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A abordagem da qualidade da água do rio Paraíba do Sul na Educação Ambiental na UPEA, Campos dos Goytacazes, RJ 1 The study of water quality of Paraíba do Sul river through environmental education at UPEA, Campos dos Goytacazes, RJ Tâmmela Cristina Gomes Nunes 2 Francisco Maurício Alves Francelino 3 Vicente de Paulo Santos de Oliveira 4 RESUMO Alterações na concentração dos indicadores da qualidade de água do rio Paraíba do Sul, ocasionada pela grande carga de poluição, podem afetar o comportamento químico da água e seus usos mais relevantes, como o abastecimento de milhões de pessoas do sudeste brasileiro. Monitorar a qualidade de água do rio Paraíba do Sul em frente à Unidade de Pesquisa e Extensão Agroambiental - UPEA (campus Rio Paraíba do Sul) e trazer um retorno dos resultados obtidos a jovens das localidades próximas, através de um projeto de educação ambiental foram os objetivos do trabalho. Realizou-se ensaios físico-químicos e microbiológicos da água e sensibilização de alunos-bolsistas que moram próximo à Unidade e ao rio. Foram encontrados valores maiores que o permitido de turbidez na estação chuvosa que ocorre maior arraste de argilo-minerais. Palavras-chave: monitoramento de água, conscientização ambiental. ABSTRACT Changes in the concentration of indicators of water quality of the Paraíba do Sul river caused by pollution can affect the chemical behavior of water and its most important uses, such as supplies of millions of people in southeastern Brazil. Objectives: Monitor the water quality of the Paraíba do Sul river across to the Unidade de Pesquisa e Extensão Agroambiental UPEA (campus Rio Paraíba do Sul) and bring a return of the results of the young nearby locations, using a project of environmental education were aims of this study. Physico-chemical and microbiological analysis of water and awareness of student fellows who live near the river and Unity were performed. Higher turbidity values were found in the rainy season that greater entrainment of clay minerals occurs. Key words : water monitoring, environmental awareness. 1 Monografia da Pós-Graduação Lato Sensu em Educação Ambiental do IFF - Instituto Federal Fluminense - Campos dos Goytacazes/RJ - Brasil. 2 Mestranda em Ciências Naturais, Pós-Graduanda em Educação Ambiental, docente do Governo do Estado do Rio de Janeiro. 3 Coorientador do trabalho. Mestre em Produção Vegetal e Professor do Instituto Federal Fluminense. Unidade de Pesquisa e Extensão Agro Ambiental - Campos dos Goytacazes/RJ - Brasil 4 Orientador do Trabalho. Doutor em Engenharia Agrícola e Professor do Mestrado em Engenharia Ambiental do Instituto Federal Fluminense. Unidade de Pesquisa e Extensão Agro Ambiental - Campos dos Goytacazes/RJ - Brasil

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A abordagem da qualidade da água do rio Paraíba do

Sul na Educação Ambiental na UPEA, Campos dos

Goytacazes, RJ1

The study of water quality of Paraíba do Sul river through environmental education at UPEA, Campos dos Goytacazes, RJ

Tâmmela Cristina Gomes Nunes2

Francisco Maurício Alves Francelino3

Vicente de Paulo Santos de Oliveira4

RESUMO

Alterações na concentração dos indicadores da qualidade de água do rio Paraíba do Sul, ocasionada pela grande carga de poluição, podem afetar o comportamento químico da água e seus usos mais relevantes, como o abastecimento de milhões de pessoas do sudeste brasileiro.

Monitorar a qualidade de água do rio Paraíba do Sul em frente à Unidade de Pesquisa e Extensão Agroambiental - UPEA (campus Rio Paraíba do Sul) e trazer um retorno dos

resultados obtidos a jovens das localidades próximas, através de um projeto de educação ambiental foram os objetivos do trabalho. Realizou-se ensaios físico-químicos e microbiológicos da água e sensibilização de alunos-bolsistas que moram próximo à Unidade e

ao rio. Foram encontrados valores maiores que o permitido de turbidez na estação chuvosa que ocorre maior arraste de argilo-minerais.

Palavras-chave: monitoramento de água, conscientização ambiental.

