5 j sidlow baxter examinai as escrituras o periodo intertestamentario e os evangelhos

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EXAMINAI AS ESCRITURAS J. SIDLOW BAXTER O PERIODO INTERTESTAMENTÁRIO  E OS EVANGELHOS SOCIEDADE RELIGIOSA EDIÇÕES VIDA NO VA Rua A ntonio Carlos Tac coni, 75 — 04810 — São Paulo SP

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EXAMINAI

ASESCRITURAS

J. SIDLOW BAXTER

O PERIODO INTERTESTAMENTÁRIO 

E OS EVANGELHOS

SOCIEDADE RELIGIOSA EDIÇÕES VIDA NOVARua Antonio Carlos Tacconi, 75 — 04810 — São Paulo SP

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Título do original em inglês:EXPLO RE THE BOOK 

Copyright© 1955 de j. Sidlow BaxterPublicado pela primeira vez por Marshall, Morgan & Scott, Ltd-Inglaterra

Tradução: Neyd SiqueiraRevisão de estilo: Robinson Norberto MalkomesRevisão de provas: Vera Lúcia dos Santos Barba

Primeira edição em português: 1985 - 3.000 exemplares

Impresso nas oficinas da Associação Religiosa Imprensil i a FéCx. Postal 18918 - São Paulo, SP - CEP 04695

iblicaao no Brasil com a devida autorização e com todos os di-eservados pela

S O C IED ^ E RELIGIOSA EDIÇD^ “ W W NOVACaixa Posta 04698 h^^aulo SP

M A Z I N H O R O D R I G U E S

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CONTEÚDO

PREFÁCIO ..................................................................... 6

PREFÁCIO À EDIÇÃO EM PORTUGUÊS ........................   7

PERÍODO IIMTERTESTAMENTÁRIO ................................ 9Lições 1, 2, 3 e 4

O NOVO E O VELH O TESTAMENTO S ............................   93Lição 5

O NOVO TESTAMENTO COMO UM T O D O ......................   105Lição 6

OS QUATRO E V A N G E LH O S ........................................... 123Lição 7

O EVANGELHO SEGUNDO M A T E U S .............................. 145Lições 8, 9, 10 e 11

O EVANGELHO SEGUNDO M AR C O S .............................. 199Lições 12, 13 e 14

O EVANGELHO SEGUNDO LUCAS ................................ 241Lições 15, 16 e 17

O EVANGELHO SEGUNDO JO Ã O ...................................   289Lições 18, 19 e 20

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PREFÁCIO À EDIÇÃO EM PORTUGUÊS

A obra aqui intitulada EXAMINAI AS ESCRITURAS é aquinta parte de uma coleção de seis volumes. Essa coleção surgiuem decorrência do desejo do Pastor J. Sidlow Baxter em oferecer,com lições atraentes e práticas, um conhecimento bíblico básicoaos membros da Capela Charlotte, em Edinburgo. O autor teve a fe

liz idéia de preparar seus estudos de um modo completo para osmembros daquela igreja, começando com Gênesis e terminandoem Apocalipse, sem escrever apenas mais um comentário.

O autor lança um agradável e seguro alicerce para aquele quedesejar apresentar-se como obreiro (ou membro da igreja) “ quenão tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade” (2 Tm 2:15).

Neste volume o Pastor Baxter discorre sobre o período in-tertestamentário e os quatro evangelhos. São poucos os livros queinformam os interessados acerca do período de quatrocentos anosda história judaica, chamado de “o período interbíblico (ou inter-testamentário).” Procurar entender o Novo Testamento sem essasraízes históricas presentes entre Malaquias e Mateus, leva o estudioso a uma compreensão falha dos Evangelhos. O autor destacanesta sua obra prima as origens do judaísmo que dominou a Ter

ra Santa nos dias de Nosso Senhor. Os estudos sobre os quatroEvangelhos oferecem ao leitor um panorama inesquecível acercado conteúdo, estrutura e intenção dos evangelistas.

Em lições sempre práticas e bastante assimiláveis, Baxter dá,àqueles que somente têm idéias acerca do Novo Testamento, in-contávéis informações muito iluminadoras. E nossa convicçãoque a popularidade gozada por esta obra em inglês, será a mesmaque se verificará na sua edição em português. Esperamos que, como decorrer dos meses, possamos lançar a coleção completa emnosso idioma.

Os Editores

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o p e r í o d o  i n t e r t e s t a m e n t á r io

I. O ASPECTO POLÍTICO 

Lição nQ 1

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NOTAS

(1) As sinopses que se seguem, relativas ao intervalo intertestamentário, são dirigidas a aprendizes. Não há necessidade dedizer nada novo sobre o mesmo, mas arranjá-lo e apresentá-lo demodo a tornar mais fácil a sua memorização. Para os que dese

 jam explorar o período mais detalhadamente, recomendamos:O Novo Testamento — Sua Origem e Anáiise —  Tenney — págs.31-144 e O Período Inter-Bíblico — E. Tognini.

(2) Em sua grande misericórdia, Deus não tornou as verdades salvadoras de sua Palavra escrita, dependentes do fato de conhecermos ou não o curso da história fora da mesma, de modo quetanto os ignorantes como os informados possam ser salvos. Masse desejarmos adquirir também um conhecimento mais completoe mais proveitoso da Sua Palavra, então aprofundar-se na históriafora dela (mas relacionada com a mesma) é de máxima importân

cia para nós, e devemos esforçar-nos para aprendê-la. Este o motivo de termos concedido espaço considerável ao período entre osTestamentos nos estudos que se seguem. Recomendamos que assinopses desse período sejam lidas cuidadosa e repetidamente, como um preparo realmente valioso para o estudo das Escrituras doNovo Testamento em si.

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ENTRE MALAQUIAS E MATEUS

Não dirfamos que um conhecimento do período entre o Velho eo Novo Testamentos é vital  para a nossa compreensão dos quatroevangelhos, embora seja muito desejável e de fato praticamentenecessário, se quisermos apreciar plenamente as muitas cenas eincidentes sobre os quais Mateus ergue a cortina. Ele apresenta um

pano de fundo contra o qual vemos com perfeita clareza as ligaçõese relevâncias das palavras e acontecimentos que ocupam as primeiras páginas de nosso Novo Testamento.

Os leitores bíblicos, geralmente, conhecem muito pouco arespeito deste período. Desejamos muitas vezes que as várias edições da Bíblia incluíssem uma breve sinopse, a fim de esclarecerpara o leitor comum este longo e divisor hiato entre os dois Tes

tamentos. Achamos útil dar um breve esboço do período nesteponto, como um prelúdio para o nosso estudo dos quatro evangelhos.

O PERÍODO DE FORMA GERAL

O período entre Malaquias e Mateus abrange cerca de quatrocentos anos, se aceitarmos a data habitualmente atribuída a Malaquias. A crítica histórica moderna situou Malaquias numa dataposterior, fazendo com que Joel e partes de Isaías se enquadrassem no mesmo período, colocando Zacarias perto do ano 250a.C. e Daniel a duzentos anos do nascimento do Senhor. Mas es-

ll

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sas datas posteriores baseiam-se em pontos subjetivos e não passam,na verdade, de conjeturas teóricas. Podemos aceitar com confiançao encerramento do cânon do Velho Testamento com Malaquias,cerca de 397 a.C.

Este intervalo de quatrocentos anos foi chamado de o “período negro” da história de Israel nos tempos pré-cristãos, em vistade não ter surgido qualquer profeta ou escritor inspirado em todaessa época. O sol desvanecente da profecia extingüiu-se e o lamento do Salmo 74:9 parece encontrar um triste cumprimento nosquatro séculos que se seguiram: “ Já não vemos os nossos símbolos;

 já não há profeta; nem, entre nós, quem saiba até quando...” 

Nossas fontes de informação para o período são os livros XI,XII e XIII de Josefo, dois livros dos Apócrifos, 1 e 2 Macabeus,além de referências aqui e ali em historiadores gregos e latinos: Po-líbio, Tácito, Lívio e Ápio. Os historiadores gentios referem-seapenas superficialmente aos assuntos judeus daqueles dias, provavelmente por não apreciarem o povo da aliança e devido à sua incapacidade para avaliar corretamente os aspectos espirituais dos

conflitos que irrompiam repetidamente entre os judeus e os povosidólatras que os cercavam.

A condição dos judeus como nação e  raça deste período dequatrocentos anos deve ser claramente lembrada. Duzentos anosantes Jerusalém tinha sido conquistada e o povo judeu levado parao exílio na Babilônia (587 a.C.). Cinqüenta anos depois.disso, enquanto os judeus continuavam cativos, o próprio império babilóni

co fora derrubado e substituído pelo medo-persa, o segundo dosimpérios mundiais profetizado em Daniel; Ciro, o imperador persaexpedira seu famoso decreto (536 a.C.), provocando a volta do “ Remanescente” judeu a Jerusalém e Judéia, sob Zorobabel, cerca de 50.000 ao todo. Vinte e um anos mais tarde, depois de muitos obstáculos, a construção do novo templo foi completada em515 a.C. Outros cinqüenta e sete anos depois disso, em 458 a.C.,o escriba Esdras se juntou ao “ Remanescente” repatriado em Jerusalém com um contingente bem menor de duas mil pessoas comsuas famílias, e restaurou a Lei e o ritual. Após outros doze anos,em 446 a.C., Neemias chegou a Jerusalém para reconstruir os muros e exercer a função de governador. Havia então agora, novamente, um estado judeu na Judéia, embora sob o domínio persa.

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Mas o “remanescente” que voltara era apenas um  remanescente. A parte maior da nação preferiu permanecer na Babilôniae Assíria (agora dominada pela Pérsia), onde prosperava e onde,

desde o início do reinado medo-persa, eram tratados mais comocolonos do que cativos.

Essa é portanto a descrição do povo judeu no começo doperíodo de quatrocentos anos entre Malaquias e Mateus: o remanescente judeu de volta à Judéia cerca de cento e quarenta anos;um estado judeu pequeno e dependente ali, Jerusalém e o templo reconstruídos, a LEI e o ritual restaurados; mas a massa do

povo continuava dispersa através de todo o império medo-persa.Nosso interesse se fixa especialmente sobre a comunidade ju

daica repatriada e reconstituída na Judéia, “o Remanescente”,pois é nela que a continuidade da história judaica, nacional e política, é preservada entre o Velho e o Novo Testamentos; i.e., osque são a nação  judaica, distintos dos judeus como uma raça dispersa e desintegrada.

Se quisermos  apreciar corretamente esta comunidade judaica, à medida que ela emerge de novo nas páginas do Novo Testamento, precisamos traçar o seu curso de duas maneiras: primeiro, quanto aos desenvolvimentos externos  (o aspecto político):e, segundo, quanto aos desenvolvimentos internos  (o aspecto religioso).

DesenvÀJyimentos Externos

Considerado externa e politicamente, o curso variado dapequena nação judaica na Palestina, simplesmente reflete a história dos diferentes impérios mundiais e outros grandes poderes que obtiveram sucessivamente o domínio da Palestina, com

exceção de uma breve conjuntura, a saber, a revolta dos maca-bes, quando durante um curto período houve de novo um governo independente. Podemos dizer que a história judaica durante esses quatro séculos entre os Testamentos se divide em seis períodos: persa, grego, egípcio, sírio, macabeu e romano.

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O Período Persa (536-333 a.C.)O dom mio persa sobre a Palestina, que se iniciou com o de

creto de Ciro em 536 a.C. autorizando a volta do remanescente judeu, continuou até 333 a.C., quando a Palestina caiu sob o poder

de Alexandre, o Grande e seu império greco-macedônio (o terceiro dos impérios mundiais pagãos preditos por Daniel). Isto significa que no final de Malaquias os judeus se achavam ainda sob oreinado persa e permaneceram nessa situação durante praticamente sessenta anos da era intertestamentária.

A última parte do período persa parece ter sido mais ou menos calma. Existe pouca informação a respeito. A Palestina fazía

parte da satrapia síria, e o domínio parece ter sido tolerante. Aforma sacerdotal do governo judeu foi respeitada e o sumo sacerdote recebeu ainda maior poder civil além de seus ofícios religiosos, embora tivesse de, naturalmente, prestar contas ao governador persa da Síria.

Ao que parece, a única perturbação notável durante esse tempo foi uma represália anti-semita provocada pelos próprios líderes judeus através de intrigas e homicídios em sua competição per

versa pelo cobiçado cargo de sumo-sacerdote — já que o poder civil investido na posição sagrada fizera dele um objeto de ambiçãopolítica. No próprio recinto do templo, Jônatas, neto de Elisabe,assassinou seu irmão Josué, favorito do governador persa. Os persas descarregaram sua vingança sobre Jerusalém, profanaram otemplo, impuseram uma severa multa, devastaram parcialmentea cidade e perseguiram os judeus por algum tempo depois disso.

Um outro ponto talvez deva ser destacado neste período persa. Ele está ligado a Samaria, a província anexa à Judéia, e parte dasatrapia síria. Em 2 Reis 17:24-41, lemos que bem antes, em 721a.C., depois de destruir o reino das dez tribos de Israel e dispersaros israelitas através das cidades dos medos, o rei da Assíria repovoou as cidades de Israel com um povo misto que veio a ser chamadode “ samaritanos” , seu território sendo conhecido como Samaria, onome da cidade principal, ex-capital de Israel. Mais tarde, Neemias

encontrou grande oposição e maldade justaménte por parte dopovo dessa região, quando foi enviado pelo imperador persa em446 a.C. para reconstruir os muros de Jerusalém. Agora, muitosanos mais tarde, nos estágios iniciais dos séculos intertestamentá-rios, e quase no final do reino persa, parece que o culto  rival de

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Samaria (Ja 4:19-22) tornou-se estabelecido, com a fundação dotemplo samaritano. Esse acontecimento marcou a separação totalentre judeus e samaritanos. Desde então, Samaria passou a vivercomo uma comunidade isolada em uma estreita área. A competi

ção no culto fazia parte de uma rivalidade mais generalizada, violenta e rancorosa, que persistiu até os dias do Novo Testamento.

5O Período Grego (333-323 a.C.)Alexandre, o Grande foi um fenômeno meteórico tão notá

vel na história que não podemos deixar de perguntar-nos quáí se

ria o seu impacto total no mundo se ele não tivesse morrido repentinamente aos 32 anos de idade. Arremessado ao poder, apóso assassinato do pai, quando tinha apenas vinte anos, Alexandretransformou politicamente a face do mundo em pouco menos deuma década. Ele é o “ chifre notável” na visão do “ bode” de Daniel (veja Daniel 8.1-7).

Em sua campanha na Síria ele marchou na direção sul contraJerusalém. Josefo nos conta como o sumo sacerdote Jadua, emsuas vestes sacerdotais e encabeçando uma procissão de sacerdotesvestidos de branco, apresentou-se para invocar a clemência doconquistador. Alexandre, que, segundo dizem, reconheceu em Jadua o cumprimento de um sonho, não só poupou Jerusalém e ofereceu sacrifício a Jeová, mas também ouviu a leitura das profeciasde Daniel referentes à queda do império persa por meio de um reida Grécia. Desde então ele tratou os judeus com marcada preferên

cia, concedendo-lhes plenos direitos de cidadania com os gregosem sua nova cidade, Alexandria, e em outras cidades. Isto, por suavez, criou entre os judeus simpatias decididamente pró-gregas e,

 juntamente com a difusão da língua e civilização gregas feita porAlexandre, teve suas repercussões a longo prazo no espírito hele-nista que se desenvolveu entre os semitas e afetou grandemente sua

perspectiva mental mais tarde.

O Período Egípcio (323-204 a.C.)Es,ta foi a mais longa das seis épocas na era intertestamentá-

ria. A morte prematura de Alexandre precipitou um intervalo deconfusão que se resolveu na divisão de seu império entre seus qua

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tro generais: Ptolomeu, Lisímaco, Cassandro e Seleno. Esses sãoos “quatro notáveis” que substituem o “grande chifre” , como profetizado em Daniel 8:21-22.

Depois de severa luta, em que a J udéia, juntamente com a ou

tra  parte da Síria, tornou-se novamente  tanto “o prêmio como avítima” no conflito pelo império entre Leste e Oeste, a Judéia caiuagora nas mãos de Ptolomeu, juntamente com o Egito. Este foiPtolomeu Soter, o primeiro da dinastia ptolemaica, i.e., a linhagem de reis gregos  sobre o Egito. (Para uma lista dos ptolomeusveja o final deste estudo.)

Ptolomeu arrancou as províncias sírias de um general oponen

te, Laomedo. Os judeus recusaram-se a  retirar seu voto de lealdade a Laomedo, mas Ptolomeu capturou Jerusalém num sábado, diaque os judeus se negavam a profanar mesmo para se defenderem.Dentre os cem mil cativos, Ptolomeu destacou trinta mil para guarnecer suas cidades mais importantes, especialmente na Líbia e Ci-rene, que acabara de anexar. Tomou essa decisão devido à fidelidade mostrada pelos judeus em se manterem leais a Laomedo.

Durante algum tempo Ptolomeu Soter tratou duramente os

 judeus, mas depois mostrou-se amigável. Seu sucessor, PtolomeuFiladelfo, continuou numa atitude favorável e seu reinado destacou-se não só por ter fundado a renomada biblioteca alexandrina,mas também pelo fato da famosa tradução Septuaginta das Escrituras do Velho Testamento ter sido feita nessa época; passando-asdo hebraico para o grego, cuja língua se tornara conhecida em todo o mundo civilizado. Segundo se julga, o Pentateuco foi traduzido

cerca de 285 a.C. e o restante das Escrituras em estágios posteriores. Os judeus eram então tão numerosos no Egito e norte da África que tal tradução mostrou-se imprescindível. Ela passou a serusada de modo geral bem antes do nascimento do Senhor e muitosdos gentios puderam conhecer então as Escrituras.

Durante o período de tratamento humano e algumas vezesbondoso dos três primeiros Ptolomeus, os judeus da Judéia cresceram em número e riqueza; desenvolvendo o seu comércio, queprosperou com a queda de Tiro. Mas durante a última parte do período egípcio eles passaram por duras provações. A Palestina estava se tornando cada vez mais um campo de batalha entre o Egito eos agora poderosíssimos Selêucidas (i.e., a linha dos reis s/rios descendentes de Seleuco I). Por achar-se localizada entre a Síria

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e o Egito, a Palestina encontrou-se novamente entre “o martelo e abigorna”. Antíoco o Grande da Sfria afirmava que a provínciada Síria tinha sido originalmente cedida a Seleuco na divisão doimpério de Alexandre. Numa grande batalha em Rafia, perto de

Gaza, Antíoco foi derrotado por   Ptolomeu  Filopatro (o quartoptolomeu), determinando assim o destino da Palestina que permaneceu como província egípcia até o final do reinado de Filopatro. Este, porém, ganhou a antipatia dos judeus pela sua ousadiaem pretender entrar no Santo dos Santos. O sumo sacerdote, Si-mão II, impediu-o e Filopatro, voltando a Alexandria, perseguiuos judeus e tomou até medidas para extirpá-los de seus domínios

(3 Mac 2). A partir do reinado de Ptolomeu Filopatro, o poderdo Egito desvaneceu-se rapidamente. A estrela do império finalmente empalidecia para o Egito e uma civilização que durava desde os primórdios da história pós-diluviana em breve seria esmagada sob os tacões de aço de Roma.

Por ocasião da morte de Ptolomeu Filopatro, Ptolomeu Epi-fânio, seu sucessor, tinha apenas cinco anos. Antíoco, o Grande,aproveitou-se desta oportunidade e em 204 a.C. invadiu o Egito.Logo depois, Judéia e outros territórios foram anexados à Síria e passaram a ser governados pelos selêucidas. (Para uma listados selêucidas na Síria veja o final deste estudo.)

’ O Período Sírio (204-165 a.C.)

Dois pontos devem ser especialmente notados neste período. Primeiro, foi nessa época que a Palestina dividíu-se em cincoprovíncias, as quais encontramos nos tempos do Novo Testamento, a saber: Judéia, Samaria, Galiléia, Peréia, Traconites. (Algumas vezes as três primeiras são chamadas coletivamente de Judéia.) Segundo, este período sírio foi o mais trágico da era inter-testamentária para os judeus na pátria.

Antíoco, o Grande, foi cruel para com eles. O mesmo aconteceu com seu sucessor, Seleuco Filopatro. Todavia, os judeus naJudéia continuavam tendo permissão para viver sob as suas próprias leis e administrados pelo sumo sacerdote e seu concílio como governantes nominais. Com a ascensão de Antíoco Epifânio(175-164 a.C.), um “ reinado de terror” caiu sobre a Judéia.

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Nessa ocasião tinha surgido na Judéia um partido com idéiasgregas ou helenistas, defendendo inovações anti-semitas. Eles seinclinavam a relaxar a observância ortodoxa do judaísmo com aexclusividade nacional contida na mesma, a favor de uma liberda

de grega de pensamento, maneiras e formas de religião. As disputas entre nacionalistas e helenistas para alcançar o poder nessesassuntos provocou amargas contendas e até assassinatos.

Depois de várias interferências anteriores no templo e no sacerdócio, Antíoco Epifânio usou então este partidarismo judaicocomo uma provocação para fazer cair sobre eles todo o peso doseu rancor. Descarregou o seu ódio em forma de uma terrível de

vastação em 170 a.C. Jerusalém foi saqueada, os muros derrubados, o templo grosseiramente profanado e a população submetida a monstruosas crueldades. Milhares foram massacrados. As mulheres e crianças vendidas como escravas. Abolidos os sacrifíciosno templo. O Santo dos Santos pilhado e sua valiosa mobília roubada. A religião judaica foi banida. Proibiu-se a circuncisão sobpena de morte. Um governador estrangeiro passou a administrara terra, elevaram um traidor ao sumo sacerdócio e impuseram o

paganismo à força sobre o povo. Uma pessoa ficou encarregada deprofanar tanto o templo de Jerusalém como o de Samaria e rededi-cá-los a Júpiter Olímpio e Júpiter Xênio, respectivamente.

Todas as cópias da Lei encontradas foram queimadas ou desfiguradas com figuras idólatras e seus possuidores executados. Oprimeiro livro dos Macabeus diz que muitos judeus se tornaramapóstatas e alguns até se juntaram aos perseguidores. Em 168 a.C.

Antíoco ordenou  que um porco fosse oferecido sobre o altar desacrifício e, a seguir, no próprio altar, mandou erguer uma estátuaa Júpiter Olímpio. Nessa década medonha os judeus da Palestinaachavam-se decididamente no vale da sombra da morte.

O Período Macabeu (165-63 a.C.)Como um relampejar súbito de estrelas brilhantes, irrompen

do dentre as nuvens numa noite escura, o episódio surge diante denós. Trata-se de uma das passagens mais heróicas de toda a história. Para apreciá-la como merece, é necessário que conheçamos nãoapenas os fatos, mas também que entremos no espírito dos mesmos.

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O movimento de revolta e resistência foi provocado pelospróprios excessos de Antfoco. Ele iniciou-se com um sacerdoteidoso, Matatias, e desenvolveu-se com seu filho Judas, conhecidosubseqüentemente como Judas Macabeu, nome derivado do termo

hebraico para martelo. Contra um pano de fundo de terríveis trevas e desafiando forças contrárias esmagadoras, a fé santa de Matatias e seus filhos ardeu com glorioso brilho e encontrou eco no coração de uma multidão santa que se ofereceu voluntariamenteem sacrifício. A dedicação de centenas de milhares levou-os aomartírio. E difícil encontrar, seja no Velho Testamento ou na eracristã, um flamejar mais nobre de ciúme santo pela honra de Deus.

A centelha que fez explodir a indignação desesperada foi umarepresália corajosa e drástica por parte do velho e zeloso sacerdote.Os oficiais de Antíoco, em sua missão de obliterar o judaísmo esubstitui-lo pela religião estatal do rei, visitaram Modin, cidade deMatatias. Este, figura então proeminente, recusou-se a cumprir asordens, matou o oficial de Antíoco, juntamente com um judeudesleal e destruiu o altar idólatra. Matatias e seus cinco filhos refugiaram-se então nas montanhas do deserto e muitos dos fiéis reuniram-se a eles com suas famílias. Filipe, o frígio, os perseguiu ematou cerca de mil deles com suas mulheres e filhos, queimando-os vivos nas cavernas onde se escondiam. Isto não foi difícil, porque os judeus negavam a se defender nos dias de sábado. Matatias osconvenceu, depois disso, de que a autodefesa em tais circunstâncias era justa mesmo no sábado.

Matatias e seu bando vieram a constituir um exército. Eles

atacavam cidade após cidade, matando os judeus traidores, derrubando os altares idólatras e restaurando a verdadeira religião. Cercade um ano mais tarde, Matatias morreu, tendo indicado seu filhoSimão para ocupar o cargo de conselheiro-chefe e seu filho Judascomo general do exército.

Judas desenvolveu então uma poderosa estratégia de guerrilhas, sendo a região perfeitamente adequada a táticas como essa.

Seu exército cresceu. Ele derrotou dois exércitos invasores em batalha acirrada, matando ambos os comandantes, Apolônio e Seron.Uma terceira expedição, muito maior, com cerca de 50.000 homens enviados diretamente por Antíoco, sob o comando conjuntode seus generais Ptolomeu Macron, Nicanor e Górgias, terminouem derrota. Depois disso, um grande exército de 65.000 soldados

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de infantaria e cavaleiros, dentre os melhores, invadiram a Judéiasob o comando do chefe de todos os generais de Antíoco, Lísias.O resultado foi o mesmo. Os dez mil homens de Judas lutaramcom tão terrível desespero e força aparentemente sobrehumanos

que os sírios se amedrontaram e Lísias retirou-se, compreendendoque nada senão uma campanha total resolveria a situação.

Judas assumiu então a ofensiva. Jerusalém foi recuperada,o templo remobiliado e a 25 de dezembro, aniversário da sua profanação três anos antes, os sacrifícios ortodoxos foram reinstituídos (cuja data os judeus continuam observando como a Festa daDedicação; veja Jo 10.22). Judas capturou também os principais

postos em toda a terra. Antíoco, ao que tudo indica, preparavauma formidável vingança, mas uma pesada derrota em Elimasna Pérsia, além dos fracassos sucessivos na Judéia, parecem tê-loenvolvido num terror supersticioso que transformou-se em enfermidade fatal. Conta-se que morreu em estado de completa loucura.

O que poderia ter parecido um sinal divino de libertação final, mostrou-se todavia como justamente o oposto. Veio entãoa pior crise de todas. O filho de Antíoco era muito jovem. Lísias

passou a ser o regente da Síria, autonomeado, e invadiu a Judéiacom um exército de 120.000 homens. Judas e seu exército foramderrotados em Betsur e retiraram-se para Jerusalém. O cerco foilongo. Os macabeus resistiram valentemente, mas faltaram provisões. Muitos dos sitiados desertaram movidos pela fome. Os adeptos de Judas foram diminuindo cada vez mais, até que a capitulação parecia inevitável e a causa perdida.

Mas quando tudo parecia ter acabado, Lísias ouviu subitamente falar de um regente rival na capital da Síria e induziu o jovem filho de Antíoco e os príncipes sírios a fazer paz com a Judéiaem termos amigáveis, prometendo-lhes a restauração de todas asliberdades religiosas. A revolta dos macabeus, no momento em queparecia a ponto de ser esmagada, foi então coroada de sucesso!

No entanto, outros problemas surgiram mais tarde, por partede um novo sucessor do trono da Síria, Demétrio I. Depois de algumas interferências contra os macabeus em Jerusalém, ele finalmente enviou um exército comandado por Nicanor para matar Judas. Judas o derrotou e Nicanor foi morto. Mais ou menos nessaépoca, Judas procurou aliar-se a Roma, que se tornara então umdos maiores poderes do mundo. Mas antes dos frutos dessa aliança

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poderem ser colhidos, ele foi derrubado numa batalha contra oexército sírio, quando resistia corajosamente com um punhadode homens.

Não podemos narrar aqui os sucessivos altos e baixos do po

vo judeu durante as décadas seguintes, as vacilações entre os ma-cabeus ortodoxos e o partido helenista heterodoxo, continuamente complicadas pela interferência pouco inteligente dos poderesestrangeiros. Os comentários abaixo irão porém indicar o cursoseguido pelos acontecimentos.

O partido ortodoxo prevaleceu sob o comando de Jônatas,irmão mais moço de Judas Macabeu. Ele mostrou-se um guerrei

ro capaz, obtendo notáveis vitórias e, por absoluta força das circunstâncias, os governantes sírios e outros foram obrigados a respeitá-lo fora da Judéia. Jônatas tornou-se também sumo sacerdote, unindo assim a autoridade civil e religiosa em uma única pessoa e dando início a linha de sacerdotes “asmoneus” ou “ hasmo-neus’’ (assim chamada por causa de Hasmon, tataravô dos irmãosmacabeus). Mais tarde, entretanto, ele foi traído e assassinadopor um poder estrangeiro (143 a.C.) e seu irmão Simão assumiua liderança.

Simão também foi um bom líder. Após capturar todas asdemais fortalezas sírias na Judéia, ele obrigou a guarnição síriana cidadela de Jerusalém a render-se. A Judéia ficou assim livrede todas as tropas estrangeiras e a partir dessa época (cerca de142 a.C.), passou novamente a ser um governo judeu independente. Exceto por uma pequena exceção, isto continuou até que a

Judéia veio a tornar-se província romana em 63 a.C.Simão, além de expulsar a guarnição síria da cidadela de Je

rusalém, mandou nivelar a “ montanha” sobre a qual ela se achava.O povo trabalhou noite e dia durante três anos, até que a mesmaficou reduzida ao nível comum da cidade, para que jamais voltasse a ameaçá-los e para que o templo se mantivesse como o maisalto de todos os edifícios. Simão era amado por todos; mas depois

de oito anos no cargo ele e dois de seus filhos foram traiçoeiramente assassinados por um genro que cobiçava o sumo sacerdócio.O filho de Simão que restou, o capaz João Hircano, tornou-

se então sumo sacerdote. Depois de um revés inicial e um curto intervalo de servidão à Síria, ele estendeu notavelmente o poder daJudéia. De fato, desde a dispersão das dez tribos depois do reinado

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de Salomão, nenhum rei judeu conseguira uma área tão espaçosa.João Hircano foi sem dúvida um personagem digno de nota. A dinastia hasmoneana é geralmente considerada como começandocom ele (135-63 a.C.); embora talvez tenha tido verdadeiro iníciocom seu pai Simão em 140 a.C., quando uma grande assembléiaem Jerusalém tornou o duplo cargo de príncipe e sumo sacerdote hereditário na família dos hasmoneanos.

João Hircano teve um reinado próspero durante 29 anos,morrendo em 106 a.C. Depois dele, infelizmente, o registro daindependência judaica está longe de ser brilhante. Os últimos governantes da linhagem hasmoneana não tinham as qualidades dos

primeiros macabeus. As amargas contendas partidárias foram agravadas por repetidos conflitos mortais e uma guerra civil que sóterminou após a intervenção romana.

Com a morte de João Hircano, seu filho Aristóbulo transformou a liderança em reinado,  aprisionando e deixando morrer defome sua própria mãe no processo, encarcerando três de seus quatro irmãos, e negociando o assassinato do outro. Mas este Aristóbulo só viveu mais um ano depois dessas maldades.

Ele foi seguido por Alexandre, que, no mar de sangue quemanchou seu reinado, mandou matar 50.000 de seus compatriotas. Sua viúva conseguiu manter a coroa por cerca de nove anosapós sua morte, mas quando ela também morreu houve um amargo conflito entre seus dois filhos — outro Aristóbulo e outro Hircano.

A família Herodes aparece agora em cena. Antípater, pai do

Herodes que reinou na época do nascimento do Senhor, conseguiuobter através de suas engenhosas maquinações o apoio do generalromano Pompeu para seu irmão Hircano. Aristóbulo, o outro irmão, desafiou Roma. O resultado foi o cerco de Jerusalém. Depoisde um cerco de três meses, Pompeu tomou a cidade. Nessa ocasião, com a máxima desconsideração, ele entrou no Santo dos Santos — cujo ato imediatamente fez com que todos os corações se

voltassem para os romanos. Isso aconteceu em 63 a.C.

O Período Romano (a partir de 63 a.C.)A conquista de Jerusalém por Pompeu encerrou o intervalo

da independência pela Judéia e ela tornou-se uma província do im-

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pério romano. O sumo sacerdote perdeu completamente seus poderes reais retendo apenas a função sacerdotal. Este sumo sacerdote, João Hircano, marca o fim da linhagem de sumos sacerdotes hasmoneus e macabeus. O governo passou a ser exercido porAntípater, o idumeu, que foi nomeado procurador da Judéia porJúlio César em 47 a.C. ,

Antípater, nomeou Herodes (seu filho pelo casamento comuma mulher árabe, Cipros) governador da Galiléia, quando ele tinha apenas 15 anos de idade (segundo Josefo).

Durante a guerra entre Pompeu e César, os interesses da Judéia desapareceram durante algum tempo em vista de questõesmais importantes. Mas depois do assassinato de César, Herodes

fugiu das desordens provocadas por esse incidente na Palestinae apelou para o triunvirato de Roma, onde suas manobras eventualmente lhe obtiveram a coroa da Judéia, objeto de sua maiorambição. Ele foi nomeado rei dos judeus por volta de 40 a.C.

Ao voltar à Judéia, ele procurou agradar os judeus casando-se com Mariamne, a belíssima neta do asmoneu João Hircano e nomeando sumo sacerdote o irmão dela, Aristóbulo. Ele também

aumentou grandemente o esplendor de Jerusalém, construindo obem elaborado templo que veio a ser o centro de adoração judaica nos dias do Senhor.

Herodes, porém, era tão cruel e sinistro quanto hábil e ambicioso. Sua determinação em extinguir a família dos hasmoneusera praticamente satânica e para conseguir isto manchou as mãoscom homicídios terríveis. Mandou matar os três irmãos da mulher — Antígono, Aristóbulo e Hircano. Mais tarde assassinou

até mesmo a esposa, embora ela pareça ter sido a única que foi capaz de amar. Tempos depois matou também a sogra, Alexandra.E posteriormente ainda assassinou os filhos que tivera com Ma-riamne — Aristóbulo e Alexandre. Este foi aquele “ Herodes, oGrande,” que reinava quando o Senhor nasceu.

Em resumo, esse é o contexto da história dos judeus na Palestina estudado externa e politicamente, durante os quatro sé

culos entre Malaquias e Mateus. E importante guardar na memória os seus períodos descritos. Passamos agora a uma revisão doperíodo do ponto de vista religioso e espiritual.

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PAR A SUA REFERÊNCIAem relação ao exame precedente do período entre

Malaquias e Mateus

OS PTOLOMEUS

(i.e. a dinastia dos reis gregos que governaram o Egito durante a última fase doimpério egípcio)

Ptolomeu Soter 323-285

Ptolomeu Filadelfo 285-247

Ptolomeu Euergetes 247-222

Ptolomeu Filopatro 222-205

Ptolomeu Epifânio 205-181

Ptolomeu Filômetro 181-146

Ptolomeu Fiscon 146-117

Ptolomeu Soter II 117-107

Ptolomeu Alexandre I 107-90

Ptolomeu Soter II (reinado

posterior) 89-81

Ptolomeu Alexandre II 19 dias

Ptolomeu Dionísio 80-51

Ptolomeus XII e XIIIcom a Rainha Cleópatra 51-43

O Egito sucumbiu ao domínio romanoem 30 a.C.

OS SELÊUCID/.S

(i.e a dinastia dos reis descendentes deSeleuco Nicator, fundador da monarquiasíria)

Seleuco Nicator 312-280

Antíoco Soter 280-261

Antíoco Teos 261-246

Seleuco Cal fnico 246-226

Seleuco Ceranus 226-223

Antíoco, o Grande 223-187

Seleuco Filopatro 187-175

Antíoco Epifânio 175-163

Antíoco Eupatro 163-162

Demétrio Soter 162-150

Alexandre Balas 150-146

Demétrio Nicator 146-144

Antíoco Teos 144-142

Usurpador, Trifão 142-137

Antíoco Sidetes 137-128

Demétrio II (novamente) 128-125

Seleuco V 125-124

Antíoco Gripo 124-96

Seleuco Epifânio 95-93

Logo depois disto os sírios, desgastadospelas guerras civis dos selêucidas, entregaram o reino a Tigranes, rei da Armênia, em 83 a.C. Ele tornou-se parte do

império romano em 69 a.C.

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o p e r í o d o  i n t e r t e s t a m e n t á r io

11. O ASPECTO RELIGIOSO 

Lição nQ 2

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É da maior importância lembrar... que apenas uma minoriados judeus, cerca de 60.000 ao todo, voltou inicialmente da Babilônia, primeiro sob Zorobabel e mais tarde sob Esdras. Esta inferioridade não estava apenas nos números. Os judeus mais ricos

e influentes ficaram para trás. Segundo Josefo, com quem Filoconcorda substancialmente, um vasto número, calculado emmilhões, habitava as províncias trans-eufráticas. Só pela estimativa do número de pessoas mortas nos levantes populares (50.000apenas na Selêucia), esses algarismos não parecem excessivamente exagerados. Uma tradição posterior afirmava que a população

 judaica era tão densa no império persa que Ciro proibiu a voltade novos exilados, a fim de que o país não ficasse desabitado. Um

grupo assim tão grande e compacto logo tornou-se um poder político. Tratados com bondade pela monarquia persa, depois daqueda desse império, eles foram favorecidos pelos sucessores deAlexandre. Quando o governo sírio-macedônio foi por sua vezsubstituído pelo império dos partas, os judeus, pela sua oposição nacional a Roma, formaram um elemento importante noOriente. A influência deles era tão grande que numa época tão

posterior quanto o ano 40 A. D. o legado romano ainda evitavaprovocar a hostilidade deles. Ao mesmo tempo, não deve ser imaginado què sequer nessas regiões favorecidas eles estivessem completamente a salvo de perseguição. A história registra aqui também mais do que um relato de conflitos sangrentos promovidospor aqueles povos entre os quais habitavam.

— A. Edersheim, D. D.

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ENTRE MALAQUIAS E MATEUS (2)

Não podemos adiantar-nos muito nas páginas do Novo Testamento sem perceber que grandes mudanças tiveram lugar entreos judeus desde que o último escritor do Velho Testamento descansou a sua pena.

Não foi só no sentido de a Palestina ter mudado de mãosmeia dúzia de vezes, à medida que os poderes estrangeiros a arrancavam sucessivamente uns dos outros e que essas mudançasgravavam suas marcas profundamente sobre a nação. Os judeusem si haviam mudado. Surgiram novas seitas ou partidos — fariseus, saduceus, herodianos. Novas instituições — sinagoga, escribas, Sinédrio.

De fato, o povo judeu se desenvolvera numa espécie de “ ismo” nacional, i.e., o judaísmo.  As coisas evoluíram de tal modo

que a nação inteira identificou-se praticamente com este culto,este judaísmo que se desenvolveu em volta das Escrituras do Velho Testamento. Os judeus (o povo) e o judaísmo (a religião)encontravam-se então praticamente coexistindo, e um implicava o outro.

Todas essas mudanças — o surgimento das novas seitas einstituições, e a evolução do judaísmo — tiveram início duranteos quatro séculos que mediaram entre o Velho Testamento e oNovo. Isto, por si mesmo, mostra a importância do intervalo inter-testamentário. Desse modo, tendo recapitulado esses quatro séculos quanto ao curso exterior da história judaica, vamos, agora,traçar brevemente os principais desenvolvimentos internos e religiosos.

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Desenvolvimentos Internos

Se quisermos compreender de modo geral o espírito e tendências da comunidade cristã durante esse trecho dos séculos, é preci

so apreciar primeiramente o impacto profundo do exílio da Babilônia sobre a nação. Vamos deixar que nossa mente retroceda porum momento ao Livro de Reis. Depois da morte do rei Salomãohouve uma divisão no povo hebreu que jamais foi reparada. Dezdas tribos se separaram da casa de Davi e estabeleceram um reinopróprio; a partir de então houve dois reinos em lugar de um único. Havia o reino do norte com dez tribos tendo Samaria como

sua capital: e o do sul, o reino de Judá, com a capital em Jerusalém. Depois de uma carreira inglória durante dois séculos e meio,o reino das dez tribos foi conquistado pelos assírios, as tribos dispersadas em territórios estrangeiros e o imperador assírio repovooua terra deles com uma mistura heterogênea de cativos levados deoutras regiões. Essa dispersão deu-se em 721 a.C. e o povo colocado no antigo território israelita tornou-se conhecido como “os sa-maritanos”.

O reino do sul, Judá, continuou durante mais um século emeio e depois sucumbiu ao poder da Babilônia, o novo poder mundial que suplantara o império assírio. Em 587 a.C. a Judéia foiconquistada, Jerusalém reduzida a ruínas e a maior parte do povolevado cativo para a Babilônia. Esse exílio babilónico é muitasvezes chamado de exílio dos setenta anos, mas na verdade não durou tanto. E certo que durante exatamente setenta anos (de 606,

quando Daniel e outros príncipes judeus foram levados, até 536,quando o império babilónico caiu), Deus usou a Babilônia paracastigar o povo da aliança; mas o exílio em si durou apenas cinqüenta  arios. Ele teve um impacto tão grande sobre o povo judeuque precisamos estudá-lo a fim de compreender os desenvolvimentos religiosos durante o período intertestamentário.

Sanada a Idolatria Habitual Quando refletimos sobre os privilégios únicos, o relaciona

mento de aliança e o chamado superior do povo escolhido, o exílio foi uma catástrofe superlativa. Ele foi, todavia, ordenado porDeus para produzir uma transformação nos conceitos religiosos do

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povo hebreu que só pode ser descrita como uma das mais surpreendentes revoluções na história de qualquer nação. Os judeus seguiram para esse exílio com o que parecia uma paixão insensata, aparentemente incurável, pela idolatria. Eles emergiram dele na con

dição em que permanecem até hoje, o povo mais monoteísta domundo, os defensores e promulgadores.da crença no Deus únicoe verdadeiro, Jeová, o Senhor.

Recapitulemos a sua história. Mal saíram do Egito e já estavam adorando o bezerro de ouro. Logo depois de se estabeleceremem Canaã passaram a prostrar-se diante dos Baalins e de Astarote,divindades dos fenícios. No ponto mais alto da monarquia, o pró

prio Salomão levou a nação a adorar Milcom, abominação dosamonitas; Camos, abominação dos moabitas, assim como Molo-que e outros igualmente abomináveis. Depois da separação das deztribos, encontramos Jeroboão colocando seus bezerros de ouro emDã e Betei: e esse não foi senão o começo de um longo e espantosoperíodo de idolatria, agravado por reinados como o de Acabe e suamulher pagã Jezabel, até que o reino inevitavelmente apóstata foidissolvido na dispersão pelos assírios. Quanto ao reino do sul, i.e.,

Judá, apesar dos reinados de vários reis piedosos, o mal da idolatria agravou-se cada vez mais, até que nos reinados de Manassés,Jeoaquim e Zedequias as coisas chegaram a um ponto crítico. Jeremias, o profeta da hora crucial de Judá, clama: “Segundo o número de tuas cidades são os teus deuses, ó J udá” .

Todavia, vemos mais tarde este fato extraordinário: depois doexílio na Babilônia o povo judeu converteu-se totalmente e para

sempre da idolatria, transformado em um adorador convicto doDeus único e verdadeiro.Como justificar isso? O que houve, naquele curto intervalo de

cinqüenta anos, que alcançou tão decisivamente o que todos oscastigos anteriores, exortações proféticas e reformas reais, assimcomo as advertências divinas tinham falhado em obter? Não foicertamente a cultura babilónica, pois a Babilônia era o centro daidolatria. Seus deuses, altares e santuários eram tão antigos quantoa civilização, sendo venerados em toda parte. A Babilônia poderia muito bem ter aumentado a idolatria dos judeus, mas certamente não poderia curá-la.

Deve existir, porém alguma  explicação para a renúncia rápida e final da idolatria por parte de Israel, pois povo algum pode

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experimentar uma transformação tão básica e permanente deidéias sem que haja uma compulsão poderosíssima. O que foi então que converteu tão completa e definitivamente todo esse povo?

Os Fatores SobrenaturaisA resposta está no fato de o milagre da profecia estar sendo 

cumprido diante de seus próprios olhos.  Em tempos idos, os profetas Isaías e Jeremias haviam predito claramente em seus escritos os acontecimentos que sobrevieram sobre eles. A destruiçãode Jerusalém, o exílio dos filhos e filhas de Judá na Babilônia, a

queda subseqüente e súbita da própria Babilônia, as brilhantesconquistas de Ciro o Persa que conquistou a Babilônia, os decretos posteriores de Ciro para a restauração do templo em Jerusalém — tudo isso foi profetizado 200 anos antes de acontecer, juntamente com as profecias mais recentes e ainda mais específicasde Jeremias relativas ao período de setenta anos determinado porDeus para o castigo de Judá, e o intervalo menor do exílio propriamente dito na Babilônia (veja Is 43: 14; 44:28; 45:1-7; 46.1-11; 47:1-11; 48:3-7; Jr 25:8-14; 50, 51).

Os judeus mal podiam imaginar, quando estavam sendo arrastados para a Babilônia, que dentro de cinqüenta anos a poderosa, opulenta e aparentemente inexpugnável capital do vasto ecrescente império de Nabucodonosor seria derrubada para sempre, que Ciro o Persa iria conquistá-la e que quase imediatamente ele daria aos judeus a oportunidade de voltar para a Judéia de

posse de um édito real para a reconstrução do templo. Todavia,tudo isso ocorreu e os judeus exilados, profundamente atônitos,viram as coisas acontecerem exatamente como predito pelo SENHOR através dos profetas hebreus! Os fatos não podiam ser impugnados. A evidência era conclusiva. O historiador Josefo praticamente nos conta que o imperador Ciro foi convertido atravésdessas maravilhas.

Além disso, Deus colocara uma surpreendente testemunha de Si mesmo na própria corte babilónica.  Abaixo do imperador,a personagem mais renomada da época era DANIEL. Através dele, esse judeu de grande fama, esse homem de intransigente lealdade ao Senhor, tinham sido realizados milagres de sabedoriae poder divinos que superaram todas as artes e mágicas dos babi

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lônios. Daniel foi sem dúvida um belíssimo monumento da realidade e supremacia do Senhor. Cada judeu na Babilônia deve terse maravilhado e meditado. E como os judeus devem ter-se surpreendido com as promessas graciosas que Deus anexara a algumas

das predições de Isafas sobre o exílio na Babilônia — promessasde bênção e restauração caso o povo exilado renunciasse a idolatria e se tornasse um servo verdadeiro do Senhor!

Assim sendo, finalmente, o povo hebreu foi levado a compreender que os deuses pagãos não passavam de vaidades mentirosas e que o Senhor era o único Deus verdadeiro, o Criador de todas as coisas, o Rei soberano do universo, cuja vontade domina

os exércitos dos céus e os habitantes da terra. Ficaram curadosde uma vez para sempre de sua idolatria; tornando-se depois dissoeternos e confirmados adoradores do seu Deus da ali^nçji, p  Senhor.

Manifestação e Crescimento do Judaísmo

Ao reconhecermos nessa profunda conversão nacional <5maisdeterminante de todos os fatores na história judaica subseqüente,vamos fazer uma viagem mental com os cinqüenta mil que voltaram da Babilônia para Jerusalém em resposta ao édito do imperador Ciro.

Esses cinqüenta mil são conhecidos como o “ Remanescente” .Eles não passavam justamente disso, um remanescente, pois a maior

parte da nação permaneceu na Babilônia. Sem dúvida havia muitospara quem a saída da Babilônia e a viagem por centenas de quilômetros de volta à Judéia seria muito difícil, ou até impossível. Razões de família impediriam alguns, e outros em vista da idade oumá saúde. Outros ainda julgariam insuperável o esforço de voltara estabelecer-se nas cidades e vilas devastadas, recuperando o soloinvadido pelas ervas daninhas e sem cultivo há meio século. Outros

pretendiam voltar, porém mais tarde. E, aparentemente, muitosoutros, embora sua convicção contra a idolatria fosse genuína epermanente, não se sentiam obrigados a voltar para a terra em si,como uma questão de consciência.

Entretanto, de uma coisa podemos estar certos: aqueles cinqüenta mil que voltaram eram os mais piedosos entre os piedo

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sos. Eles sabiam no que acreditavam e porque acreditavam. Sabiamporque estavam voltando. Compreendiam, pelo menos em parte,as dificuldades que os aguardavam e tinham pleno conhecimentodo que tencionavam fazer na Judéia. '

De volta à Judéia: e então? Voltemos então à Judéia com o Remanescente. O que eles en

contraram? Tente sentir como eles. Além daquelas coisas que saltam à vista — as ruínas empoeiradas, o mato invadindo tudo, e aslembranças pungentes das tragédias passadas, existem certas au

sências  que golpeiam a mente.  Não há rei   nem trono; a linhagemreal de Davi desapareceu. Não há templo;  e embora um outro possa ser construído sobre os antigos fundamentos, ela jamais poderásubstituir seu incomparável predescessor. Não existe mais tambémqualquer independência nacional,  pois, embora os cinqüenta miltivessem retornado com o propósito de restabelecer um estado judeu na Judéia, eles se acham ali apenas com permissão, como umaprovíncia subordinada numa área restrita, abrangendo somente

uma pequena parte do antigo reino de Judá.Nada de trono, templo ou independência! O que restou? Por

que esses judeus voltaram a tais ruínas, restos e dificuldades? Porque voltaram com tanto entusiasmo e dedicação? Porque restaraainda uma coisa que se tornara recentemente a possessão mais preciosa e vital em todo o mundo para eles e seus conterrâneos: o tesouro de suas ESCRITURAS sagradas. Elas haviam provado ser

indubitavelmente a palavra inspirada do Deus único e verdadeiro,o Senhor; e são os artigos da aliança do Senhor com o povo deIsrael. Na Lei de Moisés, ò Pentateuco, esses judeus lêem agoracom novos olhos a base de sua comunidade e vocação; com estranhas e novas emoções, eles vêem igualmente nela os castigos prometidos para a desobediência que foram cumpridos com terrívelexatidão com a queda do reino e o exílio das tribos.

Mas, além disto, esses judeus percebem então em suas Escrituras, especialmente nos profetas, a maravilhosa seqüência de predições relativas à vinda de um Messias que iria reunir de novo eexaltar permanentemente o povo escolhido, sob cujo reinadoglorioso todas as bênçãos prometidas na aliança abrâmica deveriamse cumpridas. Todas as demais predições se realizaram, como esses

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 judeus viveram para testemunhar, e o mesmo ocorrerá com as demais promessas que falam a respeito do Messias que está para vir.Foi assim que esses 50.000 exilados que voltaram raciocinaramconsigo mesmos e eles retornaram à pátria, animados por um no

vo zelo pela Lei e com nova esperança para o futuro.

 A Lei do Passado: Esperança para o FuturoEssas duas coisas — o novo zelo pela Lei e a esperança messiâ

nica — jazem nas próprias raízes do “ judaísmo” , o sistema judaicode religião que teve origem logo após o Exílio e se desenvolveu durante o período intertestamentário. O estado judeu, como restaurado sob os líderes do Remanescente, Zorobabel e Jesua, pertencea uma ordem diferente de coisas quando comparado aos reinos anteriores de Judá e Israel. Nesses reinos pré-exílio as verdades superiores da religião israelita haviam sido mantidas na maioria das vezes apenas pelos profetas e uma pequena minoria, enquanto a vasta maioria se entregava a várias idolatrias e aparentemente não julgava haver muita diferença entre o Senhor e os outros deuses. Mas

agora existe uma absoluta aversão pela idolatria e o povo como umtodo reconhece a incomparável superioridade da religião sobretoda forma de paganismo: Existe agora um novo desejo intenso decompreender as verdades imperecíveis da revelação que lhes foi entregue por ser a nação da aliança, e um zelo ardente no sentido deque a nação cumpra a sua vocação como guardiã desse depósito insuperável de verdade divina, que significará, em última análise, a

salvação até aos confins da terra. Esses 50.000 decidem moldar onovo estado judeu como o povo santo do Senhor, separado de todos os demais pela mais escrupulosa observância da sua Lei.

Porém, traduzir este exaltado conceito em termos práticos,na formação e funcionamento de um novo organismo social, mostrou ser uma tarefa cheia de dificuldades. Uma delas, como é natural, foi o processo inalterado pelo qual as pessoas morrem e outrassurgem em seu lugar. Muitos dos 50.000 que retornaram eram ido

sos (Ed 3.12). Sua volta à terra deu-se poucos anos antes de morrerem. As crianças que cresceram talvez não pudessem sentiras mesmas emoções vivas pela repatriação e havia muito para desencora

 jar até mesmo os corações mais valentes entre eles. Assim sendo,não se tratava só de oposição dos inimigos externos, mas também

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havia apatia e transigência entre o próprio povo, Mas, ainda assim,as idéias básicas do judaísmo tinham realmente se enraizado enão havia transigência quanto à idolatria. O que o povo precisavaera de um novo e sistemático ensino da Lei; e quando o escriba Es-

dras chegou , oitenta anos depois do regresso dos 50.000, o povorespondeu. Os progressos foram decisivos e o primeiro objetivoparecia novamente passível de realização.

Nas palavras do Professor John Skinner: “Sob os auspíciosde Esdras, uma grande reforma foi levada a efeito. O princípio deseparação dos pagãos foi reavivado e reforçado inflexivelmente mediante a dissolução de todos os casamentos mistos (Ed 9, 10). Numa grande assembléia do povo, o livro da Lei foi adotado como aconstituição escrita do estado e norma autorizada da vida pessoal(Ne 8.7-10). Os esforços de Esdras foram apoiados e continuados vigorosamente por Neemias, que se propusera, em primeirolugar, a proteger Jerusalém dos ataques inimigos reconstruindo osmuros. Mediante o trabalho conjunto desses dois homens, o judaísmo foi finalmente colocado em bases seguras. A Lei tornou-se então, ao mesmo tempo, o padrão da santidade e o símbolo do

nacionalismo; e apesar de tendências desintegradoras ainda operantes, ela apoderou-se de tal forma do coração do povo judeuque todo perigo de serem absorvidos pelas nações vizinhas desapareceu.” 

 A Sinagoga, os Escribas e a Lei Ora!A partir de então a sinagoga  local, onde as Escrituras eram

lidas e expostas, e a ordem dos escribas, especialistas na traduçãoe interpretação das Escrituras, assumiram cada vez maior importância.

A partir também dessa época, infelizmente, começou a forma-se aquele sistema elaborado de interpretação, ampliações e regulamentos adicionais que resultou no judaísmo dos dias do Senhor. Sabemos como era esse produto final e como o Senhor oconsiderou carente de vitalidade espiritual.

O judaísmo surgiu enquanto a voz viva da profecia ainda falava através dos profetas do pós-exílio, Ageu, Zacarias e Malaquias,mas suas características distintas se desenvolveram durante os séculos sucessivos entre Malaquias e Mateus, quando essa voz silenciara. Ageu, Zacarias e Malaquias reiteram a ética superior dos profe-

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tas do pós-exílio — sua censura severa dosimplesformalismoesuasprofecias brilhantes sobre a restauração final de Israel, em supremacia nacional e religiosa, sob o Messias vindouro. O judaísmo teve início com o zelo e propósito de manter vivo esse ideal exaltado em

meio a perseguições externas e divisões internas, mas os pedagogose as sinagogas gradualmente introduziram tal escravidão à simplesletra da Escritura que o espírito vivo da verdadeira religião mal podia sobreviver. A tendência era cada vez mais de se aplicar um lite-ralismo legalista e a exteriorização religiosa. Ao redor das Escrituras e especialmente da Lei de Moisés, acumulou-se aquela massade comentários, interpretação e complementação que veio a ser

conhecida como Lei Oral   e que era transmitida com uma santidade tradicional tão grande na época em que o Senhor estava na terraque a obediência se transferira da Lei para a interpretação tradicional.

 A Mishna e o TalmudeEsta MISHNA, ou Lei Oral, com sua Halachoth (exegese le

gal ou determinações) e sua Haggadoth  (expansões morais, práti

cas e com freqüencia extravagantes), depois de ter sido transmitidaoralmente durante gerações, foi aos poucos sendo escrita em suasvárias partes e formas, até que finalmente, por volta do final do segundo século A.D., foi totalmente compilada pelo Rabbi Jehudano TALMUDE, dividido em duas partes principais: (1) a Mishna, ou Lei Oral, e (2) a Gemara,  ou comentários sobre a Mishna; e oTalmude permanece a enciclopédia reverenciada e em grande par

te autorizada dos judeus até hoje.Nos dias do Senhor a Lei Oral continuava ainda principalmente oral. Podemos imaginar como Ele a considerou um formidávelobstáculo. Contradizê-la, como o fez (Mt 15.1-9; 23.16-18r 23),era contrariar todo o peso da opinião erudita, da convicção piedosa e do sentimento público. Além do mais, podemos entender perfeitamente que ao usar seis vezes a fórmula (veja Mt 5): “Ouvistesque foi dito...  eu porém vos digo...”   no Sermão do Monte, o Senhor não estava colocando o seu “eu vos digo” contra as Escriturasdo Velho Testamento (como alguns críticos modernos tentaramfazer), mas contra as máximas desta lei ora!  ou tradicional. Seumodo habitual de referir-se às Escrituras propriamente ditas era: “ Está escrito” .

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Isso é o que nos compete dizer sobre o “judaísmo”. Não devemos nos esquecer de que bons elementos foram preservados pórele. Em seus primeiros estágios o judaísmo certamente restaurouas Escrituras a seu lugar adequado na mente popular; e suas duasinstituições mais características — a sinagoga e o escriba — tinhamo propósito de perpetuar essa ordem de coisas. Ele com certezamanteve a leitura pública regular e sistemática das Escrituras. Estimulou a observância devota do sábado e manteve acesa a esperança messiânica, embora não no espírito primitivo e mais correto. Oseu mal foi ter sido sobreposto  às Escrituras, resultando em umareligiosidade tão rígida e cerimonial, em termos gerais, que na vin

da do Senhor a obstrução mais formidável à sua missão de graçafoi o peso morto da exteriorização religiosa, do formalismo e daauto-retidão com que o judaísmo praticamente obscureceu as verdades espirituais da Palavra de Deus.

A Sinagoga

O Velho Testamento não menciona uma vez sequer a palavrasinagoga, nem mesmo nos capítulos escritos por último; mas nomomento em que começamos a ler, a partir dos quatro evangelhos,nós a encontramos em toda a parte. Uma sinagoga para cada localidade ocupada da terra. Quando prosseguimos lendo os Atos dosApóstolos, nós a encontramos semelhantemente estabelecidas emtodo lugar entre as comunidades judaicas, através de todo o impé

rio romano.Esse é um fato notável e deve ser observado por todo crente,

pois foi da sinagoga e não do templo que a primeira Igreja Cristã,como organizada pelos apóstolos, extraiu a sua constituição e principais formas de adoração. O Senhor evidentemente planejou para que a sua igreja na terra assumisse a forma da sinagoga quandoprometeu que estaria no meio dos discípulos sempre que dois ou

três estivessem reunidos em seu nome e quando deu autoridadea tais grupos para exercerem disciplina (Mt 18:17-20). Além disso,os títulos dados aos oficiais da igreja cristã, i.e. “ Presbíteros”(presbuteroi),  “ Bispos” (episkopoi ), “ Diáconos” (diakonoi),  vieram todos da sinagoga, enquanto o título “Sacerdote” (hierus)conforme seu uso no templo, não foi empregado sequer uma vez.

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A sinagoga tem sido chamada de “ a instituição mais característica e de maior e duradoura influência de todas as-instituições

 judaicas” . Quando, por que e como se originou? Os fatos parecemser os seguintes:

Não existia antes do Exí/ioPrimeiro, a sinagoga não existia antes do Exílio. Os rabi nos ju

deus, em seu zelo de acentuar a reverência às instituições israelitas,exageraram excessivamente a antigüidade da sinagoga, fazendo-aretroceder aos dias de Abraão. Mas o fato incontestável é que a si

nagoga, no sentido apropriado da palavra, como uma assembléiareligiosa constituída regularmente com um objetivo definido e oficiais estabelecidos, jamais existiu antes do Exílio, nem qualqueroutra coisa que se assemelhasse a ela.

Pode ser dito que a palavra “ sinagoga” ocorre no Salmo 74:8,mas trata-se simplesmente de um caso de tradução. O termo hebraico (mo’adah)  em questão ocorre duzentas vezes no Velho Testamento, sendo esse o único lugar em que fo i traduzido como “ si

nagoga”. (Na versão de Almeida, em português, tanto a Revistae Corrigida como a Atualizada, o termo foi traduzido por “ lugaressantos” ). O fato fala por si mesmo. A palavra em si refere-se às festas solenes ou épocas estabelecidas (estações do ano) no calendárioreligioso de Israel e, a seguir, por extensão, aos lugares onde eramobservadas. Ela nada tem a ver com a idéia de sinagoga. O Salmo74 foi escrito pouco depois dos babilônios terem devastado a ter

ra e está, portanto, em sincronia com as Lamentações de Jeremias.Essa palavra ocorre nas Lamentações no capítulo 2.6, 7, 22 ebasta apenas examinar as “festas solenes” ou “solenidades” mencionadas para concluir que não existe qualquer relação possívelcom a sinagoga. Além do mais, a mesma palavra aparece de novocom o Remanescente, depois da volta da Babilônia, em Esdras 3.5e Neemias 10.33, onde outra vez é traduzida por “festas fixas” eonde, obviamente, qualquer idéia de sinagoga é absolutamente estranha.

Em 2 Crônicas 17:7-9, é-nos dito que o rei Josafá teve deenviar alguns príncipes, levitas e sacerdotes, levando o livro da Leicom eles, a fim de ensinarem o povo em toda parte; e o capítulo34:14-21 vemos a surpresa e alarme do rei Josias quando o livro da

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Lei foi encontrado em seus dias (apenas 40 anos antes do Exílio),de modo que a sinagoga não poderia certamente ter existido antesdo Exílio.

Veio a existir logo depois do ExílioTodavia, é igualmente certo que a sinagoga passou a existirlogo depois  do Exílio. Em Atos 15:21 encontramos o apóstoloTiago dizendo: “ Porque Moisés tem, em cada cidade desde tem

 pos antigos,  os que pregam nas sinagogas, onde é lido todos os sábados” . As sinagogas deveriam ter então, na época, várias centenas de anos. De acordo com isto, em Neemias 8 (noventa anos depois da volta do Remanescente) algo bastante parecido com a adoração na sinagoga em seu estado plenamente desenvolvido nosconfronta. Vemos ali o púlpito elevado de madeira, a leitura daLei feita por Esdras e outros, a explicação da Lei pelos escribas,a oração e louvor em nome da congregação, com as respostas dopovo, tudo sendo feito segundo o padrão usual da adoração na sinagoga. E, bastante significativamente, foi o próprio povo que pediu “ a Esdras o escriba, que trouxesse o livro da lei de Moisés, que o

Senhor tinha prescrito a Israel”. As narrativas sobre Esdras parecemcertamente incluir um cenário em que a prática de reuniõesorganizadas e periódicas se havia tornado familiar (Ed 8:15; Ne8:1, 2; 9:1).

Portanto, parece clara a conclusão de que a sinagoga originou-se durante  o Exílio, coincidindo com a notável conversão dopovo judeu da idolatria e seu despertar para um novo e intenso in

teresse pelas sagradas Escrituras. Com essa explosão do reaviva-mento religioso surgiu um clamor para conhecer mais aquelas maravilhosas Escrituras. As almas piedosas, impelidas por um impulso e anseio comuns, começaram então a reunir-se regular e sistematicamente com o propósito de aprender o conteúdo dos rolos inspirados. Não havia mais um templo judeu e eles se achavam emterra estranha, mas o seu cativeiro na Babilônia não impedia quese reunissem com propósitos religiosos. A exigência nova e urgente

e a oportunidade davam-se as mãos. A necessidade era ainda maiorporque todos, com exceção dos judeus mais velhos, estavam esquecendo a língua hebraica e fazendo uso da linguagem babilónica. Desse modo, reuniões regulares começariam a tomar forma visando a leitura e interpretação das Escrituras.

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 “ chefe (principal)” ou presidente e um conselho de anciãos também chamados “ principais” (Mc 5:22; At 13:15). Tinham tambémum “ legado” , cujo dever era recitar as orações e “diáconos” quecuidavam das esmolas; assim como o chazzan,  que chamava em

voz alta os nomes dos leitores escolhidos e ficava ao lado deles parafazer com que as lições do dia fossem lidas e pronunciadas adequadamente, etc. Ele cuidava também dos rolos das Escrituras, sopravaa trombeta que anunciava a aproximação do sábado santo, mandava acender as lâmpadas, supervisionava os utensílios do temploe aplicava os açoites nas ocasiões de castigo. (Ele é referido como “assistente” em Lucas 4:20).

Quanto à disciplina,  a jurisdição da sinagoga tornou-se muitoampla, algo inevitável numa constituição em que a lei eclesiástica e civil era uma só, como acontecia entre os judeus após o exílio.

