoterapeutas

As psicoterapeutas entendem que aleacutem do aperfeiccediloamento permanente eacute

igualmente importan-te estarem atualizados em relaccedilatildeo ao universo infantil de

maneira geral suas brincadeiras linguagem jogos que estatildeo no mercado

literatura programas de TV muacutesicas informaacutetica vida escolar por meio de visitas

agrave escola que a crianccedila frequumlenta enfim conhecer o cotidiano dessa crianccedila no paiacutes no estado na cidade e na sua famiacutelia

Eacute ainda sentido como necessidade estarem atentos ao trabalho pessoal do

profissional por meio de psicoterapias jaacute que a sua crianccedila estaacute constante-mente

sendo acionada Revisar a praacutetica mediante supervisotildees e trocas entre profissionais

eacute tambeacutem uma necessidade Infelizmente em virtude de existirem poucos

profissionais que atuem nessa especialidade haacute dificuldade nesse sentido assim como dificuldade em encaminhamentos e indicaccedilotildees

Essa carecircncia se estende consequumlentemente para a literatura da teoria e praacutetica

dessa especialidade que eacute pouca e desatualizada Os profissionais interessa-dos

tecircm de buscar apoio em outras abordagens e fazer um esforccedilo grande de

articulaccedilatildeo para que natildeo fique fragmentada Nesse sentido Osoacuterio e Valle (2002)

fazem uma ressalva trabalhar com distintos marcos referenciais teoacutericos requer

um niacutevel de habilitaccedilatildeo ao qual soacute tecircm acesso profissionais mais experientes

Tambeacutem foi relatada uma carecircncia muito grande em relaccedilatildeo a congressos palestras e cursos voltados para a praacutetica cliacutenica infantil

Avaliaccedilatildeo da especialidade

As psicoterapeutas acreditam que a praacutetica cliacutenica infantil estaacute restrita por ser mais

difiacutecil trabalhar com a crianccedila e por exigir do profissional a compreen-satildeo da

linguagem simboacutelica manifesta pela crianccedila atraveacutes da fantasia da brincadeira

Tambeacutem foi destacado que essa praacutetica eacute altamente frustrante exigindo grande

limiar do psicoterapeuta para natildeo desistir considerando a dependecircncia que o

processo da crianccedila manteacutem em relaccedilatildeo agrave sua rede social principalmente seus

pais Portanto trabalhar com a crianccedila eacute trabalhar simultaneamente com a famiacutelia

tornandose assim uma praacutetica de grande complexidade

Tambeacutem foram feitas referecircncias agrave demanda fiacutesica que a crianccedila requer do

psicoterapeuta sendo considerado um fator que gera cansaccedilo nos psicotera-peutas

mais velhos que muitas vezes acabam por desistir de trabalhar com ela por natildeo

aguumlentarem mais abaixar levantar sentar-se no chatildeo ou ateacute pular

O sucesso do trabalho do terapeuta depende muitas vezes da

habilidadeconhecimento do profissional nesse acircmbito familiar E natildeo se sabe se os

profissionais estatildeo com formaccedilatildeo eou habilitaccedilatildeo para tais praacuteticas e consequumlentemente quais satildeo os niacuteveis de frustraccedilatildeo que tecircm vivenciado

De maneira geral segundo as participantes o proacuteprio enfoque do curso de

psicologia estaacute mais voltado ao adulto do que agrave crianccedila Num contexto mais amplo

isso repercute na formaccedilatildeo do psicoacutelogo e na escolha dos estudantes ao fazerem

sua opccedilatildeo de atuaccedilatildeo por conseguinte essa aacuterea cada vez mais tem um reduzido

nuacutemero de pessoas

Branco (1998) traz alguns questionamentos agraves universidades indagando sobre o

tipo de profissional que se quer formar no curso de psicologia se comprometido com a mudanccedila ou com a legitimaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais

Webber Botomeacute e Rebelatto (1996 p11) criticaram os curriacuteculos dos cursos de

formaccedilatildeo considerando-os mais voltados ao ensino de teacutecnicas e modelos de

atuaccedilatildeo existentes (e consagrados) do que ao desenvolvimento de atuaccedilotildees profissionais socialmente significativas

Silva (2001) afirma que atualmente se vive em busca de uma psicologia cliacutenica que

levando em conta os saberes dos quais se dispotildee efetue intervenccedilotildees nas vidas

nas relaccedilotildees nas subjetividades das pessoas sem cair em contradiccedilatildeo ou ser

rechaccedilada pelas proacuteprias criacuteticas de quem a pratica Uma cliacutenica que invente praacutexis eacuteticas e politicamente comprometidas

Segundo Bock (1997) a meta do psicoacutelogo deve ser estar sempre em movimento

Um psicoacutelogo aliado da transformaccedilatildeo do movimento da sociedade e dos

interesses da maioria da populaccedilatildeo Um psicoacutelogo inquieto conspirador que saiba

estranhar aquilo que na realidade se tornou tatildeo familiar que chega a ser pensado

como natural Um psicoacutelogo permeaacutevel agraves inovaccedilotildees que aceite o desafio de coletivamente produzir alternativas agrave psicologia tradicional

Outras observaccedilotildees

O trabalho com a crianccedila foi considerado muito importante visto que lidar

precocemente com as questotildees que trazem inquietaccedilotildees e sofrimento eacute muito mais

proveitoso do que lidar com elas quando jaacute estatildeo muito cristalizadas

As participantes avaliaram que ser psicoterapeuta eacute muito gratificante mas

tambeacutem muito difiacutecil porque o profissional eacute o proacuteprio instrumento de trabalho e

isto significa que para se oferecer um trabalho de boa qualidade eacute preciso estar

bem pessoalmente e capacitado com conhecimentos teoacuterico-teacutecnicos mediante

supervisotildees especializa-ccedilotildees e isso tudo eacute muito dispendioso financeiramente Entretanto o desafio natildeo paacutera por aiacute

Colombo (2000) considera estimulante e desafiador o fato de que o psicoterapeuta

escolhe uma atividade profissional na qual eacute chamado a utilizar como instrumento

baacutesico de trabalho o proacuteprio self Para a autora eacute inquietante saber que a maacutegica

que o terapeuta deve oferecer eacute a sua integridade aqui e agora habitar a sua

morada estar em conexatildeo consigo com a proacutepria histoacuteria crenccedilas e preconceitos

com o humano e o sagrado dentro de si Enfim trazer o que somente eacute possiacutevel na

singularidade e integridade Whitaker e Bumberry (1990) destacaram que apenas

quando se luta consigo proacuteprio eacute que se fica livre para trazer a si mesmo para o

consultoacuterio psicoteraacutepico e natildeo apenas o uniforme de terapeuta

Consideraccedilotildees Finais

Quando esta pesquisa foi iniciada uma das inquietaccedilotildees que a pautavam referia-se

agrave necessidade de se buscar recursos natildeo apenas em uma abordagem e tambeacutem

natildeo somente na psicologia Havia inicialmente uma grande convicccedilatildeo da

necessidade e importacircncia de buscar em outras aacutereas o apoio substancial para um

pleno desenvolvimento do processo terapecircutico da crianccedila Entretanto tal

convicccedilatildeo natildeo se estendia agrave busca de apoio em outras abordagens visto a

incompletude de cada teoria diante da amplitude e complexidade do ser humano -

especialmente no que se refere a uma abordagem psicoteraacutepica infantil

Incomodava a possibilidade de que colegas e comunidade cientiacutefica considerassem

tal procedimento como ecleacutetico salada embora a experiecircncia demonstrasse

que uma integraccedilatildeo cuidadosa muito poderia enriquecer a praacutetica cliacutenica

Apoacutes todo o percurso de campo e teoacuterico a necessidade de busca de apoio em

outras abordagens tambeacutem foi encontrada em algumas psicoterapeutas

colaboradoras aleacutem de ter ficado evidente na revisatildeo literaacuteria que alguns autores

compartilham essas ideacuteias A partir de entatildeo tal posicionamento tornou-se mais

confortaacutevel pois se constatou que na verdade a inquietaccedilatildeo suscita mudanccedilas e

natildeo eacute prudente fechar--se em uma soacute verdade quando haacute o comprometi-mento

com o avanccedilo da ciecircncia psicoloacutegica Hoje a ideacuteia de fixar-se a um soacute modelo jaacute

estaacute sendo superada e vista como possibilidade de ficar amarrado ao dogmatismo

de uma ou outra corrente do pensamento constituiacutedo Ficar preso a um soacute modelo eacute

demais limitante se por um lado isso possa trazer uma certa seguranccedila por

outro fica-se amarrado Essas amarras contradizem o processo de autonomia que

todo terapeuta propotildee possibilitar que o cliente encontre Se houver maior

flexibilidade eacute possiacutevel adaptar os recursos agraves necessidades dos clientes e natildeo os adaptar agrave teoria em que se acredita

No dizer de Fernando Pessoa navegar eacute preciso viver natildeo eacute preciso (precisatildeo)

Portanto diante desse viver tatildeo impreciso como eacute possiacutevel trabalhar com a

subjetividade dos clientes de forma tatildeo precisa Eacute preciso suportar as incertezas

deixar soltas as amarras das teorias que aprisionam para que se possa atuar

realmente numa postura eacutetica e esteacutetica com os clientes Acredita-se que acima da

modalidade psicoteraacutepica estaacute a eacutetica a postura do profissional diante do fazer

terapecircutico

Branco (1998) afirma que o perfil do psicoacutelogo hoje deve ser o de um profissional

criacutetico natildeo necessariamente de um especialista mas sim de um estudioso

permanente das situaccedilotildees nas quais sua praacutetica esteja implicada Um profissional

que se habitue a exercitar-se numa visatildeo complexa e que perceba as contradiccedilotildees

inerentes agrave sua praacutetica e a necessidade de refazecirc-la ajudando os grupos

indiviacuteduos e instituiccedilotildees a eliminarem os processos de desuma-nizaccedilatildeo e alienaccedilatildeo responsaacuteveis pelo sofrimento psiacutequico

A formaccedilatildeo do psicoacutelogo precisa possibilitar o engajamento do futuro profissional

na sociedade aleacutem de reelaborar o conhecimento constituiacutedo Natildeo se deve com

isso eliminar as diferenccedilas teoacutericas e metodo-loacutegicas apesar das finalidades

comuns O trabalho acadecircmico coletivo deve explicitar e aprofundar as

divergecircncias Aleacutem disso a exigecircncia por uma articulaccedilatildeo entre teoria e praacutetica natildeo

poderaacute significar ativismo que diminua o estudo das teorias Eacute preciso pois

abarcar de forma profunda todas as matrizes do pensamento psicoloacutegico em uma

dinacircmica de trabalho que permita o confronto de pontos de vista e projetos que reuacutenam vaacuterios campos do saber

Para isso eacute preciso estar atento agraves poliacuteticas acadecircmicas que priorizam

determinadas abordagens normalmente uma ou outra dentre as mais consa-

gradas fechando o aluno em algumas verdades em termos teoacutericos e praacuteticos

atraveacutes dos estaacutegios e da pesquisa impossibilitando-o de ter acesso a uma visatildeo

mais global e com praacuteticas comprometidas com o avanccedilo da ciecircncia psicoloacutegica

Para que ratificando o pensamento de Bock (1997) seja possiacutevel formar

profissionais criacuteticos inquietos permeaacuteveis agraves inovaccedilotildees e que aceitem o desafio

de coletivamente produzir alternativas agrave psicologia tradicional tudo isto aliado agrave

transformaccedilatildeo ao movimento da sociedade e aos interesses da maioria da

populaccedilatildeo haacute de se olhar criticamente a proacutepria atuaccedilatildeo como cliacutenicos e docentes

avaliando se a postura estaacute sendo coerente com o avanccedilo da ciecircncia psicoloacutegica ou de especialista de conhecimento fechado numa soacute verdade

Entende-se que atraveacutes do percurso percorrido na elaboraccedilatildeo desse estudo seja

possiacutevel com base em abordagens tradicionais promover reflexotildees que

possibilitem avaliaacute-las de forma respeitosa pelas valiosas contribuiccedilotildees que

oferecem agrave praacutetica cliacutenica poreacutem sem esquecer que satildeo algumas possibilidades

dentro de um leque de opccedilotildees Natildeo se pode portanto fechar-se nessas verdades e

tambeacutem natildeo se pode deixar de consideraacute-las como uacuteteis e eficazes mesmo diante

do avanccedilo da ciecircncia

Embora este estudo tenha partido das praacuteticas tradicionais natildeo se restringiu a

apenas uma abordagem e tambeacutem possibilitou algumas reflexotildees para aleacutem delas

atraveacutes dos temas emergentes nas entrevistas No entanto fica a contribuiccedilatildeo para

futuras pesquisas e tambeacutem a reflexatildeo de que as praacuteticas tradicionais satildeo muito

importantes mesmo com todo avanccedilo da psicologia Mas como cliacutenicos e docentes

formadores de psicoacutelogos eacute necessaacuteria uma certa permeabilidade que possibilite

criacutetica e flexibilidade para acompanhar a evoluccedilatildeo e exercer uma praacutetica para aleacutem do instituiacutedo a serviccedilo da humanizaccedilatildeo e desalienaccedilatildeo

Vale ressaltar tambeacutem a localidade onde essa pesquisa foi realizada - realidade

Pernambucana ficando tambeacutem a sugestatildeo para futuras pesquisas em outras regiotildees brasileiras

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Endereccedilo para correspondecircncia

Maria Ivone Marchi Costa

Rua Irmatilde Arminda 10-50

7044-160 Bauru SP Brasil E-mailmarchicostatravelnetcombr

Recebido para publicaccedilatildeo em 23 marccedilo de 2004 Aceito em 21 de junho de 2004

1 Departamento de Psicologia Universidade do Sagrado Coraccedilatildeo de Bauru Bauru

SP Brasil 2 Poacutes-Graduaccedilatildeo em Psicologia Cliacutenica Universidade Catoacutelica de Pernambuco Recife PE Brasil

Page 3: A Prática Da Psicoterapia Infantil Na Visão de Terapeutas Nas Seguintes Abordagens - Psicodrama, Gestalt Terapia e Centrada Na Pessoa

especialidade categorias que emergiram como as mais relevantes por ocasiatildeo da

anaacutelise das entrevistas

Meacutetodo

Esta pesquisa de caraacuteter qualitativo foi realizada com seis psicoterapeutas

humanistas-existenciais (psicodrama Gestalt terapia e centrada na pessoa) do

sexo feminino que trabalham com crianccedilas sendo duas de cada abordagem Com

exceccedilatildeo de uma psicoterapeuta (centrada na pessoa) que tinha 30 anos de

experiecircncia como psicoacuteloga cliacutenica infantil as demais tinham entre 10 e 18 anos de

experiecircncia Trecircs das psicoterapeutas - uma de cada abordagem - eram tambeacutem

professoras do curso de graduaccedilatildeo de psicologia e supervisoras em cliacutenica-escola

em universidades particulares Todas as terapeutas entrevistadas eram da cidade

de Recife Estado de Pernambuco A dificuldade em encontrar psicotera-peutas do

sexo masculino que atuassem na praacutetica infantil determinou que as entrevistas se

realizassem apenas com terapeutas do sexo feminino

Utilizaram-se entrevistas semidirigidas como instrumento de pesquisa por

propiciarem a emergecircncia dos conteuacutedos de forma espontacircnea singular e livre O

iniacutecio da entrevista com cada colaboradora se deu mediante a seguinte questatildeo

estimuladora Me conte sobre a sua experiecircncia de ser uma psicoacuteloga cliacutenica

infantil A pesquisadora fez ainda algumas perguntas visando agrave ampliaccedilatildeo eou agrave

compreensatildeo das respostas As entrevistas foram realizadas individual e

pessoalmente com as colaboradoras sendo gravadas em fita cassete transcritas na

iacutentegra e analisadas qualitativamente A anaacutelise e a discussatildeo dos resultados

tiveram por base a literatura consultada

Resultados e Discussatildeo

Como jaacute referido apoacutes a transcriccedilatildeo das entrevistas observou-se que as respostas

poderiam ser agrupadas em cinco temas comuns sentimentos experimentados

obstaacuteculos ou dificuldades sentidas no exerciacutecio profissional recursos utilizados

necessidades sentidas e avaliaccedilatildeo da especialidade As psicoterapeutas tambeacutem fizeram outras observaccedilotildees que foram relacionadas

Sentimentos experimentados

As psicoterapeutas relataram que trabalhar com crianccedilas eacute algo muito valioso pela

possibilidade de uma accedilatildeo precoce eou preventiva tornando-se gratificante pela

contribuiccedilatildeo que representa junto agrave crianccedila famiacutelia e sociedade A espontaneidade

da crianccedila na sua comu-nicaccedilatildeo verbal e natildeo-verbal normalmente favorece o

viacutenculo entre profissional e cliente e consequumlente-mente a evoluccedilatildeo da crianccedila no

processo terapecircutico tende a ser naturalmente mais raacutepida salvo quando a colaboraccedilatildeo da sua rede social eacute imprescindiacutevel mas inexistente

Tais resultados evidenciaram a necessidade de estabelecer uma comunicaccedilatildeo

efetiva entre terapeuta e crianccedila sendo importante a atenccedilatildeo que o profissional

deve dar agrave sua proacutepria linguagem disponibilizando-se a sair do mundo adulto e

intelectualizado para alcanccedilar o mundo luacutedico da crianccedila com todo o seu

simbolismo Conectar-se com a capacidade cognitiva da crianccedila no seu momento

evolutivo colocando-se aberto agrave gama de conteuacutedos nem sempre verbais que a

crianccedila desenvolve eacute imprescindiacutevel ao terapeuta que apenas dessa forma poderaacute

eliminar o abismo existente entre ambos muitas vezes reforccedilado ateacute pela proacutepria

diferenccedila da estrutura fiacutesica do adulto Assim sendo eacute bem possiacutevel que a crianccedila o compreenda e se sinta compreendida

Para Axline (1980b) o terapeuta deve se apresentar amigavelmente adulto e

digno trazendo agrave sala de terapia algo mais que sua presenccedila laacutepis e papel eacute

necessaacuterio que a crianccedila confie no terapeuta Segundo Oaklander (1980) o

terapeuta deve se mover junto com a crianccedila no sentido de saber quando falar e

quando permanecer em silecircncio Para Bermuacutedez (1997) a tarefa do diretor

(terapeuta) eacute a de acompanhar e seguir o protagonista (cliente) na busca de sua

verdade oferecendo-lhe para que possa encontraacute-la todos os recursos pessoais teacutecnicos e metodoloacutegicos de que dispotildee

De acordo com Grandesso (2000b) trabalhar com crianccedilas exige do terapeuta a

habilidade de aproveitar ou criar oportunidades desde o momento em que se vecirc

frente a frente com a crianccedila desenvolver uma conversaccedilatildeo em torno de seus

interesses habilidades conhecimentos e particularidades de modo que ela possa

emergir como sujeito e possa ser levada a seacuterio mesmo durante a brincadeira

Mais do que isso na visatildeo dessa autora trabalhar com a crianccedila envolve poder

falar de modo luacutedico das dificuldades mas de modo suficientemente seacuterio para

gerar alternativas de mudanccedila A autora complementa que o grande desafio para o

psicoterapeuta assim orientado estaacute em inserir-se no mundo da crianccedila deixar-se

conduzir pela curiosidade genuiacutena permitir-se admirar o material trazido por ela

usando a riqueza da imagina-ccedilatildeo infantil Enfatiza tambeacutem que embora o

psicoterapeuta tenha muitos planos e objetivos natildeo deve haver expectativas cada

sessatildeo eacute uma experiecircncia existencial o que tiver que acontecer aconteceraacute Eacute

importante manter uma atitude que sustente o potencial pleno e saudaacutevel da

crianccedila num ambiente de seguranccedila e de respeito agraves suas capacidades e sentimentos

Nesse sentido Epston (1997) considera como tarefa do psicoterapeuta assistir a

crianccedila na produccedilatildeo de conhecimento gerando suas proacuteprias soluccedilotildees Para o

autor a estranheza que tal afirmaccedilatildeo pode causar decorre do fato de

habitualmente o adulto esperar que a crianccedila o leve a seacuterio tentando trazecirc-la para

o mundo adulto em vez de consideraacute-la seriamente procurando compreender o seu

mundo

Axline (1980) em seu sexto princiacutepio psicote-raacutepico alerta sobre a

responsabilidade do psicotera-peuta quando entra no mundo da crianccedila para que

tenha o cuidado de natildeo ser invasivo de maneira que a crianccedila natildeo seja bloqueada

pela intromissatildeo de sua personalidade no momento de brincar Eacute importante estar

atento agraves suas sinalizaccedilotildees e indicaccedilotildees de caminhos ficando o terapeuta na condiccedilatildeo de acompanhaacute-la

Oaklander (1980) ratifica esse aspecto ao salientar que o psicoterapeuta tem que

ter a habilidade de natildeo ser invasor de ser leve e delicado sem ser demasiadamente passivo

Paradoxalmente a esses aspectos que tornam o trabalho valioso e gratificante

sentimentos como frustraccedilatildeo solidatildeo e impotecircncia tambeacutem acompanham a praacutetica

dessa especialidade no que se refere agrave dependecircncia que o processo psicoteraacutepico

da crianccedila tem em relaccedilatildeo aos pais ou agrave rede social Embora se encontrem pais que

cresccedilam muito com o processo e sejam exiacutemios colaboradores haacute outros que por

razotildees diversas acabam por dificultar o processo de crescimento de seus filhos

Isso deixa o profissional solitaacuterio impotente e frustrado jaacute que a crianccedila tem

pouca autonomia ou seja ela eacute dependente deles ateacute mesmo para iniciar ou

suspender o processo

Acredita-se que muito da resistecircncia principal-mente dos pais eacute decorrente da

crenccedila de que seratildeo apontados como culpados pelos problemas da crianccedila e que o

psicoterapeuta estaraacute ali desempenhando o papel de denunciador dessa culpa

crucificando-os Tais sentimentos que permeiam o imaginaacuterio dos pais

provavelmente satildeo decorrentes de praacuteticas que ainda se apoacuteiam numa visatildeo que

foca mais as deficiecircncias do que as competecircncias e que acabam por desqualificar o

saber dos pais salientando o saber do terapeuta que eacute o especialista jaacute que

estudou para isso Concorda-se com Grandesso (2000a) quando afirma que

posturas terapecircuticas respaldadas num posicionamento em que o terapeuta eacute o

expert do conhecimento contribuem para dificultar a parceria com a rede social da

crianccedila minimizando o trabalho colaborativo tornando vulneraacutevel o processo

despertando sentimentos de solidatildeo impotecircncia e frustraccedilatildeo nos terapeutas