ABSTRACT

Changes in the concentration of indicators of water quality of the Paraíba do Sul river caused by pollution can affect the chemical behavior of water and its most important uses,

such as supplies of millions of people in southeastern Brazil. Objectives: Monitor the water quality of the Paraíba do Sul river across to the Unidade de Pesquisa e Extensão Agroambiental – UPEA (campus Rio Paraíba do Sul) and bring a return of the results of the

young nearby locations, using a project of environmental education were aims of this study. Physico-chemical and microbiological analysis of water and awareness of student fellows who live near the river and Unity were performed. Higher turbidity values were found in the

rainy season that greater entrainment of clay minerals occurs.

Key words: water monitoring, environmental awareness.

1 Monografia da Pós-Graduação Lato Sensu em Educação Ambiental do IFF - Instituto Federal Fluminense - Campos dos Goytacazes/RJ - Brasil. 2 Mestranda em Ciências Naturais, Pós-Graduanda em Educação Ambiental, docente do Governo do Estado do Rio de

Janeiro. 3 Coorientador do trabalho. Mestre em Produção Vegetal e Professor do Instituto Federal Fluminense. Unidade de Pesquisa e

Extensão Agro Ambiental - Campos dos Goytacazes/RJ - Brasil 4 Orientador do Trabalho. Doutor em Engenharia Agrícola e Professor do Mestrado em Engenharia Ambiental do Instituto

Federal Fluminense. Unidade de Pesquisa e Extensão Agro Ambiental - Campos dos Goytacazes/RJ - Brasil

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1. INTRODUÇÃO

Além de ser a principal via de retorno da água aos oceanos e essenciais ao ciclo hidrológico, os rios são importantes agentes integradores da paisagem. A qualidade de suas águas é representada por um conjunto de características, geralmente mensuráveis, de natureza

química, física e biológica. Compreendendo a importância da proteção deste corpo d'água, e sendo um recurso comum, existem restrições legais de uso. Desse modo, as características

físicas e químicas da água devem ser mantidas dentro de certos limites, os quais são representados por padrões que são valores orientadores da qualidade de água, estipulados pela resolução 357/2005 do CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente).

A resolução CONAMA nº 357, de 17 de março de 2005, que dispõe sobre a classificação dos corpos de água e diretrizes ambientais para o seu enquadramento, bem como

estabelece as condições e padrões de lançamento de efluentes, e dá outras providências (BRASIL, 2005). Esta resolução classifica as águas doces, salobras e salinas de acordo com suas classes e ainda estabelece os padrões de qualidade para cada classe estabelecendo valores

limites para cada parâmetro. De acordo com essa lei, em seu artigo 4º, as águas doces são qualificadas em quatro classes em função da sua possibilidade de uso. A Resolução nº 430, de 13 de Maio de 2011 que dispõe sobre as condições e padrões de lançamento de efluentes,

complementa e altera a Resolução nº 357, de 17 de Março de 2005. Pela Portaria GM/086, de junho de 1981, o então Ministério do Interior, baseado em

estudos realizados pelo Comitê Executivo de Estudos Integrados da Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul (CEEIVAP), atualmente substituído pelo Comitê para Integração da Bacia Hidrográfica do rio Paraíba do Sul (CEIVAP), estabeleceu o enquadramento dos diversos

trechos dos cursos de água federais da bacia do rio Paraíba do Sul (Tabela 1).

Tabela 1 - Enquadramento dos Corpos Hídricos da Bacia do Rio Paraíba do Sul.

Fonte: Portaria no 86 – Ministério do Interior – 04/06/81.

No trecho entre Campos dos Goytacazes e a sua foz, o rio Paraíba do Sul é

considerado classe 3, com os usos definidos na resolução 357 do CONAMA (BRASIL, 2005). Nesta classificação as águas podem ser destinadas: a) ao abastecimento para consumo

humano, após tratamento convencional ou avançado; b) à irrigação de culturas arbóreas, cerealíferas e forrageiras; c) à pesca amadora; d) à recreação de contato secundário; e e) à dessedentação de animais.