A sinagoga tornou-se e permaneceu como uma das instituições judaicas mais características e influentes. Foi dito em verdade: “ Ela era o grande meio de instrução religiosa, o grande centrodo pensamento religioso. Por mais superficial que possa ter sido a

qualidade de seu ensino algumas vezes, às mãos dos instrutores reconhecidos de Israel; ao menos foi nela, e nela somente, que a Leipassou a ser lida publicamente, explicações foram dadas sobre amesma, discursos livres pronunciados e estimulada a mente do povo. A grande instituição da pregação — completamente desconhecida do paganismo — surgiu na sinagoga; e o zelo pela Lei, quemarcou Israel tão notavelmente a partir da volta da Babilônia e

até a vinda de Cristo, foi alimentado e aumentado mais pelos seusarranjos do que por qualquer outro agente.” 

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o p e r í o d o  i n t e r t e s t a m e n t á r i o

111. ESCRIBAS, FARISEUS E SADUCEUS 

Lição n<? 3

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A história de Israel e todas as suas esperanças estavam ligadasà sua religião. Pode-se então dizer que sem a sua religião eles nãoteriam história e sem a história não teriam religião. Assim sendo,a história, o patriotismo, a religião e a esperança, tudo apontavapara Jerusalém e o templo como centro da unidade de Israel.

— A. Edersheim

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ENTRE MALAQUIAS E MATEUS (3)

(1) OS ESCRIBAS

Quem e o que eram os “ escribas” , esses personagens poucoatraentes que aparecem com tanta freqüência nas narrativas doevangelho? O fato de serem uma classe influente fica eviden

ciado e é necessário que os conheçamos um pouco, à medida queviajamos através do Novo Testamento.

Lemos a respeito dos escribas nos tempos do Velho Testamento, mas eles  elevem ser distingüidos daquela outra ordem quese desenvolveu durante o período intertestamentário e adquirirauma posição importante nos dias do Senhor.

Os escribas que encontramos nas narrativas do evangelho são

uma classe de peritos profissionais na interpretação e aplicação daLei e outras Escrituras do Velho Testamento. Se lhe dermos o seunome hebraico, eram os sopherim (im é o plural em hebraico), doverbo hebraico saphar,  que significa escrever, colocar em ordem,contar. No grego do Novo Testamento, seu título usual é o plural,grammateis,  traduzido uniformemente como “escribas”. Com menor freqüência são chamados de “ intérprete da lei” (nomikoi ), como em Lucas 7.30.

 A Origem como uma ClasseQuanto à sua origem como classe, quase o mesmo que foi di

to sobre a sinagoga também pode ser dito a respeito deles. Quais

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quer que tenham sido as funções e características dos escribas israelitas nos tempos do Velho Testamento, e qualquer que  tenhasido o tipo de associação de copistas patrocinado pelo rei Eze-quias cerca de um século antes do exílio babilónico, não pode

haver dúvida de que a partir desse exílio desenvolveu-se umanova linhagem de escribas que não era composta apenas de copistas, registradores, transcritores, secretários, mas um novo grupo ou corpo de homens que se tornaram os guardiães, expositores,os doutores da Lei e de outras Escrituras, para toda a nação, ecujo poder como classe aumentou com a passagem do tempo.Eles não eram apenas escribas no sentido antigo, mas “os  escri

bas” como uma ordem especialmente distinta na nação.A transição deveu-se a cinco fatores: (1)  a conversão do povo judeu na metade do exílio, saindo da idolatria para uma nova eardente fé em sua religião e na Escritura; (2) a necessidade de professores especiais, sentida então pelos exilados, devido à separação de sua pátria, da capital e do templo; (3) a mudança do hebraico, como linguagem falada, para o aramaico, exigindo uma novaespécie de especialista no estudo e exposição das sagradas Escri

turas; (4)  o aparecimento e difusão da sinagoga durante e depoisdo exílio na Babilônia; (5)  a interrupção da viva voz da profecia,com Malaquias, e o acentuado interesse na palavra escrita  da inspiração i.e., as Escrituras, provocado por esse fato.

Não é difícil ver como esta nova ordem de escribas, uma vezintroduzida, obteve rapidamente grande poder. A própria natureza do judaísmo tornou tal coisa praticamente inevitável, pois al

guém observou com acerto, “O alvo e tendência do judaísmo eratornar cada judeu pessoalmente responsável pelo cumprimento detoda a Le i” ; e portanto uma “ regra definitiva” precisava ser dealguma forma extraída da Lei para cobrir praticamente toda atividade da vida diária. Este empenho em fazer da Lei um código tãodetalhado, criou um problema complexo e por vezes agudo. Deum outro modo a Lei precisava ser normativa mesmo em circunstâncias em que não tivesse aplicação específica; e quando um re

quisito parecia ser contrariado por outro, alguma harmonia ocultaou outra explicação adequada tinha de ser descoberta. Como acrescenta o Dr. John Skinner: “Manter-se fiel à aliança de Deus emtais condições tornou-se uma séria dificuldade teórica, vencida apenas pelos esforços contínuos de um grupo de peritos treinados,

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— prescrições que apenas professavam explicá-la e, fazendo istode maneira concisa, sentenciosa e autoritária, nada deixando ao

 julgamento dos ouvintes, não podiam deixar de investir as regrasassim dadas com uma autoridade quase comparável à dos própriosescritos inspirados... Assim sendo, foi praticamente impossível evitar o que veio a constituir os dois princípios fundamentais dos escribas: primeiro, a multiplicação das tradições orais; e, segundo,a introdução de um sistema de interpretação e exposição das Escrituras que destruiu completamente o seu significado e, sob a pretensão de honrá-las, na realidade usurpou seu lugar” .

No curso do tempo este corpo de tradição oral transmitida

sempre crescente passou a ser considerado como superando até mesmo a Lei em si. ‘Passo a passo os escribas foram levados a conclusões que, segundo acreditamos, teriam horrorizado os primeirosrepresentantes da ordem. As decisões sobre novos assuntos foramacumuladas em um complexo sistema de casuísmo. Os novos preceitos, ainda transmitidos oralmente, adequando-se mais precisamente às circunstâncias humanas do que os antigos, passaram pra

ticamente a substitui-los. A relação correta entre a lei moral e cerimonial não foi só esquecida, mas absolutamente invertida.” Oestudo das Escrituras em si tornou-se uma obsessão para com asminúcias, uma concentração em significados supostamente ocultosaté nas sílabas e letras, uma absorção na simples “ letra” da Palavra, até que a idolatria da letra destruísse a própria reverência emque ela tivera origem e a verdadeira instrução espiritual acabou porextingüir-se praticamente. Não é de se admirar que o povo ficasse

surpreendido com o contraste entre os ensinos diretos de Jesuse o dos escribas (Mt 7.28, 29); nem é de surpreender que nossoSenhor condenasse essa super-veneração da “ tradição dos homens” (Mc 7.7, 8), ou que os escribas, decididos a manter sua posição, se opusessem determinadamente ao Senhor e seus ensinos.

 Algumas Distinções NecessáriasOs escribas devem ser cuidadosamente distinguidos dos sacerdotes.  Talvez possa parecer estranho que a ocupação de expore aplicar as Escrituras não se identificasse desde o início com osacerdócio em Israel, mas isso, na verdade, não é estranho. A função do sacerdote estava ligada inteiramente com as cerimônias ofi

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ciais e deveres da adoração do templo. Como é natural, o indivíduo podia ser sacerdote e mesmo assim dedicar seu tempo livre aoestudo da Lei e demais Escrituras, tornando-se assim tanto sacerdote como escriba (como aconteceu com o renomado Esdras:

veja Ed 7.1-11), e sem dúvida muitos sacerdotes fizeram isso: masas duas atividades sempre foram reconhecidas como completamente distintas. Várias vezes nos evangelhos encontramos os escribase sacerdotes reunidos, indicando estarem cônscios da relaçãoíntima no sistema religioso único. Não obstante isto, porém, asfunções de ambos eram separadas. A maioria dos primeiros escribas eram homens leigos que, através do estudo concentrado, ha

viam adquirido conhecimento das Escrituras e da Lei Oral, segundo os padrões exigidos; mais tarde, entretanto, em muitos casos,foi feito um curso na escola de algum rabino em Jerusalém.

Os escribas deveriam ser também distingüidos dos fariseus. Repetidas vezes nos evangelhos eles são mencionados em conjuntocom os fariseus (Mt 5:20; 12:38; 15:1; 23:2; Mc 2:16; Lc 5:21,30, etc.), mas embora isto revele afinidade não implica em identidade. Os fariseus constituíam um partido eclesiástico, unido pelos

seus objetivos e pontos de vista peculiares, enquanto os escribascompunham um grupo de peritos no sentido escolástico ou acadêmico. O indivíduo poderia ser certamente tanto um fariseu como escriba: e o fato que praticamente todos os escribas eram fariseus em sua perspectiva e associação, daí serem eles tantas vezesmencionados juntamente  com os fariseus; as duas fraternidadesno entanto diferiam. Os escribas não podiam ser considerados co

mo uma espécie de seção  do partido farisaico: eles eram independentes e são mencionados separadamente em vários pontos (Mt7.29; 17:10; Mc 9:11, 14, 16, etc.). O homem poderia mesmo seras três coisas — sacerdote, fariseu e escriba — todavia essas três ligações abrangiam áreas distintas de sua vida: a primeira relacionadacom a ocupação diária, a segunda com a convicção religiosa, a terceira com a vocação especial. Do mesmo modo, ele poderia ser sa

cerdote, escriba e saduceu, embora não haja evidência clara deque qualquer escriba fosse saduceu, cuja situação seja talvez devida à atitude racionalista do partido saduceu.

Não podemos nomear e descrever aqui as várias partes quecompunham a chamada Lei Oral e que eventualmente (no segundoséculo A.D.) foram fixadas em forma escrita. Iremos referir-nos a

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isso num adendo sobre o Talmude judaico.Havia muito de verdade na acusação de haver muita corrup

ção por trás da santidade exterior dos escribas e o Senhor denunciou-a severamente (Mt 23:13-28). Todavia, não deve ser suposto

que todos  os escribas agissem desse modo. Os nomes de homenscomo Nicodemos, Gamaliel e o renomado Hillel provam o contrário. O Senhor disse certa vez a um escriba anônimo: “ Não estáslonge do reino de Deus” . Foi dito com verdade, porém, que geralmente “ constituíam uma casta marcada não só pelo pior tipo defarisaísmo, mas também pelo mais alto grau do mesmo. A tendência geral de seu espírito e instruções, como consta em todos os re

gistros do Talmude nesse aspecto, era exatamente o oposto doevangelho de Cristo. Daí a severidade das censuras do Senhor e a justiça das maldições que Ele pronunciou contra os mesmos”.

(2) OS FARISEUS

Por mais que nos desagradem as características dos fariseus

como apresentados nas narrativas do evangelho, não podemos deixar de sentir que coletivamente tratava-se de uma seita poderosae extraordinária. O Senhor disse essas coisas a respeito deles e para eles; e sua forte oposição teve consecjüências tão fatais que devemos saber quem eram e o que eram.

Sua origem como um movimento pode ser comparada a umrio que corre debaixo da terra por algum tempo antes de surgir à

superfície e continuar correndo visivelmente daí por diante. Oespírito e atitudes típicos do farisaísmo já estavam presentes nos judeus do pós-exílio antes que o grupo tomasse sua forma histórica sob o nome de “fariseus”.

Fatores Causais: (1 )0 Separatismo Baseado na Lei Para a protogênese do movimento farisaico, devemos repor

tar-nos ao início do período intertestamentário. Quando o Remanescente voltou à Judéia depois do Exílio, seu objetivo era reconstruir a comunidade judaica repatriada como uma nação dedicadaao Senhor, separada de todas as outras pela mais escrupulosa observância da sua lei. A integração desta idéia na nova organização

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Fatores Causais: (3) O Aparecimento de Dois Grupos OpostosOs primeiros sinais dos dois principais grupos opostos na na

ção são encontrados bem cedo no período intertestamentário. ODr. Skinner diz: “ Logo no início surgiram duas classes governan

tes na Judéia, cada uma aspirando à influência suprema segundoseus moldes — os sacerdotes com base em sua posição oficial e osescribas na autoridade da Lei.

 “ Vale a pena notar que de todos os círculos da sociedade judaica, as fileiras superiores do sacerdócio foram as menos influenciadas pelo espírito teocrático, as mais suscetíveis às influênciasestrangeiras e as mais prontas em momentos de tentação a aban

donarem os princípios fundamentais de sua religião... Os escribas,pelo contrário, foram os zelosos campeões da integridade da Leie defensores de tudo o que era característico do judaísmo. Eles foram a vida e a alma da resistência popular ao paganismo, que transportou a nação com segurança através dos perigos do período grego, apesar da apostasia dos principais sacerdotes.” 

No decorrer do período persa (536-333 a.C.), foi através dosescribas que “ os grandes princípios da santidade por meio de sepa

ração se gravaram profundamente na consciência da comunidadee o caráter judeu adquiriu gradualmente a austera exclusividade edevoção às formas externas da religião que desde então despertaram a antipatia do mundo gentio”.

Não havia possibilidade de transpor a brecha aberta entre ogrupo de sacerdotes e o dos escribas. Ela se alargou cada vez maisaté cristalizar-se em dois grupos distintos, os “saduceus” e os “fa

riseus”, sempre em oposição.

Características Históricas: (1) A Primeira Menção pelo NomeAssim, tendo em mente esta idéia das duas atitudes, grupos

e tendências opostas no pequeno estado judeu, viajemos em pensamento para além do período persa, atravessando o período grego (333-323 a.C.); ao egípcio, quando a Palestina fazia parte doimpério dos Ptolomeus (323-204 a.C.), do sírio (204-165 a.C.) eentremos no período macabeu (165-63 a.C.).

Depois da heróica resistência dos macabeus (165-135 a.C.)e devido à decadência do poder sírio, o estado judeu obteve umcurto período de independência (depois de quatro séculos e meio

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de sujeição a outros poderes). Isto se deu entre 135 a.C. e 63 a.C.,data da conquista romana. João Hircano tornou-se sumo sacerdote e embora jamais assumisse o título de rei, reinou como tal, dando começo àquilo que foi chamada de dinastia hasmoneana. (“ Has-moneu” era o nome de família herdado por Matatias, pai de Judas Macabeu e seus irmãos, e avô de João Hircano).

Este João Hircano recapturou a maior parte do território quepertencera muito antes a Israel. Nenhum rei judeu dominara umaárea tão vasta desde a separação das dez tribos após a morte do reiSalomão. E nos dias de João Hircano que vemos também a primeira aparição em cena dos fariseus, já com esse nome, como um mo

vimento histórico.* Como dissemos, os fariseus representam e dão continuidadeàquela subdivisão dos líderes e do povo judeu para quem a lealdade à Lei e à religião de Jeová, assim como a dedicação aos primeiros ideais do judaísmo representava tudo; porém, se não se pode deixar de presumir que a essa altura uma quantidade considerável de lei oral   se acumulara, com múltiplas observâncias religiosas

externas. Mais imediatamente, os fariseus eram os sucessores espirituais dos Hasidim,  i.e., “Os Piedosos”, que trinta ou quarentaanos antes, se haviam agrupado em uma liga secreta a fim de preservar a fé judaica quando o enlouquecido Antíoco Epifânio procurava exterminá-la mediante terríveis atrocidades. Esses Hasidim viviam de modo tão rígido e literal “segundo a Lei” que muitospreferiam morrer do que levantar a mão para defender-se no sábado santo. Quando Judas Macabeu começou sua luta de libertação,

os Hasidim se uniram a ele em grande número.São esses, então, os antecedentes e surgimento histórico dos

fariseus. O nome fariseu significa “ Separatistas” ; e não é improvável que seus inimigos lhes tenham assim chamado por causa de suaexclusividade piedosa, mas orgulhosa e por vezes mesquinha. Elesprefeririam ter-se mantido à distância dos assuntos políticos, masas questões religiosas estavam sendo sempre envolvidas, o que os

levou a um partidarismo ardente. A separação era o aspecto predominante e a principal virtude no conceito fariseu de religião. Aliado a este achava-se a obediência fanática à letra da Lei.

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Características Históricas: (2) As Tendências InevitáveisEra inevitável que os fariseus tivessem muitos pontos em co

mum com os escribas, os especialistas na Lei Escrita  e na semprecrescente Lei Oral.  De fato, como mencionamos antes, a maiorparte dos escribas por vocação seria farisaica por convicção. Tanto para os escribas como para os fariseus, a separação e a santidade pelo cumprimento estrito da lei escrita e oral, era o objetivosupremo.

Por outro lado, uma propensão infeliz dos fariseus era umdesprezo beato pelo povo comum que não tinha a menor possibilidade, e sabia disso, de vir a cumprir um dia os requisitos comple

xos do código dos escribas.Uma outra armadilha era sua facilidade em cair na hipocrisia.

A princípio se esforçavam solenemente para desempenharem todos os deveres prescritos pelos escribas; a seguir, fracassando nisto,satisfaz iam-se na simples obediência exterior,  na correção externaapenas  ocultando-se atrás de uma máscara de piedade enquantopecavam; até que, finalmente, habituando-se a essa atitude, tolera

vam o pecado e o praticavam, tornando-se assim nos piores tiposde hipócritas.A massa do povo desistiu completamente de tentar, resig

nando-se à posição de infelizes pecadores. Eles, porém, continuavam admirando os fariseus como representantes de algo que, dealguma forma, deveria ser alcançado, embora estes os desprezassem. A situação se encontrava assim nos dias do Senhor na terra.

Características Históricas: (3) Outros Aspectos NotáveisMesmo assim não podemos, com justiça, deixar as coisas

nesse ponto. O movimento dos fariseus incluia, sem dúvida, muitas almas sinceras e dedicadas, apesar de sua má orientação. Alémdisso, foram homens como eles que mantiveram viva e atuante aesperança messiânica no período intertestamentário em Israel, pre

gando a esperança da ressurreição do corpo para os fiéis quandoo Messias introduzisse o seu reino.Em seu livro  Antigüidades dos Judeus  (Livro XVII), Josefo

nos conta que os fariseus nos dias de Herodes eram cerca de seismil. Talvez nunca tenham chegado a ser um grupo muito grandenumericamente, mas sua influência em proporção ao seu número

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era enorme. Seu poder sobre a opinião popular era tanta que nenhum governante podia desconsiderá-los.

Durante o período intertestamentário, descobrimos diversasvezes que os fariseus foram o fator determinante nas lutas para al

cançar o poder. No reinado de Alexandre Janus (filho de João Hircano) foram os fariseus que incitaram o povo a uma guerra civilcontra o rei e os saduceus, obrigando o rei a fugir. Eles também lideraram uma outra insurreição no reinado de Aristóbulo II (netode Hircano). Os oitenta anos de independência sob a dinastia doshasmoneus (macabeus),somados aos ensinamentos dos fariseus, provocaram a reação violenta dos judeus quando a idéia tornou-se

parte do império romano.Basta ler os quatro evangelhos para verificar a tendência deles nos dias em que o Senhor estava na terra — e sua influência empromover a crucif icação d Ele.

OS SADUCEUS

O fato de concedermos menos espaço aos saduceus não sig

nifica que fossem menos importantes, mas simplesmente porque já discutimos em relação aos fariseus os fatores que deram origemaos dois grupos divergentes e não precisamos mais abordar esse assunto.

Os dois movimentos já se apresentavam em estado embrionário nas primeiras demonstrações de inimizade entre os sacerdotes e escribas.

Eles não puderam desenvolver-se entre os judeus após o exílio, enquanto havia profetas inspirados, representando a teocraciaem sua forma mais nobre. Mas no período intertestamentário,quando a voz da profecia morrera, as tendências opostas cresceram até que, eventualmente, pouco depois da revolta dos macabeus, elas emergiram sob o nome de “fariseus” e “saduceus”.

Parece certo que o título “ saduceus” vem de “ zadoquitas” ;mas se “ zadoquitas” é derivado de “filhos de Zadoque” , que retiveram o sumo sacerdócio a partir de Zadoque no reinado de Davi(2 Sm 8:17, etc.) até a época dos macabeus, ou de um certo Zadoque que viveu cerca do ano 250 a.C., ou ainda de uma palavra hebraica significando “ justo”, não tem sido fácil determinar. E maisprovável que derive dessa càsa sacerdotal de Zadoque de longa da-

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ta. Numa época posterior, em meio ao período de exílio, Ezequielcita os “filhos de Zadoque” como representando todo o sacerdócio (40:46; 43:19; 44:15; 48:11). O que seria então mais razoável,quando o sumo sacerdócio passou para a casa dos hasmoneus de

pois da vitória dos macabeus, do que o grupo de sacerdotes judeus,ansioso por reter o prestígio e as vantagens de tão venerada tradição em prol de seus alvos e práticas, enfatizar de um novo modoque, embora apoiassem lealmente o sacerdócio hasmoneu, continuavam sendo na verdade “os zadoquitas"?   \ \ 

O fato de ter-se aberto tão cedo uma brecha entre saceçâo^Ktes e escribas na era intertestamentária parece realmente

depois de Esdras ter combinado em si mesmo as dtfM^smoes(Ed 7:6, 12). Não havia causa constitucional.  O^á&çmtòcimentosurgiu  de tendências anteriores. Como diss^oá^aaoe+arteocráti-ca e a esperança messiânica representavgjr^ÉíyV^wmos escribas;enquanto os sacerdotes parecem ter-^Nv^ih^ktô^os aspectosoficiais e terrenos do sumo sacerdócio, á(mmfaa que cada vez maisreunia em si mesmo a liderança^pífíSaKe-fíolítica da nação.

Mais tarde, quando o im j^ iqts^ Alexandre difundiu a linguagem e cultura gregas atrave^fejodo o mundo civilizado e houve um conflito entre o iodíNsmVe o helenismo, foram os sacerdotes que transigir , . ,uartto a influência dos escribas tornou-se aespinha dorsal dOx' to de resistência que eventualmenteafastou a n^ã^efç&â^ vozes sedutoras e rochedos fatais.

Muit^Emjt^sHio desaparecimento de Alexandre e seu im-lilfhtfai ’ grega continuou a espalhar-se entre as nações,

ao redor da Judéia tinham sido uma presa fácil. O peri-itável, à medida que os judeus entravam em contato

vários refinamentos, liberdade de pensamento e prazeresptuosos dessas comunidades de vida grega. O grupo aristocrá-associado aos sacerdotes era sempre o que mostrava propensão

para negligenciar o judaísmo em favor das liberdades gregas: estefoi o grupo que mais tarde tomou o nome de saduceus.

O Professor Skinner nos dá uma descrição curta e viva de seusaspectos característicos no seguinte parágrafo: “Os saduceus, àprimeira vista, não parecem ter sido uma seita religiosa ou um partido político, mas um grupo social.  Em questão de número o seugrupo era bem menor que o dos fariseus e pertenciam na maiorparte às ricas e poderosas famílias dos sacerdotes que formavam

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a aristocracia da nação judaica. Os líderes do partido eram os anciãos com cadeiras no conselho, os oficiais militares, os estadistase oficiais que participavam da administração dos negócios públicos. Jamais tiveram grande influência sobre a massa do povo; comoverdadeiros aristocratas, não se incomodavam muito a esse respeito. Sua única ambição era tornarem-se indispensáveis ao príncipereinante, a fim de poderem conduzir o governo do país de acordocom suas opiniões. No conceito dos saduceus, como acontece comalguns políticos mais modernos, a lei de Deus não se aplicava à política. Caso Israel devesse tornar-se grande e próspera, isso se daria através de cofres repletos, exércitos fortes, hábil diplomacia e

todos os recursos da arte de governar... Eles consideravam comopuro e perigoso fatalismo aguardar a libertação divina simplesmente através da santificação do povo” .

Deve ser compreendido, todavia, que a seu modo eram tãozelosos do judaísmo quanto os fariseus. A idéia  que faziam domesmo é que era diferente. Eles rejeitavam por completo a LeiOral acumulada pelos escribas e professavam guardar apenas a Lei

Escrita, embora devamos lamentar que essa atitude fosse originada por pensamentos céticos e não espirituais. Podemos vislumbrarem Mateus 22:23 e Atos 23:8 como sua atitude era cética atémesmo com respeito à Lei Escrita, pois lemos que negavam a ressurreição do corpo e não acreditavam nos anjos e nos espíritos. Como uma entidade, eles parecem ter sido tão astutos acerca dosaspectos mundanos da religião e da política quanto aos fariseuseram indiferentes a eles, e tão indiferentes à esperança messiânica

quanto os fariseus a aceitavam. Os dois grupos  provocaram  suaprópria emergência e oposição mútua. Onde quer que as características de um surgissem, elas excitavam as reações hostis do outro.O próprio fanatismo dos fariseus instigava o ceticismo dos saduceus. A espiritualidade de um grupo irritava o mundanismo dooutro. E a inimizade continuou. Os fariseus tentaram influenciar anação a partir do poder governante. Nos Evangelhos e Atos vemos

a proeminência dos saduceus no Sinédrio. Durante o ministériopúblico do Senhor os sumos sacerdotes, Anás e seu genro Caifás,eram ambos saduceus. Atos 5:17 fala do “ sumo sacerdote e todos os que estavam com ele, isto é, a seita dos saduceus”.  Podemos compreender perfeitamente quão intolerável seriam paratal grupo os ensinamentos, caráter e alegações messiânicas do Se

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nhor Jesus. Seu ódio pode ser medido pela sua disposição emunir-se até aos detestados fariseus a fim de matá-IO. Foram de fatodiretamente responsáveis pela sua crucificação (compare Lc 3:2;Jo 11:49; 18:13, 14, 24; 19:15; Mc 15:11).

Todavia, mesmo assim, devemos ter cuidado para não implicar que todos  os sacerdotes eram necessariamente “ saduceus” .Foi um sacerdote dedicado e seus filhos que lideraram a revoltados macabeus. Foi a um sacerdote justo que o anjo Gabriel anunciou a vinda de um filho que seria o precursor do Senhor. Uma geração mais tarde, depois de Cristo ter subido aos céus e derramado o Espírito Santo sobre os discípulos que aguardavam, vemos

que, apesar da amarga hostilidade entre os principais  sacerdotes, “muitíssimos sacerdotes obedeciam à fé” (At 6:7).

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o p e r í o d o  in t e r t e s t a m e n t á r io

IV. ESSÉNIOS, HERODIANOS, ZELOTES✓

E A JUDEIA DOS DIAS DE JESUS 

Lição nQ 4

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JOSEFO ESCREVE SOBRE OS ZELOTES

Judas, o Galileu, foi o autor da quarta seita da filosofia ju

daica (i.e., os zelotes). Esses homens concordam em tudo o maiscom os conceitos farisaicos; mas possuem um apego inflexível àliberdade e afirmam que Deus deve ser o seu único Rei e Senhor.Eies também não dão valor a qualquer tipo de morte nem na verdadese preocupam com a morte de seus parentes e amigos, um temorque os leva a não chamar ninguém de Senhor. Como esta resolução imutável deles é conhecida de muitos, não falarei mais sobre

isso; não me amedronta também a idéia das pessoas não acreditarem em qualquer coisa que tenha dito sobre eles, embora temaque minha palavras sejam inferiores à resolução mostrada poreles ao passarem por sofrimentos. Foi nos dias de Gessius Florusque a nação começou a enraivecer-se com as loucuras daquele queera nosso procurador e levou os judeus a se enfurecerem pelo seuabuso de autoridade, fazendo com que se revoltassem contra osromanos.

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ENTRE MALAQUIAS E MATEUS (4)

OS ESSÉNIOS

Embora o Novo Testamento não mencione a seita judaicapeculiar conhecida como “os Essênios”, devemos examiná-la brevemente, como contribuindo com um outro aspecto significativo

ao período intertestamentário final. £ interessante notar como emcada época reaparecem os mesmos três tipos — o “ ortodoxo” , o “ heterodoxo” e os “ peculiares” . Os fariseus se apegavam totalmente à letra  da Lei. Os saduceus se desligaram de tudo menosdo sentido  mais amplo da mesma. Os essênios se satisfaziam em viver no espírito  da lei e para isto se retiraram da sociedade humana comum, vivendo isolados no campo, onde praticavam um esti

lo monástico de vida e um tipo místico de judaísmo.E igualmente estranho como em cada época os diferentesgrupos podem ser tão cegos às suas próprias contradições. Os essênios eram super-judeus, sendo Moisés sua principal autoridade.Todavia, como acontece com a maioria dos místicos, sua contemplação transformou e diluiu os significados claros da autoridadeque veneravam tão profundamente.

Eles se desligaram dos sacrifícios no templo, por possuírem,

supostamente, purificações próprias que destacavam o significado espiritual. Não podiam misturar-se à multidão vulgar dos freqüentadores do templo que, segundo eles, profanava os seus precintos. Estava mais de acordo com o espírito das prescrições mosaicas isolar-se e render sacrifício no santuário mais santo de sua ha

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bitação. Mesmo assim, porém, mostravam sua reverência pelo templo, enviando ofertas regulares de incenso. Sua obsessão vinha deuma mente pura, uma religião espiritual, a separação para Deus àscustas da humilhação pessoal, através de isolamento monástico,disciplina ascética e máxima simplicidade de vida.

Eles eram uma comunidade à parte. Viviam “sós em casas desua propriedade, trabalhando nos campos ou em serviços úteis,mas rejeitando o comércio como um estímulo à cobiça”. Cada refeição era preparada pelos seus sacerdotes e tomada como um sacrifício a Deus. Só um prato era colocado à frente de cada um.Se opunham à guerra por questão de princípios e proibiam os jura

mentos. Os mais estritos renunciavam até ao casamento —um ascetismo absolutamente estranho ao ensino mosaico. Os membros sóeram admitidos depois de um período de experiência, sendo solenemente obrigados a cumprir as regras e manter os segredos daordem; deviam praticar a piedade para com Deus e a justiça paracom o homem, odiando os perversos e ajudando os retos; deviamfalar apenas a verdade e não prejudicar ninguém.

Sua espiritualidade monástica era, entretanto, sobrepujadapela escravidão às exterioridades! Eles guardavam o sábado tãorigidamente, conforme a Lei, que não podiam sequer acender o fogo ou preparar a comida. Consideravam profanação comer qualquer alimento preparado por outra pessoa que não fosse de sua fraternidade e preferiam mesmo a morte a tal coisa. Reprimiam-se supersticiosamente de cuspir, especialmente do lado direito. Quandotocados por algum incircunciso precisavam imediatamente subme

ter-se a abluções corporais.Embora fossem uma mistura contraditória, manifestavam vir

tudes santas que os elevavam muito acima da média (veja o tributode Josefo, anexo a este estudo). O motivo era bom, mas o métodoerrado. Seu exclusivismo, ascetismo e misticismo não passavam deescapismo disfarçado. Seu ultra-judaísmo tornou-se quase anti-judeu. Sua liberdade mística  com a Palavra Escrita não lhes propor

cionou liberdade espiritual,  mas os manteve escravos da forma.Afinal de contas, eles não conseguiram penetrar sób a camada superficial, descobrindo o verdadeiro espírito da Lei. Isso não podeser feito do modo deles.  O Senhor Jesus mostrou o verdadeirocaminho: e Ele não era um recluso. Os essênios tinham boa reputação pela sua piedade, assim como pela sua percepção religiosa e

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foi dito que suas predições sobre o futuro eram consideradascomo praticamente infalíveis. Mas não tinham boa comunicação com os homens; portanto, não fizeram um impacto real emsua época e não são mencionados no Novo Testamento. São, en

tretanto, importantes por revelarem ainda mais as aspirações ecomportamento do povo durante aqueles séculos intertestamen-tários.

OS HERODIANOS

Em Mateus 22:16, Marcos 3:6 e 12:12 encontramos outrocírculo judeu, a saber, os herodianos. Quem eram eles? Nenhumainformação explícita foi deixada quanto ao seu agrupamento original, mas o próprio nome revela naturalmente seu papel destacado e razão de ser. Quaisquer que fossem as preferências ou aversões religiosas de seus membros, o grupo como tal não era de forma alguma um culto ou união religiosa. Era político; e o objetivo principal de seus adeptos era promover a causa do governo deHerodes. Não se sabe ao certo se a casa ou trono de Herodes ossubsidiava diretamente, mas obviamente eles tinham o selo daaprovação real e cada um dos astutos, mas inquietos Herodes,faria seus agentes colaborarem com eles.

Podemos perfeitamente imaginar que muitos considerariamuma boa política fortalecer a pressão da casa de Herodes sobre oslíderes e público judeus. Depois da torturante insegurança, rivali

dades sangrentas e expedientes quase suicidas que haviam afligidoos governantes judeus desde o período macabeu, o que poderiaser mais prudente do que apoiar o trono herodiano, que gozavado favor de Roma, dando assim à J udéia a proteção desse poderoso império? Muitos veriam nos Herodes a única esperança judaicade continuação nacional; a única alternativa para fugir ao domínio pagão direto. Outros iriam também favorecer uma misturada fé antiga e da cultura romana como no princípio Herodes eseus sucessores tinham buscado fazer, como sendo a mais elevadaconsumação das esperanças judaicas.

Por outro lado, devem ter havido muitos que detestavam aprópria menção desse nome. A família dos Herodes não era composta de judeus, mas de idumeus. O primeiro Herodes não assas

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sinara todos, com exceção de dois membros do Sinédrio? Ele nãocomprometera a fé judaica que tinha antes abraçado ostensivamente? Não construíra em Panes um templo de mármore brancopara a adoração de Augusto? Fora da Judéia, não era ele o patrono

indisfarçado do paganismo? Não edificara um teatro romano emJerusalém, com um amplo anfiteatro fora dos muros, instituindolutas políticas entre gladiadores? E embora tivesse construído onovo e magnífico templo judeu em Jerusalém, não havia mandadocolocar a águia dourada romana sobre a entrada principal do pátioexterno? Não estava a família Herodes manchada com o sanguedos crimes mais medonhos? Ela não representava, em análise final,

o poder do odiado conquistador romano? Podemos imaginar comoos fariseus, por exemplo, devem ter odiado os herodianos! Os doispartidos nao se toleravam de forma alguma, o que torna a uniãodos fariseus e herodianos contra o Senhor muito mais surpreendente.

OS ZELO TES

Em Mt 10:4, Mc 3:18, Lc 6:15 e At 1:13, aparece o nomede um certo Simão, o Zelote. Quem e o que eram então os zelotes?Eles representavam de maneira drástica o partido nacionalista  judeu. Foram de fato eles que praticamente provocaram o choquefurioso com Roma que resultou na completa ruína e saque de Jerusalém pelo general Tito em 70 A.D.

Para o seu início como movimento precisamos reportar-nosao ano de 63 a.C., quando o período de independência sob os macabeus terminou e a Judéia passou para o domínio romano. Haviauma larga diferença entre a turbulenta comunidade judaica quetornou-se então vassala de Roma e o Remanescente que se submetera ao governo persa no começo do período intertestamentário!Não só tinham crescido em número, como também seu tempera

mento se modificara grandemente. Os setenta anos de governo independente, acrescidos da influência farisaica, atuara sobre o espírito da nação tornando-a talvez a comunidade mais provocanteque os romanos tinham de administrar.

Enquanto os judeus da Judéia nos primeiros tempos do período intertestamentário estavam resignados a aguardar passiva

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mente atê que seu Messias viesse e livrasse um povo que cumpriafielmente a lei sagrada, havia agora uma contenda impetuosa nosentido de que a intervenção divina só seria enviada a um povopreparado para lutar pela libertação de Israel do domínio estrangeiro. ,;0 mesmo fanatismo fariseu pela letra da Lei continuava aexistir, mas com um tom nacionalista ardente que superava a indiferença piedosa do farisaísmo anterior.

; Além do mais, vinte e seis anos depois de Roma ter passadoa governar a Judéia, o intrigante e odiado Herodes, um estrangeiro, mediante atos sangrentos e selvagens conseguira apossar-se dotrono da Judéia, apoiado por Roma, mas contrariando a resis

tência amarga dos judeus. Foi a sua ascensão, ao que parece, queinflamou os reacionários zelotes a formar um movimento ou partido organizado. O Dr. Edersheim não hesita em dizer que “ umavisão mais profunda e independente da história da época (i.e. apartir de então) talvez nos levasse a considerar o país inteiro como dividido, aceitando ou rejeitando uma das facções”.

As mais violentas atividades do movimento parecem ter ocor

rido a princípio na região da Galiléia. No ano 6 A.D., quando Qui-rino, o legado romano da Síria, ordenou o levantamento de um censo na Palestina, Judas o Galileu, juntamente com Zadoque, um fariseu, encabeçaram uma revolta contra o domínio romano, invocando os compatriotas como o povo de Deus para resistir aodespotismo humano. Ele queria restaurar completamente a formateocrática de governo. Um grande grupo o seguiu, mas foi facilmente dispersado por Quirino e Judas acabou sendo assassinado

(At 5:37). Todavia, como diz o falecido Dr. W. A. Lindsay: “ Desde essa época até a destruição de Jerusalém e a dispersão da raça

 judaica, a história externa dos judeus é principalmente um registrodas lutas travadas pelos que zelavam pela Lei contra a invasão dopoder romano e da cultura helenista”.

Os filhos de Judas continuaram a causa. Dois deles, Jacó e Simão, foram crucificados por Tibério Alexandre, um procurador,

üm terceiro filho, que afirmou ser o Messias, foi morto por umamultidão.Mas a oposição dos zelotes contra Roma pela força das ar

mas, acabou infelizmente num pretexto para a violência até mesmo contra seus próprios patrícios. Durante as últimas décadas antesda destruição de Jerusalém, em 70 A.D., eles se transformaram em

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bandos de marginais sem lei, aterrorizando a todos. Nao é improvável que Barrabás e seus homens fossem zelotes, assim como osdois ladrões crucificados pelo Senhor. Note que o nome Barrabásé aramaico; que tanto ele como um grupo de amotinadores  seachavam na prisão por terem cometido homicídio em um “ tumulto” (insurreição) (Mc 15.7). Os dois malfeitores crucificados como Senhor eram salteadores violentos e não apenas “ ladrões” . A palavra “salteadores” foi corretamente empregada na Edição Revistae Corrigida em Mateus 27.44. Talvez o salteador penitente,  comofizeram outros, tivesse pensado, no início, que o “ reino de Deus”podia ser introduzido pela força. Ao observar Jesus na cruz ele, re

pentinamente, percebeu o seu erro.

O JUDAÍSMO NOS DIAS DO SENHOR

A fim de continuar com nosso estudo intertestamentário, vamos procurar sentir os resultados dá atmosfera política e religiosadurante a época em que o Senhor viveu na Palestina.

O Mundo RomanoO mundo civilizado daqueles dias coexistia com o império ro

mano. Uma sujeição comum ligava todas as nações ao trono único.Um controle militar comum mantinha a ordem em toda parte commão de aço. Uma língua comum, i.e., o grego, unia as cidadesmaiores e os homens cultos num intercâmbio de pensamento uni

versal jamais conhecido antes. Uma cultura comum, a greco-roma-na, prevalecia praticamente em todas as terras. As famosas estradas romanas facilitavam as comunicações por terra e tornaram-segrandes vias comerciais. As rotas marítimas no Mediterrâneo ligavam todos os povos, mantendo todos eles em paz uns com os outros. O comércio florescia por terra e mar. Desse modo, apesar demuitos oficiais facínoras, uma injustiça rústica era mantida em to

do o mundo conhecido num nível jamais visto antes. A lealdadea Roma obtinha uma clemência correspondente. As religiões ecostumes locais eram respeitados e concedia-se às províncias liberdade para autogovernar-se até certo ponto, no que dizia respeitoa seus assuntos internos. A Palestina fazia parte de uma dessas províncias romanas (a da Síria) no início de nossa era cristã.

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PalestinaA Palestina achava-se nesse período dividida em cinco sub-

regiões: judéia, Samaria, Galiléia, Peréia, Traconites. O primeiroHerodes (erradamente chamado de “ Herodes, o Grande” em lugar

de Herodes, o Sanguinário!) reinara sobre as cinco, mas por ocasião da sua morte  (cerca da época em que o Senhor nasceu), o reino fora dividido entre seus três filhos, como disposto em seu testamento. Ao mais velho, Arquelau (Mt 2:22), ele legou a Judéia eSamaria. A Herodes Antipas, deixou a Galiléia e a Peréia. A outro filho, Filipe, deixou Traconites. Dez anos mais tarde, Romahavia retirado a Judéia e Samaria de Arquelau devido ao seu maugoverno e nomeou em seu lugar um procurador que passou a serconhecido como “Governador da Judéia”. Durante o ministériopúblico do Senhor, o quinto desses procuradores administrava aregião, a saber, Pôncio Pilatos. Ele prestava contas ao Legadoromano sobre a Síria, que controlava toda a Palestina, e que porsua vez tinha de prestar contas ao imperador. A residência habitual do procurador ficava em Cesaréia e não em Jerusalém, poisa primeira era a cidade de maior importância política para os

romanos. Em ocasiões como a festa da Páscoa, entretanto, quandoJerusalém estava repleta e o sentimento nacionalista poderia estimular pensamentos de revolta, o procurador passava a residir temporariamente na capital, o que explica a presença de Pilatos aliquando ocorreu a desordem que ocasionou a crucificação doSenhor.

Nessa época também, Herodes Antipas reinava como Tetrar-

ca sobre a Galiléia e a Peréia. Ele era filho de Herodes o Grandee Maltace, uma samaritana. Meio idumeu e meio samaritano, nãohavia uma gota de sangue judeu em suas veias: e a “Galiléia dosGentios” parecia um domínio adequado para tal príncipe. Osevangelhos indicam que era um homem supersticioso, imoral ecruel. Ele também se achava em Jerusalém quando o clamor pelacrucificação do Senhor irrompeu. Pilatos, portanto, ao saber queJesus era da Galiléia enviou-o a Herodes, mas este devolveu a

responsabilidade a Pilatos.

Os Judeus da JudéiaNo que diz respeito à Judéia desse período, os fariseus, sa

duceus e herodianos, estavam procurando introduzir seus pontos

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de vista, cada um a seu modo. Havia grande atividade nas escolasdos fariseus.  Alguns dos mais famosos entre os escribas adornaram a época de Herodes o Grande. De fato, os famosos Hillel eShammai, os mais renomados dentre todos os escribas judeus desde

Esdras, e fundadpres, respectivamente, das escolas rivais de hermenêutica rabínica na Babilônia e Palestina, estava ambos em seuapogeu£por ocasião do nascimento de Jesus. Os fariseus tinhamgrande influência sobre o povo e, portanto, Herodes os tratavacom cuidadosa tolerância.

O poder dos saduceus  tinha sido grandemente enfraquecido com o assassinato de 45 de seus líderes no princípio do reina

do de Herodes. Este também abolira o sacerdócio hereditário —outro golpe contra os saduceus. Não obstante, os saduceus permaneceram influentes nos círculos mais elevados, As famílias sacerdotais hereditárias continuavam sendo a aristocracia nativa da terra. Em seus escalões mais altos eles eram ainda motivados por ob jetivos políticos e não espirituais. Se Herodes não tivesse mostrado tanta selvageria em relação a eles no começo de seu reinadopelo fato de apoiarem o sumo  sacerdócio hasmoneu,  teriam certamente tido maior boa vontade do que os fariseus em aceitar suaautoridade e as inovações helenistas; mas eles agora partilhavamdo ódio fariseu contra o regime de Herodes. Sua influência sobreo sumo sacerdócio e o Sinédrio ainda se mantinha firme. Tanto nofinal dos Evangelhos como no início do livro de Atos, o sumo sacerdote e os principais sacerdotes eram saduceus, com bastante influência no Sindédrio (veja At 4:6, 5:17, etc.).

Os herodianos,  como faziam os nazistas, se misturavam como povo; com mais cautela, porém, desde que o filho de Herodesfora substituído por um procurador na judéia. Eles tinham o mesmo ressentimento que os fariseus em relação a esse oficial, mas nãoo seu ódio judeu contra Roma. Não se envergonhavam de usar táticas de espionagem e sempre faziam jogo duplo. Para os herodianos, mostravam-se aliados fiéis e ao “ Governador” romano, davam

ares de defensores leais do domínio romano, do qual Herodes derivava a sua autoridade.Eles desprezavam cinicamente a esperança messiânica dos pie-

titas judeus, mas ficaram alertas quando surgiu o grande movimento a respeito de Jesus ser o esperado Rei dos Judeus, com supostasreivindicações sobre o trono da Judéia. Sua hostilidade foi imedia-

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ta. Ele era perigoso e deveria ser entregue ao governador para sersilenciado (Lc 20:20).

Não há dúvida que sua organização de espiões era conhecida.Lemos em Marcos 3:6: “ Retirando-se os fariseus, conspiravam lo

go com os herodianos,  contra ele, em como lhe tirariam a vida” .Suas manobras ocultas contra o Senhor são expostas em Lucas20:20 (que Mateus 22:16 aplica a eles): “Observando-o,  subornaram emissários  que se fingiam justos para verem se o apanhavamem alguma palavra, a fim de entregá-lo à jurisdição e à autoridade do governador”.

Um Triângulo PerversoOs fariseus, saduceus e herodianos achavam-se todos na Ju

déia naquela ocasião. Cada grupo odiava os outros com um sentimento de despeito maldoso e desprezo. Todavia, nesse estranhofrenesi de ódio que a verdadeira bondade desperta involuntariamente na mente dos que praticam o mal, os três grupos se uniramem sua oposição assassina contra o Deus-Homem inocente que era

 “ manso e suave de coração” ./

 Jerusalém Naquela EpocaNão podemos talvez deixar este retrato dos judeus da Pales

tina nos dias do Senhor sem ter um vislumbre da cidade de Jerusalém propriamente dita, no seguinte parágrafo escrito pelo Dr.Alfred Edersheim.

 “ Existem dois mundos lado a lado em Jerusalém. Um delesrepresentado pelo helenismo com seu teatro e anfiteatro; estrangeiros congestionando a corte e a cidade; tendências e costumesestrangeiros, desde o rei de outras terras, etc. O outro era o velhomundo judeu, tornando-se agora estabelecido e estruturado nas escolas de Hillel e Shammai, à sombra do templo e da sinagoga. Cada um seguindo seu curso ao lado do outro... Se o grego era a língua da corte e do arraial, sendo de fato compreendido e falado pela maioria na nação, a linguagem do povo, empregada também porCristo e seus apóstolos, era um dialeto do hebraico antigo, o ara-maico ocidental ou palestino... Tratava-se na verdade de uma mistura peculiar de dois mundos em Jerusalém, não só dos gregos e

 judeus, mas também da piedade e mundanismo.” 

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Existe, porém, um outro aspecto muito importante daqueles judeus da antigüidade que não devemos de forma alguma negligenciar. Uma nação não é apenas composta de cortes, escolas, líderese partidos, mas dos milhares e milhares conhecidos e coletivamen

te como “ o povo comum”. As páginas do historiador os deixamnecessariamente desconhecidos e obscuros. Todavia, eles são tãohumanos e tão pessoalmente preciosos para Deus, como os personagens de renome. São eles que em seu vasto total e continuidadeprocriativa, constituem o corpo vivo da nação e da raça. São eleso verdadeiro objeto da história. Os poucos que se destacam, só ofazem pelo seu impacto sobre eles. Assim sendo, em tempos remo

tos na Judéia, quando os anos a.C. deram lugar aos A.D., foramos homens e mulheres comuns que constituíram a vida da comunidade sempre em movimento. Cada um deles tinha seus pequenos mundos pessoais de interesses e preocupações, prazeres e desgostos, alegrias e tristezas. Eles cresceram, envelheceram, trabalharam, divertiram-se, riram e choraram, cantaram e suspiraram, tiveram esperança e temor, viveram e morreram.

O que dizer deles, naqueles dias? Alexander Maclaren assevera

que “os períodos mais negros não foram tão maus na realidadequanto parecem na história”. Jamais houve um período mais sombrio na história de Israel antes do exílio, do que o dos Juizes. Foram dias negros de apostasia religiosa e desordem civil; e o livrotrágico termina com um suspiro final: “Naqueles dias não haviarei em Israel: cada um fazia o que achava mais reto” (Jz 21:25).Todavia, logo após essa última sentença do Livro dos Juizes ini

cia-se o pequeno e precioso Livro de Rute, com as palavras: “Nos dias em que julgavam os ju izes”,  lembrando-nos imediatamenteque mesmo naquele período terrível existiam pessoas de bom caráter, crentes fiéis e corações nobres. Isso aconteceu na Judéia àmedida que os judeus emergiram daqueles séculos traiçoeiros etorturantes do período intertestamentário para entrar nos diasdo Evangelho.

Havia amor sincero, retidão santa, aspiração piedosa, em espírito de oração: e muitos estavam aguardando ansiosamente o “Sol da Justiça” trazendo “salvação nas suas asas”. “ Então os quetemiam o Senhor falavam uns aos outros; o Senhor atentava e ouvia” (Ml 3:16). No carpinteiro de Nazaré e sua esposa virgem; nospais de João Batista, nos pastores dos campos de Belém, no peque

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no grupo de santos que se reuniu à volta do recém-nascido Salvador no templo, reconhecemos os humildes representantes do maispuro tipo de piedade judaica. Homens e mulheres como esses viveram e morreram em Israel durante todos aqueles séculos. Bem dis

tante da pompa das cortes terrenas e da luta de facções, da atmosfera conflitante do fanatismo político e religioso, eles haviam esperado pelo consolo de Israel. E agora, finalmente, a pessoas comoessas o há muito esperado Messias tinha sido revelado. Na hora damais profunda degradação de Israel, quando o reino de Herodesparecia zombar das aspirações de todos os israelitas fiéis com suaaparência simulada de glória messiânica, os olhos deles contempla

vam o Ungido do Senhor, o verdadeiro Rei do reino de Deus, “cu jas origens são desde os tempos antigos, desde os dias da eternidade” (Mq 5.2).

AS SEITAS

É notável ver como aquelas seitas judaicas da antigüidade ressurgem e se apresentam como novas em cada geração. Ninguém seengane, elas vivem de novo hoje, usando roupas atuais e agindo entre os modernos cristãos.

Em tempos idos, os essênios e os zelotes se mantinham longe do caminho do Senhor. Ele era demasiado popular para os essênios e manso demais para os zelotes. Os essênios se mantinhamafastados em sua solidão monástica e os zelotes nos seus esconde

rijos nas colinas. O Senhor não levou qualquer mensagem aos essênios, nem pediu ajuda aos zelotes.

Mas os fariseus, saduceus e herodianos estavam ali mesmo emoposição ativa a ele todo o tempo. Quanta ironia! Em seu orgulhocego eles estavam resistindo justamente àquilo que era supostamente razão de sua existência. Observe-os cuidadosamente, poistrata-se de tipos altamente significativos. Os fariseus eram os anti

gos ritualistas,  os saduceus, os velhos racionalistas.  Enquanto osherodianos representavam os secularistas da antigüidade.A marca do fariseu — o ritualista — é que ele está sempre

acrescentando.Ele não se conterita com a Palavra escrita de Deuse com a verdade clara do evangelho, com a fé uma vez entregue aossantos. Sente necessidade de acrescentar suas próprias idéias e

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ordenanças, até que a religião e a salvação se tornem algo muitocomplexo. Foi isso que os fariseus fizeram até que, devido ao pesoacumulado de suas cerimônias e observâncias, tornaram a religião

um fardo pesado demais para os homens carregarem.Por outro lado, a marca do saduceu — o racionalista — é queele está sempre subtraindo. Ele não pode aceitar a Palavra escritade Deus em sua integridade, nem a verdade do evangelho comoela é; também não pode aceitar, sem omissões drásticas, a fé umavez entregue aos santos. Tudo precisa ser julgado no tribunal darazão humana. Isto, aquilo e aquiloutro precisam ser cortados paratornar a fé racional e convincente. Foi esta justamente a atitude do

saduceu. Ele não podia, ou antes, não queria, acreditar seja em an jos ou demônios, seja na ressurreição dos mortos ou em qualqueroutro milagre.

Quanto aos herodianos — os secularistas — não se importavam em somar ou subtrair. Do mesmo modo que o descuidadoGálio, não se importavam “ com nenhuma dessas coisas” . A palavra escrita de Deus, a mensagem do evangelho, a fé uma vez entre

gue aos santos, não eram a sua primeira preocupação. Seu interesse estava na vida de hoje.  O que importa se um Herodes pagãoreina sobre um trono manchado de sangue, desde que os interessesmateriais estejam sendo atendidos? Enquanto o fariseu ritualista seocupava em acrescentar   e o saduceu racionalista incredulamentesubtraía, o herodiano secular negligentemente passava por cima.

Ritualista, Racionalista, SecularistaTemos conosco hoje esses três grupos. O fariseu — o ritualis

ta — é o moderno eclesiástico “superior”, o anglo-católico, o cató-lico-romano. Ele não se satisfaz com a Palavra escrita de Deus, averdade clara do evangelho com suas boas novas da salvação só pela graça da parte de Deus e só pela fé da nossa parte; também nãose contenta com a fé uma vez entregue aos santos. Nada disso.

Ele precisa acrescentar   a elas os seus paramentos, velas, imagens,sacramentos, confessionários, penitências, cerimônias, e todos osoutros enganosos adornos de sua hiper-religiosidade.

Por outro lado, o saduceu — o racionalista — é o moderno cético religioso, o modernista, o eclesiástico “ liberal” — e ele é tãoliberal que algumas vezes não se pode dizer onde sua teologia co-

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meça ou termina. Ele se alegra mais em contar o que não pode ou não quer   acreditar do que em declarar aquilo que realmente crê.  Fiel à sua linhagem de saduceus, ele está sempresubtraindo. Não pode aceitar a íntegra da Palavra de Deus, nem a verdade do

evangelho como ela é; nem pode aceitar, sem cancelamentos drásticos, a fé uma vez entregue aos santos. Isto, aquilo e aquiloutroprecisa ser retirado. Ele não pode crer em Moisés, Isaías, Daniel.Grande parte da história e doutrina bíblicas é mística e imperfeita. O próprio Cristo é falível. O milagroso e o sobrenatural devem ser eliminados até que o único milagre restante seja a infalibilidade miraculosa da moderna erudição!

No que diz respeito ao herodiano, ele é o homem secularmoderno. Assim como seu antigo protótipo teria “ helenizado” e “ herodiziado” a sociedade judaica (tudo em nome do progresso,naturalmente!), assim também o antítipo do século vinte quer suprimir o que julga serem desgastados temores, escrúpulos ou sofismas religiosos. Com a maior tranqüilidade, e em nome do chamado “ progresso” , ele esmagaria sob os pés a santidade do Dia doSenhor, profanando o mesmo com diversões seculares, sob rótulos piedosos tais como “ Domingos Mais Alegres para o Povo”.

Os Três Grandes InimigosEsses três — o fariseu, o saduceu e o herodiano, ou seja, o

moderno ritualista, o racionalista e o secular ou mundano — sãoos três grandes inimigos do verdadeiro cristianismo evangélico de

hoje. Para o ritualista, o foco do combate é a Mesa do Senhor —será uma mesa  ou um altarl   Para o racionalista, é a Bíblia — seráa Palavra de Deus ou apenas do homem? Para o mundano, o centro é o domingo — será um dia santo  ou apenas um dia de descanso ?

O aspecto mais triste no comportamento desses fariseus, saduceus e herodianos da antigüidade, talvez seja o fato de terem seunido numa causa comum contra ELE, apesar de se odiarem e estarem sempre em luta uns contra os outros. O que pode surpreender-nos mais do que a leitura, bem no início do ministério do Senhor: “ Retirando-se os fariseus, conspiravam logo com os herodianos, contra ele, em como lhe tirariam a vida” (Mc 3.6)? Como eraintenso o ódio que os fez rebaixar-se tanto! Não surpreende tam-

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bém ler pouco depois: “ Aproximando-se os fariseus e saduceus, tentando-o” (Mt 16.1). Não havia também algo de sinistramenteestranho na maneira em que os três grupos se reuniram contra Ele(Mt 22.15, 16, 23) num esforço conjunto e final para destruí-IO?

Não queremos parecer rudes, mas temos de estabelecer claramente nossa opinião de que os ritualistas, modernistas e secularesde hoje rejeitam o Cristo dos evangelhos, tão real e falsamentequanto os fariseus, saduceus e herodianos. O Cristo dos evangelhosnão é aceitável — como Eie realmente é —  ao eclesiástico “superior” , ao eclesiástico liberal, ou ao mundano. Eles podem parecer,respectivamente, “ tão espirituais” , “ tão intelectuais” ou “ tão ca

ridosos”, mas se tocarem o seu nervo sensível, imediatamente deixam transparecer sua aversão profunda pelo verdadeiro Cristo epelo evangelho autêntico. O ritualista não aceita Cristo e o evangelho em sua simplicidade. O modernista não os aceita em sua infalibilidade  divina. O secular não pode suportá-los com sua ênfase “ rude” sobre a salvaçao pelo sangue.

Esses grupos diferem sensivelmente uns dos outros; todavia,farão causa comum contra o cristianismo evangélico —  que pedeapenas que o próprio Cristo e a Palavra de Deus escrita sejam aúnica corte de apelação! Quantas vezes em dias recentes a igrejaritualista de Roma juntou-se às autoridades seculares ímpias afimde suprimir evangélicos protestantes cuja única ofensa fora pregarCristo e o evangelho estritamente segundo as Escrituras! No ecumenismo que está se desenvolvendo agora, representado pelo Concílio Mundial de Igrejas, os saduceus modernistas irão patrocinar

idéias socialistas ou até mesmo comunistas, irão relacionar-se amigavelmente com os fariseus de aparência venerável da Igreja GregaOrtodoxa, e receber os elaborados dignatários do Papado de Roma. Todavia, eles se  zangam  com aqueles que insistem em manter-se apegados ao Cristo dos evangelhos e às Escrituras como aPalavra de Deus, inspirada e cheia de autoridade. Abstemo-nos deacrescentar qualquer outra coisa, mas se alguns que pertencem aos

grupos acima mencionados vierem a ler estas linhas e se sentiremirados, advertimos: “ Examinai-vos a vós mesmos se realmente estais na fé” (2 Co 13.5); “ ... examinando as Escrituras... para verse as coisas eram de fato assim” (At 17.10).

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Relevâncias EspirituaisEssas extintas seitas judaicas continuam falando entre nós

também através de outros meios. Existe um “meio dourado” deverdade que, quando seguido, gera nos homens uma santidade sa-

diajmas quando os homens e os movimentos se desviam dele, tornam-se proporcionalmente desequilibrados e sujeitos a extremospouco sólidos. Vemos isto objetivado nos fariseus, saduceus, essênios, zelotes e herodianos. Façamos um retrospecto. Os fariseuseram extremamente escrupulosos sobre a letra da lei e tornaram-se /7/per-espirituais. Os saduceus bifurcavam-se em sentido contrário, recusando a Palavra, exceto com significados limitados, e tor

naram-se //7/ra-espirituais. Os essênios liam muito mais nas “ entrelinhas” do que nas próprias linhas, convencidos que por meiode percepção peculiar tinham conseguido alcançar a realidade maisprofunda de todas e se tornaram ultra-espirituais. Os zelotes, impacientemente se afastaram em outra direção, argumentando quea verdadeira lealdade à Palavra não é demonstrada pela preocupação com sua letra exterior ou seu sentido interior, mas pela atividade física, até lutando se necessário, e eventualmente tornaram-se /7<fo-espirituais. Os herodianos romperam obliquamente, insinuando que a maneira mais prática era combinar as Escrituras hebraicas com a filosofia grega; o judaísmo com o helenismo; a religião com o prazer; e tornaram-se o/7f/-espirituais.

Hiper, infra, ultra, não, anti  — todos estão conosco hoje! Nãoprecisamos começar a identificá-los. Todos exibem suas diferenças.Devemos ficar alerta para as tendências que se desenvolveram nes

ses movimentos judeus. Devemos proteger-nos contra elas comopessoas e como igrejas. O “ meio dourado ou de ouro” de que falamos é possuir uma crença firme na Bíblia como a Palavra inspiradade Deus e no Senhor Jesus Cristo como o perfeito Salvador-Exem-plar; e, a seguir, manter-nos simplesmente apegados aos significados comuns das Escrituras. Se fizermos isso, elas nos guiarão nocaminho da verdade e guardarão nossos pés do erro. Em nós e

através de nós será respondida a oração de Sam Chadwick: “ Senhor, faz com que sejamos intensamente espirituais, mas mantém-nos inteiramente práticos e perfeitamente naturais.” 

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EXCURSO SOBRE O SINÉDRIO

Existe uma outra instituição judaica que devemos notar co

mo tendo relação com nossa leitura dos quatro evangelhos: ela é o Sinédrio, que nos dias do Novo Testamento era o supremo tribunalcivil e religioso da nação judaica. Pertence para sempre a esse corpo representativo a verdadeira responsabilidade pela crucificaçãodo Messias de Israel, o Filho encarnado de Deus. Pôncio Pilatos foisimplesmente o “ carimbo" do império romano que completou aterrível injustiça. Além do mais, a fim de apressar o crime, o Sinédrio violou seu próprio código de honra.

O Sinédrio é citado em todos os versículos que se seguem,embora o leitor talvez nem suspeite, pois a palavra gregasunedrion é  traduzida por “ concíl io” : Mateus 26.59; Marcos 14.55; 15.1;Lucas 22.66; João 11.47; também Atos 4.15; 5:21, 27, 34, 41;6:12, 15; 22:30; 23:1, 6, 15, 20, 28; 24:20. A tradução da Sociedade Bíblica do Brasil tem “ Sinédrio".

Tratava-se de uma instituição notável, como até nossas breves

notas mostrarão. Além do Sinédrio central, metropolitano, haviasinédrios menores, locais, ou “ concílio” (Mt 5.22). Havia de fatodois deles na capital propriamente dita, na entrada para o montedo templo e no salão do templo respectivamente, que tratavam dequestões menores do que as julgadas pelo “Grande Sinédrio”. Masnosso interesse maior nestas notas está ligado ao “Grande Sinédrio”, o supremo concílio judicial e administrativo do povo judeu.

OrigemA tradição dos judeus, com sua habilidade para considerar an

tigas as inovações judaicas, remonta a instituição do Sinédrio àépoca em que Moisés designou os setenta anciãos para julgar o povo(Nm 11). Mais tarde, segundo se conta, no início da monarquia, orei Saul foi presidente do mesmo e jônatas vice-presidente. Ele

continuou através do exílio na Babilônia, sendo tempos depoisreorganizado por Esdras entre o remanescente que voltou à Judéia.

Mas o Sinédrio que aparece nos Evangelhos e Atos não temuma origem tão antiga, embora já tivesse nessa ocasião algumascentenas de anos. Nem os livros históricos nem proféticos do Ve-

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lho Testamento mencionam qualquer instituição que pudesse seridentificada com o Sinédrio. Não há também qualquer indicaçãode um outro grupo comparável, nos primeiros anos após o exílio.Ao se iniciarem os séculos intertestamentários, pode ter havido,

mesmo sob o domínio persa, algum acordo entre a corte e o sumosacerdote em suas responsabilidades administrativas, mas não háevidência disso.

O nome Sunedrion,  pelo qual a instituição se tornou conhecida, sugere uma origem após o impacto grego de 333 a.C. Alémdo mais, um concílio supremo como o Sinédrio só poderia ter surgido durante uma época em que os judeus tivessem ampla permis

são para se autogovernarem, o que aponta novamente para o período sub-grego, quando o primeiro dos três ptolomeus (323222 a.C.) favoreceu a expansão do governo próprio. Além domais, se, como diz a tradição judaica, a “Grande Sinagoga” desapareceu cerca de 300 a.C. com Simão o Justo, o que restou damesma, passando para um sínodo do tipo encontrado no Sinédrio iria adequar-se à conjuntura que mencionamos. Como dadohistórico complementar, sabemos que um sínodo ou senado dessaespécie se achava  funcionando e era evidentemente bem conhecido por volta de 202 a.C., pois um decreto de Antíoco o Granderefere-se então a ele como a Gerousia — cujo nome indica a supervisão por parte dos anciãos, o qual reaparece em Atos 5.21, traduzido como “senado”.

Foi desta Gerousia,  que provavelmente originou-se no iníciodo terceiro século  a.C. e substituiu a “Grande Sinagoga” , que se

desenvolveu o Sinédrio. Cerca do final do período intertestamen-tário nós o encontramos suficientemente poderoso para denunciaro jovem Herodes (mais tarde Herodes o Grande) por seus excessoscomo governador da Galiléia — embora tivesse perdido a coragemquando Herodes apareceu vestido de púrpura real e acompanhadode guardas armados. Podemos dizer que o Sinédrio dos Evangelhose Atos era uma instituição de cerca de trezentos anos, embora naturalmente acumulasse tradições e ligações que se projetavam emdireção ao passado, avançando muito além de sua origem histórica.

Ao que parece, o Sinédrio foi temporariamente dissolvidodurante a revolta dos macabeus, devido às pressões do período,sendo porém restaurado depois da conclusão vitoriosa desse conflito.