Acredita-se que esse tipo de praacutetica acentue a dificuldade de conseguir um trabalho

colaborativo isente a famiacutelia como co-participante do processo da crianccedila

possibilitando campo feacutertil em predispocirc-la a desenvolver resistecircncias e assim

dificultar o processo de parceria Isso pode ter influecircncia na motivaccedilatildeo do

profissional inclusive desmotivando-o a continuar a se dedicar a essa especialidade Entretanto sugerem-se pesquisas futuras a esse respeito

A maturidade emocional do psicoterapeuta e a experiecircncia profissional na aacuterea satildeo

citadas - tanto pelas colaboradoras como pela literatura - como propulsora do

desenvolvimento de uma habilidade maior na articulaccedilatildeo entre teoria e praacutetica

especialmente no que concerne ao acircmbito familiar Destaque-se que isso propicia

ao profissional uma maior seguranccedila que seraacute refletida numa accedilatildeo mais efetiva na

articulaccedilatildeo e viabilizaccedilatildeo da conquista da alianccedila terapecircutica atenuando as

dificuldades quanto agrave cooperaccedilatildeo da rede social da crianccedila favorecendo uma maior efetividade nos resultados do processo

Nessa dimensatildeo ainda os psicoterapeutas tambeacutem relataram experienciar solidatildeo

profissional visto que haacute poucos terapeutas atuando na aacuterea de psicoterapia

infantil nas abordagens pesquisadas o que inviabiliza trocas de experiecircncia e

encaminhamentos

Obstaacuteculos ou dificuldades no exerciacutecio profissional

Um dos maiores obstaacuteculos apontados na praacutetica da psicoterapia infantil diz

respeito agrave dificuldade de se conseguir o apoio dos pais Aleacutem disso as participantes

acrescentaram que haacute poucos profissionais trabalhando na aacuterea e que a literatura eacute

escassa A dificuldade de se conseguir alianccedila com os pais ou outros membros

significativos da rede social da crianccedila eacute algo que se destaca na praacutetica cliacutenica

infantil Muitas vezes o progresso terapecircutico da crianccedila fica estagnado por questotildees pessoais dos pais especialmente quando natildeo aceitam ajuda

Mesmo diante desses limites quatro das psicoterapeutas afirmaram que continuam

investindo na crianccedila acreditando que de alguma forma ela seraacute beneficiada pela

terapia pois eacute melhor uma ajuda limitada do que nenhuma As demais preferem

natildeo atender a crianccedila quando natildeo tecircm o apoio dos pais principalmente se

perceberem que as dificuldades da crianccedila tecircm relaccedilatildeo direta com o contexto

familiar Acreditam que mesmo que a crianccedila esteja em psicoterapia natildeo

conseguiraacute transferir o crescimento conseguido jaacute que as forccedilas contraacuterias seratildeo

constantes e por parte de pessoas que lhe satildeo significativas Esse posicionamento

ratifica a posiccedilatildeo de Dorfman (1974) que considera que eacute demais pedir a uma

crianccedila pequena que lide sozinha com as relaccedilotildees muitas vezes inflexiacuteveis e

traumatizantes com os pais

Oaklander (1980) a esse respeito relata que eacute importante ajudar a crianccedila a fazer

as escolhas que quiser e a compreender quando elas satildeo impossiacuteveis destacando

que eacute de grande importacircncia auxiliaacute-la na compreensatildeo de que natildeo pode assumir responsabili-dades por aquilo que natildeo pode escolher

Outro obstaacuteculo vivenciado pelas terapeutas refere-se ao pequeno nuacutemero de

profissionais que atuam nessa especialidade dificultando assim uma troca muacutetua e

os encaminhamentos Logo se existem poucas pessoas trabalhando na praacutetica

cliacutenica e considerando que a teoria eacute fruto dela entatildeo satildeo tambeacutem escassas as

pesquisas bem como a literatura a respeito da praacutetica infantil nas abordagens

estudadas Esses obstaacuteculos tecircm toda uma repercussatildeo na motivaccedilatildeo das pessoas para trabalhar com crianccedilas

Recursos utilizados

Atraveacutes das falas pocircde-se distinguir dois tipos de recursos usados pelas

terapeutas a rede social da crianccedila e os recursos teacutecnicos Quanto agrave rede social as

psicoterapeutas acreditam na importacircncia da famiacutelia como recurso fundamental

para auxiliar o processo da crianccedila Entendem tambeacutem que muitas vezes a

crianccedila eacute o paciente identificado o denunciador de toda a disfuncionalidade familiar

Eacute consenso entre as terapeutas que a famiacutelia pode atuar como colaboradora e

mantenedora do sintoma da crianccedila e nesse caso colocam em duacutevida os

resultados da psicoterapia infantil quando natildeo se faz um trabalho conjunto com a

famiacutelia Todas trabalham com a rede social da crianccedila no entanto a forma de

trabalhar eacute que varia de orientaccedilatildeo Para elas a terapia deveria possibilitar aos

familiares serem atores ativos de sua histoacuteria e natildeo apenas a plateacuteia que assistiraacute e

receberaacute todas as informaccedilotildees a respeito de como recuperar as circunstacircncias que

estatildeo produzindo sofrimento O fato de natildeo se colocar como pessoas que

participam como agentes transformadores de sua proacutepria histoacuteria os isenta de uma

maior responsa-bilidade tornando a relaccedilatildeo com o psicoterapeuta e com o

processo psicoteraacutepico superficial e pouco comprometida sendo assim mais difiacutecil conquistar o crescimento

Conveacutem ressaltar que assim como Grandesso (2000b) entende-se como

imprescindiacutevel respeitar os conhecimentos dos pais da crianccedila em relaccedilatildeo ao

problema que vivem Como protagonistas da histoacuteria vivida seu conhecimento

caracteriza-se como uma espeacutecie de conhecimento a partir de dentro Os pais

por viverem com a crianccedila conhecem-na muito melhor que qualquer terapeuta

tomando como referecircncia o seu lugar como pais Comunga-se tambeacutem com tais

ideacuteias pois se entende que os pais tecircm recursos naturais na praacutetica de convivecircncia com a crianccedila que podem ser mobilizados terapeuticamente

Grandesso (2000b) considera importante que o terapeuta esteja atento quanto aos

ganhos perdas apreensotildees medos e aborrecimentos accedilotildees narrativas

organizadoras dos problemas que os membros da famiacutelia vivem que podem favorecer ou dificultar a busca de alternativas de mudanccedila

Em relaccedilatildeo aos recursos teacutecnicos de maneira geral as psicoterapeutas utilizam

brinquedos e outros recursos normais de uma sala de ludoterapia - previstos na

abordagem que tecircm como diretriz - que variam entre estruturados e natildeo estruturados sendo os uacuteltimos priorizados pelas psicoterapeutas psicodramatistas

As terapeutas tambeacutem consideram o valor de se utilizarem como recurso algumas

teacutecnicas de outras abordagens desde que com conhecimento responsa-bilidade e

concordacircncia do cliente Molina-Loza (2002) partilha essa ideacuteia considerando que

se servir de um tipo de abordagem natildeo implica necessariamente abandonar todas

as outras Para o autor uma forma de intervir que fosse igualmente vaacutelida para

todo mundo representaria um empobrecimento pois natildeo se utilizaria essa ou

aquela abordagem segundo os problemas apresentados pelos clientes mas se

adaptariam os clientes aos limites das teorias Infelizmente eacute isso que acaba

acontecendo quando se pertence a um modelo

Assim quanto agrave utilizaccedilatildeo de teacutecnicas concorda-se com os psicodramatistas

Bermuacutedez (1997) e Ferrari (1984) Oaklander (1980 1994 1999 2000) da

Gestalt terapia e Axline (1980a 1980b) da abordagem centrada na pessoa de

que a teacutecnica para a praacutetica infantil eacute necessaacuteria como instrumento mediador de

comunicaccedilatildeo mas natildeo deve ser tomada como um fim

Necessidades sentidas pelas psicoterapeutas

As psicoterapeutas entendem que aleacutem do aperfeiccediloamento permanente eacute

igualmente importan-te estarem atualizados em relaccedilatildeo ao universo infantil de

maneira geral suas brincadeiras linguagem jogos que estatildeo no mercado

literatura programas de TV muacutesicas informaacutetica vida escolar por meio de visitas

agrave escola que a crianccedila frequumlenta enfim conhecer o cotidiano dessa crianccedila no paiacutes no estado na cidade e na sua famiacutelia

Eacute ainda sentido como necessidade estarem atentos ao trabalho pessoal do

profissional por meio de psicoterapias jaacute que a sua crianccedila estaacute constante-mente

sendo acionada Revisar a praacutetica mediante supervisotildees e trocas entre profissionais

eacute tambeacutem uma necessidade Infelizmente em virtude de existirem poucos

profissionais que atuem nessa especialidade haacute dificuldade nesse sentido assim como dificuldade em encaminhamentos e indicaccedilotildees

Essa carecircncia se estende consequumlentemente para a literatura da teoria e praacutetica

dessa especialidade que eacute pouca e desatualizada Os profissionais interessa-dos

tecircm de buscar apoio em outras abordagens e fazer um esforccedilo grande de

articulaccedilatildeo para que natildeo fique fragmentada Nesse sentido Osoacuterio e Valle (2002)

fazem uma ressalva trabalhar com distintos marcos referenciais teoacutericos requer

um niacutevel de habilitaccedilatildeo ao qual soacute tecircm acesso profissionais mais experientes

Tambeacutem foi relatada uma carecircncia muito grande em relaccedilatildeo a congressos palestras e cursos voltados para a praacutetica cliacutenica infantil

Avaliaccedilatildeo da especialidade

As psicoterapeutas acreditam que a praacutetica cliacutenica infantil estaacute restrita por ser mais

difiacutecil trabalhar com a crianccedila e por exigir do profissional a compreen-satildeo da

linguagem simboacutelica manifesta pela crianccedila atraveacutes da fantasia da brincadeira

Tambeacutem foi destacado que essa praacutetica eacute altamente frustrante exigindo grande

limiar do psicoterapeuta para natildeo desistir considerando a dependecircncia que o

processo da crianccedila manteacutem em relaccedilatildeo agrave sua rede social principalmente seus

pais Portanto trabalhar com a crianccedila eacute trabalhar simultaneamente com a famiacutelia

tornandose assim uma praacutetica de grande complexidade

Tambeacutem foram feitas referecircncias agrave demanda fiacutesica que a crianccedila requer do

psicoterapeuta sendo considerado um fator que gera cansaccedilo nos psicotera-peutas

mais velhos que muitas vezes acabam por desistir de trabalhar com ela por natildeo

aguumlentarem mais abaixar levantar sentar-se no chatildeo ou ateacute pular

O sucesso do trabalho do terapeuta depende muitas vezes da

habilidadeconhecimento do profissional nesse acircmbito familiar E natildeo se sabe se os

profissionais estatildeo com formaccedilatildeo eou habilitaccedilatildeo para tais praacuteticas e consequumlentemente quais satildeo os niacuteveis de frustraccedilatildeo que tecircm vivenciado

De maneira geral segundo as participantes o proacuteprio enfoque do curso de

psicologia estaacute mais voltado ao adulto do que agrave crianccedila Num contexto mais amplo

isso repercute na formaccedilatildeo do psicoacutelogo e na escolha dos estudantes ao fazerem

sua opccedilatildeo de atuaccedilatildeo por conseguinte essa aacuterea cada vez mais tem um reduzido

nuacutemero de pessoas

Branco (1998) traz alguns questionamentos agraves universidades indagando sobre o

tipo de profissional que se quer formar no curso de psicologia se comprometido com a mudanccedila ou com a legitimaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais

Webber Botomeacute e Rebelatto (1996 p11) criticaram os curriacuteculos dos cursos de

formaccedilatildeo considerando-os mais voltados ao ensino de teacutecnicas e modelos de

atuaccedilatildeo existentes (e consagrados) do que ao desenvolvimento de atuaccedilotildees profissionais socialmente significativas

Silva (2001) afirma que atualmente se vive em busca de uma psicologia cliacutenica que

levando em conta os saberes dos quais se dispotildee efetue intervenccedilotildees nas vidas

nas relaccedilotildees nas subjetividades das pessoas sem cair em contradiccedilatildeo ou ser

rechaccedilada pelas proacuteprias criacuteticas de quem a pratica Uma cliacutenica que invente praacutexis eacuteticas e politicamente comprometidas

Segundo Bock (1997) a meta do psicoacutelogo deve ser estar sempre em movimento

Um psicoacutelogo aliado da transformaccedilatildeo do movimento da sociedade e dos

interesses da maioria da populaccedilatildeo Um psicoacutelogo inquieto conspirador que saiba

estranhar aquilo que na realidade se tornou tatildeo familiar que chega a ser pensado

como natural Um psicoacutelogo permeaacutevel agraves inovaccedilotildees que aceite o desafio de coletivamente produzir alternativas agrave psicologia tradicional

Outras observaccedilotildees

O trabalho com a crianccedila foi considerado muito importante visto que lidar

precocemente com as questotildees que trazem inquietaccedilotildees e sofrimento eacute muito mais

proveitoso do que lidar com elas quando jaacute estatildeo muito cristalizadas

As participantes avaliaram que ser psicoterapeuta eacute muito gratificante mas

tambeacutem muito difiacutecil porque o profissional eacute o proacuteprio instrumento de trabalho e

isto significa que para se oferecer um trabalho de boa qualidade eacute preciso estar

bem pessoalmente e capacitado com conhecimentos teoacuterico-teacutecnicos mediante

supervisotildees especializa-ccedilotildees e isso tudo eacute muito dispendioso financeiramente Entretanto o desafio natildeo paacutera por aiacute

Colombo (2000) considera estimulante e desafiador o fato de que o psicoterapeuta

escolhe uma atividade profissional na qual eacute chamado a utilizar como instrumento

baacutesico de trabalho o proacuteprio self Para a autora eacute inquietante saber que a maacutegica

que o terapeuta deve oferecer eacute a sua integridade aqui e agora habitar a sua

morada estar em conexatildeo consigo com a proacutepria histoacuteria crenccedilas e preconceitos

com o humano e o sagrado dentro de si Enfim trazer o que somente eacute possiacutevel na

singularidade e integridade Whitaker e Bumberry (1990) destacaram que apenas

quando se luta consigo proacuteprio eacute que se fica livre para trazer a si mesmo para o

consultoacuterio psicoteraacutepico e natildeo apenas o uniforme de terapeuta

Consideraccedilotildees Finais

Quando esta pesquisa foi iniciada uma das inquietaccedilotildees que a pautavam referia-se

agrave necessidade de se buscar recursos natildeo apenas em uma abordagem e tambeacutem

natildeo somente na psicologia Havia inicialmente uma grande convicccedilatildeo da

necessidade e importacircncia de buscar em outras aacutereas o apoio substancial para um

pleno desenvolvimento do processo terapecircutico da crianccedila Entretanto tal

convicccedilatildeo natildeo se estendia agrave busca de apoio em outras abordagens visto a

incompletude de cada teoria diante da amplitude e complexidade do ser humano -

especialmente no que se refere a uma abordagem psicoteraacutepica infantil

Incomodava a possibilidade de que colegas e comunidade cientiacutefica considerassem

tal procedimento como ecleacutetico salada embora a experiecircncia demonstrasse

que uma integraccedilatildeo cuidadosa muito poderia enriquecer a praacutetica cliacutenica

Apoacutes todo o percurso de campo e teoacuterico a necessidade de busca de apoio em

outras abordagens tambeacutem foi encontrada em algumas psicoterapeutas

colaboradoras aleacutem de ter ficado evidente na revisatildeo literaacuteria que alguns autores

compartilham essas ideacuteias A partir de entatildeo tal posicionamento tornou-se mais

confortaacutevel pois se constatou que na verdade a inquietaccedilatildeo suscita mudanccedilas e

natildeo eacute prudente fechar--se em uma soacute verdade quando haacute o comprometi-mento

com o avanccedilo da ciecircncia psicoloacutegica Hoje a ideacuteia de fixar-se a um soacute modelo jaacute

estaacute sendo superada e vista como possibilidade de ficar amarrado ao dogmatismo

de uma ou outra corrente do pensamento constituiacutedo Ficar preso a um soacute modelo eacute

demais limitante se por um lado isso possa trazer uma certa seguranccedila por

outro fica-se amarrado Essas amarras contradizem o processo de autonomia que

todo terapeuta propotildee possibilitar que o cliente encontre Se houver maior

flexibilidade eacute possiacutevel adaptar os recursos agraves necessidades dos clientes e natildeo os adaptar agrave teoria em que se acredita

No dizer de Fernando Pessoa navegar eacute preciso viver natildeo eacute preciso (precisatildeo)

Portanto diante desse viver tatildeo impreciso como eacute possiacutevel trabalhar com a

subjetividade dos clientes de forma tatildeo precisa Eacute preciso suportar as incertezas

deixar soltas as amarras das teorias que aprisionam para que se possa atuar

realmente numa postura eacutetica e esteacutetica com os clientes Acredita-se que acima da

modalidade psicoteraacutepica estaacute a eacutetica a postura do profissional diante do fazer

terapecircutico

Branco (1998) afirma que o perfil do psicoacutelogo hoje deve ser o de um profissional

criacutetico natildeo necessariamente de um especialista mas sim de um estudioso

permanente das situaccedilotildees nas quais sua praacutetica esteja implicada Um profissional

que se habitue a exercitar-se numa visatildeo complexa e que perceba as contradiccedilotildees

inerentes agrave sua praacutetica e a necessidade de refazecirc-la ajudando os grupos

indiviacuteduos e instituiccedilotildees a eliminarem os processos de desuma-nizaccedilatildeo e alienaccedilatildeo responsaacuteveis pelo sofrimento psiacutequico

A formaccedilatildeo do psicoacutelogo precisa possibilitar o engajamento do futuro profissional

na sociedade aleacutem de reelaborar o conhecimento constituiacutedo Natildeo se deve com

isso eliminar as diferenccedilas teoacutericas e metodo-loacutegicas apesar das finalidades

comuns O trabalho acadecircmico coletivo deve explicitar e aprofundar as

divergecircncias Aleacutem disso a exigecircncia por uma articulaccedilatildeo entre teoria e praacutetica natildeo

poderaacute significar ativismo que diminua o estudo das teorias Eacute preciso pois

abarcar de forma profunda todas as matrizes do pensamento psicoloacutegico em uma

dinacircmica de trabalho que permita o confronto de pontos de vista e projetos que reuacutenam vaacuterios campos do saber

Para isso eacute preciso estar atento agraves poliacuteticas acadecircmicas que priorizam

determinadas abordagens normalmente uma ou outra dentre as mais consa-

gradas fechando o aluno em algumas verdades em termos teoacutericos e praacuteticos

atraveacutes dos estaacutegios e da pesquisa impossibilitando-o de ter acesso a uma visatildeo

mais global e com praacuteticas comprometidas com o avanccedilo da ciecircncia psicoloacutegica

Para que ratificando o pensamento de Bock (1997) seja possiacutevel formar

profissionais criacuteticos inquietos permeaacuteveis agraves inovaccedilotildees e que aceitem o desafio

de coletivamente produzir alternativas agrave psicologia tradicional tudo isto aliado agrave

transformaccedilatildeo ao movimento da sociedade e aos interesses da maioria da

populaccedilatildeo haacute de se olhar criticamente a proacutepria atuaccedilatildeo como cliacutenicos e docentes

avaliando se a postura estaacute sendo coerente com o avanccedilo da ciecircncia psicoloacutegica ou de especialista de conhecimento fechado numa soacute verdade

Entende-se que atraveacutes do percurso percorrido na elaboraccedilatildeo desse estudo seja

possiacutevel com base em abordagens tradicionais promover reflexotildees que

possibilitem avaliaacute-las de forma respeitosa pelas valiosas contribuiccedilotildees que

oferecem agrave praacutetica cliacutenica poreacutem sem esquecer que satildeo algumas possibilidades

dentro de um leque de opccedilotildees Natildeo se pode portanto fechar-se nessas verdades e

tambeacutem natildeo se pode deixar de consideraacute-las como uacuteteis e eficazes mesmo diante

do avanccedilo da ciecircncia

Embora este estudo tenha partido das praacuteticas tradicionais natildeo se restringiu a

apenas uma abordagem e tambeacutem possibilitou algumas reflexotildees para aleacutem delas

atraveacutes dos temas emergentes nas entrevistas No entanto fica a contribuiccedilatildeo para

futuras pesquisas e tambeacutem a reflexatildeo de que as praacuteticas tradicionais satildeo muito

importantes mesmo com todo avanccedilo da psicologia Mas como cliacutenicos e docentes

formadores de psicoacutelogos eacute necessaacuteria uma certa permeabilidade que possibilite

criacutetica e flexibilidade para acompanhar a evoluccedilatildeo e exercer uma praacutetica para aleacutem do instituiacutedo a serviccedilo da humanizaccedilatildeo e desalienaccedilatildeo

Vale ressaltar tambeacutem a localidade onde essa pesquisa foi realizada - realidade

Pernambucana ficando tambeacutem a sugestatildeo para futuras pesquisas em outras regiotildees brasileiras

Referecircncias

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ou conta para o cliente que ele proacuteprio se reconta[on-line] Disponiacutevel em httpwwwabrateforgbrmeioartigoshtm

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Whitaker CA amp Bumberry WM (1990) Danccedilando com a famiacutelia uma abordagem simboacutelico-experiencial Porto Alegre Artes Meacutedicas