Abastecendo aproximadamente 14,2 milhões de pessoas, somados os 8,7 milhões de habitantes da região metropolitana do Rio de Janeiro, segundo a CEIVAP (2014), as águas da

3

Bacia do Rio Paraíba do Sul têm grande importância para a região sudeste. No Rio de Janeiro, além de abastecer 85% dos habitantes da Região Metropolitana, localizada fora da bacia, o rio Paraíba do Sul contribui com o desvio das suas águas para aproveitamento hidrelétrico, por

meio do rio Guandu (INEA, 2013). O rio Paraíba do Sul é formado pela confluência dos rios Paraitinga e Paraibuna em

São Paulo, estado no qual possui uma área de 14.510 km², percorre 1.150km até desaguar no

Oceano Atlântico, no norte fluminense, passando também pelo estado de Minas Gerais, onde ocupa uma área de 20.713 km². No Rio de Janeiro, a bacia abrange 63% da área total do

estado, representando 26.851 km² (CEIVAP, 2014). Apesar do rio Paraíba do Sul ser a principal fonte de abastecimento de água para o

município de Campos dos Goytacazes, ele representa fonte parcial de abastecimento para São

João da Barra, já que em muitas localidades do município existe captação de água subterrânea para o consumo, segundo Oliveira (2010).

Localizado numa das regiões mais industrializadas do país, o rio Paraíba do Sul é alvo de intensa atividade antrópica e recebe grande carga de poluição, o que compromete a sua qualidade, podendo até por em risco a saúde dos que consomem das suas águas. As fontes

poluidoras mais significativas são as de origem industrial, doméstica e da agropecuária, além daquela decorrente de acidentes em sua bacia. Além disso, a ocupação intensa na margem do rio pode criar à possibilidade de enchentes devido ao estreitamento do seu leito, além do

agravante da retirada da cobertura vegetal da mata ciliar. A falta de saneamento básico em 90% dos municípios da bacia é um grande problema

para a qualidade das águas do rio Paraíba, já que 1 bilhão de litros de esgotos domésticos, praticamente sem tratamento, são despejados diariamente. Os efluentes industriais orgânicos contribuem com 14% da carga poluidora do rio Paraíba do Sul, desconsiderando os metais

pesados lançados (CEIVAP, 2014). O instituto Trata Brasil (2014) divulgou o ranking do saneamento com avaliação dos

serviços nas 81 maiores cidades do País, baseado na série do SNIS (Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento) que reúne informações dos serviços de água e esgoto. O estudo revelou que entre os anos de 2003 e 2008 houve um avanço de 4,5% no atendimento

de esgoto nas cidades observadas e de 14,1% no tratamento. Ainda assim são despejados no meio ambiente todos os dias 5,9 bilhões de litros de esgoto sem tratamento algum, gerados nessas localidades, contaminando solo, rios, mananciais e praias do País, com impactos

diretos à saúde da população. De acordo com o SNIS apenas 53,5% da população urbana brasileira tem acesso à coleta e 37,9% ao tratamento de esgotos.

A série se encerra em 2011, (tabela 2) sendo a última e mais atualizada informação oficial que o país dispõe, divulgada pelo Ministério das Cidades, em setembro de 2013. O município de Campos dos Goytacazes está na 50ª posição no ranking do saneamento das 100

maiores cidades do Brasil (BRASIL, 2014).

Tabela 2: Posição do município de Campos dos Goytacazes no Ranking de Saneamento Básico das 100

maiores cidades do Brasil entre 2003 e 2011. (SNIS, 2014)

Ano 2011 2010 2009 2008 2007 2006 2005 2004 2003

Posição 50° 66° 56º 51º 49º 57º 62º 53º 52º

As alterações na concentração dos indicadores da qualidade de água, dos padrões

físico-químicos, podem afetar o comportamento químico da água e seus usos mais relevantes.

Nesse sentido, o monitoramento é um dos fatores determinantes no processo de gestão

4

ambiental, uma vez que propicia uma percepção da realidade ambiental daquele corpo hídrico. Este acompanhamento dos aspectos qualitativos das águas produz informações que é destinado à comunidade científica, às instâncias decisórias, mas também ao público em geral.

Esta é uma problemática que pode ser trabalhada na forma de projeto de educação ambiental quando refletem questões do domínio vivencial dos educandos e da comunidade, sendo tomada como ponto de partida para uma discussão sobre meio ambiente e saúde (temas

transversais) e facilitado o processo de conscientização ambiental quanto à preservação de recursos hídricos. Desta forma, contribuindo para a formação da cidadania, o trabalho de

educação ambiental visa permitir o desenvolvimento de conhecimentos e valores que possam servir de instrumentos mediadores da interação do indivíduo com o mundo.