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ConstituiçãoA maior parte dos detalhes interessantes desta seção e da se

guinte foi extrafda de várias partes da Mishna e Gemara.O Sinédrio consistia de 71 membros, sendo, ao que parece,

formado por: (1) o sumo sacerdote; (2) 24 “ principais sacerdotes”que representavam todas as 24 ordens do sacerdócio: veja 1 Crônicas 24:4, 6; (3) 24 “anciãos”, que representavam o laicado, muitas vezes chamados de “ anciãos do povo” , como em Mateus 21:23;26:3; Atos 4:8 — e nos fazendo lembrar de Apocalipse 4:4; (4)22 “escribas”, peritos na interpretação da Lei em assuntos tantoreligiosos como civis.

Quando é usada a palavra Sinédrio, como em Marcos 14:55,ela denota esta assembléia quádrula; e vice-versa, quando “ principais sacerdotes, anciãos e escribas” são mencionados em conjunto,como em Mateus 16:21, etc., trata-se de uma perífrase para Sinédrio. Um nome alternativo para anciãos é “autoridade”. Em algumas passagens encontramos apenas “ principais sacerdotes e autoridades” (Lc 23:13) ou simplesmente “autoridades” (At 3:17)usado como uma sinédoque para todo o Sinédrio.

Havia um presidente, chefe nominal do Sinédrio, um vice-presidente (“ pai da casa do julgamento” ), que dirigia as deliberações nas seções; e um chakam,  ou juiz perito, que pré-examinavaos assuntos pendentes e os apresentava à casa. O Sinédrio elegia oseu próprio presidente, vice-presidente e chakam. Só o rei não podia ser eleito como presidente, por ser proibido por lei contradizê-lo.

FuncionamentoNa época em que o Senhor nasceu, o Sinédrio realizava suas

sessões no “ Salão dos Quadrados” , mas na época de sua crucificação ele se mudara para o “ Salão da Compra” a leste do monte dotemplo. Havia reuniões diárias, entre o sacrifício da manhã e da

noite, exceto nos sábados santos e dias de festa. O presidente ocupava uma cadeira elevada, ficando o vice-presidente à sua direitae o juiz à esquerda, enquanto os membros se assentavam em almofadas baixas, ao estilo oriental, num semi-círculo em forma de

' '   V

meia lua, para que todos pudessem ver-se. A sua frente sentavam-se três fileiras de discípulos — futuros juizes — e também dois es

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crivães, um à direita e outro à esquerda. O quorum consistia de23 membros, permitindo que dois terços ficassem livres a qualquer tempo para dedicar-se a seus próprios assuntos; mas nenhumdos membros tinha permissão para sair se sua ausência implicassena falta de quorum.

FiliaçãoA seguinte citação do falecido Dr. C. D. Ginsburg sobre as

qualificações para a filiação é bastante esclarecedora: “ o candidato tinha de ser moral e fisicamente irrepreensível. Devia ser de

meia-idade, alto, de boa aparência, rico, conhecedor da Lei Divina e de diversos ramos da ciência secular, tais como medicina, matemática, astronomia, magia, idolatria, etc., a fim de poder julgarnessas matérias. Era exigido que se conhecesse várias línguas, afim de que o Sinédrio não precisasse depender de intérprete nocaso de qualquer estrangeiro ou assunto estrangeiro se apresentasse diante dele. As pessoas muito idosas, os prosélitos, eunucos e “ nethinim” eram inelegíveis em vista de suas idiosincrasias; osque não tinham filhos também não podiam ser eleitos, por nãoterem condições de julgar as questões domésticas, nem os que nãopodiam provar ser descendentes legítimos de um sacerdote, levita ou israelita, os que jogavam dados, emprestavam dinheiro a juros, os que soltavam pombos para enganar outros, ou negociavamos produtos do ano sabático. Além de todas essas qualificações,o candidato ao Grande Sinédrio devia, antes de tudo, ter sido juiz

em sua cidade natal, ter sido transferido dali para o pequeno Sinédrio que ficava à entrada do salão do templo, antes de poder serrecebido como membro dos setenta e um.” 

 JurisdiçãoA jurisdição do Sinédrio era reconhecida tanto pelos judeus

da pátria como os da diáspora,  embora naturalmente os que esta

vam em outras terras devessem observar as leis civis das comunidades onde viviam. De modo abrangente, sua grande função era ainterpretação e aplicação especializada tanto da Lei Oral como daEscrita e, portanto, julgar em pontos de discórdia como o tribunalde justiça exe^tiplar da nação. A importância disto num estado queera tido como uma teocracia pode ser facilmente apreciada.

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As principais funções do Sinédrio foram definidas mais oumenos assim: (1) Supervisão sobre a pureza de linhagem direta elegal do sacerdócio, inclusive registros genealógicos cuidadosos.(2) julgamento em casos de suposta imoralidade entre as esposas

e fi'has dos sacerdotes. (3) Superintendência sobre a vida religiosada nação, com especial vigilância contra qualquer lapso na adoração de ídolos. (4) Prisão e julgamento de falsos profetas e hereges perigosos. (5) Vigilância para que nem rei nem sumo sacerdote praticassem qualquer ato contrário à Lei Divina. (6) Decisãosobre a entrada ou não em qualquer guerra contemplada pelo reie autorização para a mesma. (7) Determinação sobre a ampliação

dos limites da cidade santa ou do templo em qualquer ocasião, poissó o Sinédrio podia declarar um solo como sagrado. (8) Indicaçãode sinédrios locais menores. (9) Organização do calendário judeu eharmonização dos anos solares com os lunares mediante dias intercalados.

 AdministraçãoQuanto ao modo e teor da administração, tomamos a liber

dade de citar novamente o Dr. Ginsburg: “ Eles manifestaramansiedade em absolver o réu em lugar de condená-lo, especialmenteem assuntos de vida e morte. Tinham como princípio estabelecidoque “o Sinédrio existe para salvar, e não destruir a vida” . Portanto,ninguém podia ser julgado e condenado estando ausente; e quandoo acusado era levado diante do tribunal, o presidente do Sinédrio

logo no início do julgamento advertia solenemente as testemunhas,salientando-lhes a preciosidade da vida humana e suplicando-lhessinceramente que com cuidado e calma refletissem se não haviamnegligenciado quaisquer circunstâncias que pudessem favorecer ainocência do acusado. Até mesmo os espectadores tinham permissão para tomar parte no caso se uma sentença mais branda pudesse ser assim obtida; os membros do Sinédrio que durante o debatetivessem se manifestado a favor da absolvição do acusado, não podiam também votar pela sua condenação no final do julgamento.A votação sempre começava a partir do membro mais novo e prosseguia gradualmente até o mais velho, a fim de que os membros inferiores não pudessem ser influenciados pela opinião dos superiores. Nas ofensas capitais era necessária uma maioria de pelo menos

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dois para condenar o acusado, e quando o julgamento se faziadiante de um quorum de 23, 13 membros tinham de declarar-sea favor da condenação. Nos julgamentos de ofensas capitais, o veredicto de absolvição podia ser dado no mesmo dia, mas o de con

denação  ficava reservado para o dia seguinte; por essa razão taisprocedimentos não podiam ser começados no dia anterior ao sábado ou a uma festa. Nenhum julgamento de crime podia perdurar anoite toda. Os juizes que condenassem um criminoso à morte precisavam jejuar o dia inteiro. O condenado não era executado nomesmo dia em que se passava a sentença; mas depois dos votos pró e contra  terem sido registrados pelos dois escrivães, os membros

do Sinédrio se reuniam no dia seguinte para examinar o caso e verificar se havia qualquer contradição por parte dos juizes. Se acaminho da execução o criminoso lembrasse de algo novo paraacrescentar a seu favor, ele era levado de volta ao tribunal e examinada a validade de seu testemunho. Entretanto, clemência e humanidade eram manifestadas para com ele mesmo quando jiãohavia qualquer dúvida quanto ao seu crime e quando a lei se viaobrigada a seguir o seu curso final. Antes da execução, uma bebi

da entorpecente era administrada ao condenado por mulheres piedosas, a fim de privá-lo da consciência e aliviar o sofrimento. Apropriedade do acusado não era confiscada, mas entregue aos herdeiros.” 

O Sinédrio e Cristo

Tudo isto naturalmente se relaciona com as circunstâncias davida e morte do Senhor, como registrado nos evangelhos. A regrade que ninguém podia ser julgado à revelia lembra imediatamenteo “ ponto de ordem” de Nicodemos em João 7:51: “Acaso a nossalei julga um homem, sem primeiro ouvi-lo e saber o que ele fez” ?O fato do Senhor ter sido levado à noite diante do ex-sumo sacerdote Anás (Jo 18:13), a farsa do julgamento no turno perante Cai-fás no palácio do sumo sacerdote (19-27), a sentença e execuçãosem um dia de intervalo, sem mencionar outros aspectos, foramabsolutamente contra o código de imparcialidade do Sinédrio.

Se perguntarmos o motivo sinistro dessa aceleração do processo de acusação e condenação, o Dr. Ginsburg nos diz que a única exceção a todas as tolerâncias legais acima mencionadas foi

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 “aquele que se apresentou como o Messias, ou que desviou o povoda doutrina de seus pais. Alguém assim tinha de suportar todo o rigor da lei sem qualquer mitigação. Ele podia ser até julgado e condenado no mesmo dia ou noite.” O Dr. Ginsburg, porém, cita

como sua autoridade para isto o Tosefta Sinédrio x. talmúdico;mas os Toseftas, como mencionamos em nosso artigo sobre o Tal-mude, não passavam de adições, com datas posteriores à Mishnaoficial, completado no segundo século A.D.. E evidentemente duvidoso que qualquer omissão especial dos regulamentos nesse sentido tivesse sido posta em prática antes daqueles líderes judeus violarem vergonhosamente o código de seu próprio Sinédrio na con

denação ilegal do Senhor Jesus.De qualquer modo, era ilegal por parte do Sinédrio reunir-se no palácio do sumo sacerdote (Jo 18:15) em lugar do seu próprio salão de conselhos, e mais ainda o fato do sumo sacerdoteusurpar a presidência na ocasião!

Talvez   esse comportamento tenebroso possa ser um tantoatenuado se dissermos que se tratava de uma convocação extraordinária  da assembléia e não de uma reunião determinada por estatuto — é certamente difícil pensar que homens como Gamaliel,Nicodemos e José de Arimatéia estivessem presentes; todavia,muitos dos membros devem ter estado lá, como indicado por Mateus 26:59 (apesar de alguns dos melhores manuscritos omitirem "anciãos” ). Não há um versículo mais trágico em qualquerponto da história de Israel: “Ora, os principais sacerdotes e todo o Sinédrio  procuravam algum testemunho falso contra Jesus, a fim

de o condenarem â morte." Pouco antes dessa época a autoridade de inflingir a pena ca

pital tinha sido retirada dos governantes judeus (o apedrejamentode Estêvão, mais tarde, foi ilegal); e eles foram obrigados a pedira aprovação de Pilatos para a crucificação. Mas, por que deveriameles reclamar tal morte? Desde tempos imemoriais as modalidades de morte judicial dos israelitas eram apedrejamento, morte nafogueira, decapitação e estrangulamento.

Depois da destruição de Jerusalém no ano 70 A.D., Jerusalém deixou de ser o centro administrativo cJa religião judaica; e oSinédrio, depois de várias mudanças, eventualmente localizou-seem Tiberíades. Seu poder declinou gradualmente até que desapareceu cerca de 425 A.D.

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Nosso Senhor tomou provavelmente como exemplo o presidente e setenta senadores do Sinédrio quando escolheu seus setenta representantes e colaboradores, como registrado em Lucas 10;assim como tinha em mente as doze tribos de Israel quando indi

cou os doze apóstolos. Sua escolha desses setenta foi talvez profética, entre outros significados, de que a autoridade da velha corte judaica estava de fato  desaparecendo agora a favor de novos “ setenta” sob a sua presidência.

EXCU RSOS SOBRE O TALMU DE J U DAICO

Há não muito tempo atrás um estudante, em resposta à pergunta: “O que é o Pentateuco?” escreveu: “O período entre aPáscoa e a Semana de Pentecostes”. Outro aluno respondeu auma pergunta sobre o Talmude, dizendo: “O Talmude foi um famoso rabino judeu do passado!” Eles talvez sejam dois extremosdo gênio criativo desperdiçado; todavia, servem de advertênciapara que nãç tomemos muita coisa como garantida ao lidar com “ novatos” . E possível qué  alguns que estão fazendo agora este

estudo estejam longe de saber realmente o que é o Talmude e como ele surgiu. Então, a sinopse que se segue pode ser útil.

O Talmude é a grande coleção de escritos que abrange retrospectivamente e determina largamente as leis religiosas e civis dopovo judeu; aqueles preceitos, regras, interpretações e instituiçõespelos quais (em adição ao Velho Testamento) eles são abertamente guiados. Trata-se de uma tediosa miscelânia de tratados e nó

tulas sobre assuntos de religião, filosofia, medicina, jurisprudência, história e os vários aspectos da moralidade prática. Nenhumadecisão poderia ser aceita como válida se contrariasse o significado oficial do Talmude: os judeus modernos “ liberais” , embora oconsiderem como uma obra venerável da antigüidade, dizem quenão tem autoridade final para a fé e a vida.

Ele se divide em duas partes: (1) a Mishna,  i.e., a Lei Oral;(2) a Gemara, i.e., comentários sobre a Lei Oral.

A Mishna

A Mishna,  ou Lei Oral (freqüentemente chamado de Segun'da Lei) é aquela copiosa agregação de regras e regulamentos que

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mediante os métodos de interpretação dos escribas foi cumulativamente deduzida da Lei Escrita de Moisés, principalmente durante o período intertestamentário.

 A origem tradicional A tradição judaica volta no tempo e alega que a Lei Oral foi

na verdade entregue juntamente com a Lei Escrita para completá-la e explicá-la. Era nisto que os escribas e fariseus dos dias de Jesus acreditavam. Junto com todos os preceitos, regulamentos ecerimoniais do Pentateuco, Deus dera a Moisés explicações rela

tivas à sua aplicação e suplementação adequada, a fim de seremtransmitidas oralmente. Essa é a crença comum até hoje entre os judeus tradicionalmente ortodoxos.

A passagem clássica sobre isto, na própria Mishna, diz: “Moisés recebeu a lei (oral) no Sinai e entregou-a a Josué, e Josué aosanciãos e os anciãos aos profetas, e os profetas aos homens daGrande Sinagoga” . (Nota: a “Grande Sinagoga” é um colégio ouassembléia tradicional de 120 homens que se formou depois dos

dias de Esdras, à qual os judeus atribuem uma parte importante naformação do Velho Testamento e na entrega da Lei Oral.) A Mishna ou Lei Oral fo i transmitida então pelos homens da “Grande Sinagoga” aos escribas ou rabinos que se seguiram, os quais por suavez a passaram fielmente de geração a geração.

Nós não cremos naturalmente em qualquer fantasia desse tipo, como se Deus desse a Moisés, juntamente com a Lei escrita,

esta lei “oral”. Nem podemos aceitar a história da “Grande Sinagoga” em sua forma tradicional judaica; embora concordemos prontamente que Esdras e seus companheiros eruditos tivessem muitoa ver com a forma do cânon do Velho Testamento e que Neemiasprovavelmente organizou uma assembléia desse tipo que pode tersido seguida de novas reuniões anuais. Como diz o Dr. Edersheim: “ Esdras deixou seu trabalho incompleto. Na segunda chegada deNeemias à Palestina, ele encontrou as coisas em completo estadode confusão, devendo ter sentido a necessidade de estabelecer algum tipo de autoridade permanente para supervisão dos assuntosreligiosos. Acreditamos que isto tenha sido a Grande Assembléiaou a Grande Sinagoga como é comumente chamada. E impossível determinar com certeza quem participou desta assembléia ou

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de quantos membros ela consistia. É provável que tivesse compreendido os principais sacerdotes, os anciãos e os ‘juizes’ — asúltimas duas classes incluindo os escribas,yse de fato essa ordem

 já estivesse organizada separadamente. E igualmente provávelque o termo Grande Assembléia se refira mais a uma sucessãode homens do que a um sínodo — a engenhosidade de épocasposteriores preencheu o cenário histórico com dados fictícios,nos espaços deixados em branco.” 

Quanto à tradição  judaica de que Deus transmitiu a Moisés a Lei Oral juntamente com a Escrita e que ela foi então transmitida do mesmo modo, essa tradição nasceu e cresceu, como a

própria Mishna, durante o período intertestamentário, na mentefértil dos escribas ansiosos para investir de santidade e autoridadea lei oral.

 A Verdadeira Origem da MishnaComo se desenvolveu, então, realmente a Lei Oral ou Mishnal  

E como ela veio a fazer parte do Talmude? Ela se originou no queconhecemos como Midrashim. E o qtteisso significa? Trata-se decomentários sobre a Lei e outras Escrituras do Velho Testamentoque começaram a ser feitos por volta da época em que o Remanescente voltou à Judéia depois do exílio babilónico. Quando os escritos de Moisés e dos profetas pré-exílio se tornaram ininteligíveispara a massa do povo, que então falava o aramaico, as explicaçõespúblicas das Escrituras precisaram ser modificadas, sendo namaioria das vezes feitas pelos “ doutores” ou “escribas”. O professor público freqüentemente se limitava a parafrasear as Escriturasno vernáculo aramaico: mas a tendência compreensível era expandir-se para a exegese e aplicação. Com o passar do tempo foi necessária a paráfrase do hebraico para outras línguas além do aramaico,pois os judeus se dispersavam cada vez mais entre os diferentespovos do mundo; isto levou a traduções ou versões na língua da

Caldéia, Síria e Grécia (sendo tais versões conhecidas como tar- guns).  Os primeiros comentários sobre as Escrituras vieram também a desenvolver-se em comentários mais definidos embora ainda orais, ou seja os Midrashim.

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Os HalachothEsses Midrashim,  ou comentários, quase inevitavelmente se

dividiram em duas categorias, a saber, os Halachoth e os Hagadoth 

(oth é um plural hebraico).Os Halachoth eram as regras ou preceitos obrigatórios deduzidos ou desenvolvidos a partir da Lei Oral, a fim de cobrir todosaqueles detalhes da conduta humana que a Lei Escrita propriamente dita não mencionava. Quando nos lembramos de que os judeus que voltaram haviam adotado a Lei de Moisés como a constituição escrita do estado e como a regra autorizada da vida pessoal, e que inevitavelmente surgiram novos e infindáveis problemas pessoais, podemos apreciar perfeitamente como isso deu lugar ao trabalho contínuo de um grande grupo de homens treinados que fizeram do estudo da Lei a grande vocação de suas vidas.E também fácil perceber como essas regras ou preceitos legais,essas extensões confiáveis da Lei Escrita que cobriam circunstâncias específicas, vieram a adquirir gradualmente uma importância equivalente ou até maior do que a Lei Escrita em si. Eles são

conhecidos coletivamente como as Exegese Halachic   ou “ Deduções da Lei” , ou como a “ lei tradicional”  distinta da “ Lei Escrita” de Moisés. Na medida em que o tempo passou e os Halachoth se expandiram, eles cobriram “ todo caso possível e impossível,entrando em cada detalhe da vida particular, familiar e pública;e com lógica férrea, rigor inflexível e análise das mais minuciosas,perseguiram e dominaram o homem, para onde quer que se voltas

se, colocando sobre ele um jugo verdadeiramente insuportável.” 

Os HagadothAlém dos Halachoth  havia os Hagadoth.  Os primeiros eram

prescrições legais, doutrinárias, obrigatórias, fixas, estáveis; enquanto os últimos consistiam de interpretações livres, homiléti-cas, discursivas, exortativas, prática e acompanhadas por ilustração, comentário, anedotas, ditados inteligentes ou eruditos, etc.

Os Halachoth  estavam confinados ao Pentateuco, enquanto osHagadoth  abrangiam as Escrituras como um todo. Eles contêm “ belíssimas máximas e afirmações morais de homens ilustres;explicações místicas atraentes sobre anjos e demônios, paraísoe inferno; o Messias e o príncipe das trevas; alegorias poéticas;interpretações simbólicas de todas as festas e jejuns; parábolas

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encantadoras; poemas nupciais espirituosos; orações fúnebres tocantes; lendas espantosas; resumos biográficos e característicosde personagens bíblicos e heróis nacionais; narrativas popularese notas históricas sobre homens, mulheres e acontecimentos antigos; pesquisas filosóficas; ataques satíricos aps pagãos e seus ritos; defesas hábeis do judaísmo, etc. etc.” . E de se admirar queessa coletânea de fatos e tradições sagrados e nacionais se tornasse muito mais interessante para o povo em geral do que as áridasproibições e permissões pertinentes aos decretos legais contidosnos Halachoth? Embora tanto os Halachoth  como os Hagadoth sedesenvolvessem a partir dos primeiros Midrashim,  ou comentá

rios, o termo Midrashim veio na verdade mais tarde a ser usadoapenas em relação aos Hagadoth.

Eventual Compilação no TalmudeOs Halachoth  foram transmitidos oralmente durante séculos,

sendo portanto também chamados Shematha,  indicando aquiloque era ouvido ou recebido, i.e., por aqueles na cadeia de tradição.

Colocá-los por escrito era considerada uma ofensa religiosa. Asúnicas coisas escritas por vários séculos foram obra de alguns rabinos eruditos que escreveram aqui e ali algumas dessa^leis, ou asindicavam por sinais ou insinuações em seus rolò's~"do Pentateu-co, só para ajudar a memória; sendo esses documentos chamadosde Rolos Secretos.  Foi entre 200 a.C. e 200 A.D. que a compilação, redação e rubrica dessa massa acumulada de informação ju-rídico-política e religiosa, os halachoth,  tomou forma. Aos pou

cos, as circunstâncias dos tempos indicaram a necessidade de fixidez e ordem, sendo então feitas coleções mais ou menos completas dos Halachoth.  O erudito Hillel (75 a.C. — 14 A.D.) fez umaprimeira tentativa, classificando os Halachoth  sob seis sedarim  ouordens (que ainda permanecem). Uma coleção muito mais completa é atribuída ao rabino Akiba (cerca de 135 A.D.). A compilação dos Halachoth  e Hagadoth  numa só obra, em forma final,

como a Mishna autorizada, e como se acha agora no Talmude, foirealizada pelo rabino Jehuda, que morreu por volta do final dosegundo século A.D. “ A linguagem da Mishna é a do hebraicofalado mais tarde, escrito em toda a sua pureza no conjunto, mascom pequenas inserções gramaticais em aramaico, e entremeadade termos gregos, latinos e aramaicos naturalizados.” 

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Divisões da MishnaA Mishna, como consta hoje do Talmude, acha-se dividida em

seis Sedarím  ou ordens, cujos títulos indicam seu assunto principal: (1) Sedar Zeraim —  a agricultura; (2) Sedar Moed — as festas;

(3) Sedar Nashim — as mulheres; (4) Sedar Nezikin —  a lei civil ecriminal; (5) Sedar Kodashim — as coisas sagradas; (6) Sedar Taha- roth — as purificações.

Estas seis ordens ou livros são divididos em tratados. Há 11tratados na primeira, 12 na segunda, 7 na terceira, 10 na quarta,11 na quinta, 12 na sexta — perfazendo um total de 63 tratados.Esses tratados subdividem-se em  perakim  (capítulos) — 525 ao

todo, que por sua vez ramificam-se em 4.187 mishnas (versículos)— pois a palavra mishna é usada para qualquer versículo da Mishnainteira.

Os Boraitas e ToseftasMas nem esta Mishna  oficial conseguiu incorporar todos os

Midrashim, ou preceitos e interpretações tradicionais. Muitos outros existiam, preservados em parte no Sifra, ou Comentário sobreLevítico; os 5/7/7 sobre Números e Deuteronômio; o Mechi/ta  sobre Exodo; e o segundo 5/7/7 sobre Números.

Além disso, temos os Toseftas, ou “Adições” , que surgiramlogo depois que a Mishna oficial foi completada. Existem Toseftas, ou “ Adições” , para 52 dos 63 tratados da Mishna.

Substância e Influência da MishnaPara uma compilação tão diferenciada e complexa, a Mishna

é então sistematizada com grande habilidade; mas em substânciaela trata os homens como crianças. Seus preceitos, suas proibições e permissões, formalizando os menores detalhes das obser-vâncias rituais, mantinha os homens permanentemente nas sim

ples letras do alfabeto em assuntos religiosos, espirituais e morais. Ela impedia o desenvolvimento da verdadeira teologia  e enchia a mente humana com regras pedagógicas positivas e negativas. Nas palavras do Dr. Edersheim: “Os halachach  indicavam omais minuciosamente possível toda ordenança legal obrigatória emquestões de conduta. Mas deixava o homem interior, a fonte das

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ações, intocado tanto com relação à fé como à moral. O que deveria crer e sentir estava sujeito principalmente aos Haggadah. O indivíduo tinha liberdade para manter ou propor qualquer ponto devista, desde que aderisse ao ensino e prática das ordenanças tradi

cionais... Assim sendo, o rabinismo não tinha um sistema de teologia: apenas aquelas idéias, conjeturas, ou fantasias concedidas pelos Haggadah com relação a Deus, aos anjos, demônios, homem,seu destino futuro e posição presente, e Israel, com sua históriapassada e glória vindoura. Que terrível massa de declarações conflitantes e superstições falsas, deturpação lendária das narrativase cenas bíblicas, incongruentes e degradantes: o próprio Todo-po-

deroso e seus anjos tomando parte nas conversas dos rabinos e asdiscussões das academias; mais ainda, formando uma espécie deSinédrio celestial, que ocasionalmente requer a ajuda de um rabino terreno. O miraculoso é absorvido pelo ridículo e até pelo revoltante. Curas, suprimentos e ajuda milagrosa, tudo para a glória dos grandes rabinos, que com um olhar ou palavra podem matar ou restaurar a vida. A uma ordem deles os olhos de um rivalcaem e são recolocados. Outrossim, tal era a veneração devida aosrabinos que R. Joshua costumava beijar a pedra em que R. Elieserse assentava e ensinava, dizendo: “ Esta pedra é como o Monte Sinai, e aquele que se senta nela é como a Arca” .

Leia tudo isto e depois tenha em mente que a Mishnarepre-senta as tradições correntes entre os escribas e os fariseus quando oSenhor se achava na terra. Sua influência era um peso raoj^to contra a nova mensagem do reino do céu que nosso Sefohor vitr^pro-

clamar.

A Gemara

Até aqui só tratamos da primeira parte do Talmude, i.e., aMishna;  mas existe uma segunda parte, a Gemara,  pois a Mishna 

é apenas uma área menor do tradicionalismo judeu. Como dissemos, a Mishna alcançou a sua completa padronização às mãos dorabino Jehuda perto do final do segundo século A.D. Daí pordiante, devido à obscuridade de muitas de suas regras, a própriaMishna  tornou-se objeto de elucidação e comentário. Assim como a Mishna pretende expor e expandir a Lei Escrita, ela deve

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agora ser explicada e completada! Foi o que aconteceu durante opeíodo dos amoraim, os expositores públicos da Lei Oral de cerca de 200 a 500 A.D. Durante esses três séculos surgiram comentários que abrangiam toda a Mishna.

 A Formação da GemaraEsses comentários contendo as “ discussões, ilustrações, ex

plicações e adições” provocadas pela Mishna em “ sua aplicaçãoou nas academias dos rabinos,” foram eventualmente reunidose classificados; sendo essas as coletâneas de comentários que for

mam a Gemara.  O significado do termo gemara é  “ aquilo que seaprende”, sendo portanto praticamente um sinônimo de ‘‘talmude”.  E bom notar esse fato, pois embora toda a obra conhecida como o Talmude Judaico abranja tanto a Mishna  como aGemara, geralmente, quando os próprios judeus falam do Talmude  eles estão indicando apenas a Gemara,  em separado da Mishna.

Duas GemarasExiste, no entanto, outro aspecto a ser mencionado. São

duas as Gemaras ou Talmudes: a Gemara  de Jerusalém e a daBabilônia. Elas receberam esse nome porque um veio das academias palestinas e o outro da Babilônia. E preciso ter em menteque desde a volta do remanescente para a Judéia, depois do exílio na Babilônia, os judeus na pátria eram minoria. A maior par

te de sua raça continuou como a “dispersão” . Na época em queJosefo escreveu (37-98 A.D.) não “havia nação no mundo ondenão houvesse parte do povo judeu”. Mas foi entre o Eufrates e oTigre, na região antes conhecida como Babilônia,  que as comunidades judias maiores, mais ricas e menos helenizadas permaneceram (veja nota afixada à lição número 4). Foi dali que saíram osmaiores mestres para restaurar e expor a Lei na Judéia — o grande

Esdras, antes do período intertestamentário, e o renomado Hillel justamente no final do mesmo. Depois da queda de Jerusalém em70 A.D., a tensão política mudou o verdadeiro centro do judaísmo rabínico para a Babilônia.

O Talmude de Jerusalém é o primeiro dos dois, embora muito menor, e apresenta as discussões dos amoraim  (expositores) pa

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lestinos desde cerca de 200 a 400 A.D. O Talmude Babilónico é mais ou menos quatro vezes maior e cobre mais de 36 dos 63tratados de Mishna.  Ele é cerca de onze vezes mais longo do quea própria Mishna e chega a quase seis mil páginas grandes, tendosido completado em algum ponto do ano 500 A.D. As duas Gemaras  começaram a ser conhecidas por esse nome a partir do século nove. Os judeus consideram o Talmude Babilónico a autoridade superior entre os dois. A concisão do Talmude de Jerusalém, porém, comparada com a prolixidade do babilónico, o protege de muitas fábulas, ficções e absurdos.

Caráter e EstiloNenhuma dessas Gemaras é  completa. Ambas de baseiam na

mesma Mishna,  mas diferem consideravelmente na Gemara.  Emambas, a Mishna é comentada sobre seríot/m, princípio por princípio. O  Dr. Edersheim diz: “Seria impossível transmitir umaidéia adequada do caráter dessas discussões. Se nos lembramos

das muitas brilhantes, belas e ocasionalmente quase sublimes passagens no Talmude, mas especialmente de que suas formas de pensamento e expressão tantas vezes nos trazem à mente aquelas doNovo Testamento, apenas preconceito e ódio poderiam levar àinjúria indiscriminada. Por outro lado, parece impossível que alguém que leia um tratado do Talmude, ou mesmo parte dele, pos-rsa compará-lo com o Novo Testamento, ou encontre em um a origem do outro.” 

O erudito bispo Lightfoot, falando da Gemara  babilónica,compensando, porém, o Dr. Edersheim, diz: “A quase invencível dificuldade de estilo, a grosseria terrível da linguagem e o surpreendente vazio e raciocínio sofístico dos assuntos tratados, torturam, vexam e cansam o leitor (os autores talmúdicos). Eles proliferam em toda parte com trivialidades, como se não quisessemser lidos; com obscuridades e dificuldades, como se não quisessem

ser compreendidos; de modo que o leitor precisa de paciência todo o tempo a fim de poder suportar tanto a insignificância de sentido como a rudeza de expressão.” 

Com essa queixa anglicana bem merecida, talvez devamosdeixar agora o Talmude, para que outros não comecem tambéma se queixar!

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JOSEFO E OS ESSÉNIOS

 “A doutrina dos essênios é esta: Todas as coisas são melhoratribuídas a Deus. Eles ensinam a imortalidade da alma e opinam

que devemos esforçar-nos para obter os prêmios da retidão; quando enviam o que dedicaram a Deus no templo, não oferecem sacrifícios, por terem purificações mais adequadas; por esta razão sãoexcluídos do pátio comum do templo, mas oferecem eles mesmosos seus sacrifícios; todavia, seu estilo de vida é melhor que o dosoutros homens, e dedicam-se inteiramente à agricultura. Tambémmerece nossa admiração o fato de excederem em muito os outroshomens que praticam a virtude e esta retidão: e na realidade, atal ponto, que não apareceram entre eles quaisquer outros homens,nem gregos nem bárbaros, nem por pouco tempo, que conseguissem prolongar por muito tempo sua estada entre os mesmos. Istoé demonstrado por aquela instituição deles, que não permitirá quenada os impeça de ter tudo em comum; desse modo o rico não goza mais de sua riqueza do que aquele que nada possui. Existem cerca de quatro mil homens que vivem deste modo, sem casar-se, sem

ter servos; julgando que a primeira situação tenta os homens a serem injustos e a última promove as brigas domésticas. Eles tambémnomeiam certos homens para receber suas rendas e os frutos dosolo; estes são os homens bons e os sacerdotes, que devem ter seucereal e alimento preparados para eles.” 

ALGUM AS PERGUNTAS SOBRE OPERÍODO INTERTESTAMENTÁR IO

1. Você pode citar o nome e a data de seis épocas sucessivas naJudéia durante o período intertestamentário?

2. Quando e como começou o culto rival em Samaria?3. Por que e como Alexandre o Grande favoreceu os judeus?

Que repercussões isso teve sobre os judeus?4. Quem foram os ptolomeus? Quem foi o segundo e qual dos

dois acontecimentos tornou seu reino notável?5. A revolta dos macabeus: por que, como e por quem foi ini

ciada? Por quem foi continuada?

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6. O que foi a dinastia dos hasmoneus? Como começou? Quemé geralmente considerado como o primeiro na dinastia? Como ela terminou?

7. Quem os romanos nomearam como procurador da Judéia em

primeiro lugar? Como se chamava seu filho ainda mais notável? De que raça era sua família?8. O testamento de Herodes dividiu o reino entre os seus três

filhos. Quem foram eles e quais os seus domínios respectivos?9. Como, ou por que, o exílio na Babilônia curou os judeus da

idolatria?10. Diga em uma ou duas sentenças o que era o judaísmo. Como

ele surgiu e desenvolveu-se? O que é a Lei Oral?11. Quando a sinagoga começou a aparecer e, na sua opinião, o

que deu origem à mesma?12. Qual o propósito básico da sinagoga? Quem era o chazzan?13. Quem eram os escribas? Qual a origem deles como classe? Em

que ponto erraram?14. Quem eram os fariseus? Quando apareceram pela primeira vez

como uma seita com esse nome?

15. Quais as causas originais e aspectos básicos da seita farisaica?16. Quem eram os saduceus? Você pode explicar a provável ori

gem do nome? Qual a perspectiva ou ponto de vista deles,em poucas palavras?

17. Quem e o que foram os essênios?18. Quem e o o que foram os herodianos?19. Quem e o que foram os zelotes?

20. De que forma os fariseus, saduceus e herodianos se refletemem nossos dias?

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O NOVO E O VELHO TESTAMENTOS

Lição n9 5

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No Velho Testamento temos uma interpretação da necessidade humana; e o Novo Testamento é uma revelação da provisãodivina. No Velho temos o desvendar do coração humano. No No

vo, o coração de Deus se desvenda e vemos como Ele respondeuà necessidade do homem através de Cristo.

G. Campbell Morgan

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O NOVO E O VELHO TESTAMENTOS

Quando idéias poderosas se apossam da mente dos homens,elas afetam toda a sua perspectiva mental, algumas vezes de forma revoJucionária. Talvez haja muito maior seriedade sombriado que humor artístico num panfleto publicado recentementeonde se afirma que depois de passar pela Idade do Gelo, Idade daPedra, Idade do Bronze, Idade do Ferro e Idade Industrial, estamos entrando agora na Idade Ideológica!

E verdade que hoje, numa escala muito mais vasta do quenunca antes, as idéias são o fator decisivo. Das idéias surgem asideologias. Hitler, com sua idéia predominante de governo mundial por uma única raça,  criou a ideologia nazista — com seus resultados fatídicos! Marx, com sua idéia vulcânica de governomundial por uma única classe,  gerou a ideologia comunista —

cujas conseqüências globais finais ainda estão por ser vistas. O líder russo Vishinsky declarou: “ Não vamos conquistar o mundocom nossas bombas atômicas, mas com nossas idéias, cérebro edoutrinas”.

Aqueles dentre nós que conhecem a palavra profética das Escrituras têm o consolo de saber que assim como os Hitler, Marx,Lenine, Trotski e Stalin morrem,  também jamais haverá qualquer  

monopólio global completo até que o Cristo ressurreto volte empessoa para estabelecer o Seu  reino universal. Mas esses líderes eideologias anti-cristãos não deixam de ser de todo modo supremamente eloqüentes na maneira em que exemplificam o poderdas idéias.  Que a história moderna venha a mostrar-nos comoé importante que os homens e nações tenham as idéias certas!

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Se nos afastarmos um pouco dessas considerações exteriorese mais amplas, voltando-nos para a nossa mente individual, descobriremos como é de suma importância que sejamos esclarecidos einspirados, dominados e energizados pelas idéias mais verdadeiras,

puras e elevadas! Toda a nossa vida é enriquecida ou empobrecida,dignificada ou vulgarizada, enaltecida ou degradada, abençoada ouamaldiçoada, pelas idéias que governam a nossa mente.

Com essas reflexões como base é que damos início à nossapesquisa do Novo Testamento. De todos os livros da terra, ele é omais maravilhoso em seu conteúdo, significado e mensagem. Suaspáginas são imortalizadas pela mais sublime de todas as idéias e

ideais. Essas idéias e ideais não são também apenas eticamente incomparáveis, mas “vivos” , cheios de uma vitalidade inesgotável.Existe neles uma força moral e espiritual gloriosa e explosiva quefaz novos homens,  abala nações  inteiras, provoca novas eras  eresultará um dia num novo mundo.

Por que  tudo isto? Porque essas idéias, ao contrário do nazismo e comunismo, são baseadas em fatos históricos indestrutíveis.Isto é, elas não são apenas  idéias, produtos de evolução filosófica,

criações do simples raciocínio humano — mas “ idéias que excedem” . Não se trata de simples teorias,  como as do nazismo e comunismo — são verdades resultantes de certezas históricas imperecíveis.

As idéias e ideais do chamado comunismo já se acham grosseiramente deturpadas. O “ comunismo” é hoje uma designação incorreta do que deveria ser apelidado de “ russianismo” ou “ sovie-

tismo”. Mas as verdades redentoras e transformadoras do NovoTestamento têm dentro em si uma chama divina inextingüível.Embora necessariamente estáticas em sua fixidez, elas se mantêmperpetuamente vitais e móveis, com relevâncias em incessante desenvolvimento e freqüentemente inesperadas no que diz respeitoàs mudanças na sociedade e ao passar dos séculos; sempre adiantadas no tempo, sempre à frente das últimas descobertas, revelandocontinuamente novas dimensões de significado e falando com nova

voz à novas gerações de peregrinos.

Esta sabedoria jamais será ultrapassada,Embora antiga, nunca envelhece;

Uma escola, um aprendizado, toda-suficiente,

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Ò NOVO E O VELHO TESTAMENTOS

Satisfazendo a busca superior e inata do homem;Cada nova geração repete seu conteúdo 

Em busca de nova orientação.

Verdades além do mais sábio dos sábios Brilham aqui, c/aras como a manhã,Enquanto muitas páginas profundamente proféticas 

 Abrangem milênios despercebidos,Que a razão finita jamais concebeu,

E eras ainda por nascer.

A maior necessidade deste nosso perturbado século vinte é

uma volta ao Novo Testamento. Ele pode fazer mais por nós doque todas as teorias e teoristas econômicos ou políticos. Vai direto ao âmago do problema humano — pois o coração do problemahumano é o problema do coração humano. Cria novos homens e,através destes, uma nova sociedade. Foi o que realizou no primeiro  século A.D. e é o que tem condições para fazer no vigésimo. Analisado superficialmente, o século vinte diverge bastante do pri

meiro, mas os fundamentos básicos permanecem. A mesma necessidade, o mesmo clamor ressoa e a mesma resposta imutável etoda-suficiente do Novo Testamento continua sendo dada. Essaresposta é JESUS CRISTO!

O Novo Testamento nos apresenta em primeiro lugar fatos, os fatos mais admiráveis de toda história. A seguir ele expõe asidéias  ou significados tremendos incorporados nos fatos. A partirdeles surgem as grandes verdades\  que salvam os homens, e os

ideais  elevados do cristianismo. E útil gravar na mente esta seqüência lógica da revelação do Novo Testamento: (1) Fatos, (2)Idéias, (3) Verdades, (4) Ideais.

A IDÉIA DOMINANTE - CUMPRIMENTO!

Devemos porém apresentar nossos critérios sobre “ idéias” e oNovo Testamento sob um novo aspecto. Ouvimos algumas vezes aadvertência para remover toda idéia preconcebida ao chegar aoNovo Testamento, deixando que ele fale às nossas mentes completamente abertas, como se estivesse sendo colocado em nossasmãos pela primeira vez. Talvez esse conselho seja valioso, especial

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mente quando dado a céticos ou incrédulos, a maioria dos quaisparece temerosa de dar ao livro pelo menos uma oportunidade

 justa; mas quanto aos outros a recomendação precisa ser estudada.

Nós que estamos fazendo estes estudos já damos valor àspáginas preciosas do Novo Testamento e desejamos apreenderseus significados mais significativamente. Queremos com certeza pôr de lado quaisquer idéias erradas e lê-lo com a “ mente aberta” por completo. Todavia, uma mente “aberta” não é necessariamente uma mente vazia.  Poderemos perder muita coisa se nosaproximarmos do Novo Testamento sem algumas idéias corretas.

Vamos mencionar aqui apenas uma que, se preservada desdeo início, irá conferir brilho e entusiasmo à nossa pesquisa do começo ao fim. A idéia é esta: O conceito característico que domina todos os escritos do Novo Testamento é o de CUMPRIMENTO.

Mateus, logo no início, estabelece este ponto e, para enfatizá-lo, inclui doze vezes a frase: “Para que se cumprisse” (1:22;2:15, 17, 23; 4:14; 8:17; 12:17; 13:35; 21:4; 26:56; 27:9, 35).Imediatamente, da primeira vez que registra um discurso público

do Senhor, ele relata como ponto-chave do mesmo: “ Vim... paracumprir”. Mateus não é porém o único a dar esta ênfase. Qual foia primeira palavra dita pelo Senhor ao dar início a seu ministériopúblico? Segundo Mateus fo i isto que disse: “ Porque assim nosconvém CUM PRIR” (3:15). Marcos registra: “O tempo estáCUMPRIDO e o reino de Deus está próximo” (1:15). SegundoLucas, lemos: "Hoje se CUMPRIU a Escritura que acabais de ou

vir” (4:21). João, como sempre acontece, contraria os outrostrês evangelhos e em lugar de apresentar-nos a primeira declaração do Senhor, oferece uma reação dos que primeiro o “ receberam” - “ACHAMOS!” (1:41). “ACHAMOS!” (1:45). Depoisdisso, mais de sete vezes, ele repete a nota-chave de Mateus: “ Para que se CUM PRA” (12:38; 13:18; 15:25; 17:12; 19:24,28,36).

Vemos isso de várias maneiras e em diversas frases atravésde todo o livro de Atos e das Epístolas. O Novo Testamento é ocumprimento do Velho; ou, para ser mais preciso, o CRISTO doNovo Testamento é o cumprimento. Ele é o cumprimento de tudo que os profetas viram, que os salmistas cantaram e os coraçõespiedosos esperaram.

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O Novo Testamento é a RESPOSTA do Velho. Sem ele o Velho é como um rio que se perde na areia. Seria revelação sem destino: algo previsto, mas nunca concretizado; promessa sem cumprimento; preparo sem consumação. Se o Novo Testamento não 

for a resposta do Velho, então este jamais  teve uma resposta enunca poderá  tê-la. Mas o Novo Testamento E a resposta. Ele é A   resposta. Ele é o VERDADEIRO, CLARO E GLORIOSO CUMPRIMENTO.

Vejamos como isso acontece.

 x  A SINFONIA INACABADA

Tente imaginar-se lendo ou estudando o Velho Testamentopela primeira vez. Vamos supor que você tenha um amigo judeuque lhe diga: “ Nossas Escrituras hebraicas são maravilhosas; vocêdeve lê-las”. E você responde: “ Suponho que quer dizer a Bíblia”.Ele replica: “ Não, a Bíblia é composta do Velho e Novo Testamentos. Nós judeus acreditamos apenas no Velho. Essa é  a nossaEscritura. Não se preocupe com o que esses cristãos chamam de

Novo Testamento. Leia o Veiho  Testamento e não apenas umavez; ele é maravilhoso demais” .

Você lê então o Velho Testamento uma vez e, naturalmente, a primeira seção que percorre é a Torá ou Lei — o “ Pentateu-co” . A coisa que mais prende sua atenção é a predominância dosacrifício de animais. Ele começa bem cedo em Gênesis 4, ocorrendo de novo nos capítulos 9, 12 e 22. Apresenta-se mais clara

mente em Êxodo, até que em Levítico surge toda uma organização de sacrifícios, ofertas, rituais e cerimônias. Em toda parteperdura a impressão que esses sacrifícios e cerimônias de algummodo indicam realidades além de si mesmos, embora isto não se

 ja em ponto algum explicado claramente. Todavia, você continualendo os demais livros, esperando encontrar uma explicação. Você viaja através dos livros históricos (Josué a Ester), os de filosofia (Jó a Cantares de Salomão) e os proféticos (Isaías a Malaquias);

mas apesar dos sacrifícios e cerimônias da Lei serem mencionadosrepetidamente, você chega ao final do Velho Testamento sem obter o esclarecimento que precisa e tem uma sensação decepcionante de que o Velho Testamento é um livro de CERIMÔNIASINEXPLICADAS.

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Mesmo assim, você concluiu que o Velho Testamento é naverdade o livro mais maravilhoso que já leu e que os judeus sãouma raça notável. Será verdade que os judeus são o “ povo escolhido” de Deus, com um elevado propósito e destino? Você deve então lê-lo totalmente de novo. Começa outra vez em Gênesis. Observa a aniquilação da civilização antidiluviana e a aliança de Deuscom Noé, prometendo que a raça humana jamais seria destrufda denovo pelas águas. A seguir encontra a aliança de longo alcance feita com Abraão em Gênesis 12, 15, 17, 22, renovada mais tardecom Isaque e Jacó. A seguir aprende como as doze tribos foramlibertadas do cativeiro no Egito pelo braço estendido do Senhor,

fundidas em uma nação no Sinai, recebendo uma Lei e ordenanças e constituindo uma teocracia. Você observa o povo da aliançainvadir e ocupar Canaã: o futuro está repleto de oportunidades.Mas, lamentavelmente, segue-se o Livro de Juizes com suas sórdidas decadências e servidões. O Primeiro Livro de Samuel recapitula a mudança de teocracia para monarquia. 1 Reis mostra a divisão do reino em dois. 2 Reis termina com a ida de ambos os reinos para o exílio. 1 e 2 Crônicas narram a trágica história. Em Es-dras, Neemias e Ester, um remanescente volta para a Judéia; mastrata-se apenas  de um remanescente. Os muros de Jerusalém sãoreconstruídos, mas o trono davídico não mais existe. Os judeussão uma minoria dependente na Judéia; fora dela eles foram dispersados nos quatro cantos da terra. Você continua lendo os livros de filosofia, mas eles nada falam a respeito disso; os profetastambém não fazem qualquer menção sobre os mesmos, exceto o úl

timo trio, Ageu, Zacarias e Malaquias, onde as coisas não vão nadabem com o remanescente que voltou. Você termina assim suasegunda leitura do Velho Testamento com um triste suspiro, achando que é um livro de PROPÓSITOS INATINGIDOS.

Uma coisa porém se destaca agora com poder cativante: emseus asDectos e s D i r i t u a i s    o Velho Testamento é certamente incomparável e você pode entender muito bem porque os judeus se orgu

lham dele. Na verdade vai ter de fazer nova leitura pois aqui, comcerteza, o Deus verdadeiro é revelado, assim como o caminho paradescobri-IO! Você começa outra vez em Gênesis. Este é com certeza o mais confiável e sublime relato das origens jamais escrito!Você examina de novo Êxodo, Levítico, Números, Deuteronômio.Esta é verdadeiramente a Lei mais maravilhosa que já foi dada!

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Mas o seu interesse especial  está agora concentrado nos livros filosóficos  do grupo poético, de Jó a Cantares de Salomão, pois sãoeles que tratam dos problemas dolorosos e pessoais do coraçãohumano. Irá sem dúvida encontrar neles a solução! Mas, isso acontece? Não. Embora sejam realmente esclarecedores, penetrantes,práticos, cheios de conselhos, lições e promessas consoladoras,de certa forma não contêm soluções claras ou finais para os terríveis problemas do pecado, do sofrimento, da morte e do além.Você continua gemendo com Jó: “Ah! se eu soubesse onde encontrá-Lo!’ Nos escritos dos profetas que se seguem você encontra os mais elevados pontos de ética e as mais surpreendentes pre

dições, mas eles não resolvem sua busca espiritual; e você terminasua terceira leitura do Velho Testamento percebendo igualmenteser ele um livro de ANSEIOS INSATISFEITOS.

Entretanto, mesmo agora, você não pode finalmente esquecer-se de suas páginas, pois ao lê-lo tornou-se também interessadona busca da realidade e, além disso, descobriu nele um certo fenômeno surpreendente que não se encontra em nenhuma outra religião ou filosofia debaixo do sol. Este aspecto singular impressionou você cada vez mais à medida que releu o livro. Trata-se da maravilha da profecia do Velho Testamento, especialmente a profeciano sentido de  predição,  Não pode haver qualquer dúvida sobre asua autenticidade. Previsões traçadas com ousadia, estendendo-sesobre o tempo, notavelmente detalhadas, a respeito do Egito, Assíria, Babilônia e outros grandes poderes foram expostas e depoiscumpridas com tanta exatidão que qualquer investigador sincero

precisa concordar, “ Este é o selo do Deus vivo sobre essas Escrituras” . Além disso, o cumprimento das profecias garante a consumação similar de muitas outras que se projetam para um futuroainda mais distante. O corpo central da profecia do Velho Testamento fala sobre o futuro como nenhuma outra literatura jamais ofez e o guarnece com a reparação mais compensadora e final. Tudose concentra na idéia de que ALGUÉM ESTÁ CHEGANDO, e

será a resposta de Deus ao clamor das eras. Muito antes, em Gênesis 3.15 o “descendente da mulher” deve “ferir a cabeça” da serpente. A promessa deste “ descendente” é renovada a Abraão,Isaque e Jacó, nos capítulos 12, 17, 22, 26, 49. Existem traçosdela em todos os rolos sucessivos do Velho Testamento até queem Isaías e seus companheiros, o fluxo de profecia messiânica

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chega ao ponto mais alto. Todavia, ao chegar a Malaquias, emboraimpérios tenham perecido, séculos marchado para a antigüidade eos videntes jazam em suas sepulturas, o Prometido não veio. “ Eisque Ele virá!” exclama Malaquias enquanto também ele, o último

dos profetas, desaparece por trás da cortina nevoenta do passado;mas é preciso que se retire, e você termina o Velho Testamentocompreendendo que é um livro de PROFECIAS NÃO CUMPRIDAS.

O Velho Testamento então, em seus quatro compartimentossucessivos, i.e., o organizacional, o histórico, o filosófico e o profético, é um livro de (1) CERIMÔNIAS INEXPLICADAS, (2)PROPÓSITOS NAO ATINGIDOS, (3) ANSEIOS INSATISFEITOS, (4) PROFECIAS NÃO CUMPRIDAS.

Terminada a Obra-Prima

Vamos supor agora que tendo lido o Velho Testamento vocêencontre um amigo cristão que o persuade a ler o Novo Testamen

to. O que descobre? Você o lê uma vez, duas, três, e todo o tempodescobre um livro de cumprimentos correspondentes. O primeirocapítulo de Mateus faz soar o refrão que logo se torna habitual, “ para que se cumprisse...” O Jesus que deve “ salvar o povo dos pecados deles” tem sua linha genealógica traçada diretamente até orei Davi e o patriarca Abraão, através de quem as duas grandes “ alianças com promessa” de Deus foram feitas com Israel. O seu

nascimento de uma virgem revela imediatamente o segredo deIsaías 7:14: “ Portanto o Senhor mesmo dará sinal: Eis que a virgem conceberá, e dará à luz um filho, e lhe chamará Emanuel” j|U significa “ Deus conosco” .

Depois disso você lê sobre o Jesus do Novo Testamento, cu jo nascimento, vida, morte, ressurreição e ascensão são registrados  historicamente nos evangelhos, interpretados espiritualmenteem Atos e nas Epístolas, e consumados  por antecipação em Apocalipse.

Em Sua morte vicária e auto-sacrifício expiatório, Sua ressurreição e ascensão, Seu sumo sacerdócio presente nos céus, e Suavolta prometida, você observa as cerimônias inexplicadas  da Leiganharem repentinamente novo significado. Todas elas apontam

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O NOVO E O VELHO TESTAMENTOS

para ELE — como por exemplo as cinco espécies diferentes deofertas em Levítico, as ordenanças do tabernáculo, a entrada anualdo sumo sacerdote no Santo dos Santos para aspergir o sangue daaliança, e o fato dele sair mais tarde em suas vestes gloriosas para

abençoar o povo.Ao ler sobre o nascimento do Salvador e ouvir o anjo anunciar: “ Este será grande e será chamado Filho do Altíssimo; Deus, oSenhor, lhe dará o trono de Davi, seu pai...” , você compreende queas histórias não cumpridas do Velho Testamento estão sendo retomadas e encontrando cumprimento nELE.

Quando lê os ensinamentos de Jesus sobre o amor e paternidade de Deus; ao ouvi-lo dizer “ Vinde a mim todos os que estaiscansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei” ; ao vê-IO não apenas subindo aos céus mas enviando o Espírito Santo e vindo assima habitar no coração de seu povo remido — você testemunha osanseios insatisfeitos  dos livros de filosofia do Velho Testamentoencontrando plena realização.

Quanto às profecias não-cumpridas da Cristologia do VelhoTestamento, desde o dia de seu nascimento milagroso em Belém

até o apogeu de sua ascensão miraculosa no monte das Oliveiras,Ele está cumprindo essas predições da antiga dispensação. Elealega ser o seu cumprimento  — como  quando diz na sinagoga: “ Hoje se cumpriu a Escritura que acabais de ouvir” (Lc 4:21). Ele prova  ser o seu cumprimento pela sua vida sem pecado e ministério confirmado por milagres e, mais ainda, em sua morte no Calvário. Sobre quem passagens como Isaías 53 poderiam ser escri

tas senão a respeito dEle a quem João Batista apontou, exclamando: “ Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo!” ?

O Jesus do Novo Testamento é realmente o cumprimento dacerimônia, história, filosofia e profecia do Velho Testamento. NoVelho Ele está vindo.  No Evangelho Ele veio  em humanidade visível. Nas Epístolas Ele chegou através do Espírito Santo invisível.No Apocalipse Ele volta na glória do império mundial. Os cumpri

mentos de seu  primeiro  advento provam a divindade da profeciado Velho Testamento e eles garantem que o que resta a ser cumprido, tanto no Velho como no Novo Testamentos, irá certamenteocorrer quando chegar a hora predestinada.

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Louvemos ao Deus de luz  Cuja revelação pura 

Faz cessar a noite sombria da superstição 

Pela verdade divina e segura;Cuja graça auto-manifestada,Iniciada através dos patriarcas,

Brilha aaora em toda plenitude.Como um reflexo da face de seu Filho encarnado.

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O NOVO TESTAMENTO COMO UM TODO

Lição nQ 6

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Devemos lembrar primeiramente que o Novo Testamento nãofoi dado e recebido como um volume, masvque foi crescendo em conjunto através do reconhecimento e uso. A medida que os várioslivros foram formando uma unidade, seria de esperar que houvesse

muitos tipos de classificação, mas que no geral tendessem a colocar-se em seus relativos lugares, segundo a lei de ajuste interno, emlugar de qualquer outro princípio que pudesse exercer uma influência temporária, como por exemplo o da dignidade relativa dosnomes dos autores, ou da sua produção ou reconhecimento cronológico. De fato, esta tendência se manifesta imediatamente, desdeo primeiro período a que nossas pesquisas retrocedem através dos

manuscritos existentes, antigas listas dos livros sagrados e pelos arranjos habituais das versões mais antigas... A ordem em que lemoshoje os livros do Novo Testamento é aquela que, em conjunto, elestenderam a assumir; e o arranjo interno geral da coleção inteira,formando para nós um curso consecutivo de ensino, tem sido suficientemente reconhecido pelo instinto e fixado pelo hábito daIgreja.

T. D. Bernard

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O NOVO TESTAMENTO COMO UM TODO

O NOVO TESTAMENTO é o livro mais vital do mundo. Seutema  supremo é o Senhor Jesus Cristo. Seu objetivo  supremo é asalvação dos seres humanos. Seu projeto  supremo é o reinado final do Senhor Jesus num império sem limites e eterno.

Cristo é o  tema de suas páginas. Não é Ele também o tema

do Velho Testamento? Sim, mas não da mesma maneira nem coma mesma exclusividade. Aquele que figura no Velho como o Cristoda profecia,  emerge agora no Novo como o Cristo da história.  Eleque é a super-esperança do Velho é o super-fato do Novo. A expectativa no Velho tornou-se a experiência no Novo. A previsão transformou-se em provisão.  O que era latente ficou agora patente. Ode há muito predito está hoje presente.

Isto se aplica especificamente aos quatro evangelhos, que vamos estudar a seguir. Da mesma forma que Jó exclamou, quandofez sua nova descoberta de Deus: “ Eu te conhecia só de ouvir, masagora os meus olhos te vêem” (Jó 42:5), nós podemos dizer o mesmo, ao nos encontrarmos reverentemente com o Cristo dos quatroevangelhos. Nas Escrituras anteriores ouvimos falar dEle “ só de ouvir” , mas agora “nossos oihos O vêem”. Antes disto, nós O vimos “através de um espelho, obscuramente” , enquanto agora “ vemosface a face”.

Por esta razão os quatro evangelhos são o ponto crucial detoda a Bíblia. Eles são o foco histórico da profecia do Velho Testamento, e a base factual da teologia do Novo Testamento. Elesnão são o término  da profecia do Velho Testamento, grande par

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em que Deus se expressou em tal revelação escrita por meio deinspiração  sobrenatural, guardando-a através dos séculos pela

 preservação  providencial, Ele poderia moldar e controlar suaintegração  final. Para nós, a ausência de desígnio predetermina

do nesses oráculos divinos parece tão inconcebível quanto a presença  do mesmo parece a outros! Há muito de verdade nafrase: “Deus jamais deixa o trabalho inacabado” !

Os Evangelhos e os AtosAo virarmos as primeiras páginas do Novo Testamento en

contramos cinco escritos inteiramente narrativos, a saber, Mateus,Marcos, Lucas, João e os Atos dos Apóstolos. Estes formam umgrupo separado, por se tratar dos únicos livros históricos do NovoTestamento, sendo fundamentais para tudo o que vem a seguir.

Epístolas da Igreja CristãO final repentino do livro de Atos nos leva a uma série de

cartas. As nove  primeiras se reúnem indiscutivelmente num grupo. Todas elas saíram da pena do mesmo autor humano, o apóstolo Paulo. Trata-se de cartas de ensino e instrução na verdade eprática cristãs; i.e., são principalmente doutrinárias.  Todas elassão dirigidas às assembléias cristãs, ou “ igrejas” , sendo corretamente chamadas de “ Epístolas da Igreja Cristã” ; i.e., Romanos1 e 2 Coríntios, Gálatas, Efésios, Filipenses, Colossenses, 1 e 2

Tessalonicenses.

Epístolas PastoraisDepois das “ Epístolas da Igreja Cristã” continuamos nos es

critos de Paulo, mas as cartas restantes não são dirigidas a igrejas.Elas foram escritas a indivíduos, em número de quatro.  As duasprimeiras são para Timóteo, um dos filhos espirituais de Paulo,

que era então pastor sobre uma congregação cristã. A terceira éenviada a Tito, de quem pode ser dito o mesmo que Timóteo. Aquarta é para Filemom, um líder cristão em Colossos, que também dirigia uma “ igreja” que se reunia em sua “ casa” . Estas, especialmente as três primeiras, são conhecidas como “ Epístolas Pastorais”.

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Epístolas Cristãs HebraicasExistem ainda mais nove escritos no Novo Testamento: He

breus, Tiago, 1 e 2 Pedro, 1, 2 e 3 João, Judas, Apocalipse. Estes são também cartas  de vários tamanhos. Até o último e maislongo, embora conhecido geralmente como “ Apocalipse” é narealidade uma carta ou epístola. E uma epístola do próprio Senhor Jesus (embora transmitida pelo apóstolo João), como indicam suas palavras de abertura: “ Revelação de  Jesus Cristo,  queDeus lhe deu para mostrar aos seus servos as coisas que em brevedevem acontecer, e que ele, enviando por intermédio do  seu anjonotificou  ao seu servo João, o qual atestou a palavra de Deus e o

testemunho de Jesus Cristo..."   (Áp 1:1, 2).Não é preciso examinar muito minuciosamente essas nove

cartas para ver que não se trata apenas de um acréscimo heterogêneo às epístolas da “ Igreja Cristã” ou “ Pastorais” . Ela se combinam homogeneamente num grupo final e completo. Essas cartas não são dirigidas, porém, às igrejas cristãs como as nove primeiras. A primeira delas, i.e., Hebreus  é dirigida à nação judaica propriamente dita. A seguinte começa: “Tiago, servo de Deus edo Senhor Jesus Cristo, às doze tribos que se encontram na Dis

 persão” ,  mediante cujas palavras o escritor evidentemente indicao povo hebreu. Depois vem Pedro, que inicia com a frase: “ Pedro,apóstolo de Jesus Cristo, aos eleitos que são forasteiros da Dispersão, no Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia e Betínia”, onde os judeusda “ Dispersão” são de novo salientados. A primeira epístola deJoão, que segue à de Pedro, nao contém saudação inicial. Sua se

gunda e terceira cartas, porém, são ambas endereçadas a indivíduos judeus. Seu ponto de vista inter-judeu se revela em comentários como o de 3 João 7, onde o apóstolo menciona certos servosdo Senhor como tendo saído “ nada recebendo dos gentios” . João

 jamais teria mencionado desse modo os gentios caso estivesseescrevendo a eles.

Essas nove últimas epístolas do Novo Testamento são indis

cutivelmente diferentes das nove “ Epístolas da Igreja Cristã” . Elasnão são dirigidas às igrejas cristãs locais e nada existe nelas sobre aIgreja, i.e. a Igreja mística — o corpo, noiva e templo místicos doFilho amado de Deus, exceto em formas anônimas e visionárias nofinal de Apocalipse. Todo esse ensinamento sobre a igreja mística,que é tão precioso ao povo do Senhor, encontra-se nas “ Epístolas

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O NOVO TESTAMENTO COMO UM TODO

da Igreja Cristã” . Não se engane, elas são "cristãs”  e algumas dasmais magnificentes doutrinas cristãs são tratadas nas mesmas. Elassão porém distintamente hebraicas em sua adaptação e aplicaçãoprincipal. Seu ponto de vista, abordagem e atmosfera faz certa

mente delas “ Epístolas Cristãs Hebraicas”.

Um Arco de Verdade EscritaNão é então facilmente perceptível que os 27 oráculos de

nosso Novo Testamento, em seus vários grupos, se reúnem, por assim dizer, em uma estrutura de revelação escrita em forma de ar

co?  A princípio, os quatro Evangelhos e os Atos lançam uma lajeou cinco degraus básicos de fato histórico debaixo de nossos pés.A seguir, subindo à esquerda e à direita, como dois pilares lateraisbelamente ornamentados num arco magnífico, acham-se os doisgrupos de nove epístolas — as “ Epístolas da Igreja Cristã” e as “ Epístolas Cristãs Hebraicas” , vindo o todo estruturar-se à semelhança de um arco, alcançando o seu vértice máximo no resumotranscendente da verdade do evangelho: “ Evidentemente, grandeé o mistério da piedade: Aquele que foi manifestado na carne, foi justificado em espírito, contemplado por anjos, pregado entre osgentios, crido no mundo, recebido na glória” (1 Tm 3:16).

O famoso “Arco de Mármore” de Londres, o “Arco do Triunfo ” de Paris, o antigo Arco de Tito em Roma — o que são elescomparados com este arco literário da revelação divina, traduzidaem termos de verdade salvadora e bênção eterna?

>

Inter-correspondênciasEsta estrutura em arco do Novo Testamento introduz um as

sunto fascinante que poderia absorver muitas páginas. Iremos considerar em nosso próximo estudo os inter-relacionamentos contrastantes e que se completam nos quatro Evangelhos; indicaremos

também mais tarde a uniformidade latente e as correspondênciasmútuas nos dois pilares de nove epístolas. Mas, é bom notar novamente aqui alguns dos paralelos comparativos e contrastantes maisóbvios entre esses dois grupos de epístolas.

Ambos começam com um grande tratado doutrinário — numdeles a Epístola aos Romanos, de Paulo; no outro, a Epístola aos

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Hebreus. Os dois grupos terminam com o desvendar da volta doSenhor e de “ coisas que devem acontecer — num caso o par deepístolas aos Tessalonicenses; no outro, o Apocalipse, ou Livrode Revelação.