Endereccedilo para correspondecircncia

Maria Ivone Marchi Costa

Rua Irmatilde Arminda 10-50

7044-160 Bauru SP Brasil E-mailmarchicostatravelnetcombr

Recebido para publicaccedilatildeo em 23 marccedilo de 2004 Aceito em 21 de junho de 2004

1 Departamento de Psicologia Universidade do Sagrado Coraccedilatildeo de Bauru Bauru

SP Brasil 2 Poacutes-Graduaccedilatildeo em Psicologia Cliacutenica Universidade Catoacutelica de Pernambuco Recife PE Brasil

Page 4: A Prática Da Psicoterapia Infantil Na Visão de Terapeutas Nas Seguintes Abordagens - Psicodrama, Gestalt Terapia e Centrada Na Pessoa

crianccedila desenvolve eacute imprescindiacutevel ao terapeuta que apenas dessa forma poderaacute

eliminar o abismo existente entre ambos muitas vezes reforccedilado ateacute pela proacutepria

diferenccedila da estrutura fiacutesica do adulto Assim sendo eacute bem possiacutevel que a crianccedila o compreenda e se sinta compreendida

Para Axline (1980b) o terapeuta deve se apresentar amigavelmente adulto e

digno trazendo agrave sala de terapia algo mais que sua presenccedila laacutepis e papel eacute

necessaacuterio que a crianccedila confie no terapeuta Segundo Oaklander (1980) o

terapeuta deve se mover junto com a crianccedila no sentido de saber quando falar e

quando permanecer em silecircncio Para Bermuacutedez (1997) a tarefa do diretor

(terapeuta) eacute a de acompanhar e seguir o protagonista (cliente) na busca de sua

verdade oferecendo-lhe para que possa encontraacute-la todos os recursos pessoais teacutecnicos e metodoloacutegicos de que dispotildee

De acordo com Grandesso (2000b) trabalhar com crianccedilas exige do terapeuta a

habilidade de aproveitar ou criar oportunidades desde o momento em que se vecirc

frente a frente com a crianccedila desenvolver uma conversaccedilatildeo em torno de seus

interesses habilidades conhecimentos e particularidades de modo que ela possa

emergir como sujeito e possa ser levada a seacuterio mesmo durante a brincadeira

Mais do que isso na visatildeo dessa autora trabalhar com a crianccedila envolve poder

falar de modo luacutedico das dificuldades mas de modo suficientemente seacuterio para

gerar alternativas de mudanccedila A autora complementa que o grande desafio para o

psicoterapeuta assim orientado estaacute em inserir-se no mundo da crianccedila deixar-se

conduzir pela curiosidade genuiacutena permitir-se admirar o material trazido por ela

usando a riqueza da imagina-ccedilatildeo infantil Enfatiza tambeacutem que embora o

psicoterapeuta tenha muitos planos e objetivos natildeo deve haver expectativas cada

sessatildeo eacute uma experiecircncia existencial o que tiver que acontecer aconteceraacute Eacute

importante manter uma atitude que sustente o potencial pleno e saudaacutevel da

crianccedila num ambiente de seguranccedila e de respeito agraves suas capacidades e sentimentos

Nesse sentido Epston (1997) considera como tarefa do psicoterapeuta assistir a

crianccedila na produccedilatildeo de conhecimento gerando suas proacuteprias soluccedilotildees Para o

autor a estranheza que tal afirmaccedilatildeo pode causar decorre do fato de

habitualmente o adulto esperar que a crianccedila o leve a seacuterio tentando trazecirc-la para

o mundo adulto em vez de consideraacute-la seriamente procurando compreender o seu

mundo

Axline (1980) em seu sexto princiacutepio psicote-raacutepico alerta sobre a

responsabilidade do psicotera-peuta quando entra no mundo da crianccedila para que

tenha o cuidado de natildeo ser invasivo de maneira que a crianccedila natildeo seja bloqueada

pela intromissatildeo de sua personalidade no momento de brincar Eacute importante estar

atento agraves suas sinalizaccedilotildees e indicaccedilotildees de caminhos ficando o terapeuta na condiccedilatildeo de acompanhaacute-la

Oaklander (1980) ratifica esse aspecto ao salientar que o psicoterapeuta tem que

ter a habilidade de natildeo ser invasor de ser leve e delicado sem ser demasiadamente passivo

Paradoxalmente a esses aspectos que tornam o trabalho valioso e gratificante

sentimentos como frustraccedilatildeo solidatildeo e impotecircncia tambeacutem acompanham a praacutetica

dessa especialidade no que se refere agrave dependecircncia que o processo psicoteraacutepico

da crianccedila tem em relaccedilatildeo aos pais ou agrave rede social Embora se encontrem pais que

cresccedilam muito com o processo e sejam exiacutemios colaboradores haacute outros que por

razotildees diversas acabam por dificultar o processo de crescimento de seus filhos

Isso deixa o profissional solitaacuterio impotente e frustrado jaacute que a crianccedila tem

pouca autonomia ou seja ela eacute dependente deles ateacute mesmo para iniciar ou

suspender o processo

Acredita-se que muito da resistecircncia principal-mente dos pais eacute decorrente da

crenccedila de que seratildeo apontados como culpados pelos problemas da crianccedila e que o

psicoterapeuta estaraacute ali desempenhando o papel de denunciador dessa culpa

crucificando-os Tais sentimentos que permeiam o imaginaacuterio dos pais

provavelmente satildeo decorrentes de praacuteticas que ainda se apoacuteiam numa visatildeo que

foca mais as deficiecircncias do que as competecircncias e que acabam por desqualificar o

saber dos pais salientando o saber do terapeuta que eacute o especialista jaacute que

estudou para isso Concorda-se com Grandesso (2000a) quando afirma que

posturas terapecircuticas respaldadas num posicionamento em que o terapeuta eacute o

expert do conhecimento contribuem para dificultar a parceria com a rede social da

crianccedila minimizando o trabalho colaborativo tornando vulneraacutevel o processo

despertando sentimentos de solidatildeo impotecircncia e frustraccedilatildeo nos terapeutas

Acredita-se que esse tipo de praacutetica acentue a dificuldade de conseguir um trabalho

colaborativo isente a famiacutelia como co-participante do processo da crianccedila

possibilitando campo feacutertil em predispocirc-la a desenvolver resistecircncias e assim

dificultar o processo de parceria Isso pode ter influecircncia na motivaccedilatildeo do

profissional inclusive desmotivando-o a continuar a se dedicar a essa especialidade Entretanto sugerem-se pesquisas futuras a esse respeito

A maturidade emocional do psicoterapeuta e a experiecircncia profissional na aacuterea satildeo

citadas - tanto pelas colaboradoras como pela literatura - como propulsora do

desenvolvimento de uma habilidade maior na articulaccedilatildeo entre teoria e praacutetica

especialmente no que concerne ao acircmbito familiar Destaque-se que isso propicia

ao profissional uma maior seguranccedila que seraacute refletida numa accedilatildeo mais efetiva na

articulaccedilatildeo e viabilizaccedilatildeo da conquista da alianccedila terapecircutica atenuando as

dificuldades quanto agrave cooperaccedilatildeo da rede social da crianccedila favorecendo uma maior efetividade nos resultados do processo

Nessa dimensatildeo ainda os psicoterapeutas tambeacutem relataram experienciar solidatildeo

profissional visto que haacute poucos terapeutas atuando na aacuterea de psicoterapia

infantil nas abordagens pesquisadas o que inviabiliza trocas de experiecircncia e

encaminhamentos

Obstaacuteculos ou dificuldades no exerciacutecio profissional

Um dos maiores obstaacuteculos apontados na praacutetica da psicoterapia infantil diz

respeito agrave dificuldade de se conseguir o apoio dos pais Aleacutem disso as participantes

acrescentaram que haacute poucos profissionais trabalhando na aacuterea e que a literatura eacute

escassa A dificuldade de se conseguir alianccedila com os pais ou outros membros

significativos da rede social da crianccedila eacute algo que se destaca na praacutetica cliacutenica

infantil Muitas vezes o progresso terapecircutico da crianccedila fica estagnado por questotildees pessoais dos pais especialmente quando natildeo aceitam ajuda

Mesmo diante desses limites quatro das psicoterapeutas afirmaram que continuam

investindo na crianccedila acreditando que de alguma forma ela seraacute beneficiada pela

terapia pois eacute melhor uma ajuda limitada do que nenhuma As demais preferem

natildeo atender a crianccedila quando natildeo tecircm o apoio dos pais principalmente se

perceberem que as dificuldades da crianccedila tecircm relaccedilatildeo direta com o contexto

familiar Acreditam que mesmo que a crianccedila esteja em psicoterapia natildeo

conseguiraacute transferir o crescimento conseguido jaacute que as forccedilas contraacuterias seratildeo

constantes e por parte de pessoas que lhe satildeo significativas Esse posicionamento

ratifica a posiccedilatildeo de Dorfman (1974) que considera que eacute demais pedir a uma

crianccedila pequena que lide sozinha com as relaccedilotildees muitas vezes inflexiacuteveis e

traumatizantes com os pais

Oaklander (1980) a esse respeito relata que eacute importante ajudar a crianccedila a fazer

as escolhas que quiser e a compreender quando elas satildeo impossiacuteveis destacando

que eacute de grande importacircncia auxiliaacute-la na compreensatildeo de que natildeo pode assumir responsabili-dades por aquilo que natildeo pode escolher

Outro obstaacuteculo vivenciado pelas terapeutas refere-se ao pequeno nuacutemero de

profissionais que atuam nessa especialidade dificultando assim uma troca muacutetua e

os encaminhamentos Logo se existem poucas pessoas trabalhando na praacutetica

cliacutenica e considerando que a teoria eacute fruto dela entatildeo satildeo tambeacutem escassas as

pesquisas bem como a literatura a respeito da praacutetica infantil nas abordagens

estudadas Esses obstaacuteculos tecircm toda uma repercussatildeo na motivaccedilatildeo das pessoas para trabalhar com crianccedilas

Recursos utilizados

Atraveacutes das falas pocircde-se distinguir dois tipos de recursos usados pelas

terapeutas a rede social da crianccedila e os recursos teacutecnicos Quanto agrave rede social as

psicoterapeutas acreditam na importacircncia da famiacutelia como recurso fundamental

para auxiliar o processo da crianccedila Entendem tambeacutem que muitas vezes a

crianccedila eacute o paciente identificado o denunciador de toda a disfuncionalidade familiar

Eacute consenso entre as terapeutas que a famiacutelia pode atuar como colaboradora e

mantenedora do sintoma da crianccedila e nesse caso colocam em duacutevida os

resultados da psicoterapia infantil quando natildeo se faz um trabalho conjunto com a

famiacutelia Todas trabalham com a rede social da crianccedila no entanto a forma de

trabalhar eacute que varia de orientaccedilatildeo Para elas a terapia deveria possibilitar aos

familiares serem atores ativos de sua histoacuteria e natildeo apenas a plateacuteia que assistiraacute e

receberaacute todas as informaccedilotildees a respeito de como recuperar as circunstacircncias que

estatildeo produzindo sofrimento O fato de natildeo se colocar como pessoas que

participam como agentes transformadores de sua proacutepria histoacuteria os isenta de uma

maior responsa-bilidade tornando a relaccedilatildeo com o psicoterapeuta e com o

processo psicoteraacutepico superficial e pouco comprometida sendo assim mais difiacutecil conquistar o crescimento

Conveacutem ressaltar que assim como Grandesso (2000b) entende-se como

imprescindiacutevel respeitar os conhecimentos dos pais da crianccedila em relaccedilatildeo ao

problema que vivem Como protagonistas da histoacuteria vivida seu conhecimento

caracteriza-se como uma espeacutecie de conhecimento a partir de dentro Os pais

por viverem com a crianccedila conhecem-na muito melhor que qualquer terapeuta

tomando como referecircncia o seu lugar como pais Comunga-se tambeacutem com tais

ideacuteias pois se entende que os pais tecircm recursos naturais na praacutetica de convivecircncia com a crianccedila que podem ser mobilizados terapeuticamente

Grandesso (2000b) considera importante que o terapeuta esteja atento quanto aos

ganhos perdas apreensotildees medos e aborrecimentos accedilotildees narrativas

organizadoras dos problemas que os membros da famiacutelia vivem que podem favorecer ou dificultar a busca de alternativas de mudanccedila

Em relaccedilatildeo aos recursos teacutecnicos de maneira geral as psicoterapeutas utilizam

brinquedos e outros recursos normais de uma sala de ludoterapia - previstos na

abordagem que tecircm como diretriz - que variam entre estruturados e natildeo estruturados sendo os uacuteltimos priorizados pelas psicoterapeutas psicodramatistas

As terapeutas tambeacutem consideram o valor de se utilizarem como recurso algumas

teacutecnicas de outras abordagens desde que com conhecimento responsa-bilidade e

concordacircncia do cliente Molina-Loza (2002) partilha essa ideacuteia considerando que

se servir de um tipo de abordagem natildeo implica necessariamente abandonar todas

as outras Para o autor uma forma de intervir que fosse igualmente vaacutelida para

todo mundo representaria um empobrecimento pois natildeo se utilizaria essa ou

aquela abordagem segundo os problemas apresentados pelos clientes mas se

adaptariam os clientes aos limites das teorias Infelizmente eacute isso que acaba

acontecendo quando se pertence a um modelo

Assim quanto agrave utilizaccedilatildeo de teacutecnicas concorda-se com os psicodramatistas

Bermuacutedez (1997) e Ferrari (1984) Oaklander (1980 1994 1999 2000) da

Gestalt terapia e Axline (1980a 1980b) da abordagem centrada na pessoa de

que a teacutecnica para a praacutetica infantil eacute necessaacuteria como instrumento mediador de

comunicaccedilatildeo mas natildeo deve ser tomada como um fim

Necessidades sentidas pelas psicoterapeutas

As psicoterapeutas entendem que aleacutem do aperfeiccediloamento permanente eacute

igualmente importan-te estarem atualizados em relaccedilatildeo ao universo infantil de

maneira geral suas brincadeiras linguagem jogos que estatildeo no mercado

literatura programas de TV muacutesicas informaacutetica vida escolar por meio de visitas

agrave escola que a crianccedila frequumlenta enfim conhecer o cotidiano dessa crianccedila no paiacutes no estado na cidade e na sua famiacutelia

Eacute ainda sentido como necessidade estarem atentos ao trabalho pessoal do

profissional por meio de psicoterapias jaacute que a sua crianccedila estaacute constante-mente

sendo acionada Revisar a praacutetica mediante supervisotildees e trocas entre profissionais

eacute tambeacutem uma necessidade Infelizmente em virtude de existirem poucos

profissionais que atuem nessa especialidade haacute dificuldade nesse sentido assim como dificuldade em encaminhamentos e indicaccedilotildees

Essa carecircncia se estende consequumlentemente para a literatura da teoria e praacutetica

dessa especialidade que eacute pouca e desatualizada Os profissionais interessa-dos

tecircm de buscar apoio em outras abordagens e fazer um esforccedilo grande de

articulaccedilatildeo para que natildeo fique fragmentada Nesse sentido Osoacuterio e Valle (2002)

fazem uma ressalva trabalhar com distintos marcos referenciais teoacutericos requer

um niacutevel de habilitaccedilatildeo ao qual soacute tecircm acesso profissionais mais experientes

Tambeacutem foi relatada uma carecircncia muito grande em relaccedilatildeo a congressos palestras e cursos voltados para a praacutetica cliacutenica infantil

Avaliaccedilatildeo da especialidade

As psicoterapeutas acreditam que a praacutetica cliacutenica infantil estaacute restrita por ser mais

difiacutecil trabalhar com a crianccedila e por exigir do profissional a compreen-satildeo da

linguagem simboacutelica manifesta pela crianccedila atraveacutes da fantasia da brincadeira

Tambeacutem foi destacado que essa praacutetica eacute altamente frustrante exigindo grande

limiar do psicoterapeuta para natildeo desistir considerando a dependecircncia que o

processo da crianccedila manteacutem em relaccedilatildeo agrave sua rede social principalmente seus

pais Portanto trabalhar com a crianccedila eacute trabalhar simultaneamente com a famiacutelia

tornandose assim uma praacutetica de grande complexidade

Tambeacutem foram feitas referecircncias agrave demanda fiacutesica que a crianccedila requer do

psicoterapeuta sendo considerado um fator que gera cansaccedilo nos psicotera-peutas

mais velhos que muitas vezes acabam por desistir de trabalhar com ela por natildeo

aguumlentarem mais abaixar levantar sentar-se no chatildeo ou ateacute pular

O sucesso do trabalho do terapeuta depende muitas vezes da

habilidadeconhecimento do profissional nesse acircmbito familiar E natildeo se sabe se os

profissionais estatildeo com formaccedilatildeo eou habilitaccedilatildeo para tais praacuteticas e consequumlentemente quais satildeo os niacuteveis de frustraccedilatildeo que tecircm vivenciado

De maneira geral segundo as participantes o proacuteprio enfoque do curso de

psicologia estaacute mais voltado ao adulto do que agrave crianccedila Num contexto mais amplo

isso repercute na formaccedilatildeo do psicoacutelogo e na escolha dos estudantes ao fazerem

sua opccedilatildeo de atuaccedilatildeo por conseguinte essa aacuterea cada vez mais tem um reduzido

nuacutemero de pessoas

Branco (1998) traz alguns questionamentos agraves universidades indagando sobre o

tipo de profissional que se quer formar no curso de psicologia se comprometido com a mudanccedila ou com a legitimaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais

Webber Botomeacute e Rebelatto (1996 p11) criticaram os curriacuteculos dos cursos de

formaccedilatildeo considerando-os mais voltados ao ensino de teacutecnicas e modelos de

atuaccedilatildeo existentes (e consagrados) do que ao desenvolvimento de atuaccedilotildees profissionais socialmente significativas

Silva (2001) afirma que atualmente se vive em busca de uma psicologia cliacutenica que

levando em conta os saberes dos quais se dispotildee efetue intervenccedilotildees nas vidas

nas relaccedilotildees nas subjetividades das pessoas sem cair em contradiccedilatildeo ou ser

rechaccedilada pelas proacuteprias criacuteticas de quem a pratica Uma cliacutenica que invente praacutexis eacuteticas e politicamente comprometidas

Segundo Bock (1997) a meta do psicoacutelogo deve ser estar sempre em movimento

Um psicoacutelogo aliado da transformaccedilatildeo do movimento da sociedade e dos

interesses da maioria da populaccedilatildeo Um psicoacutelogo inquieto conspirador que saiba

estranhar aquilo que na realidade se tornou tatildeo familiar que chega a ser pensado

como natural Um psicoacutelogo permeaacutevel agraves inovaccedilotildees que aceite o desafio de coletivamente produzir alternativas agrave psicologia tradicional

Outras observaccedilotildees

O trabalho com a crianccedila foi considerado muito importante visto que lidar

precocemente com as questotildees que trazem inquietaccedilotildees e sofrimento eacute muito mais

proveitoso do que lidar com elas quando jaacute estatildeo muito cristalizadas

As participantes avaliaram que ser psicoterapeuta eacute muito gratificante mas

tambeacutem muito difiacutecil porque o profissional eacute o proacuteprio instrumento de trabalho e

isto significa que para se oferecer um trabalho de boa qualidade eacute preciso estar

bem pessoalmente e capacitado com conhecimentos teoacuterico-teacutecnicos mediante

supervisotildees especializa-ccedilotildees e isso tudo eacute muito dispendioso financeiramente Entretanto o desafio natildeo paacutera por aiacute

Colombo (2000) considera estimulante e desafiador o fato de que o psicoterapeuta

escolhe uma atividade profissional na qual eacute chamado a utilizar como instrumento

baacutesico de trabalho o proacuteprio self Para a autora eacute inquietante saber que a maacutegica

que o terapeuta deve oferecer eacute a sua integridade aqui e agora habitar a sua

morada estar em conexatildeo consigo com a proacutepria histoacuteria crenccedilas e preconceitos

com o humano e o sagrado dentro de si Enfim trazer o que somente eacute possiacutevel na

singularidade e integridade Whitaker e Bumberry (1990) destacaram que apenas

quando se luta consigo proacuteprio eacute que se fica livre para trazer a si mesmo para o

consultoacuterio psicoteraacutepico e natildeo apenas o uniforme de terapeuta

Consideraccedilotildees Finais

Quando esta pesquisa foi iniciada uma das inquietaccedilotildees que a pautavam referia-se

agrave necessidade de se buscar recursos natildeo apenas em uma abordagem e tambeacutem

natildeo somente na psicologia Havia inicialmente uma grande convicccedilatildeo da

necessidade e importacircncia de buscar em outras aacutereas o apoio substancial para um

pleno desenvolvimento do processo terapecircutico da crianccedila Entretanto tal

convicccedilatildeo natildeo se estendia agrave busca de apoio em outras abordagens visto a

incompletude de cada teoria diante da amplitude e complexidade do ser humano -

especialmente no que se refere a uma abordagem psicoteraacutepica infantil

Incomodava a possibilidade de que colegas e comunidade cientiacutefica considerassem

tal procedimento como ecleacutetico salada embora a experiecircncia demonstrasse

que uma integraccedilatildeo cuidadosa muito poderia enriquecer a praacutetica cliacutenica

Apoacutes todo o percurso de campo e teoacuterico a necessidade de busca de apoio em

outras abordagens tambeacutem foi encontrada em algumas psicoterapeutas

colaboradoras aleacutem de ter ficado evidente na revisatildeo literaacuteria que alguns autores

compartilham essas ideacuteias A partir de entatildeo tal posicionamento tornou-se mais

confortaacutevel pois se constatou que na verdade a inquietaccedilatildeo suscita mudanccedilas e

natildeo eacute prudente fechar--se em uma soacute verdade quando haacute o comprometi-mento

com o avanccedilo da ciecircncia psicoloacutegica Hoje a ideacuteia de fixar-se a um soacute modelo jaacute

estaacute sendo superada e vista como possibilidade de ficar amarrado ao dogmatismo

de uma ou outra corrente do pensamento constituiacutedo Ficar preso a um soacute modelo eacute

demais limitante se por um lado isso possa trazer uma certa seguranccedila por

outro fica-se amarrado Essas amarras contradizem o processo de autonomia que

todo terapeuta propotildee possibilitar que o cliente encontre Se houver maior

flexibilidade eacute possiacutevel adaptar os recursos agraves necessidades dos clientes e natildeo os adaptar agrave teoria em que se acredita