Este conhecimento pode ser trabalhado na forma de projeto de Educação Ambiental,

realizando uma contextualização do aprendizado, com exemplos de relevância local, no caso, o rio Paraíba do Sul, mostrando aos alunos os dados sobre a qualidade da água e

problematizando essa temática com a questão de saúde pública.

2. OBJETIVOS

2.1 Objetivo Geral

Propor abordagem sobre a qualidade da água do rio Paraíba do Sul na forma de projeto

ambiental, no âmbito escolar, abordando os temas transversais ambiente e saúde, de forma a

contribuir para o processo de conscientização ambiental quanto à preservação de recursos hídricos.

2.2 Objetivos Específicos

Realizar diagnóstico sobre a qualidade da água do rio Paraíba do Sul, com análises

físico-químicas e microbiológicas;

Comparar os resultados analíticos com a resolução CONAMA 357/2005, tendo em

vista a atividade antrópica nesta bacia;

Desenvolver um projeto de Educação Ambiental junto aos alunos do curso técnico de

meio ambiente do campus Rio Paraíba do Sul – Unidade de Pesquisa e Extensão Agroambiental do Instituto Federal Fluminense – UPEA/IFF, envolvendo aulas com

temas transversais, práticas experimentais e visitas técnicas.

3. METODOLOGIA

A primeira etapa do estudo da qualidade da água do rio Paraíba do Sul, consistiu na coleta de amostras de água por meio da garrafa de Van Dorn. O ponto de amostragem se

localiza em frente a UPEA, com as coordenadas são 21º 44’20.5”sul/041º 12’27.7”oeste No Laboratório de monitoramento da qualidade de água da Foz do rio Paraíba do Sul –

LabFoz da UPEA/IFF são realizados os ensaios físico-químicos de pH, turbidez, temperatura,

5

oxigênio dissolvido, condutividade elétrica, sólidos totais dissolvidos e cloro total; e microbiológicos de coliformes termotolerantes e coliformes totais.

No ano de 2013, as análises físico-químicas foram realizadas de forma quinzenal e as

microbiológicas seriam a cada dois meses, conforme proposta da resolução 357/2005 do CONAMA (BRASIL, 2005).

Para cada amostra, foi realizada uma triplicata de ensaios. Foram feitas três

amostragens, totalizando nove dados analíticos para cada parâmetro. No caso dos ensaios microbiológicos, a repetição se deu por duplicata.

Os dados foram digitalizados em planilhas para análises estatísticas, com cálculo de média e desvio padrão, e foram comparados com a legislação vigente, resolução CONAMA 357 (BRASIL, 2005). Os laudos técnicos estão expostos no portal do IFF5.

Diante dos resultados do monitoramento de 2013, foi realizado um projeto de educação ambiental baseado na metodologia realizada por NUNES & SIMÕES (2012).

O projeto iniciou-se dia 19 de novembro com as análises da água do rio, no LabFoz, pelos próprios alunos, como uma aula prática e instrumental.

No segundo encontro, dia 26 de novembro, os alunos conheceram a disponibilidade da

água no planeta e no Brasil, além das propriedades físico-químicas da água como estados de transição, ciclo hidrológico, geometria molecular, ligação química, ligação de hidrogênio, P.E. (ponto de ebulição), P.F. (ponto de fusão), solubilidade, polaridade, solvatação e osmose.

O terceiro encontro, dia 03 de dezembro foram abordados os padrões de qualidade de água, legislações brasileiras que normatizam os parâmetros de qualidade de água, os

parâmetros físico-químicos e sua implicância na saúde, os tipos de poluição da água (térmica, química e microbiológica), a relação entre os parâmetros microbiológicos e os físico-químicos com saúde e as doenças de veiculação hídrica. Também foram mostrados e discutidos os

valores médios mensais dos parâmetros físico-químicos e microbiológicos analisados durante o monitoramento do rio.

Na oficina 4, dia 16 de dezembro, foram abordados: as medidas de saneamento básico, o sistema de água tratada e esgoto; orientações quanto às boas práticas de higiene pessoal, limpeza de utensílios domésticos, preparação de alimentos; cuidados adotados quanto à água

não tratada: fervura, cloração, higienização de filtro; aeração como forma de retirar o alto teor de ferro e manganês de águas subterrâneas; limpeza correta da caixa d’água; e medidas a serem adotadas para evitar o desperdício de água. Ao final deste encontro, os alunos

conheceram a pequena Estação de Tratamento de Água da UPEA que capta água do rio do mesmo ponto monitorado pelo LabFoz, e que distribui água tratada para o campus, sendo

mostrados os dados técnicos como custo de instalação da ETA, vazão da estação, capacidade de produção de água tratada por pessoa, dosagem de produtos químicos, velocidade de rotação do mexedor, vazão de entrada no floculador e necessidade de retrolavagem nos filtros.