No início de um dos grupos, a Epístola aos Romanos nosmostra que a salvação através do Senhor Jesus Cristo é o único caminho. No começo das outras nove, a Epístola aos Hebreusnos mostra que a salvação através de Jesus Cristo é o melhor  caminho — existe um Redentor   “melhor” , Jesus; um sacrifício "melhor”, i.e., o Calvário; e um  princíp io  “melhor”, i.e., a fé.No final do primeiro grupo, as cartas aos Tessalonicenses mostram-nos a segunda vinda de Cristo especialmente com relaçãoà Igreja.  No fim das outras nove, o Livro de Apocalipse nos mostrao segundo advento de Cristo em relação a Israel  e às nações.

Iremos falar mais sobre isto mais tarde; mas o que dissemosaqui terá indicado que o Novo Testamento não é absolutamenteuma corrente de escritos sucessivos com pouca ou nenhuma referência à questão de ordem. Existem divisões e agrupamentos estabelecidos, um padrão geral supervisionado sobrenaturalmente e

uma significativa estrutura em arco.

Desígnio e Desenvolvimento

A fim de nossa figura do arco não sugerir algo apenas estático, devemos acrescentar aqui que existe um movimento ordenado

que se pode observar no Novo Testamento, o qual vem a combinar-se com o arranjo grupai estabelecido das 27 partes. Este movimento foi adequadamente chamado de “ progresso da doutrina” .Além do desígnio há desenvolvimento. Além do padrão há progresso.

Este “ progresso da doutrina” do Novo Testamento não podepermanecer duvidoso para o leitor diligente e perspicaz. Ele é ainda mais notável porque, em contraste, os escritos não se integramem qualquer progresso formal segundo o calendário.

Os quatro evangelhos demonstram imediatamente que a sucessão simplesmente de acordo com datas, embora jamais deliberadamente violada, fica sempre sujeita a um padrão e propósito superiores. Nos manuscritos e versões antigos, assim como nas listas

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O NOVO TESTAMENTO COMO UM TODO

dos livros do Novo Testamento, os quatro evangelhos quase sempre ocorrem na ordem conhecida: Mateus, Marcos, Lucas, João;mas nem nessa nem em qualquer outra ordem eles formam as quatro partes de uma narrativa consecutiva. Embora Marcos siga-se a

Mateus, ele não continua onde Mateus termina, mas volta ao início, começando com o ministério de João Batista. Lucas segue-se aMarcos, mas começa antes ainda que Mateus, contando-nos não sósobre o nascimento do Senhor, mas também sobre os pais de seuprecursor.

Se abrirmos o livro de Mateus, em particular, logo descobriremos que ele está mais interessado em apresentar as declarações eatos do Senhor em agrupamentos propositais do que em datas progressivas, o primeiro grupo de declarações sendo o Sermão doMonte, nos capítulos 5, 6, 7; e os primeiros grupos de obras sendo os milagres nos capítulos 8 e 9. O milagre registrado  primeiropor Mateus não foi o primeiro realizado  pelo Senhor; enquantoJoão, que é o último do “quarteto santo”, começa com o primeiro milagre, i.e., o de Caná na Galiléia.

O mesmo acontece com as epístolas. Sua ordem não é deter

minada pela data da composição. Quase uniformemente as nove “ Epístolas da Igreja Cristã” vieram até nós em sua ordem presente; todavia, 1 e 2 Tessalonicenses que foram escritas em primeirolugar, se acham em último; enquanto Romanos, escrita quase nofinal, está no começo. As nove “ Epístolas Cristãs Hebraicas”mostram desconsideração similar por qualquer ordem estrita comrelação à data.

Todavia, a simples comparação desta falha em seguir a seqüência estrita do fato  cronológico, mostra que existe uma seqüência consistente de verdade reveladora. Em suas principais divisões, o Novo Testamento demonstra um “progresso de doutrina”que, aparentemente, é talhado para nossa instrução. Os váriosexemplos que citamos aqui devem ser tomados como representativos de muitos outros.

 A Ordem dos EvangelhosEste “ progresso de doutrina” se manifesta nos quatro Evan

gelhos. Antes de podermos dizer uma palavra sobre o mesmo, porém, seremos interrompidos pela objeção: “ A ordem atual do;

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quatro Evangelhos não é puramente acidental? Como pode entãoexistir qualquer ‘progresso’ pre-designado ou geral? Não será eleapenas imaginário?” O falecido T. D. Bernard respondeu a essaobjeção de uma vez por todas: “Quando este arranjo particular

de livros que podem ser, e freqüentemente o foram, dispostos deoutro modo, é tratado como abrangendo um curso de ensino progressivo, talvez pareça que uma tensão descabida seja colocada numa ordem acidental que alguns podem considerar como poucomais que um hábito do impressor e capista... (mas) se a ordem conhecida exibe realmente uma seqüência de pensamento e um avanço confirmado de doutrina, então os vários documentos estão em

seus lugares corretos segundo o tipo de relação mais elevado  quepodem manter uns com os outros” . O fato é que se esses quatroEvangelhos fossem submetidos a qualquer um de nós, com o pedido de que os estudássemos de modo a arranjá-los na ordem maisvantajosa e progressiva, seríamos obrigados a colocá-los na mesmasucessão por eles assumida no Novo Testamento.

Sua ordem atual tem uma exatidão interna, sendo evidentemente deliberada por um controle superior ao humano. Como poderia Mateus estar em outro lugar senão o primeiro, ou João emoutro senão no final? Quem pode deixar de ver que os quatro sãodivididos em três e um (como foi sempre  reconhecido) — os trêsprimeiros nos preparando para a interpretação completiva do quarto? Os três primeiros nos familiarizam com os aspectos visíveis damagnífica manifestação e nos preparam para a apresentaçãoapoteótica em João, onde o mistério interior   e a majestade do

mesmo nos são interpretados.O livro de Mateus tem de ser necessariamente o primeiro, pois

sua especialidade é a ligação do Evangelho com as Escrituras Hebraicas, introduzindo assim o Novo Testamento como o cumprimento do Velho. “ Para que se cumprisse o que fora dito” é seurefrão característico e ele adapta claramente sua narrativa aos judeus, de quem Cristo descendeu na carne.

Da mesma forma Marcos é o seguinte e depois Lucas. Paraque o relato de Mateus não pareça sugerir que o evangelho é apenas um desenvolvimento da fé judaica e não originário dela (algunsde bom grado o teriam limitado assim), Marcos e Lucas seguemcom seus registros em que, para citar palavras adequadas, nossoSenhor é “desengajado daquelas ligações muito aproximadas da

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vida e pensamento judeus que o primeiro evangelho se empenhaem expôr”.

Segundo informações calcadas em algo mais do que a tra-dição, Marcos foi ajudante de Pedro, como Lucas foi de Paulo.

Os Primeiros Pais Cristãos  citam Marcos como amanuense  de Pe-dro, ou mesmo um tradutorcontinuador de um “Evangelho” ori-ginal escrito pelo próprio Pedro em aramaico.

A ligação de Marcos com Pedro, e Lucas com Paulo, se evi-dencia indiscutivelmente nos registros de ambos. Foi Pedro quemprimeiro “abriu a porta da fé para os gentios” (A t 10, com 15:7);Pedro permaneceu, todavia, o “apóstolo da circuncisão” (Gl

2:8, 9), enquanto Paulo começou imediatamente como o “após-tolo aos gentios” (Rm 11:13, etc.). Do mesmo modo, o Evange-lho de Marcos se distancia da adaptação cuidadosa de Mateus. Elenão inclui uma genealogia da descendência abrâmica e davídica doSenhor. Somente duas vezes (em comparação com as doze de Ma-teus) encontramos a frase “para que se cumprisse”. O Senhor nãoé visto tanto cumprindo o passado corrio governando o presente.Ele é o Realizador de prodígios, com poder sobre os reinos visí-

veis. Este é um Evangelho de ação  e sua primeira abordagem in-tencional parece dirigirse aos romanos e não aos hebreus. O evan-gelho foi perfeitamente adaptado a convertidos romanos como osde Atos 10 e pode ser resumido muito bem nas palavras de Pedroa eles: “Deus ungiu a Jesus de Nazaré com o Espírito Santo e po-der, o qual andou por toda parte, fazendo o bem e curando atodos os oprimidos do diabo” (At 10:38).

Embora Marcos se afaste das características hebraicas maisexclusivas de Mateus e esboce um J esus realizador de milagres comimpressionante significado para os gentios, no entanto, é Lucasque no sentido mais amplo o apresenta como o “ Filho do Homem".  Em Lucas a porta se abre por completo. Nele encontramosa simpatia humana mais abrangente, a perspectiva mais liberal, eum Salvador apresentado de forma a prender a atenção dos gentiosem geral. O próprio prefácio nos prepara para isto. Os outros evan-gelistas, segundo a forma hebraica, começam sem introdução, en-quanto Lucas não só inclui no prefácio uma dedicatória à maneiragrega e no estilo clássico, como também dedica seu evangelho a umgentio convertido. A partir desse ponto, de um modo que não po-demos detalhar aqui, mas tão notável que qualquer leitor cuidado-

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so poderá distinguilo, a narrativa expõe, como nenhuma das ou-tras o faz, a humanidade comum do Homem perfeito com todaa família humana e sem considerar as distinções nacionais ou a an-tiga separação entre judeu e gentio.

Paralelos do ProgressoEste “progresso” exterior de Mateus até Marcos e Lucas, cor-

responde à afinidade racial dos três escritores. Mateus, tambémchamado de “ Levi, filho de Alfeu,” era israelita e um parente pró-ximo do Senhor. Marcos, ou “J oão Marcos” (At 12:12), era meta-

de judeu e metade gentio; sendo essa talvez a razão de seu nome J oão (hebraico) e sobrenome Marcos (grego). Lucas era gentio, co-mo o seu nome grego, estilo de escrita grego e as referências dePaulo a ele parecem confirmar, embora seja naturalmente muitoprovável que seus pais fossem prosélitos do judaísmo.

Este “progresso” externo do Evangelho, do judeu Mateus,para o judeugentio Marcos e depois para o gentio Lucas, se com-

para com os três estágios de expansão nos Atos dos Apóstolos. Oevangelho é primeiro pregado entre os judeus (A t 1:7). A seguir,ele se espalha através de Samaria, chega ao oficial etíope e irrom-pe com efusão pentecostal sobre a casa do gentio (romano) Cornélio (812). Finalmente, por meio das viagens missionárias de Pau-lo ele é propagado livre e completamente a todo o mundo gentio(1328).

O Quarto EvangelhoSe nos três Evangelhos sinóticos, a apresentação do Cristo his-

tórico mostra esses estágios progressivos, desde seu aspecto judaicooriginal até sua adaptação gentia mais universal, o quarto evange-lho é o seu apogeu aperfeiçoador e protetor. Aquilo que foi corre-tamente inferido  nos relatos dos três é agora nitidamente declarado  na recapitulação do quarto: o J esus histórico é o Filho eterno.

Aquele que é o Messias de Israel, é também o próprio Deus J eová.Aquele que é o Salvador do mundo é também o Criador do mun-do. Ele não apenas ensina a verdade: Ele é a verdade. Ele transmi-te vida porque Ele é a vida.

 J oão escreveu seu evangelho quando os três primeiros escri-tores já haviam morrido. Ele foi providencialmente mantido vivo

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com um propósito que mostrouse realmente necessário. Logo de-pois dos dados completos da manifestação histórica terem sidofixados e preservados por Mateus, Marcos e Lucas, surgiram con-trovérsias sutis em que uma teosofia especulativa começou a ma-

nipular a pessoa de Cristo. Era o momento — tempo suficientedepois dos fatos históricos terem circulado, mas cedo o bastantepara responder desde o início a todos esses desvios da verdadei-ra doutrina de Cristo — para um endosso e interpretação autori-zados dos três Sinóticos. Isso exigia a voz de uma testemunha ocular   ainda viva que pudesse dizer: “O que temos visto e ouvido”;mas a testemunha ocular precisava ser também um apóstolo  que,

além de suprir desse modo a confirmação dos sentidos, pudesseendossar e interpretar os fatos com autoridade permanente paraa igreja. O idoso J oão era testemunha ocular e apóstolo. Assimsendo, como dissemos, o quarto evangelho tanto “completou”como “protegeu”.

Existem muitos outros aspectos desse “progresso” nosquatro evangelhos, mas temos de deixálos por enquanto. Porém,deve ser notado que esses estágios de progresso nos evangelhos,assim como outros a serem mencionados mais tarde, se constituemapenas por diferença de grau. E surpreendente como se mantêmessencialmente comparáveis embora haja diferença de aspecto. Po-demos dizer em verdade: “Nada é expandido em um livro que nãotenha sido confirmado no outro. E possível tomar qualquer idéiaque nos pareça distinta em um deles e sempre encontraremos emtodos os outros uma forte expressão da mesma. O judaísmo de

Mateus se dirige ao chamado dos gentios; e o espírito universalde Lucas retrocede à sua origem judia. J oão, ao expor a naturezadivina de Cristo, mostra apenas o que os demais implicaram emmuitos pontos e afirmaram freqüentemente.” Eles constituemum fenômeno literário inigualável de a7vergência e convergênciaprimorosamente equilibradas.

O Livro de A tosPodemos verificar somente de passagem a continuação

deste progresso em Atos e nas Epístolas.O progresso geográfico  no livro de Atos já foi notado. Ele

segue o curso delineado previamente pelo Senhor no capítulo

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1:8: “Recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, esereis  minhas testemunhas tanto em J erusalém, como em todaa Judéia eSamaria,  e até aos confins da terra”.

Quanto ao progresso doutrinário  em Atos, será que já hou-ve um desenrolar mais maravilhoso de acontecimentos e verdadesandando lado a lado? Começamos com a repetição da oferta do“reino” aos judeus,  e terminamos com “ igrejas” sendo plantadasatravés das terras dos gentios; desde o início até o fim, sob o con-trole do Senhor agora invisível, é realizada a evolução da doutrina  evangélica. O Senhor visível nos evangelhos achase agora invi-sível, mas em todo ponto necessário há uma intervenção indiscu-

tivelmente sobrenatural, para que a direção da história possa servista como o selo da doutrina.Os Atos devem seguir-se  imediatamente aos quatro Evange-

lhos, pois precisamos ver os fatos externos da vida, morte, ressur-reição e ascensão do Senhor em sua primeira significação para os

 judeus, agora completados. Do mesmo modo, os Atos devem preceder   as Epístolas da Igreja Cristã, pois somos assim preparadospara observar os fatos de Cristo em seu significado mais amplo pa-ra a igreja.

Quando a história se inicia, o J esus crucificado, ressurreto, eelevado aos céus é realmente o Messias  de Israel: mas, cada vezmais, à medida que a história se desenrola, Ele é o Salvador   domundo. De fato, em quase todas as páginas iniciais lemos "Primeiro pára os j u d e u s todavia, cada vez mais legivelmente, quandoas páginas finais são folheadas, descobrimos "e também para os 

gentios”.  Os sinais e milagres que enchem as primeiras páginas edepois decrescem são mesmo maravilhosos: mas, ainda de maiormagnificência, são as verdades salvadoras interiores que se expan-dem a cada passo até o fim.

O reino messiânico foi agora oferecido duas vezes e duas ve-zes rejeitado. Nos evangelhos ele foi ofertado pelos lábios deCristo, Ele mesmo, mas Israel o rejeitou e pregou J esus na cruz.

Agora, em Atos, ele é de novo oferecido pelo Cristo crucificado,que ressuscitou e subiu aos céus, através de mensageiros inspira-dos pelo Espírito e confirmados por milagres. Israel porém o re-

 jeita novamente. Os judeus na pátria são os primeiros a finalizarsua rejeição no martírio de Estêvão. Mais tarde, os judeus da Dis-persão, reunidos em seus milhares de representantes em J erusalém,

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assinalam sua  rejeição na tentativa de linchamento de Paulo(A t 22). .

Embora Israel, de maneira cívica e representativa, tivesseentão rejeitado por duas vezes J esus e o reino oferecido, existemporém grupos de homens e mulheres, tanto judeus como gentios,na J udéia e Samaria e através de todo o mundo romano, que creram  nEle e o aceitaram como Rei. O que dizer deles7.  Essas pessoasse tornam, então, o ponto crucial da história. A medida que a re-cusa de Israel se cristaliza, gradualmente emerge a compreensão deque a própria falha de Israel está sendo soberanamente vencida naformação da IGREJ A, da qual esses diversos grupos de crentes es-

palhados são as primeiras unidades!Mas se o “reino” em seus aspectos visíveis, messiânicos, estásendo removido, o que é esta “ Igreja”, esta ecdesia, que se desen-volve agora na terra e traz à luz um propósito oculto de Deus? Olivro de Atos nos deixa nesse ponto e estamos então prontos pa-ra as Epístolas da Igreja Cristã.

' As EpístolasLamentamos que, em relação aos Evangelhos e Atos, nossa

referência ao “progresso” da doutrina tenha de ser resumida nu-ma seção curta como esta; e lamentamos ainda mais pela necessirLde de nos demorarmos tão pouco agora nas Epístolas. Nos li-mitaremos aqui a indicar algumas linhas gerais de desenvolvimen-to designado.

 Três palavras concentram para nós o significado da vida cris-tã, pelo menos no seu lado humano: “fé”, “esperança” e “amor”.Nas palavras de 1 Coríntios 13:13: “Agora, pois, permanecem, afé, a esperança e o amor, estes três: porém o maior destes é oamor”. No espaçoso vestíbulo de uma belíssima catedral européia,o chão consiste de três lajes maciças onde foram escritas três pala-vras latinas em grandes letras. Na primeira, CREDO; na segunda,

SPEIRÕ; na terceira, AMO. A primeira é credo,  “creio”. A seguirvem speirõ,  “espero” e depois amo,  “eu amo”. Os três principaisescritores das epístolas do Novo Testamento são Paulo, Pedro e J oão, e eles se apresentam nessa ordem. Todos eles falam de fé,esperança e amor, todavia cada um tem sua própria ênfase. O pri-meiro é Paulo, considerado caracteristicamente como o apóstolo

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da fé.  A seguir vem Pedro, o apóstolo da esperança.  O último é J oão, o apóstolo do amor.  Se mudamos sua ordem de posição,frustraremos a verdadeira ordem espiritual.  O arranjo presentetem como propósito indicar a ordem correta do progresso espi-

ritual.Ao tomarmos as nove Epístolas da Igreja Cristã, veremos

que as quatro primeiras enfatizam a Cruz; as três seguintes a Igre ja ; as duas últimas o segundo advento  do Senhor. Não é isso umverdadeiro progresso?

Quanto às nove Epístolas Cristãs Hebraicas e suas ênfasescaracterísticas, as duas primeiras salientam a “fé"   e as “obras". 

As duas seguintes a “esperança

” e o“crescimento". 

As quatrooutras (J oão e J udas) o “amor” e depois “ contendas”. No final,o Apocalipse fala de “vencer” e “herdar”. Quão notável é o sis-tema de progresso que podemos observar! Leia sem pressa e vejacomo o equilíbrio espiritual é preservado a cada passo que se dá.

Desde o início até o fim do Novo Testamento existe um mo-vimento permanente de progresso até que o Cristo coroado de es-pinhos na cruz vem a ser o Rei coroado de gloriada Nova J erusa-

lém.O fato deste “progresso” deixa naturalmente implícita a

unidade  do todo. A simples sucessão aplicase a muitos, mas oprogresso é de um só — indicando aqui uma Mente dominante.Este progresso também implica num  plano  divino antecipada-mente preparado, a fim de alcançar progresso. Fica igualmentesubentendido que a mesma  Mente nos fala do começo ao fim ;

pois embora possa haver avanço humano na compreensão,  nãopode haver progresso da revelação  divina a não ser que o próprioCristo esteja falando com tanta realidade nos Atos e Epístolasassim como nos Evangelhos.

Como é também importante que os pregadores e exposito-res reconheçam este fato do progresso da revelação no Novo Tes-tamento! Alguém disse muito bem que os fundamentos adequa-dos da doutrina cristã não se encontram tanto nos textos isola-

dos como na “combinação e convergência” das Escrituras em suatotalidade progressiva.

Como é também magnífica a fusão entre o elemento huma-no e o divino através de todo o Novo Testamento! Neste “origi-nal” inspirado, constante de fato e verdade cristãos, o que está

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sendo registrado — a revelação  divina da verdade, ou a compreensão  humana da mesma? Nos Atos e Epístolas, a verdade reveladanos é exposta não apenas como uma comunicação de Deus, mastambém como uma apreensão por parte do homem. As duas coi-

sas achamse tão unidas que a primeira se expressa repetidamen-te através da última, envolvendo assim o ato divino na históriahumana e moldando esses oráculos divinos no livro mais humano

 jamais escrito.

Louvemos o Deus de Amor  Cujos pensamentos surpreendentes 

Foram transmitidos lá do céu aos homens Mediante a pena da inspiração;Cujo Espírito se moveu e operou 

 A través de homens santos da antigüidade,Trazendo, assim, para todas as eras,

O Livro mais precioso de todos.

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Lição nQ 7

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Por trás de seus detalhes divergentes, as narrativas do evan-gelho demonstram uma unidade que levou a muitas tentativas decombinar os quatro em um único. Foi argumentado que combi-nálos dessa forma iria nos preservar todo o seu conteúdo, enquan-to ao mesmo tempo forneceria um relato curto, apresentado namais estrita ordem. Todas essas tentativas, porém, embora valio-sas para provar mais ainda a consistência das quatro narrativas,falharam necessariamente em produzir o resultado "único"   e per-

feito. O fato é que não temos capacidade nem se pretende quecombinemos os quatro dessa  forma. Uma tal unidade literária irádestruir justamente aquelas características e ênfases que o Espí-rito Santo, usando os quatro escritores, quer que prendam nossaatenção e sirvam para nosso consolo. Mateus, Marcos, Lucas e J oão foram impressionistas  inspirados. Seus relatos são quadrosescritos e não anais e nem mesmo diários. A seqüência cronoló-

gica exata não é seu objetivo. Portanto, uma “harmonia” crono-lógica ou unificação em uma história estritamente consecutivaé bastante impraticável. Passamos a transcrever o seguinte pará-grafo extraído de um livreto que há muito deixou de ser publica-do, escrito pelo falecido Rev. E. A. Thompson:

“A harmonia dos Evangelhos em ordem cronológica estrita éinexeqüível. Não podemos fazer tal coisa, pelo menos com um mí-nimo de certeza; pela razão simples e evidente de que, com exce-

ção do início e final de suas narrativas; as quais, como se ligadaspor uma biografia, quase necessariamente correspondem, os evan-gelistas não escrevem cronologicamente: cada um deles tem seuplano próprio e distinto, assim como um sistema de arranjo; istoindepende tanto da ordem cronológica que se tentarmos reunilos em tal disposição, iremos imediatamente envolvernos em difi-culdades inextricáveis e expornos às censuras cáusticas que um

sagaz cidadão fez a respeito de um velho ministro da Igreja deEdinburgo, Escócia, que trabalhou durante muitos anos na cons-trução de uma harmonia desse tipo: ‘Ele é  um ministro que passa seu  tempo e gasta suas energias tentando fazer com que quatrohomens que nunca brigaram entrem em acordo.’ ”

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Vamos dirigir agora a nossa atenção aos quatro evangelhos.Uma coleção de registros mais bela jamais foi escrita e isto se áplica de modo especial quando os examinamos coletivamente.  Nãose trata de um inserir o que o outro omite, ou viceversa: cada umcontribui com um aspecto único; todavia, todos se agrupam nu-ma tal unidade quádrupla de apresentação como só a superinten-dência divina poderia ter efetuado. Veremos logo mais que estadeclaração não é exagerada.

Por Que Quatro Em Vez de Um?

Para começar, nos encontramos perguntando: Por que háquatro  evangelhos, especialmente quando os três primeiros pare-cem abranger quase o jnesmo assunto? Um só não seria melhor?

Como estamos tratando de escritos divinamente inspirados,a resposta final, naturalmente, é que há quatro porque Deus as-sim quis: mas podemos acrescentar que existem razões  claras pa-ra Deus ter feito isso.

Não precisamos inventar   razões, como por exemplo que eranecessário “mais do que uma mente” para registrar “a vida maismaravilhosa vivida na terra”; pois se o Espírito Santo tivesse de-terminado isso, Ele poderia ter eficazmente concentrado atravésde um  o que distribuiu mediante quatro.  Gênesis 2:10 nos conta:“E saía um rio do Eden para regar o jardim, e dali se dividia, re-

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partindose em quatro braços”. A água nos quatro braços era amesma do rio principal, dividido a fim de cumprir um propósitogeográfico. Da mesma forma o rio principal da inspiração divinaespalha através dos quatro evangelhos para cumprir um propósi-to espiritual.

Inferências PreliminaresAntes mesmo de encontrarmos as indicações internas da ra-

zão para os quatro evangelhos em lugar de um, não devemos he-sitar em inferir que o primeiro motivo nasce da consideração di-vina pela nossa fraqueza humana, a saber, enfatizar o interesse 

pelo conteúdo do evangelho. Assim como na última parte do No-vo Testamento, a doutrina cristã é ensinada através de um maçode cartas  ou “epístolas” interessantes, em lugar de dissertaçãoformal (o cristianismo é a única religião que ensina mediante car-tas), aqui também os fatos básicos  históricos da fé cristã são apre-sentados por meio de quatro esboços escritos em que, emboraexista a orientação divina controlando tudo, não se sufocam aspersonalidades nem as idiossincrasias de cada um (quão diferenteé Mateus de Lucas e Marcos de J oão!), de maneira que os quatroregistros se tornam ao mesmo tempo de interesse humano para to-dos que os lêem com o desejo de aprender; e envolventes, surpreen-dendo a todo instante os que os estudam em profundidade ou oscomparam cuidadosamente.

Além disso, parece igualmente dedutível que existem quatro,em lugar de um, de modo a apresentarnos um retrato do Cristo

histórico que satisfaça mais ao nosso coração. Há algum tempoatrás visitei um amigo cuja esposa acabara de morrer. Numa mesaem sua sala havia um portaretrato com quatro partes, adornado decetim e ouro, contendo quatro fotos coloridas de sua mulher. Eleexplicou que em conjunto elas lhe davam justamente as quatroexpressões características que mais amava na esposa. Uma fotoapenas não bastava, precisava das quatro. Algumas vezes esta, e

outras aquela lhe falava mais de perto, mas cada uma a seu pró-prio modo enchia sua mente de lembranças. Nós também nãopreferiríamos vários aspectos da vida daqueles a quem mais ama-mos em lugar de ficarmos limitados a um único?

Por que então englobar os quatro em um, como alguns tenta-ram fazer com os quatro evangelhos? (Veja nosso adendo nas cha-

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madas “ Harmonias dos Evangelhos”.) Algum de nós sonharia emcortar quatro fotografias do mesmo ente querido e tentaria depoisunir os pedaços em uma nova foto, de maneira a construir o quepoderíamos chamar de semelhança básica? Quão fútil seria essegesto! Do mesmo modo, os quatro evangelhos têm cada um umaindividualidade que não pode ser anulada. Leia a vida de Sócrates escrita por Xenofonte, um soldado. Leia a seguir o mesmo filósofo da antigUidade como retratado pelo contemplativo Platão. Num você verá Sócrates como um moralista prático. No outro como um pensador especulativo. Seria difícil encontrar duasbiografias mais contrastantes da mesma pessoa. Entretanto, ambas

são fiéis a Sócrates. Qualquer delas, sem a outra, seria unilateral,enquanto pelos seus próprios contrastes as duas juntas preservama verdadeira identidade do seu herói.

Pode parecer estranho, mas a “ harmonia” dos quatro evangelhos é melhor apreciada quando não se destrói mas se conservaas suas diferenças. A unidade do tema, somada à sua diversidadede tratamento é que os torna tão interessantes à mente e tão satisfatórios ao coração, em sua descrição do “ Jesus de Nazaré” histórico.

Diferença, mas ConformidadeVamos traçar agora algumas das evidências internas do desíg

nio divino em nossos quatro evangelhos. Seu caráter mutuamentecomplementar tem sido com freqüência apontado. O famoso exe

geta, Bengel, compara habilidosamente os mesmos a um quartetovocal em que as vozes, embora algumas vezes se destaquem separadamente, unem as quatro partes para formar um todo completo eharmonioso.

Não é precioso negar que existem “diferenças” superficiaisentre os quatro relatos, embora algumas delas ao primeiro olharpareçam até divergências. Elas servem um bom propósito, pois

são indicações da autoria independente e de autenticidade. Emponto algum essas diferenças mostram-se incompatíveis com a exatidão histórica. Elas são variações, mas não contradições; surgindodevido à ênfase dada a diversos aspectos ou pontos de vista. Defato, após exame cuidadoso, concluímos tratar-se de nada mais doque as marcas do desígnio sobrenatural.

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Se quatro homens não  inspirados tivessem escrito quatronarrativas separadas e independentes,  nós certamente nos veríamos face a face com verdadeiras contradições e incorreções inadvertidas, mesmo dando margem para a completa sinceridade dos

escritores; repetimos, se quatro relatos não inspirados tivessem sido escritos mediante acordo {conspiração), um cuidado meticuloso teria sido tomado para eliminar todas as variações como as encontradas em nossos quatro evangelhos, e o resultado seria üm “perfeito imperfeito” acordo superficial que provocaria suspeitascom respeito à confiabilidade dos escritores e à realidade do grande Personagem descrito. Não temos na verdade razão para agrade

cer a Deus por essas coisas não terem sido deixadas à mente e vontade do homem, sem que houvesse uma orientação?A questão é que com a mais perfeita naturalidade, Mateus,

Marcos, Lucas e João nos deram quatro apresentações únicas doSenhor Jesus, cada uma delas com sua ênfase distinta, cada umade um ponto de vista peculiar, cada uma num sentido real, completa em si mesma, todavia as quatro reunidas para formar um retrato fiel do Deus-Homem que o Espírito da inspiração deseja

colocar diante de nós.

Um Paralelo SignificativoA maioria de nós, talvez esteja familiarizada com o paralelo

que tem sido freqüentemente notado entre os quatro evangelhose os quatro “ seres viventes” na visão introdutória do profeta Eze-

quiel. Os quatro seres viventes ou querubins, são descritos comosegue em Ezequiel 1:10: “ A forma de seus rostos era como o dehomem: à direita os quatro tinham rosto de leão;  à esquerda,rosto de boi; e também rosto de águia todos os quatro”. O leãosimboliza a força suprema, a soberania; o homem, a mais alta  inteligência; o boi, serviço inferior; a águia, a esfera celestial, mistério, divindade.

Em Mateus vemos o Messias-Rei (o leão).

Em Marcos vemos o Servo do Senhor (o boi).Em Lucas vemos o Filho do Homem (o homem).Em João vemos o Filho de Deus (a águia).Os quatro aspectos são necessários para transmitir toda a

verdade. Como soberano Ele vem para reinar e governar. Como

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Servo vem para servir e sofrer. Como Filho do Homem vem paraparticipar e consolar. Como Filho de Deus vem para revelar e remir. Magnífica fusão quádrupla — soberania e humildade;humanidade e divindade!

Alguém pode perguntar por que deveria haver esta correspondência entre os quatro evangelhos e os quatro serafins da visão deEzequiel. Trata-se sem dúvida de um ponto interessante, mas seráapenas  uma questão de coincidência curiosa? Ou haverá nisso algum significado? A resposta é que existe um profundo significadoque todos deveríamos notar. Veja bem, não estamos sugerindo (como alguns defenderam com grande imaginação) que esses quatro “ seres viventes” fossem um tipo  dos quatro evangelhos! Devemos

distingüir cuidadosamente entre tipos e simples ilustrações. Um tipo é uma figura prévia adaptada divinamente a alguma verdadea ser revelada mais tarde. Uma ilustração não possui esse intentode tipo, mas trata-se apenas de esclarecer uma coisa por meio deoutra com a qual possui, acidentalmente, correspondência úteis.Quando usamos esses quatro “ seres viventes” da visão de Ezequiel(visto de novo por João em Apocalipse 4:6-8) como sendo um

paralelo de Mateus, Marcos, Lucas e João, estamos simplesmenteusando uma semelhança honrada pelo tempo. A obra Pulpit  Commentary   diz com bastante ênfase: “ A interpretação patrística que encontra nos quatro seres viventes os símbolos dos quatroevangelistas... deve ser considerada como produto de uma imaginação piedosa, mas não como o desvendar do significado seja deEzequiel ou de João”.

De fato, a comparação não é tanto entre os quatro serafins eos quatro evangelistas, como entre os quatro rostos de cada  serafim; pois cada um tinha os quatro rostos, i.e., do leão, do boi, dohomem e da águia. Embora a surpreendente semelhança entreesses quatro rostos e os registros dos quatro evangelhos seja usadaapenas como ilustração, continua sendo verdade que existe um significado simples e profundo nela, como segue.

Esses quatro serafins na visão de Ezequiel são, de todos osseres criados, os mais próximos do trono de Deus e devemos compreender que eles expressam, portanto, mais exatamente a semelhança da natureza divina.

Os quatro rostos de cada serafim e todas as demais características simbólicas têm como propósito manifestar-nos o ser divino e

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seus atributos. O ponto mais destacado e surpreendente é a revelação da natureza morai  de Deus dada pelos quatro rostos. Um delescorresponde ao leão — o que é facilmente compreensível. Existeporém outro que corresponde ao boi — cujo fato nos surpreende,

pois o boi é o símbolo do trabalho servil. Outro ainda corresponde ao homem, i.e., maior inteligência, razão, emoção, vontade, conhecimento, amor, simpatia, compreensão. Por último, o que corresponde à águia, a maior de todas as criaturas nos céus naturais,solitária, transcendente e misteriosa.

Era portanto inevitável que quando o próprio Filho de Deustornou-se carne, essas mesmas quatro qualidades ou característi

cas reaparecessem; pois como poderia ser de outro modo? Era preciso que ELE manifestasse a natureza moral da divindade mais claramente ainda do que aqueles serafins irrepreensíveis, gloriosos, osmais sublimes de todos os seres criados, poderiam expressá-la. Nosso Senhor Jesus Cristo ê na verdade a natureza divina encarnada. “O Verbo se fez carne e habitou entre nós.” Esta revelação quádrupla representada pelo leão, o boi, o homem, e a águia, volta aexpressar-se em Mateus, Marcos, Lucas e João. Mas a sua nova expressão, de modo que cada  um dos quatro evangelistas indiscutivelmente (mas talvez sem suspeitar) destaque um  dos quatro aspectos, a fim de que os quatro aspectos e os quatro registros correspondam respectivamente, é uma dessas obras artísticas do desígnio divino nas Escrituras que podemos somente admirar.

Ao tocar nesta formação dos quatro evangelhos — leão-boi-homem-águia — achamos difícil conter uma pena entusiasta, im

pedindo que se alongue em detalhes que excedam os limites impostos a este artigo de estudo, e só podemos esperar escrever maisa respeito em outro lugar. Queremos, entretanto, pelo menos convencer aqueles para quem essas coisas sejam relativamente novasque da maneira mais abundante e conclusiva os traços interiores eprovas deste padrão quádruplo são inerentes através de todas asnarrativas dos evangelhos. Eles são propositais e não apenas deco

rativos. Seu intento é fazer com que vejamos um Cristo magníficoque combina e expressa o que os quatro serafins da visão de Eze-quiel representavam simbolicamente.

Não resta dúvida que se trata do “ leão” em Mateus, do “ boi”em Marcos, do “ homem” em Lucas, da “águia” em João. Afirmamos isto ainda mais deliberadamente por existirem alguns que ten

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taram arranjar a correspondência de outro modo. Não dev nostambém surpreendernos por terem sido feitas tentativas para ob-ter outros paralelos, pois como aconteceu com aqueles serafins bri-lhantes e rodas terríveis da visão de Ezequiel — “todos tinha a

mesma semelhança” e “cada ser tinha duas asas, unidas uma àdo outro” — o mesmo ocorre com os quatro evangelhos: em meioà sua marcada diversidade, todos eles retratam “uma semelhança”,a mesma Pessoa magnificente, e em todas as suas páginas suas“asas são unidas uma à do outro”. (Mas veja nosso adendo sobreos quatro evangelhos e a visão de Ezequiel.)

MateusSó quando seguimos as ênfases características  é que vemos

o verdadeiro parálelo. O leão era o emblema da tribo de J udá, atribo real, a tribo em que corria a dinastia davídica. Em Mateus,nosso Senhor é singularmente “o Leão da tribo de J udá, “a raizde Davi,” o “Rei e o Legislador”. A primeira sentença oferece ime-diatamente a chave: “ Livro da genealogia de Jesus Cristo, filho deDAVI, filho de ABR AÃO”. Esse começo é peculiar a Mateus, as-sim como a genealogia que Se segue imediatamente, na qual a des-cendência humana do Senhor é traçada até Abraão através de Davi. Marcos não contém essa genealogia. Lucas remonta diretamentea Adão.  J oão avança para a eternidade.  Cada um tem um iníciopeculiar e de acordo com a ênfase especial mantida a partir desseponto até o final. Todos os expositores concordam que Mateus é

o evangelho em que, como nenhum outro, o Senhor se oferece aos judeus como o seu MessiasRei, realizando seus milagres messiâni-cos como credenciais, e proferindo as “ leis” e “mistérios” do reino  (como no Sermão do Monte, e nas parábolas do reino do capí-tulo 13). Se o espaço permitisse, pesquisar nesse sentido seria fas-cinante e convincente.

MarcosO boi é o emblema do trabalho servil. Em especial entre os

antigos habitantes do oriente, ele representava o trabalho pacientee produtivo. Todos os estudiosos dos evangelhos notaram que Marcos é  essencialmente o “evangelho da ação” (como alguns o têm

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chamado). Não foi prefixada uma genealogia e ele contém apenasbreves trechos dos discursos do Senhor, se é que são apresentados(o que justifica o fato da história de Marcos ser a mais curta das

quatro). A ênfase do livro todo se concentra num Cristo ativo, umServo forte mas humilde; e o termo característico (que ocorre 43vezes no grego) é “imediatamente”.

LucasVemos com perfeição em Lucas o “ rosto de homem”. Sua so-

berania ou divindade não é obscurecida, nem há qualquer interfe-

rência com sua humanidade; todavia, de alguma forma, com traçosgeniais e sem qualquer artifício, Lucas destacou tanto sua belíssi-ma masculinidade como suas simpatias humanas de maneira indis-cutivelmente peculiar ao terceiro evangelho. Ele começa  com to-ques humanos notáveis, falando a respeito dos pais e do nasci-mento dessa criança prodígio, “J oão Batista” (Mateus, Marcos e

 J oão não incluem esses detalhes). A seguir ele narra o nascimento

de J esus, contando a viagem a Belém antes desse acontecimentoe sua vinda ao mundo no estábulo, por não haver lugar na katalu- ma  (estalagem) onde ficavam os viajantes; e em vez de levar os sá-bios do oriente a J erusalém inquirindo “Onde está o recémnasci-do Rei7,  conta como os anjos cantaram para os pastores da região:“Hoje vos nasceu um Salvador”. Depois disso ele nos diz como emsua infância J esus foi apresentado no templo; como aos doze anospassou a Páscoa em  J erusalém com os  pais; como continuou com eles como Filho obediente; e como “crescia em sabedoria, estatu-ra e graça, diante de Deus e dos homens”.

 Tudo isto só  se encontra em Lucas. Ele era médico e talvezMaria sentisse que podia falarlhe com menos reserva sobre o nas-cimento e infância do Senhor. Só na última metade do capítulo 3é que Lucas nos dá uma genealogia. Entretanto, tendo retrocedidopor um caminho diferente até Davi (i.e., através dos ancestrais de

Maria), e unindose nesse ponto à linhagem principal que remonta-va a Abraão, ele retrocede até Adão, o primeiro homem.  Se o es-paço permitisse, seria interessante mostrar como todos esses as-pectos introdutórios são selecionados de conformidade com aênfase principal da história inteira escrita por Lucas.

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 JoãoEm J oão tudo também se conforma a um padrão e propó-

sito especiais. Ninguém poderia sequer sugerir que qualquer dosquatro evangelistas tivesse em mente os quatro querubins da vi-

são de Ezequiel quando traçou o esboço do Senhor J ESUS; to-davia, aqui em J oão novamente e de modo indiscutível como nosoutros três, existe a correspondência de aspecto, desta vez coma águia.

Não encontramos no prólogo de J oão genealogia humana,mas em alguns golpes profundos da pena ele nos leva a píncarosmais elevados e sublimes do que qualquer dos outros evangelhos.

Qual a importância da simples antigüidade humana na terral   Pa-ra começar, com este Cristo magnífico você deve projetarse pa-ra além da primeira alvorada no tempo, para a eternidade! Antesdo mundo ter começado, o Verbo já existia. “No princípio era oVerbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus... Todasas coisas foram feitas por intermédio dele, e sem ele nada do quefoi feito se fez. A vida estava nele, e a vida era a luz dos homens.”

Ele não é apenas o “Filho de Davi,” ou o “F ilho de Abraão”,

ou o “ Filho de Adão” — Ele é o Fiiho de Deus.  Ele é o VERBO, eportanto coeterno com a MENTE eterna. Mas para que não sejade modo algum considerado como impessoal, Ele é também oF ILHO, e portanto copessoal com o PAI. Não obstante, emboraseja coeterno e copessoal com o Pai, Ele não é pessoalmenteidêntico ao Pai: absolutamente, como Verbo estava "com  Deus,”e como F ilho está “no seio do Pai”. Isto também não é tudo: pois,

a fim de que não seja julgado essencialmente subordinado ao Pai— como uma palavra ao pensamento, ou um filho ao pai — Ele étambém a VIDA e a LUZ. Ele não transmite simplesmente a vidaou refiete  a luz — mas “é” a vida, e “é” a luz. A vida está “nEie”, A luz tem origem nEie.

Neste curto preâmbulo, J oão O descreveu como o VERBO,a LUZ, a VIDA e o FILHO. Não é então preciso dizer que é esteo aspecto de Cristo que nitidamente se repete através de todo oquarto evangelho. Tudo é adaptado de modo a salientar a revela-ção da luz, vida e amor divinos através dEle, que, desde o início,é chamado de VERBO. Como “ Luz” Ele revela. Como “ F ilho”redime. Como “Vida” renova. A humanidade não é obscurecida,✓ '  mas a ênfase está na Divindade. E o aspecto de “águia”.

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Apelo e Perspectiva Quádruplos

Existem igualmente outros significados no número, na or-dem e nas ênfases discriminatórias desses quatro evangelhos.

O número quatro  nas Escrituras é de modo peculiar o nú-mero da terra e da raça humana que ocupa a terra. Quatro é  onúmero do homem como criatura, do mesmo modo que seis é o número do homem em sua condição de pecador. Toda a nos-sa vida terrena parece ser envolvida e condicionada por ele. Bas-ta pensar nos quatro pontos cardeais — norte, sul, leste, oeste;nas quatro dimensões — largura, comprimento, profundidade,

altura; nas quatro estações do ano — primavera, verão, outono,inverno; as quatro partes do dia — manhã, meiodia, tarde, noi-te (escuridão); quatro compostos abrangentes dos elementosmateriais — terra, ar, fogo, água; os quatro membros que consti-tuem a família humana — pai, mãe, filho, filha; as quatro faseslunares que dividem o calendário em meses.

Bem no começo, no  primeiro  livro da Bíblia, por três vezesno capítulo dez de Gênesis, as “gerações dos filhos de Noé” que

repovoaram a terra, são divididas pelo número quatro em “famí-lias”, “ línguas”, “países” e “nações” (versos 5, 20, 31). No último  livro da Bíblia, quando a história da humanidade chega aofim, existem nada menos do que sete descrições similares da ra-ça (Ap 5.9; 7.9; 10.2, 11.9; 13.7; 14.6; 17.15). Tanto em Gêne-sis como em Apocalipse a ordem varia nos diferentes versos, maso número é invariavelmente quatro.

Quando Deus fez a aliança com Noé e “todos os seres viven-tes de toda carne” de que não mais haveria um “dilúvio para des-truir toda carne”, Ele deu o arcoíris como sinal de aliança. Depoisdisso o arcoíris sempre representou o acordo de Deus com suascriaturas na terra. Quando Ezequiel teve sua visão dos quatro“seres viventes”, ele também viu um arco-íris  rodeando o tronocelestial, o que simbolizou imediatamente a fidelidade da alian-ça de Deus com a terra; e as quatro faces dos serafins, além deexpressar algo da natureza moral divina, também representavamtodas as criaturas vivas da terra na aliança. O leão representan-do as feras selvagens  da terra, o boi os animais domésticos,  aáguia as aves, e o homem a fam ília humana.

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Muito mais poderia ser naturalmente acrescentado sobre onúmero quatro na natureza e nas Escrituras, mas já foi dito o su-ficiente para mostrar que ele tem referência especial ao que é ter-reno e temporal, à matéria e ao homem.

De maneira peculiar os quatro evangelhos estão ligados à ter-ra e abrangem a raça. Como veremos, Mateus escreve tendo a men-talidade hebraica como primeira referência. Isto talvez já tenha si-do percebido pelas suas repetidas referências ao Velho Testamen-to. Marcos, companheiro de viagem de Pedro, escreve com princi-pal aplicação à mentalidade romana,  apresentando o Senhor maispronunciadamente como o poderoso operador de milagres. Lucas,

o médicoviajante de Paulo, adapta sua abordagem com igual pro-priedade à mentalidade grega,  salientando a varonilidade incompa-rável do Amigo e Salvador de pecadores. J oão, cujos escritos ocu-pam um lugar único, por serem tanto uma interpretação como umregistro, e compostos praticamente uma geração depois dos outros,escreve mais especialmente para a Igreja, a fim de enfatizar a divin-dade absoluta do Senhor Jesus, mas também para mostrar à toda

humanidade, sem distinção racial, a revelação da “graça e verdade”divina através do “Verbo” que se “fez carne”. Foi muito bemobservado que esses três povos antigos — os judeus, gregos e roma-nos — representam como nenhum outro,  os tipos humanos quepersistem através de toda a nossa história racial. Eles representama religião, cultura e administração (especialmente legal e comer-cial). Os três primeiros evangelhos falaram então  com particularpropriedade a esses três e continuam faiando,  completados e co-

roados por J oão com seu “Verbo” divino para todo o mundo.Mateus claramente vem  primeiro,  logo no começo do Novo

 Testamento, pois ele liga os dois Testamentos, mostrando os cum-primentos das predições do Velho Testamento e o preparo para avinda de Cristo feito pelo precursor prometido, J oão Batista, as-sim como a oferta do há muito prometido “reino dos céus” peloMestre da Galiléia, operador de milagres e prodígios. J oão deve

também vir necessariamente em úitimo  lugar, com sua revisão,suplementação e interpretação finais, depois dos três sinóticos te-rem desde há muito abandonado suas penas, e os registros do J e-sus histórico serem bem conhecidos.

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Os Sinóticos e J oão

Isto nos leva a mencionar outro aspecto óbvio dos quatroevangelhos, a saber, que Mateus, Marcos e Lucas cobrem quase omesmo terreno, enquanto o registro de J oão, além de ter sido es-crito consideravelmente mais tarde do que os demais, trata emsua maior parte de matéria não mencionada por eles. Este evan-gelho achase isolado tanto no tempo como no caráter dos outrostrês. Existe um relacionamento contrastante entre eles, como es-tabelecido abaixo:

SINÓTICOS J OÃO

Fatos externos da vida do Fatos internos da vida doSenhor. Senhor.

Aspectos humanos da vida Aspectos divinos da vidado Senhor. do Senhor.

Os discursos públicos  Os discursos particulares(em geral). (em geral).

O ministério na Galiléia  O ministério na Judéia(em especial). (em especial).

Adaptação Seletiva

Dessa forma, (embora não exclusivamente) Mateus escreveprincipalmente para o J udeu, Marcos para o Romano,  Lucas parao Grego,  J oão para a Igreja.  Com esta distinção quádrupla emmente, vejamos alguns exemplos que mostram um princípio deseleção e adaptação que se desenvolve através deles.

Mateus, como dissemos, escreve primariamente para o ju deu.  Qual é o primeiro milagre em Mateus? A cura do leproso. Pa-ra o judeu as doenças do corpo possuíam um significado simbóli-co. A lepra, a mais terrível e medonha das doenças, servia de com-paração viva para o horror do pecado e do juízo divino. Não haviacura para a lepra e tocar ou mesmo aproximarse de um leproso

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significava contaminação cerimonial assim como correr o risco decontágio. “Eis aqui a inspiração,” diz   J oseph Parker; “mal J esusdescera a montanha onde estivera ensinando a multidão quando seaproximou um leproso. Como os olhos dos judeus se arregalam

de espanto! A lepra foi sempre um sério assunto para eles atra-vés das eras. Mateus, portanto, imediatamente coloca o novo Mes-tre em contato com um leproso. O gênio inspirado também nãopára nesse ponto: Mateus continua: ‘E J esus, estendendo a mão’ —veja a sua engenhosidade — ‘tocoulhe’ — o milagre jamais visto,impossível! Nada poderia ter chamado tanto a atenção dos judeus.Cristo poderia ter sido o príncipe dos necromantes e realizado

muitos feitos maravilhosos, e o judeu não atentaria para nenhumdeles; mas dizer aos judeus que esse Homem se aproximara de umleproso, tocara o mesmç e o curara, depois mandandoo emboralimpo, era outra coisa! O, o poder do gênio, o toque de mestre, asabedoria de Deus!”

Qual é o primeiro milagre em Lucas? Não é a cura da lepra.Lucas escreveu especialmente para os gentios, e a lepra não repre-sentava para os gentios o mesmo que para os judeus. O grande te-ma dos gentios e principalmente da especulação grega era a demonologia, a adoração de demônios, a possessão demoníaca e comolivrarse do demônio. Os gregos se interessavam por todos os as-pectos da demonologia. Esse era o tema favorito. Lucas dizpraticamente: “Vejam, vou contarlhes tudo sobre isso. Este Ho-mem maravilhoso expulsa o demônio! Este esplêndido ‘reino deDeus’ esmaga o reino do diabo!” Foi este então o primeiro mila-

gre de Lucas: “Achavase na sinagoga um homem possesso de es-pírito de demônio imundo, e bradou em alta voz... Mas J esus orepreendeu, dizendo: Calate, e sai desse homem. O demônio, de-pois de o ter lançado por terra no meio de todos, saiu dele sem lhefazer mal. Todos ficaram grandemente admirados e comentavamentre si, dizendo: Que palavra é esta, pois, com autoridade e poderordena aos espíritos imundos, e eles saem? (Lc 4.3336).

Variação Característica

Este gênio de seleção e apresentação não pertence de formaalguma apenas ao primeiro milagre escolhido por cada escritor. Elecaracteriza os quatro registros em seu todo.

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Ao ler a acusação de Cristo contra os escribas e fariseus, regis-trada por Mateus, encontramos as palavras: “Ai de vós, escribas efariseus, hipócritas! porque dais o dízimo da hortelã, do endro edo cominho, e tendes negligenciado os preceitos mais importantes

da lei, a justiça, a misericórdia e a fé” (Mt 23.23). Mateus escreviapara leitores judeus. Os gentios não teriam entendido o assunto damesma forma que os judeus. A “ lei”? Que  lei? Lei âequeml  Masos judeus sabiam muito bem!

Vejamos agora Lucas, que escreve para um público gentio:“Mas ai de vós, fariseus! porque dais o dízimo da hortelã, da arruda e de todas as hortaliças, e desprezais a justiça e o amor de 

Deus”   (Lc 11.42). Esta linguagem é imediatamente compreendi-da pela audiência nãojudaica que Lucas tinha em mente. Ele dáa substância da Lei, sem empregar a nomenclatura dos judeus.

Mateus registra outra vez: “Ai de vós, escribas e fariseus, hi-pócritas! porque sois semelhantes aos sepulcros caiados, que porfora se mostram belos, mas interiormente estão cheios de ossos demortos, e de toda imundícia”. Linguagem mordaz! — dirigida espe-cialmente aos ouvidos judeus. O que os gentios sabiam a respeito de“sepulcros caiados”? Não havia esse termo em seu vocabulário.Mas o judeu o conhecia! Se um judeu passasse por um túmulo tor-navase contaminado cerimonialmente. Se andasse sobre ele semsaber que se tratava de uma sepultura, mesmo assim ele ficava con-taminado, tendo de submeterse às inconveniências das cerimôniasde purificação prescritas. Os judeus recorriam, então, à prática decaiar os sepulcros a fim de que estes pudessem ser vistos claramen-

te por todos, sendo mantidos à distância exigida!Vejamos agora como Lucas fala: “Ai de vós! que sois como

as sepulturas invisíveis, sobre as quais os homens passam sem o saber”   Não há nada local nem judaico aqui. A referência é colocadade forma geral e universal. Lucas faz sua narrativa para um grupomuito diferente daquele a que Mateus se dirige. Esses são apenasdois exemplos que representam muitos outros.

Discriminação Característica

Qual o tema da pregação de J esus? Segundo Mateus é “o rei-no dos céus”. Segundo Lucas é “o reino de Deus”. Não existe se

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leção inspirada aqui? A expressão “reino de Deus” tinha seu ladoameaçador para a mente judaica. Ela ocorre nos escritos de Ma-teus apenas três ou quatro vezes. A linguagem hebraica não pos-suía superlativos. Para expressálo usavam a palavra “Deus”. O que

deve ser descrito? Será aquela cidade magnífica e de excelsa gran-deza? A língua hebraica a chama então de “cidade de Deus”. Sãoos cedros incomparáveis do Líbano. O hebraico lhes dá o nome de“cedros de Deus”. Se Mateus tivesse utilizado a expressão “reinode Deus, o judeu poderia ter caído em seu erro favorito, pensan-do no reino apenas em seus aspectos exteriores, como um reinovisível de magnificência, esplendor e riqueza material superlativas

— para eles! “ Era justamente isto que estávamos esperando”, te-riam dito.Por outro lado, o que significa o “reino dos céus”   para o

gentio? Tratase de algo que soa vago e irreal para ele. Lucas dálhe então um nome diferente. Este reino proclamado por J esusé “o reino de Deus”. Isso não surpreende? “O reino de Deus”,veja bem — em nada ligado às divindades desprezíveis e triviaisdo paganismo politeísta, mas o reino do verdadeiro DeusCriador.

Lucas viveu numa época em que milhares de homens e mulheresdesiludidos estavam se afastando das irrealidades e tolices do po-liteísmo grego e romano, a fim de buscar a verdadeira Realidade.Foi este afastamento que deu lugar ao crescente proselitismo nafé judaica. Anunciar este “reino de Deus”  era estratégia inspirada!Esta era a palavra necessária para o gentio.

Um Problema de Inspiração

Esta variação de linguagem nos quatro “evangelhos” cria paraalguns um “problema” de inspiração; mas, não se trata porventurade uma evidência  de inspiração? Vamos ouvir novamente J osephParker: “O formalista diz: “Veja, Mateus diz uma coisa e Lucasoutra, todavia ambos afirmam estar relatando o mesmo discurso.É verdade, mas não fonograficamente: eles registram o âmago dascoisas, interpretando o coração de Cristo. Por que os homens nãoaceitam a interpretação mais ampla, a construção mais nobre, veri-ficando como as palavras podem ser insignificantes e embaraço-sas quando empregadas para manifestar o infinito, o espiritual eo divino?

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Alguns não se satisfarão, porém, com a explicação de J osephParker. Eles objetarão: “Essa afirmativa pode ter um certo apeloespiritual, mas não atinge o problema literal neste ponto. Se, porexemplo, ao acusar os escribas e fariseus, Cristo tivesse empregado

os termos do relato de Mateus, então as variações no registro deLucas não podem ser uma descrição exata; como então Lucas po-derá dizer verdadeiramente que foram essas as palavras de Cristo?”

A resposta é cristalina. Um exame das duas passagens em pau-ta mostra que elas não estão ligadas à mesma ocasião. Ambas seacham cronologica e circunstancialmente separadas. Uma delasocorreu durante a última visita do Senhor a J erusalém e a outra,antes desse evento. Mateus apresenta a acusação completa e finaldos escribas e fariseus por parte de J esus. Quem pode dizer quenão existiram explosões de indignação anteriores e mais curtas,embora não fossem expressas de maneira verbalmente idêntica?A genialidade dos dois escritores é vista em sua seleção sobre o querelatar. Cada um escolhe o que contribui mais positivamente pa-ra o ponto de vista e propósito do seu tratado.

Uma Questão de Linguagem

Este assunto dos discursos registrados de J esus também envol-ve a complexa questão da língua ou dialeto em que falava. Nãoexiste agora dúvida de que na época de Cristo a população da Pa-lestina era na sua maior parte bilingüe, sendo o aramaico de maior

uso. Essa língua, embora chamada de hebraico no Novo Testamen-to e escritos de J osefo, e sendo semelhante a ele, é na verdade umalíngua diferente do hebraico do Velho Testamento; possuindo suaspróprias peculiaridades e tendo sido submetida a um desenvolvi-mento de vários séculos na Palestina. O grego era a outra línguaem uso — não o grego em sua forma pura ática ou clássica, mas umvernáculo enriquecido por uma combinação de termos e expres-sões idiomáticas hebraicos e aramaicos. O aramaico era a língua

geralmente falada pela população rural ou “povo comum” da Pa-lestina. Em J erusalém e cidades maiores, os chefes e sacerdotes,as classes ocultas e os comerciantes falavam geralmente o grego.

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O Ministério do Senhor — Provavelmente BilingüePelo fato da população da Palestina nos dias de Cristo ter sido

em grande parte bilingüe, seguese quase necessariamente que o Se-nhor falava em ambas as línguas. Vemos que Ele falava aigumas

vezes em aramaico pelas suas palavras nessa língua nos terem sidoretidas em alguns pontos: “Talita cumi” (Mc 5.41); “Eli, Eli, lemá sabactâni” (Mt 27.46). Na capital, especialmente ao dirigirseaos chefes judeus, o Senhor J esus usaria mais o grego. Que Elefalava grego é indicado na pergunta que os judeus fizeram entresi depois de J esus dizer que eles haveriam de procurálo, mas nãoo encontrariam: “Disseram, pois, os judeus uns aos outros: Para

onde irá este que não o possamos achar? irá, porventura, para aDispersão (judeus) entre os gregos com o fim de os (gregos) ensi-nar?" (J o 7.34). Se não estivessem acostumados a ouvir J esus fa-lar em grego, tal pergunta não seria feita.

Não faz parte de nosso propósito discutir esta questão. Refe-rimonos simplesmente a ela aqui (juntamente com o fato de oSenhor ter provavelmente pronunciado partes diferentes de seuensino em mais de uma ocasião — com fraseologia diversa e talvezem duas línguas) para mostrar que existe uma base satisfatória emque as variações nos discursos registrados de Cristo podem ser ex-plicadas de modo a manter os conceitos mais estritos de inspira-ção. Os quatro escritores nos deram quatro relatos verdadeiros,embora haja este processo de discriminação, seleção e apresenta-ção, que dá a cada um dos quatro evangelhos sua ênfase peculiar.

Finais Característicos

É interessante notar também a maneira característica em quecada um dos quatro registros termina, e o progresso de pensamen-to que eles apresentam quando tomados em conjunto. Mateus fina-liza com a ressurreição  do Senhor. Marcos avança e termina com

sua Ascensão.  Lucas se adianta ainda mais e encerra com a promes-sa do Espírito.  J oão completa os quatro, terminando com a pro-messa do segundo advento.  Quão apropriado é que Mateus, oEvangelho do poderoso MessiasRei, termine com o ato esplêndi-do de sua ressurreição, a prova culminante de seu caráter messiâ-nico e poder divino! Quão perfeitamente adequado é que Marcos,

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o Evangelho do Servo humilde, se encerre com o Servo exaltado aolugar de honra! Como soa belo e harmonioso o final de Lucas, oevangelho do Homem ideal, de coração compassivo, ao lermossobre a promessa do poder que viria do alto! Que conclusão apro-priada vemos no fato de J oão, o Evangelho do F ilho Divino, escri-to especialmente para a igreja, terminar com a promessa acerca dasua volta, feita pelo próprio Senhor ressurreto. O propósito con-

 junto evidenciado pelos quatro “ Evangelhos faz deles uma obra-prima de variedade na unidade.

* * *

E AGOR A, TESTE SEUS CONHECIMENTOS

1. Em sua opinião, qual a idéia dominante do Novo Testamen-to em relação ao Velho? Cite textos.

2. Quais as quatro maneiras em que o Velho Testamento pareceincompleto? Como Cristo o completa?

3. Por que podemos chamar os quatro evangelhos de o pontocrucial da Bíblia?4. Os grupos de livros no Novo Testamento são cinco, nove,

quatro e nove: quais são eles e qual a principal característicade cada grupo?

5. Que correspondências existem entre os primeiros e últimoslivros dos dois grupos de nove?

6. Você diria que os quatro evangelhos estão em sua ordem

verdadeira? Caso positivo, dê uma razão principal para asua afirmação.

7. Que ordem tríplice encontramos nas epístolas do Novo Tes-tamento e seus três principais escritores?

8. Você pode dar razões para haver quatro  evangelhos e nãoapenas um?

9. De que forma os quatro evangelhos fazem paralelo com os

querubins na visão de Ezequiel, e por quêl 10. Você pode indicar quatro maneiras em q u e os Sinóticos con -

trastam com João?

11. Dê exemplos de adaptação seletiva em Mateus e Lucas.12. Como você justifica algumas das diferenças verbais entre os

relatos de Mateus e os de Lucas?

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Os Quatro Querubins e os Quatro Evangelhos

Repetimos e enfatizamos que a notável correspondênciaentre os quatro querubins da primeira visão de Ezequiel e osquatro evangelhos não sanciona a idéia fantasiosa de que osprimeiros eram um tipo  dos últimos. A verdadeira explicação dacorrespondência é aquela dada em nosso artigo sobre “Os Quatro Evangelhos em Conjunto” (Lição número 7). Esses serafinssantos expressam simbolicamente os quatro aspectos sociais básicos da natureza divina; sendo então inevitável que os mesmosquatro aspectos novamente se manifestassem visivelmente quan

do o próprio Filho de Deus tornou-se encarnado — como acontecenas ênfases características dos quatro evangelhos. «

Vários expositores, no entanto, tanto antigos como modernos, asseveram que os quatro “ seres viventes” foram na verdade

 planejados como tipos dos quatro evangelhos em sua apresentação do Senhor, quanto ao aspecto. Mas considerá-los como sendo realmente tipos  dá margem a muita fantasia. Grocio considerou-oscomo tipos dos quatro apóstolos — Pedro (o leão), Tiago (o boi),Mateus (o homem), Paulo (a águia). Outros os viram como tipos dequatro igrejas patriarcais — Jerusalém, pela sua constância (o leão);Antioquia, pronta a obedecer às ordens dos apóstolos (o boi); Alexandria, famosa pela sua erudição (o homem); Constantinopla, notada pelos seus homens de elevada contemplação (a águia).

Outros ainda os viram como tipos dos quatro poderes motivadores da alma humana — razão, ira, desejo, consciência; e outros,

como os quatro elementos — terra, ar, fogo, água; outros, as quatro ordens na igreja — pastoral, diaconato, doutrinária, contemplativa; para não mencionar outros ainda! Diríamos, nas palavras dePaulo a Timóteo: “ Foge também destes” ! Uma licença assim imaginosa é um descrédito para a verdadeira tipologia bíblica.

Todavia, o que desejamos estabelecer aqui é que nos paralelos não-tipológicos, mas significativos, entre os quatro “ seres vi

ventes” de Ezequiel e os quatro evangelhos as verdadeiras justaposições são aquelas que mostramos, i.e., o aspecto de leão em Mateus, o de boi em Marcos, de homem em Lucas, de águia emJoão.

Desviar-se disto e adotar ajustes forçados é trocar a evidênciapela fantasia. Para dar um só exemplo, a interpretação da igreja

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católica romana é a seguinte: “São Mateus é comparado ao homempor começar com a genealogia de Cristo, pois Ele é homem; SãoMarcos ao leão, pelo fato de iniciar com a pregação de J oão Batis-ta, porque ele foi como o rugir do leão no deserto; São Lucas ao

bezerro, porque ele começou com um sacerdote do Velho Testa-mento, (a saber, Zacarias, o pai de J oão Batista), cujo sacerdóciosacrificava bezerros ao Senhor; São J oão a uma águia, por ter ini-ciado com a divindade de Cristo, voando até essa altura, desde quemais alto é imposs/vel”.

Existe algo mais infantil do que isto? Se fossem essas as úni-cas semelhanças entre os rostos dos serafins e os aspectos dos evan-gelhos, seria melhor não dizer nada sobre elas!