No dizer de Fernando Pessoa navegar eacute preciso viver natildeo eacute preciso (precisatildeo)

Portanto diante desse viver tatildeo impreciso como eacute possiacutevel trabalhar com a

subjetividade dos clientes de forma tatildeo precisa Eacute preciso suportar as incertezas

deixar soltas as amarras das teorias que aprisionam para que se possa atuar

realmente numa postura eacutetica e esteacutetica com os clientes Acredita-se que acima da

modalidade psicoteraacutepica estaacute a eacutetica a postura do profissional diante do fazer

terapecircutico

Branco (1998) afirma que o perfil do psicoacutelogo hoje deve ser o de um profissional

criacutetico natildeo necessariamente de um especialista mas sim de um estudioso

permanente das situaccedilotildees nas quais sua praacutetica esteja implicada Um profissional

que se habitue a exercitar-se numa visatildeo complexa e que perceba as contradiccedilotildees

inerentes agrave sua praacutetica e a necessidade de refazecirc-la ajudando os grupos

indiviacuteduos e instituiccedilotildees a eliminarem os processos de desuma-nizaccedilatildeo e alienaccedilatildeo responsaacuteveis pelo sofrimento psiacutequico

A formaccedilatildeo do psicoacutelogo precisa possibilitar o engajamento do futuro profissional

na sociedade aleacutem de reelaborar o conhecimento constituiacutedo Natildeo se deve com

isso eliminar as diferenccedilas teoacutericas e metodo-loacutegicas apesar das finalidades

comuns O trabalho acadecircmico coletivo deve explicitar e aprofundar as

divergecircncias Aleacutem disso a exigecircncia por uma articulaccedilatildeo entre teoria e praacutetica natildeo

poderaacute significar ativismo que diminua o estudo das teorias Eacute preciso pois

abarcar de forma profunda todas as matrizes do pensamento psicoloacutegico em uma

dinacircmica de trabalho que permita o confronto de pontos de vista e projetos que reuacutenam vaacuterios campos do saber

Para isso eacute preciso estar atento agraves poliacuteticas acadecircmicas que priorizam

determinadas abordagens normalmente uma ou outra dentre as mais consa-

gradas fechando o aluno em algumas verdades em termos teoacutericos e praacuteticos

atraveacutes dos estaacutegios e da pesquisa impossibilitando-o de ter acesso a uma visatildeo

mais global e com praacuteticas comprometidas com o avanccedilo da ciecircncia psicoloacutegica

Para que ratificando o pensamento de Bock (1997) seja possiacutevel formar

profissionais criacuteticos inquietos permeaacuteveis agraves inovaccedilotildees e que aceitem o desafio

de coletivamente produzir alternativas agrave psicologia tradicional tudo isto aliado agrave

transformaccedilatildeo ao movimento da sociedade e aos interesses da maioria da

populaccedilatildeo haacute de se olhar criticamente a proacutepria atuaccedilatildeo como cliacutenicos e docentes

avaliando se a postura estaacute sendo coerente com o avanccedilo da ciecircncia psicoloacutegica ou de especialista de conhecimento fechado numa soacute verdade

Entende-se que atraveacutes do percurso percorrido na elaboraccedilatildeo desse estudo seja

possiacutevel com base em abordagens tradicionais promover reflexotildees que

possibilitem avaliaacute-las de forma respeitosa pelas valiosas contribuiccedilotildees que

oferecem agrave praacutetica cliacutenica poreacutem sem esquecer que satildeo algumas possibilidades

dentro de um leque de opccedilotildees Natildeo se pode portanto fechar-se nessas verdades e

tambeacutem natildeo se pode deixar de consideraacute-las como uacuteteis e eficazes mesmo diante

do avanccedilo da ciecircncia

Embora este estudo tenha partido das praacuteticas tradicionais natildeo se restringiu a

apenas uma abordagem e tambeacutem possibilitou algumas reflexotildees para aleacutem delas

atraveacutes dos temas emergentes nas entrevistas No entanto fica a contribuiccedilatildeo para

futuras pesquisas e tambeacutem a reflexatildeo de que as praacuteticas tradicionais satildeo muito

importantes mesmo com todo avanccedilo da psicologia Mas como cliacutenicos e docentes

formadores de psicoacutelogos eacute necessaacuteria uma certa permeabilidade que possibilite

criacutetica e flexibilidade para acompanhar a evoluccedilatildeo e exercer uma praacutetica para aleacutem do instituiacutedo a serviccedilo da humanizaccedilatildeo e desalienaccedilatildeo

Vale ressaltar tambeacutem a localidade onde essa pesquisa foi realizada - realidade

Pernambucana ficando tambeacutem a sugestatildeo para futuras pesquisas em outras regiotildees brasileiras

Referecircncias

Axline VM (1980a) Dibs em busca de si mesmo Rio de Janeiro Agir

Axline VM (1980b) Ludoterapia a dinacircmica interior da crianccedila Belo Horizonte Interlivros

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eu Conversaccedilotildees terapecircuticas em famiacutelias com crianccedilas (pp168-88) Satildeo Paulo Casa do Psicoacutelogo

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vocecirc E eu Conversaccedilotildees terapecircuticas em famiacutelias com crianccedilas (pp101-22) Satildeo Paulo Casa do Psicoacutelogo

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ou conta para o cliente que ele proacuteprio se reconta[on-line] Disponiacutevel em httpwwwabrateforgbrmeioartigoshtm

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52) New York The Guilford Press

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Whitaker CA amp Bumberry WM (1990) Danccedilando com a famiacutelia uma abordagem simboacutelico-experiencial Porto Alegre Artes Meacutedicas

Endereccedilo para correspondecircncia

Maria Ivone Marchi Costa

Rua Irmatilde Arminda 10-50

7044-160 Bauru SP Brasil E-mailmarchicostatravelnetcombr

Recebido para publicaccedilatildeo em 23 marccedilo de 2004 Aceito em 21 de junho de 2004

1 Departamento de Psicologia Universidade do Sagrado Coraccedilatildeo de Bauru Bauru

SP Brasil 2 Poacutes-Graduaccedilatildeo em Psicologia Cliacutenica Universidade Catoacutelica de Pernambuco Recife PE Brasil

Page 5: A Prática Da Psicoterapia Infantil Na Visão de Terapeutas Nas Seguintes Abordagens - Psicodrama, Gestalt Terapia e Centrada Na Pessoa

pouca autonomia ou seja ela eacute dependente deles ateacute mesmo para iniciar ou

suspender o processo

Acredita-se que muito da resistecircncia principal-mente dos pais eacute decorrente da

crenccedila de que seratildeo apontados como culpados pelos problemas da crianccedila e que o

psicoterapeuta estaraacute ali desempenhando o papel de denunciador dessa culpa

crucificando-os Tais sentimentos que permeiam o imaginaacuterio dos pais

provavelmente satildeo decorrentes de praacuteticas que ainda se apoacuteiam numa visatildeo que

foca mais as deficiecircncias do que as competecircncias e que acabam por desqualificar o

saber dos pais salientando o saber do terapeuta que eacute o especialista jaacute que

estudou para isso Concorda-se com Grandesso (2000a) quando afirma que

posturas terapecircuticas respaldadas num posicionamento em que o terapeuta eacute o

expert do conhecimento contribuem para dificultar a parceria com a rede social da

crianccedila minimizando o trabalho colaborativo tornando vulneraacutevel o processo

despertando sentimentos de solidatildeo impotecircncia e frustraccedilatildeo nos terapeutas

Acredita-se que esse tipo de praacutetica acentue a dificuldade de conseguir um trabalho

colaborativo isente a famiacutelia como co-participante do processo da crianccedila

possibilitando campo feacutertil em predispocirc-la a desenvolver resistecircncias e assim

dificultar o processo de parceria Isso pode ter influecircncia na motivaccedilatildeo do

profissional inclusive desmotivando-o a continuar a se dedicar a essa especialidade Entretanto sugerem-se pesquisas futuras a esse respeito

A maturidade emocional do psicoterapeuta e a experiecircncia profissional na aacuterea satildeo

citadas - tanto pelas colaboradoras como pela literatura - como propulsora do

desenvolvimento de uma habilidade maior na articulaccedilatildeo entre teoria e praacutetica

especialmente no que concerne ao acircmbito familiar Destaque-se que isso propicia

ao profissional uma maior seguranccedila que seraacute refletida numa accedilatildeo mais efetiva na

articulaccedilatildeo e viabilizaccedilatildeo da conquista da alianccedila terapecircutica atenuando as

dificuldades quanto agrave cooperaccedilatildeo da rede social da crianccedila favorecendo uma maior efetividade nos resultados do processo

Nessa dimensatildeo ainda os psicoterapeutas tambeacutem relataram experienciar solidatildeo

profissional visto que haacute poucos terapeutas atuando na aacuterea de psicoterapia

infantil nas abordagens pesquisadas o que inviabiliza trocas de experiecircncia e

encaminhamentos

Obstaacuteculos ou dificuldades no exerciacutecio profissional

Um dos maiores obstaacuteculos apontados na praacutetica da psicoterapia infantil diz

respeito agrave dificuldade de se conseguir o apoio dos pais Aleacutem disso as participantes

acrescentaram que haacute poucos profissionais trabalhando na aacuterea e que a literatura eacute

escassa A dificuldade de se conseguir alianccedila com os pais ou outros membros

significativos da rede social da crianccedila eacute algo que se destaca na praacutetica cliacutenica

infantil Muitas vezes o progresso terapecircutico da crianccedila fica estagnado por questotildees pessoais dos pais especialmente quando natildeo aceitam ajuda

Mesmo diante desses limites quatro das psicoterapeutas afirmaram que continuam

investindo na crianccedila acreditando que de alguma forma ela seraacute beneficiada pela

terapia pois eacute melhor uma ajuda limitada do que nenhuma As demais preferem

natildeo atender a crianccedila quando natildeo tecircm o apoio dos pais principalmente se

perceberem que as dificuldades da crianccedila tecircm relaccedilatildeo direta com o contexto

familiar Acreditam que mesmo que a crianccedila esteja em psicoterapia natildeo

conseguiraacute transferir o crescimento conseguido jaacute que as forccedilas contraacuterias seratildeo

constantes e por parte de pessoas que lhe satildeo significativas Esse posicionamento

ratifica a posiccedilatildeo de Dorfman (1974) que considera que eacute demais pedir a uma

crianccedila pequena que lide sozinha com as relaccedilotildees muitas vezes inflexiacuteveis e

traumatizantes com os pais

Oaklander (1980) a esse respeito relata que eacute importante ajudar a crianccedila a fazer

as escolhas que quiser e a compreender quando elas satildeo impossiacuteveis destacando

que eacute de grande importacircncia auxiliaacute-la na compreensatildeo de que natildeo pode assumir responsabili-dades por aquilo que natildeo pode escolher

Outro obstaacuteculo vivenciado pelas terapeutas refere-se ao pequeno nuacutemero de

profissionais que atuam nessa especialidade dificultando assim uma troca muacutetua e

os encaminhamentos Logo se existem poucas pessoas trabalhando na praacutetica

cliacutenica e considerando que a teoria eacute fruto dela entatildeo satildeo tambeacutem escassas as

pesquisas bem como a literatura a respeito da praacutetica infantil nas abordagens

estudadas Esses obstaacuteculos tecircm toda uma repercussatildeo na motivaccedilatildeo das pessoas para trabalhar com crianccedilas

Recursos utilizados

Atraveacutes das falas pocircde-se distinguir dois tipos de recursos usados pelas

terapeutas a rede social da crianccedila e os recursos teacutecnicos Quanto agrave rede social as

psicoterapeutas acreditam na importacircncia da famiacutelia como recurso fundamental

para auxiliar o processo da crianccedila Entendem tambeacutem que muitas vezes a

crianccedila eacute o paciente identificado o denunciador de toda a disfuncionalidade familiar

Eacute consenso entre as terapeutas que a famiacutelia pode atuar como colaboradora e

mantenedora do sintoma da crianccedila e nesse caso colocam em duacutevida os

resultados da psicoterapia infantil quando natildeo se faz um trabalho conjunto com a

famiacutelia Todas trabalham com a rede social da crianccedila no entanto a forma de

trabalhar eacute que varia de orientaccedilatildeo Para elas a terapia deveria possibilitar aos

familiares serem atores ativos de sua histoacuteria e natildeo apenas a plateacuteia que assistiraacute e

receberaacute todas as informaccedilotildees a respeito de como recuperar as circunstacircncias que

estatildeo produzindo sofrimento O fato de natildeo se colocar como pessoas que

participam como agentes transformadores de sua proacutepria histoacuteria os isenta de uma

maior responsa-bilidade tornando a relaccedilatildeo com o psicoterapeuta e com o

processo psicoteraacutepico superficial e pouco comprometida sendo assim mais difiacutecil conquistar o crescimento

Conveacutem ressaltar que assim como Grandesso (2000b) entende-se como

imprescindiacutevel respeitar os conhecimentos dos pais da crianccedila em relaccedilatildeo ao

problema que vivem Como protagonistas da histoacuteria vivida seu conhecimento

caracteriza-se como uma espeacutecie de conhecimento a partir de dentro Os pais

por viverem com a crianccedila conhecem-na muito melhor que qualquer terapeuta

tomando como referecircncia o seu lugar como pais Comunga-se tambeacutem com tais

ideacuteias pois se entende que os pais tecircm recursos naturais na praacutetica de convivecircncia com a crianccedila que podem ser mobilizados terapeuticamente

Grandesso (2000b) considera importante que o terapeuta esteja atento quanto aos

ganhos perdas apreensotildees medos e aborrecimentos accedilotildees narrativas

organizadoras dos problemas que os membros da famiacutelia vivem que podem favorecer ou dificultar a busca de alternativas de mudanccedila

Em relaccedilatildeo aos recursos teacutecnicos de maneira geral as psicoterapeutas utilizam

brinquedos e outros recursos normais de uma sala de ludoterapia - previstos na

abordagem que tecircm como diretriz - que variam entre estruturados e natildeo estruturados sendo os uacuteltimos priorizados pelas psicoterapeutas psicodramatistas

As terapeutas tambeacutem consideram o valor de se utilizarem como recurso algumas

teacutecnicas de outras abordagens desde que com conhecimento responsa-bilidade e

concordacircncia do cliente Molina-Loza (2002) partilha essa ideacuteia considerando que

se servir de um tipo de abordagem natildeo implica necessariamente abandonar todas

as outras Para o autor uma forma de intervir que fosse igualmente vaacutelida para

todo mundo representaria um empobrecimento pois natildeo se utilizaria essa ou

aquela abordagem segundo os problemas apresentados pelos clientes mas se

adaptariam os clientes aos limites das teorias Infelizmente eacute isso que acaba

acontecendo quando se pertence a um modelo

Assim quanto agrave utilizaccedilatildeo de teacutecnicas concorda-se com os psicodramatistas

Bermuacutedez (1997) e Ferrari (1984) Oaklander (1980 1994 1999 2000) da

Gestalt terapia e Axline (1980a 1980b) da abordagem centrada na pessoa de

que a teacutecnica para a praacutetica infantil eacute necessaacuteria como instrumento mediador de

comunicaccedilatildeo mas natildeo deve ser tomada como um fim

Necessidades sentidas pelas psicoterapeutas

As psicoterapeutas entendem que aleacutem do aperfeiccediloamento permanente eacute

igualmente importan-te estarem atualizados em relaccedilatildeo ao universo infantil de

maneira geral suas brincadeiras linguagem jogos que estatildeo no mercado

literatura programas de TV muacutesicas informaacutetica vida escolar por meio de visitas

agrave escola que a crianccedila frequumlenta enfim conhecer o cotidiano dessa crianccedila no paiacutes no estado na cidade e na sua famiacutelia

Eacute ainda sentido como necessidade estarem atentos ao trabalho pessoal do

profissional por meio de psicoterapias jaacute que a sua crianccedila estaacute constante-mente

sendo acionada Revisar a praacutetica mediante supervisotildees e trocas entre profissionais

eacute tambeacutem uma necessidade Infelizmente em virtude de existirem poucos

profissionais que atuem nessa especialidade haacute dificuldade nesse sentido assim como dificuldade em encaminhamentos e indicaccedilotildees

Essa carecircncia se estende consequumlentemente para a literatura da teoria e praacutetica

dessa especialidade que eacute pouca e desatualizada Os profissionais interessa-dos

tecircm de buscar apoio em outras abordagens e fazer um esforccedilo grande de

articulaccedilatildeo para que natildeo fique fragmentada Nesse sentido Osoacuterio e Valle (2002)

fazem uma ressalva trabalhar com distintos marcos referenciais teoacutericos requer

um niacutevel de habilitaccedilatildeo ao qual soacute tecircm acesso profissionais mais experientes

Tambeacutem foi relatada uma carecircncia muito grande em relaccedilatildeo a congressos palestras e cursos voltados para a praacutetica cliacutenica infantil

Avaliaccedilatildeo da especialidade

As psicoterapeutas acreditam que a praacutetica cliacutenica infantil estaacute restrita por ser mais

difiacutecil trabalhar com a crianccedila e por exigir do profissional a compreen-satildeo da

linguagem simboacutelica manifesta pela crianccedila atraveacutes da fantasia da brincadeira

Tambeacutem foi destacado que essa praacutetica eacute altamente frustrante exigindo grande

limiar do psicoterapeuta para natildeo desistir considerando a dependecircncia que o

processo da crianccedila manteacutem em relaccedilatildeo agrave sua rede social principalmente seus

pais Portanto trabalhar com a crianccedila eacute trabalhar simultaneamente com a famiacutelia

tornandose assim uma praacutetica de grande complexidade

Tambeacutem foram feitas referecircncias agrave demanda fiacutesica que a crianccedila requer do

psicoterapeuta sendo considerado um fator que gera cansaccedilo nos psicotera-peutas

mais velhos que muitas vezes acabam por desistir de trabalhar com ela por natildeo

aguumlentarem mais abaixar levantar sentar-se no chatildeo ou ateacute pular

O sucesso do trabalho do terapeuta depende muitas vezes da

habilidadeconhecimento do profissional nesse acircmbito familiar E natildeo se sabe se os

profissionais estatildeo com formaccedilatildeo eou habilitaccedilatildeo para tais praacuteticas e consequumlentemente quais satildeo os niacuteveis de frustraccedilatildeo que tecircm vivenciado

De maneira geral segundo as participantes o proacuteprio enfoque do curso de

psicologia estaacute mais voltado ao adulto do que agrave crianccedila Num contexto mais amplo

isso repercute na formaccedilatildeo do psicoacutelogo e na escolha dos estudantes ao fazerem

sua opccedilatildeo de atuaccedilatildeo por conseguinte essa aacuterea cada vez mais tem um reduzido

nuacutemero de pessoas

Branco (1998) traz alguns questionamentos agraves universidades indagando sobre o

tipo de profissional que se quer formar no curso de psicologia se comprometido com a mudanccedila ou com a legitimaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais

Webber Botomeacute e Rebelatto (1996 p11) criticaram os curriacuteculos dos cursos de

formaccedilatildeo considerando-os mais voltados ao ensino de teacutecnicas e modelos de

atuaccedilatildeo existentes (e consagrados) do que ao desenvolvimento de atuaccedilotildees profissionais socialmente significativas

Silva (2001) afirma que atualmente se vive em busca de uma psicologia cliacutenica que

levando em conta os saberes dos quais se dispotildee efetue intervenccedilotildees nas vidas

nas relaccedilotildees nas subjetividades das pessoas sem cair em contradiccedilatildeo ou ser

rechaccedilada pelas proacuteprias criacuteticas de quem a pratica Uma cliacutenica que invente praacutexis eacuteticas e politicamente comprometidas

Segundo Bock (1997) a meta do psicoacutelogo deve ser estar sempre em movimento

Um psicoacutelogo aliado da transformaccedilatildeo do movimento da sociedade e dos

interesses da maioria da populaccedilatildeo Um psicoacutelogo inquieto conspirador que saiba

estranhar aquilo que na realidade se tornou tatildeo familiar que chega a ser pensado

como natural Um psicoacutelogo permeaacutevel agraves inovaccedilotildees que aceite o desafio de coletivamente produzir alternativas agrave psicologia tradicional

Outras observaccedilotildees

O trabalho com a crianccedila foi considerado muito importante visto que lidar

precocemente com as questotildees que trazem inquietaccedilotildees e sofrimento eacute muito mais

proveitoso do que lidar com elas quando jaacute estatildeo muito cristalizadas

As participantes avaliaram que ser psicoterapeuta eacute muito gratificante mas

tambeacutem muito difiacutecil porque o profissional eacute o proacuteprio instrumento de trabalho e

isto significa que para se oferecer um trabalho de boa qualidade eacute preciso estar

bem pessoalmente e capacitado com conhecimentos teoacuterico-teacutecnicos mediante

supervisotildees especializa-ccedilotildees e isso tudo eacute muito dispendioso financeiramente Entretanto o desafio natildeo paacutera por aiacute

Colombo (2000) considera estimulante e desafiador o fato de que o psicoterapeuta

escolhe uma atividade profissional na qual eacute chamado a utilizar como instrumento

baacutesico de trabalho o proacuteprio self Para a autora eacute inquietante saber que a maacutegica

que o terapeuta deve oferecer eacute a sua integridade aqui e agora habitar a sua

morada estar em conexatildeo consigo com a proacutepria histoacuteria crenccedilas e preconceitos

com o humano e o sagrado dentro de si Enfim trazer o que somente eacute possiacutevel na

singularidade e integridade Whitaker e Bumberry (1990) destacaram que apenas

quando se luta consigo proacuteprio eacute que se fica livre para trazer a si mesmo para o

consultoacuterio psicoteraacutepico e natildeo apenas o uniforme de terapeuta

Consideraccedilotildees Finais

Quando esta pesquisa foi iniciada uma das inquietaccedilotildees que a pautavam referia-se

agrave necessidade de se buscar recursos natildeo apenas em uma abordagem e tambeacutem

natildeo somente na psicologia Havia inicialmente uma grande convicccedilatildeo da

necessidade e importacircncia de buscar em outras aacutereas o apoio substancial para um

pleno desenvolvimento do processo terapecircutico da crianccedila Entretanto tal

convicccedilatildeo natildeo se estendia agrave busca de apoio em outras abordagens visto a

incompletude de cada teoria diante da amplitude e complexidade do ser humano -

especialmente no que se refere a uma abordagem psicoteraacutepica infantil

Incomodava a possibilidade de que colegas e comunidade cientiacutefica considerassem

tal procedimento como ecleacutetico salada embora a experiecircncia demonstrasse

que uma integraccedilatildeo cuidadosa muito poderia enriquecer a praacutetica cliacutenica