Além disso, foram evidenciadas as diferenças no tratamento de água superficial e subterrânea. O último encontro, dia 08 de abril de 2014, foi uma visita técnica à concessionária que

abastece o município de Campos dos Goytacazes, onde os alunos puderam ver o tratamento de água do rio Paraíba do Sul em grande escala, desde as etapas do tratamento, até a parte de automação. Para finalizar, os alunos responderam uma ficha de avaliação sobre o projeto,

pontuando a forma de abordagem, a relevância do tema, a contextualização dos conteúdos, entre outros. Seria uma forma de quantificar os efeitos do projeto, de avaliar a aceitação e aprovação dos alunos quanto ao desenvolvimento do mesmo.

5Disponível em: <http://portal.iff.edu.br/campus/upea/rio-paraiba-do-sul/monitoramento-da-qualidade-de-agua-do-rio-

paraiba-do-sul-laudos-tecnicos-dos-ensaios-fisico-quimico-das-aguas>

6

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

O portal da HidroWeb, da Agência Nacional das Águas (ANA, 2014), que é um Sistema Nacional de Informações sobre Recursos Hídricos, disponibiliza a série histórica de dados como vazões, qualidade de água, sedimentos, entre outros.

A partir da série histórica das vazões do rio Paraíba do Sul, da ponte municipal de Campos dos Goytacazes (código 58974000), foi possível fazer uma correlação com a turbidez

analisada, conforme figura 1.

Figura 1: Correlação da turbidez analisada com a vazão registrada pela HidroWeb. Fonte: Autor.

Os resultados representam a média de dois valores mensais, de acordo com a análise realizada no LabFoz (UPEA), onde o monitoramento é quinzenal.

A turbidez é uma condição física evidenciada pela presença de partículas em

suspensão e em estado coloidal, que interferem na passagem da luz através da água e que podem servir de abrigo aos microrganismos patogênicos (CORDEIRO, 2008). A unidade de

medida é NTU ou UNT (Unidade Nefelométrica de Turbidez). Apesar de não estar disponível na HidroWeb as vazões do mês de dezembro de 2013,

pode-se observar que na figura 1, existe uma correlação direta entre turbidez e vazão durante

janeiro e fevereiro, meses chuvosos onde ocorre arraste de sólidos suspensos e material orgânico. Com a diminuição da vazão a partir de março, a turbidez também decai. Entre maio e novembro, período de estiagem, os resultados se estabilizam. Diante desse histórico, e do

alto valor de turbidez (144 NTU), é possível fazer uma previsão de que a vazão do mês de dezembro tende a ser tão alta quanto a do início do ano.

A tabela 2, mostra as médias mensais do monitoramento quinzenal realizado pela UPEA. Já os parâmetros microbiológicos, que tiveram suas análises iniciadas no ano de 2013, pelo método Colilert, número mais provável, possuem intervalos diferenciados conforme

demanda de reagentes do laboratório.

7

Tabela 2: Monitoramento das águas do rio Paraíba do Sul em 2013 e 2014. Fonte: Autor. P

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Legenda: * Análise não realizada.

8

Os valores destacados na cor vermelha são os reprovados pela resolução CONAMA 357, enquadrando-se o rio Paraíba na classe 3 de águas doces.

Segundo Esteves (1998), a condutividade elétrica de uma solução é a capacidade desta

em conduzir a corrente elétrica, o que se dá em função da concentração dos íons presentes. Este parâmetro não determina, especificamente, quais os íons que estão presentes em determinada amostra de água, mas pode contribuir para possíveis reconhecimentos de

impactos ambientais ocasionados por lançamentos de resíduos industriais, esgotos, etc. Representando uma medida indireta da concentração de poluentes no corpo d’água, a

resolução 357/2005 CONAMA não define o valor máximo permitido (VMP) para este parâmetro.