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O EVANGELHO SEGUNDO MATEUS (1) 

Lição nQ 8

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Cristo veio, a Luz do mundo. Muitas eras podem passar ain-da antes que seus raios tenham reduzido o mundo à ordem e bele-za, e revestido a humanidade de luz, como uma veste. Mas Eleveio: o Revelador das armadilhas e abismos que se ocultam na es-

curidão, o que repreende os predadores perversos que andam nanoite, Aquele que acalma os ventos bravios da paixão: o Avivador de tudo que é íntegro, Aquele que enfeita tudo que é belo,o Reconciliador das contradições, Aquele que harmoniza as dis-córdias, o Curador dos males, o Salvador do pecado. Ele veio:a Tocha da verdade, a Ancora da esperança, o Pilar da fé, a Rochaque dá força, o Refúgio que oferece segurança, a Fonte de frescor,

a Vinha da alegria, a Rosa da beleza, o Cordeiro da ternura, o Ami-go e conselheiro, o Irmão que dá amor. J esus Cristo andou pelomundo. As marcas dos passos divinos jamais serão apagadas. E aspegadas divinas eram de Alguém que é Homem. O exemplo de Cris-to é tal que pode ser seguido pelos homens. Avante! Até que ahumanidade passe a usar a sua imagem. Avante! em direção ao cu-me onde não se acha um anjo, nem um espírito incorpóreo ou umabstrato de virtudes ideais ou inatingíveis, mas O HOMEM J ESUS

CRISTO.

— Peter Bayne: The Testimony o f Christ to Christianity.

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O EVANGELHO SEGUNDO MATEUS (1)

O primeiro livro do Novo Testamento se abre à nossa frente— o Evangelho segundo Mateus. Os que o conhecem melhor olouvam mais. Dizer que se trata de uma obraprima de gênio hu-mano, combinado com supervenção divina não seria um elogioindulgente, como tentaremos mostrar, embora em um ritmo

necessariamente limitado.Qual seria a abordagem certa? Deveríamos primeiro exami-

nar as últimas discussões sobre sua autoria, ou reunir todas as in-formações disponíveis sobre o próprio Mateus? Não. A primeiracoisa (como deve ser feito com todos os outros oráculos), é lê-lo como se nos apresenta, até que estejamos perfeitamente familia-rizados com o seu conteúdo. Mesmo numa primeira leitura, espe-

cialmente se for lido inteiro de uma só vez, ele fornecerá muitainformação; mas se o lermos três, quatro, sete, oito ou uma dú-zia de vezes, irá tornarse mais revelador e compensador a cada lei-tura. Isso acontece com todas as partes das Sagradas Escrituras,porque por trás dos escritores humanos encontrase a atividadeorientadora do Espírito divino.

Se supusermos então que cada um de nós leu várias vezes olivro de Mateus, podemos estabelecer nossas descobertas prelimi-nares e prosseguir para um estudo mais profundo. A'cada leiturao método e a mensagem se evidenciaram mais claramente para nós.Um aspecto que naturalmente chamou nossa atenção foi a linhageográfica divisória no início do capítulo dezenove:

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“ E aconteceu que, concluindo J esus estas palavras deixou aGaliléia  e foi para o território da J udéia, além do J ordão.”

Até esse ponto Mateus dedicouse ao ministério do Senhor naGaliléia,  mas depois disso ele descreve o seu apogeu em Jerusalém. Essa “divisão” imediatamente remonta ao capítulo 4.12, onde suaúnica outra ocorrência em Mateus marca o início do ministério naGaliléia:

“Ouvindo, porém, J esus que J oão fora preso, retirou-se paraa Galiléia.” 

Vamos marcar esses dois pontos “divisórios” cuidadosamen-te, como a primeira indicação do plano básico de Mateus:

RETIROUSE PARA A GALILÉIA (4.12).DEIXOU A GALILÉIA (19.1).

Até o primeiro deles (4.12) tudo é introdutório — e ocor-re na J udéia. Depois do segundo (19.1) tudo é culminância — devolta novamente à J udéia. Entre  os dois achase o ministério naGaliléia, que ocupa a maior parte do livro.

Em ambos os casos, Mateus usa a linha demarcatória com tãonotável deliberação que certamente parece indicar assim seu planoprincipal de tratamento. Note 4.12 outra vez: “Ouvindo, porém, J esus que J oão fora preso, retirouse para a Galiléia”. Foi uma es-

colha deliberada da Galiléia em vista de circunstâncias significati-vas. O silenciar da voz do precursor anunciara solenemente que avoz do Rei iria fazerse ouvir agora em público: mas existia em J e-rusalém uma hostilidade desfavorável que ameaçava impedir amensagem e o ministério predestinados do Rei. O sinal fora dado— a escolha era deliberada: “Retirou-se para a Galiléia” .

Vejamos de novo 19.1: “ E aconteceu que, concluindo J esus

estas palavras, deixou a Galiléia”. Observe que foi ao “concluir”que J esus cruzou novamente a linha divisória. Não se tratava dehaver qualquer hostilidade perigosa na Galiléia. Havia ainda peri-go na J udéia e J esus poderia terse demorado na Galiléia; mas,não, Ele havia “concluido” suas palavras e obras prédesignadasna Galiléia e chegara a hora para sua apresentação decisiva em J e

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Esses três agrupamentos parecem consistir de uma sucessãode dez.  O Sermão do Monte (57) é composto de dez componen-tes principais. Os três capítulos seguintes (810) especificam dezmilagres. E os outros capítulos sucessivos (1118) registram dezreações representativas uma após outra. Quer tenha sido ou nãodeliberado, este aspecto repetido, de grupos de dez, chama a aten-ção e ajuda a memória.

Devemos compreender que o Sermão do Monte é um pro-nunciamento público em seu sentido mais amplo, como indica aocorrência de hoi ochloi   (i.e., “as multidões”) tanto antes comodepois dele (v. 1; 7.28). Note em 7.29, que foram “as multidões”

(“o povo”) que ficaram maravilhadas, “porque Ele /IS (a elas)ensinava...”

 A Mensagem em Dez Partes (5-7)Estes são os dez componentes do Sermão do Monte:

1. As BemAventuranças (v. 316).Ou os súditos do reino.

2. Padrões Morais (v. 1748).Ou Cristo versus “Foi dito”.

3. Motivos Religiosos (6.118).Esmolas (1); oração (5); jejum (16).

4. Adoração a Mamom (6. 1924).Ou bens materiais versus piedade.

5. Cuidados Temporais (6.2534).Ou ansiedade versus confiança em Deus.

6. Discernimento Social (7.16).Censura (1); indiscrição (6).

7. Encorajamentos (7.711).A oração torna tudo praticável.

8. Resumo numa sentença (7.12).

Uma vida assim cumpre as Escrituras.9. As Alternativas (7.1314).Dois caminhos: estreito versus largo.

10. Advertências Finais (7.1527).Falsos profetas (15); falsa profissão de fé (21); falsofundamento (26).

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Algumas dessas seções naturalmente prestamse a novas aná-lises, mas uma nova leitura cuidadosa (segundo cremos) irá confir-mar que essas são as dez zonas de pensamento que tanto dividemcomo contêm tudo o que é dito no Sermão. Além disso, o fato dever esse famoso discurso assim analisado nos capacita a distinguirrapidamente sua ordem lógica. Suas três primeiras seções estão li-gadas às virtudes, moral e motivos. As três seguintes referemse acoisas materiais, temporais, sociais. As outras três dão encoraja-mento, resumo, exortação. O discurso termina então com trêsadvertências solenes.

Note na parte final a sucessão de alternativas formais — dois

caminhos, o largo e o estreito: duas portas, a larga e a estreita:dois destinos, a vida e a destruição; duas classes de viajantes, mui-tos e poucos; dois tipos de árvores, boas e más; duas espécies defruto, bom e mau; dois construtores, o sábio e o insensato; doisfundamentos, a rocha e a areia; duas casas; duas tempestades; doisresultados.

Os Dez Milagres (8-10)Vejamos os dez milagres que Mateus agrupa agora nos capí

tulos 8 a 10:

1. A purificação do leproso (8.14).2. 0 servo do centurião: paralisia (8.513).3. A sogra de Pedro: febre (8.14, 15).

4. 0 acalmar da tempestade (8.2327).5. A cura dos endemoninhados gadarenos (8.2834).6. A cura do paralítico (9.18).7. A mulher com hemorragia (9.1822).8. Ressurreição da filha do chefe (9.2326).9. A cura de dois cegos (9.2731).

10. A cura de um mudo endemoninhado (9.3234).

Além disso, nesses três capítulos que agrupam os milagresexistem também duas declarações generalizadas de que J esus cura-va “toda” e “qualquer” doença; mas apenas as dez acima citadasforam detalhadas. Outrossim, o terceiro desses capítulos, i.e., capí-tulo 10, narra o milagre mais abrangente de todos, a saber, a trans-

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missão deste poder de operação de milagres aos doze apóstolos, pa-ra que eles também pudessem contar as boas novas e estender osbenefícios de cura do reino. Todavia, mesmo assim, nenhum exer-cício desse poder transmitido é registrado, de modo que nossoolhar se mantém fixo nos dez milagres já descritos.

Existe, então, algo especialmente significativo a respeito de-les? Sim. Eles são representativos e completos. Os três primeirosse unem; depois há uma interrupção em que nosso Senhor respon-de a certos prováveis seguidores que se entusiasmaram com suasobras poderosas. Os três seguintes também se juntam, vindo en-tão outra pausa em que o Senhor responde aos fariseus e aos dis-

cípulos de J oão. Os últimos quatro também se agrupam e depoisdeles vem o comentário completivo: “E percorria J esus todas ascidades e povoados... curando toda sorte de doenças e enfermida-des”.

t Os três primeiros milagres curam todas as moléstias físicasfuncionais que afetam o corpo inteiro,  i.e., lepra, paralisia, febre.Os três seguintes mostram o poder do Senhor em outras esferas,

i.e., no reino natural   (o acalmar da tempestade), no reino espiritual   (expulsão de demônios), no reino moral   (“Teus pecados tesão perdoados”. Os quatro últimos referemse a doenças locais eorgânicas do corpo, i.e., hemorragia, cegueira, mudez, e a supre-ma demonstração de poder na ressurreição de mortos.

O efeito produzido pelo primeiro trio foi o desejo entusias-ta de seguilo “para onde fores”. A reação depois do segundo triofoi as multidões terem “se maravilhado e glorificado a Deus”. O re-

sultado depois do terceiro grupo foi que “as multidões se maravi-lharam dizendo, isto nunca foi visto antes em Israel”.

O número dez significa nas Escrituras a totalidade. Isso é fá-cil de compreender. Nosso sistema numérico inteiro consiste devários dez,  o primeiro sendo um tipo de conjunto, desde que setrata de um ciclo completo e representativo de todos os númerosque podem ser usados. Assim sendo, na Escritura, o significado

permanente do número dez é a representação da totalidade, mar-cando o ciclo ou sucessão inteira — como por exemplo as dez gera-ções da era antidiluviana; as dez pragas do Egito, simbolizando ocírculo completo do juízo divino; os dez mandamentos da Lei;os dez reinos, representativos do poder mundial do Anticristo; eassim por diante. E isso então que parece acontecer com os dez

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milagres que Mateus agrupou para nós nos capítulos 8 a 10. Elesrepresentam a perfeição ou totalidade.

Podemos ainda acrescentar algo. Esses dez milagres foramselecionados dentre os muitos  realizados pelo Senhor, em vistade alguma característica especial contida neles. Em cada um doprimeiro trio a ênfase está em alguma coisa que o próprio Jesus disse ou fez. No trio seguinte encontramos três pronunciamentosnotáveis sobre  J esus feitos por outras pessoas. No quarteto finalexistem quatro pontos altos dignos de nota.

Vejamos o primeiro trio — com três coisas notáveis feitas ouditas por Jesus.  Nada espantaria tanto os judeus como a cura ins-

tantânea da lepra — a mais temida e simbólica de todas as doen-ças. Mateus a coloca então em primeiro lugar. Todavia, mesmo esse  milagre deve ser coroado por este  maravilhoso prodígio: “E J esus, estendendo a mão, tocou-lhe...”   O fato de J esus ter toca-do aquela pessoa repugnante e intocável tornou a cura tanto umarevelação de misericórdia divina como de poder sobre humano.A seguir, ao curar o servo paralítico do centurião gentio, J esusfaz a surpreendente declaração: “Digovos que muitos virão doOriente e do Ocidente e tomarão lugares à mesa com Abraão,Isaque e J acó no reino dos céus. Ao passo que os filhos do reinoserão lançados para fora, nas trevas; ali haverá choro e ranger dedentes”. Depois disso, a cura da febre atrai tantos outros sofre-dores que o grande Médico é repentinamente visto cumprindoa Escritura do Velho Testamento quando Mateus escreve: “Paraque se cumprisse o que fora dito por intermédio do profeta

Isaías: Ele mesmo tomou as nossas enfermidades e carregou comas nossas doenças”.

Vamos examinar agora o segundo trio — e os três pronuncia-mentos importantes sobre  J esus. O acalmar da tempestade provocaa exclamação admirada: “Quem é este que até os ventos e o marlhe obedecem?” Em seguida, os dois endemoninhados gadarenosclamam: “O Filho de Deus! Vieste aqui atormentar-nos antes do

tempo?” Quando o paralítico é curado, os escribas murmuram:“Este blasfema,” dando lugar à tremenda revelação: “O F ilho dohomem tem sobre a terra autoridade para perdoar pecados”.

Queremos observar finalmente os últimos quatro milagres— quatro culminâncias dignas de nota. Na ressurreição da filhado chefe vemos o milagre culminante de fazer levantar os mor

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tos. A seguir, na cura produzida pelo simples toque nas vestesdo Senhor, temos a evidência culminante de que Ele não era umsimples agente, mas a fonte e plenitude do poder da cura, suaprópria pessoa energizada por esse poder. Depois disso, ao devol-ver a vista aos dois cegos testemunhamos uma manifestação completiva de que deve haver fé em Cristo. Os dois cegos jamais ti-nham visto J esus nem podiam ver para testemunhar uma só cura.Pela primeira vez, portanto, J esus inicia a cura dizendo: “Credesque eu posso fazer isso?” Finalmente, ao curar o endemoninha-do mudo, a ênfase é colocada sobre o cinismo perverso dos fari-seus: “Pelo maiorial dos demônios é que expele os demônios”.

Seu veredicto hipócrita foi uma culminância  de preconceito hos-til. Nas três curas anteriores houve um ponto culminante de fé — fé embora a menina estivesse morta; fé em que o fato de apenastocar as vestes de J esus resultará em cura, sem que Ele diga sequeruma palavra; fé até mesmo em meio à cegueira e isolada de todaevidência visível. Mas aqui, com os fariseus, vemos o auge da incredulidade,  pois eles ousam até atribuir as curas graciosas do Se-nhor à cumplicidade com Satanás! Os dez milagres são, na verda-de, um conjunto significativo!

 As Dez Reações (11-18)A esta altura devemos saber mais definitivamente quais fo-

ram as várias reações a este Pregador que operava prodígios e asua exposição do reino dos céus. Mateus se antecipa a nós e em

seu novo agrupamento (1118) exemplifica em sucessão dez rea-ções desse tipo. Episódios acidentais se mesclam às mesmas, dandocolorido e seqüência à movimentação da história, mas o foco seconcentra nas dez respostas provocadas, a saber:

1.  J oão Batista (11.215).2. “Esta geração” (11.1619).

3. Cidades da Galiléia (11.2030).4. Os fariseus (12.2, 20, 14, 24,38).5. As multidões (13. Veja nota no final do cap.).6. Os nazarenos (13.5358).7. 0 rei Herodes (14.113).8. Os escribas de J erusalém (15.120).

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sua própria amabilidade social, a falha está nos ouvintes e não naabordagem. Sua reação às cidades impenitentes, em conjunto, foipronunciar juízo e afastarse delas com uma nova mensagem parao indivíduo:  “Vinde a mim todos os que estais cansados e sobre-carregados...” Aos fariseus insensatos, sua reação é uma advertên-cia terrível contra a excessiva distorção da verdade e ofensa im-perdoável ao Espírito Santo. A multidão obtusa seus ensinamen-tos sobre o reino são desde então feitos principalmente atravésde parábolas (13.10, 34). Aos seus concidadãos desdenhosos a res-posta é a suspenção dos “milagres”. Em relação a Herodes é o si-lêncio e a fuga. Para com os escribas de J erusalém a reação é acu-

sálos de anular hipocritamente as próprias Escrituras de que sediziam guardiães. Para os saduceus reprovação e recusa. Para osDoze, que O reconhecem e confessam, é “Bemaventurado!...não foi carne e sangue quem to revelou... e sobre esta pedra edi-ficarei a minha igreja”. Depois disso, até sua partida da Galiléia,o Senhor não mais falou em público, mas se dedicou a instruirapenas os discípulos.

Este é então um resumo de todos esses fatores e aspectos:o interesse nos milagres, na mensagem e no Homem é grande;mas os que respondem com sinceridade espiritual e inteligênciasão uma pequena minoria, enquanto os líderes religiosos e polí-ticos se mantêm numa atitude de inimizade. Quando o ministériona Galiléia chega ao fim, o Senhor já prevê a rejeição implícitado Rei e do reino por parte de Israel e anuncia a chegada da no-va d ispensação: "Edificarei a Minha  IGRE J A”.

NOTA: Fica perfeitamente claro que nas parábolas do capítulo 13,o Senhor estava avaliando os resultados de sua pregação até aqueleponto. A primeira parábola mostra que apenas um pequeno núme-ro dentre as multidões era composto por ouvintes do tipo “boaterra”. Ele tem sempre as multidões em mente e seu juízo sobreelas é visto nos versos 1315.

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O EVANGELHO SEGUNDO MATEUS (2) 

Lição nQ 9

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NOTA: Por que não ler todo o livro de Mateus de uma só vez,para este estudo?

MATEUS DEVE SER O PRIMEIRO?

Parece que está em moda hoje em dia colocar Marcos antesde Mateus, na suposição de que seu evangelho foi escrito antes dosde Mateus e Lucas, tendo sido usado por ambos como fonte de au-toridade. Porém, a teoria que dá prioridade a Marcos não nos con-vence. Nós a consideramos como um pretexto duvidoso, emprega-do unicamente em vista das outras teorias sobre a origem dos sinó-ticos terem falhado. Alguns dos argumentos que lhe servem de ba-

se são bastante frágeis e seu desaparecimento dentro em breve nãonos surpreenderia demais. Mas, se deixarmos de lado todas essasconsiderações críticas, não fica claro que Mateus deve ser o primei-ro de nossos quatro evangelhos? Como nenhum outro, ele liga oNovo com o Velho Testamento, mostrando como J esus cumpriuas Escrituras hebraicas. Mateus contém mais citações e alusões aoVelho Testamento do que Marcos e Lucas juntos. Além disso, desdeque Mateus (e só ele) escreve principalmente aos judeus,  não é ele

o verdadeiro introdutor do Novo,  assim como o elo óbvio com oVelho? — pois mesmo o Novo é "primeiro para o judeu".  Pedimosque nos perdoem então por mantermos Mateus em primeiro lugare ficarmos fora de moda!

J . S . B.

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Poderemos fazer uma análise mais completa mais tarde, conforme será necessário, mas esta servirá para o momento. Vejamosagora a segunda parte (19-28).

 A ApresentaçãoPor “ Apresentação” queremos naturalmente indicar a apre

sentação pública que o Senhor fez de si mesmo em Jerusalém como o Messias-Rei. Esta parte da narrativa se faz numa seqüênciade quatro partes:

Viagem para a  cidade (19-20).Entrada na cidade (21.1-17).Oposição na cidade (21.18 até cap. 23).O discurso no Monte das Oliveiras (24-25).

O que Mateus quer que vejamos nesses três movimentos? Entre várias circunstâncias casuais, quatro aspectos são especialmente destacados para chamar nossa atenção, como segue:

Primeiro, na viagem  para a cidade (19-20) devemos observarque o Senhor previa o resultado de sua presença predeterminadaem Jerusalém, antes mesmo de chegar aos portões.

"Estando Jesus para subir a Jerusalém, chamou à parte os do ze e, em caminho, lhes disse: Eis que subimos para Jerusalém, e o Filho do homem será entregue aos principais sacerdotes 

e aos escribas. Eles o condenarão à morte. E o entregarão aos gentios para ser escarnecido, açoitado e crucificado; mas ao terceiro dia ressurgirá ” (20.17-19).“Tal como o Filho do homem, que não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos"  (20.28).

Segundo, na entrada  triunfal do Senhor (21.1-17) devemosobservar que Ele certamente ofereceu-Se como o Messias-Rei deIsrael e que os líderes judeus compreenderam isso. Como qualquerexpositor, mesmo um “anti-dispensacionalista” poderia escrever(como vimos recentemente) “ Jesus em ponto algum ofereceu-Seaos judeus como seu Messias-Rei” é deveras estranho. Consciente

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e mui deliberadamente Ele cumpriu Zacarias 9.9, como Mateus enfatiza:

"Dizei â filha de Sião: Eis a í vem o teu Rei, humilde, mon

tado em jumento, num jumentinho, cria de animal de carga” (21.5).

Ele não só aceitou o clamor da multidão, “ Hosana ao Filhode Davi!” mas, com um lampejo de indignação real nos olhos, expulsou os vendilhões do templo; e quando os principais sacerdotes, irritados com os gritos de louvor dos meninos perguntaram:

 “Ouves o que estes estão dizendo?” Ele replicou, “ Sim; nuncalestes: Da boca de pequeninos e crianças de peito tiraste perfeito louvor?” Aqueles líderes judeus certamente compreendiam.Não foi acidental a inscrição que pouco mais tarde poderia ser lidasobre a sua cruz: “ ESTE E JESUS, O REI DOS JU DEUS”.

Terceiro, nos sinistros conflitos  que então se seguiram na cidade, entre Jesus e os partidos judeus (21.18 até o cap. 23) devemos ver que não só eles  haviam decidido implacavelmente rejei-

tá-IO, como também Ele agora os  rejeitava. A figueira estéril queamaldiçoou era um símbolo deles (21.18-27). Desde o momentode sua entrada, veja como eles lhe fazem oposição (21.15, 23-27).Os herodianos, saduceus e fariseus se unem para persegui-IO (22).Mas Jesus vence sempre. Ele não só lhes responde como tambémos reduz ao silêncio humilhante (22.46). Além disso, ele os expõeem parábola após parábola (21.28-22.14), e finaliza sua completa

aversão naquela denúncia pública e mortal pontuada oito vezescom a frase, "A i de vós, escribas e fariseus, hipócritas!”  O, a tragédia da religiosidade cega e do amor ultrajado, fazendo que Aquele que começou seu ministério na Galiléia com oito “ Bênçãos”devesse encerrá-lo em Jerusalém com esses oito “ A is” ! Os líderes

 judeus não puderam resistir à sua sabedoria, mas resistiram  o seutestemunho  (discípulo de Cristo, note bem esse fato, pois a mesma atitude existe ainda hoje!) E o Redentor real, com o coraçãopartido, afastou-se, com um soluço que representou o repentinoexplodir de um sentimento infinito e profundo: “ Jerusalém, Jerusalém! que matas os profetas e apedrejas os que te foram enviados! quantas vezes quis eu reunir os teus filhos, como a galinhaajunta os seus pintinhos debaixo das asas, e vós não o quisestes!

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Eis que a vossa casa vos ficará deserta. Declaro-vos, pois, quedesde agora já não me vereis, até que venhais a dizer: Benditoo que vem e|n nome do Senhor!” 

Quarto, na  profecia  das coisas que deveriam acontecer fei

ta por Jesus no Monte das Oliveiras, devemos ver, antes de qualquer outra coisa, que ela foi pronunciada fora  da cidade, por umCristo que agora se afastara e que os acontecimentos previstosse deviam  ao fato dEle ter sido rejeitado. A interrupção do capítulo não deve obscurecer a ligação entre as últimas palavras docapftulo 23 e as primeiras do 24: “Desde agora não me vereis...Tendo Jesus sardo... Não ficará aqui pedra sobre pedra... quando

sucederão estas coisas?... E ele lhes respondeu (i.e., o discurso doMonte das Oliveiras).A entrada triunfal se encerra então num sombrio anti-clí-

max. A atenção do Senhor estava agora inteiramente dedicadaao círculo íntimo dos discípulos. A presciência onisciente que sefez sentir em seu discurso no Monte das Oliveiras, deve ter sidoum grande alívio para eies, pois sem dúvida haviam ficado espantados com a severa dignidade com que Ele havia antagonizado deli

beradamente os líderes religiosos e afastado a classe governante.Notamos ira, mas não uma explosão de gênio. Com toda serenidade, enquanto se achava assentado na encosta do Monte, Ele fala de seu triunfo final, para além da tragédia presente e dificuldades que logo viriam.

Alguém pode perguntar: “Se Jesus previa que iriam rejeitá-10, por que se ofereceu então em Jerusalém? ” Mateus não nos dei

xa qualquer dúvida a respeito. O Senhor não profetiza uma vezsequer a sua crucificação isoladamente da sua genial ressurreição (veja 16.21; 17.22, 23; 20.17-20; 26.28-32). Esse fato nos leva adistinguir entre a presciência divina e a predeterminação divina.Deus não predeterminou a traição do Senhor da Glória por partede Judas ou que os líderes judeus iriam maldosamente matá-IO;mas ele previu tudo isso, esperou que viesse a acontecer e soberanamente superou tudo de modo a mostrar como, sem violar aliberdade do livre-arbítrio humano, Ele triunfou até mesmo sobre o exercício pecaminoso da vontade, para o cumprimento deoutros e maiores propósitos a bem de seu universo. A mesma presciência e predominância continua operando e abrange o nosso tempo, individual, internacional e racialmente. Essa a razão pela

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qual muitas coisas que nos parecem verdadeiros enigmas, que vive-mos e vemos simplesmente minuto a minuto, são permitidas. Es-tamos num ponto da história em que podemos ver quão fielmentea predição desta época, feita no Monte das Oliveiras, se desenrolou

e chega agora às suas descrições finais. As conclusões distantes queo Senhor presciente pintou para os discfpulos num horizonte lon-gínquo, são para nós indícios de uma era e um reino milenar quelogo virão!

 A Crucificação

Vamos em seguida para os dois capítulos sobre a crucificação(26 e 27). A seqüência é de novo quádrupla. Quatro cenas se suce-dem em patética e dramática culminância. O Senhor Jesus é vistoem quatro cenários:

Entre os discípulos (26.156)Diante do Sinédrio J udaico (5775)Perante o Governador Romano (27.126

Crucificado, morto e sepultado (2766).

Ficamos mais uma vez impressionados pela narrativa fatual edireta. Não se faz qualquer esforço no sentido de obter um efeitosimplesmente literário, nem se trata de elaborar pormenores em-baraçosos. Percebese, todavia, que Mateus tem realmente um pro-pósito ao colorir sua narrativa. Existem certos significados princi-

pais nessas quatro cenas comoventes que ele quer que sem dúvidapercebamos.Na primeira delas, em que o Senhor achase reunido com os 

doze  (26.156), o aspecto enfatizado é que Ele previu perfeitamen-te cada detalhe da nova série de acontecimentos. Quando Mariade Betânia unge J esus com o precioso ungüento, Ele diz: “ela ofez para o meu sepultamento” (26.12). Quando os doze sentamsepara cear com Ele, J esus lhes diz que na verdade um deles iriatraílo e indica J udas (26.25). Quando Pedro se vangloria, “Aindaque todos se escandalizem em ti, eu nunca me escandalizarei”, Eleo adverte antecipadamente: “Antes que o galo cante, três vezes menegarás” (Mt 26.33, 34). O fato desta previsão expressarse agoraem relação à Cruz é extremamente significativo. Ele a associa com

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a Páscoa judaica de modo a deixar claro que Ele é a nova  Páscoa(26.2). Faz também ligação com J eremias 31.31, etc., e indica seusangue como “o sangue da nova aliança” (26.28). Mostra seu elocom as profecias do Velho Testamento, tais como Isaías 53, pois

seu sangue será derramado em substituição  (“derramado em favorde muitos”), e propiciação  (“para remissão de pecados”). No Get-sêmani, em sua agonia, a soberania do Pai é reconhecida acima detudo, e o Filho encarnado se inclina em sublime submissão.

Na segunda cena, em que o Senhor se apresenta diante do Sinédrio judaico  (26.5775), o fato notável é que Jesus foi conde-nado especificamente por afirmar ser o Messias de Israel. Seu si-

lêncio desconcertante levou o sumo sacerdote a exclamar: “Eu teconjuro pelo Deus vivo que nos digas se tu és o Cristo, o Filho deDeus” (26.63). Uma resposta a tal intimação era obrigatória e oSenhor disse então: “Tu o disseste; entretanto, eu vos declaro quedesde agora vereis o F ilho do homem assentado à direita do Todopoderoso, e vindo sobre as nuvens do céu”. Isso era tudo o que oSinédrio desejava e eles imediatamente o acusaram de “blasfêmia”e o declararam “réu de morte” (versos 6568). Ele foi crucificadopor isso e nada mais.

Na terceira cena, onde J esus se acha diante do governadorromano (27.126), devemos notar que os judeus o entregaram porter alegado ser o seu Cristo, mas agora haviam manipulado a idéiade modo a parecer aos ouvidos de Pilatos que J esus se proclama-ra Rei  dos judeus. A primeira pergunta de Pilatos foi esta: “Es tuo rei dos judeus?” O experiente Pilatos logo percebeu que seu pri-

sioneiro não merecia a morte (versos 23, 24), mas o que salvariao seu próprio pescoço caso as autoridades romanas lhe perguntas-sem porque a crucificação de J esus fora permitida, era o fato dEleter alegado ser o “ Rei” dos judeus em oposição ostensiva a César;essa a razão da acusação de Pilatos em letras grandes sobre a Cruz:“ ESTE É J ESUS, O REI DOS J UDEUS”, que também serviu deinsulto sutil aos judeus, cujo motivo para entregar Jesus era a in-

veja, como Pilatos sabia muito bem (27.18).E agora a quarta cena, esse espetáculo que inspira reverência,que mortifica a alma, a Crucificação  (27.2766). Para aqueles den-tre nós que amam o Senhor J esus, a Cruz jamais pode ser objetode frio estudo intelectual. Nossa teologia da mesma não pode dei-xar de ser continuamente banhada com nossas lágrimas, pois en-

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tramos de alguma forma na comunhão dos seus sofrimentos. Todavia, nem as nossas mais ternas emoções de gratidão e ado-ração podem obscurecer o fato de que Mateus quer destacarpara nós duas coisas acima de todas as demais. Primeiro, ao des-crever (mais completamente do que Marcos, Lucas ou J oão)as anormalidades que acompanharam o episódio — as trevas du-rante o dia, o terremoto, o fender das rochas, os sepulcros que seabriram — ele quer que exclamemos como fez o estupefato centurião: “Verdadeiramente este era F ilho de Deus” (v. 54). Segun-do, ao relatar simultaneamente que o véu do santuário se rasgouem duas partes, de alto a baixo, não por meio de mão humana, ter-

rena, mas pela mão divina “do alto”; não apenas em parte, mascompletamente, “de alto a baixo”, ele quer que observemos oprofundo significado dessa Cruz em direção a Deus.  Esse Sofre-dor é “o F ilho dé Deus” e a Cruz efetuou algo tremendo entre aterra e o céu. Os detalhes posteriores asseguram que a vida físi-ca extingüiuse e que o cadáver fo i realmente sçpúitaido? J>lão po-deria haver um despertamento corporal excetfHátravés de ssur

reição milagrosa.

 A RessurreiçãoUm curto capítulo de vinte versos é reservado para o super-

ei ímax — aquele evento mais básico e vital de todas as “evidên-cias cristãs”! Não seria de se esperar que Mateus expandisse ex-cessivamente sua narrativa neste ponto, demorandose afetuosa-mente no magistral triunfo que vingara o seu Herói e confundiraseus maldosos crucificadores? Talvez sim, à primeira vista; mas,pensando bem, não. A única preocupação de Mateus é chegar  lá  — alcançar o milagre da ressurreição, como o fato  final triun-fante em sua biografia fielmente verídica. Ele não se ocupa aquido desenvolvimento teológico do fato (que deveria seguirse maistarde), mas com a narração do fato em si e o pronunciamento sim-

plesmente estupendo que saiu dos lábios do Cristo ressurreto a es-se respeito: “Toda autoridade me foi dada no céu e na terra. Ideportanto, fazei discípulos de todas as nações, batizandoos em no-me do Pai e do F ilho e do Espírito Santo; ensinandoos a guardartodas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou convoscotodos os dias até à consumação do século” (M t 28.19, 20). O breve

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relato dividese em quatro parágrafos: 1.  A intervenção do anjo(versos 17); 2.  O reaparecimento do Senhor (versos 810); 3. Ahistória falsa dos judeus (versos 1115); 4.  O reenvio dos Onze(versos 1620).

Quantos, ou quão poucos, daqueles que lêem o último pro-nunciamento registrado do Senhor ressurreto, apreendem o abso-luto esplendor do mesmo? “Toda autoridade me foi dada no céu ena terra”. A palavra “autoridade” é uma tradução melhor que“poder”, pois o significado aqui não é o poder inerente do Senhormas sua autoridade administrativa. Essa a razão de dizer: Toda au-toridade ME foi dada”.  Será que Ele não teve sempre essa autori-

dade? Como DeusFilho, sim; mas não como J esus, “ F ilho do ho-mem,” “ Filho de Davi”. As Escrituras deixam transparecer tantoàs claras como sutilmente que Satanás  mantém uma relação pecu-liar de autoridade sobre a terra. Ele não foi sempre Satanás e oDiabo, mas Lúcifer, o “querubim ungido”. Existem indicações deque a desolação total descrita em Gênesis 1.2 resultou da infide-lidade vaidosa e insurreição deste arquipríncipe entre os anjos.Quando o domínio da terra foi dado ao homem,  Satanás imedia-tamente planejou a queda de Adão. Ele é chamado de “príncipedesi mundo”. Quando tentou o Senhor, dizendo: “Tudo isto tedarei (i.e., ‘todos os reinos do mundo’), pois a mim pertence”, oSenhor não discutiu sua afirmação. Além disso, de alguma manei-ra misteriosa ele manteve o “poder da morte”   (Hb 2.14) e é cha-mado “o príncipe da potestade do ar” (E f 2.2).

Mas seu poder achase agora desfeito e sua autoridade para

sempre removida. Esse  é o significado da ressurreição do Senhore de suas palavras: “Toda autoridade me  foi dada...” Da mesmamaneira que o primeiro Adão caiu e perdeu seu domínio, J esus,o “segundo Adão,” venceu preferindo obedecer a vontade doPai até o custoso extremo do Calvário; pelo qual Ele tornousenão só o Redentor da raça decaída de Adão, mas o líder de umanova humanidade, o experiente, provado, testado, digno Execu-

tor da vontade divina e o Administrador dos propósitos divinos,atestado pela ressurreição.E por isso que agora Ele diz: “Toda autoridade me foi da-

da, no céu e na terra”. Essa a razão pela qual afirmou mais tardea J oão na distante ilha de Patmos: “ Eis que estou vivo pelos sé-culos dos séculos, e tenho as chaves da morte e do inferno” (Ap

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1.18). As chaves não se acham mais nas garras de Satanás; maspendem da cintura de J esus; e o cetro de “toda autoridade” achase nas mãos que trazem as cicatrizes dos pregos!

Descobrimos no Velho Testamento a clara profecia de que

o Cristo que viria seria o “ F ilho de Davi”, que ele ocuparia o tro-no e reinaria não apenas sobre um Israel restaurado mas tambémsobre todas as outras nações. Foi também predito que Ele seriaRedentor e Salvador num sentido substantivo e expiatório; queseria Príncipe e Salvador, não só dos judeus, mas também dos gen-tios. Mas no pronunciamento do Senhor ressurreto, no final doevangelho de Mateus, encontramos algo que não  foi predito, e

que transcende tudo que foi   profetizado; pois o Cristo rejeitadode Israel, que se tornou agora o Salvador do mundo, é elevado“acima de todo principado, e poder, e domínio, e de todo nomeque se possa referir” (E f 1.21), e coroado Administrador de todo o universo!

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O E V A N G E L H O S EG U N D O M A T E U S  

0 REI PROMETIDO  

C O N F I R M A D O , P O R É M R E J E I T A D O : 

M O R T O , P O R É M R E S S US C IT A DO

Introdução: Genealogia (1.117) e Natividade (1.182.23). 

Batismo (3.117) e Tentação (4.111).

I. O DESVIO NA GALILÉIA (4.12 a Cap. 18).(a) O Que Jesus Ensinou — a mensagem em dez partes 

(5-7)As Bemaventuranças (v. 316). Moral (v. 1748). Moti-

vos (6.118). Mamom (6.1924). Cuidados (6.2534). 

Discernimento (7.16). Encorajamento (7.711). Resu-mo (7.12). Alternativas (7.13, 14). Advertências 

(7.1527).

(b) O que Jesus Realizou — os dez "prodígios" (8-10).Cura do leproso (8.14). Cura do paralítico (8.513). 

Cura da febre (8.14, 15). Tempestade acalmada (8.23-

27). Endemoninhados (8.2834). Cura do paralítico  

(9.18). Hemorragia (9.1822). Ressurreição da meni-

na (9.2326). Cura dos cegos (9.2731). Endemoninha-

do (9.3234).

(c) O que o Povo Pensou — as dez reações (ii-18).João Batista (11.215). “ Esta geração” (11.1619). C i-

dades da Galiléia (11.2030). Fariseus (12.2, 10, 14, 

38). Multidões (13.152). Nazarenos (5338). Herodes 

(14.113). Escribas (15.120). Saduceus (16.112). Os  

Doze (16.16).

II.O CLÍMAX NA JUDÉIA (19-28)(a) A Apresentação — Jesus oferecido como Rei (19-25). 

A viagem para Jerusalém (1920).

A entrada triunfal em Jerusalém (21.117).As oposições em Jerusalém (21.18 até cap. 23). 

A profecia resultante no Monte das Oliveiras (2425).

(b) A Crucificação — Jesus morto como um Criminoso (26-27).Jesus entre seus discípulos (26.156).

Jesus diante do Sinédrio Judaico (26.5775).

Jesus perante o governador romano (27.126).

Jesus crucificado, morto e sepultado (27.2766).

(c) A Ressurreição — Jesus Levantado como Salvador (28). 

A intervenção do anjo (28.17).A reaparição do Senhor ressurreto (28.810).

A mentira dos judeus (28.1115).

O novo envio dos Onze (28.1620).

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0 EVANGELHO SEGUNDO MATEUS (3) 

Lição nQ 10

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NOTA: Para este estudo leia os capítulos 12 e 13, de novo, váriasvezes.

INFORMAÇÕES SOBRE A PESSOA DE MATEUS

Sabemos apenas quatro coisas com certeza sobre a pessoa deMateus, mas elas são bastante reveladoras.

(1) Ele era um  publicano  (10.3), um judeu que se tornaracoletor de impostos para os odiados romanos, cuja posição eraconsiderada como profundamente desonrosa. Lemos a respeito de“publicanos e pecadores”, sendo essa associação indicativa do ní-

vel moral dos mesmos de maneira geral. Nós sabemos que Mateusera publicano através dos próprios escritos dele. Nos três relatosdo seu “chamado” (Mt 18; Mc 2; Lc 5) Marcos e Lucas lhe dão onome de Levi.  Não poderíamos então, por intermédio deles ape-nas, identificálo com um expublicano. Veja também as três des-crições da escolha dos Doze (Mt W; Mc 3; Lc 6): Marcos e Lucas o chamam agora de Mateus, mas apenas Mateus contém o lembre-te autodepreciativo, “Mateus, o publicano”,  e só ele preservou as

palavras pungentes “publicanos e meretrizes” (21.31), as quais nãoimplicam em que tivesse sido necessariamente dissoluto, masmostram  como os publicanos eram em geral considerados. O fato deMateus descrevêlos revela a sua humildade, não hesitando em des-prezarse.

(2) Ele tornou-se um discípulo de Jesus (9.9). Marcos e Lucascontam que quando ele “saiu da coletoria”, abriu hospitaleiramen-te "sua casa” ao Senhor; deu “um grande banquete” para muitos

outros publicanos ouvirem J esus; e (uma insinuação de que era ri-co) “deixou tudo”. Mateus não conta qualquer desses episódios.Suas omissões, assim como suas inserções, revelam humildade.

(3) Ele foi mais tarde escolhido como apóstolo (10.3).  Leianovamente as três narrativas. Nosso Senhor enviou os apóstolosdois a dois (Mc 6.7). Seus nomes estão também em duplas. Mateuse Tomé estão sempre juntos e seus nomes são dados nessa ordempor Marcos e Lucas. Mas Mateus  coloca Tomé em primeiro lugar — outra indicação incidental de humildade.

(4) Ele tornou-se escritor do evangelho que leva o seu nome— sobre o qual o perito no Novo Testamento, A. T. Robertson,diz: “O livro é provavelmente o mais útil já escrito por alguém;ele vem em primeiro lugar na coleção do Novo Testamento e fezmais que qualquer outro para criar a impressão de J esus obtidapelo mundo”.

J . S. B.

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O EVANGELHO SEGUNDO MATEUS (3)

 J á vimos como este primeiro livro do Novo Testamento seabre convidativamente e nos leva a explorálo mais a fundo. Toda-via, precisamos manternos dentro dos limites de nosso livro e va-

mos então apresentar só mais dois capítulos a respeito. Assim sen-do, nesta revisão oferecemos simplesmente o que julgamos ser umaorientação útil sobre certos aspectos da narrativa que podem terdeixado alguns leitores perplexos.

O Reino dos Céus

E de máxima importância saber o significado de “ reino doscéus”, pois tratase do assunto principal da pregação do Senhor.Existe, infelizmente, muita confusão a respeito. J ulgase quasesempre tratarse de um reino espiritual,  mais ou menos idênticoà Igreja:  confundir porém os dois obscurece uma das distinçõesmais claras das Escrituras Sagradas.

 J oão e J esus começaram proclamando: “está próximo o rei-

no dos céus”; entretanto, nenhum  deles explicou o que era o rei-no. Por quê? Porque seus ouvintes sabiam, sem necessidade de ex-plicação, que significava o reino messiânico de há muito prometi-do através dos profetas do Velho Testamento. Mas as profeciasdesse reino vindouro têm qualquer ligação com a igreja? De formaalguma! Consulte algumas delas e verifique.

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A previsão referese a um reino visível, com o Messias reinan-do no trono de Davi, sobre Israel e as nações dos gentios reunidas,num império mundial. Aspectos éticos e espirituais são prognosti-

cados, mas o reino em si deve ser visível, messiânico, global — aprópria antítese de uma “igreja” que pelo seu próprio nome, i.e.ecclesia, é uma minoria chamada para fora, exclusiva.

Esse reino prometido foi anunciado pelo precursor, depoispregado pelo Senhor com credenciais messiânicas evidentes a to-dos, exceto para uma geração deliberadamente cega. Para um povoansioso pelos aspectos materiais do reino há muito esperado, suasexigências morais  eram inaceitáveis. Apesar do entusiasmo popu-

lar despertado pelos seus ensinos e curas, o Senhor viuse obrigadoa dizer: “O coração deste povo está endurecido” (13.15). O reinofoi rejeitado e o rei crucificado. Uma nova oferta foi feita duran-te o período de espera coberto pelo livro de Atos, além da tremen-da e nova mensagem da expiação através do Messias J esus agoracrucificado, ressuscitado e elevado aos céus, e confirmado por si-nais e milagres no Pentecostes. Mas houve nova rejeição, primeiro

dos judeus da pátria (At 212), a seguir pelos judeus da Disper-são (1328).O reino é então retirado. “O seu sangue caia sobre nós e so-

bre nossos filhos!” gritaram os líderes judeus na manhã da cruci-ficação. “Quantas vezes quis eu!... E vós não o quisestes!... J ánão...” (Mt 23.37, 39). Israel não quis  ver e agora não pode  ver.“Veio endurecimento em parte a Israel, até que haja entrado aplenitude dos gentios” (Rm 11.25). A igreja não é o reino; nemesta era presente a era do reino. Quando o anjo anunciou previa-mente a Maria o nascimento de Jesus, ele disse: “O Senhor lhe da-rá o trono de Davi, seu pai; ele reinará para sempre sobre a casa de

 J acó, e o seu reinado não terá fim” (Lc 1.32, 33). Dessa forma, oSenhor e o “reino dos céus” pregado por Ele foram associadosimediatamente com o reino messiânico prometido antes no Velho

 Testamento. O “reino de Davi” e a “casa de J acó” não devem ser

espiritualizados. O Senhor não tomou ainda posse desse trono deDavi, mas Ele o fará em seu segundo advento. O reino será estabe-lecido quando o Rei voltar e uma Israel penitente disser: “Benditoaquele que vem em nome do Senhor!”

Folheie novamente o evangelho de Mateus: veja as muitas re-ferências ao “reino dos céus” que falam dele como ainda futuro,

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 Tratase de uma lei da vida: aquilo que não usamos, eventual-mente perdemos.  Era isso que acontecia com Israel; e foi justamen-te esse o princípio agora expresso nas palavras do Senhor: “Poisao que tem (i.e., ao que recebeu sinceramente a palavra) se lhe da-rá, e terá em abundância; mas, ao que não tem (i.e., não recebeusinceramente a palavra) até o que tem lhe será tirado” (v. 12). Apartir de então o Senhor ocultaria seus ensinamentos do reino naforma de parábolas. Havia misericórdia nisso, pois poupava o ou-vinte não receptivo da culpa maior de desprezar a verdade clara-mente estabelecida. Havia também juízo — “Até o que tem lhe se-rá tirado”.

 Todavia, as próprias parábolas que deveriam encobrir  a ver-dade de alguns, revelariam nova  verdade aos discípulos sinceros,pois “ao que tem se lhe dará”. A esta altura, a rejeição implícitado reino por parte de Israel fora evidenciada e nessas parábolas deMateus 13, o Senhor ia revelar verdades até então ocultas sobre ofuturo do reino, em conseqüência de sua presente rejeição. Esseé o significado do v. 35: “Abrirei em parábolas a minha boca; pu-

blicarei coisas ocultas desde a criação do mundo (veja também osversos 16, 17). J esus estava realmente apresentando agora novas verdades sobre os aspectos futuros do reino, depois dele ter sidorejeitado por Israel. E esse fato que nos orienta sobre o seu signi-ficado.

As Sete Parábolas de Mateus 13

Se quisermos que as sete parábolas de Mateus 13 sejam con-sistentes, devemos evitar dois extremos opostos de interpretação:primeiro, espiritualizá-las  de forma que se refiram supostamenteà igreja e à religião cristã; segundo, manipulá-las  de modo a seadequarem a uma teoria dispensacionalista. Os que consideram oreino simplesmente espiritual, irão naturalmente cair no primeiroerro. Os que sustentam um ponto de vista hiperdispensacionalista

tendem para o segundo. Devemos evitar exigir que cada detalhede uma parábola signifique algo. São as principais figuras e carac-terísticas que contêm o paralelo. Os detalhes são muitas vezes sim-plesmente um cenário acidental.

Qual é então o sentido das sete parábolas em Mateus 13? Emprimeiro lugar, elas não  se referem à igreja — pois esta nem sequer

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foi ainda mencionada. Cada uma delas, exceto a primeira, começa: “O reino dos céus é semelhante...” Esse reino não é a igreja.

Elas também não descrevem a cristandade nesta era presente,como afirmam certos dispensacionalistas. Neste ponto, segundo

nossa opinião, a Bíblia “ Scofield” comete um erro, propondo umateoria artificial em que o reino existe na terra hoje numa chamada “forma misteriosa” . A nota de Scofield sobre Mateus 13.3 compara esta “forma misteriosa” do reino com “a esfera da confissãode fé cristã” , e depois acrescenta, “ É a cristandade” . Tenho prazerem reconhecer que muitas coisas são excelentes nas notas deScofield, mas esta ficção dispensacionalista, no sentido de que o

reino rejeitado existe agora no mundo em “ forma de mistério” ,aliás cristandade, é seguramente ridícula. Ponto após ponto, asnotas de Scofield contradizem as frases mais claras do Senhor,como alguns exemplos mostrarão. Primeiro:na parábola do joio edo trigo, nosso Mestre diz claramente: “O campo é o mundo”  (v. 38); mas as notas de Scofield, embora comecem reconhecendoisto, mais tarde se desviam dizendo: “ A parábola do joio e do trigo não é uma descrição do mundo, mas daquilo que professa sero reino”. Segundo, na parábola do fermento, nosso Senhor começa nitidamente: “O reino dos céus é semelhante ao fermento” ;enquanto a nota de Scofield diz que o fermento é “o princípioda corrupção operando ardilosamente” na forma de “doutrinaperversa”. Uma tal contradição das palavras do Senhor não é umaconjetura estranha?

Qual será então o propósito dessas parábolas? Vamos deixar

que sua localização  seja nosso guia. Elas ocorrem naquela seçãoda narrativa que fala das várias reações à mensagem do Senhor(veja a lição número 8). Ele já reprovou as cidades impenitentesda Galiléia; e agora, na parábola do semeador, retrata os resultados de sua pregação entre as multidões. Só uma fração delas provara ser um “ solo bom” (veja 13.18-23). As outras seis parábolassão destinadas a revelar, embora parcialmente e de forma sutil,

certas verdades de longo alcance até então retidas com relaçãoao adiamento do reino, em resultado da resistência de Israel.

O Joio e o TrigoO Senhor explicou também mais tarde, particularmente, a

parábola do joio e do trigo. Confrontada com sua explicação

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direta, a teoria de Scofield quanto à existência do reino no mundohoje na chamada “ forma misteriosa” , parece certamente estranha.O bom semeador é o “ Filho do Homem” . O campo é “ o mundo” .A boa semente é representada pelos “filhos do reino”. O joio são

os “ filhos do maligno” ; e o “ inimigo” que os semeou é o “diabo” .A ceifa é a “ consumação do século” . Os ceifeiros são os “anjos” .E a parábola termina. “ ENTÃO (i.e., no fim dos tempos) os justos resplandecerão como o sol, no reino de seu Pai” .

O envio de anjos quando o Filho do Homem voltar no finalda presente era, e o estabelecimento do reino então,  é uma idéiamuito repetida no Novo Testamento. O próprio Senhor a declaradiretamente em seu sermão no Monte das Oliveiras. O reino virá “ ENTÃO” e não antes. _

O que o Senhor não  revelou na parábola é que o “ ENTÃO ”estava bem distante, separado pela presente dispensação da graça. Isso não poderia ser na verdade revelado, caso contrário a oferta contínua do reino a Israel pelo Senhor e seus apóstolos se teriatransformado em simples faisa, embora fosse perfeitamente genuína. O livre arbítrio da nação foi respeitado e permitido que os

acontecimentos tivessem seu curso. E a presciência divina que falanessas parábolas, divulgando o que deveria acontecer em vista docomportamento já  previsto  de Israel. O estabelecimento do reinodeveria ser adiado.

O detalhe que aparentemente sugere a existência do reinoagora  na forma de mistério, como cristandade, é que os “filhos(i.e. herdeiros) do reino” e os “filhos do maligno” crescem jun

tos até  a última ceifa. Nesse ponto a nota de Scofield se desviado que está realmente escrito e passa para a simples teoria, a saber: “ A parábola do joio e do trigo não é uma descrição do mundo, mas daquilo que professa ser o reino” .

Três fatores principais se opõem decisivamente contra a idéiade Scofield:

(1) Embora o Senhor dissesse que os “ filhos” ou herdeirdo reino já se achavam no mundo e deveriam continuar nele, como joio, até a consumação do século, Ele foi igualmente definidoao declarar que o reino em si não viria até “ então", i.e., até o fimdos tempos; é portanto absolutamente errado por parte de Scofieldafirmar que esta presença dos “ filhos” na terra antecipadamente é opróprio reino, já aqui de “ forma misteriosa” , como a cristandade!

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(2) No sentido histórico, o fato decisivo é que desde 70 A.D.,quando os romanos destruíram Jerusalém e dispersaram os judeusda Judéia, o “ reino dos céus” não fo i mais oferecido aos judeus. Oque está sendo pregado nesta  dispensação, aos gentios e judeus

igualmente, é a salvação pessoal  através do Salvador cuja morte noCalvário fez expiação por toda a humanidade.

(3) Desde que o Senhor afirmou ser Ele o bom Semeador, asemeadura não pareceria referir-se ao ministério do Senhor então em lugar de algo que tem lugar agora, na sua ausência física? Ou-trossim, já que o Senhor como o Semeador toma o título messiânico de “ Filho do Homem”, isso não seria uma referência a Israel  em vez da igreja ou cristandade?

A idéia de que nesta presente dispensação os “filhos do reino” são os cristãos regenerados deve ser rejeitada. Os membros docorpo de Cristo nascidos do Espírito são bem superiores aos “filhos do reino” segundo o significado do Senhor. Quando o reinovier, eles  entrarão nele, não apenas como súditos, mas para reinar  com Cristo (como mostram outras passagens).

Se alguém dissesse que os “filhos do reino” devem  estar em

algum lugar da terra hoje porque lhes cabe crescer juntamentecom o joio até a “consumação do século”, respondemos que o final dessa era veio há muito tempo, quando o temível juízo do ano70 A.D. acabou com a nação judaica e trouxe “grande tribulação” como jamais fora vista antes. Até essa ocasião o reino foraoferecido aos judeus, primeiro pelo Senhor em pessoa (nos evangelhos), depois através dos apóstolos (em Atos); mas a dupla recusa de Israel se solidificara agora inexoravelmente. O juízo caiu;essa era terminou; o reino foi removido; houve uma interrupção;e agora, enquanto isso, surge o novo propósito de Deus, o maravilhoso movimento através da Igreja,  nesta presente dispensaçãoda graça.

Se fosse objetado que anjos não foram enviados então, comoo Senhor previra, e que portanto o juízo do ano 70 A.D. não poderia ser o que Ele indicara por “ consumação do século” , nossa

resposta, de conformidade com seus outros pronunciamentos sobre este assunto, é que existe tanto um primeiro como um cumprimento final desta parábola resultante da suspensão que se seguiu à recusa por parte de Israel. Em Mateus 24.34 nosso Senhordiz: “ Não passará esta geração sem que tudo isto aconteça” (veja

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nota no final da lição) e sabemos que todos os acontecimentos preditos se realizaram naquela geração, exceto a volta visível doSenhor com os anjos ceifeiros para estabelecer o seu reino — e opróprio Senhor fez disso  a grande exceção, pois Ele declarou:

 “ Mas a respeito daquele dia e hora ninguém sabe, nem os anjos doscéus, nem o Filho, senão somente o Pai” (24.36).

Este mesmo fenômeno de cumprimentos novos e mais próximos, com a interferência da presente suspensão, aparece outra vezem profecias ligadas com o reino. Por exemplo, o Senhor disse(veja Mt 11.14) que João Batista era um cumprimento da profeciaem Malaquias 4.5: “ Eis que eu vos enviarei o profeta...” Depois da

morte de João, porém, Ele afirmou que Elias ainda estava para vir,significando a vinda prevista de Elias no final desta era presente (ve ja a excelente nota de Scofield sobre Mt 17.10,11). Do mesmo modo, a “ ira vindoura” pregada por João teve um terrível primeirocumprimento em 70 A.D.; mas o cumprimento final, como mostra a epístola, será no final desta era: veja Apocalipse 6.17 — “ Porque chegou o grande dia da ira deles, e quem é que pode suster-se” ?

Finalmente, não devemos ver problema no fato do Senhor terdito que os “filhos do reino” deveriam estar no mundo “até”  o “ fim da era” , mesmo que tivesse indicado esta era presente.  OSenhor diz que eles são os "justos”.  Tanto os “ filhos do reino” (i.e. os penitentes, retos, piedosos, crentes) como os “filhos do maligno” estão no mundo através de toda esta era presente; e osprimeiros — sempre uma minoria — serão com certeza os herdeiros

do reino prometido quando ele vier.Devemos porém compreender claramente que o “ reino docéu” ainda não veio, nem está aqui sob qualquer “forma misteriosa” , identificando-se com a “ cristandade” ou “a esfera da profissão cristã” .

 A Semente de Mostarda e o FermentoA terceira e quarta parábolas (semente de mostarda e fermen

to) ilustram o fato do reino estar agora oculto mas que será grandioso no final. Como excelentes expositores podem transformarabelíssima descrição de Jesus acerca da árvore de mostrarda emtodo o seu esplendor no “crescimento insubstancial” do reino em

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suposta “forma misteriosa” (veja a nota de Scofield) e depoisensinar (como alguns fazem) que “as aves do céu” que alegremente se “ aninham em seus ramos” são os falsos mestres e hipócritas que exploram o reino na sua "forma misteriosa”, é pa

ra nós triste e difícil de acreditar.É mais lamentável ainda que embora o Senhor diga claramente, “O reino dos céus é semelhante ao  fermento”, eles insistam em que o reino não  é o fermento mas a massa, e o fermento a falsa doutrina. A nota de Scofield não só explica o fermento como “o princípio de corrupção” ou “falsa doutrina”, mas atéidentifica a mulher na parábola como a “ igreja apóstata” !

E realmente patético ver como a influência das teorias podedesviar os expositores bem-intencionados! Pelo fato da Escriturausar o fermento de maneira desfavorável, seria inconcebível pensarque o Senhor fizesse uso dele aqui positivamente? Adão é apresentado tanto como um tipo perverso como um tipo de Cristo. EmApocalipse 17, uma mulher simboliza o mal em sua forma maisampla; entretanto, no capítulo 12, uma mulher representa o povoda aliança. Em Mateus 13 a palavra “ aves” ilustra a atividade sa

tânica, todavia no capítulo 6.26 e em outros pontos elas são mencionadas positivamente. Até mesmo a serpente, empregada repetidamente num sentido maligno, e como um nome para Satanás, étambém mencionada como um tipo do Senhor (veja Jo 3.14). EmNúmeros 6, lemos que quando alguém fazia um voto de nazireado,qualquer coisa “que se faz da vinha, desde as sementes até às cascas” o contaminaria; todavia, quantas vezes em outros pontos a

vinha é usada num bom sentido! (Jo 15, etc.). Mesmo assim, o fermento era utilizado em toda casa; e o Senhor que gostava de ilustrar suas palavras com as coisas comuns do lar e da natureza, encontrou nele justamente o exemplo que desejava.

Seja o que possa ser dito contra o fermento, não é possívelignorar o sentido das palavras do Senhor: “O reino dos céus é semelhante ao fermento".  Na semente de mostarda e no fermento

— a primeira enterrada no solo todavia, eventualmente, uma árvore enorme, o outro oculto na farinha mas, eventualmente, levedando toda a massa — o Senhor certamente retrata o reino entãorejeitado como estando agora oculto, ou longe da vista, mas reaparecendo no final em toda a sua amplitude e grandeza. Em lugar de uma suposta “forma misteriosa” do reino agora na terra,

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devemos compreender que ele está presentemente suspenso, e quequando o Senhor voltar, todas essas parábolas irão “ reviver” emtoda a sua atividade e serão vistas em seu verdadeiro cumprimento.

O Tesouro Oculto e o Negociante de PérolasNas duas curtas parábolas do tesouro oculto e do negociante

de pérolas, o reino é novamente representado como estando oculto, mas sob o novo aspecto de ser, não obstante, a “descoberta”suprema para aqueles que estão procurando o melhor. Em lugarde publicidade e oferta comum, o que se vê agora é segredo e des

coberta individual; notamos “ busca” e “ descoberta” e uma avaliação do reino vindouro como um tesouro tão grande que vale a pena vender tudo para possuf-Io.

Ficamos surpresos com a ingenuidade da nota de Scofield,assegurando-nos que o tesouro é “ Israel, especialmente Efraim, astribos perdidas no ‘campo’, o mundo” e que “o Senhor é o comprador, pagando o alto preço de seu sangue”. Mas, será que as Escrituras nps dizem em algum ponto que Cristo teve de “comprar”o reino? E verdade que “Cristo amou a igreja, e a si mesmo se entregou por ela” (Ef 5.25), mas o reino já era seu por direito divino e descendência davídica. Se nos mantivermos nas palavras ditas, o "reino dos céus” é o “ tesouro” e não as tribos de Israel queo rejeitavam. A “ pérola de grande preço” também não é a Igreja (uma idéia absolutamente extemporânea), mas novamente o “ reino dos céus” , como o teor da passagem exige. Jesus não pode ser

igualmente o “ homem” que faz a “descoberta” surpreendentemente e depois vende tudo para comprá-la, pois Ele  veio oferecendo  abertamente o reino. Não precisamos surpreender-nos como fato da interpretação mais fácil ser a mais verdadeira, a saber,que o “ tesouro” ou “ pérola de grande valor” é o “ reino dos céus”,e que o homem que faz o “achado” é o indivíduo sincero que “ busca em primeiro lugar o reino de Deus e sua justiça” e, para

citar Paulo, “ considera tudo como perda” pela “excelência” deherdar o reino vindouro.

 A RedeA última das sete parábolas de Mateus 13 é a da rede. Como

as demais, ela tem a sua ênfase particular, que é a separação final

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entre os malfeitores e os justos que herdam o reino. Sabemos sereste o destaque porque o Senhor o interpreta para nós, i.e.: “Assim será na consumação do século. Sairão os anjos e separarão osmaus dentre os justos, e os lançarão na fornalha acesa; ali haverá

choro e ranger de dentes".Existe então progresso nessas sete parábolas. Na primeira

temos os resultados da pregação do Senhor até essa altura. Na segunda o joio e o trigo “crescem juntos até..."   Na terceira e quarta a semente de mostarda e o fermento falam a respeito da suspensão presente, mas triunfo futuro do reino. Na quinta e sextao tesouro e a pérola expressam o supremo valor de contar tudo

como perda para obter o reino no futuro. Na sétima, o esvaziarda rede mostra a exclusão final dos perversos que não entrarãono reino.

Devemos sempre ter em mente que essas sete parábolas estão ligadas primeiro ao tempo em que o Senhor estava na terra.Não há dúvida que na primeira delas (o Semeador) Ele está descrevendo a reação imediata  deles à sua apresentação do reino. Nasegunda, o semear do joio é algo que Satanás já fizera,  pois o v.39 diz: “ Um inimigo fez isso” (na versão em inglês: “O inimigoque o semeou  é o diabo” ). Isto torna claro que “a consumaçãodo século” a que o Senhor se referia era especificamente o fimdaquela  época; da qual o reino fora “oculto”, removido, adiado.A era da Igreja intervém agora. No que se refere ao reino houvesuspensão. Mas no final da era  presente  as parábolas do reinoserão retomadas no ponto em que se interromperam por causa

da presente suspensão e terão seu cumprimento final.  O reinovirá. Os anjos “ separarão tudo o que possa ofender” e os justosherdarão então o reino.

Todas as parábolas posteriores sobre o reino devem ser interpretadas sob esta luz. O tempo de seu cumprimento final estácom certeza próximo. Mesmo agora, depois de dois mil anos dedispersão global e espoliações periódicas que teriam sem dúvida

extingüido qualquer outra raça, o povo da aliança acha-se novamente reunido representativamente em Eretz Yisrae! como um Estado independente. A cegueira ainda perdura em suas mentescom relação ao Senhor Jesus. Tanto dentro como fora do paísexistem renegados e incrédulos na fé tradicional. Mas permaneceainda, como sempre, o “ remanescente santo”, leal a tudo que é

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mais elevado e verdadeiro no judaísmo, tateando pateticamentee esperando piedosamente a chegada do reino. “ Não dormita nemdorme o guarda de Israel”. “Os olhos do Senhor repousam sobreos justos, e os seus ouvidos estão abertos ao seu clamor" (SI

34.15). O Rei deles está a caminho! O dia de sua vinda “ardecomo fornalha; todos os soberbos, e todos os que cometem perversidade, serão como o restolho” (Ml 4.1). Mas para todos osque temem o Senhor, o “ Sol da justiça” irá levantar-se “trazendosalvação nas suas asas” . Antes dos juízos ardentes da “ ira vindoura” se abaterem sobre a terra, não só a igreja comprada com sangue será trasladada, mas serão enviados anjos para selar os “cento

e quarenta e quatro m il” de Israel (Ap 7), preservando-os para “ brilhar como o sol no reino de seu Pai” , exatamente como o Senhor profetizou. “Quem tem ouvidos, ouça.” 

1 Alguns tentaram explicar as palavras “ esta geração” como significando a raça judaica; outros como a geração que estaria naterra na época em que os acontecimentos preditos para os finsdos tempos realmente ocorressem. Rejeitamos ambas as explicações como não-exegéticas.

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O EVANGELHO SEGUNDO MATEUS (4) 

Lição nQ 11

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NOTA: Para este estudo, reflita novamente com o maior discernimento possível sobre o batismo e tentação do Senhor, esua frase repetida “ Eu porém vos digo” , no capítulo 5.

Quanto mais estudamos os registros desse curto ministério na carne, mais nos impressiona o fato de que todo o passado e todo futuro se unem nele... e as palavras dos profetas e dos apóstolos, deum e de outro lado, §ão para sempre justificadas e mantidas peJoque foi dito por Aquele que veio entre ambos.

— T. D. Bernard.

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O EVANGELHO SEGUNDO MATEUS (4)

Quando examinamos novamente a história de Mateus, descobrimo-nos observando mais demoradamente este ou aquele ponto,com a idéia de que talvez alguns comentários explicativos possamajudar o leitor comum. Ei-los então aqui.