Apoacutes todo o percurso de campo e teoacuterico a necessidade de busca de apoio em

outras abordagens tambeacutem foi encontrada em algumas psicoterapeutas

colaboradoras aleacutem de ter ficado evidente na revisatildeo literaacuteria que alguns autores

compartilham essas ideacuteias A partir de entatildeo tal posicionamento tornou-se mais

confortaacutevel pois se constatou que na verdade a inquietaccedilatildeo suscita mudanccedilas e

natildeo eacute prudente fechar--se em uma soacute verdade quando haacute o comprometi-mento

com o avanccedilo da ciecircncia psicoloacutegica Hoje a ideacuteia de fixar-se a um soacute modelo jaacute

estaacute sendo superada e vista como possibilidade de ficar amarrado ao dogmatismo

de uma ou outra corrente do pensamento constituiacutedo Ficar preso a um soacute modelo eacute

demais limitante se por um lado isso possa trazer uma certa seguranccedila por

outro fica-se amarrado Essas amarras contradizem o processo de autonomia que

todo terapeuta propotildee possibilitar que o cliente encontre Se houver maior

flexibilidade eacute possiacutevel adaptar os recursos agraves necessidades dos clientes e natildeo os adaptar agrave teoria em que se acredita

No dizer de Fernando Pessoa navegar eacute preciso viver natildeo eacute preciso (precisatildeo)

Portanto diante desse viver tatildeo impreciso como eacute possiacutevel trabalhar com a

subjetividade dos clientes de forma tatildeo precisa Eacute preciso suportar as incertezas

deixar soltas as amarras das teorias que aprisionam para que se possa atuar

realmente numa postura eacutetica e esteacutetica com os clientes Acredita-se que acima da

modalidade psicoteraacutepica estaacute a eacutetica a postura do profissional diante do fazer

terapecircutico

Branco (1998) afirma que o perfil do psicoacutelogo hoje deve ser o de um profissional

criacutetico natildeo necessariamente de um especialista mas sim de um estudioso

permanente das situaccedilotildees nas quais sua praacutetica esteja implicada Um profissional

que se habitue a exercitar-se numa visatildeo complexa e que perceba as contradiccedilotildees

inerentes agrave sua praacutetica e a necessidade de refazecirc-la ajudando os grupos

indiviacuteduos e instituiccedilotildees a eliminarem os processos de desuma-nizaccedilatildeo e alienaccedilatildeo responsaacuteveis pelo sofrimento psiacutequico

A formaccedilatildeo do psicoacutelogo precisa possibilitar o engajamento do futuro profissional

na sociedade aleacutem de reelaborar o conhecimento constituiacutedo Natildeo se deve com

isso eliminar as diferenccedilas teoacutericas e metodo-loacutegicas apesar das finalidades

comuns O trabalho acadecircmico coletivo deve explicitar e aprofundar as

divergecircncias Aleacutem disso a exigecircncia por uma articulaccedilatildeo entre teoria e praacutetica natildeo

poderaacute significar ativismo que diminua o estudo das teorias Eacute preciso pois

abarcar de forma profunda todas as matrizes do pensamento psicoloacutegico em uma

dinacircmica de trabalho que permita o confronto de pontos de vista e projetos que reuacutenam vaacuterios campos do saber

Para isso eacute preciso estar atento agraves poliacuteticas acadecircmicas que priorizam

determinadas abordagens normalmente uma ou outra dentre as mais consa-

gradas fechando o aluno em algumas verdades em termos teoacutericos e praacuteticos

atraveacutes dos estaacutegios e da pesquisa impossibilitando-o de ter acesso a uma visatildeo

mais global e com praacuteticas comprometidas com o avanccedilo da ciecircncia psicoloacutegica

Para que ratificando o pensamento de Bock (1997) seja possiacutevel formar

profissionais criacuteticos inquietos permeaacuteveis agraves inovaccedilotildees e que aceitem o desafio

de coletivamente produzir alternativas agrave psicologia tradicional tudo isto aliado agrave

transformaccedilatildeo ao movimento da sociedade e aos interesses da maioria da

populaccedilatildeo haacute de se olhar criticamente a proacutepria atuaccedilatildeo como cliacutenicos e docentes

avaliando se a postura estaacute sendo coerente com o avanccedilo da ciecircncia psicoloacutegica ou de especialista de conhecimento fechado numa soacute verdade

Entende-se que atraveacutes do percurso percorrido na elaboraccedilatildeo desse estudo seja

possiacutevel com base em abordagens tradicionais promover reflexotildees que

possibilitem avaliaacute-las de forma respeitosa pelas valiosas contribuiccedilotildees que

oferecem agrave praacutetica cliacutenica poreacutem sem esquecer que satildeo algumas possibilidades

dentro de um leque de opccedilotildees Natildeo se pode portanto fechar-se nessas verdades e

tambeacutem natildeo se pode deixar de consideraacute-las como uacuteteis e eficazes mesmo diante

do avanccedilo da ciecircncia

Embora este estudo tenha partido das praacuteticas tradicionais natildeo se restringiu a

apenas uma abordagem e tambeacutem possibilitou algumas reflexotildees para aleacutem delas

atraveacutes dos temas emergentes nas entrevistas No entanto fica a contribuiccedilatildeo para

futuras pesquisas e tambeacutem a reflexatildeo de que as praacuteticas tradicionais satildeo muito

importantes mesmo com todo avanccedilo da psicologia Mas como cliacutenicos e docentes

formadores de psicoacutelogos eacute necessaacuteria uma certa permeabilidade que possibilite

criacutetica e flexibilidade para acompanhar a evoluccedilatildeo e exercer uma praacutetica para aleacutem do instituiacutedo a serviccedilo da humanizaccedilatildeo e desalienaccedilatildeo

Vale ressaltar tambeacutem a localidade onde essa pesquisa foi realizada - realidade

Pernambucana ficando tambeacutem a sugestatildeo para futuras pesquisas em outras regiotildees brasileiras

Referecircncias

Axline VM (1980a) Dibs em busca de si mesmo Rio de Janeiro Agir

Axline VM (1980b) Ludoterapia a dinacircmica interior da crianccedila Belo Horizonte Interlivros

Bermuacutedez JGR (1997) Teoriacutea y teacutecnica psicodramatica Buenos Aires Paidoacutes

Bock AMB (1997) Formaccedilatildeo do psicoacutelogo um debate a partir do significado do fenocircmeno psicoloacutegico Revista Psicologia Ciecircncia e Profissatildeo 17 (2) 37-42

Branco MTC (1998) Que profissional queremos formar Revista Psicologia Ciecircncia e Profissatildeo 18(3) 28-35

Colombo SF (2000) Em busca do sagrado In HM Cruz Papai mamatildee vocecirc E

eu Conversaccedilotildees terapecircuticas em famiacutelias com crianccedilas (pp168-88) Satildeo Paulo Casa do Psicoacutelogo

Dorfman E (1974) Ludoterapia In C Rogers Terapia centrada no paciente (pp269-317) Satildeo Paulo Martins Fontes

Epston D (1997) I am a bear discovering discoveries In C Smith amp D Nylund Narrative therapies with children and adolescents New York Guilford Press

Ferrari DCA (1984) A postura do psicodramatista no Psicodrama de crianccedila

Revista da Febrap (2) 55-60

Grandesso MA (2000a) Sobre a reconstruccedilatildeo do significado uma anaacutelise epistemoloacutegica e hermenecircutica da praacutetica cliacutenica Satildeo Paulo Casa do Psicoacutelogo

Grandesso MA (2000b) Quem eacute a dona da histoacuteria In HM CruzPapai mamatildee

vocecirc E eu Conversaccedilotildees terapecircuticas em famiacutelias com crianccedilas (pp101-22) Satildeo Paulo Casa do Psicoacutelogo

Molina-Loza CA (2002 maio) Os canaacuterios da minha avoacute as asas da imaginaccedilatildeo

ou conta para o cliente que ele proacuteprio se reconta[on-line] Disponiacutevel em httpwwwabrateforgbrmeioartigoshtm

Oaklander V (1980) Descobrindo crianccedilas abordagem gestaacuteltica com crianccedilas e adolescentes Satildeo Paulo Summus

Oaklander V (1994) Gestalt Play Therapy In KJ OConnor Handbook of play

therapy v2 advances and innovations Willy Series on personality processes

(pp143-56) New York The Guilford Press

Oaklander V (1999) Group play therapy from a Gestalt therapy perspective In

DS Sweeney (Ed)The Handbook of group play therapy (pp162-75) New York The Guilford Press

Oaklander V (2000) Short-Term Gestalt play therapy for grieving children In

HG Kaduson amp C E Schaefer (Ed) Short-Term play therapy for children (pp28-

52) New York The Guilford Press

Osoacuterio LC amp Valle ME (2002) Terapia de famiacutelias novas tendecircncias Porto Alegre Artmed

Silva ER Psicologia Cliacutenica um novo espetaacuteculo dimensotildees eacuteticas e poliacuteticas Revista Psicologia Ciecircncia e Profissatildeo 21 (4)78-87

Weber LND Botomeacute SP amp Rebelatto JR(1996) Psicologia definiccedilotildees perspectivas e desenvolvimento Psicologia Argumento 29 9-28

Whitaker CA amp Bumberry WM (1990) Danccedilando com a famiacutelia uma abordagem simboacutelico-experiencial Porto Alegre Artes Meacutedicas

Endereccedilo para correspondecircncia

Maria Ivone Marchi Costa

Rua Irmatilde Arminda 10-50

7044-160 Bauru SP Brasil E-mailmarchicostatravelnetcombr

Recebido para publicaccedilatildeo em 23 marccedilo de 2004 Aceito em 21 de junho de 2004

1 Departamento de Psicologia Universidade do Sagrado Coraccedilatildeo de Bauru Bauru

SP Brasil 2 Poacutes-Graduaccedilatildeo em Psicologia Cliacutenica Universidade Catoacutelica de Pernambuco Recife PE Brasil

Page 6: A Prática Da Psicoterapia Infantil Na Visão de Terapeutas Nas Seguintes Abordagens - Psicodrama, Gestalt Terapia e Centrada Na Pessoa

crianccedila pequena que lide sozinha com as relaccedilotildees muitas vezes inflexiacuteveis e

traumatizantes com os pais

Oaklander (1980) a esse respeito relata que eacute importante ajudar a crianccedila a fazer

as escolhas que quiser e a compreender quando elas satildeo impossiacuteveis destacando

que eacute de grande importacircncia auxiliaacute-la na compreensatildeo de que natildeo pode assumir responsabili-dades por aquilo que natildeo pode escolher

Outro obstaacuteculo vivenciado pelas terapeutas refere-se ao pequeno nuacutemero de

profissionais que atuam nessa especialidade dificultando assim uma troca muacutetua e

os encaminhamentos Logo se existem poucas pessoas trabalhando na praacutetica

cliacutenica e considerando que a teoria eacute fruto dela entatildeo satildeo tambeacutem escassas as

pesquisas bem como a literatura a respeito da praacutetica infantil nas abordagens

estudadas Esses obstaacuteculos tecircm toda uma repercussatildeo na motivaccedilatildeo das pessoas para trabalhar com crianccedilas

Recursos utilizados

Atraveacutes das falas pocircde-se distinguir dois tipos de recursos usados pelas

terapeutas a rede social da crianccedila e os recursos teacutecnicos Quanto agrave rede social as

psicoterapeutas acreditam na importacircncia da famiacutelia como recurso fundamental

para auxiliar o processo da crianccedila Entendem tambeacutem que muitas vezes a

crianccedila eacute o paciente identificado o denunciador de toda a disfuncionalidade familiar

Eacute consenso entre as terapeutas que a famiacutelia pode atuar como colaboradora e

mantenedora do sintoma da crianccedila e nesse caso colocam em duacutevida os

resultados da psicoterapia infantil quando natildeo se faz um trabalho conjunto com a

famiacutelia Todas trabalham com a rede social da crianccedila no entanto a forma de

trabalhar eacute que varia de orientaccedilatildeo Para elas a terapia deveria possibilitar aos

familiares serem atores ativos de sua histoacuteria e natildeo apenas a plateacuteia que assistiraacute e

receberaacute todas as informaccedilotildees a respeito de como recuperar as circunstacircncias que

estatildeo produzindo sofrimento O fato de natildeo se colocar como pessoas que

participam como agentes transformadores de sua proacutepria histoacuteria os isenta de uma

maior responsa-bilidade tornando a relaccedilatildeo com o psicoterapeuta e com o

processo psicoteraacutepico superficial e pouco comprometida sendo assim mais difiacutecil conquistar o crescimento

Conveacutem ressaltar que assim como Grandesso (2000b) entende-se como

imprescindiacutevel respeitar os conhecimentos dos pais da crianccedila em relaccedilatildeo ao

problema que vivem Como protagonistas da histoacuteria vivida seu conhecimento

caracteriza-se como uma espeacutecie de conhecimento a partir de dentro Os pais

por viverem com a crianccedila conhecem-na muito melhor que qualquer terapeuta

tomando como referecircncia o seu lugar como pais Comunga-se tambeacutem com tais

ideacuteias pois se entende que os pais tecircm recursos naturais na praacutetica de convivecircncia com a crianccedila que podem ser mobilizados terapeuticamente

Grandesso (2000b) considera importante que o terapeuta esteja atento quanto aos

ganhos perdas apreensotildees medos e aborrecimentos accedilotildees narrativas

organizadoras dos problemas que os membros da famiacutelia vivem que podem favorecer ou dificultar a busca de alternativas de mudanccedila

Em relaccedilatildeo aos recursos teacutecnicos de maneira geral as psicoterapeutas utilizam

brinquedos e outros recursos normais de uma sala de ludoterapia - previstos na

abordagem que tecircm como diretriz - que variam entre estruturados e natildeo estruturados sendo os uacuteltimos priorizados pelas psicoterapeutas psicodramatistas

As terapeutas tambeacutem consideram o valor de se utilizarem como recurso algumas

teacutecnicas de outras abordagens desde que com conhecimento responsa-bilidade e

concordacircncia do cliente Molina-Loza (2002) partilha essa ideacuteia considerando que

se servir de um tipo de abordagem natildeo implica necessariamente abandonar todas

as outras Para o autor uma forma de intervir que fosse igualmente vaacutelida para

todo mundo representaria um empobrecimento pois natildeo se utilizaria essa ou

aquela abordagem segundo os problemas apresentados pelos clientes mas se

adaptariam os clientes aos limites das teorias Infelizmente eacute isso que acaba

acontecendo quando se pertence a um modelo

Assim quanto agrave utilizaccedilatildeo de teacutecnicas concorda-se com os psicodramatistas

Bermuacutedez (1997) e Ferrari (1984) Oaklander (1980 1994 1999 2000) da

Gestalt terapia e Axline (1980a 1980b) da abordagem centrada na pessoa de

que a teacutecnica para a praacutetica infantil eacute necessaacuteria como instrumento mediador de

comunicaccedilatildeo mas natildeo deve ser tomada como um fim

Necessidades sentidas pelas psicoterapeutas

As psicoterapeutas entendem que aleacutem do aperfeiccediloamento permanente eacute

igualmente importan-te estarem atualizados em relaccedilatildeo ao universo infantil de

maneira geral suas brincadeiras linguagem jogos que estatildeo no mercado

literatura programas de TV muacutesicas informaacutetica vida escolar por meio de visitas

agrave escola que a crianccedila frequumlenta enfim conhecer o cotidiano dessa crianccedila no paiacutes no estado na cidade e na sua famiacutelia

Eacute ainda sentido como necessidade estarem atentos ao trabalho pessoal do

profissional por meio de psicoterapias jaacute que a sua crianccedila estaacute constante-mente

sendo acionada Revisar a praacutetica mediante supervisotildees e trocas entre profissionais

eacute tambeacutem uma necessidade Infelizmente em virtude de existirem poucos

profissionais que atuem nessa especialidade haacute dificuldade nesse sentido assim como dificuldade em encaminhamentos e indicaccedilotildees

Essa carecircncia se estende consequumlentemente para a literatura da teoria e praacutetica

dessa especialidade que eacute pouca e desatualizada Os profissionais interessa-dos

tecircm de buscar apoio em outras abordagens e fazer um esforccedilo grande de

articulaccedilatildeo para que natildeo fique fragmentada Nesse sentido Osoacuterio e Valle (2002)

fazem uma ressalva trabalhar com distintos marcos referenciais teoacutericos requer

um niacutevel de habilitaccedilatildeo ao qual soacute tecircm acesso profissionais mais experientes

Tambeacutem foi relatada uma carecircncia muito grande em relaccedilatildeo a congressos palestras e cursos voltados para a praacutetica cliacutenica infantil

Avaliaccedilatildeo da especialidade

As psicoterapeutas acreditam que a praacutetica cliacutenica infantil estaacute restrita por ser mais

difiacutecil trabalhar com a crianccedila e por exigir do profissional a compreen-satildeo da

linguagem simboacutelica manifesta pela crianccedila atraveacutes da fantasia da brincadeira

Tambeacutem foi destacado que essa praacutetica eacute altamente frustrante exigindo grande

limiar do psicoterapeuta para natildeo desistir considerando a dependecircncia que o

processo da crianccedila manteacutem em relaccedilatildeo agrave sua rede social principalmente seus

pais Portanto trabalhar com a crianccedila eacute trabalhar simultaneamente com a famiacutelia

tornandose assim uma praacutetica de grande complexidade

Tambeacutem foram feitas referecircncias agrave demanda fiacutesica que a crianccedila requer do

psicoterapeuta sendo considerado um fator que gera cansaccedilo nos psicotera-peutas

mais velhos que muitas vezes acabam por desistir de trabalhar com ela por natildeo

aguumlentarem mais abaixar levantar sentar-se no chatildeo ou ateacute pular

O sucesso do trabalho do terapeuta depende muitas vezes da

habilidadeconhecimento do profissional nesse acircmbito familiar E natildeo se sabe se os

profissionais estatildeo com formaccedilatildeo eou habilitaccedilatildeo para tais praacuteticas e consequumlentemente quais satildeo os niacuteveis de frustraccedilatildeo que tecircm vivenciado

De maneira geral segundo as participantes o proacuteprio enfoque do curso de

psicologia estaacute mais voltado ao adulto do que agrave crianccedila Num contexto mais amplo

isso repercute na formaccedilatildeo do psicoacutelogo e na escolha dos estudantes ao fazerem

sua opccedilatildeo de atuaccedilatildeo por conseguinte essa aacuterea cada vez mais tem um reduzido

nuacutemero de pessoas

Branco (1998) traz alguns questionamentos agraves universidades indagando sobre o

tipo de profissional que se quer formar no curso de psicologia se comprometido com a mudanccedila ou com a legitimaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais

Webber Botomeacute e Rebelatto (1996 p11) criticaram os curriacuteculos dos cursos de

formaccedilatildeo considerando-os mais voltados ao ensino de teacutecnicas e modelos de

atuaccedilatildeo existentes (e consagrados) do que ao desenvolvimento de atuaccedilotildees profissionais socialmente significativas

Silva (2001) afirma que atualmente se vive em busca de uma psicologia cliacutenica que

levando em conta os saberes dos quais se dispotildee efetue intervenccedilotildees nas vidas

nas relaccedilotildees nas subjetividades das pessoas sem cair em contradiccedilatildeo ou ser

rechaccedilada pelas proacuteprias criacuteticas de quem a pratica Uma cliacutenica que invente praacutexis eacuteticas e politicamente comprometidas

Segundo Bock (1997) a meta do psicoacutelogo deve ser estar sempre em movimento

Um psicoacutelogo aliado da transformaccedilatildeo do movimento da sociedade e dos

interesses da maioria da populaccedilatildeo Um psicoacutelogo inquieto conspirador que saiba

estranhar aquilo que na realidade se tornou tatildeo familiar que chega a ser pensado

como natural Um psicoacutelogo permeaacutevel agraves inovaccedilotildees que aceite o desafio de coletivamente produzir alternativas agrave psicologia tradicional

Outras observaccedilotildees

O trabalho com a crianccedila foi considerado muito importante visto que lidar

precocemente com as questotildees que trazem inquietaccedilotildees e sofrimento eacute muito mais

proveitoso do que lidar com elas quando jaacute estatildeo muito cristalizadas

As participantes avaliaram que ser psicoterapeuta eacute muito gratificante mas

tambeacutem muito difiacutecil porque o profissional eacute o proacuteprio instrumento de trabalho e

isto significa que para se oferecer um trabalho de boa qualidade eacute preciso estar

bem pessoalmente e capacitado com conhecimentos teoacuterico-teacutecnicos mediante

supervisotildees especializa-ccedilotildees e isso tudo eacute muito dispendioso financeiramente Entretanto o desafio natildeo paacutera por aiacute