Em geral, níveis superiores a 100 µS/cm indicam ambientes impactados. À medida

que mais sólidos dissolvidos são adicionados, a condutividade elétrica da água aumenta. Pode-se observar um valor mais alto de condutividade elétrica (150,3 µS/cm) e sólidos totais

dissolvidos (STD) no mês de abril quando a vazão está diminuindo e os sólidos se concentram na água.

A temperatura é um dos fatores que interferem na solubilidade dos gases na água,

além da pressão (ESTEVES, 1998). Como a solubilidade dos gases em meio aquoso diminui com o aumento da temperatura, em dias quentes há uma redução da concentração de oxigênio dissolvido em águas superficiais. Além disso, deve-se levar em conta o horário da coleta de

água, pois entre 10h e 16h, a água tende a ser mais aquecida pelo sol. O oxigênio encontra-se sob a forma de gás dissolvido provém da dissolução do

oxigênio atmosférico e da fotossíntese podendo ser introduzido por aeração artificial no corpo aquático também (VON SPERLING, 2005). Em contrapartida, nos ecossistemas aquáticos, as perdas de O2 são a partir do consumo pela decomposição da matéria orgânica (oxidação),

perdas para a atmosfera, respiração dos organismos aquáticos e oxidação de íons metálicos como o ferro e o manganês, por exemplo (ESTEVES,1998). Seu valor mínimo é de 5,0 mg.L-

e dentre os meses analisados, a concentração de oxigênio no rio Paraíba do Sul esteve alta. O pH representa a concentração de íons hidrogênio H+ – em escala antilogarítmica,

dando uma indicação sobre a condição de acidez, neutralidade ou alcalinidade da água. Sua

faixa vai de 0 a 14. No ambiente natural, não ocorre um número igual de íons H+ e OH-, mas suas concentrações são fortemente influenciadas por sais, ácidos e bases presentes no meio (ESTEVES, 1998). O gás atmosférico dióxido de carbono também resultante da

decomposição de matéria orgânica na água, forma ácido carbônico. Na maioria das águas naturais, o pH da água é influenciado pela concentração de íons H+ originados da dissociação

do ácido que gera valores baixos de pH (H2CO3 2 H+ + CO32-). Os valores de pH da tabela

1, estão dentro da faixa determinada pela legislação. Quanto ao cloro total, não há valor máximo estipulado para águas de classe 3. Se fosse

da classe 2, o valor máximo permitido seria 0,01 mg.L-1, e seria observado quantidades superiores ao teor estipulado. O cloro total que se origina do cloro livre, adicionado para

desinfecção das águas com a formação de íon hipoclorito e ácido hipocloroso, com o cloro combinado a compostos nitrogenados orgânicos e inorgânicos presentes no meio hídrico. O problema do poder oxidante do cloro é que águas com muita matéria orgânica favorece a

formação de trihalometanos (THMs), tais como o clorofórmio, que têm sido identificados como substâncias cancerígenas (SANCHES, 2003).

Quanto aos parâmetros microbiológicos, os coliformes são os organismos mais

comumente utilizados como indicadores de contaminação fecal devido:

estarem obrigatoriamente presentes nos intestinos de todo ser humano em número

muito grande (BRANCO et al, 2006), onde cerca de 109 a 1012 células são eliminadas por pessoa por dia. De 1/3 a 1/5 do peso das fezes é constituído por bactérias do grupo coliformes,

9

o que torna a sua probabilidade de detecção muito maior do que a dos próprios organismos patogênicos (VON SPERLING, 2005);

não serem capaz de multiplicar-se no ambiente aquático, ou “extra-intestinal”, de

modo que a sua presença não possa indicar outra origem (BRANCO et al, 2006);

possuírem resistência semelhante aos organismos patogênicos às ações de

autodepuração ou de desinfecção da água, de modo que o seu aparecimento e desaparecimento do manancial, também na rede de água potável, seja concomitante com a dos

eventuais patogênicos, revelando a eficácia da desinfecção praticada (BRANCO, 2006). Para avaliar o parâmetro microbiológico, segundo o CONAMA é necessário no

mínimo um período de um ano, com frequência bimestral onde não deverá ser excedido um

limite de 1000 coliformes termotolerantes por 100 mL em 80% ou mais de pelo menos 6 amostras coletadas. Portanto, é necessário regularizar a frequência de análise bacteriológica do LabFoz (UPEA) para inferir sobre os resultados obtidos. Por enquanto, foram encontrados