Genealogia Inicial

Por que esta longa genealogia no começo? A razão é muito justa. Lembre-se de que Mateus escreveu principalmente para os judeus; eles, de acordo com a profecia do Velho Testamento, esperavam que o seu Messias nascesse numa determinada família.

Mateus não tinha necessidade de reportar-se a Adão, mas  precisava  começar com Abraão, o progenitor da nação da aliança, ea seguir mostrar a descendência através de Davi, cabeça da linhagem real de Judá, da qual conforme a promessa da aliança viriao Messias-Rei. Mateus devia mostrar que Jesus era verdadeiramente Filho de Abraão e Herdeiro de Davi. E ele faz exatamenteisso.

Qual o motivo da diferença (em algumas versões) no modode escrever os nomes em comparação com o Velho Testamento?E porque Mateus escreveu a genealogia baseado em registros escritos em grego  ou traduziu do aramaico para o grego, enquantoos nomes haviam sido originalmente escritos no hebraico do Velho Testamento.

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No v. 17 Mateus escreve: “ De sorte que todas as gerações,desde Abraão até Davi, são catorze; desde Davi até ao desterropara a Babilônia, catorze; e desde o desterro de Babilônia atéCristo, catorze”. Existem certamente catorze de Abraão até Davi e de Davi a Jeoiaquim; mas apenas treze no terceiro grupo, anão ser que contemos Jeoiaquim duas vezes. Existe uma explicação? Sim, como mostra a comparação com o Velho Testamento. O v. 11 diz: “ Josias gerou a Jeconias e seus irmãos, no tempodo exílio em Babilônia”. Josias na verdade não  gerou a Jeconias,nem Jeconias teve “ irmãos” . Mas Josias gerou  Jeoiaquim e esteteve  realmente “ irmãos” (veja 1 Cr 3.15). Na lista de Mateus (co

mo a temos hoje) existe uma omissão de Jeoiaquim  entre Josiase Jeconias. De fato, alguns manuscritos gregos a inserem, o que regulariza o terceiro grupo de catorze em Mateus.

Podem haver significados nessas genealogias que não são notados à primeira vista. Por exemplo, vemos que entre Adão e Cristo existem exatamente sessenta gerações. Essas sessenta parecemdivididas em seis grupos de dez, cada décimo homem sendo degrande importância. A partir de Adão o primeiro décimo homemé Noé.  Nos dias dele, Deus enviou juízo destruidor sobre toda araça e aparentemente Satanás conseguira abortar a linha messiânica; mas essa linhagem é preservada no justo Noé, demonstrandoa indestrutibilidade do propósito divino.

O décimo homem seguinte é Abraão, com quem Deus entrouem aliança incondicional, para que de sua descendência viesse oMessias e em quem todas as famílias da terra seriam abençoadas.

O próximo décimo homem é Boaz,  que se casou com a formosa moabita Rute; e através de Rute, da raça gentia, todos ospovos gentios são incorporados representativamente na esperançamessiânica.

Uzias  é o décimo homem seguinte — pois a linha messiânicatornou-se agora a linhagem real de Judá, e o Cristo que virá será oRei dos Reis. Na verdade, foi “ o ano da morte do rei Uzias” que

Isaías, o maior dos profetas de Israel que deixaram mensagensescritas, “viu o Senhor assentado sobre um alto e sublime trono”,i.e. o Messias (Is 6), sentado no trono que está acima de todos ostronos (João 12.41 nos diz que Isaíasviu Cristo!).

O décimo homem depois dele é Zorobabei,  um dos personagens monumentais do Velho Testamento; o príncipe judeu que

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levou o remanescente judeu de volta à Judéia depois do exílio naBabilônia! Zorobabel é um tipo de Cristo, como mostra Ageu (2.20-23), sendo o Líder supremo de Israel, levando-o do longo exílio à bênção Milenar.

Dez gerações mais tarde lemos: “José,  marido de Maria, daqual nasceu Jesus, que se chama o CRISTO”. Cada décimo homemé típico, profético, uma antecipação: Cristo completa todos. Nãotentaremos “ ler” nisto mais do que existe realmente no conteúdoem questão, embora sejamos naturalmente tentados a refletir quedez é o número da inteireza, e seis o número do homem pecador.Seis ciclos completos de dez: vindo então Cristo, que é o centro

de todas as gerações e o Salvador dos pecadores. A linha termina nele. Está perfeitamente de acordo, que Ele que é o grande SETEde Deus se seguisse imediatamente a esses seis grupos de dez completados, introduzindo a nova geração espiritual,  e o reino que,embora presentemente retido, irá coroar os seis mil anos precedentes da história humana com um sétimo grande dia de mil anos,o Milênio do império mundial do Messias, com seu ciclo exato de

tempo de cem vezes (dez vezes dez) dez anos de paz e glória.

Cristo Versus “Foi Dito”

E moda hoje em dia entre os que querem depreciar o VelhoTestamento citar as palavras do Senhor no Sermão do Monte,quando Ele repetiu várias vezes: “ Foi dito aos antigos... eu porém

vos digo...” Jesus repudiou assim, ou pelo menos corrigiu, a éticado Velho Testamento, é o que nos afirmam. Mas os que defendemesse ponto de vista, deixam de reconhecer a diferença entre a LeiEscrita  do Velho Testamento, e a Lei Oral   que se desenvolveraprolificamente durante os quatro séculos do período intertesta-mentário. A maneira usual do Senhor citar o Velho Testamentoé “ Está escrito” (4.4, 6, 7, 10; 11.10; 21.13; 26.24, 31), enquanto

é usado no Sermão do Monte o “ Foi dito”, indicando referência àLei Oral.  Ela ocorre seis vezes em Mateus 5 (21-22, 27.28, 31-32,33-34, 38-39, 43-44).

Talvez seja objetado que alguns dos itens citados acham-se noVelho Testamento. Não obstante, o Senhor os menciona como foram transmitidos pela Lei Oral. Por exemplo, o primeiro “ Não ma-

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tarás; e quem matar estará sujeito a julgamento” , é o sexto mandamento do Decálogo acrescido do comentário da Lei Oral. Até esseponto suas citações na verdade concordam com os princípios doVelho Testamento; o Senhor, em lugar de repudiá-los, os intensifica, insistindo numa obediência interior e espiritual, assim comoexterior e formal. A própria existência da Lei Oral era um opressivo monumento ao literalismo e legalismo judaico. Os comentários de Jesus em cada caso tinham como propósito elevar os pensamentos dos ouvintes da simples letra para o espírito  da Lei. Asua atitude para com o Velho Testamento e seu endosso total domesmo, são enfaticamente anunciados desde o início (v. 17-19).

O Batismo do Senhor

Por que o Senhor foi batizado por João no rio Jordão? O batismo de João era “para arrependimento".  O Jesus sem pecado,não precisava então submeter-se a ele. Mesmo quando Ele se aproximou do rio, João teve de dizer: “ Eu é que preciso ser batizadopor ti, e tu vens a mim?” (3.14). Todavia, haviam razões para essaimersão em público, que devemos apreciar devidamente.

Primeiro, o Senhor demonstrou desse modo, desde o iníciode seu ministério público, sua associação com o chamado de Joãoao povo; e a partir também dessa ocasião, ele repetiu o clamor deJoão: “Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos céus”(3.2; 5.17).

Segundo, Ele coroou assim o ministério de João, dando aofiel precursor a honra de batizar publicamente o Messias-Rei aquem anunciara com tanta emoção (Jo 1.33, 34). Logo depoisa voz de João foi silenciada quando ele foi preso (Mt 4.12).

Terceiro, ao submeter-se ao batismo de João Ele mostrousua humildade ao identificar-se com o remanescente santo deIsrael, que vivia piedosamente à espera da chegada do reino. Era

 “apropriado” que fizesse isso, sendo agora membro da nação quenecessitava muito atender ao chamado para o arrependimento;daí seu comentário para João: “ Porque assim nos convém cumprir toda a justiça” (3.15).

Quarto, e muito mais profundamente, Ele foi batizado numacapacidade representativa, por aqueles a quem viera remir. A partir

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do momento em que iniciou seu ministério público, Jesus passou aser o novo Homem representativo, o “Segundo Adão”, o novoCampeão da raça decaída. No mesmo instante, portanto, Ele identificou-se conosco como pecadores,  e seu primeiro ato foi signifi

cativamente submeter-se, em capacidade vicária, ao batismo“para arrependimento”.  Da mesma forma que na genealogia inicial é a pessoa humana de Jesus que está ligada com a descendência messiânica, no batismo e na tentação é novamente a sua humanidade que é ungida e depois tentada. Essa humanidade tem umaspecto representativo e vicário através de todos os atos e experiências do Senhor.

Vale a pena mencionar também que a voz confirmatória docéu, “ Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo,” colocao selo de Deus sobre os trinta anos silenciosos e irrepreensíveisque precederam o batismo. Além disso, no batismo do Jordãoa trindade divina é pela primeira vez manifesta objetivamente. OFilho acha-se no Jordão. O Pai fala do céu. O Espírito desce como pomba.

A Tentação no Deserto

Qual o motivo dessa tentação no deserto? Cristo, como onovo Ser humano representativo, devia ser testado e provado. Opróprio Espírito que descera sobre Ele com suavidade de pomba,o “ leva” agora para o deserto, onde Satanás lhe preparou uma em

boscada quando Ele sentia-se enfraquecido pelo jejum.E essencial compreender que o Senhor achava-se ali como

Homem.  Como Deus Ele não poderia ser tentado (Tg 1.13). Asua humanidade foi visada. Com engenhosidade aparentemente piedosa, Satanás imediatamente procurou obscurecer seu ob

 jetivo. “Se és Fiiho de Deus”  — uma alusão à voz do céu no Jordão — “ manda que estas pedras se transformem em pães” . Mas

Jesus na mesma hora colocou o assunto em foco, com a sua resposta: “ Está escrito: Não só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus”. O Senhor se achava alicomo Homem.

Da mesma forma que a natureza humana tem três aspectos— corpo, alma e espírito — as três abordagens de Satanás foram

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sucessivamente dirigidas às três áreas da natureza humana do Senhor. A primeira tentação referia-se ao corpo (“Manda que estaspedras se transformem em pães” ). A segunda à alma (“Atira-teabaixo”, i.e., exiba-se). A terceira era dirigida diretamente ao es

pírito (“Se prostrado, me adorares”). A primeira sugeriu algo razoável. A segunda algo discutível. A terceira era definitivamente errada. Quão freqüentemente essa é a técnica da tentação deSatanás! — física, psíquica, espiritual do que é razoável para odiscutível, do discutível para o condenável. Na primeira vemoso disfarce da simpatia. Na segunda o verniz da admiração. Na terceira a máscara foi retirada, toda pretensão desapareceu, e o motivo real fica exposto — “Adore-me”.

Por três vezes a espada brilha na mão do Senhor, enquantoEle repele o tentador com as palavras “Está escrito”. Três vezesvemos o segredo da vitória - submissão à Palavra de Deus. A vitória é tão completa que na repulsa final Jesus afasta o arqui-ini-migo, dizendo: “Retira-te, Satanás,  porque está escrito: adorarás(i.e., cada israelita) ao Senhor teu Deus, e só a ele darás culto”(veja Dt 6.13; 10.20).

Logo após “vieram anjos, e o serviam”. Sua fome foi assimsatisfeita sem necessidade de transformar pedras em pães; a Escritura também se cumpriu, “ Aos seus anjos ordenará a teu respeito que te guardem”, sem precisar atirar-se do pináculo do templo!Deus sempre faz com que seus anjos atendam aos que vencem pelafidelidade à sua Palavra.

O Pecado Imperdoável

Qual é o pecado imperdoável referido em Mateus 12.31, 32?A advertência do Senhor é tão solene que imediatamente nos sentimos desafiados a fazer indagações. Por estranho que pareça, elafoi dirigida a pessoas muito religiosas,  os fariseus, o que parece sugerir imediatamente que o pecado imperdoável não é qualquer

falta isolada de excessiva vulgaridade, impureza, criminalidade, oumesmo uma sucessão delas.

Ele é chamado de “ blasfêmia contra o Espírito” . E provávelque nenhum dos que ouviram as palavras proferidas pelos lábiosdo Salvador pensassem no Espírito Santo como nós hoje pensamos

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nele, i.e., como uma Pessoa distinta da divindade, assim como nãoreconheciam então Jesus como a segunda Pessoa encarnada da Divina Trindade. Eles considerariam o Espírito como uma influênciaemanada de Deus. Seu monoteísmo era unitário e não trinitário.

A plena revelação de Deus como trino só chega até nós à medidaque as páginas do Novo Testamento se desenrolam.Mas o fato dos ouvintes do Senhor não compreenderem o ca

ráter pessoal do Espírito Santo não diminui a solenidade das palavras de Jesus. De modo algum, pois é na verdade um indício deque podemos cometer o pecado imperdoável contra o EspíritoSanto sem sequer saber que Ele é uma pessoa.

Blasfemar é falar de modo a vilipendiar, insultar ou ultrajarde qualquer maneira a Deus. De que forma aqueles fariseus da antigüidade estavam insultando a Deus? Eles diziam: “ Este não expeleos demônios senão pelo poder de Belzebu, o maioral dos demônios” . Isto é, estavam  atribumdo as atividades bonúosas e santasdo Espírito Santo ao diabo.  E possível que não soubessem, comosabemos hoje, que o Espírito Santo é uma pessoa divina, mas sabiam  que os milagres de cura do Senhor eram manifestamente in

tervenções da graça de Deus;  mesmo assim, em rebelião invejosacontra o que estava bem claro e a fim de manter seu prestígio entre o povo, mentiram às suas próprias consciências, e afirmaramabertamente que essas obras graciosas de Deus eram operadas porSatanás!

Essa é a blasfêmia então; e o elemento que a tornou imperdoável (ou que a teria  tornado imperdoável caso persistisse) foi o

fato de ser consciente, voluntária, determinada.  Uma blasfêmiadessas pronunciada por ignorância é perdoável (veja 1 Tm 1.13)— vamos aceitar isso com gratidão e firmeza; mas a blasfêmia daqueles fariseus da época era notória, invejosa e cheia de malícia.Eles alegaram deliberadamente que a obra do Espírito Santo procedia do inferno. Que terrível blasfêmia! — e quão inequívoca aadvertência contra ela!

O Milagre do Dinheiro para o Imposto

O milagre registrado por Mateus, e só ele, no capítulo 17.2427, deixa mutas pessoas perplexas.

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O ponto-problema é o comentário do Senhor: “ Logo, estãoisentos os filhos...” (v. 26), o que evidentemente implica em suadesobrigação de pagar o tributo, embora isso pareça uma razão obscura para a isenção. Como membro da raça judaica sujeita aodomínio romanc, o Senhor era  obrigado a pagar tributo a Roma.

O problema é porém apenas aparente e não real. A palavragrega traduzida aqui como tributo não se refere ao imposto civil, mas àquele pago ao templo. Os que levantaram a questão não eramos coletores de impostos (i.e., os “ publicanos” conforme a tradução), mas “os que cobravam o imposto das d i d rachmase a pergunta deles seria melhor traduzida: “ Não paga o vosso Mestre as

didrachmas?” (Na Versão Revista e Atualizada da Sociedade Bíblica do Brasil lemos: “ Não paga o vosso Mestre as duas dracmas?” - N.T.). ^

O didrachmon  era a “ metade de um siclo” de Êxodo 30.1116, que todo israelita adulto tinha de pagar para a manutençãodo tabernáculo. Mais tarde tornou-se um pagamento anual. Vemosreferência ao mesmo em 2 Reis 12.4; 2 Crônicas 24.9; Neemias10.32. Josefo o menciona como sendo anual. Filo fala sobre o pa

gamento fiel por parte das comunidades judias dispersas atravésde todo o império romano e a remessa do mesmo a intervalosfixos, mediante mensageiros consagrados, para Jerusalém. Pornão se tratar de uma taxa do governo, não era legalmente compulsória, mas como imposto eclesiástico era moralmente obrigatória.

No momento em que compreendemos que as didrachamas eram um tributo devido ao templo, e não um imposto civil, o inci

dente em Mateus 27 ganha um novo e atraente significado. Noteonde ele ocorre na narrativa de Mateus. Pedro e os demais apóstolos haviam acabado de fazer sua fervorosa confissão: “Tu és... oFILHO do Deus vivo” (16.13-20). Isto fora seguido pela Transfiguração e a voz confirmatória do céu: “ Este é o meu FILHOamado” (17.1-13). E agora o Senhor pergunta a Pedro: “ De quemcobram os reis da terra impostos ou tributo; dos seus FILHOS,ou dos estranhos?” Pedro replica: “ Dos estranhos” : o Senhor

acrescenta então: “ Logo, estão isentos os FILHOS” , significandonaturalmente com isso que Ele, como FILHO DE DEUS, a quempertencia o templo, não precisaria certamente pagar as didrachmas à sua própria casa! Pedro teria entendido na mesma hora ondeele queria chegar e espero que nós também o façamos.

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O tributo estabelecido por pessoa era um didrachmon (o prefixo “di” significa dois ou o dobro). Um didrachmon representavaportanto duas “ dracmas” . Caso tivesse de pagar tanto o seu comoo imposto de Pedro, o Senhor precisava de quatro “dracmas”, duas

para cada um, Ele disse a Pedro: “ Vai ao mar, lança o anzol, e oprimeiro peixe que fisgar, tira-o; e, abrindo-lhe a boca, acharás umestáter..."   O estáter era uma moeda equivalente a quatro “dracmas”, o pagamento exato exigido. “ Toma-o e entrega-lhes," disseo Senhor, “ por mim e por ti” . Pedro (e também o peixe) ficariacom certeza admirado ao encontrar essa moeda. Era uma moedaverdadeira. Quem a deixou cair no lago, de modo que já estivesselá para ser apanhada pelo peixe? Essa é uma pergunta que talvezseja melhor nem começar a discutir!

Outros Pontos de Interesse

Páginas e páginas poderiam ser naturalmente escritas com respeito a este e outros pontos de interesse. Existem porém algunscomentários excelentes do tipo versículo por versículo que pode

mos consultar. Aqui, ao encerrarmos nosso breve estudo exploratório deste primeiro evangelho, simplesmente tocamos em váriosassuntos incidentais que foram anotados para menção especial, masque agora parecem praticamente impossíveis de incluir.

O Senhor e a Confissão de Pedro

A igreja católica romana tirou muito proveito das palavrasditas pelo Senhor a Pedro: “Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja” (16.18). Todo protestante deveria compreender claramente que o Senhor disse na verdade: “Tu és Petros; e sobre esta Petra edificarei a minha igreja”. Ele simplesmente fezuso do sobrenome de Simão, Petros  que significa uma pedra, enada mais, a fim de apontar para a grande PETRA ou rocha poderosa, i.e., Ele mesmo, o agora confessado FHho de Deus,  sobreo qual fundaria a sua “ecclesia” . Este mesmo versículo, que os ro-manistas usam para ensinar que o Senhor construiu a igreja sobrePedro, é o que mais definitivamente refuta a idéia.

Deve ser também claramente apreciado que o Senhor jamais entregou as “chaves da igreja” a Pedro, como sustenta a igreja ro

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mana. O que Ele disse realmente a Pedro foi: “Dar-te-ei as chavesdo reino dos céus”   (v. 19). Esse reino não é a igreja; nem virá atéque termine a era da igreja, quando o corpo místico e noiva do Senhor tiver sido aperfeiçoado. Na ocasião em que esse reino chegar,

como seguramente acontecerá na volta do Senhor, as chaves deseu governo serão vistas por todos, nas mãos de Pedro e seus co-apóstolos.

 A Parábola dos Trabalhadores na VinhaA parábola dos trabalhadores na vinha (20.1-16) parece ter

perturbado alguns leitores. Afinal de contas, seria certo que aqueles que trabalharam “apenas uma hora” recebessem tanto quantoos que “ suportaram a fadiga e o calor do dia” ? Devemos perceberrapidamente que pela sua própria ligação esta parábola não tinhacomo propósito ensinar o que os senhores humanos deveriam praticar em relação aos empregados. Seu objetivo era apenas  ilustraras palavras do Senhor que a precedem: “ Porém, muitos primeirosserão últimos; e os últimos, primeiros” . Ela jamais teve o propósi

to de expressar um princípio sindical! Quando se trata de assuntosde capital e trabalho, a Bíblia insiste firmemente em salário justopara um trabalho justo. Mas esta parábola tem como finalidadeúnica ilustrar as palavras do capítulo 19.29, 30 e fazer isso de modo original!

O Homem Sem a Veste Nupcial E interessante folhear alguns conhecidos comentários e vero problema apresentado pelo homem “ que não trazia a veste nupcial” . Leia novamente a parábola (22.1-14). Lá está ele, tendoaceito o convite; todavia, por não estar usando a roupa exigidapara as bodas “emudeceu” e o rei ordena que seja lançado “ parafora, nas trevas” ! A quem ele representa? Com certeza não poderepresentar qualquer verdadeiro crente no Senhor Jesus Cristo,

pois todos estes nasceram de novo do Espírito Santo e estão vestidos com a justiça imputada do Senhor; eles também não serãoencontrados sem a “veste nupcial” quando se assentarem para a “Ceia das bodas do Cordeiro” . Ele também não pode representaros mestres hipócritas  da salvação através de Cristo, pois estes

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 jamais estarão presentes na festa de casamento do Senhor e suanoiva, seja com ou sem veste nupcial.

Na verdade não existe problema algum com essa estranha fi-gura, se aceitarmos a parábola da maneira como o Senhor a usou,

isto é, para ilustrar o “reino dos céus” (veja v. 2), e não a salvaçãodos crentes. Veja as palavras que imediatamente a precedem e no-te que foram ditas principalmente contra os fariseus (21.45,46;22.1). O fariseu típico, ocultando orgulhosamente sua injustiça in-terior com a religiosidade exterior, estava certo  de que quando oreino dos céus viesse, ele faria parte do mesmo. J esus diz: “Não”.Os perversos que foram convidados em primeiro lugar mas se re-

cusaram, devem ser destruídos e sua cidade com eles, i.e., os ju-deus daquela geração, especialmente os líderes. Foi de fato issoque aconteceu. Mas a festa do casamento (que, não se esqueça, re-presenta o reino dos céus) irá não obstante ter lugar e contar comconvidados, embora seja agora tão /oclusiva (“a quantos encontrar-des”) como foi antes exclusiva (i.e., para os judeus).

E verdade. Esse reino dos céus que virá um dia, essa “festa”milenar que proverá paz e abundância para os mansos, incluirá to-

dos. Não vai haver entretanto tolerância com a perversidade ou hi-pocrisia, i.e., para o homem que não usar a “veste nupcial” exigi-da. Tenhamos em mente que esta parábola da festa das bodas reaisnão  se relaciona com a igreja, mas com o “reino dos céus” — quefoi oferecido, recusado, está agora suspenso, e logo será estabeleci-do na terra. O homem sem a “veste nupcial” não é um exemplo do“crente” falho de hoje, mas uma ilustração do que ocorrerá quan-

do essa era do reino da justiça tiver início, quando o Senhor cum-prir Isaías 11.4, e outras promessas semelhantes: “Mas julgará com justiça os pobres, e decidirá com eqüidade a favor dos mansos daterra; ferirá a terra com a vara de sua boca, e com o sopro dos seus lábios matará o perverso”.

Como os rios que transbordam na estação chuvosa, este estu-do final em Mateus está excedendo os limites apropriados. Comodesejaríamos destacar outras passagens para consideração especial!Sentirnosemos, entretanto, consolados se tivermos dito o suficien-te para atrair novos alunos a fazerem outros estudos. Talvez nãoencontremos um fecho melhor para este quarteto de estudos emMateus do que referirnos às palavras preciosas do J esus ressurretocom que o próprio Mateus encerra seu livro: “E eis que estou con

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vosco todos os dias até à consumaçao do século” . Note o “ (eu) estou” . Em grego, essa é a forma mais forte possível de expressão —Ego eimi.  Tanto ego  como eimi  significam “eu estou” : mas a primeira coloca a ênfase sobre o “ eu” , enquanto a última sobre o

 “estou” . Reunidas, elas constituem a forma mais imperativa emgrego para expressar o nome de Deus como o grande “ EU SOU”.Foi assim que o Cristo ressurreto referiu-se neste ponto a Si mesmo. “ E eis que EU ESTOU convosco!” Existe porém aqui umbelíssimo aspecto na construção da frase grega que não se revelaem nossa tradução. Ei-la:

 “ E eis, Eu convosco ESTOU...” 

Você e eu, caro companheiro cristão, estamos entre o “ Eu”e o “ ESTOU” . Ele não está apenas conosco,  mas está ao nosso redor  — não só de vez em quando, mas “ sempre” , que, traduzidoliteralmente indica “ todos os dias” — este dia, esta hora, este momento. Quando refletimos sobre a idéia, os aparecimentos e desaparecimentos súbitos do Senhor durante os 40 dias entre sua

ressurreição e ascenção, não tiveram o propósito de ensinar aosprimeiros discípulos (e a nós) exatamente isto? A saber, quando seacha invisível ainda está presente, ouvindo, vigiando, conhecendo,simpatizando, dominando? Não nos esqueçamos também de quea promessa especial de sua presença é dada em relação à nossa obrade ganhadores de almas para Ele!

ALGUM AS PERGUNTAS SOBRE MATEUS

1. Quais as duas principais partes do Evangelho de Mateus?2. Quais as dez partes do Sermão do Monte?3. Quais os dez milagres nos capítulos 8 e 9?4. Quais (e o que) são as dez reações nos capítulos 11 a 13?5. Quais as três subdivisões na segunda parte do Evangelho de

Mateus?6. Se o Senhor sabia antecipadamente que seria rejeitado em

Jerusalém, por que seguiu para aquela cidade? Mencioneum aspecto que esclareça isto.

7. Nem João nem o Senhor explicaram  o que era o reino doscéus. Por que?

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8. O Senhor fez uso contínuo  de parábolas? Caso negativo,quando começou a fazer maior uso delas?

9. Quem são os seis décimos homens sucessivos na genealogiade Mateus?

10. Você pode explicar por que as parábolas do Grão de Mostar-da, do Fermento e do Tesouro Oculto têm o seu cumprimen-to previsto para quando Cristo voltar em vez de agora, supos-tamente, na cristandade?

11. Você pode dar quatro razões por que o Senhor foi batizadopor J oão, embora não tivesse pecado?

12. Como você explicaria o homem sem a “veste nupcial” em Ma-teus 22?

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O EVANGELHO SEGUNDO MARCOS (1) 

Lição nQ 12

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NOTA: Para este estudo leia todo o Evangelho de Marcos pelomenos duas vezes.

Marcos não  se esforça para reconciliar as características humanasde J esus com a sua divindade. Ele desenha o quadro com decisãoe ousadia, como Pedro fez em sua pregação... O Evangelho de Mar-cos desde o início proclama J esus como o F ilho de Deus num sen-tido diferente de outros homens, no sentido joanino de divindadenum mesmo nível com o Espírito Santo. A doutrina da Trindadeachase realmente contida no capítulo 1.911, no estilo concretode Marcos. Ele estabelece os fatos e deixa que tiremos nossas pró-

prias conclusões.

— A. T. Robinson, D.D., LL.D., L itt. D., em "The Christ  ofthe Logia”.

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O EVANGELHO SEGUNDO MARCOS (1)

É cativante notar como a natureza prepara suas diferentesobras artísticas em diferentes lugares, tudo com os mesmos mate-riais — terra, folhagens, águas. Mesmo na pequena área cobertapelas Ilhas Britânicas isso pode ser perfeitamente observado. Co-mo varia o cenário típico da Escócia em comparação com o deGales, ou o da maioria da Inglaterra! E como é decididamentecaracterística a paisagem da ilha de esmeralda logo acima do MarIrlandês! A identidade básica torna ainda mais notável a divergên-cia de aspecto — a grandeza rústica dos vales, gargantas e braçosde mar; os altos cobertos de verde e os vales ondulados do Paísde Gales; os campos verdejantes e as escarpas desnudas da Irlan-

da; as pradarias, as colinas arborizadas, os pântanos em tons demarrom e os lagos cercados de montanhas da velha Inglaterra.Como diferem os cactos do deserto do Arizona daqueles da Pla-nície Nullarbor da Austrália ou do Deserto de Sind no Paquis-tão! — Os Himalaias da India dos Alpes Suíços! — As Ilhas doHawai das Fijis que lhes são vizinhas, embora bordejadas pelomesmo Oceano Pacífico!

Isso acontece também com os quatro evangelhos. Todoseles tratam do mesmo material básico, e os três primeiros prati-camente coincidem em seus relatos — daí serem chamados de"Sinóticos”, de syn  (junto) e opsis  (um exame). Todavia, embo-ra os quatro sejam substancialmente a mesma coisa, cada um temseu aspecto distinto e apresenta os fatos com seu modo peculiar.

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Nosso estudo nos leva agora ao segundo deles. Como é  evi-dente a identidade básica do assunto em Mateus e Marcos! Quãodefinida porém é a diferenciação na individualidade! E interessan-te notar como foi possível manter através de todo o livro diferen-

ças tão características, apesar dos dados tão paralelos.

O Propósito Supremo

Basta ler Marcos duas ou três vezes para que o seu propósi-to supremo nos cative. Ele quer que vejamos Jesus trabalhando. E como se disses5e; “Olhe! O que J esus fez   prova quem Ele era. O que ele operou  autentica o que ensinou.  As obras  poderosasconfirmam as palavras  surpreendentes. Observemno trabalhandoe maravilhemse com este operador de prodígios sobrenatural.Isso irá convencêlo.”

Não encontramos então uma genealogia introdutória comoem Mateus, nenhurn relato inicial sobre o que precedeu, ocorreuno nascimento e aconteceu depois dele. De imediato nos encon-

tramos no rio J ordSo, para ouvir J oão anunciar que alguém “maispoderoso” estava para chegar. Em seguida J esus entra em cena;tem início o ministério de milagres; com pinceladas entusiastas edescritivas Marcos concentra em um capítulo o que Mateus levaoito para abranger. Ele cobre em nove capítulos o que Mateusrelata no dobro. Não se trata de sua narração ser insuficiente,pois vibra com detalhes cheios de vida, mas ele focaliza o que J e-

sus fez  e omite muito do que J esus disse.De fato, é unicamente a ausência dos discursos de J esus quefaz deste o mais curto dos quatro evangelhos. Todo o Sermão doMonte se enquadra (embora seja omitido) entre os versículos 39e 40 do primeiro capítulo de Marcos. O longo capítulo de Mateussobre as parábolas do reino (13) só tem um vago paralelo em Mar-cos. A comissão dada pelo Senhor aos Doze, que ocupa 42 versosem Mateus 10, se resolve em sete versos aqui; enquanto a acusa-

ção feita às cidades impenitentes não é sequer mencionada. A lon-ga condenação dos escribas e fariseus que se desenrola em Ma-teus 13, não encontra eco algum em Marcos; e o discurso do Mon-te das Oliveiras é reduzido a um terço — para não citar outras con-trações ou omissões,

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Marcos é definitivamente então o evangelho dos feitos  de J esus. Até mesmo o “reino”, que encheu a pregação do Senhore é mencionado mais de 50 vezes em Mateus, só se faz presenteem Marcos 14 vezes. Fica bem clara a intenção de nosso evange-

lista: devemos observar e maravilharnos com as “obras  podero-sas” — e bem podemos fazer isso!

Método de Trabalho

Não existem agrupamentos planejados como em Mateus. Es-

se não é o estilo de Marcos. Ele quer que percebamos a maravilhaexistente nos atos  desse Ser Poderoso. Em lugar então de agrupa-mentos especializados ou divisão metódica, temos uma sucessão proposital e contínua de feitos surpreendentes. Marcos é o fotó-grafo dos quatro escritores dos evangelhos, apresentandonoscenas inesquecíveis, uma após outra. Existem algumas interrup-ções principais em sua história, como logo veremos; mas mesmoestas não conseguem quebrar o ritmo dessas fotos rápidas e su-

cessivas dos espantosos milagres.Alguns de nós podem lembrarse do tempo em que quadros

estáticos eram projetados na tela pela velha “lanterna mágica”.Painés oblongos de vidro, contendo seis ou mais cenas em suces-são horizontal, eram passados pelo projetor, de modo que osquadros se seguiam na tela, às vezes aos solavancos, um após ou-tro. Assim também, neste “Evangelho Segundo Marcos” um pro-

dígio seguese ao outro através da tela, algumas vezes numa tran-sição abrupta, até que pela força do impacto cumulativo somosobrigados a exclamar — justamente como pretende Marcos — “Es-te era certamente o F ilho de Deus! Este é o mais tremendo episó-dio, o mais trágico anticlímax e a mais surpreendente vitória di-vina jamais vista!”

Olhe e Veja!

Examine os primeiros capítulos e veja como isto é verdade.De imediato, no curto prefácio, quatro vozes nos surpreendem,uma após outra, pelos termos solenes com que anunciam o Ope-rador de Prodígios que está sendo apresentado. '

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Marcos — “ J esus Cristo, F ilho de Deus” (v. 1).Isaías — “Preparai o caminho do SENHOR” (v. 3).

 João -  “Vem AQUELE que é mais PODEROSO” (v. 7).Deus — “Tu és o MEU F ILHO AMADO” (v. 11).

A seguir, imediatamente, começa o ministério público. Logotemos uma série de façanhas surpreendentes:Um demônio expulso na sinagoga (v. 26).Um caso de febre curado numa casa (v. 31).Uma multidão de enfermos curados na porta (v. 34).Um leproso curado no caminho (v. 42).

 Tudo isto no capítulo um. A palavra euthios  (“na mesmahora,” “imediatamente”) encontrase em toda parte. O povo fi-ca “atônito” com a sua “doutrina” e “surpreendido” com sua“autoridade”. Sua “fama” se espalha “por toda a região” e é“divulgada”.

Em seguida a todos esses acontecimentos, o capítulo doisnos traz uma rápida sucessão de críticas hostis:

Os Escribas  — “ Isto é blasfêmia. Quem pode perdoar peca-dos, senão um, que é Deus?”

Os Fariseus —  “Por que come e bebe ele com os publicanose pecadores?” (v. 16).

Os discípulos de João  — “Por que motivo jejuam os discí-pulos de J oão e os dos fariseus, mas os teus discípulosnao jejuam?” (v. 18).

Os Fariseus  — “Vê! Por que fazem o que não é lícito aossábados?” (v. 24).

Em cada caso somos levados a nos maravilhar diante da ori-ginalidade das respostas do Senhor. Ele se movimenta de um pa-ra outro encontro em perfeito controle de cada situação.

O capítulo três começa com “E” (dos dezesseis capítulos,doze começam com “E”, indicando a continuidade ininterruptada narrativa!) — e a história em rápido movimento se adianta.E quase um pecado ler Marcos apenas em pedaços e parágrafosna “ tarefa diária”. Desse modo não conseguimos envolvernos

completamente na narrativa vibrante. Até mesmo um leitor va-garoso pode ler Marcos em duas horas. Deveríamos então lêlointeiro, de uma só vez, como se fora um romance sagrado, mui-to mais maravilhoso porque se trata de uma história verdadeirae não fictícia.

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Peculiaridades Significativas

Essas são portanto nossas primeiras impressões e uma novaleitura não só as confirma como mostra que as interessantes pecu-

liaridades deste segundo evangelho contribuem para um conceitoglobal do Senhor.Lembramos novamente os quatro rostos mnemónicos dos

m lA r i ih i r K n s \ /ic5 o H o P v p r iü i p l h o m e m a crni; ?* -fa|a n -

do respectivamente de soberania, serviço, humanidade, divinc <Como notamos num estudo anterior, esses quatro aspectos er;tram paralelo nos quatro registros do evangelho. Em liSenhor J esus é singularmente transcrito como o SERVÍpondendo ao segundo rosto do querubim; e se a ,\ VueJ VTarcosem sua descrição não tivesse sido guiada sobpítmí jriente, sópoderíamos considerála como produto de (t (4 e kbo gênio hu-mano. O mais fascinante de todos os f \Ê m«e % Ívez seja, parao leitor atento, a maneira aparentemeilKY wjjral, embora requin-tada, em que o equilíbrio perfe ito w S 0 através de toc*° °vro, entre a servidão humanada s bjfepnia divina. A soberania se

destaca em cada página, to d ia w rto d a parte o Senhor é o SER-VO — da vontade divina da neçessidade humana; o Enviado auto-rizado e capacitado (9( 7) diligente, executivo, dominando cadasituação, todavi dísçtòt©/compassivo, e em tudo obediente àVontade mrpffivC y palavras de Paulo adoravelmente inspiradas:uAssuminactòsrartwa de servo  ... tornandose obediente até à mor-te, e m o tíK tí z ’’ (Fp 2.7, 8).

M c rda Natividade

V yO Observe algumas das omissões e inserções peculiares a Marcos'•c veja como todas elas se unem a esta ênfase sobre o Senhor comootix v\j  ae ueus.

Para começar, vemos a completa ausência de qualquer narrativa da encarnação.  Nada existe que corresponda às introduções nosoutros três evangelhos: genealogia davídica, estrela orientadora,magos do oriente levando presentes e perguntando “Onde está orecémnascido Rei dos judeus?” ; anjos mensageiros, conforme Lu-cas; adoração dos pastores; nada sobre Belém ou Nazaré; nenhumaprofecia de Zacarias ou cântico de Maria; nenhum Nunc Dmittis

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de Simeão; nenhum incidente da infância do Senhor; nenhum pró-logo de sua préexistência, como em J oão; nada sobre a encarna-ção do Verbo; nem sobre a emergência do F ilho Eterno do seiodo Pai. Por que?   Será puramente acidental o fato de Marcos omi-

tir tudo issso e começar imediatamente com o ministério ativo naGaliléia? Ou será deliberado, conformandose melhor à ênfase so-bre o Servo?   E comum dar a genealogia de um servo? Ou é usualsuprir a descrição do nascimento e infância de um servo? Isso ja-mais foi certamente requerido entre os judeus ou nos lares orien-tais da antigüidade.

Discursos CanceladosEntão, como já mencionado, houve um cancelamento direto

ou nítida abreviação dos discursos do Senhor.  Marcos tem 16 ca-pítulos, Mateus 28. Ao ser tomado em consideração o compri-mento dos capítulos, verificamos que Mateus é praticamente duasvezes mais longo que Marcos. Eis porém um fato revelador: se agenealogia e o registro da natividade no início de Mateus forem re-

movidos, com os capítulos que consistem de sermões ou parábo-las, Marcos é bem mais comprido como uma crônica de realiza-ções! Será isto também puro acaso? Ou haverá um enquadramen-to proposital com a idéia de que obras em lugar de palavras sãoa característica exigida de um servo? 

 A usência de A cusaçõesExiste também uma completa ausência de acusações,  taiscomo as que ocorrem nos outros evangelhos. Não há denúnciadas cidades impenitentes da Galiléia (Mt 11); nenhuma condena-ção inflamada dos escribas e fariseus (Mt 12; Lc 11); nenhumaconsignação terrível de J erusalém ao juízo divino iminente (Mt23; Lc 13) — para não mencionar outros exemplos, por ter rejei-tado Cristo. Por que? Tudo é natural e nada mais? Ou não seráque a omissão  desses “Ais” tão severos e acusações reais é maisapropriada ao aspecto de Servo que Marcos está enfatizando?

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Omissões IncidentaisObserve também algumas das omissões incidentais.  “Porque

qualquer que, nesta geração adúltera e pecadora, se envergonharde mim e das minhas palavras, também o Filho do homem se en

vergonhará dele, quando vier na glória de seu Pai com os santosanjos” (Mc 8.38). Por que Marcos omite a sentença em Mateus: “ e então retribuirá a cada um  conforme as suas obras” ; e em Lucas: “Quando Ele virá em sua própria glória?” E o Servo falando.Veja outrossim o discurso no Monte das Oliveiras: “Quando, pois,vos levarem e vos entregarem, não vos preocupeis com o que haveis de dizer, mas o que vos for concedido naquela hora, isso falai; porque não sois vós os que falais, mas o Espfrito Santo” (Mc13.11). Qual a razão da ausência dessas outras palavras que Lucaspreserva: “ Porque eu vos darei boca e sabedoria a que não poderão resistir nem contradizer todos quantos se vos opuserem’’? Eo Servo falando. Essas omissões são exemplos de muitas outras.

 Adições Incidentais

Vejamos agora algumas adições incidentais.  “Quem receberesta criança em meu nome, a mim me recebe” — ao que Marcosacrescenta: “ E qualquer que a mim me receber, não recebe a mim,mas ao que me enviou”.  E o Servo falando. Do mesmo modo, nodiscurso no Monte das Oliveiras: “Mas a respeito daquele dia ou dahora ninguém sabe; nem os anjos no céu, nem o Filho,  senão somente o Pai” . Só Marcos conserva a inserção do Senhor “ nem oFilho” . Por que? E o Servo falando; pois o Senhor mesmo disse:

 “ porque o servo não sabe o que faz o seu senhor” .Só em Marcos as mãos  de Jesus ficam tão em evidência.

Quando Ele curou a sogra de Pedro, “ tomou-a pela mão” . Em Betsaida Ele “tomando o cego pela mão"   e mais tarde “ impondo-lheas mãos”.  Depois disso, “ lhe pôs as mãos  nos olhos”. Na cura do

 jovem possesso “ Jesus, tomando-o pela mão,  o ergueu”. Ao fazercom que o homem surdo e mudo falasse e ouvisse Ele “ pôs-lhe

os dedos  nos ouvidos” . Esses detalhes só se encontram em Marcos, assim como a pergunta surpresa: “ Donde vem a este estas coisas? Que sabedoria é esta que lhe foi dada? e como se fazem taismaravilhas por suas mãos?”   (Mc 6.2). A repetida proeminênciadessas mãos será involuntária? Ou constitui outra contribuição

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para o aspecto de Servo  assumido pelo Senhor? Não são as mãos opróprio símbolo do serviço?

Outros Aspectos ExclusivosÉ igualmente Marcos que enfatiza peculiarmente a discreção do Senhor. “ Tendo entrado numa casa, queria que ninguém osoubesse, no entanto não pôde ocultar-se” (7.24). “Tirando-o damultidão, à parte” (7.33). “ Levou-o para fora da cidade” (8.23).

Da mesma forma em Marcos observamos a atenção especialdada aos isolamentos  do Senhor. “Tendo-se levantado alta madrugada, saiu, foi para um lugar deserto, e ali orava” (1.35). “ Vin

de repousar um pouco, à parte, num lugar deserto... Então foramsós no barco para um lugar solitário” (6.31, 32).

Ainda em Marcos os olhares  e sentimentos  do Senhor sãomais considerados do que em qualquer outro lugar. “Olhando aoredor, indignado  e condoído  com a dureza dos seus corações” (3.5). “ Ele, porém, olhava ao redor para ver aquela que fizeraisto” (5.32). “ Erguendo os olhos ao céu, suspirou” (7.34). “ Je

sus, porém, voltou-se e, fitando  os seus discípulos, repreendeua Pedro (8.33). “ Admirou-se  da incredulidade deles” (6.6). “ Jesus, porém, vendo isto, indignou-se” (10.14). “ Mas Jesus, fitando-o, o amou” (10.21). “ Jesus, porém, arrancou do íntimo do seuespírito um gemido"  (8.12).

Todos esses toques pessoais são apenas de Marcos, assim como outros que poderiam ser citados. A medida que se acumulam,não se torna aparente que se trata de fios propositalmente tecidosem um padrão predeterminado? Reflita sobre eles. Todos representam características que se fundem na apresentação de Marcos,mostrando o Senhor como SERVO.

O título “Senhor ” Até mesmo o título “Senhor” parece intencionalmente ex

cluído deste segundo Evangelho. De acordo com Mateus e Lucas,o leproso disse: "Senhor,  se quiseres, podes purificar-me” . Natempestade no Mar da Galiléia, os discípulos clamam: "Senhor  (ou, em Lucas: ‘Mestre’) salva-nos, perecemos!” Na última ceia,eles perguntam: “ Serei eu, SenhorV'   Marcos omite o título em ca-

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da caso. Embora “ Mestre” ocorra no relato da tempestade emMarcos, não é a mesma palavra grega empregada por Lucas; elemos a queixa quase rude (peculiar ao relato do Marcos): “ Nãote importa que pereçamos!” — como se fosse culpável o fato

dAquele que estava sempre trabalhando ser encontrado dormindo!Apesar do título “ Senhor” sp dirigido a Ele entre 70 e 80

vezes nos outros três evangelhos, ele nunca  é usado em Marcos— pelo menos antes de sua ressurreição; exceto no capítulo 7.28,onde a mulher siro-fenícia o emprega mais no sentido de “ sr.”(em 9.24 a palavra não se apóia em autoridade de manuscrito; eem 10.51 é apenas Rabino).  Na Edição Revista e Atualizada emportuguês, 9.24 omite o título e 10.51 inclui “ Mestre” . Só noúltimo parágrafo deste segundo evangelho Marcos chama Jesusde “ Senhor” — só depois do Servo ter terminado a obra que lhefoi conferida na terra e ser exaltado ao trono nos céus!

 A Palavra-Chave de Marcos

A palavra que caracteriza Marcos acima de todas as outrasé eutheos,  traduzida como “ imediatamente” , “ na mesma hora” , “ incontinente” , etc. Ela é quase como que a assinatura repetidado autor nas atividades intensas que se acumulam na primeira fase da história. “Logo  no sábado, foi ele ensinar na sinagoga”(1.21). “ Então correu célere a fama de Jesus em todas as direções” (1.28). “ E, saindo eles da sinagoga, foram, com Tiago e \oão dire

tamente  para a casa de Simão e André” (1.29). “ E imediatamente a febre a deixou” (1.31). A versão em português omite o termoimediatamente.  Essas são apenas quatro das oito ocorrências noprimeiro capítulo. A palavra ocorre 42 vezes em Marcos; apenassete em Mateus e uma em Lucas. Da mesma forma que os registros de Júlio César sobre a Guerra na Gália estão repletos da palavra “ rapidamente” , a biografia de Jesus contada por Marcosrepete eutheos.  Isto não concorda de novo com a ênfase sobre

serviço — serviço pronto, incansável, ativo, diligente?Esses toques diferentes são apenas alguns escolhidos entre

muitos. Eles bastam porém para mostrar como a ênfase dada aoSenhor no papel de SERVO é mantida através de todo o segundo Evangelho. Num endosso culminante, o pequeno rolo ter

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mina com estas palavras: "De fato o Senhor Jesus, depois de lhester falado, foi recebido no céu, e assentou-se à destra de Deus.E eles, tendo partido, pregaram em toda parte, COOPERANDOCOM ELES O SENHOR, e confirmando a palavra por meio de

sinais, que se seguiam.” 

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O EVANGELHO SEGUNDO MARCOS (2) 

Lição NP 13

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NOTA:Para este estudo releia o segundo Evangelho, marcandosuas divisões maiores e menores, à medida que se tornemclaras.

“No momento em que aceitamos os Evangelhos como reve-lação divina, abandonamos o “protegido” dos críticos, o “J esushistórico” e nos colocamos na presença de nosso divino Senhor eSalvador. De suas mãos recebemos as Escrituras Hebraicas. Portrês vezes, ao ser tentado, Ele apelou para o Livro de Deuteronômio como a Palavra de Deus — sua única defesa e resposta para os

argumentos e reivindicações do Diabo.

— Sir Robert Anderson.

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O EVANGELHO SEGUNDO MARCOS (2)

Mesmo em nosso exame preliminar deste segundo evangelho,

encontramos peculiaridades fascinantes em número suficiente para refutar a idéia imerecida mas constante de que ele é o menosimportante dos quatro.

Entristecemo-nos ao observar nosso velho comentarista favorito, Matthew Henry, embaraçado numa meia-desculpa: “Quandomuitas testemunhas são chamadas para dar testemunho dos mesmos fatos não devemos considerar tedioso, mas altamente necessário de que devam relatar os incidentes ocorridos em suas própriaspalavras repetidamente, a fim de estabelecer a verdade pelo seu testemunho simultâneo”. Ele não vê em Marcos mais que uma repetição de Mateus “ porque o homem tende a esquecer as coisas” .

Outros opinam que Marcos é um resumo de Mateus; o grandeerro em que incorrem é apontado pelo fato de que o seu registrodas atividades do Senhor é definitivamente mais longo do que Mateus.

Todas essas depreciações comparativas dos registros de Marcos resultam da ignorância de sua interpretação especial do Senhor em seu aspecto de SERVO.

A observação de E. A. Thompson é objetiva: “Com toda certeza, embora posterior a Mateus, Marcos não pode ser tido tendocopiado ou resumido Mateus: existem tantas características distintas, especialmente tais minúcias e plenitude de detalhes teste

munhados e atestados pessoalmente, em quase tudo que ele registra, levando-nos irresistivelmente a concluir que o seu Evangelhoé também original no sentido apropriado — fruto de observaçãoindependente, de autoria também independente”. O mesmo escritor tem plena consciência de que esses e outros toques que exclusivamente pertencem a Marcos se juntam no propósito unifica-

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ramse resplandecentes e sobremodo brancas, como nenhum iavan- deiro na terra as poderia alvejar”   (9.3). “Trazendo uma criança,colocoua no meio deles e, tomando-a nos braços,  disselhes”(9.36). “Correu  um homem ao seu encontro e, ajoelhando-se” (10.17). “ Estavam de caminho, subindo para J erusalém, e J esusia adiante dos seus discípulos. Estes se admiravam  e o seguiamtomados de apreensões”   (10.32). “Lançando de si   (o cego Bartimeu) a capa, levantou-se de um salto e foi ter com J esus” (10.50).“Então foram e acharam o jumentinho preso, junto ao portão, do lado de fora”   (11.4). “Duas pequenas moedas correspondentes a um quadrante”   (12.42). "Ah!”   (15.29). “Quem nos removerá a

pedra da entrada do túmulo?... pois era muito grande"   (16.4). To-dos esses incidentes cheios de vida devemos a Marcos.

Nomes, Horários, Números, Locais

Observe também como Marcos, de um modo todo seu, espe-

cifica nomes, horários, números, lugares.  “Tiago e J oão, aos quaisdeu o nome de Boanerges,  que quer dizer, filhos do trovão”(3.17). “Quando saía de J ericó, juntamente com os discípulos enumerosa multidão, Bartimeu,  cego mendigo... estava assentadoà beira do caminho” (10.46). “ E obrigaram a Simão Cireneu quepassava, vindo do campo, pai de Alexandre e Rufo,  a carregarlhea cruz” (15.21).

“Tendose levantado alta madrugada”   (1.35). “Naquele dia,

sendo já tarde"   (4.35). “Em vindo a tarde (i.e., a cada dia), saíramda cidade” (11.19). “Era a hora terceira  quando o crucificaram”(15.25).

“Alguns foram ter com ele, conduzindo um paralítico, levado por quatro homens”   (2.3). “Os espíritos imundos entraram nosporcos; e a manada que era cerca de dois mil , precipitouse despe-nhadeiro abaixo” (5.13). “Chamou J esus os doze (apóstolos) e

passou a enviálos dois  a dois”   (6.7). “Antes que duçs vezes  can-te o galo, tu me negarás três vezes” (14.30). “E logo cantou o ga-lo pela segunda vez.  Então Pedro se lembrou” (14.72).

“De novo saiu J esus para junto do mar"   (2.13). “Entre dois caminhos"   (11.4). “E, estando Jesus assentado defronte da arca do tesouro” (12.41). “O centurião que estava em frente dele” 

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15.39). “Entrando no túmulo, viram um jovem assentado ao lado direito"   (16.5).

Cremos não haver mais necessidade de outros exemplos, poisos incluídos são suficientes para mostrar quanto colorido e deta-lhes significativos nos são transmitidos por esse segundo evangelho;além do mais, eles servem para indicar a fragilidade de qualquerteoria no sentido de Marcos ser simplesmente um resumo de Ma-teus ou Lucas. Não existe quase nenhum incidente comum aostrês sinóticos, que não tenha sido enriquecido ou reavivado porMarcos através de alguma contribuição exclusiva. Os que toma-rem tempo para aprofundarse neste aspecto irão tirar muito pro-

veito do estudo.Existe uma ênfase característica através da repetição: “Mastendo ele saído, entrou a propalar muitas coisas  e a divulgar   anotícia” (1.45); “ E deram fruto que vingou  e cresceu"   (4.8);“Não o conheço, nem compreendo  o que dizes” (14.68). Vemosos toques de dramática realidade através da preservação de Mar-cos das próprias palavras que sairam dos lábios do Senhor no dia-leto aramaico, algumas vezes com uma interpretação, e.g. “Talita cumi ” (5.41); “E Corbã”   (7.11); “Efatá,  que quer dizer: Abre-te” (5.34); “Abba,  Pai” (14.36); “Eloí, Eloí"   (15.34). Neste cur-to evangelho é que encontramos quase todos os instantâneos daaparência, gestos e reações emocionais do Senhor. Nas três ou qua-tro primeiras leituras de Marcos, essas são as coisas que chamama atenção do leitor interessado, em lugar das divisões claras danarrativa; por isso as mencionamos em primeiro lugar. Existe certa-

mente um plano ordenado e progresso, mas estes estão subordina-dos ao propósito principal de retratar, da maneira mais viva e des-critiva,  Jesus trabalhando-,  J esus como o Servo  do Senhor; J esuso Obreiro Poderoso.

Relato da Transfiguração Feito por Marcos

Para confirmar o que ficou dito acima, vejamos a interpreta-ção de Marcos de apenas um incidente completo comum aos trêssinóticos, a saber, a cura do jovem endemoninhado, logo depoisda transfiguração do Senhor no monte. Apresentamos aqui a nar-rativa inteira de Marcos, enfatizando em grifo os aspectos que lhe

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são peculiares. Não ressaltamos as formas variantes de dizer a mes-ma coisa, mas apenas aqueles toques contidos em Marcos, mas nãoem Mateus ou Lucas.

“Quando eles se aproximaram dos discípulos, viram numero-sa multidão ao redor, e que os escribas discutiam com eles.

E logo toda a multidão ao ver J esus, tomada de surpresa, correu para ele, e o saudava. Então ele interpelou os escribas: Que é que discutíeis com eles?   E um, dentre a multidão, respondeu:Mestre, trouxete o meu filho,  possesso de um espírito mudo; eeste, onde quer que o apanha, lançao por terra e ele espuma, rilha os dentes e vai definhando.  Roguei a teus discípulos que o expe-

lissem, e eles não puderam.  __ Então J esus lhes disse: O geração incrédula! até quando esta-rei convosco, até quando vos sofrerei? Trazeimo.

E trouxeramlho; quando ele viu a Jesus, o espírito imediata-mente o agitou com violência, e, caindo ele por terra, revolvia-se espumando.

Perguntou Jesus ao pai do menino: Há quanto tempo isto lhe sucede? Desde a infância, respondeu; e muitas vezes o tem lançadono fogo e na água, para o matar; mas, se tu podes alguma coisa, tem compaixão de nós, e ajuda-nos.

 Ao que lhe respondeu Jesus: Se podes! tudo é possível ao quecrê.

E imediatamente o pai do menino exclamou (com lágrimas): Eu creio, ajuda-me na minha falta de fé.

Vendo Jesus que a multidão concorria, repreendeu o espírito 

imundo, dizendo-lhe: Espííito mudo e surdo, eu te ordeno: Sai  deste jovem e nunca mais tornes a ele.

E ele, clamando, agitando-o muito saiu, deixando-o como se estivesse morto, ao ponto de muitos dizerem: Morreu.

Mas Jesus, tomando-o pela mão, o ergueu, e ele se levantou (mais literalmente: Jesus, agarrando sua mão, levantou-o, e ele ficou de pé!)" 

Como essas interessantes inserções estão de acordo com opropósito principal de Marcos, retratandonos J esus como o pode-roso Obreiro! Veja o majestoso poder de J esus em contraste comos discípulos sem poder, frustrados e perplexos por aquele desa-fio satânico, embora eles tivessem praticado e provado o poderque lhes fora conferido de exorcisar demônios.

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Devemos realmente muito a este evangelho mais curto quetodos, com seu vigor de estilo, seus traços acentuados e seus deta-lhes descritivos. Devemos lêlo com freqüência, a fim de apreciálo melhor. Ele sempre acaba nos surpreendendo a cada passo —

especialmente quando lido em uma versão moderna — com novosângulos sobre as coisas e novas percepções quanto à importânciada pessoa de J esus. Cada parte do mesmo causará novo fascíniose mativermos “este mesmo J esus” fotograficamente diante denós como o Servo de Deus, o poderoso Obreiro.

Há anos atrás, alguém que é agora amigo meu foi induzidopor uma circunstância aparentemente incidental a ler o livro deMarcos. Ele gostava de “histórias” interessantes e ficou tão empol-

gado que sem qualquer outra ajuda converteuse realmente a Cris-to. Esse homem.é hoje um ministro  do evangelho de grande in-fluência; mas depois de um período de vinte anos ou mais ele con-tinua afirmando que não  existe outro livro na  Bíblia como o“Evangelho Segundo Marcos”!

E Agora — O Plano

 Três perguntas devem ser feitas ao começar o estudo de umlivro das Escrituras: (1) Qual seu objetivo  principal? (2) Qual seu

 plano  em termos gerais? (3) Quais seus aspectos  essenciais? E es-sa é a ordem certa. Marcos, no entanto, nos força a inverter isso.Essa é a razão pela qual não o submetemos a uma análise até ago-

ra. Os outros três escritores dos Evangelhos indicam claramenteseu propósito (veja Lc 1.14; J o 20.31 e o “Para que se cumpris-se” de Mateus), mas em Marcos são os aspectos  que nos guiamtanto ao propósito como ao plano.

Esses  aspectos, como vimos, têm claramente como alvo prin-cipal retratar J esus em sua condição de Servo.  Eles são tambémindicadores para uma verdadeira análise. O livro de Marcos nãose divide em seções determinadas, mas em movimentos.  E claroque  pode  ser proveitosamente dividido numa análise simples.Qualquer das seguintes serviria.

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Marcos —  “ J esus Cristo, FILHO DE DEUS.” /saías — “Preparai o caminho do SENHOR.” João “Aquele... MAIS PODEROSO.”DEUS -  “Tu és o MEU FILHO AMADO.”

Em seguida começa o ministério na Galiléia e Marcos faz suanarrativa de tal modo que não podemos deixar de exclamar: “Éverdade, e que  ministério!” Atos milagrosos se repetem atravésde todo o capítulo um. Os capítulos 2 e 3 continuam a marchados prodígios, apresentando também a surpreendente originalida-de irrefutável, para não dizer pouco convencional, das respostase pronunciamentos do bondoso Operador de Milagres. Parábolas

modelo foram incluídas brevemente no capítulo 4, mas são se-guidas rapidamente por milagres ainda maiores — o acalmar datempestade; a expulsão de uma “legião” de demônios; a cura doincurável; e até a ressurreição de mortos! P rodígios ainda maisespetaculares são encontrados nos capítulos 6, 7, 8 — a alimenta-ção dos cinco mil pela multiplicação criativa de pedaços de pão;o passeio noturno pelo mar agitado; demonismo, surdez e mu-dez curados; e a alimentação dos quatro mil com os sete pães.

 Tudo isto em tão poucos capítulos, com tanta rapidez eenergia! — e pontuado por referência ao efeito magnético sobrea multidão, as massas que cresciam cada vez mais, as diversascuras, a grande frustração da minoria de críticos e a crescenteonda de popularidade:

“Maravilharam-se da sua doutrina” (1.22).

“Todos se admiraram”   (1.27).“Então correu célere a fama  de J esus em todas as direções”

(1.28).“E de toda parte vinham ter com ele” (1.45).“Muitos afluíram para ali, tantos que nem mesmo junto à 

 porta eles achavam lugar”   (2.2).“A ponto de se admirarem  todos...  Jamais vimos coisa as

sim”   (2.12).“Toda a multidão vinha ao seu encontro” (2.13).“Seguiao da Galiléia  uma grande multidão.  Também da

 Judéia,  de  Jerusalém, da Iduméia, dalém do Jordão  e dos arre-dores de Tiro  e Sidom uma grande multidão, sabendo quantas coi-sas J esus fazia” (3.7, 8).

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“Por causa da multidão,  a fim de não o comprimirem”   (3.9).“Também os espíritos imundos, quando o viam, prostravam- 

se diante dele e exclamavam: Tu és o Filho de Deus” (3.11).“A multidão  afluiu de novo, de tal modo que nem podiam

comer” (3.20).“Voltou J esus a ensinar... E reuniuse numerosa multidão  a

ele” (4.1).“Quem é este que até o vento e o mar lhe obedecem?”  (4.41).“Afluiu para ele grande multidão”  (5.21).“Então ficaram todos sobremaneira admirados”  (5.42).“Muitos, porém... correram para lá, a pé, de todas as cida

des”  (6.33) (o v. 44 mostra que eram milhares).“E, percorrendo toda aquela região,  traziam em leitos os en-

fermos, para onde ouviam que ele estava. Onde quer que ele en-trasse nas aldeias, cidades ou campos,  punham os enfermos naspraças, rogandolhe que os deixasse tocar ao menos na orla da suaveste; e quantos a tocavam saiam curados” (6.55, 56).

“Maravilhavam-se sobremaneira,  dizendo: Tudo ele tem feitoesplendidamente bem (7.37).

Assim prossegue a história incomparável. Nada que se pudessecomparar a isso jamais fora visto desde a fundação do mundo. Es-te é verdadeiramente o F ilho do Deus Bendito! Este é verdadeira-mente o Cristo de Israel! Este é finalmente o Rei há tanto espera-do! O reino dos céus chegou! Todos afluem para Ele. Os curados,os abençoados, os agradecidos, os que aplaudem estão em todaparte. A aclamação pública chegou ao auge. Ele com certeza será

agora levado numa enorme maré de entusiasmo até a coroa e o ce-tro que lhe pertencem de direito em J erusalém!Mas, nada disso. De repente a luz diminui, o ar esfria: pois

no capítulo 8.31 lemos (com bastante surpresa se tivermos real-mente “penetrado” na história):

“ Então começou ele a ensinarlhes que era necessário que oF ilho do homem SOFRESSE muitas cousas, fosse rejeitado

pelos anciãos, pelos principais sacerdotes e pelos escribas,fosse MORTO”.

Não há dúvida que Mateus e Lucas registram igualmente is-so, mas não com a mesma divisão significativa de Marcos. Só Mar

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cos comenta: “E isto ele expunha CLARAMENTE”. Foi a publi-cidade, acentuando o choque, que provocou a reação de Pedro(v. 32); mas a réplica do Senhor foi tornar o assunto ainda maispúblico, pojs Marcos acrescenta no v. 34: “Então, convocando a MULTIDÃO e juntamente com os discípulos, disselhes: Se al-guém quer vir após mim, a si mesmo se negue, tome a sua  cruz esiga-me”.

Foi isso que aconteceu, logo depois do testemunho culmi-nante dos discípulos agora convictos: “Tu és o Cristo”. No mo-mento em que parece ter sido alcançado um ponto crítico, asesperanças são destruídas e surge esta brusca e surpreendente

transição. Em lugar de um trono esperando na capital, há umacruz! Em lugar da púrpura real, a morte de um criminoso! O fatode alguém como ELE ser assim desdenhado, morto, envergonha-do, e que TAL ministério de obras poderosas, curas graciosas e sa-bedoria superior devesse terminar em tanta ignomínia, é quaseinconcebível: foi a recusa mais trágica e o maior enigma de todasas eras.

Fica bastante claro pelo estilo de Marcos que devemos con-siderar os fatos dessa forma. Na verdade, embora os discípulosse deixassem enganar pelas aparências e*as multidões pela suaprópria superficialidade, o Profeta de Nazaré discernira perfeita-mente a realidade. Ele sabia como o clamor do povo era insubstancial; como a inimizade dos líderes do Sinédrio e dos escribasera poderosa; e como o povo não estava disposto a responder decoração  ao desafio moral do “ reino de Deus”. A oposição se esta-

belecera desde o início; ela era amarga e persistente (2.7, 16,22; 7.1, 2; 8.11). No começo da narrativa, J esus se referira aos ou-vintes que eram como um “solo rochoso”, àqueles que se escanda-lizavam quando surge “perseguição por causa da palavra” e de ou-tros em quem “os cuidados do mundo sufocam a palavra”. Ele

 já explicara com triste ironia o motivo de usar parábolas: “Paraque vendo, vejam, e não percebam; e ouvindo, ouçam, e não en-

tendam, para que não venham a converterse e haja perdão paraeles” (4.1219).Não obstante, a súbita mudança de aspecto no capítulo 8.31

é espantosa. Não há porém meios de evitála, pois a partir desseponto a cruz domina os pensamentos do Senhor e está constan-temente em seus lábios (9.12, 31; 10.21, 10.3234, 38, 45; 12.7, 8;

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14.8, 18, 22-25). No relato de Marcos é “ a grande divisão” , de modo que a história se enquadra em duas partes nítidas — as OBRASPODEROSAS realizadas por Ele (1.14-8.30) e o TRÁGICO ENIGMA de sua rejeição (8.31 cap. 15).