Colombo (2000) considera estimulante e desafiador o fato de que o psicoterapeuta

escolhe uma atividade profissional na qual eacute chamado a utilizar como instrumento

baacutesico de trabalho o proacuteprio self Para a autora eacute inquietante saber que a maacutegica

que o terapeuta deve oferecer eacute a sua integridade aqui e agora habitar a sua

morada estar em conexatildeo consigo com a proacutepria histoacuteria crenccedilas e preconceitos

com o humano e o sagrado dentro de si Enfim trazer o que somente eacute possiacutevel na

singularidade e integridade Whitaker e Bumberry (1990) destacaram que apenas

quando se luta consigo proacuteprio eacute que se fica livre para trazer a si mesmo para o

consultoacuterio psicoteraacutepico e natildeo apenas o uniforme de terapeuta

Consideraccedilotildees Finais

Quando esta pesquisa foi iniciada uma das inquietaccedilotildees que a pautavam referia-se

agrave necessidade de se buscar recursos natildeo apenas em uma abordagem e tambeacutem

natildeo somente na psicologia Havia inicialmente uma grande convicccedilatildeo da

necessidade e importacircncia de buscar em outras aacutereas o apoio substancial para um

pleno desenvolvimento do processo terapecircutico da crianccedila Entretanto tal

convicccedilatildeo natildeo se estendia agrave busca de apoio em outras abordagens visto a

incompletude de cada teoria diante da amplitude e complexidade do ser humano -

especialmente no que se refere a uma abordagem psicoteraacutepica infantil

Incomodava a possibilidade de que colegas e comunidade cientiacutefica considerassem

tal procedimento como ecleacutetico salada embora a experiecircncia demonstrasse

que uma integraccedilatildeo cuidadosa muito poderia enriquecer a praacutetica cliacutenica

Apoacutes todo o percurso de campo e teoacuterico a necessidade de busca de apoio em

outras abordagens tambeacutem foi encontrada em algumas psicoterapeutas

colaboradoras aleacutem de ter ficado evidente na revisatildeo literaacuteria que alguns autores

compartilham essas ideacuteias A partir de entatildeo tal posicionamento tornou-se mais

confortaacutevel pois se constatou que na verdade a inquietaccedilatildeo suscita mudanccedilas e

natildeo eacute prudente fechar--se em uma soacute verdade quando haacute o comprometi-mento

com o avanccedilo da ciecircncia psicoloacutegica Hoje a ideacuteia de fixar-se a um soacute modelo jaacute

estaacute sendo superada e vista como possibilidade de ficar amarrado ao dogmatismo

de uma ou outra corrente do pensamento constituiacutedo Ficar preso a um soacute modelo eacute

demais limitante se por um lado isso possa trazer uma certa seguranccedila por

outro fica-se amarrado Essas amarras contradizem o processo de autonomia que

todo terapeuta propotildee possibilitar que o cliente encontre Se houver maior

flexibilidade eacute possiacutevel adaptar os recursos agraves necessidades dos clientes e natildeo os adaptar agrave teoria em que se acredita

No dizer de Fernando Pessoa navegar eacute preciso viver natildeo eacute preciso (precisatildeo)

Portanto diante desse viver tatildeo impreciso como eacute possiacutevel trabalhar com a

subjetividade dos clientes de forma tatildeo precisa Eacute preciso suportar as incertezas

deixar soltas as amarras das teorias que aprisionam para que se possa atuar

realmente numa postura eacutetica e esteacutetica com os clientes Acredita-se que acima da

modalidade psicoteraacutepica estaacute a eacutetica a postura do profissional diante do fazer

terapecircutico

Branco (1998) afirma que o perfil do psicoacutelogo hoje deve ser o de um profissional

criacutetico natildeo necessariamente de um especialista mas sim de um estudioso

permanente das situaccedilotildees nas quais sua praacutetica esteja implicada Um profissional

que se habitue a exercitar-se numa visatildeo complexa e que perceba as contradiccedilotildees

inerentes agrave sua praacutetica e a necessidade de refazecirc-la ajudando os grupos

indiviacuteduos e instituiccedilotildees a eliminarem os processos de desuma-nizaccedilatildeo e alienaccedilatildeo responsaacuteveis pelo sofrimento psiacutequico

A formaccedilatildeo do psicoacutelogo precisa possibilitar o engajamento do futuro profissional

na sociedade aleacutem de reelaborar o conhecimento constituiacutedo Natildeo se deve com

isso eliminar as diferenccedilas teoacutericas e metodo-loacutegicas apesar das finalidades

comuns O trabalho acadecircmico coletivo deve explicitar e aprofundar as

divergecircncias Aleacutem disso a exigecircncia por uma articulaccedilatildeo entre teoria e praacutetica natildeo

poderaacute significar ativismo que diminua o estudo das teorias Eacute preciso pois

abarcar de forma profunda todas as matrizes do pensamento psicoloacutegico em uma

dinacircmica de trabalho que permita o confronto de pontos de vista e projetos que reuacutenam vaacuterios campos do saber

Para isso eacute preciso estar atento agraves poliacuteticas acadecircmicas que priorizam

determinadas abordagens normalmente uma ou outra dentre as mais consa-

gradas fechando o aluno em algumas verdades em termos teoacutericos e praacuteticos

atraveacutes dos estaacutegios e da pesquisa impossibilitando-o de ter acesso a uma visatildeo

mais global e com praacuteticas comprometidas com o avanccedilo da ciecircncia psicoloacutegica

Para que ratificando o pensamento de Bock (1997) seja possiacutevel formar

profissionais criacuteticos inquietos permeaacuteveis agraves inovaccedilotildees e que aceitem o desafio

de coletivamente produzir alternativas agrave psicologia tradicional tudo isto aliado agrave

transformaccedilatildeo ao movimento da sociedade e aos interesses da maioria da

populaccedilatildeo haacute de se olhar criticamente a proacutepria atuaccedilatildeo como cliacutenicos e docentes

avaliando se a postura estaacute sendo coerente com o avanccedilo da ciecircncia psicoloacutegica ou de especialista de conhecimento fechado numa soacute verdade

Entende-se que atraveacutes do percurso percorrido na elaboraccedilatildeo desse estudo seja

possiacutevel com base em abordagens tradicionais promover reflexotildees que

possibilitem avaliaacute-las de forma respeitosa pelas valiosas contribuiccedilotildees que

oferecem agrave praacutetica cliacutenica poreacutem sem esquecer que satildeo algumas possibilidades

dentro de um leque de opccedilotildees Natildeo se pode portanto fechar-se nessas verdades e

tambeacutem natildeo se pode deixar de consideraacute-las como uacuteteis e eficazes mesmo diante

do avanccedilo da ciecircncia

Embora este estudo tenha partido das praacuteticas tradicionais natildeo se restringiu a

apenas uma abordagem e tambeacutem possibilitou algumas reflexotildees para aleacutem delas

atraveacutes dos temas emergentes nas entrevistas No entanto fica a contribuiccedilatildeo para

futuras pesquisas e tambeacutem a reflexatildeo de que as praacuteticas tradicionais satildeo muito

importantes mesmo com todo avanccedilo da psicologia Mas como cliacutenicos e docentes

formadores de psicoacutelogos eacute necessaacuteria uma certa permeabilidade que possibilite

criacutetica e flexibilidade para acompanhar a evoluccedilatildeo e exercer uma praacutetica para aleacutem do instituiacutedo a serviccedilo da humanizaccedilatildeo e desalienaccedilatildeo

Vale ressaltar tambeacutem a localidade onde essa pesquisa foi realizada - realidade

Pernambucana ficando tambeacutem a sugestatildeo para futuras pesquisas em outras regiotildees brasileiras

Referecircncias

Axline VM (1980a) Dibs em busca de si mesmo Rio de Janeiro Agir

Axline VM (1980b) Ludoterapia a dinacircmica interior da crianccedila Belo Horizonte Interlivros

Bermuacutedez JGR (1997) Teoriacutea y teacutecnica psicodramatica Buenos Aires Paidoacutes

Bock AMB (1997) Formaccedilatildeo do psicoacutelogo um debate a partir do significado do fenocircmeno psicoloacutegico Revista Psicologia Ciecircncia e Profissatildeo 17 (2) 37-42

Branco MTC (1998) Que profissional queremos formar Revista Psicologia Ciecircncia e Profissatildeo 18(3) 28-35

Colombo SF (2000) Em busca do sagrado In HM Cruz Papai mamatildee vocecirc E

eu Conversaccedilotildees terapecircuticas em famiacutelias com crianccedilas (pp168-88) Satildeo Paulo Casa do Psicoacutelogo

Dorfman E (1974) Ludoterapia In C Rogers Terapia centrada no paciente (pp269-317) Satildeo Paulo Martins Fontes

Epston D (1997) I am a bear discovering discoveries In C Smith amp D Nylund Narrative therapies with children and adolescents New York Guilford Press

Ferrari DCA (1984) A postura do psicodramatista no Psicodrama de crianccedila

Revista da Febrap (2) 55-60

Grandesso MA (2000a) Sobre a reconstruccedilatildeo do significado uma anaacutelise epistemoloacutegica e hermenecircutica da praacutetica cliacutenica Satildeo Paulo Casa do Psicoacutelogo

Grandesso MA (2000b) Quem eacute a dona da histoacuteria In HM CruzPapai mamatildee

vocecirc E eu Conversaccedilotildees terapecircuticas em famiacutelias com crianccedilas (pp101-22) Satildeo Paulo Casa do Psicoacutelogo

Molina-Loza CA (2002 maio) Os canaacuterios da minha avoacute as asas da imaginaccedilatildeo

ou conta para o cliente que ele proacuteprio se reconta[on-line] Disponiacutevel em httpwwwabrateforgbrmeioartigoshtm

Oaklander V (1980) Descobrindo crianccedilas abordagem gestaacuteltica com crianccedilas e adolescentes Satildeo Paulo Summus

Oaklander V (1994) Gestalt Play Therapy In KJ OConnor Handbook of play

therapy v2 advances and innovations Willy Series on personality processes

(pp143-56) New York The Guilford Press

Oaklander V (1999) Group play therapy from a Gestalt therapy perspective In

DS Sweeney (Ed)The Handbook of group play therapy (pp162-75) New York The Guilford Press

Oaklander V (2000) Short-Term Gestalt play therapy for grieving children In

HG Kaduson amp C E Schaefer (Ed) Short-Term play therapy for children (pp28-

52) New York The Guilford Press

Osoacuterio LC amp Valle ME (2002) Terapia de famiacutelias novas tendecircncias Porto Alegre Artmed

Silva ER Psicologia Cliacutenica um novo espetaacuteculo dimensotildees eacuteticas e poliacuteticas Revista Psicologia Ciecircncia e Profissatildeo 21 (4)78-87

Weber LND Botomeacute SP amp Rebelatto JR(1996) Psicologia definiccedilotildees perspectivas e desenvolvimento Psicologia Argumento 29 9-28

Whitaker CA amp Bumberry WM (1990) Danccedilando com a famiacutelia uma abordagem simboacutelico-experiencial Porto Alegre Artes Meacutedicas

Endereccedilo para correspondecircncia

Maria Ivone Marchi Costa

Rua Irmatilde Arminda 10-50

7044-160 Bauru SP Brasil E-mailmarchicostatravelnetcombr

Recebido para publicaccedilatildeo em 23 marccedilo de 2004 Aceito em 21 de junho de 2004

1 Departamento de Psicologia Universidade do Sagrado Coraccedilatildeo de Bauru Bauru

SP Brasil 2 Poacutes-Graduaccedilatildeo em Psicologia Cliacutenica Universidade Catoacutelica de Pernambuco Recife PE Brasil

Page 7: A Prática Da Psicoterapia Infantil Na Visão de Terapeutas Nas Seguintes Abordagens - Psicodrama, Gestalt Terapia e Centrada Na Pessoa

As terapeutas tambeacutem consideram o valor de se utilizarem como recurso algumas

teacutecnicas de outras abordagens desde que com conhecimento responsa-bilidade e

concordacircncia do cliente Molina-Loza (2002) partilha essa ideacuteia considerando que

se servir de um tipo de abordagem natildeo implica necessariamente abandonar todas

as outras Para o autor uma forma de intervir que fosse igualmente vaacutelida para

todo mundo representaria um empobrecimento pois natildeo se utilizaria essa ou

aquela abordagem segundo os problemas apresentados pelos clientes mas se

adaptariam os clientes aos limites das teorias Infelizmente eacute isso que acaba

acontecendo quando se pertence a um modelo

Assim quanto agrave utilizaccedilatildeo de teacutecnicas concorda-se com os psicodramatistas

Bermuacutedez (1997) e Ferrari (1984) Oaklander (1980 1994 1999 2000) da

Gestalt terapia e Axline (1980a 1980b) da abordagem centrada na pessoa de

que a teacutecnica para a praacutetica infantil eacute necessaacuteria como instrumento mediador de

comunicaccedilatildeo mas natildeo deve ser tomada como um fim

Necessidades sentidas pelas psicoterapeutas

As psicoterapeutas entendem que aleacutem do aperfeiccediloamento permanente eacute

igualmente importan-te estarem atualizados em relaccedilatildeo ao universo infantil de

maneira geral suas brincadeiras linguagem jogos que estatildeo no mercado

literatura programas de TV muacutesicas informaacutetica vida escolar por meio de visitas

agrave escola que a crianccedila frequumlenta enfim conhecer o cotidiano dessa crianccedila no paiacutes no estado na cidade e na sua famiacutelia

Eacute ainda sentido como necessidade estarem atentos ao trabalho pessoal do

profissional por meio de psicoterapias jaacute que a sua crianccedila estaacute constante-mente

sendo acionada Revisar a praacutetica mediante supervisotildees e trocas entre profissionais

eacute tambeacutem uma necessidade Infelizmente em virtude de existirem poucos

profissionais que atuem nessa especialidade haacute dificuldade nesse sentido assim como dificuldade em encaminhamentos e indicaccedilotildees

Essa carecircncia se estende consequumlentemente para a literatura da teoria e praacutetica

dessa especialidade que eacute pouca e desatualizada Os profissionais interessa-dos

tecircm de buscar apoio em outras abordagens e fazer um esforccedilo grande de

articulaccedilatildeo para que natildeo fique fragmentada Nesse sentido Osoacuterio e Valle (2002)

fazem uma ressalva trabalhar com distintos marcos referenciais teoacutericos requer

um niacutevel de habilitaccedilatildeo ao qual soacute tecircm acesso profissionais mais experientes

Tambeacutem foi relatada uma carecircncia muito grande em relaccedilatildeo a congressos palestras e cursos voltados para a praacutetica cliacutenica infantil

Avaliaccedilatildeo da especialidade

As psicoterapeutas acreditam que a praacutetica cliacutenica infantil estaacute restrita por ser mais

difiacutecil trabalhar com a crianccedila e por exigir do profissional a compreen-satildeo da

linguagem simboacutelica manifesta pela crianccedila atraveacutes da fantasia da brincadeira

Tambeacutem foi destacado que essa praacutetica eacute altamente frustrante exigindo grande

limiar do psicoterapeuta para natildeo desistir considerando a dependecircncia que o

processo da crianccedila manteacutem em relaccedilatildeo agrave sua rede social principalmente seus

pais Portanto trabalhar com a crianccedila eacute trabalhar simultaneamente com a famiacutelia

tornandose assim uma praacutetica de grande complexidade

Tambeacutem foram feitas referecircncias agrave demanda fiacutesica que a crianccedila requer do

psicoterapeuta sendo considerado um fator que gera cansaccedilo nos psicotera-peutas

mais velhos que muitas vezes acabam por desistir de trabalhar com ela por natildeo

aguumlentarem mais abaixar levantar sentar-se no chatildeo ou ateacute pular

O sucesso do trabalho do terapeuta depende muitas vezes da

habilidadeconhecimento do profissional nesse acircmbito familiar E natildeo se sabe se os

profissionais estatildeo com formaccedilatildeo eou habilitaccedilatildeo para tais praacuteticas e consequumlentemente quais satildeo os niacuteveis de frustraccedilatildeo que tecircm vivenciado

De maneira geral segundo as participantes o proacuteprio enfoque do curso de

psicologia estaacute mais voltado ao adulto do que agrave crianccedila Num contexto mais amplo

isso repercute na formaccedilatildeo do psicoacutelogo e na escolha dos estudantes ao fazerem

sua opccedilatildeo de atuaccedilatildeo por conseguinte essa aacuterea cada vez mais tem um reduzido

nuacutemero de pessoas

Branco (1998) traz alguns questionamentos agraves universidades indagando sobre o

tipo de profissional que se quer formar no curso de psicologia se comprometido com a mudanccedila ou com a legitimaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais

Webber Botomeacute e Rebelatto (1996 p11) criticaram os curriacuteculos dos cursos de

formaccedilatildeo considerando-os mais voltados ao ensino de teacutecnicas e modelos de

atuaccedilatildeo existentes (e consagrados) do que ao desenvolvimento de atuaccedilotildees profissionais socialmente significativas

Silva (2001) afirma que atualmente se vive em busca de uma psicologia cliacutenica que

levando em conta os saberes dos quais se dispotildee efetue intervenccedilotildees nas vidas

nas relaccedilotildees nas subjetividades das pessoas sem cair em contradiccedilatildeo ou ser

rechaccedilada pelas proacuteprias criacuteticas de quem a pratica Uma cliacutenica que invente praacutexis eacuteticas e politicamente comprometidas

Segundo Bock (1997) a meta do psicoacutelogo deve ser estar sempre em movimento

Um psicoacutelogo aliado da transformaccedilatildeo do movimento da sociedade e dos

interesses da maioria da populaccedilatildeo Um psicoacutelogo inquieto conspirador que saiba

estranhar aquilo que na realidade se tornou tatildeo familiar que chega a ser pensado

como natural Um psicoacutelogo permeaacutevel agraves inovaccedilotildees que aceite o desafio de coletivamente produzir alternativas agrave psicologia tradicional

Outras observaccedilotildees

O trabalho com a crianccedila foi considerado muito importante visto que lidar

precocemente com as questotildees que trazem inquietaccedilotildees e sofrimento eacute muito mais

proveitoso do que lidar com elas quando jaacute estatildeo muito cristalizadas

As participantes avaliaram que ser psicoterapeuta eacute muito gratificante mas

tambeacutem muito difiacutecil porque o profissional eacute o proacuteprio instrumento de trabalho e

isto significa que para se oferecer um trabalho de boa qualidade eacute preciso estar

bem pessoalmente e capacitado com conhecimentos teoacuterico-teacutecnicos mediante

supervisotildees especializa-ccedilotildees e isso tudo eacute muito dispendioso financeiramente Entretanto o desafio natildeo paacutera por aiacute

Colombo (2000) considera estimulante e desafiador o fato de que o psicoterapeuta

escolhe uma atividade profissional na qual eacute chamado a utilizar como instrumento

baacutesico de trabalho o proacuteprio self Para a autora eacute inquietante saber que a maacutegica

que o terapeuta deve oferecer eacute a sua integridade aqui e agora habitar a sua

morada estar em conexatildeo consigo com a proacutepria histoacuteria crenccedilas e preconceitos

com o humano e o sagrado dentro de si Enfim trazer o que somente eacute possiacutevel na

singularidade e integridade Whitaker e Bumberry (1990) destacaram que apenas

quando se luta consigo proacuteprio eacute que se fica livre para trazer a si mesmo para o

consultoacuterio psicoteraacutepico e natildeo apenas o uniforme de terapeuta

Consideraccedilotildees Finais

Quando esta pesquisa foi iniciada uma das inquietaccedilotildees que a pautavam referia-se

agrave necessidade de se buscar recursos natildeo apenas em uma abordagem e tambeacutem

natildeo somente na psicologia Havia inicialmente uma grande convicccedilatildeo da

necessidade e importacircncia de buscar em outras aacutereas o apoio substancial para um

pleno desenvolvimento do processo terapecircutico da crianccedila Entretanto tal

convicccedilatildeo natildeo se estendia agrave busca de apoio em outras abordagens visto a

incompletude de cada teoria diante da amplitude e complexidade do ser humano -

especialmente no que se refere a uma abordagem psicoteraacutepica infantil

Incomodava a possibilidade de que colegas e comunidade cientiacutefica considerassem

tal procedimento como ecleacutetico salada embora a experiecircncia demonstrasse

que uma integraccedilatildeo cuidadosa muito poderia enriquecer a praacutetica cliacutenica

Apoacutes todo o percurso de campo e teoacuterico a necessidade de busca de apoio em

outras abordagens tambeacutem foi encontrada em algumas psicoterapeutas

colaboradoras aleacutem de ter ficado evidente na revisatildeo literaacuteria que alguns autores

compartilham essas ideacuteias A partir de entatildeo tal posicionamento tornou-se mais

confortaacutevel pois se constatou que na verdade a inquietaccedilatildeo suscita mudanccedilas e

natildeo eacute prudente fechar--se em uma soacute verdade quando haacute o comprometi-mento

com o avanccedilo da ciecircncia psicoloacutegica Hoje a ideacuteia de fixar-se a um soacute modelo jaacute

estaacute sendo superada e vista como possibilidade de ficar amarrado ao dogmatismo

de uma ou outra corrente do pensamento constituiacutedo Ficar preso a um soacute modelo eacute

demais limitante se por um lado isso possa trazer uma certa seguranccedila por

outro fica-se amarrado Essas amarras contradizem o processo de autonomia que

todo terapeuta propotildee possibilitar que o cliente encontre Se houver maior

flexibilidade eacute possiacutevel adaptar os recursos agraves necessidades dos clientes e natildeo os adaptar agrave teoria em que se acredita

No dizer de Fernando Pessoa navegar eacute preciso viver natildeo eacute preciso (precisatildeo)

Portanto diante desse viver tatildeo impreciso como eacute possiacutevel trabalhar com a

subjetividade dos clientes de forma tatildeo precisa Eacute preciso suportar as incertezas

deixar soltas as amarras das teorias que aprisionam para que se possa atuar

realmente numa postura eacutetica e esteacutetica com os clientes Acredita-se que acima da

modalidade psicoteraacutepica estaacute a eacutetica a postura do profissional diante do fazer

terapecircutico

Branco (1998) afirma que o perfil do psicoacutelogo hoje deve ser o de um profissional

criacutetico natildeo necessariamente de um especialista mas sim de um estudioso

permanente das situaccedilotildees nas quais sua praacutetica esteja implicada Um profissional

que se habitue a exercitar-se numa visatildeo complexa e que perceba as contradiccedilotildees

inerentes agrave sua praacutetica e a necessidade de refazecirc-la ajudando os grupos

indiviacuteduos e instituiccedilotildees a eliminarem os processos de desuma-nizaccedilatildeo e alienaccedilatildeo responsaacuteveis pelo sofrimento psiacutequico