valores mais altos em março onde a turbidez é mais alta também e no mês de julho. Já os coliformes totais, segundo Von Sperling (2005), não podem ser usados como

indicadores de contaminação fecal, pois não existe uma relação quantificável entre CT e microrganismos patogênicos, podendo ser interpretados como coliformes “ambientais” devido à probabilidade de sua ocorrência em águas e solos não contaminados, representando outros

organismos de vida livre e não intestinal. Por isso, na avaliação da qualidade de águas naturais, os coliformes totais têm valor

sanitário limitado. Sua aplicação restringe-se praticamente à avaliação da qualidade da água tratada, onde sua presença pode indicar falhas no tratamento, uma possível contaminação após o tratamento ou ainda a presença de nutrientes em excesso, por exemplo, nos reservatórios ou

nas redes de distribuição (VON SPERLING, 2005). Diante dos resultados analíticos da água do rio Paraíba do Sul foi apresentado um

projeto de educação ambiental aos alunos e bolsistas da UPEA, muitos dos quais são

moradores de localidades próximas ao rio. As figuras 2 a 5 são registros do projeto. Ao final do projeto, os alunos responderam uma ficha de avaliação (figura 6) sobre os

efeitos do projeto e com a opinião de todo o trabalho desenvolvido. Foram entregues 20 fichas de avaliação em que aprovação dos alunos em relação ao

projeto foi de quase 100%.

Figura 2: Apresentação dos resultados aos alunos . Figura 3: Visita a mini ETA da UPEA.

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Este resultado bem positivo dos alunos em relação ao projeto pode se dever ao fato da

turma ser do técnico em meio ambiente, sendo o projeto da área de interesse desses participantes.

Apesar da metodologia similar, este trabalho teve tema e resultados diferentes do

estudo de NUNES & SIMÕES (2012) que foi desenvolvido com alunos do ensino médio regular de ensino, que não tinham grande foco na área ambiental e, consequentemente, não tiveram total aprovação nos quesitos avaliados do projeto.

Figura 6: Modelo da ficha de avaliação do projeto entregue aos alunos.

Figura 4: Visita técnica a ETA que abastece o

município de Campos dos Goytacazes. Figura 5: Aula prática no LabFoz (UPEA).

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5. CONCLUSÃO

Com toda a carga de poluição que o rio recebe desde que nasce em São Paulo, foi possível perceber diante dos parâmetros físico-químicos estudados neste trabalho, que ela não chega com tanta intensidade na foz devido ao processo de autodepuração biológica, química e

física, além da diluição provocada pelo aporte de água vindo dos afluentes, principalmente do rio Muriaé.

Apesar disso, os resultados de contaminação biológica indicam que a poluição poderia ser atenuada com o tratamento da maior parte do esgoto antes de ser lançado nos corpos hídricos. A mais notória e prejudicial fonte de poluição da bacia do rio Paraíba do Sul são os

efluentes domésticos e os resíduos sólidos oriundos das cidades de médio e grande porte localizadas às margens do rio. Segundo o INEA (2013), única ação capaz de reverter esta

situação é a implantação de estações de tratamento de esgotos, construção de aterros sanitários e usinas de beneficiamento de lixo domiciliar.

A Região Metropolitana de São Paulo vem enfrentando ao longo deste ano uma séria

crise de abastecimento de água, consequência da falta de chuvas no último verão. Diante deste quadro, o governo do estado de São Paulo propõe transposição de água a partir da bacia do rio Paraíba do Sul, o que provavelmente reduzirá ainda mais a vazão na região do Baixo Paraíba

do Sul, comprometendo ainda mais a sua qualidade de água em função de menor capacidade em diluir o esgoto despejado no rio e o provável avanço da língua salina.

Desta forma, este trabalho teve desdobramento em dois importantes aspectos:

Social - A avaliação da qualidade da água se relaciona diretamente à qualidade de vida

da população bem como à incidência de doenças causada por água contaminada. Além da questão de saúde pública, é importante que as pessoas tomem conhecimento da fragilidade deste corpo hídrico e o porquê da sua preservação;

Científico - Gera dados analíticos sobre a qualidade da água do rio Paraíba do Sul, disponíveis a comunidade acadêmica e ao público em geral.