Façamos agora um resumo. A idéia-chave em Marcos é aapresentação do Senhor como Servo de Deus, o poderoso Obreiro. O versfculo-chdtve  é 10.45: “ Pois o próprio Filho do homemnão veio para ser servido, mas para servir e dar sua vida em resgate por muitos”. A palavra-chwe  é “ imediatamente”. Podemos fazer um quadro completo como segue:

O EVANG ELHO SEGUNDO MARCOS

Idéia-chave: Jesus, o Servo de Deus, o Poderoso Obreiro.Verso-chave: 10.45 — “ Para servir e dar a sua vida.”Palavra-chave: Euthios — “ imediatamente” , “ logo” , etc.

Prólogo: Quatro Vozes O Anunciam:

(1:1-13) “ Filho de Deus,” “O Senhor,” “Aquele... Mais Poderoso,” “ Meu Filho ’ 

1. AS OBRAS PODERO SAS (1:14-8:30).Primeira mensagem e discípulos

(1:14-20).Primeiros milagres e efeitos

(1:21-2:12)

Primeiras críticas — e respostas(2:13-3:6)Afluência das multidões: Escolha

dos Doze (3:7-19)Advertência aos Escribas: resposta

aos parentes (3:20-35).Parábolas = poucos "bons” ouvintes

(4:1-34).

Mais obras poderosas e efeitos(4:35-6:6).

Os Doze capacitados e enviados(6:7-13)

A idéia de Herodes: o  relato dosDoze (6:14-31)Milagres ainda mais poderosos

(6:32-56).Críticas; gemidos; últimos sinais

(7:1-8:26).Testemunho: “Tu és o Cristo”

(8:27-30).

2. O T RÁG ICO EN IGMA (8:31-15)Nova e estranha nota: a Cruz

(8:31-9:1).A transfiguração: de novo a Cruz

(9:2-13).

A entrada triunfal: Dia l( 1 1 : 1 -11 ).

A figueira: Purificação doTemplo:(11:12-19) Dia 2

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Grande Milagre: de novo a Cruz(9:14-32)

Apóstolos censurados; aconselhados(9:33-50)

Judéia novamente: palavras, feitos(10:1-31).

Para J erusalém: Cruz em vista(10:32-52).

Inimigos: Profecia no Montedas Oliveiras: (11:20-13) Dia 3

Betânia — e traição: Dia 4(14:1-11).

Páscoa — J ard i m — J u Iga-mento: (14:12-72) Dia 5

Pilatos; Cruz; Sepultamento: Dia 6(15:1-47).

Final: Triunfo quádruplo (16).

Ressurreição (1-8). Aparições (9-18). Ascensão (19). Trabalho (20).

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O EVANGELHO SEGUNDO MARCOS (3) 

Lição N.° 14

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NOTA: Nesta seção final de Marcos, procure todas as referências do Novo Testamento sobre a pessoa dele, com aajuda de uma concordância. Leia também cuidadosamente outra vez os capítulos 1 e 16 e Atos 10.

AUTORIA

Parece discutível que qualquer dos quatro evangelhos contivesse originalmente o título ou o nome do autor. Não ficamosporém em dúvida quanto à autoria deste segundo evangelho.Desde os dias sub-apostólicos a tradição dá firme testemunho detrês fatos: (1) um registro das palavras e obras do Senhor foi escrito por alguém chamado Marcos; (2) esse registro era aquele

que hoje conhecemos como o Evangelho Segundo Marcos;(3) este Marcos é o João Marcos que aparece em Atos e nasepístolas do Novo Testamento. Esse tem sido o ponto de vistamantido por todos. E também o veredicto renovado dos eruditos da atualidade.

- J. S. B.

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O EVANGELHO SEGUNDO MARCOS (3)

Nesta contribuição final sobre o segundo evangelho iremosreferirnos brevemente a quatro assuntos de grande interesse:(1) a pessoa do autor; (2) a influência de Pedro sobre ele; (3)os primeiros leitores a quem foi dirigido; (4) seus valores espiri-tuais.

A Pessoa de Marcos

O próprio Marcos chama merecidamente nossa atenção.Vacilante a princípio, mas agradável e louvável mais tarde, eleconstitui um estudo estimulante. Veja quando aparece pela

primeira vez em Atos 12.12. O nome de sua mãe, “Maria”,indica que era judia. Ele também tinha um nome judeu e umsobrenome romano, “ J oão” e “Marcos”; seu pai pode ter sidoentão romano. A casa deles era evidentemente grande e serviade ponto de encontro para os primeiros cristãos. Ao que tudoindica eram pessoas abastadas, como também o tio de Marcos,Barnabé, parece ter sido (A t 4.37).

Em Atos 12.25, Barnabé e Paulo levam Marcos com elespara Antioquia e mais tarde mostram sua confiança, fazendoo acompanhálos naquela primeira épica viagem missionária(13.5). Infelizmente, porém, quando eles chegam a Perge, nasfronteiras do grande mundo pagão, a coragem de Marcos falhae ele volta para casa (13.13). Quando mais tarde Barnabé quer

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leválo novamente em sua companhia, numa outra viagem, Pauloe ele discordam de tal forma sobre o assunto que ambos se sepa-ram e Barnabé segue para Chipre com Marcos (15.3641).

A partir desse ponto não ouvimos mais falar de Barnabé;

mas Marcos reaparece nas epístolas e de maneira muito louvável.Quase vinte anos se passaram. Paulo, um veterano cheio de cica-trizes das batalhas, achase prisioneiro em Roma. Ele envia umacarta para alguns cristãos distantes numa pequena cidade da F ri-gia — a “Epístola aos Colossenses”. No capítulo 4.10 ele diz:“Saúdavos Aristarco, prisioneiro comigo e Marcos, primo deBarnabé (sobre quem recebestes instruções; se ele for ter con-

vosco, acolheio)”. Marcos continua então vivo e ativo a servi-ço de Cristo, junto com Paulo novamente! De fato, ele está apa-rentemente planejando uma visita evangelística à Ásia Menor,

 justamente o lugar de onde retornara antes! Essa é talvez a ra-zão pela qual Paulo diz aos Colossenses, cuja pequena cidade fi-ca na possível trajetória da viagem de Marcos: “Se ele for terconvosco, acolheio”.

Mais interessante ainda é o acréscimo feito por Paulo no

v. 11: “Os quais são os únicos  da circuncisão que cooperampessoalmente comigo pelo reino de Deus. Eles têm sido o meu lenitivo”.  Só três judeus cristãos permaneceram fiéis a Paulo eum deles é Marcos!  Paulo fala dele agora como um “cooperador” e um “consolo”! (Veja também Filemom 24.) Houve en-tão completa restauração!

Marcos é novamente mencionado na última carta de Paulo

antes de seu martírio. Ele não tem outro companheiro agora se-não Lucas, “o médico amado”. No capítulo 4.911 ele escreve:“Procura vir ter comigo depressa. Porque Demas, tendo amadoo presente século, me abandonou e se foi para Tessalônica;Crescente foi para a Galácia, T ito para a Dalmácia. Somente Lu-cas está comigo. Toma contigo a Marcos, e traze-o, pois me é útil para o ministério"   (2 Tm 4.10). Paulo queria ter Marcos no-vamente a seu lado! Marcos provara ser um amigo leal dele emocasião anterior em Roma. Marcos dera testemunho de sua cora-

 josa dedicação a Cristo através dos anos e sua falha inicial emPerge foi completamente esquecida!

Encontramos novamente uma menção de Marcos, desta vezpor parte de Pedro. Leia 1 Pedro 5.13: “Aquela que se encontra

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em Babilônia, também eleita, vos saúda, como igualmente meu filho M a r c o s Esta designação afetuosa indica ter sido Pedro(como seria de se esperar) que gerou Marcos como convertidoa Cristo: mas mostra outrossim que através dos anos Marcos

 provara  ser verdadeiramente um “filho” na fé para Pedro.Existem evidências claras de que havia um elo especial entreeles, como mencionaremos mais tarde.

Mas, o que Marcos estivera fazendo durante todos aque-les anos desde o primeiro dia em Perge e seu reaparecimento nasúltimas epístolas de Paulo? A tradição, que não temos motivopara pôr em dúvida, nos informa de seu notável ministério no

Egito, ganhando muitos convertidos, e a fundação da primeiraigreja de Cristo em Alexandria feita por ele. De fato, foi o exdesertor Marcos que invadiu a luxuriosa Alexandria, “gloriosacom templos de mármore dedicados a Serapis e Isis”, com suafamosa biblioteca e intelectuais brilhantes, eclipsando os da pró-pria Roma!

Marcos não foi então apenas aceito de volta pelos doismaiores apóstolos, como também o próprio Deus confirmou po-derosamente seu serviço para o Senhor. E isso também não étudo, pois o E spírito de Deus veio especialmente sobre esse ho-mem e através de inspiração sobrenatural usouo como um dosescritores dos quatro evangelhos a quem devemos os registrospreciosos da vida do Salvador na terra. Que honra imperecívelpara o jovem que certa vez vacilou, tremeu e desistiu!

Além do mais, o jovem que deu meiavolta e foi embora é

o mesmo mártir glorioso que, com dedicação infinda ao maisamado de todos os mestres, entregouse às mãos dos egípciosenfurecidos, sendo arrastado pelas ruas, atirado ferido e san-grando numa cela e depois queimado na fogueira.

Que nossos espíritos silenciem, nossos corações se curveme dêem graças a Deus por J oão Marcos. Quanto consolo ele nostransmite, demonstrando que o fracasso inicial pode ser corri-gido, cancelado, expurgado, pela fidelidade posterior; que umcomeço fraco pode dar lugar a nobres empreendimentos; que acovardia natural pode ser transformada em heroísmo de mártiratravés da graça! “O maior de todos os heróis é o covarde quese obriga a ser valente”, diz um livro de meus tempos de escola.“Muitos potros desajeitados se transformam em cavalos de ra-

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ça”, diz Alexander Maclaren. Alguns de nós fariam bem em obser-var longa e firmemente a figura de J oão Marcos!

Os que estão nas alturas não são as almas,

Dos que jamais erraram ou se desviaram,Ou que alcançaram alvos elevados e compensadores,

 A o longo de um caminho suave, orlado de flores.Não. Os que se encontram onde começa 0 manhã 

São aqueles que tropeçaram — mas prosseguiram.

A Influência de Pedro

Como já notado, existe uma nitidez de descrição e detalheneste segundo evangelho que parece indicar c>fato do escritor tersido testemunha ocular do que agora registra. Alguns dos toquesincidentais parecem tão autênticos que só podemos supor tenhamsido relatados por um dos apóstolos ou alguém transcrevendo dire-tamente de um apóstolo. Quem, senão um observador pessoal, umapóstolo, poderia ternos transmitido isso?

“Naquele dia, sendo já tarde,  disselhes J esus: Passemospara a outra margem. E eles, despedindo a multidão, o leva-ram assim como estava,  no barco; e outros barcos o seguiam.Ora, levantouse grande temporal de vento, e as ondas se arremessavam  contra o barco, de modo que o mesmo já estava

prestes a encher-se  de água. E J esus estava na popa,  dormin-do sobre o travesseiro. ” 

Ponto após ponto, uma comparação de Marcos com Mateusou Lucas indica a mesma familiaridade de primeira mão com odetalhe.

Se alguém então nos perguntasse qual  dos principais apósto-

los este evangelho reflete, o que responderíamos? Seria J oão, Tia-go, ou André? Nenhum deles. Seria Pedro? Sim. J á não sentimoscomo este segundo evangelho sugere de algum modo a maneira dePedro dizer e fazer as coisas? Existe na narrativa de Marcos a mes-ma atividade intensa, impulsiva, compreensiva e enérgica da natureza de Pedro. Poderíamos concentrar este segundo evangelho mais

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corretamente numa sentença do que considerálo uma “semelhan-ça ampliada” do discurso característico de Pedro à casa de Cornélio, em Atos 10?

“A palavra... se divulgou por toda a J udéia, tendo come-çado desde a Galiléia, depois do batismo que J oão pregou, co-mo Deus ungiu a Jesus de Nazaré com o Espírito Santo e po-der, o qual andou por toda parte, fazendo o bem e curando atodos os oprimidos do diabo, porque Deus era com ele”, etc.

Além disso, há uma semelhança de natureza entre Pedro e

Marcos que faz deste último o auxiliar perfeito do primeiro. Aoexaminar as referências a Marcos, não encontramos o mesmo en-tusiasmo bem intencionado, impulsivo, compensado pela mesmatendência à súbita fraqueza, como em Pedro? Ambos demonstramfranqueza sincera. Ambos falham gravemente no início, medianteo colapso da coragem: Pedro nega a seu Senhor — Marcos desertaem Perge. Mas ambos se recobram e são restabelecidos, não só aoserviço mais corajoso, mas também à mais destacada liderança.

Se não houvesse nada mais definido, ainda assim poderíamosdescartar essas coisas como simples coincidências: mas o fato é quea ligação direta de Pedro com o evangelho de Marcos é confirma-da por testemunho externo confiável. Existe uma tradição,  remon-tando aos dias subapostólicos, de que este segundo evangelho, em-bora atribuído a Marcos foi na realidade escrito por ele como amanuense de Pedro,  ou seja como tradutor e continuador de um ori-

ginal preparado por Pedro em aramaico.A evidência mais importante é a de Papias, bispo de Hierá

polis na Frigia, no início do segundo século. Ele escreveu um livrode cinco volumes, há muito perdido, An Exposition ofOrac/esof  the Lord.  Mas Eusébio, no final do terceiro século, cita três extra-tos do mesmo em sua obra “Ecdesiastica! History” . Eis os dois pri-meiros:

Extrato  1.“O que quer que eu tenha a qualquer tempo verificado

e guardado de memória, recebi dos Anciãos e registrei afim de dar confirmação adicional da verdade pelo meu teste-munho... Sempre que me encontrei com alguém que tivesse

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seguido os Anciãos em qualquer parte, fiz questão de indagarquais foram as declarações destes; o que tinha sido dito porAndré, Pedro, ou Filipe; por Tomé, Tiago, J oão, Mateus,ou qualquer dos discípulos do Senhor; o que foi dito por

Aristion ou pelo presbítero J oão, discípulos do Senhor; poisnão penso que tenha derivado tanto beneficio de livros comoda voz viva daqueles que ainda viviam.”

(Deve ser notado que isto nos leva para bem perto dos diasdos apóstolos, dando ao seu testemunho bastante peso.)

Extrato 2.

“J oão, o presbítero, disse também isto: Marcos, sendo ointérprete de Pedro, o quer quer que tenha registrado escre-veu com grande exatidão, embora não na ordem em que foifalado ou feito pelo Senhor; pois ele não ouviu nem seguiuo Senhor, mas como dito antes, acompanhou Pedro, que lhedeu as instruções necessárias, mas não para apresentar um his-tórico dos discursos do Senhor. Por conseguinte, Marcos não

errou em nada, escrevendo algumas coisas como as registrou,pois teve o máximo cuidado em um ponto: não passar porcima de qualquer coisa que tivesse ouvido ou declarar qual-quer falsidáde nesses relatos.”

Em minha opinião, Marcos foi o compiladortradutor dos re-gistros já escritos por Pedro, em aramaico, muitos deles registradosna ocasião ou logo depois da ocorrência dos eventos e formandouma espécie de diário. Penso que outros dos apóstolos também de-vem ter escrito “memórias” simultâneas. Todavia, quer tenha sidoou não assim, Papias não deixa dúvidas quanto à influência espe-cial de Pedro sobre este “Evangelho Segundo Marcos”. De fato, J ustino Mártir, em meados do segundo século cita o nosso Marcos3.17 como extraído das “Memórias de Pedro”!

No momento em que esta produção conjunta é apreciada, o

Evangelho de Marcos ganha novo interesse. E a história dq Pedro. Os olhos ativos de Pedro, seus ouvidos e mãos, participam de tudo.A narrativa vibra com seu espírito enérgico. Vemos também por-que algumas coisas são /Wcluídas e outras excluídas sobre o pró-prio Pedro.

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Leia de novo os capítulos e veja.O capítulo 1.29 diz: “Foram... diretamente para a casa de Si

mão e André".  Apenas um daqueles toques peculiares a este evan-gelho que mostra a mão de Pedro, o qual sabia que a casa pertencia

também ao irmão e quis registrar cuidadosamente este fato.Mateus e Lucas nos contam que o discurso de J esus no Monte

das Oliveiras foi em resposta a uma indagação feita pelos discípu-los; mas este  evangelho diz: “Pedro, Tiago, J oão e André lhe per-guntaram em particular” (13.3).

No Capítulo 11.21 lemos que foi Pedro  quem notou como afigueira secara depressa.

E notável como certos incidentes que honram a Pedro sãoomitidos deste  evangelho, por um motivo que podemos apreciar,sabendo que se trata do relato de Pedro. Não há menção dele terandado sobre o mar; da bênção pronunciada sobre a sua pessoaquando testemunhou em nome dos Doze: “Tu és o Cristo, o Filhodo Deus vivo”. No relato da ressurreição não encontramos aqui,como em Lucas, “O Senhor ressuscitou e já apareceu a Simão!”  (Lc 24.34). Nada disso, a distinção honrosa é dada a Maria Madale-

na (Mc 16.9).Por outro lado, a negação do Senhor por parte de Pedro é

contada com mais detalhes em Marcos, com a agravante de quenão foi senão quando “o galo cantou pela segunda vez” que Pedroentão “se lembrou” da triste previsão de Jesus. Tanto Mateus co-mo Lucas dizem que Pedro “saiu e chorou amargamente”.  EmMarcos temos apenas: “E, caindo em si, desatou a chorar”,  para

que a referência à amargura de suas lágrimas não parecesse afetação de humildade.Existe, naturalmente, aquele belíssimo toque final encontra-

do apenas em Marcos e que, uma vez caído mas amorosamente res-taurado, Simão deve terse emocionado ao recordar; a saber, a pri-meira mensagem enviada do sepulcro vazio na manhã da ressurrei-ção: “Mas ide, dizei a seus discípulos, e a Pedro, que ele vai adian-te de vós para a Galiléia” (16.7). Essas três pequenas palavras “ea Pedro” devem ter significado para o quebrantado espírito deSimão mais do que tudo que se possa imaginar; mas com profundagratidão ele se assegura de que elas sejam preservadas aqui. Comoacontece com outros toques similares, elas são como uma assina-tura de Pedro na história, desta vez no último parágrafo — uma es-

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pécie de lembrete final de que este segundo evangelho é realmenteo “Evangelho Segundo Marcos —e Pedro”!

Os Primeiros Leitores Cogitados

A questão de quem foram os primeiros leitores a quem sedirigiu este segundo evangelho é de igual interesse. Logo se tornaclaro que o escritor tinha os gentios em mente. Se ele estivesse es-crevendo para judeus, teria usado palavras nesse sentido como nocapítulo 7.3: “pois os fariseus e todos os judeus, observando a tra-dição dos anciãos, não comem sem lavar cuidadosamente as mãos”.

 Teria ele explicado que a “preparação” era “a véspera do sábado”(15.42)? — ou que o Monte das Oliveiras ficava “defronte do tem-plo” (13.3)? — ou que os discípulos de J oão e dos fariseus “esta-vam jejuando” (2.18)?

Desde há longo tempo se afirma que Marcos escreveu seuevangelho em grego, na cidade de Roma, para os gentios cristãosde lá. Este pode muito bem ter sido o caso, embora nossa opi-

nião pessoal seja diferente. Não duvidamos que ele tenha escritoem grego, mas nos inclinamos a pensar que o lugar de onde escre-veu foi a Palestina e não Roma.

De um lado, a narrativa parece supor que os leitores estejamfamiliarizados com as localidades  da Palestina. Não existem expli-cações topográficas como as que encontramos em Lucas e espe-raríamos encontrar em Marcos, caso fosse escrito para os leitoresde Roma.

Assim também, embora os comentários explicativos sobre aspráticas judaicas indiquem que os leitores visados não eram judeus,elas parecem pressupor igualmente um certo grau de familiarida-de com os assuntos deles. Para citar apenas um caso, a diferençaentre as duas festas ligadas de perto, a da Páscoa e dos Pães Asmos, é tida como de conhecimento comum (14.1). Referênciasaqui e ali a outras festas judaicas e ao sábado são feitas sem qual-

quer comentário como seria de se esperar que fossem feitos paraleitores estranhos às questões judaicas.

Havia realmente pessoas como as implícitas neste trecho? —caso positivo, onde  elas se achavam? A resposta é: Sim, e estavamna Palestina. Não pensamos logo em Atos 10, naquele “Pentecos

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te dos Gentios” como alguém o chamou, quando o Espírito Santocaiu sobre a casa de Cornélio, aquele “centurião da corte, chama-da a italiana”, aquele “homem piedoso e temente a Deus com todaa sua casa”? Não havia muitos  gentios romanos desse tipo na Pa-

lestina? Inúmeros deles não se haviam tornado prosélitos da fé judaica — e depois avançado ainda mais, tornandose cristãos?Não existiam então esses muitos que conheciam muito bem aPalestina, que estavam familiarizados com as questões religiosasdos judeus, embora não tivessem um conhecimento mais profun-do das mesmas? Não podemos perfeitamente supor que duranteos anos que se seguiram ao Pentecoste houve inúmeras conver-sões entre os residentes estrangeiros na Palestina, tanto civis comomilitares?

Não havia, então, necessidade de preparar um registro do“ Evangelho” para essas  pessoas — da mesma forma que o de Ma-teus para os judeus e o de Lucas para os gentios? De algum mo-do, esses prosélitos do judaísmo e convertidos ao cristianismo(nãojudeus) na Palestina, parecem situarse entre  os inteiramente

 judeus e os inteiramente gentios; e é justamente nesse ponto que

 J oão Marcos parece estar, pois ao que tudo indica ele descendiade judeus como de romanos. Ele teria interesse predominante na-queles gentios, romanos, prosélitos e cristãos da Palestina e apti-dão para escrever o mais adequado tipo de registro a eles. Isto

 justificaria também as numerosas expressões latinas no evangelhode Marcos.

Mas, mesmo assim, seria  provável   que nosso J oão Marcos,

 judeugentio, escrevesse o seu evangelho na Palestina? Claro quesim. J á vimos a associação íntima entre Marcos e Pedro. Para on-de quer que Pedro tivesse viajado em seus últimos anos, sabemoscom certeza que ele permaneceu na Palestina pelo menos vinteanos depois do Pentecoste. Sabemos também que Marcos ali seachava até que seguiu com Paulo e Barnabé naquela primeira via-gem missionária; que ao abandçnálos em Perge ele “voltou a J e-rusalém”; e que permaneceu aparentemente ali até que seu tio o

levou para Chipre oito anos mais tarde. Assim sendo, durante cer-ca de vinte anos depois do Pentecoste, Marcos residiu na Palestina.

Outra consideração que parece lançar dúvidas sobre a tradi-ção de que Marcos escreveu de Roma ou Babilônia e reproduziu asubstância dos ensinos orais de Pedro, é que a pregação deste ali 

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seria certamente em grego,  enquanto o evangelho de Marcos é ma-nifestamente uma tradução do aramaico.

Indubitavelmente, quando seu evangelho começou a circularmais livremente, os cristãos'romanos, voltando da Palestina para

Roma, levaram suas cópias com eles, o que explicaria como surgiua idéia de que ele o escreveu em Roma. As evidências reais, segun-do cremos, são de que ele escreveu na Palestina para o tipo de pes-soas por nós descritas.

Caso seja assim, quão apropriado é que Marcos seja o “segundo"  evangelho! Existem alguns que julgam ser um sinal de eru-dição colocar Marcos em primeiro lugar, seguido por Mateus. Mas,

não! Mateus deve vir primeiro — “primeiro para o judeu” — sendo o elo evidente do Novo com o Velho Testamento. E Lucas deve sero terceiro — “tamjbém para o gentio” — porque Marcos é o evan-gelho intermediário  para os gentiosjudeus; isto é, os gentios pornascimento e judeus pela fé; e por ter sido especialmente adapta-do para aquele período de transição quando o evangelho estavasaindo da exclusividade judaica, como em Mateus, para uma pers-pectiva racial, como acontece em Lucas. Deixe Marcos onde se

encontra agora, por favor! Seu lugar adequado é entre  Mateus eLucas!

Os Doze Últimos VersículosE quase certo que alguém pergunte: E os doze últimos ver-

sículos deste evangelho? Eles são autênticos — ou falsos? Como

gostaríamos que a pergunta pudesse ser respondida com tanta faci-lidade como é feita! A idéia de Marcos terminar no v. 8, com aspalavras “porque temiam”, num estranho anticlímax e deixandoa cena final da ressurreição patentemente incompleta, é inconce-bível; isso também no que se refere à gramática, i.e. (no grego) aúltima palavra é a pequena conjunção “por”.

A nota in loco  de Scofield diz corretamente: “A passagemdo v. 9 até o final não se encontra nos dois manuscritos mais an-tigos, o Sinaítico e o Vaticano, e outros a contém com omissõese variações parciais. Mas ela é citada por Irineu e Hipólito no se-gundo e terceiro séculos”. Poderia ser acrescentado que o manus-crito Vaticano apresenta um espaço vazio depois do nosso v. 8, in-dicando uma ausência conhecida de alguma parte completiva. Co-

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 TENTE RESPONDER

1. Você pode acrescentar a última palavra à seguinte sentença?— “O Evangelho de Marcos é distintamente o Evangelho do

que J esus...”2. Qual o aspecto especial do Senhor em Marcos? Você pode-

ria mencionar algumas omissões e adições que indicam is-so?

3. Você se lembra de alguns detalhes extras e toques vivos for-necidos por Marcos?

4. Quatro vozes anunciam o Senhor no prefácio de Marcos.

Quais são elas, e que títulos dão ao Senhor?5. Quais as duas partes principais em que se divide o relatode Marcos? Por que o Evangelho de Marcos se enquadra per-feitamente entre o de Mateus e o de Lucas?

6. Você pode resumir o que o Novo Testamento nos revela so-bre Marcos?

7. Cite duas razões fortes porque parece certo que o Evangelhode Marcos leva a marca de Pedro?

8. Que toques ou omissões incidentais sugerem a influência dePedro?

9. Quem, na sua opinião, foram os primeiros leitores cogitadospor Marcos e por que?

10. Onde você acha que Marcos escreveu seu evangelho? Dê asrazões para a sua resposta.

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O EVANGELHO SEGUNDO LUCAS (1) 

Lição N.° 15

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NOTA: Para este estudo leia o Evangelho de Lucas inteiro, pelomenos duas vezes.

A GENEALOGIA DE LUCAS

Muito pode ser dito sobre a genealogia do Senhor apresen-tada por Lucas; mas talvez até esta breve nota possa ser útil pa-ra alguém. A genealogia de Mateus  usa o termo “gerou” em todaa lista até “ J acó gerou a José,  marido de Maria”. A genealogiade Mateus é então claramente a de José  que, além de ser (ape-nas) legalmente o pai do Senhor, era de descendência davídica. Agenealogia de Lucas não emprega “gerou”. Ela começa assim:“E o mesmo J esus começava a ser de quase trinta anos, sendo(como se cuidava) filho de J osé, e J osé filho de Heli; Heli, filho  de

Matã, Matã filho de...” ,etc. J osé não era filho de Heli, mas de J acó(como mostra o “gerou” de Mateus), mas se tornara filho de Heliem outro sentido muito real para os judeus, pelo seu casamento comMaria. Nas genealogias judaicas da antigüidade, quando um elo nacadeia da descendência pertencia a uma mulher, o nome do mari-do era inserido em lugar do dela, e ele se tornava assim mais doque um genro, sendo chamado de “filho de...” Lucas dá sem dú-

vida a linhagem de Maria. Ambos os pais de J esus eram de descen-dência davídica. E interessante notar como a genealogia de Lucasde ambos os lados refuta a teoria popular da evolução. Ele retro-cede diretamente a Adão, mas pára nele, pois o homem não exis-tia antes de Adão. Além disso, as doutrinas do Novo Testamentodependem da unidade da raça nesse homem e a partir dele, paraque tenham qualquer valor. Deste lado  está Cristo — milhões deanos antes de seu tempo, caso seja um produto da evolução! —

pois mesmo que nossa raça progrida por outro bilhão de anos, ela jamais poderia avançar além desse caráter perfeito de dois milanos atrás!

J . S. B.

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O EVANGELHO SEGUNDO LUCAS (1)

Quando estudamos o segundo evangelho, nos descobrimos di-zendo: “Como Marcos é diferente de Mateus!” Ao avançarmosatravés deste terceiro evangelho, não podemos deixar de exclamar:“Como Lucas é diferente dos dois!” Embora os três cubram o mes-mo terreno, em lugar da monotonia da repetição encontramos o

fascínio da variação esclarecedora. Não apenas a individualidadede cada evangelista achase nitidamente estampada em tudo queele nos diz, mas nos tornamos gradualmente cônscios de que “este J esus” focalizado por todos efes está sendo apresentado para nósem diversos ângulos e tons, com uma sutileza peculiar mais do quehumana.

“Eis o Homem”

Em Mateus Ele é o Rei. Em Marcos Ele é o Servo.  Em Lucas,eis o Homem.  Essas diferentes ênfases ou aspectos podem ser exa-gerados, mas dificilmente ignorados, pois se encontram realmenteali. Não queremos de forma alguma sugerir que cada um dos qua-tro escritores dos evangelhos tenha feito seus registros com a in-tenção deliberada de enquadrar o Senhor em qualquer desses qua-tro aspectos que agora caracterizam respectivamente os quatroevangelhos. Nada mais verdadeiro jamais foi dito sobre esses qua-tro escritores do que “terem eles escrito com a simplicidade dehomens cujo desejo é deixar que sua história fale por si mesma

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e que jamais sonharam em deturpála para adequarse ao seu pró-prio ponto de vista”. Além do mais, eles escreveram independen-temente uns dos outros e não poderiam ter tido qualquer idéiasobre o desígnio quádruplo final que seus registros iriam abrangercoletivamente. Parece porém igualmente verdade que cada um de-les tinha uma classe de leitores em vista, selecionando e usandoo seu material de acordo com a mesma; enquanto por trás e aci-ma deles achavase o Espírito Santo, conduzindo sobrenatural-mente suas penas dóceis a fim de completar o padrão divino desua apresentação em quatro partes.

Então, em Mateus Ele é o Rei   de Israel; em Marcos o Servo 

de Deus; em Lucas o Homem  perfeito. Mateus apresenta agrupamentos  significativos. Em Marcos encontramos uma série de instantâneos.  Lucas d o s   oferece uma história  contada de uma muibela forma.

A História Quádrupla de Lucas

“Uma linda história” — é justamente disso que se trata. Re-nan a descreveu como “o livro mais belo jamais escrito”. A penade Lucas é de um cavalheiro e um artista. Uma velha tradiçãoafirma que ele foi pintor. Duvidamos da tradição, mas percebemosque sua arte se'concentra nas palavras: ele era pintor de quadrosescritos, obscurecidos, infelizmente, pela tradução de uma línguapara outra.

Quando exploramos Marcos, consideramos ser melhor não fa-

zer uma análise preliminar. A seguir vimos que as divisões literá-rias eram bem menos importantes do que as cenas vívidas e as rá-pidas transições incluídas para prender a atenção do leitor. De fa-to, foram as interessantes idiossincrasias desse segundo evangelhoque nos levaram eventualmente a uma análise de acordo com otipo e espírito do mesmo.

Como tudo é diferente em Lucas! Basta uma primeira leitu-

ra para notarmos o arranjo claro em partes ou movimentos; e umanova leitura confirma nossa primeira impressão. Vamos pois con-tinuar neste terceiro evangelho, anotando aquelas coisas que nosimpressionarem, marcando suas principais divisões e terminandocom uma análise. Captaremos desta forma o significado e a har-monia da história como um todo.

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A narrativa da natividade  feita por Lucas é naturalmente oprimeiro aspecto que nos detém. Ela não tem paralelo nos outrosevangelhos. Marcos e J oão não dizem absolutamente nada sobre oadvento do Senhor em Belém. Mateus contém o fato, mas embo-ra ele forneça detalhes omitidos por Lucas, não descreve comoeste o nascimento, infância e adolescência; e seu relato tem apenasum quarto do de Lucas.

A seguir Lucas registra o ministério  do Senhor na Galiléia, bem mais curto do que o de Mateus ou Marcos e depois encontra-mos uma nova peculiaridade que não passa despercebida, a saber,a longa crônica da viagem do Senhor para Jerusalém.  Em contras-

te com apenas dois capítulos em Mateus e um em Marcos, ela seestende por dez  capítulos em Lucas, formando assim a parte maislonga da história (9.5114.44). Não pode haver dúvida de quetodos esses capítulos pertencem a essa última viagem. Sete vezeso escritor insere comentários que deixam isso implícito:

“Manifestou no semblante a intrépida resolução de ir para Jerusalém”   (9.51).

“Passava Jesus por cidades e aldeias, ensinando, e caminhan-do para Jerusalém”   (13.22).“De caminho para J erusalém passava J esus” (17.11).“Eis que subimos para J erusalém” (18.31; veja também19.11, 28, 37).Não encontramos nem em Mateus nem em Marcos qualquer

paralelo para esta marcha vagarosa em direção a J erusalém. Ela foichamada de “A Grande Inserção”.

Vemos assim imediatamente que embora os evangelhos deMateus e Marcos sejam ambos divididos em duas partes bem ní-tidas — o ministério na Galiléia e o clímax na J udéia — os registros de Lucas se apresentam em quatro  movimentos indiscutíveis:

1. Natividade, juventude, idade adulta (1.54.13).2. Peregrinações na Galiléia (4.149.50).

3. A viagem para J erusalém (9.5114.44).4.  Tragédia e triunfo finais (19.45cap. 24).

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O Aspecto Característico

Mas tão logo vemos isto, começamos a sentir como tudo seharmoniza com o aspecto  característico de J esus neste terceiroevangelho.

Se perguntarmos por que  Lucas se demora na narrativa danatividade, a resposta já começa a formarse para nós. Lucas seocupa especialmente da natureza humana, da humanidade  de Je-sus, devendo então contarnos mais particularmente sobre o ma-ravilhoso nascimento, infância e juventude. O relato mais brevede Mateus é especialmente feito do ponto de vista de como o nas-

cimento cumpre a profecia, mas o interesse de Lucas se concen-tra de fato na fase da infância e juventude.

 Tanto Mateus pomo Lucas apresentam uma longa genealogia,mostrando a descendência do Senhor, mas Mateus coloca a suabem no início do seu evangelho, enquanto Lucas não a insere se-não depois do batismo no rio J ordão. Por que? Porque a coisamais importante para Mateus é estabelecer a linhagem davídica do

Senhor, enquanto para Lucas é o nascimento humano e o cresci-mento, desde a infância até à perfeita varonilidade.Da mesma forma, Mateus dá sua genealogia através de José, 

que era legalmente, embora não fosse realmente, o pai de J esus;enquanto Lucas faz isso através de  Maria, que foi   realmente amãe de sua humanidade.

A genealogia em Mateus começa com Abraão e remonta a Da-vi, com o propósito de mostrar J esus como o cumprimento da pro-

messa e o herdeiro direto do trono; enquanto Lucas retrocede até Adão,  como se mesmo numa genealogia ele quisesse transcenderqualquer sugestão ou confinamento a uma relação simplesmente

 judaica, e mostrar o relacionamento racial  de J esus — exatamenteonde e como Ele apareceu na história da raça. Lucas poderia  terretrocedido ainda mais, para além  de Adão, como J oão fez. Masele, embora voltasse na história, ultrapassando o rei e o patriarca

de Israel objetos da aliança, se detém no primeiro homem.

Capítulos Fragmentários sobre a GaliléiaSeu interesse especial na humanidade de J esus explica tam-

bém porque a apresentação do ministério do Senhor na Galiléia

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(4:149:50) feita por Lucas é tão mais curta do que a de Mateusou Marcos; e porque, em compensação, ele dá informações tão de-talhadas e longas da viagem cheia de peripécias até J erusalém(9:5114:44). A ordem (ou como querem alguns, a falta de ordem)  dos materiais de Lucas nessas duas seções, quando compa-radas com Mateus e Marcos, tornam os estudiosos perplexose fazem o desespero dos que desejam harmonia nos evangelhos— dos quais não desejamos fazer parte. Nosso terceiro evangelis-ta conseguiu certamente selecionar e reunir seus dados de modoa ressaltar a humanidade do Mestre com encanto sutil endereçadoàqueles leitores gregos ou de mentalidade grega, a quem ele pare-

ce terse especialmente dirigido.Enquanto a ênfase em Mateus se faz sobre o que J esus disse 

e em Marcos sobre o que ele fez,  aqui em Lucas ela focaliza o  próprio Jesus.  Em seu curto registro do ministério na Galiléia,Lucas concede praticamente o mesmo espaço às obras e palavras de J esus, de modo que uma coisa não se sobreponha à outra, eambas igualmente reflitam o HomemMaravilhoso. Veja como co

meça  o ministério prodigioso da mensagem e milagres, com J esusna sinagoga de Nazaré (registrado openas por Lucas), dando ime-diatamente ênfase à humanidade de J esus:

"O Espírito do Senhor está sobre MIM, pelo que M E ungiu  para evangelizar aos pobres... e todos na sinagoga tinham os olhos fitos nELE... Hoje se cumpriu a Escritura que acabais de ouvir. Todos lhe davam testemunho e se maravilhavam das 

 palavras de graça que lhe saíam dos lábios, e perguntavam: Não é este o filho de José?” (Lc 4:18-22).

Veja como no capítulo 5, depois da pesca milagrosa (nova-mente registrada apenas  por Lucas), Pedro repentinamente perce-be a imensa santidade daquele homem maravilhoso e se prostradiante de J esus, clamando: “Senhor, retirate de mim, porque

sou pecador!” (5.8).No capítulo 7 novamente (registrado só  por Lucas), quandoa viúva saía chorando pela porta da cidade para enterrar seu filhoúnico, a simpatia compassiva brota imediatamente no terno cora-ção do Filho de Maria, ao dizer à mulher: “Não chores!” restau-rando à vida seu ente querido.

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Observe, também no capítulo 7 (registrado só  por Lucas),“a mulher pecadora”, percebendo naquela perfeita humanida-de não apenas pureza absoluta, mas compreensão e compaixãohumanas pelas quais seu coração desolado ansiava, banhou os

pés d Ele com suas lágrimas. Todas essas instâncias são peculiares a Lucas e servem paraintroduzir esta ênfase sobre a parte humana, que podemos apenasmencionar aqui, mas que examinaremos em nosso próximo estudo.

Diário da Viagem para JerusalémO mesmo acontece com a extensa narrativa da viagem do Se-

nhor para J erusalém (9:5119:44). Em todos esses capítulos sãomencionados apena^ cinco milagres — em comparação com 21(15 singulares, 6 plurais) nos primeiros capítulos cobrindo o mi-nistério na Galiléia. Não encontramos também um só discursodo tipo estabelecido ou prolongado (a não ser que consideremosassim as parábolas da ovelha perdida, da moeda perdida e do fi-lho pródigo, no capítulo 15). Em lugar disso, existe uma misce-

lânea de declarações e obras memoráveis, respostas graciosas ecensuras diretas, milagres ocasionais e parábolas constrangedoras;tudo porém contribuindo (com  uma beleza talvez insuspeita, aprincípio) para evidenciar, de diferentes ângulos e sob luzes e ati-tudes diversas, a mente e o coração desse Homem incomparável.

Quaisquer que sejam os problemas que venham a ser criadospara os críticos bíblicos pela ordem da narrativa de Lucas, apa-rentemente nãocronológica, uma coisa que imediatamente encan-ta nossos olhos gratos é que nesses dez ou onze capítulos ele reu-niu e nos preservou um tesouro simplesmente inestimável de pro-nunciamentos, parábolas e incidentes não registrados por qualquerdos outros três escritores dos evangelhos. Existem cerca de trintaou mais deles e vamos citálos aqui:

Censurada a ira de João e Tiago 9:51-56

Comparação com o arado para o provável seguidor 9:61-62

Os setenta enviados adiante dEle 10:1-12Volta e relatório dos setenta 10:17-20Parábola do Bom Samaritano 10:25-37  

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Censurada a preocupação de Marta 10:38-42Parábola do amigo importuno 11:5-10Parábola do rico presunçoso e insensato 12:13-21Resposta sobre os assassinados 

 porPilatos 13:1-5 Parábola da figueira estéril 13:6-9Mulher curada de sua enfermidade 13:10-17 Resposta aos fariseus sobre Herodes 13:31-33Cura do hidrópico no sábado 14:1-6Parábola dos convidados e anfitriãos 14:7-14Parábola da grande ceia 14:15-24Comparação: construtor de torre

em potencial 14:28-30Nova comparação: o rei que 

 pretende fazer guerra 14:31-33Parábola tríplice (2) a moeda perdida 15:9-10Parábola tríplice (3) o filho pródigo 15:11-32Parábola do administrador infiel 16:1-15 O rico e L ázaro 16:19-31

Ilustração: o senhor e o servo 17:7-10 A cura dos dez leprosos 17:11-19Resposta relativa ao reino de Deus 17:20-21Parábola do juiz iníqüo 18:1 -8Parábola do fariseu e publicano 18:9-14

 Jericó: conversão de Zaqueu 19:1-10Parábola das minas e dos servos 19:11-27 

O Salvador chora sobre jerusalém 19:41-44

Basta um olhar para essa lista a fim de compreender quantariqueza existe nesses capítulos. A simples menção das parábolasdo bom samaritano, a grande ceia, o filho pródigo, o fariseu e opublicano, sem referirse a outras parábolas, milagres, incidentese pronunciamentos já é suficiente para indicar a preciosidade doconjunto. Não podemos passar sem Mateus. E necessário que te-nhamos Marcos. Mas, com esta cadeia preciosa de registros exclu-sivos diante de nós, será que poderíamos privarnos de Lucas?

Não é só o valor intrínseco dessas parábolas, milagres e in-cidentes, que os torna não importantes para nós, mas a maneiracomo revelam o Senhor. Eles vêm até nós um a um, como holofo-

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tes sucessivos de cores diferentes focalizando um objeto de interes-se supremo. Veremos mais completamente em nosso próximo estu-do como todos focalizam a natureza humana do Senhor; mas mes-mo uma primeira pesquisa já deixa suficientemente interessada a

mente do leitor atento.Sem entrar em detalhes neste ponto, pense nos sentimentoshumanos, simpatia, generosidade, compaixão, que brotam atravésdas parábolas do bom samaritano, do filho pródigo, do fariseu epublicano: a resposta a Tiago e J oão quando queriam pedir queviesse fogo do céu sobre os samaritanos; a censura que silenciouo mesquinho chefe da sinagoga quando a mulher enferma foi cu-rada no sábado: “Cada um de vós não desprende da manjedourano sábado o seu boi ou o seu jumento, para leválo a beber? Porque motivo não se .devia livrar deste cativeiro em dia de sábado es-ta filha de Abraão, a quem Satanás trazia presa há dezoito anos”(13:14, 15)? Como suas palavra a Zaqueu e sobre ele soam sur-preendentemente fraternais e generosas! Quão comovente é asua emoção humana e suas lágrimas “vendo a cidade” ! (19.41).

Para o momento, porém, dissemos o suficiente sobre este

aspecto característico do Senhor no evangelho de Lucas. Demo-ramonos deliberadamente sobre ele como um dos traços distin-tos que nos atraem e voltaremos de novo para ele com grande sa-tisfação. Fizemos, no entanto, até agora, um estudo que nos dáuma idéia geral da história de Lucas, capacitandonos a fazer umaanálise útil.

Disposição das Partes e do ConjuntoParte Um

Como já notado, os registros de Lucas prénatividade e pósnatividade (1:54:13) são mais que uma introdução — eles formama primeira fase de sua história quádrupla. Esses registros cobremum período de trinta anos; pois como Lucas (só ele) nos conta nocapítulo 3:23, J esus tinha cerca de trinta anos quando submeteu

se ao batismo no J ordão. Os dois primeiros capítulos abrangemos doze primeiros anos (veja 2:42). A seguir, depois de um inter-valo de mais dezoito anos, encontramonos no J ordão para pre-senciar o batismo de J esus feito por J oão, e no deserto para teste-munhar a tentação de J esus por Satanás.

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Os capítulos se entrelaçam num padrão interessante. Pode-mos escrever sobre os dois primeiros: “Nos dias de Herodes”.  So-bre os dois seguintes escrevemos: “Trinta anos depois”.  Nos doisprimeiros temos as duas proclamações do anjo Gabriel — a primei

ra para Zacarias, relativa a J oão, e a outra para Maria, falando de J esus (1:538). Vemos depois juntas as duas mães escolhidas•sabei e Maria, e as ouvimos profetizar por inspiração (1:356)!Os dois nascimentos milagrosos são então narrados — o de J oãoe o de Jesus (1:572:52). Os capítulos restantes evidentemente sedividem no ministério de J oão (3:122), a genalogia através deMaria (3:2328), e o ataque por parte de Satanás (4:113). Pode-

mos colocar esses fatos assim:“Nos dias de Herodes” As duas proclamações — através

de Gabriel (T :538)As duas mães escolhidas —

Isabel e Maria (1:3956)Os dois filhosprod ígio —

 J oão e J esus (1:572:52)

Parte DoisDepois da unção e tentação iniciais, o ministério na Galiléia

começa capítulo 4:14, com as palavras: “Então J esus, no poder doEspírito, regressou para a Galiléia, e a sua fama correu por toda acircunvizinhança”. Esta segunda fase da história vai até o capítulo

9:50, depois do que tem início a narrativa mais longa da viagem de J esus para J erusalém.O curto relato do ministério na Galiléia se divide em áo\s it i

nerários  (4:149:17) e cuiminâncias  (9:1850). O primeiro abran-ge as peregrinações do Senhor antes  de escolher os doze apóstolos(4:146:11); a seguir, novos ministérios depois  “dos doze estaremcom Ele” (6:128:56); e então um ministério múltiplo enviando os Doze (9:117).

A confissão  de J esus como “o Cristo de Deus” (9.18) feitapor Pedro marca uma interrupção. Ela foi feita representativamen-te por todos os doze apóstolos e em resposta direta a uma pergun-ta do Senhor, sabendo que precisava encaminharse então para J e-rusalém. Muito dependia do que aqueles doze homens tinham pas-

Trinta anos depois Ministério de J oão: batismo

 J esus (3:122)Genealogia de Maria: linhagem

de J esus(3:2338)Ataque de Satanás: a provação

de J esus (4:113)

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sado a crer sobre Ele até aquele ponto no tempo. Em um aspectovital, o Senhor tinha agora certeza sobre eles, e a partir dessa oca-sião Ele passou a falar — embora isso os entristecesse e os deixasseperplexos — em termos mais claros sobre sua vindoura rejeição e

morte.Essa confissão foi um clímax, do mesmo modo que a transfi

guração  que se seguiu no alto do monte (9:2736). A primeira foio reconhecimento humano de Jesus como o Cristo de Israel. Asegunda foi uma confirmação divina dEle como o Filho de Deus.Essa voz do céu já falara uma vez antes disso, no seu batismo: “Es-te é o meu F ilho amado, em quem me comprazo”, atestando as-

sim a perfeita irrepreensibilidade dos trinta anos precedentes e daidade adulta de J esus. Na transfiguração, essa voz não confirmaapenas a continuação de sua vida perfeita, mas também a infalibi-lidade de suas palavras. Ele não é só o caráter  perfeito, mas o per-feito Mensageiro — “ Este é o meu F ilho, o meu eleito, a Ele ouvi”. Sua perfeita humanidade já se acha preparada para a sociedade ce-lestial; Moisés e Elias “apareceram em glória” sobre o monte paralhe falarem. Sem necessidade alguma de morrer, a sua humanidade

inocente e santa poderia passar imediatamente para a esfera e gló-ria celestiais, como a sua metamorfose na transfiguração mostrourepentinamente. E verdade, a voz falou no seu batismo — no finaldos trinta anos, quando ele iniciou sua missão pública: e ela agoraconcede o endosso divino no final do ministério na Galiléia, quan-do Ele se encaminha para o batismo da paixão em J erusalém.

Depois da transfiguração vem o último milagre público antes

de iniciar realmente a viagem para J erusalém, através da Galiléia,Samaria, Peréia e J udéia. Tratase de uma manifestação conclusivade poder invencível sobre as forças do mal. Até mesmo os discí-pulos haviam sido desafiados e repelidos pela inteligência satâni-ca do jovem possesso pelo demônio (9:3750) e não puderam ex-pulsálo. O pai apela agoniado a J esus: “Mestre, suplicote que ve-

 jas meu filho,  porque é o único”.  J esus disse: “Traze o teu filho”.O endemoninhado foi conduzido até ele; “quando ia se aproxi-mando, o demônio o atirou no chão e o convulsionou”. Os olhosdaquele Filho unigénito do Pai celestial   se encontraram com osdo único filho de um pai terreno-, o  primeiro recémsaído de umatransfiguração sobrenatural pelo Espírito Santo  que nele habita-va, o outro ainda rangendo os dentes e desfigurado por um mau

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espírito! Um olhar! Uma palavra! — e as garras de Satanás seabrem, o demônio foge, o filho é curado! Não nos surpreende que“todos ficaram maravilhados ante a majestade de Deus” (93743). , '

E digno de nota que cada um desses três pontos fazem refe-rência à Cruz. Logo  que Pedro acaba de fazer sua confissão oSenhor diz: “E necessário que o F ilho do homem sofra muitascoisas, seja rejeitado pelos anciãos, pelos principais sacerdotes epelos escribas; seja morto e no terceiro dia ressuscite” (9:22).Quando Moisés e Elias apareceram na transfiguração, eles falaram“de sua partida, que ele estava para cumprir em J erusalém” (9:31).

Depois do livramento do filho endemoninhado lemos: “Como to-dos se maravilhassem de quanto J esus fazia, disse aos seus discí-pulos: “Fixai nos. vossos ouvidos as seguintes palavras: O F ilhodo homem está para ser entregue nas mãos dos homens” (94344). ’

Podemos então estabelecer deste modo esses capítulos sobreo ministério na Galiléia:

Peregrinações ou Itinerários Milagres; pronunciamentos: antes

da escolha dos Doze(4:146:11)

Ensinos; milagres: após a escolhados Doze (6:12 até 8)

Várias atividades:

Enviados os Doze(9:117)

Parte TrêsBem pouco precisa ser acrescentado aqui ao que já dissemos

sobre esta parte mais longa da história de Lucas (9:5119:44) —menos milagres, freqüência de parábolas, etc. Mas um aspecto no-

tável é que as declarações mais memoráveis e praticamente todasas parábolas são respostas.  Faça uma verificação e confirme. OSenhor era mestre na arte da réplica. Quanto podemos aprenderse estudarmos dessa forma as suas respostas!

Esses capítulos também se dividem em duas seções quaseiguais — uma terminando com a  primeira  lamentação do Senhor

CuiminânciasConfissão de Pedro — previs

vista a Cruz(9:1826)

A transfiguração — prevista, a Cruz (9:2736).

Ultimo milagre público —

prevista a Cruz(9:3750).

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sobre J erusalém (13:34, 35) e a outra com sua segunda  lamenta-ção (19:4144).

Além disso, seu prefixo  enigmático a esse primeiro lamento,no final do capítulo 13, indica que a parte mais longa da viagem

 já ficara para trás e J erusalém achavase só a alguns dias de distân-cia — “ Importa, contudo, caminhar hoje, amanhã e depois, por-que não se espera que um profeta morra fora de J erusalém”. Ocapítulo 17:T1 confirma isto, contandonos que Jesus viajava en-tão entre a Galiléia e Samaria; para cruzar o J ordão, entrando naPeréia e atravessálo de novo para a J udeia, em J ericó. Sabemostambém que a bênção das crianças feita pelo Senhor e o inciden-te do jovem rico, que Lucas passa a registrar, aconteceram pouco

antes de entrar em J ericó (compare com Mateus e Marcos). Pode-mos então estabelecer agora a parte três como segue:

 /4s primeiras semanasEnviados missionários: respostas,

parábolas (9:5111:12).Advertência aos fariseus:

censuras, parábolas(11:13 12:12).Reprovada a cobiça: cura da

mulher (12:1313:21).

 J esus se apressa a retirarse:Lamento sobre J erusalém(13:2235)

Os úitimos dias Galiléia: cura do hidrópico.

Declarações (14:117:10)Samaria: cura dos leprosos.

Declarações(17:1118:34). J ericó: cego: Zaqueu.

Declarações(18:3519:27).

 J erusalém: subida: Lamentosobre J erusalém(19:2844).

Parte QuatroEste quarto e último movimento vai do capítulo 19:45 até

o fim do capítulo 23. Ele começa com o Senhor no templo e ter-mina com Ele no túmulo. E dividido em dois: (1) antes da prisão;(2) após a prisão. No primeiro deles (19:4521:4) vemos Jesus em

conflito com os líderes judeus inimigos; depois, no Monte dasOliveiras, com os discípulos, profetizando o futuro; finalmente naUltima Ceia e no Getsêmani. No segundo, vemos J esus diante dosumo sacerdote e do S inédrio; a seguir, perante P ilatos e Herodese depois na Cruz e na sepultura.

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Essa é a história de Lucas — tudo menos o magnífico esplendor do último capítulo sobre a ressurreição e ascensão do Senhor!Podemos então agora reunir as partes e estudar o conjunto numaanálise ampla, mas útil. Vamos fazer isso de modo a harmonizar-

se com a sua forma de história, rotulando cada uma das quatropartes principais com as próprias palavras usadas por Lucas nosestágios sucessivos de sua narrativa.

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EXAMINAI AS ESCRITURAS 

O EVANG ELHO SEGUNDO LUCAS

Prefácio explicativo: 1:1-4.

1. "BOAS N O VAS ” - UM S ALV A D O R (1:5 - 4:13)

N o s d i a s d e H e r o d e s   

As duas anunciaçõespor Gabriel (1:5-38).

As duas mães escolhidas —Isabel e Maria (1 -.39-56)

Os dois filhos - prodígio —João e Jesus (1:57-2:52)

T r i n t a a n o s d e p o is   Ministério de João: batismo

de Jesus (3:1-22).Genealogia através de Maria:

linhagem de Jesus (1:23-38).Ataques de Satanás: a tentação

de Jesus (4:1-13).

2. “ NO ESPIRITO” - G A L IL É IA (4:14-9:50)

Per eg r in ações  Milagres; declarações: antes da

escolha dos Doze (4:14-6:11)Ensinamentos; milagres: depois da

escolha dos Doze (6:12 até 8).Diversas atividades; enviados os

Doze (9:1-17).

Cu l m i nân c i a s   Confissão de Pedro: prevista a

Cruz (9:18-26).Jesus transfigurado: prevista a

Cruz (9:27-36).Cura do jovem endemoninhado:

prevista a Cruz (9:37-50).

3. "MA NIFES TO U NO SEM B LA N TE ” - JER USA LE M (9:51-19:44)

A s p r i m e i r a s se m a n as   Mensageiros enviados: respostas,

parábolas (9:51-11:12).Advertência aos fariseus: censuras,

parábolas (11:13-13:21).Reprovada a cobiça: cura da mulher

(12:13-13:21).Jesus se apressa a retirar-se: Lamento

sobre Jerusalém (13:22-35).

05 úi t i m o s d i as   

Galiléia: cura do hidrópico:declarações (14:1-17:10).

Samaria: cura dos leprosos;declarações (17:11-18:34).

Jericó: cego: Zaqueu;declarações (18:35-19:27).

Jerusalém; subida; Lamentosobre Jerusalém (19:28-44).

4. "ES TE É O H ER D EIR O - M ATA I-O ” (19:45 até 23)

An t e s d a p r i são  Jesus e o sacerdote, o escriba e o

saduceu (19:45-21:4).Jesus prediz o futuro; Discurso das

Oliveiras (21:5-38).

Ultima Páscoa; Getsêmani;traição (22:1-53).

D ep o i s d a p r i são  Jesus diante do sumo sacerdote

e do concíl io (23:54-71). •Jesus diante de Pilatos: Herodes;

escarnecido (23:1-12).

Jesus sentenciado, crucificado,sepultado (23:13-56).

Ressurreição! — Promessa! — Ascensão!

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O EVANGELHO SEGUNDO LUCAS (2) 

Lição N.° 16

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NOTA: Para esta segunda parte de Lucas, leia cuidadosamente denovo todas as parábolas e milagres.

E TEÓFILO?

Lucas endereça seu Evangelho e os Atos ao “excelentíssimoTeófi lo” . Foi dito que este Teófilo (ou “amigo de Deus” ) não erauma pessoa real mas um artifício inventado por Lucas para dirigir-se secretamente a todos os cristãos. Sabemos que na época em queLucas escreveu os judeus mostravam-se abertamente hostis e eleempregou então este criptograma para “desviar a atenção do ini

migo” das pessoas reais que tinha em mente, especialmente Maria,que continuava na zona perigosa. Rejeitamos essa suposição comoirreal e desnecessária. Todas as indicações internas são no sentidode que Lucas não escreveu especialmente para os discípulos na Palestina. Ninguém pode também dizer com certeza quando ou onde o Evangelho de Lucas apareceu pela primeira vez ou se Mariase achava viva ou não. Além do mais, o uso de tais ficções é estranho aos escritores sagrados; de todo mundo, não dedicar a cartaseria melhor do que uma dedicatória fictícia.  Por que Lucas temcuidado em explicar a localização de lugares na Palestina ao escrever a judeus daquela região? — “ Uma cidade da Galiléia, chamadaNazaré” ; “ E desceu a Cafarnaum, cidade da Galiléia” ; “ Arimatéia,cidade dos judeus” ; “ Emaús, distante de Jerusalém sessenta estádios” , etc. E por que será que no momento em que sua narrativachega à Sicília e Itália ele cita os lugares sem dizer nada sobre sua

localização, a não ser que a pessoa a quem escreveu habitasse nessa região? Podemos aceitar a idéia de que Teófilo era uma pessoareal, com um nome bonito embora não incomum, homem de altaposição no mundo romano, e convertido ao Senhor Jesus. Oh, sehouvesse muitos outros assim!

- J. S. B.

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O EVANGELHO SEGUNDO LUCAS (2)

Uma das preliminares mais invejáveis — e das mais necessárias— ao pesquisar um livro das Escrituras é ficar alerta quanto às pis-tas ou chaves. Neste evangelho segundo Lucas elas podem ser logopercebidas mesmo por quem não seja um perito no assunto.

Foi um começo muito humano.  Desde o princípio participa-mos do coração, dos lares e esperanças de pessoas simples, santas,agradáveis — Zacarias e Isabel, J osé e Maria, “vizinhos e primos”,pastores, Simeão, Ana. Ele se demora junto ao berço pouco co-mum, a fim de ver o Menino em suas faixas humildes. EnquantoMateus se ocupa imediatamente da genealogia e Marcos cheio deentusiasmo começa com o ministério  público, Lucas se alonga nanatividade  — o nascimento humano, a infância e juventude da

Criança santa.A medida que prosseguimos para outros capítulos, logo co-

meçamos a sentir que esta atenção marcada pelo lado humano, nãoé só a nossa primeira pista, mas também a chave principal. Existemoutras sugestões e indicações nesses capítulos de abertura, tais co-mo as referências repetidas sobre o Espírito Santo; certas aborda-gens suprajudaicas aos gentios; o surgimento inspirado de louvor

a Deus nos hinos de Zacarias, Maria, os anjos, Simeão; mas a ênfa-se sobre a humanidade é  a chavemestra que abre o Evangelho deLucas; é o “código” que interpreta o significado interior por trásda história exterior.

 Tocamos nesse fato no estudo precedente, mas vamos exami-nálo agora mais de perto. Embora não possamos nos empenhar

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numa pesquisa completa, é possívél observar o suficiente para fi-carmos ainda mais intrigados diante dessa esplêndida humanidade.

A Ênfase sobre o Aspecto

Vejamos os primeiros sinais simultâneos da natureza humanado Senhor encontrados apenas nos registros pré e pósnatral de Lu-cas. Só aqui lemos, “Bendito o fruto do teu ventre”   (1:42). Sóaqui lemos também sobre a "Criança”   (2:12, 16); a circuncisãodo “macho"   (2:23); o “menino”   (2:43). Só aqui lemos que “o

menino cresceu"   e que Ele “crescia em sabedoria  e em estatura”  (2:40, 52); e que na época de seu batismo “tinha J esus cerca detrinta anos”   (3:23).

Lucas, naturalmente, não obscurece a divindade ou a reale-za do MeninoP rodfgio. Gabriel anuncia: “Este será grande e seráchamado F ilho do Altíssimo; Deus, o Senhor, lhe dará o trono deDavi, seu pai” (1:32). Todavia, até isto é acompanhado por uma

insinuação prévia da concepção humana necessária (1:34, 35).Desde o nascimento ao batismo o lado humano é enfatizado. Lu-cas não fala sobre uma estrela anunciando o nascimento de umRei, nem de sábios do Oriente levando ricos presentes ao MeninoRei; nem indagações do rei Herodes; énos relatada somente a an-siedade da futura mãe longe de casa, a dificuldade do primeiroparto num estábulo ou gruta, e a utilização apressada de uma mangedoura para servir de berço. No batismo no rio J ordão, trinta

anos mais tarde, J oão não declara (como em Mateus): “O reino... está próximo!” Em lugar disso, J oão prega “o batismo de arrepen-dimento para remissão de pecados” (3:3).

Passamos agora aos registros de Lucas sobre a idade adulta de J esus. Só ele conta que o ministério na Galiléia começou em Naza-ré. Sentimos imediatamente o toque humano na informação: “Na-zaré, onde fora criado”  (4:16). Somente aqui aparece seu primeiro

discurso na sinagoga, colocando toda a ênfase desde o início sobrea humanidade ungida peio Espírito  (4:18, 19). Unicamente nestelivro vemos manifestadas as emoções de J esus, lamentando sobre acidade (13:34; 19:41); ajoelhando-se  para orar (22:41); sendofortalecido  por um anjo (22:43); sofrendo tão grande agonia queseu suor  era como “gotas de sangue” (22:44); e rendendo o Espí-

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rito na cruz: “Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito"   (23:46).Somente aqui O encontramos confirmando seu corpo ressurretoaos Onze, pedindolhe para “tocálo”; compartilhando do “peixeassado” e do “favo de mel”; e comendo “na presença deles”  

(24:3843) — tudo isso em seu esplêndido entusiasmo de mostrarque continuava humano como eles.

A Tríplice Interação da Ênfase

Contudo, devemos mencionar uma característica singular des-

te terceiro Evangelho; a qual, uma vez observada, acrescentalhenovo fascínio. Através dele todo existe uma INTERAÇÃO TR Í-PLICE desta ênfase sobre a humanidade. (1) Certos traços da hu-manidade do Senhor são apresentados com proeminência nEle mesmo.  (2) Estes, por sua vez, enfatizamse de novo através deseu ensino.  (3) A própria narrativa com que Lucas envolve o Se-nhor acentua a ênfase.

Dependência Humana da OraçãoNo livro inteiro vemos a dependência humana de Deus, ex-

pressandose mediante a oração.  Cada um dos sinóticos registraa oração no Getsêmani, mas além disso o fato do Senhor orarsó é mencionado uma vez em Mateus e duas em Marcos, enquan-to Lucas o relata repetidamente. Só aqui aprendemos que ao des-cer sobre ele o Espírito Santo no J ordão, Ele estava “a orar”  

3:21); que ao afastarse das multidões que o assediavam conti-nuamente, ele “orava”   (5:16); que antes de escolher os Doze,passou sozinho “a noite orando a Deus”   (6:12); que na ocasiãoem que perguntou aos Doze “Quem dizeis que eu  sou?” ele es-tava “orando em particular”   (9:18); que na sua transfiguração

 J esus subira ao monte “com o propósito de orar"   e que a meta-morfose ocorreu “enquanto ele orava”   (9:29); que justamente an-

tes de ensinar a hoje chamada “Oração Dominical” ele se achava“orando em certo lugar”   (11:1); que ele assegurou a Pedro, “ Eu,porém, roguei   por ti, para que a tua fé não desfaleça” (22:32);que no Getsêmani ele “orava mais intensamente” (22:44);  quena cruz tanto o seu primeiro como último pronunciamentos foramorações (23:34, 36).

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Não é possível passar por alto essa ênfase ou a maneira co-mo mostra a dependência humana do Senhor. Veja porém agora co-mo ela reaparece em seus ensinamentos.  Só em Lucas encontramosa parábola do pedido feito à meianoite, “Amigo, emprestame

três pães”, ensinando a insistência  na oração (11:510); a pará-bola do juiz importunado e da viúva, ensinando constância  naoração (18:18); a parábola do fariseu e do publicano orandono templo, ensinando humildade  na oração (18:914); apenasaqui “Vigiai, pois, a todo tempo, orando’’   (21:36); somente aquio segundo “ Levantaivos, e orai,  para que não entreis em tenta-ção” (22:46).