A formaccedilatildeo do psicoacutelogo precisa possibilitar o engajamento do futuro profissional

na sociedade aleacutem de reelaborar o conhecimento constituiacutedo Natildeo se deve com

isso eliminar as diferenccedilas teoacutericas e metodo-loacutegicas apesar das finalidades

comuns O trabalho acadecircmico coletivo deve explicitar e aprofundar as

divergecircncias Aleacutem disso a exigecircncia por uma articulaccedilatildeo entre teoria e praacutetica natildeo

poderaacute significar ativismo que diminua o estudo das teorias Eacute preciso pois

abarcar de forma profunda todas as matrizes do pensamento psicoloacutegico em uma

dinacircmica de trabalho que permita o confronto de pontos de vista e projetos que reuacutenam vaacuterios campos do saber

Para isso eacute preciso estar atento agraves poliacuteticas acadecircmicas que priorizam

determinadas abordagens normalmente uma ou outra dentre as mais consa-

gradas fechando o aluno em algumas verdades em termos teoacutericos e praacuteticos

atraveacutes dos estaacutegios e da pesquisa impossibilitando-o de ter acesso a uma visatildeo

mais global e com praacuteticas comprometidas com o avanccedilo da ciecircncia psicoloacutegica

Para que ratificando o pensamento de Bock (1997) seja possiacutevel formar

profissionais criacuteticos inquietos permeaacuteveis agraves inovaccedilotildees e que aceitem o desafio

de coletivamente produzir alternativas agrave psicologia tradicional tudo isto aliado agrave

transformaccedilatildeo ao movimento da sociedade e aos interesses da maioria da

populaccedilatildeo haacute de se olhar criticamente a proacutepria atuaccedilatildeo como cliacutenicos e docentes

avaliando se a postura estaacute sendo coerente com o avanccedilo da ciecircncia psicoloacutegica ou de especialista de conhecimento fechado numa soacute verdade

Entende-se que atraveacutes do percurso percorrido na elaboraccedilatildeo desse estudo seja

possiacutevel com base em abordagens tradicionais promover reflexotildees que

possibilitem avaliaacute-las de forma respeitosa pelas valiosas contribuiccedilotildees que

oferecem agrave praacutetica cliacutenica poreacutem sem esquecer que satildeo algumas possibilidades

dentro de um leque de opccedilotildees Natildeo se pode portanto fechar-se nessas verdades e

tambeacutem natildeo se pode deixar de consideraacute-las como uacuteteis e eficazes mesmo diante

do avanccedilo da ciecircncia

Embora este estudo tenha partido das praacuteticas tradicionais natildeo se restringiu a

apenas uma abordagem e tambeacutem possibilitou algumas reflexotildees para aleacutem delas

atraveacutes dos temas emergentes nas entrevistas No entanto fica a contribuiccedilatildeo para

futuras pesquisas e tambeacutem a reflexatildeo de que as praacuteticas tradicionais satildeo muito

importantes mesmo com todo avanccedilo da psicologia Mas como cliacutenicos e docentes

formadores de psicoacutelogos eacute necessaacuteria uma certa permeabilidade que possibilite

criacutetica e flexibilidade para acompanhar a evoluccedilatildeo e exercer uma praacutetica para aleacutem do instituiacutedo a serviccedilo da humanizaccedilatildeo e desalienaccedilatildeo

Vale ressaltar tambeacutem a localidade onde essa pesquisa foi realizada - realidade

Pernambucana ficando tambeacutem a sugestatildeo para futuras pesquisas em outras regiotildees brasileiras

Referecircncias

Axline VM (1980a) Dibs em busca de si mesmo Rio de Janeiro Agir

Axline VM (1980b) Ludoterapia a dinacircmica interior da crianccedila Belo Horizonte Interlivros

Bermuacutedez JGR (1997) Teoriacutea y teacutecnica psicodramatica Buenos Aires Paidoacutes

Bock AMB (1997) Formaccedilatildeo do psicoacutelogo um debate a partir do significado do fenocircmeno psicoloacutegico Revista Psicologia Ciecircncia e Profissatildeo 17 (2) 37-42

Branco MTC (1998) Que profissional queremos formar Revista Psicologia Ciecircncia e Profissatildeo 18(3) 28-35

Colombo SF (2000) Em busca do sagrado In HM Cruz Papai mamatildee vocecirc E

eu Conversaccedilotildees terapecircuticas em famiacutelias com crianccedilas (pp168-88) Satildeo Paulo Casa do Psicoacutelogo

Dorfman E (1974) Ludoterapia In C Rogers Terapia centrada no paciente (pp269-317) Satildeo Paulo Martins Fontes

Epston D (1997) I am a bear discovering discoveries In C Smith amp D Nylund Narrative therapies with children and adolescents New York Guilford Press

Ferrari DCA (1984) A postura do psicodramatista no Psicodrama de crianccedila

Revista da Febrap (2) 55-60

Grandesso MA (2000a) Sobre a reconstruccedilatildeo do significado uma anaacutelise epistemoloacutegica e hermenecircutica da praacutetica cliacutenica Satildeo Paulo Casa do Psicoacutelogo

Grandesso MA (2000b) Quem eacute a dona da histoacuteria In HM CruzPapai mamatildee

vocecirc E eu Conversaccedilotildees terapecircuticas em famiacutelias com crianccedilas (pp101-22) Satildeo Paulo Casa do Psicoacutelogo

Molina-Loza CA (2002 maio) Os canaacuterios da minha avoacute as asas da imaginaccedilatildeo

ou conta para o cliente que ele proacuteprio se reconta[on-line] Disponiacutevel em httpwwwabrateforgbrmeioartigoshtm

Oaklander V (1980) Descobrindo crianccedilas abordagem gestaacuteltica com crianccedilas e adolescentes Satildeo Paulo Summus

Oaklander V (1994) Gestalt Play Therapy In KJ OConnor Handbook of play

therapy v2 advances and innovations Willy Series on personality processes

(pp143-56) New York The Guilford Press

Oaklander V (1999) Group play therapy from a Gestalt therapy perspective In

DS Sweeney (Ed)The Handbook of group play therapy (pp162-75) New York The Guilford Press

Oaklander V (2000) Short-Term Gestalt play therapy for grieving children In

HG Kaduson amp C E Schaefer (Ed) Short-Term play therapy for children (pp28-

52) New York The Guilford Press

Osoacuterio LC amp Valle ME (2002) Terapia de famiacutelias novas tendecircncias Porto Alegre Artmed

Silva ER Psicologia Cliacutenica um novo espetaacuteculo dimensotildees eacuteticas e poliacuteticas Revista Psicologia Ciecircncia e Profissatildeo 21 (4)78-87

Weber LND Botomeacute SP amp Rebelatto JR(1996) Psicologia definiccedilotildees perspectivas e desenvolvimento Psicologia Argumento 29 9-28

Whitaker CA amp Bumberry WM (1990) Danccedilando com a famiacutelia uma abordagem simboacutelico-experiencial Porto Alegre Artes Meacutedicas

Endereccedilo para correspondecircncia

Maria Ivone Marchi Costa

Rua Irmatilde Arminda 10-50

7044-160 Bauru SP Brasil E-mailmarchicostatravelnetcombr

Recebido para publicaccedilatildeo em 23 marccedilo de 2004 Aceito em 21 de junho de 2004

1 Departamento de Psicologia Universidade do Sagrado Coraccedilatildeo de Bauru Bauru

SP Brasil 2 Poacutes-Graduaccedilatildeo em Psicologia Cliacutenica Universidade Catoacutelica de Pernambuco Recife PE Brasil

Page 8: A Prática Da Psicoterapia Infantil Na Visão de Terapeutas Nas Seguintes Abordagens - Psicodrama, Gestalt Terapia e Centrada Na Pessoa

mais velhos que muitas vezes acabam por desistir de trabalhar com ela por natildeo

aguumlentarem mais abaixar levantar sentar-se no chatildeo ou ateacute pular

O sucesso do trabalho do terapeuta depende muitas vezes da

habilidadeconhecimento do profissional nesse acircmbito familiar E natildeo se sabe se os

profissionais estatildeo com formaccedilatildeo eou habilitaccedilatildeo para tais praacuteticas e consequumlentemente quais satildeo os niacuteveis de frustraccedilatildeo que tecircm vivenciado

De maneira geral segundo as participantes o proacuteprio enfoque do curso de

psicologia estaacute mais voltado ao adulto do que agrave crianccedila Num contexto mais amplo

isso repercute na formaccedilatildeo do psicoacutelogo e na escolha dos estudantes ao fazerem

sua opccedilatildeo de atuaccedilatildeo por conseguinte essa aacuterea cada vez mais tem um reduzido

nuacutemero de pessoas

Branco (1998) traz alguns questionamentos agraves universidades indagando sobre o

tipo de profissional que se quer formar no curso de psicologia se comprometido com a mudanccedila ou com a legitimaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais

Webber Botomeacute e Rebelatto (1996 p11) criticaram os curriacuteculos dos cursos de

formaccedilatildeo considerando-os mais voltados ao ensino de teacutecnicas e modelos de

atuaccedilatildeo existentes (e consagrados) do que ao desenvolvimento de atuaccedilotildees profissionais socialmente significativas

Silva (2001) afirma que atualmente se vive em busca de uma psicologia cliacutenica que

levando em conta os saberes dos quais se dispotildee efetue intervenccedilotildees nas vidas

nas relaccedilotildees nas subjetividades das pessoas sem cair em contradiccedilatildeo ou ser

rechaccedilada pelas proacuteprias criacuteticas de quem a pratica Uma cliacutenica que invente praacutexis eacuteticas e politicamente comprometidas

Segundo Bock (1997) a meta do psicoacutelogo deve ser estar sempre em movimento

Um psicoacutelogo aliado da transformaccedilatildeo do movimento da sociedade e dos

interesses da maioria da populaccedilatildeo Um psicoacutelogo inquieto conspirador que saiba

estranhar aquilo que na realidade se tornou tatildeo familiar que chega a ser pensado

como natural Um psicoacutelogo permeaacutevel agraves inovaccedilotildees que aceite o desafio de coletivamente produzir alternativas agrave psicologia tradicional

Outras observaccedilotildees

O trabalho com a crianccedila foi considerado muito importante visto que lidar

precocemente com as questotildees que trazem inquietaccedilotildees e sofrimento eacute muito mais

proveitoso do que lidar com elas quando jaacute estatildeo muito cristalizadas

As participantes avaliaram que ser psicoterapeuta eacute muito gratificante mas

tambeacutem muito difiacutecil porque o profissional eacute o proacuteprio instrumento de trabalho e

isto significa que para se oferecer um trabalho de boa qualidade eacute preciso estar

bem pessoalmente e capacitado com conhecimentos teoacuterico-teacutecnicos mediante

supervisotildees especializa-ccedilotildees e isso tudo eacute muito dispendioso financeiramente Entretanto o desafio natildeo paacutera por aiacute

Colombo (2000) considera estimulante e desafiador o fato de que o psicoterapeuta

escolhe uma atividade profissional na qual eacute chamado a utilizar como instrumento

baacutesico de trabalho o proacuteprio self Para a autora eacute inquietante saber que a maacutegica

que o terapeuta deve oferecer eacute a sua integridade aqui e agora habitar a sua

morada estar em conexatildeo consigo com a proacutepria histoacuteria crenccedilas e preconceitos

com o humano e o sagrado dentro de si Enfim trazer o que somente eacute possiacutevel na

singularidade e integridade Whitaker e Bumberry (1990) destacaram que apenas

quando se luta consigo proacuteprio eacute que se fica livre para trazer a si mesmo para o

consultoacuterio psicoteraacutepico e natildeo apenas o uniforme de terapeuta

Consideraccedilotildees Finais

Quando esta pesquisa foi iniciada uma das inquietaccedilotildees que a pautavam referia-se

agrave necessidade de se buscar recursos natildeo apenas em uma abordagem e tambeacutem

natildeo somente na psicologia Havia inicialmente uma grande convicccedilatildeo da

necessidade e importacircncia de buscar em outras aacutereas o apoio substancial para um

pleno desenvolvimento do processo terapecircutico da crianccedila Entretanto tal

convicccedilatildeo natildeo se estendia agrave busca de apoio em outras abordagens visto a

incompletude de cada teoria diante da amplitude e complexidade do ser humano -

especialmente no que se refere a uma abordagem psicoteraacutepica infantil

Incomodava a possibilidade de que colegas e comunidade cientiacutefica considerassem

tal procedimento como ecleacutetico salada embora a experiecircncia demonstrasse

que uma integraccedilatildeo cuidadosa muito poderia enriquecer a praacutetica cliacutenica

Apoacutes todo o percurso de campo e teoacuterico a necessidade de busca de apoio em

outras abordagens tambeacutem foi encontrada em algumas psicoterapeutas

colaboradoras aleacutem de ter ficado evidente na revisatildeo literaacuteria que alguns autores

compartilham essas ideacuteias A partir de entatildeo tal posicionamento tornou-se mais

confortaacutevel pois se constatou que na verdade a inquietaccedilatildeo suscita mudanccedilas e

natildeo eacute prudente fechar--se em uma soacute verdade quando haacute o comprometi-mento

com o avanccedilo da ciecircncia psicoloacutegica Hoje a ideacuteia de fixar-se a um soacute modelo jaacute

estaacute sendo superada e vista como possibilidade de ficar amarrado ao dogmatismo

de uma ou outra corrente do pensamento constituiacutedo Ficar preso a um soacute modelo eacute

demais limitante se por um lado isso possa trazer uma certa seguranccedila por

outro fica-se amarrado Essas amarras contradizem o processo de autonomia que

todo terapeuta propotildee possibilitar que o cliente encontre Se houver maior

flexibilidade eacute possiacutevel adaptar os recursos agraves necessidades dos clientes e natildeo os adaptar agrave teoria em que se acredita

No dizer de Fernando Pessoa navegar eacute preciso viver natildeo eacute preciso (precisatildeo)

Portanto diante desse viver tatildeo impreciso como eacute possiacutevel trabalhar com a

subjetividade dos clientes de forma tatildeo precisa Eacute preciso suportar as incertezas

deixar soltas as amarras das teorias que aprisionam para que se possa atuar

realmente numa postura eacutetica e esteacutetica com os clientes Acredita-se que acima da

modalidade psicoteraacutepica estaacute a eacutetica a postura do profissional diante do fazer

terapecircutico

Branco (1998) afirma que o perfil do psicoacutelogo hoje deve ser o de um profissional

criacutetico natildeo necessariamente de um especialista mas sim de um estudioso

permanente das situaccedilotildees nas quais sua praacutetica esteja implicada Um profissional

que se habitue a exercitar-se numa visatildeo complexa e que perceba as contradiccedilotildees

inerentes agrave sua praacutetica e a necessidade de refazecirc-la ajudando os grupos

indiviacuteduos e instituiccedilotildees a eliminarem os processos de desuma-nizaccedilatildeo e alienaccedilatildeo responsaacuteveis pelo sofrimento psiacutequico

A formaccedilatildeo do psicoacutelogo precisa possibilitar o engajamento do futuro profissional

na sociedade aleacutem de reelaborar o conhecimento constituiacutedo Natildeo se deve com

isso eliminar as diferenccedilas teoacutericas e metodo-loacutegicas apesar das finalidades

comuns O trabalho acadecircmico coletivo deve explicitar e aprofundar as

divergecircncias Aleacutem disso a exigecircncia por uma articulaccedilatildeo entre teoria e praacutetica natildeo

poderaacute significar ativismo que diminua o estudo das teorias Eacute preciso pois

abarcar de forma profunda todas as matrizes do pensamento psicoloacutegico em uma

dinacircmica de trabalho que permita o confronto de pontos de vista e projetos que reuacutenam vaacuterios campos do saber

Para isso eacute preciso estar atento agraves poliacuteticas acadecircmicas que priorizam

determinadas abordagens normalmente uma ou outra dentre as mais consa-

gradas fechando o aluno em algumas verdades em termos teoacutericos e praacuteticos

atraveacutes dos estaacutegios e da pesquisa impossibilitando-o de ter acesso a uma visatildeo

mais global e com praacuteticas comprometidas com o avanccedilo da ciecircncia psicoloacutegica

Para que ratificando o pensamento de Bock (1997) seja possiacutevel formar

profissionais criacuteticos inquietos permeaacuteveis agraves inovaccedilotildees e que aceitem o desafio

de coletivamente produzir alternativas agrave psicologia tradicional tudo isto aliado agrave

transformaccedilatildeo ao movimento da sociedade e aos interesses da maioria da

populaccedilatildeo haacute de se olhar criticamente a proacutepria atuaccedilatildeo como cliacutenicos e docentes

avaliando se a postura estaacute sendo coerente com o avanccedilo da ciecircncia psicoloacutegica ou de especialista de conhecimento fechado numa soacute verdade

Entende-se que atraveacutes do percurso percorrido na elaboraccedilatildeo desse estudo seja

possiacutevel com base em abordagens tradicionais promover reflexotildees que

possibilitem avaliaacute-las de forma respeitosa pelas valiosas contribuiccedilotildees que

oferecem agrave praacutetica cliacutenica poreacutem sem esquecer que satildeo algumas possibilidades

dentro de um leque de opccedilotildees Natildeo se pode portanto fechar-se nessas verdades e

tambeacutem natildeo se pode deixar de consideraacute-las como uacuteteis e eficazes mesmo diante

do avanccedilo da ciecircncia

Embora este estudo tenha partido das praacuteticas tradicionais natildeo se restringiu a

apenas uma abordagem e tambeacutem possibilitou algumas reflexotildees para aleacutem delas

atraveacutes dos temas emergentes nas entrevistas No entanto fica a contribuiccedilatildeo para

futuras pesquisas e tambeacutem a reflexatildeo de que as praacuteticas tradicionais satildeo muito

importantes mesmo com todo avanccedilo da psicologia Mas como cliacutenicos e docentes

formadores de psicoacutelogos eacute necessaacuteria uma certa permeabilidade que possibilite

criacutetica e flexibilidade para acompanhar a evoluccedilatildeo e exercer uma praacutetica para aleacutem do instituiacutedo a serviccedilo da humanizaccedilatildeo e desalienaccedilatildeo

Vale ressaltar tambeacutem a localidade onde essa pesquisa foi realizada - realidade

Pernambucana ficando tambeacutem a sugestatildeo para futuras pesquisas em outras regiotildees brasileiras

Referecircncias

Axline VM (1980a) Dibs em busca de si mesmo Rio de Janeiro Agir

Axline VM (1980b) Ludoterapia a dinacircmica interior da crianccedila Belo Horizonte Interlivros

Bermuacutedez JGR (1997) Teoriacutea y teacutecnica psicodramatica Buenos Aires Paidoacutes

Bock AMB (1997) Formaccedilatildeo do psicoacutelogo um debate a partir do significado do fenocircmeno psicoloacutegico Revista Psicologia Ciecircncia e Profissatildeo 17 (2) 37-42

Branco MTC (1998) Que profissional queremos formar Revista Psicologia Ciecircncia e Profissatildeo 18(3) 28-35

Colombo SF (2000) Em busca do sagrado In HM Cruz Papai mamatildee vocecirc E

eu Conversaccedilotildees terapecircuticas em famiacutelias com crianccedilas (pp168-88) Satildeo Paulo Casa do Psicoacutelogo

Dorfman E (1974) Ludoterapia In C Rogers Terapia centrada no paciente (pp269-317) Satildeo Paulo Martins Fontes

Epston D (1997) I am a bear discovering discoveries In C Smith amp D Nylund Narrative therapies with children and adolescents New York Guilford Press

Ferrari DCA (1984) A postura do psicodramatista no Psicodrama de crianccedila

Revista da Febrap (2) 55-60

Grandesso MA (2000a) Sobre a reconstruccedilatildeo do significado uma anaacutelise epistemoloacutegica e hermenecircutica da praacutetica cliacutenica Satildeo Paulo Casa do Psicoacutelogo

Grandesso MA (2000b) Quem eacute a dona da histoacuteria In HM CruzPapai mamatildee

vocecirc E eu Conversaccedilotildees terapecircuticas em famiacutelias com crianccedilas (pp101-22) Satildeo Paulo Casa do Psicoacutelogo

Molina-Loza CA (2002 maio) Os canaacuterios da minha avoacute as asas da imaginaccedilatildeo

ou conta para o cliente que ele proacuteprio se reconta[on-line] Disponiacutevel em httpwwwabrateforgbrmeioartigoshtm

Oaklander V (1980) Descobrindo crianccedilas abordagem gestaacuteltica com crianccedilas e adolescentes Satildeo Paulo Summus

Oaklander V (1994) Gestalt Play Therapy In KJ OConnor Handbook of play

therapy v2 advances and innovations Willy Series on personality processes

(pp143-56) New York The Guilford Press

Oaklander V (1999) Group play therapy from a Gestalt therapy perspective In

DS Sweeney (Ed)The Handbook of group play therapy (pp162-75) New York The Guilford Press

Oaklander V (2000) Short-Term Gestalt play therapy for grieving children In

HG Kaduson amp C E Schaefer (Ed) Short-Term play therapy for children (pp28-

52) New York The Guilford Press

Osoacuterio LC amp Valle ME (2002) Terapia de famiacutelias novas tendecircncias Porto Alegre Artmed

Silva ER Psicologia Cliacutenica um novo espetaacuteculo dimensotildees eacuteticas e poliacuteticas Revista Psicologia Ciecircncia e Profissatildeo 21 (4)78-87

Weber LND Botomeacute SP amp Rebelatto JR(1996) Psicologia definiccedilotildees perspectivas e desenvolvimento Psicologia Argumento 29 9-28

Whitaker CA amp Bumberry WM (1990) Danccedilando com a famiacutelia uma abordagem simboacutelico-experiencial Porto Alegre Artes Meacutedicas

Endereccedilo para correspondecircncia

Maria Ivone Marchi Costa

Rua Irmatilde Arminda 10-50

7044-160 Bauru SP Brasil E-mailmarchicostatravelnetcombr

Recebido para publicaccedilatildeo em 23 marccedilo de 2004 Aceito em 21 de junho de 2004

1 Departamento de Psicologia Universidade do Sagrado Coraccedilatildeo de Bauru Bauru

SP Brasil 2 Poacutes-Graduaccedilatildeo em Psicologia Cliacutenica Universidade Catoacutelica de Pernambuco Recife PE Brasil