A educação ambiental reflete a construção de valores sociais, conhecimentos, habilidades e competências do indivíduo voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade (BRASIL,

1999). Quando bem realizada, alcança mudanças de comportamento pessoal, de atitudes e de valores de cidadania que podem ser fortes consequências sociais, isto acontece quando o

comportamento “ambientalmente correto” é aprendido na prática do cotidiano. Outros trabalhos de Educação Ambiental utilizando a temática qualidade de água são

observados na literatura mostrando a possibilidade de se articular monitoramento ambiental

com projetos educacionais. São os trabalhos apresentados por NUNES & SIMÕES (2012), ZUIN et al (2009) e SILVA et al (2008).

6. REFERÊNCIAS

ANA. Agência Nacional das Águas. HidroWeb. 2014. Disponível em:

<http://hidroweb.ana.gov.br/Estacao.asp?Codigo=58974000> Acessado em 26 de março de 2014.

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Uso e Conservação. 3. Ed. São Paulo: Escrituras Editora, 2006.

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BRASIL. Ministério da Educação - MEC; Ministério do Meio Ambiente – MMA. Lei no 9.795, de 27 de Abril de 1999. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9795.htm>

BRASIL. Ministério das Cidades. Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento – SNIS - Diagnóstico de água e esgoto. 2014. Disponível em: <http://www.snis.gov.br/PaginaCarrega.php?EWRErterterTERTer=95>. Acesso em: 01 de

julho de 2014.

BRASIL. Ministério do Interior. Portaria GM n. 86, de 04 de junho de 1981. Classificação dos cursos d’água da Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul. Disponível em: <http://www.ambiente.sp.gov.br/wp-content/uploads/cea/PortariaMinter.pdf>

CEIVAP – Comitê de Integração da Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul. Dados gerais da CEIVAP. Disponível em: <http://www.ceivap.org.br/dadosgerais.php> Acessado em 26 de

abril de 2014.

CORDEIRO, W. S. Alternativas de Tratamento de Água para comunidades Rurais. Dissertação apresentada (Mestrado em Engenharia Ambiental) CEFET/ Campos, Campos dos Goytacazes, RJ, 2008.

ESTEVES, F. A. Fundamentos de Limnologia. 2. Ed. – Rio de Janeiro: Interciência,1998

INEA – Instituto Estadual do Ambiente. Bacia do rio Paraíba do Sul. 2013. Disponível em: <http://www.inea.rj.gov.br/fma/bacia-rio-paraiba-sul.asp> Acessado em: 12 de dezembro de

2013. NUNES, T. C. G.; SIMÕES, T. S. G. Educação ambiental no ensino médio a partir da

avaliação da qualidade de água consumida na escola pública e comunidade de Cazumbá/RJ. 2012. 92 p., Il. Orientação de: Vicente de Paulo Santos de Oliveira.

OLIVEIRA, K. C.; ROSA, R. R.; NUNES, T. C. G.; SIMÕES, T. S. G.; OLIVEIRA, V. P. S. Avaliação de Análise de Água utilizada nas escolas dos 5º e 6º distritos do Município de São

João da Barra. In: I Congresso Brasileiro de Gestão Ambiental, 2010, Bauru-SP. ANAIS - CONGRESSO BRASILEIRO DE GESTÃO AMBIENTAL, 2010. v. 1. p. 1-7.

SANCHES, S. M. Agentes desinfetantes alternativos para o tratamento de água. Química Nova na Escola. Nº 17. 2003

SILVA, P. B. da; BEZERRA, V. S.; GREGO, A.; SOUZA, L.H.A. de. A Pedagogia de Projetos no Ensino de Química - O Caminho das Águas na Região Metropolitana do Recife:

dos Mananciais ao Reaproveitamento dos Esgotos. Química Nova na Escola. São Paulo, n. 29, agosto, 2008.

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VON SPERLING, M. Introdução à Qualidade das Águas e Tratamento de Esgotos. 3. Ed.- Belo Horizonte: Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental; Universidade Federal de Minas Gerais; 2005.

ZUIN, V. G.; IORIATTI, M. C. S.; MATHEUS, C. E. O Emprego de Parâmetros Físicos e Químicos para a Avaliação da Qualidade de Águas Naturais: Uma Proposta para a

Educação Química e Ambiental na Perspectiva CTSA. Química Nova na Escola. São Paulo, n. 1, fevereiro, 2009.