Page 9: A Prática Da Psicoterapia Infantil Na Visão de Terapeutas Nas Seguintes Abordagens - Psicodrama, Gestalt Terapia e Centrada Na Pessoa

quando se luta consigo proacuteprio eacute que se fica livre para trazer a si mesmo para o

consultoacuterio psicoteraacutepico e natildeo apenas o uniforme de terapeuta

Consideraccedilotildees Finais

Quando esta pesquisa foi iniciada uma das inquietaccedilotildees que a pautavam referia-se

agrave necessidade de se buscar recursos natildeo apenas em uma abordagem e tambeacutem

natildeo somente na psicologia Havia inicialmente uma grande convicccedilatildeo da

necessidade e importacircncia de buscar em outras aacutereas o apoio substancial para um

pleno desenvolvimento do processo terapecircutico da crianccedila Entretanto tal

convicccedilatildeo natildeo se estendia agrave busca de apoio em outras abordagens visto a

incompletude de cada teoria diante da amplitude e complexidade do ser humano -

especialmente no que se refere a uma abordagem psicoteraacutepica infantil

Incomodava a possibilidade de que colegas e comunidade cientiacutefica considerassem

tal procedimento como ecleacutetico salada embora a experiecircncia demonstrasse

que uma integraccedilatildeo cuidadosa muito poderia enriquecer a praacutetica cliacutenica

Apoacutes todo o percurso de campo e teoacuterico a necessidade de busca de apoio em

outras abordagens tambeacutem foi encontrada em algumas psicoterapeutas

colaboradoras aleacutem de ter ficado evidente na revisatildeo literaacuteria que alguns autores

compartilham essas ideacuteias A partir de entatildeo tal posicionamento tornou-se mais

confortaacutevel pois se constatou que na verdade a inquietaccedilatildeo suscita mudanccedilas e

natildeo eacute prudente fechar--se em uma soacute verdade quando haacute o comprometi-mento

com o avanccedilo da ciecircncia psicoloacutegica Hoje a ideacuteia de fixar-se a um soacute modelo jaacute

estaacute sendo superada e vista como possibilidade de ficar amarrado ao dogmatismo

de uma ou outra corrente do pensamento constituiacutedo Ficar preso a um soacute modelo eacute

demais limitante se por um lado isso possa trazer uma certa seguranccedila por

outro fica-se amarrado Essas amarras contradizem o processo de autonomia que

todo terapeuta propotildee possibilitar que o cliente encontre Se houver maior

flexibilidade eacute possiacutevel adaptar os recursos agraves necessidades dos clientes e natildeo os adaptar agrave teoria em que se acredita

No dizer de Fernando Pessoa navegar eacute preciso viver natildeo eacute preciso (precisatildeo)

Portanto diante desse viver tatildeo impreciso como eacute possiacutevel trabalhar com a

subjetividade dos clientes de forma tatildeo precisa Eacute preciso suportar as incertezas

deixar soltas as amarras das teorias que aprisionam para que se possa atuar

realmente numa postura eacutetica e esteacutetica com os clientes Acredita-se que acima da

modalidade psicoteraacutepica estaacute a eacutetica a postura do profissional diante do fazer

terapecircutico

Branco (1998) afirma que o perfil do psicoacutelogo hoje deve ser o de um profissional

criacutetico natildeo necessariamente de um especialista mas sim de um estudioso

permanente das situaccedilotildees nas quais sua praacutetica esteja implicada Um profissional

que se habitue a exercitar-se numa visatildeo complexa e que perceba as contradiccedilotildees

inerentes agrave sua praacutetica e a necessidade de refazecirc-la ajudando os grupos

indiviacuteduos e instituiccedilotildees a eliminarem os processos de desuma-nizaccedilatildeo e alienaccedilatildeo responsaacuteveis pelo sofrimento psiacutequico

A formaccedilatildeo do psicoacutelogo precisa possibilitar o engajamento do futuro profissional

na sociedade aleacutem de reelaborar o conhecimento constituiacutedo Natildeo se deve com

isso eliminar as diferenccedilas teoacutericas e metodo-loacutegicas apesar das finalidades

comuns O trabalho acadecircmico coletivo deve explicitar e aprofundar as

divergecircncias Aleacutem disso a exigecircncia por uma articulaccedilatildeo entre teoria e praacutetica natildeo

poderaacute significar ativismo que diminua o estudo das teorias Eacute preciso pois

abarcar de forma profunda todas as matrizes do pensamento psicoloacutegico em uma

dinacircmica de trabalho que permita o confronto de pontos de vista e projetos que reuacutenam vaacuterios campos do saber

Para isso eacute preciso estar atento agraves poliacuteticas acadecircmicas que priorizam

determinadas abordagens normalmente uma ou outra dentre as mais consa-

gradas fechando o aluno em algumas verdades em termos teoacutericos e praacuteticos

atraveacutes dos estaacutegios e da pesquisa impossibilitando-o de ter acesso a uma visatildeo

mais global e com praacuteticas comprometidas com o avanccedilo da ciecircncia psicoloacutegica

Para que ratificando o pensamento de Bock (1997) seja possiacutevel formar

profissionais criacuteticos inquietos permeaacuteveis agraves inovaccedilotildees e que aceitem o desafio

de coletivamente produzir alternativas agrave psicologia tradicional tudo isto aliado agrave

transformaccedilatildeo ao movimento da sociedade e aos interesses da maioria da

populaccedilatildeo haacute de se olhar criticamente a proacutepria atuaccedilatildeo como cliacutenicos e docentes

avaliando se a postura estaacute sendo coerente com o avanccedilo da ciecircncia psicoloacutegica ou de especialista de conhecimento fechado numa soacute verdade

Entende-se que atraveacutes do percurso percorrido na elaboraccedilatildeo desse estudo seja

possiacutevel com base em abordagens tradicionais promover reflexotildees que

possibilitem avaliaacute-las de forma respeitosa pelas valiosas contribuiccedilotildees que

oferecem agrave praacutetica cliacutenica poreacutem sem esquecer que satildeo algumas possibilidades

dentro de um leque de opccedilotildees Natildeo se pode portanto fechar-se nessas verdades e

tambeacutem natildeo se pode deixar de consideraacute-las como uacuteteis e eficazes mesmo diante

do avanccedilo da ciecircncia

Embora este estudo tenha partido das praacuteticas tradicionais natildeo se restringiu a

apenas uma abordagem e tambeacutem possibilitou algumas reflexotildees para aleacutem delas

atraveacutes dos temas emergentes nas entrevistas No entanto fica a contribuiccedilatildeo para

futuras pesquisas e tambeacutem a reflexatildeo de que as praacuteticas tradicionais satildeo muito

importantes mesmo com todo avanccedilo da psicologia Mas como cliacutenicos e docentes

formadores de psicoacutelogos eacute necessaacuteria uma certa permeabilidade que possibilite

criacutetica e flexibilidade para acompanhar a evoluccedilatildeo e exercer uma praacutetica para aleacutem do instituiacutedo a serviccedilo da humanizaccedilatildeo e desalienaccedilatildeo

Vale ressaltar tambeacutem a localidade onde essa pesquisa foi realizada - realidade

Pernambucana ficando tambeacutem a sugestatildeo para futuras pesquisas em outras regiotildees brasileiras

Referecircncias

Axline VM (1980a) Dibs em busca de si mesmo Rio de Janeiro Agir

Axline VM (1980b) Ludoterapia a dinacircmica interior da crianccedila Belo Horizonte Interlivros

Bermuacutedez JGR (1997) Teoriacutea y teacutecnica psicodramatica Buenos Aires Paidoacutes

Bock AMB (1997) Formaccedilatildeo do psicoacutelogo um debate a partir do significado do fenocircmeno psicoloacutegico Revista Psicologia Ciecircncia e Profissatildeo 17 (2) 37-42

Branco MTC (1998) Que profissional queremos formar Revista Psicologia Ciecircncia e Profissatildeo 18(3) 28-35

Colombo SF (2000) Em busca do sagrado In HM Cruz Papai mamatildee vocecirc E

eu Conversaccedilotildees terapecircuticas em famiacutelias com crianccedilas (pp168-88) Satildeo Paulo Casa do Psicoacutelogo

Dorfman E (1974) Ludoterapia In C Rogers Terapia centrada no paciente (pp269-317) Satildeo Paulo Martins Fontes

Epston D (1997) I am a bear discovering discoveries In C Smith amp D Nylund Narrative therapies with children and adolescents New York Guilford Press

Ferrari DCA (1984) A postura do psicodramatista no Psicodrama de crianccedila

Revista da Febrap (2) 55-60

Grandesso MA (2000a) Sobre a reconstruccedilatildeo do significado uma anaacutelise epistemoloacutegica e hermenecircutica da praacutetica cliacutenica Satildeo Paulo Casa do Psicoacutelogo

Grandesso MA (2000b) Quem eacute a dona da histoacuteria In HM CruzPapai mamatildee

vocecirc E eu Conversaccedilotildees terapecircuticas em famiacutelias com crianccedilas (pp101-22) Satildeo Paulo Casa do Psicoacutelogo

Molina-Loza CA (2002 maio) Os canaacuterios da minha avoacute as asas da imaginaccedilatildeo

ou conta para o cliente que ele proacuteprio se reconta[on-line] Disponiacutevel em httpwwwabrateforgbrmeioartigoshtm

Oaklander V (1980) Descobrindo crianccedilas abordagem gestaacuteltica com crianccedilas e adolescentes Satildeo Paulo Summus

Oaklander V (1994) Gestalt Play Therapy In KJ OConnor Handbook of play

therapy v2 advances and innovations Willy Series on personality processes

(pp143-56) New York The Guilford Press

Oaklander V (1999) Group play therapy from a Gestalt therapy perspective In

DS Sweeney (Ed)The Handbook of group play therapy (pp162-75) New York The Guilford Press

Oaklander V (2000) Short-Term Gestalt play therapy for grieving children In

HG Kaduson amp C E Schaefer (Ed) Short-Term play therapy for children (pp28-

52) New York The Guilford Press

Osoacuterio LC amp Valle ME (2002) Terapia de famiacutelias novas tendecircncias Porto Alegre Artmed

Silva ER Psicologia Cliacutenica um novo espetaacuteculo dimensotildees eacuteticas e poliacuteticas Revista Psicologia Ciecircncia e Profissatildeo 21 (4)78-87

Weber LND Botomeacute SP amp Rebelatto JR(1996) Psicologia definiccedilotildees perspectivas e desenvolvimento Psicologia Argumento 29 9-28

Whitaker CA amp Bumberry WM (1990) Danccedilando com a famiacutelia uma abordagem simboacutelico-experiencial Porto Alegre Artes Meacutedicas

Endereccedilo para correspondecircncia

Maria Ivone Marchi Costa

Rua Irmatilde Arminda 10-50

7044-160 Bauru SP Brasil E-mailmarchicostatravelnetcombr

Recebido para publicaccedilatildeo em 23 marccedilo de 2004 Aceito em 21 de junho de 2004

1 Departamento de Psicologia Universidade do Sagrado Coraccedilatildeo de Bauru Bauru

SP Brasil 2 Poacutes-Graduaccedilatildeo em Psicologia Cliacutenica Universidade Catoacutelica de Pernambuco Recife PE Brasil

Page 10: A Prática Da Psicoterapia Infantil Na Visão de Terapeutas Nas Seguintes Abordagens - Psicodrama, Gestalt Terapia e Centrada Na Pessoa

abarcar de forma profunda todas as matrizes do pensamento psicoloacutegico em uma

dinacircmica de trabalho que permita o confronto de pontos de vista e projetos que reuacutenam vaacuterios campos do saber

Para isso eacute preciso estar atento agraves poliacuteticas acadecircmicas que priorizam

determinadas abordagens normalmente uma ou outra dentre as mais consa-

gradas fechando o aluno em algumas verdades em termos teoacutericos e praacuteticos

atraveacutes dos estaacutegios e da pesquisa impossibilitando-o de ter acesso a uma visatildeo

mais global e com praacuteticas comprometidas com o avanccedilo da ciecircncia psicoloacutegica

Para que ratificando o pensamento de Bock (1997) seja possiacutevel formar

profissionais criacuteticos inquietos permeaacuteveis agraves inovaccedilotildees e que aceitem o desafio

de coletivamente produzir alternativas agrave psicologia tradicional tudo isto aliado agrave

transformaccedilatildeo ao movimento da sociedade e aos interesses da maioria da

populaccedilatildeo haacute de se olhar criticamente a proacutepria atuaccedilatildeo como cliacutenicos e docentes

avaliando se a postura estaacute sendo coerente com o avanccedilo da ciecircncia psicoloacutegica ou de especialista de conhecimento fechado numa soacute verdade

Entende-se que atraveacutes do percurso percorrido na elaboraccedilatildeo desse estudo seja

possiacutevel com base em abordagens tradicionais promover reflexotildees que

possibilitem avaliaacute-las de forma respeitosa pelas valiosas contribuiccedilotildees que

oferecem agrave praacutetica cliacutenica poreacutem sem esquecer que satildeo algumas possibilidades

dentro de um leque de opccedilotildees Natildeo se pode portanto fechar-se nessas verdades e

tambeacutem natildeo se pode deixar de consideraacute-las como uacuteteis e eficazes mesmo diante

do avanccedilo da ciecircncia

Embora este estudo tenha partido das praacuteticas tradicionais natildeo se restringiu a

apenas uma abordagem e tambeacutem possibilitou algumas reflexotildees para aleacutem delas

atraveacutes dos temas emergentes nas entrevistas No entanto fica a contribuiccedilatildeo para

futuras pesquisas e tambeacutem a reflexatildeo de que as praacuteticas tradicionais satildeo muito

importantes mesmo com todo avanccedilo da psicologia Mas como cliacutenicos e docentes

formadores de psicoacutelogos eacute necessaacuteria uma certa permeabilidade que possibilite

criacutetica e flexibilidade para acompanhar a evoluccedilatildeo e exercer uma praacutetica para aleacutem do instituiacutedo a serviccedilo da humanizaccedilatildeo e desalienaccedilatildeo

Vale ressaltar tambeacutem a localidade onde essa pesquisa foi realizada - realidade

Pernambucana ficando tambeacutem a sugestatildeo para futuras pesquisas em outras regiotildees brasileiras

Referecircncias

Axline VM (1980a) Dibs em busca de si mesmo Rio de Janeiro Agir

Axline VM (1980b) Ludoterapia a dinacircmica interior da crianccedila Belo Horizonte Interlivros

Bermuacutedez JGR (1997) Teoriacutea y teacutecnica psicodramatica Buenos Aires Paidoacutes

Bock AMB (1997) Formaccedilatildeo do psicoacutelogo um debate a partir do significado do fenocircmeno psicoloacutegico Revista Psicologia Ciecircncia e Profissatildeo 17 (2) 37-42

Branco MTC (1998) Que profissional queremos formar Revista Psicologia Ciecircncia e Profissatildeo 18(3) 28-35

Colombo SF (2000) Em busca do sagrado In HM Cruz Papai mamatildee vocecirc E

eu Conversaccedilotildees terapecircuticas em famiacutelias com crianccedilas (pp168-88) Satildeo Paulo Casa do Psicoacutelogo

Dorfman E (1974) Ludoterapia In C Rogers Terapia centrada no paciente (pp269-317) Satildeo Paulo Martins Fontes

Epston D (1997) I am a bear discovering discoveries In C Smith amp D Nylund Narrative therapies with children and adolescents New York Guilford Press

Ferrari DCA (1984) A postura do psicodramatista no Psicodrama de crianccedila

Revista da Febrap (2) 55-60

Grandesso MA (2000a) Sobre a reconstruccedilatildeo do significado uma anaacutelise epistemoloacutegica e hermenecircutica da praacutetica cliacutenica Satildeo Paulo Casa do Psicoacutelogo

Grandesso MA (2000b) Quem eacute a dona da histoacuteria In HM CruzPapai mamatildee

vocecirc E eu Conversaccedilotildees terapecircuticas em famiacutelias com crianccedilas (pp101-22) Satildeo Paulo Casa do Psicoacutelogo

Molina-Loza CA (2002 maio) Os canaacuterios da minha avoacute as asas da imaginaccedilatildeo

ou conta para o cliente que ele proacuteprio se reconta[on-line] Disponiacutevel em httpwwwabrateforgbrmeioartigoshtm

Oaklander V (1980) Descobrindo crianccedilas abordagem gestaacuteltica com crianccedilas e adolescentes Satildeo Paulo Summus

Oaklander V (1994) Gestalt Play Therapy In KJ OConnor Handbook of play

therapy v2 advances and innovations Willy Series on personality processes

(pp143-56) New York The Guilford Press

Oaklander V (1999) Group play therapy from a Gestalt therapy perspective In

DS Sweeney (Ed)The Handbook of group play therapy (pp162-75) New York The Guilford Press

Oaklander V (2000) Short-Term Gestalt play therapy for grieving children In

HG Kaduson amp C E Schaefer (Ed) Short-Term play therapy for children (pp28-

52) New York The Guilford Press

Osoacuterio LC amp Valle ME (2002) Terapia de famiacutelias novas tendecircncias Porto Alegre Artmed

Silva ER Psicologia Cliacutenica um novo espetaacuteculo dimensotildees eacuteticas e poliacuteticas Revista Psicologia Ciecircncia e Profissatildeo 21 (4)78-87

Weber LND Botomeacute SP amp Rebelatto JR(1996) Psicologia definiccedilotildees perspectivas e desenvolvimento Psicologia Argumento 29 9-28

Whitaker CA amp Bumberry WM (1990) Danccedilando com a famiacutelia uma abordagem simboacutelico-experiencial Porto Alegre Artes Meacutedicas

Endereccedilo para correspondecircncia

Maria Ivone Marchi Costa

Rua Irmatilde Arminda 10-50

7044-160 Bauru SP Brasil E-mailmarchicostatravelnetcombr

Recebido para publicaccedilatildeo em 23 marccedilo de 2004 Aceito em 21 de junho de 2004

1 Departamento de Psicologia Universidade do Sagrado Coraccedilatildeo de Bauru Bauru

SP Brasil 2 Poacutes-Graduaccedilatildeo em Psicologia Cliacutenica Universidade Catoacutelica de Pernambuco Recife PE Brasil

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Colombo SF (2000) Em busca do sagrado In HM Cruz Papai mamatildee vocecirc E

eu Conversaccedilotildees terapecircuticas em famiacutelias com crianccedilas (pp168-88) Satildeo Paulo Casa do Psicoacutelogo

Dorfman E (1974) Ludoterapia In C Rogers Terapia centrada no paciente (pp269-317) Satildeo Paulo Martins Fontes

Epston D (1997) I am a bear discovering discoveries In C Smith amp D Nylund Narrative therapies with children and adolescents New York Guilford Press

Ferrari DCA (1984) A postura do psicodramatista no Psicodrama de crianccedila

Revista da Febrap (2) 55-60

Grandesso MA (2000a) Sobre a reconstruccedilatildeo do significado uma anaacutelise epistemoloacutegica e hermenecircutica da praacutetica cliacutenica Satildeo Paulo Casa do Psicoacutelogo

Grandesso MA (2000b) Quem eacute a dona da histoacuteria In HM CruzPapai mamatildee

vocecirc E eu Conversaccedilotildees terapecircuticas em famiacutelias com crianccedilas (pp101-22) Satildeo Paulo Casa do Psicoacutelogo

Molina-Loza CA (2002 maio) Os canaacuterios da minha avoacute as asas da imaginaccedilatildeo

ou conta para o cliente que ele proacuteprio se reconta[on-line] Disponiacutevel em httpwwwabrateforgbrmeioartigoshtm

Oaklander V (1980) Descobrindo crianccedilas abordagem gestaacuteltica com crianccedilas e adolescentes Satildeo Paulo Summus

Oaklander V (1994) Gestalt Play Therapy In KJ OConnor Handbook of play

therapy v2 advances and innovations Willy Series on personality processes

(pp143-56) New York The Guilford Press

Oaklander V (1999) Group play therapy from a Gestalt therapy perspective In

DS Sweeney (Ed)The Handbook of group play therapy (pp162-75) New York The Guilford Press

Oaklander V (2000) Short-Term Gestalt play therapy for grieving children In

HG Kaduson amp C E Schaefer (Ed) Short-Term play therapy for children (pp28-

52) New York The Guilford Press

Osoacuterio LC amp Valle ME (2002) Terapia de famiacutelias novas tendecircncias Porto Alegre Artmed

Silva ER Psicologia Cliacutenica um novo espetaacuteculo dimensotildees eacuteticas e poliacuteticas Revista Psicologia Ciecircncia e Profissatildeo 21 (4)78-87

Weber LND Botomeacute SP amp Rebelatto JR(1996) Psicologia definiccedilotildees perspectivas e desenvolvimento Psicologia Argumento 29 9-28

Whitaker CA amp Bumberry WM (1990) Danccedilando com a famiacutelia uma abordagem simboacutelico-experiencial Porto Alegre Artes Meacutedicas

Endereccedilo para correspondecircncia

Maria Ivone Marchi Costa

Rua Irmatilde Arminda 10-50

7044-160 Bauru SP Brasil E-mailmarchicostatravelnetcombr

Recebido para publicaccedilatildeo em 23 marccedilo de 2004 Aceito em 21 de junho de 2004

1 Departamento de Psicologia Universidade do Sagrado Coraccedilatildeo de Bauru Bauru

SP Brasil 2 Poacutes-Graduaccedilatildeo em Psicologia Cliacutenica Universidade Catoacutelica de Pernambuco Recife PE Brasil

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Endereccedilo para correspondecircncia

Maria Ivone Marchi Costa

Rua Irmatilde Arminda 10-50

7044-160 Bauru SP Brasil E-mailmarchicostatravelnetcombr

Recebido para publicaccedilatildeo em 23 marccedilo de 2004 Aceito em 21 de junho de 2004

1 Departamento de Psicologia Universidade do Sagrado Coraccedilatildeo de Bauru Bauru

SP Brasil 2 Poacutes-Graduaccedilatildeo em Psicologia Cliacutenica Universidade Catoacutelica de Pernambuco Recife PE Brasil