Veja também como até mesmo a narrativa circunjacente acen-tua esta ênfase. Só em Lucas, como é natural, encontramos “Du-rante esse tempo, toda a multidão do povo permanecia da partede fora, orando”   (1:10); as palavras do anjo “Zacarias, não te-mas, porque a tua oração  foi ouvida” (1:13); Ana, servindo aDeus “noite e dia em jejuns e orações” (2:37); só aqui “Por que

 jejuam os discípulos de J oão muitas vezes, e fazem orações”  (5:33); apenas aqui, o pedido, “Senhor, ensinanos a orar” (11:1);só aqui, explicado o objetivo de uma parábola — “o dever deorar sempre  e nunca esmorecer” (18:1); e a estranha circunstân-cia que levou o Senhor a assegurar a Pedro: “Eu, porém, roguei  por ti”. E de surpreender que alguns tenham chamado este evan-gelho de Evangelho da oração? 

Necessidade humana do Espírito Santo

A proeminência dada ao E spírito Santo achase em perfeitasintonia no terceiro evangelho. Ele é citado mais vezes em Lucasdo que em Mateus e Marcos combinados, e até mais do que em J oão. Com delicada reticência, embora com igual clareza, a ativi-dade milagrosa de J esus é enfatizada em relação com a natureza humana  do Senhor e, a seguir, nos seus ensinos e finalmente nocenário incidental da história de Lucas.

 Tanto em Mateus como em Lucas um anjo fala da gravidezsobrenatural de Maria como um fenômeno operado pelo Espíri-to Divino; mas no primeiro evangelho ela é simplesmente declara-da um fato,  sem qualquer referência ao processo; enquanto emLucas existe uma descrição significativa da préconcepção, comdestaque singular dado à atividade do Espírito.

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“Descerá sobre ti o Espírito Santo e o poder do Altíssimo te envolverá com a sua sombra; por isso também o ente santo que de ti há de nascer, será chamado Filho de Deus”  (1:35)

Note bem as palavras: “O ente santo que de ti  há de nascer,será chamado F ilho de Deus”. A humanidade do Senhor foi gera-da inteiramente  da substância daquela virgem pura, e nem sequerparcialmente pela comunicação do E spírito Santo, cuja essênciaé incomunicável. Como diz Pearson, um pouco abruptamente emseu clássico sobre o Credo: o Espírito Santo não era o “Pai” do

Senhor, embora este tenha sido “concebido por Ele”. Maria conti-nuou tão virgem depois de ter gerado o J esus irrepreensível comoantes. A derivação foi inteiramente da mãe humana. O milagrepertenceu inteiramente ao Espírito Santo.

Os quatro evangelhos registram a descida do Espírito sobreesse homem sem pecado quando do batismo do J ordão, mas ape-nas Lucas acrescenta: “J esus, cheio do Espírito Santo,  voltou do J ordão” (4.1). Os três sinóticos contam como o Espírito levouoao deserto para ser tentado por Satanás, mas Lucas é o único quediz: “Então J esus, no poder do Espírito,  regressou” (4:14).

Uma palavra surpreendente em 10:21 é também peculiar aLucas: “Naquela mesma hora se alegrou no E spírito Santo”. Otermo grego significa saltar ou exultar; e a evidência dos manus-critos é que “espírito” (como em algumas versões) deveria serEspírito Santo (conforme a tradução em português). Todas es-

sas referências são um sinal da singular associação do Espírito San-to com essa humanidade sem pecado.

Mais ainda, essa humanidade gerada do Espírito teve necessi-dade do dom  do Espírito Santo para sua vitória e serviço espiri-tual. O Senhor tornouse encarnado para ser um de nós  — paraser como  nós, para nós, conosco,  como o novo Adão, o novo Ho-mem representativo, o novo Campeão da raça, o Desafiante hu-mano do usurpador Apolion. Não haveria vitória moral   se o Fi-lho de Deus encarnado vencesse Satanás pela repentina libertaçãode poder divino. O Senhor foi tentado como homem.  Ele venceucomo homem.  Em todas essas relações seu poder divino esteve sus-penso. Ele venceu em sua humanidade  dependente, piedosa, re-vestida do E spírito! Esta vitória humana dele é tão preciosa e

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crucial para nós individualmente como para a raça como um todo,pois significa que Aquele que se tornou nosso Campeão vitoriosotornouse também nosso Exemplo.  Significa que nossa  própria natureza humana pode ser agora revestida desse mesmo Espírito

Santo para vitória e serviço similares.Veja agora como esta ênfase sobre o Espírito Santo reapa-

rece nas descrições dos ensinamentos  do Senhor em Lucas. Ostrês sinóticos registram o início do ministério na Galiléia, massó Lucas acrescenta o prefixo da declaração inicial do Senhor emNazaré: “O Espírito do Senhor  está sobre mim, pelo que me ungiu para pregar boas novas” (4:18).

Note a diferença característica entre Mateus 7:11 e Lucas11:13. O primeiro diz: “Quanto mais vosso Pai que está nos céusdará boas coisas aos que lhe pedirem?” E Lucas: “Quanto maiso Pai celestial dará o Espírito Santo  àqueles que lhe pedirem?”

Só Lucas registra a alusão surpreendente do Senhor ao Espí-rito Santo como o “dedo de Deus” (11:20); e encerra o seu evan-gelho com a promessa  final de poder pelo Espírito Santo: “Eisque envio sobre vós a promessa de meu Pai; permanecei, pois, na

cidade, até que do alto sejais revestidos de poder” (24:49).Mesmo em separado do Senhor e seus ensinos, a narrativa

de Lucas tem a mesma ênfase. Logo no início, o anjo anunciacom respeito a J oão: “Será cheio do Espírito Santo”   (1:15). Aseguir: “ Isabel ficou possuída do Espírito Santo”   (1:41). De no-vo: “Zacarias, ..., cheio do Espírito Santo,  profetizou” (1:67).Pouco mais tarde: “Havia em J erusalém um homem chamado

Simeão... e o Espírito Santo  estava sobre ele. Revelaralhe o Es pírito Santo  que não passaria pela morte antes de ver o Cristodo Senhor. Movido  pelo Espírito  foi ao templo” (2:2527). Tu-do isto nos prepara para uma ênfase distinta. Logo no começoo Espírito Santo é o “poder do Altíssimo” (1:35) e no final Eleé o “poder do alto” prometido.

 A Universalidade HumanaOutro aspecto ressaltado da humanidade do Senhor, neste

terceiro evangelho, é a sua universalidade. Ela se manifesta repe-tidamente em seus ensinos e persiste através da narrativa de Lu-cas.

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A nota de boavontade irrestrita em relação aos que se achamfora do seio da religião judaica soa bem cedo, nos capítulos danatividade. Os interesses de Israel não são negligenciados (veja1:16, 32, 33, 54, 55, 6874; 2:11), mas enquanto o registro de Ma-

teus é exclusivamente judaico, o de Lucas imediatamente transbor-da para os gentios. Zacarias, repentinamente inspirado, está alu-dindo a uma profecia de Isaías sobre osgentios quando diz: “Nosvisitará o sol nascente das alturas, para alumiar os que jazem nas trevas e na sombra da morte”   (1:79). Quando os anjos ansiososmarcharam pelos céus noturnos, a mensagem foi: “Eis aqui vostrago boa nova de grande alegria, que o será para todo o povo”  

(2:10) — ligando a encarnação humana do Senhor com toda araça.As palavras do idoso Simeão são cuidadosamente preserva-

das: “Agora, Senhor, despedes em paz o teu servo, segundo a tuapalavra; porque os meus olhos já viram a tua salvação, a qual pre-paraste diante de todos os povos;  luz para revelação aos gentios”  (2:2932).

Entretanto, além disso, enquanto os três sinóticos associam

 J oão Batista com Isaías 40:35: “A voz do que clama no deserto”,só Lucas continua: “E toda carne verá a salvação de Deus” (3:6).

Assim sendo, neste terceiro evangelho, uma notável univer-salidade envolve a vinda do Senhor em forma humana. Sendo esteo preâmbulo para a vasta abrangência dos ensinos do Senhor.

Como é diferente a primeira sentença das parábolas do Se-nhor em Lucas daquela de Mateus! Existem 16 parábolas em Ma-

teus (sem contar símiles secundários) e todas menos quatro co-meçam: “O reino dos céus é como”. Em Lucas encontramos 20,e todas menos duas começam: “Certo homem” ou outra senten-ça semelhante.

As parábolas registradas por Lucas são apresentadas nos maisamplos termos humanos. Como soam familiares em sua abrangên-cia humana: “Certo homem  descia de J erusalém para J ericó, eveio a cair em mãos de salteadores”. “O campo de um homem ricoproduziu com abundância”. “Certo homem tinha dois filhos”. Bas-ta comparar o tipo das parábolas preservadas respectivamente porMateus e Lucas, a fim de perceber a universalidade suprajudaicado último. Se o gênio da seleção achase evidente em algum ponto,ele está exatamente aqui.

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 Tomemos por exemplo, aquelas duas parábolas, uma em Ma-teus e a outra em Lucas, que são tão semelhantes que alguns ex-positores supõem tratarse de duas versões da mesma parábola,i.e., a “festa das bodas” reais (Mt 22) e a “grande ceia” (Lc 14).

Lemos em Mateus: “O reino dos céus é semelhante a um rei quecelebrou as bodas de seu filho”, e em Lucas: “Certo homem  deuuma grande ceia e convidou a muitos” — um cenário humano enão real, sem qualquer referência ao “reino”. (Não existe proble-ma de inspiração criado por esta variação entre Mateus e Lucas.O Senhor se movimentava continuamente de lugar para lugar emuitos de seus ensinamentos, parábolas, declarações, seriam repe-tidos por Ele em lugares diversos, com adaptações circunstanciais.Cada escritor do evangelho exerce seleção discriminatória.)

As parábolas que ocorrem em Lucas são suficientes em simesmas para indicar a ampla ênfase humana neste terceiro evange-lho — os dois devedores (7), o bom samaritano (10), a grande ceia(14), a moeda perdida (15), o filho pródigo (15), a viúva importu-na (18), o fariseu e o publicano (18).

A mesma universalidade é encontrada até mesmo na narrati

va circunjacente de Lucas. Em primeiro lugar, seu evangelho é di-rigido a um gentio,  i.e., o “excelentíssimo Teófilo” (1.3). Quandoele dá a genealogia humana do Senhor, precisa afastarse para alémdas simples fronteiras judaicas, remontando a. Adão, o único outrohomem que tivera uma importância completamente racial e quem,com o Senhor, não tinha outro Pai senão Deus.

Lucas é o único a registrar os comentários do Senhor em Na-

zaré sobre a viúva gentia de Sidom, o sírio gentio,  Naamã (4:16-30). Só Lucas acrescenta o interessante detalhe de que o “servo”do centurião gentio era muito “estimado por ele” (7:2, 5). Em seurelato do envio dos Doze pelo Senhor, ele omite  claramente aspalavras preservadas por Mateus: “Não tomeis rumo aos gentios”(Lc 9:16). Só Lucas conta como Tiago e J oão queriam chamar fo-go do céu sobre certos samaritanos pouco hospitaleiros, e como J e-sus reprovouos (9:5156). Apenas Lucas conta sobre os dez le-

prosos que foram curados e que só um deles, um samaritano, vol-tou para agradecer (17:1119). Lucas é o único que preservou pa-ra nós: “e, até que os tempos dos gentios se completem, J erusalémserá pisada por e/es”   (21:24). Todas essas referências destacam aabordagem distinta fortemente humana deste terceiro evangelho.

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 A Pobreza HumanaUma outra especialidade deste evangelho é a proeminência

dada aos pobres.  Ela aparece na forma tríplice usual — primeiroem relação à humanidade do Senhor, depois em seus ensinamentos 

novamente na. narrativa de Lucas.Quem não conhece a história de Lucas sobre o menino pa-ra quem não “havia lugar na hospedaria”; cuja primeira noite naterra foi passada num estábulo, com uma mangedoura por berço(2:7); e cujos pais eram tão pobres que ao apresentálo ao Senhorno templo só puderam oferecer dois pássaros em lugar do cordeiroregulamentar (2:24)?

Desde o início, essa sublime humanidade está associada coma pobreza; e isto por sua vez dá sabor a todos os ensinamentos doSenhor como registrados por Lucas. Tanto Mateus quanto Lucasretêm várias referências aos pobres, que também reaparecem emLucas; mas as que se seguem encontramse somente em Lucas.

Logo no início de seu ministério, J esus anuncia que foi ungi-do para “evangelizar aos pobres” (4:18). A seguir no “Sermãona Planura” (6:1749), que é o paralelo de Lucas ao “Sermão

do Monte” em Mateus, em lugar de “Bemaventurados os humil-des de espírito”, temos simplesmente “ Bemaventurados vós os 

 pobres"-,  em substituição a “Bemaventurados os que têm fomee sede de justiça,” encontramos apenas “ Bemaventurados vós os que agora tendes fome” ]  e em vez de “Bemaventurados os quese lamentam”, temos “Bemaventurados vós os que agora chorais”.  As bemaventuranças preservadas por Lucas se dirigem à

verdadeira pobreza, fome e lágrimas físicas,  aguçandoas em umapungência humana mais acentuada.A seguir, no capítulo 14, vemos J esus dizendo: “Antes, ao

dares um banquete, convida os pobres,  os aleijados,  os coxos e oscegos”   (v. 13). No mesmo capítulo lemos a parábola da “grandeceia”, incluindo a sentença: “Sai depressa para as ruas e becos dacidade e traze para aqui os pobres, os aleijados,  os cegos e os co

 xos” .  (v. 21). Um pouco adiante encontramos a história de Láza-

ro e o rico: “Havia também certo mendigo,  coberto de chagas...e desejava alimentarse das migalhas  que caíam da mesa do rico..Aconteceu morrer o mendigo e ser levado pelos anjos  para o seiode Abraão” (16:1931). Como os pobres devem ter ouvido aten-tamente essa história! Mais adiante ainda, no capítulo 19:8, vemos

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tes com sua réplica: “Por que motivo não se devia livrar deste cati-veiro em dia de sábado esta filha de Abraão, a quem Satanás tra-zia presa?” (13:1017) (No original inglês: “esta mulher,  filha deAbraão”.) Encontramos apenas em Lucas a "mulher   que, tendo

dez dracmas...” (15:8); e só aqui vemos J esus voltandose na ViaDolorosa para dizer: "Filhas de J erusalém, não choreis por mim”(23:28).

A própria narrativa de Lucas completa tudo isto. Só ele nosfala sobre a mãe de J oão, Isabel; e de Ana, a.profetiza (1, 2) octo-genária; de “algumas mulheres”... que lhe prestavam assistênciacom os seus bens” (7); da queixa de Marta e de Maria, sentada aospés de J esus (10); de “uma mulher”   na multidão que exclamou:

“Bemaventurada aquela que te concebeu1.” (11); e de “mulheres,que batiam no peito e o lamentavam” enquanto seguiam J esus nocaminho para a cruz (23).

As mulheres são mencionadas em Lucas mais vezes do que emqualquer dos outros três evangelhos, e as viúvas mais do que nosoutros três juntos. Só aqui encontramos a “viúva” Ana (2); ouvi-mos J esus faiar das “muitas viúvas em Israel” e da mulher de Sa-

repta que era “viúva” (4). Só aqui lemos sobre a “viúva” enlutadade Naim (7) e apenas aqui aprendemos sobre a “viúva” insistenteque não dava sossego ao juiz (18).

Note a afinidade com os sentimentos paternais.  Os três sinó-ticos relatam a cura da filha de J airo, mas só Lucas registra o fatodela ser “filha única” (8:42). Os três registram a cura do jovemendemoninhado depois da transfiguração do Senhor, mas só emLucas lemos “meu filho... porque é o único” (9:38). Quando Lu-cas nos mostra a viúva de Naim chorando enquanto acompanhavao enterro, ele explica que o morto era seu “filho único”   (7:12).

Este e outros indícios neste terceiro evangelho mostram empatia para com as tristezas e sofrimentos de outros seres humanos.Observe o interesse puramente humano nos detalhes pessoais.  Aprofetisa Ana era viúva de “oitenta e quatro  anos” e vivera comseu marido "sete  anos desde que se casara”. J esus tinha “doze 

anos” quando seus pais O levaram para a Páscoa em J erusalém; ecerca de "trinta  anos” quando foi batizado por J oão no rio J or-dão. A filha de J airo tinha cerca de "doze  anos de idade”. A mu-lher enferma andava encurvada "havia já dezoito anos”.  Todosesses toques são peculiares a Lucas e sublinham as simpatias extrahumanas que diferenciam o seu evangelho.

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Observe finalmente sua compaixão pelos desprezados.  Nesteponto a ênfase característica tornase inconfundível. Só aqui Jesusé a Criança para quem “não havia lugar  na estalagem”; e o jovemProfeta “expulso” de Nazaré (4:29). Nosso Senhor sem pecado,

“desprezado e rejeitado”, veio a conhecer os sentimentos dos pros-critos. Só neste terceiro evangelho temos aquele rejeitado social,o publicano,  de pé “longe” no templo, batendo no peito e dizen-do: “O Deus, sê propício a mim, pecador” e descendo para suacasa “justificado” e não o vaidoso fariseu (18). Só aqui vemos publicanos procurando J oão para serem batizados (3:12) e aceitan-do a palavra de Deus (7:29) e “aproximandose” de J esus (15:1).Aqui apenas temos a “mulher da cidade, pecadora”  cujo profun-do arrependimento provocou absolvição graciosa (7). Só aqui le-mos: “Este (homem) recebe  pecadores”   (15:2). A parábola dofilho pródigo só se acha aqui (15.1132) e também somente aquiencontramos, no Calvário, o “malfeitor” arrependido a quem J e-sus disse: “Em verdade te digo que hoje estarás comigo no paraí-so” (23:43). Sim, este é realmente o evangelho para os rejeitados.

Essas singularidades cumulativas no terceiro evangelho são

tais que certamente apenas os mais obtusos não notarão a ênfasecaracterística que une todas elas, a saber, a humanidade, a simpa-tia e a compaixão generosas desse Homem perfeito que simboli-za o ideal tornado realidade.

E tudo é feito com um propósito imenso, vital — a nossa salvação.  De modo especial, entre os quatro evangelhos, este é aque-le que faz soar os sinos da salvação pela graça mediante a fé. Só emLucas, entre os sinóticos, encontramos a palavra “Salvador” (1:47;2:11). Só aqui vemos a palavra “salvação” (seis vezes, 1:69, 71,77; 2:30; 3:6; 19:9); também aqui deparamos com a belíssima pa-lavra euaggelizõ  (participar boas novas: dez vezes: 1:19; 2:10;3:18; 4:18, 43; 7:22; 8:1; 9:6; 16:16; 20:1) que ocorre somenteuma vez nos outros evangelhos. Só em Lucas achamos “A tua fé tesalvou” (7:50; 8:48). Dos três, só Lucas usa a palavra “graça” (oitovezes: 1:30; 2:40, 52; 4:22; 6:32, 33, 34; 17:9); e aqui, pela pri-

meira vez no Novo Testamento, lemos a palavra “redenção” (1:68;2:38; 24:21). Logo no início o anjo mensageiro anuncia: “Para todoo povo... o Salvador!”   (2:11). Bem no final, o Salvador ressurreto

ordena que “em seu nome se pregasse arrependimento para re-missão de pecados, a todas as nações”   (24:47). Esse Salvador é

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nosso parente, “osso de nossos ossos e carne de nossa carne” ,em todas as coisas “ semelhante a seus irmãos” ; em todos os pontos “ tentado como nós o somos” ; vencendo através do EspíritoSanto; orando até mesmo na cruz, “ Pai, perdoa-lhes” ; deixando-

nos o exemplo perfeito para toda vida humana.Que as crianças levantem os olhos para Ele; Ele é o padrãode nossa infância de submissão respeitosa aos pais e reverente entusiasmo pelas coisas do Pai celestial. Que as mulheres, as viúvas,os pobres, os necessitados, os pecadores, os desprezados O contemplem, o Salvador cujo coração bate compassivo. Que todos os cristãos observem de novo esse Homem de oração  e aprendam queos “ homens devem sempre orar, sem esmorecer” . Que todos nós

levantemos os olhos, e com freqüência, para observar esse magnífico Jesus do terceiro evangelho. Possamos nós aprender a liçãode sua simpatia, gentileza, compaixão, sendo “ bondosos uns comos outros; compassivos; perdoando-nos uns aos outros” , assim como nós, através d Ele, fomos perdoados!

Humanidade magnificente, Padrão perfeito,

Vive novamente a Tua vida através da minha!

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Observe finalmente sua compaixão pelos desprezados,  Nesteponto a ênfase característica tornase inconfundível. Só aqui J esusé a Criança para quem “não havia lugar  na estalagem”; e o jovemProfeta “expulso” de Nazaré (4:29). Nosso Senhor sem pecado,

“desprezado e rejeitado”, veio a conhecer os sentimentos dos pros-critos. Só neste terceiro evangelho temos aquele rejeitado social,o publicano,  de pé “longe” no templo, batendo no peito e dizen-do: “O Deus, sê propício a mim, pecador” e descendo para suacasa “justificado” e não o vaidoso fariseu (18). Só aqui vemos publicanos procurando J oão para serem batizados (3:12) e aceitan-do a palavra de Deus (7:29) e “aproximandose” de J esus (15:1).

Aqui apenas temos a “mulher da cidade, pecadora"  cujo profun-do arrependimento provocou absolvição graciosa (7). Só aqui le-mos: “Este (homem) recebe  pecadores”   (15:2). A parábola dofilho pródigo só se acha aqui (15.1132) e também somente aquiencontramos, no Calvário, o “malfeitor” arrependido a quem J e-sus disse: “Em verdade te digo que hoje estarás comigo no paraí-so” (23:43). Sim, este é realmente o evangelho para os rejeitados.

Essas singularidades cumulativas no terceiro evangelho sãotais que certamente apenas os mais obtusos não notarão a ênfasecaracterística que une todas elas, a saber, a humanidade, a simpa-tia e a compaixão generosas desse Homem perfeito que simboli-za o ideal tornado realidade.

E tudo é feito com um propósito imenso, vital — a nossa salvação.  De modo especial, entre os quatro evangelhos, este é aque-le que faz soar os sinos da salvação pela graça mediante a fé. Só em

Lucas, entre os sinóticos, encontramos a palavra “Salvador” (1:47;2:11). Só aqui vemos a palavra “salvação” (seis vezes, 1:69, 71,77; 2:30; 3:6; 19:9); também aqui deparamos com a belíssima pa-lavra euaggeíizõ  (participar boas novas: dez vezes: 1:19; 2:10;3:18; 4:18, 43; 7:22; 8:1; 9:6; 16:16; 20:1) que ocorre somenteuma vez nos outros evangelhos. Só em Lucas achamos “A tua fé tesalvou” (7:50; 8:48). Dos três, só Lucas usa a palavra “graça” (oito

vezes: 1:30; 2:40, 52; 4:22; 6:32, 33, 34; 17:9); e aqui, pela pri-meira vez no Novo Testamento, lemos a palavra “redenção”(1:68;2:38; 24:21). Logo no início o anjo mensageiro anuncia: “Para todoo povo... o Salvador!”   (2:11). Bem no final, o Salvador ressurreto

ordena que “em seu nome se pregasse arrependimento para re-missão de pecados, a todas as nações”   (24:47). Esse Salvador é

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nosso parente, “osso de nossos ossos e carne de nossa carne” ,em todas as coisas “semelhante a seus irmãos” ; em todos os pontos “ tentado como nós o somos” ; vencendo através do EspíritoSanto; orando até mesmo na cruz, “ Pai, perdoa-lhes” ; deixando-nos o exemplo perfeito para toda vida humana.

Que as crianças levantem os olhos para Ele; Ele é o padrãode nossa infância de submissão respeitosa aos pais e reverente entusiasmo pelas coisas do Pai celestial. Que as mulheres, as viúvas,os pobres, os necessitados, os pecadores, os desprezados O contemplem, o Salvador cujo coração bate compassivo. Que todos os cristãos observem de novo esse Homem de oração  e aprendam que

os “ homens devem sempre orar, sem esmorecer” . Que todos nóslevantemos os olhos, e com freqüência, para observar esse magnífico Jesus do terceiro evangelho. Possamos nós aprender a liçãode sua simpatia, gentileza, compaixão, sendo “ bondosos uns comos outros; compassivos; perdoando-nos uns aos outros” , assim como nós, através dEle, fomos perdoados!

Humanidade magnificente, Padrão perfeito,Vive novamente a Tua vida através da minha!

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O EVANGELHO SEGUNDO LUCAS (3) 

Lição NP 17

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NOTA: Para esta consideração final de Lucas, consulte primeirouma concordância a fim de examinar cada referência doNovo Testamento sobre Lucas; a seguir leia em espíritode oração novamente a partir do capítulo 19:45 até o

fim do capítulo da ressurreição.

OS SETE “ PONTOS ALTO S” 

Sete eventos de suprema transcendência ocorreram na vidaterrena do Senhor, a saber: (1) Seu nascimento, (2) Seu batismo,(3) Sua tentação, (4) Sua transfiguração, (5) Sua crucificação,(6) Sua ressurreição, (7) Sua ascensão. Gostaríamos de ter-nos

demorado mais nos mesmos no decorrer destes estudos, mas os limites que nos impusemos impediram que o fizéssemos.

J. S. B.

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O EVANGELHO SEGUNDO LUCAS (3)

Quanto mais nos aprofundamos neste “ Evangelho SegundoLucas”, mais agradavelmente embaraçados nos tornamos pelos aspectos interessantes que nos convidam a prosseguir em nossas

pesquisas. E difícil proporcionar uma impressão satisfatória domesmo em três seções curtas como estas.Vimos como ele é distintamente o Evangelho da. humanida

de  do Senhor, o evangelho da oração, do Espírito Santo, de universalidade graciosa e simpatias humanas abrangentes; o evangelhoda boa-vontade especial para com os pobres e necessitados, as mulheres e viúvas, os samaritanos e gentios, os pródigos e os desprezados. Esses ângulos e tendências de Lucas não devem ser muito

enfatizados, pois todos têm algum paralelo através de correspondência nos outros escritos dos evangelhos. Nenhum devem também ser minimizado; pois juntos formam o mosaico tênue de umpropósito divino que se manifesta através da penas divinamenteorientadas desses quatro escritores. Nenhum dos quatro possuimonopólio sobre qualquer   aspecto, todavia cada um deles imortaliza supremamente um  dos aspectos; o de Lucas é a. humanida

de irrepreensível, perfeita, graciosa e gloriosa do Senhor.Nesta última parte do terceiro evangelho falaremos primeirodo próprio Lucas e depois, para encerrar, voltaremos ao tema central do seu evangelho, a saber, a humanidade do Senhor.

Lucas — O Homem

Este terceiro evangelho e os Atos dos Apóstolos são ambos dirigidos à mesma pessoa — “ Teófilo" (Lc 1:3; At 1:1). Os dois livrosforam também escritos pelo mesmo autor; pois o “ primeiro tratado” mencionado em Atos 1:1 não pode ser outro senão nossoEvangelho segundo Lucas. O fato de Lucas ter sido o escritor de

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ambos é agora praticamente a opinião unânime dos eruditos, comotem sido também a firme tradição desde Irineu no segundo século

A.D.Todavia, embora devamos a Lucas a primeira história escrita

da igreja primitiva, desde o seu inicio até sua implantação atravésdo mundo romano, sabemos muito menos sobre ele do que sobrequalquer outro escritor do Novo Testamento. Ele não se refere a simesmo em ponto algum do seu evangelho, nem mesmo em Atos,exceto onde os plurais “ nós” e “ conosco” o incluem anonimamente no grupo de companheiros de viagem de Paulo.

Com pan h e i ro de Viagem 

Sabemos então em primeiro lugar que ele era um com panhe i- 

r o d e v iagem de Pau io .  A mudança de “eles” para “ nós” em Atos16:10 parece indicar que se reuniu ao grupo em Trôade, onde Paulo viu numa visão noturna um “varão macedônio’’ chamando-ospara a Europa. Desde essa ocasião Lucas passou a ser o colaborador fiel de Paulo. Ele permaneceu com Paulo durante as aventuras

em Filipos e talvez outros lugares “ para o ocidente” (embora a volta ao uso de “eles” em lugar de “ nós” , até 20:5, possa indicar queLucas ficou em Filipos). Seis anos mais tarde ele deixa Filipos comPaulo (At 20:6) e daí por diante o acompanha sem interrupções.Lucas está com Paulo em Jerusalém quando a multidão fanáticadecide linchá-lo e durante os dois anos de prisão em Cesaréia(24:27 com 27:1); durante a viagem perigosa e o naufrágio a ca

minho de Roma (27:1-28:16); através de sua permanência na prisão e os julgamentos diante de Nero; com ele, aparentemente, atéa hora do martírio (Cl 4:14; 2 Tm 4:11; Fm 24).

O Méd ico 

Também nos é dito que ele er a m éd ico . Na saudação final daEpístola aos Colossenses (escrita de Roma), Paulo se refere a elecomo tal (4:14). A lenda de que era também pintor data apenasdo século quatorze, sendo pelo menos duvidosa, tendo provavelmente origem em referências retóricas ao seu dom de escritor como pintor de quadros literários cheios de vida. Quando se reuniuao grupo itinerante de Paulo, ele teria de abandonar a prática da

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medicina, embora seja possível que em lugares onde permaneces-sem longo tempo (principalmente Filipos), ele voltasse temporaria-mente a clinicar. Mais tarde, porém, parece ter subordinado tudopara assistir Paulo como médico particular, companheiro e colabo-

rador, apesar de terse provavelmente dedicado à prática geral damedicina durante a prolongada permanência em Roma.

 Amado por PauloDeduzimos novamente que ele era muito querido por Paulo. 

A saudação fraternal citada acima diz: “Saúdavos Lucas, o médi-co amado, e também Demas,” indicando assim os sentimentos dePaulo. Quão valoroso alguém como Lucas deve ter sido para Pau-lo! Talvez a união dos dois tenhase fortalecido porque além deserem companheiros na fé, ambos eram indivíduos cultos, supe-riores a muitos num sentido literário. O tratamento médico pro-porcionado por Lucas a Paulo naturalmente ap/ofundaria aindamais a apreciação e consideração deste por ele. E digno de nota ofato da associação em Trôade coincidir com uma doença oftál-

mica aparentemente crônica (compare “região frígiogálata” emAtos 16:6, com “nos” em 16:10 é Gl 4:1315). Parece igualmenteque a natureza dos dois homens combinava. Eles foram compara-dos a Lutero e Meianchton na época da Reforma — Lutero, o es-pírito inquieto, o grande ator, o defensor público, admirado porsua valentia e proezas sem iguais; Meianchton, um espírito reserva-do, fora de vista, escrevendo os seus “chavões,” o primeiro “Cor-

po de Doutrina” produzido pela Igreja da Reforma. Temos neces-sidades de Paulos e de Lucas e eles, geralmente, entendemse bem,pois não há muita possibilidade de invasão do campo alheio porparte de companheiros cujas especialidades são tão diversas. Semos Paulos haveria pouco a ser escrito. Sem os Lucas pouco seriapreservado.

 A Fidelidade de LucasLucas não era somente apreciado por Paulo; fica igualmente

claro que era muito leal a Paulo.  Pelo que sabemos, a Segunda Car-ta a Timóteo foi a última a ser escrita por Paulo antes do martírio.Nela ele diz: “Procura vir ter comigo depressa. Porque Demas, ten

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do amado o presente século, me abandonou e se foi paraTessalônica; Crescente foi para a Galácia, T ito para a Dalmácia. Somente Lucas está comigo”   (4:911). Quanta emoção nessas duas últimaspalavras! Quanto Lucas lhe é caro agora! O julgamento final dian-

te de Nero está próximo. Como uma espada de Dâmocles a senten-ça: “Morrer ou não morrer?” está suspensa sobre o pescoço dePaulo. Durante seus últimos dias em Roma ele sofreu pressões edesânimo.Companheiros professos o abandonaram.Paulo escreve:“Na minha primeira defesa ninguém foi a meu favor; antes, todosme abandonaram” (4:16). Excompanheiros de viagem e colabo-radores foram necessários em outros lugares. Demas cedera à atra-ção do mundo e desertara. Mas "Lucas está comigo”.  Com isso re-

flete a coragem de Lucas na hora de decepção e perigo! Com quan-ta eloqüência prova sua profunda afeição pelo grande apóstolo que

 jaz ali em sua cela solitária, algemado e esquecido!

Muito EstimadoAo que parece, também entre aqueles primeiros cristãos, em

geral, Lucas era bastante conhecido e amado.  Releia Colossenses4:14: “Lucas, o médico amado.” As palavras não indicam apenasa estima calorosa de Paulo, mas o que era sentido em relação a Lu-cas num amplo círculo. Como a maioria concorda, em 2 Coríntios8:18 a referência é a Lucas: “O irmão cujo louvor no evangelho es-tá espalhado por todas as igrejas” (embora não concordemos coma tradução sugerida: “cujo Evangelho é  motivo de louvor atravésde todas as igrejas”, i.e., o evangelho escrito por Lucas). Vejatambém o v. 19. Em várias ocasiões e lugares, Lucas provavelmentetratara profissionalmente, com competência e bondade, de váriossantos.

Um GentioE possível, ainda, inferir que Lucas era gentio.  Isto foi posto

em dúvida, mas em nossa opinião as seguintes informações bastampara estabelecer esse fato. Nas frases de despedida em Colossenses4:1014, ele é distinguido de Aristarco, Marcos e J usto, que eram

 judeus (5:11), sendo associado com Epafras e Demas, que não oeram. Seu nome, Loukas,  é grego. Tanto o seu evangelho como os

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Atos começam com uma introdução no estilo grego e romano — osúnicos livros do Novo Testamento que fazem isso. Seu conheci-mento da língua grega e o toque de finura clássica em sua introdu-ção, assim como o fato da pessoa a quem o livro foi dirigido, Teó

filo, ser um gentio, tudo aponta para a mesma direção.

Lucas Antes da ConversãoNão parece ser possível determinar se Lucas era um proséli

to  do judaísmo antes de sua conversão a Cristo ou se viera direta-mente do paganismo. Em minha opinião, seu conhecimento e re-gistro de assuntos judeus sugerem uma familiaridade anterior àconversão. E também possível que, da mesma forma que T imó-teo, ele tivesse um pai gentio e mãe judia. Dizer que era um dos“setenta” enviados pelo Senhor (Lc 10), ou o companheiro deCleópas no caminho de Emaús (24), simplesmente porque só eledos quatro escritores dos evangelhos menciona esses incidentes,não passa de fantasia sem base. De fato, isso é contradito pelopróprio Lucas, que na sua introdução distingue claramente sua

pessoa dos que foram “testemunhas oculares".

 A Tradição de AntioquiaA tradição conta que antes de sua conversão ele era prosé-

lito da fé judaica e nascera em Antioquia. Os eruditos nos adver-tem, porém, que não devemos confundir Lucas com o Lúcio de

Cirene mencionado como estando em Antioquia em Atos 13.1,ou o Lúcio em Romanos 16.21, porque o nome de Lucas em gre-go é Loukas,  enquanto Lúcio é Loukios; mas em 1912 Sir WilliamRamsay encontrou uma inscrição no muro de um velho templona P isídia, em que os dois nomes são intercambiáveis. Continua-mos achando que Lucas não  deve ser confundido com Lúcio deCirene (embora, singularmente, Cirene fosse famosa por sua es-cola de medicina!); julgamos entretanto que o Lúcio de Atos 13.1

e o de Romanos 16.21 são  a mesma pessoa — um judeu africanoconvertido, a quem Paulo chama claramente de seu “parente”, i.e.,um judeu.

Esse  Lúcio foi provavelmente convertido ao visitar J erusalémdurante o Pentecoste em que o Espírito Santo foi derramado sobre

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os apóstolos (entre os ouvintes de Pedro são mencionados cirineus:Atos 2:10), e se achava entre aqueles cirineus que, quando os pri-meiros cristãos foram “dispersos, por causa da tribulação que so-breveio a Estêvão”, viajaram para Antioquia (11:19) e pregaram

aos gregos  de lá. Talvez estejamos tocando aqui numa daquelascoincidências ocultas das Escrituras, que são tão fascinantes quan-to esquivas, pois não é improvável que nosso médico gentio Lucas estivesse em Antioquia justamente nessa ocasião, e possa ter sidoentão convertido. Segundo o manuscrito Codex Bezae  e certasautoridades latinas, Lucas usa a primeira pessoa do plural em11:28, o que significaria que se encontrava então realmente emAntioquia. Eusébio e J erônimo (quarto século) falam dele comopertencendo a Antioquia. Outros o associam a Alexandria, Filipose Trôade. Ninguém pode afirmar com certeza, mas somos de opi-nião que a tradição de Antioquia é a mais provável.

Não julgamos que Lucas tenha sido convertido por Paulo. Oapóstolo jamais o chama de “filho” como faz com Timóteo e T i-to. Não hâ dúvidas porém de que foi grandemente influenciadopor Paulo — havendo claros indícios neste sentido em seu escrito.

Devemos muito a Lucas — como aconteceu com Paulo. E prová-vel que ele tenha salvo o apóstolo de várias doenças graves, tendoprolongado e aliviado seus dias. Algumas das cartas de Paulo tal-vez jamais fossem escritas sem Lucas. Ele não foi apenas o primei-ro historiador religioso, tomando notas durante suas viagens e“escrevendoas” durante as duas prisões de Paulo (como supo-mos), mas foi num sentido muito real o primeiro “médicomissio

nário”.

Lucas — O Escritor E interessante notar como o que Lucas era  transparece no

que escreveu.Era médico? — veja então os indícios disto em seu evangelho.

O primeiro texto do Senhor é: “Envioume a curar"  (4:18). E tam-

bém aqui que encontramos: "Médico, cura-te a ti mesmo”  (4:23).Só aqui lemos: “E o poder do Senhor estava com ele para curar”  (v. 17). Há mais menções de “cura” em Lucas do que em Mateuse Marcos juntos. Os diagnósticos também indicam com freqüên-cia a pena de um médico. A sogra de Pedro estava com “muita fe-

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bre” (os médicos costumavam diferenciar as febres entre “altas” e“baixas”); o leproso estava “cheio de lepra” (5:12); o paralíticofora “tomado de paralisia” — termo técnico em grego “sofria deparalisia” (v. 18); o servo do centurião “estava doente, e. moribun

do"   (7:2); a mulher enferma “andava curvada, e não podia de mo-do algum endireitar-se”   (13:11) — e assim por diante.

Era Lucas um gentio? Veja como isso  se evidencia no tercei-ro evangelho. Não precisamos repisar terreno já coberto, pois nãovimos que este é peculiarmente o evangelho de boas novas aos gen-tios?

Era ele um companheiro de Paulo? Indiscutivelmente tam-

bém essa idéia deixa as suas marcas. Talvez seja por isso que se for-mou a tradição de que ele não passava de pouco mais do que umamanuense de Paulo. Seu prefácio basta para esmagar essa tradi-ção, pois ele nos conta ser o compilador independente, baseadoem evidências de primeiramão obtidas de “testemunhas oculares”.Não obstante, a influência de Paulo é discernível. Veja a institui-ção da Ceia do Senhor: pode qualquer leitor cuidadoso deixar deobservar as correspondências praticamente verbais entre o relatode Lucas e o de Paulo? Pense um pouco sobre essas ênfases evan-gélicas características no evangelho de Lucas — J esus como Salva-dor; a universalidade suprajudaica; o livre perdão dos pecadospara os crentes e arrependidos; a justificação nãomerecida atépara o publicano que se arrependeu e buscou a Deus; a pessoae obra do Espírito Santo; a glorificação de Deus em alegria san-ta, louvor e serviço; as epístolas de Paulo não se caracterizam

igualmente por esses tópicos? Todos esses pontos se prestam a uma pesquisa mais profun-

da; mas no que se refere ao presente estudo, esta deverá ser a nos-sa última palavra.

O Grande Tema

Ao encerrar, voltamos à ênfase controladora e unificadoradeste terceiro evangelho, a saber a subiime humanidade do Senhor. Como essa humanidade  fala àqueles dentre nós que são cristãos— que desejariam de bom grado servir como Ele  serviu e vencercomo Ele  venceu! Pensamos em Lucas como um grego falando a

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outro grego. Os gregos eram um povo de pensamentos idealistas.Seus filósofos e moralistas tinham seu ideal teórico de perfeita hu-manidade. Lucas apresenta Jesus em toda a simples pureza, esplên-dida naturalidade, profunda beleza e sublimidade moral de sua hu-

manidade irrepreensível deixando ver como Ele não só transcende asmais elevadas concepções da cultura grega, mas também traduz oideal em realidade concreta. Para os cristãos, porém, J esus significaalgo ainda mais próximo do que isso: Ele é nosso exemplo perfei-to. Sua humanidade é nosso padrão.  Somos chamados para vivercomo  Ele. Vamos, pois, seguilo outra vez no decorrer dessas pá-ginas preciosas do evangelho de Lucas e gravar o melhor que pu-

dermos como essa humanidadepadrão nos fala.

Parte Um: Sua Perfeita HumanidadeReleia a parte um de novo (1:54:13). Aqui, logo no início,

Lucas nos mostra a perfeição de tríplice aspecto desse Homemmaravilhoso. Primeiro ele nos apresenta o aspecto físico, i.e., onascimento (1:262:20). Depois sobre a infância e desenvolvimen-

to mental   (2:4052). A seguir, o batismo no J ordão e a voz do céuque confirmou sua perfeição moral e espiritual  quando tinha trin-ta anos: “Tu és o meu Filho amado, em ti me comprazo” (3:21,22). No início, temos então essa tríplice perfeição — física, mentale espiritual — da humanidade real e completa do Senhor.

Esse Homem perfeito achase agora pronto para o propósitoe serviço especiais que deve cumprir? Nós certamente responde-

ríamos “S im”. Mas não, mais alguma coisa é necessária (e lembrese o tempo todo que estamos olhando para J esus como simboli-zando algo que tem em nós sua contraparte). Essa perfeição hu-mana de três faces pode ser chamada de a perfeição natural  de Je-sus. Era um prérequisito indispensável; mas até mesmo essa huma-nidade natural e perfeita exigia uma unção espiritual  específica. Éeste o impressionante significado do acontecimento no J ordão,quando os céus se abriram e o Espírito Santo desceu em forma

visível, como de pomba, sobre o J esus aprovado e santificado.Então, esse Homem perfeito está agora  pronto? Nós repe-

tiríamos “S im”. Mas não, além da unção com o Espírito é pre-ciso que haja a tentação por Satanás. O quê? Tentação? Sim o Sersantificado e Ungido deve ser testado, experimentado, provado.

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Marque bem a maneira como Lucas fala sobre isso, mostrando co-mo a tentação de J esus não significou que tenha perdido a pleni-tude do Espírito, mas que esta se achava sob o seu controle espe-cial: “J esus, cheio do E spírito Santo, voltou do J ordão, e foi guia-

do pelo mesmo Espírito, no deserto, durante quarenta dias, sen-do tentado pelo diabo” (4:1). Pode ser diferente conosco? Nenhu-ma grande bênção espiritual pode vir sobre nós, da parte de Deus,sem que depois sobrevenha o teste inevitável. De ato, quase inva-riavelmente após uma grande bênção surge uma grande tentação.E neste ponto que muitos crentes "perdem a bênção”; eles ficamatônitos e entram em colapso com o choque. Eles imaginam quedepois de tal bênção ficarão isentos de tentação ou que esta teráperdido a sua força. Experimentam assim reações espirituais desanimadoras. Precisamos porém temer tais tentações? Não. Essa éa oportunidade do Espírito Santo mostrar o que Ele pode ser pa-ra nós. Inclinamonos a esquecer que enquanto J esus estava sen-do tentado Ele continuava “cheio do Espírito Santo” e que aalegria da vitória deve ter sido quase tão gloriosa como o próprioato de receber o Espírito, através do qual a vitória foi alcançada.

A tentação foi tríplice e dirigida sucessivamente contra as trêspartes de sua humanidade: a física, a espiritual e mental; mas atotalidade do assalto só enfatizou a integralidade da vitória. Istonão fala a nós também, caso tenhamos “ouvidos para ouvir” ?

Parte Dois: O Ministério na GaiUéia

Observe agora a parte dois (4:149:50). Veja como começa:“Então J esus, no poder do Espírito, regressou para a Galiléia”. Ah,veremos a seguir uma resposta imediata, alegria, sucesso! Eis aquio Servo de Deus santificado, cheio do Espírito, vitorioso. Comoo milho maduro curvandose diante do vento, as almas de seus ou-vintes irão curvarse diante de suas palavras. Mas, é com isso quedeparamos? Não, justamente o oposto. “Todos na sinagoga, ou-vindo estas coisas, se encheram de ira. E levantandose, expulsa-ramno da cidade e o levaram até ao cume do monte sobre o qualestava edificada, para de lá o precipitarem abaixo” (4:28, 29).

Pense nisso: a primeira experiência do Ministro cheio do Es-pírito, uma rejeição mortal! Pense: em todo o percurso, oposiçãopelos religiosos!  e no final, uma cruz! Pense: eles não puderam

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resistir à sua sabedoria, mas resistiram ao seu testemunho.  Todavia,embora rejeitassem o seu amor e resistissem à sua palavra, não pu-deram destruir a sua aiegria  nem a sua influência; pois a sua cruztornouse o seu trono e de sua sepultura Ele trouxe “à luz a vida

e a imortalidade, mediante o evangelho”. Seus crucificadores es-tão mortos, mas J esus vive em milhares de corações para sempre.

Essas coisas não pesam sobre você e sobre mim como prová-veis servos de Jesus? Através de todo o evangelho de Lucas este J e-sus maravilhoso fala conosco simplesmente por ter sido o que foi  em sua sublime humanidade e ministério. Por exemplo, vemos co-mo Ele sentiu necessidade de comunhão no serviço, tendo escolhi-

do então os Doze, para que pudessem continuar “com ele” (8:1);também a sua compreensão de que deveria haver pelo menos algu-ma organização,  daí ter treinado, capacitado e enviado os Doze“dois a dois”. Mas a partir deste ponto temos de deixar nossosleitores “seguirem os seus passos” por si mesmos. Só queremosacrescentar que a Transfiguração se torna mais significativa porter ocorrido justamente antes do Senhor iniciar sua longa peregri-nação para J erusalém. Logo no começo de seu ministério a voz do

céu tinha confirmado a perfeição do seu caráter.  Agora, ao encer-rarse o ministério da Galiléia, a voz confirma a perfeição do seuministério:  “Este é o meu Filho, o meu eleito: a ele ouvi." 

Realmente, devemos observar seus caminhos e ouvir suas pa-lavras.

Parte Três: A Viagem para Jerusalém r Recapitulemos agora a parte três (9:5114:44). É assim quecomeça: “E aconteceu que, ao se completarem os dias em que de-via ele ser assunto ao céu, manifestou no semblante a intrépida re-solução de ir  para Jerusalém''.  No início de seu ministério Ele jáera perfeito, mas o instrumento perfeito foi agora aperfeiçoado através da provação e do serviço. Isso ainda não basta? Não. Aque-le que é perfeito em Si mesmo e aperfeiçoado no serviço, deve ser

também aperfeiçoado “através do sofrimento"!  Isso não fala tam-bém a você e a mim? Não sugere que talvez a maior contribuiçãoque podemos dar a Deus e ao homem não é apenas um serviço di-ligente, mas sacrifício? No presente esquema de coisas, a maior co-munhão com Deus parece ser sempre desse modo. O sacrifício não

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é uma alternativa para o serviço, mas a forma mais elevada deste.Volte seus olhos e ouvidos para Jesus, enquanto Ele viaja para Jerusalém. Mesmo em separado dos milagres surpreendentes e dasparábolas inesquecíveis, sua conversa e comportamento inciden

tais são eloqüentes. Leia de novo o capítulo: enquanto viaja Eleé continuamente obrigado a corrigir as idéias erradas de outros;censurando a hipocrisia e abrandando o preconceito; controlando a excitação e acalmando a impaciência; suportando coisas epessoas muito abaixo do nível de sua própria vida; corrigindo combrandura e instruindo com bondade: mas jamais mostrando-se Elemesmo impaciente ou transtornado. Veja a sua franqueza e va

lentia nas repreensões, quando necessário. Observe como não visita apenas as “ cidades” mas também as “aldeias” — pois toda almana mais simples moradia é preciosa para Ele, como se fora a deum rei. Veja como repetidamente Ele supera a presunção nacionale a barreira racial. Jesus é sempre pouco convencional (como semostrou com Zaqueu), mas nunca hipócrita. Ele é tão puro, tãosimples, tão franco, tão natural, que sua própria naturalidade parece  falsa para os pecadores perversos e religiosos hipócritas que

O rodeiam. O pecado nos endureceu tanto e os artifícios sociaistiraram de tal modo a nossa naturalidade, que com freqüênciaaquilo que é realmente natural parece agora artificial.  Isso acontece ainda mais hoje do que então.

Mais do que nunca precisamos voltar a essas descrições deJesus naquela estrada para Jerusalém, feitas por Lucas! Faça companhia ao Mestre no caminho. Suas palavras são sabedoria. Seu

olhar é amor. Seu passo é seguro. Cada um deles o faz aproximar-se mais da dor, da vergonha, do sofrimento, da tragédia, mas Elecontinua firme. Não conhece o medo. Quando insistem com Ele: “ Retira-te, e vai-te daqui, porque Herodes quer matar-te” (Lc13:31), Ele nem se demora nem se apressa. As coisas estão emmãos mais poderosas que as de Herodes. E tão humilde que nadagode humilhá-lo. Tem tanto amor que nada pode amedrontá-lo.E tão simples que nada pode enganá-lo. O que provoca em nós 

tanto medo? São três as causas: orgulho, falta de amor e motivosocultos. Onde não há orgulho não pode haver medo de humilhação. Onde existe amor verdadeiro não pode haver medo da força. Onde existe sinceridade pura não pode haver medo de ser exposto.

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Mas Aquele que não sentia qualquer temor, tinha lágrimas ardentes, pois se encontrava num mundo de orgulho, ódio e motivosocultos. Podemos vê-lo chorando duas vezes sobre a cidade (13:34, 35; 19:41-44). Ele também sentia ira, embora não tivesse

 “mau gênio” . Quando chegou à cidade, seu primeiro ato foi purificar o templo — não as ruas ou as casas ou salas do conselho,mas o templo; pois sabia (o que os líderes de hoje têm tanta dificuldade em perceber) que qualquer nação onde haja erro nesselocal, não pode estar certa em ponto algum. O Jesus dessa longa

 jornada para Jerusalém em tempos idos, descrito por Lucas, irárecompensar plenamente uma contemplação demorada e cuidadosa! Estaria Ele indo em direção à dor e à tragédia? Sim, e “manifestou no semblante a intrépida resolução” de seguir para lá. Elesabia também que a verdade, a justiça e o amor de Deus semprealcançam a vitória no final. Ele sabia que para além da tragédia estava o triunfo, que além da agonia e da cruz se achavam o trono ea coroa, que além da sepultura estava a glória, e uma multidãoincontável de remidos louvando diante do trono celestial! Istoespelha poderosamente o que é verdadeiro com respeito aos que

seguem fielmente as pegadas de suas sandálias.

Parte Quatro: O Sacrifício do CalvárioAcrescentamos aqui apenas uma outra palavra breve e reve

rente sobre a parte quatro (19:45 cap. 23). Veja esse Homemexemplar em meio às obras profundas e terríveis que culminaramno Calvário: a conspiração assassina contra Ele por parte dos homens religiosos com  Satanás; o veneno da serpente no  beijo dotraidor; a retirada dos apóstolos em pânico; a negação e a blasfêmia de Pedro; a hipocrisia demoníaca do Sinédrio; a zombariasarcástica de Herodes e a covardia rastejante de Pilatos; o Get-sêmani, com os prenúncios da mais medonha tempestade que

 já caiu sobre a alma de alguém; o Calvário, onde as comportas

das águas amargas foram totalmente abertas em sua direção e osvagalhões de angústia indescritível o envolveram, assim como ohorror e a mais profunda escuridão. Quais são agora as suas reações? Entre as primeiras, a súbita intensidade da tempestade quedesaba sobre Ele no Getsêmani, vemos o completo abandono à

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vontade de Deus: “Contudo, não se faça a minha vontade, e, sim, a tua”.  Quando seus algozes enterram os pregos cortantesem suas mios e pés e o levantam, pregado ali em vergonha e tortura públicas, sua primeira palavra foi: “ Pai, perdoa-lhes porque

não sabem o que fazem” . Oh, essa vida! Essa morte! Homem Maravilhoso da Galiléia e do Calvário! Padrão perfeito! Exemplo quecondena e atrai! Sempre nos chamando; sempre diante de nós ealém de nós; mas sempre conosco,  pois Ele ressuscitou; e sempredentro de nós,  pois voltou na pessoa do Espírito Santo para habitar em nós, a fim de compartilhar sua vitória conosco e nos capacitar a seguir pela senda brilhante de seu belíssimo exemplo!

VOCÊ PODE RESPONDER?

1. Qual o aspecto especial do Senhor no Evangelho de Lucas?2. Quais as quatro partes principais da história de Lucas? (Não

é necessário dar as subdivisões.)3. Você pode citar oito parábolas e três milagres que só Lucas

registra?4. Onde ocorrem os seguintes fatos: (1) Envio dos Setenta,

(3) Conversão de Zaqueu, (3) O homem rico e Lázaro?5. De que forma a transfiguração representou um clímax?6. Dê referências que indiquem a universalidade da perspecti

va neste terceiro evangelho.7. Quais os indícios que encontramos nele de que Lucas era

médico e gentio?8. Existe uma ênfase tríplice na história de Lucas. Você podeexemplificar isto em sua menção repetida da palavra oração? 

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O EVANGELHO SEGUNDO JOÃO (1) 

Lição NP 18

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NOTA: Para esta primeira parte de João deve haver certamenteuma familiaridade com o livro em seu todo, e recomendamos que seja lido inteiro de uma só vez (facilmente em duashoras) duas ou três vezes.

NOTA BENE!

Esse brilhante estudioso do grego do Novo Testamento, o falecido Dr. A. T. Robertson, chama o Evangelho Segundo Joãode “o mais belo de todos os livros”. Nós também nos sentimos assim em relação a ele e diríamos isso com igual segurança se nãoestivéssemos ainda sob o encanto poderoso de Mateus, Marcos eLucas. De alguma forma, cada um dos quatro é “o maior de todos” quando passamos a conhecê-los melhor. Com certeza jamaisfoi escrita qualquer coisa mais  bela do que este evangelho de

João e justamente por essa razão temos o sombrio pressentimento de que as três breves lições seguintes irão parecer desesperadamente inadequadas. Todavia, apesar de sua brevidade, elas podempelo menos fornecer uma chave para abrir seus amplos tesourosespirituais. Esta nota bene, entretanto, é inserida como uma preocupação. Embora estejamos tão ansiosos por conhecer as riquezasespirituais do livro quanto qualquer aluno deste curso bíblico, dedicamos nossa primeira  parte ao estudo da relação de João comos sinóticos, a fim de obter uma visão consecutiva completa  doministério público do Senhor. Esperamos que isto não pareçatedioso a qualquer leitor, pois tem muito maior valor práticodo que parece a princípio, sendo de grande importância paraaqueles que desejam um conhecimento racional dos quatro evangelhos. Esperamos que as referências paralelas sejam cuidadosamente examinadas, pois valerá a pena ocupar-se com elas.

- J . S . B.

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O EVANGELHO SEGUNDO JOÃO (1)

Um volume inteiro poderia ser escrito com os louvores que oseruditos e santos expressaram sobre este “Evangelho Segundo J oão”. Existe em qualquer parte uma combinação mais singularde infinita profundidade e simplicidade verbal? J á houve um as-sunto mais sublime e mais habilmente interpretado?

Mas a sua preciosidade ímpar está naturalmente em suas re-velações divinas e valores espirituais. Sobre os seus portais brilhaa inscrição: “Ninguém jamais viu a Deus: o Deus unigénito, queestá no seio do Pai, é quem o revelou” (J o 1:18). A forma do ver-bo em grego, traduzida como “revelou” é exegesato, da qual vema nossa palavra “exegese”. Significa que no J esus visível o Deusinvisível é revelado.  “DEUS”, o conceito incompreensível, é expli-

cado objetivamente diante de nós. O próprio coração do Eterno é“revelado”, pois o Filho unigénito vem do "seio do Pai”.

“Para que Creiais”

O motivo  de J oão também brilha como uma tocha ao longode todo o seu evangelho e encontra expressão final ao terminar:“Para que creais que J esus é o Cristo, o F ilho de Deus, e para quecrendo, tenhais vida em seu nome” (20:31). Os três sinóticos sim-plesmente estabelecem os fatos e deixam que causem sua própriaimpressão sobre o leitor. Mas J oão não age assim: tudo é regular-mente selecionado e orientado para obtenção de um veredito. Ele

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não se ocupa só dos fatos, mas támbém dos assuntos.  Existe nistoprevisão sobrenatural dos planos novamente? Depois de ter estu-dado Mateus, Marcos, Lucas e J oão, a maior de todas as decisõesdeve ser tomada. Ela pode ter sido feita antes de chegar a J oão;

mas, caso contrário, não pode ser mais evitada. O leitor é direta-mente desafiado e deve fazer a sua escolha — receber e ser salvo,ou rejeitar e perecer para sempre.

Uma Necessidade Completiva

A semelhança trina dos outros três evangelhos acentua adiferença deste quarto. Enquanto o lemos, passamos logo a per-ceber seus diferentes pontos de vista e atmosfera. Muitos leito-res talvez não saibam explicar com facilidade como ou por que es-ta diferença se encontra nele, mas ela existe; compreender seu sig-nificado é de máxima importância para nós neste trio de estudosexploratórios.

Este quarto evangelho é uma necessidade  completiva. Não

sentimos isto ao chegar ao final dos três primeiros? Neles acom-panhamos a J esus, aprendendo a respeito do que Ele disse, fez esentiu. Ficamos admirados com aqueles sete eventos principais,seu nascimento sobrenatural, batismo, tentação, transfiguração,crucificação, ressurreição e ascensão. Nos sentimos impelidos aunir nossos ansiosos corações com a confissão de Pedro: “Tu éso Cristo, o F ilho do Deus vivo”. Mas mesmo assim, aprendemoso que 

Ele era e nãoquem 

era. Suas palavras, obras e atitudes noslevaram a identificálo de alguma forma como o DeusHomem,mas justamente essa confissão nos deixa à beira de um completomistério. Sabemos o que  ele é: tanto Deus quanto Homem; masexiste então dualidade ou pluralidade em Deus? Agora que sabe-mos o que  J esus é; oh, seria tão bom se alguém explicasse quem Ele é!

O evangelho de J oão completa os demais justamente nesse

ponto. Os três primeiros são uma apresentação de Jesus; este quar-to é uma interpretação.  Os outros três nos mostram J esus exte-riormente; este quarto o interpreta interiormente. Os outros trêsenfatizam os aspectos humanos; este quarto revela o divino.  Osoutros três correspondem respectivamente ao leão, ao boi e ao

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consciência dessas grandes omissõés e quer que saibamos disso (20:30). Não se trata de pontos negligenciados; eles são deliberadamen-te postos de lado para concentrarse nos significados do que sele-cionou (20:31).

A maior parte do que J oão registrou foi omitida pelos outrostrês. Além disso, ele lança um raio de luz sobre eles. Por exemplo,quando os sinóticos relatam que o Senhor disse “Segueme” a Pe-dro e André, Tiago e J oão, até parece que Ele não os havia encon-trado antes, o que torna o fato de abandonarem imediatamenteseus afazeres para seguilo tão surpreendente a ponto de parecerartificial; mas neste quarto evangelho descobrimos que eles não só

 já haviam encontrado J esus antes, nas reuniões de J oão Batista aolongo do sinuoso vale do J ordão, mas o haviam acompanhado tan-to na J udéia como na Galiléia (1:40, 42, 43, 47). Antes dElecomeçar sua pregação na Galiléia, havia ali um grupo chamado de“seus discípulos” (2:2, 11), que certamente incluía André, Pedro,

 Tiago, J oão e outros daqueles que mais tarde vieram a constituiro Apostolado. O “Segueme” junto ao mar, registrado pelos sinóti-cos foi feito mais tarde, sendo um chamado para o serviço de tem

 po integrai  com Ele.Ao ler os outros três evangelhos talvez tenhamos novamente

nos perguntado como tão grande fama e vastas multidões pode-riam ter surgido no momento em que J esus “começou a pregar”na Galiléia (Mt 4:17). Mas aqui, em J oão, vemos que antes de tercomeçado ali, Ele operara milagres em J erusalém (2:23), que setornaram notícia na Galiléia. Veja o capítulo 4:45: “Assim, quan-

do chegou à Galiléia, os galiieus o receberam porque viram todas ascoisas que ele fizera em J erusalém, por ocasião da festa, à qual elestambém tinham comparecido”. Houve outrossim a transformaçãoda água em vinho em Caná da Galiléia, onde Ele “manifestou asua glória e os seus discípulos creram nele” (2:11). Sabemos comcerteza que tudo isso aconteceu antes do Senhor começar a sua pre-gação na Galiléia, porque “J oão (Batista ainda não tinha sido en-carcerado” (3:24) — e não foi senão depois da prisão de J oão que

 J esus começou seu ministério na Galiléia (Mt 4:12).Além disso, uma observação cuidadosa das datas e lugares re-

gistrados por J oão corrige certos malentendidos quanto aos mo-vimentos do Senhor. Não só aprendemos agora que depois do seubatismo o Senhor ficou seis meses ou mais em J erusalém e na J u

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déia, indo e voltando dali para a Galiléia, antes que seu principalministério na Galiléia tivesse início, mas descobrimos também quehouve outra interrupção entre o fim deste ministério e sua entradatriunfal em J erusalém. Se tivéssemos apenas os sinóticos, facilmen-

te suporíamos que a entrada triunfal coroou sem interrupção aviagem da Galiléia para J erusalém. De fato, com esta informaçãoadicional de J oão diante de nós, o sensato é justapor imediata-mente os sinóticos e este quarto evangelho de modo a asseguraruma “construção” correta dos principais movimentos públicos doSenhor. Que os novos alunos não pensem que essa tentativa decorelação entre J oão e os sinóticos é desnecessária ou tediosa. Tra-tase do meio de obtermos uma visão plena e exata do ministériopúblico do Senhor ou observar o impacto total de sua oferta à na-ção.

Os quatro fazem do batismo no J ordão o ponto de partidada atuação pública. Sabemos também que a missão na Galiléia,sobre a qual os sinóticos se concentram, não começou até que J oão Batista fosse preso (Mt 4:12, 17; Mc 1:14). Vamos tentar,então, coordenar  J oão e os sinóticos.

(1) O Início do Ministério na J udéia

O lugar exato em que o batismo se realizou não é conhecido,mas nõo  foi na Galiléia, pois Mateus diz que J oão apareceu pregan-do “no deserto da Judéia"   (Mt 3.1), i.e., o território despovoadoa leste da J udéia, nas proximidades do J ordão mas não se esten-

dendo até a Galiléia. J oão sem dúvida se movimentava para cimae para baixo no vale do J ordão. Nós o encontramos mais tardenuma certa “Betânia, doutro lado do J ordão” (J o 1:28), e aindamais tarde em Enon, dentro das fronteiras de Samaria (J o 3:23).Se  ele chegou a viajar J ordão acima até o Mar da Galiléia, nuncaavançou para o norte além desse ponto. Mas, de qualquer formasabemos que o Senhor não foi batizado na Galiléia, pois Mateus3:13 diz claramente: “Por esse tempo, dirigiuse J esus da Galiléia

para o J ordão, a fim de que J oão o batizasse” Os sinóticos nos in-formam que imediatamente  após o seu batismo o Senhor foi sub-metido à sua solitária tentação, que ocorreu igualmente no “de-serto” da J udéia, e que após  a tentação Ele voltou  à Galiléia (Mt4:1, 12; Mc 1:12, 14; Lc4:1, 14).

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O quarto  evangelho não narra o batismo ou a tentação. Mui-tos que lêem o primeiro capítulo de J oão supõem erradamenteque as palavras do precursor nos versículos 15, 26, 32, 33 foramditas por ocasião  do batismo do Senhor. Mas não, esses versículossão um registro do que J oão disse mais tarde  a um grupo de J eru-salém que foi interrogálo (v. 19, 24). Essa é a razão de ele usar opassado do verbo em cada caso: “Este é o de quem eu disse” (v.15); “ Vi  o Espírito descer... e pòusar sobre ele” (v. 32); “ Eu não oconhecia"   (v. 33).

Examine outra vez o capítulo 1. Quando J oão Batista diz:“No meio de vós está quem vós não conheceis” (v. 26), ele faladesse modo porque J esus já havia estado entre aquelas multidões

e fora batizado cerca de 40 dias antes. Quando lemos o v. 29: “Nodia seguinte, viu J oão a J esus que vinha para ele, e disse: Eis oCordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo!”, devemos com-preender que J esus havia agora voltado depois de s ~’ j s   40 dias detentação no deserto. E quando J oão continua: “Vi o Espíritodescer... e pousar sobre ele” (v. 32), está descrevendo em retros-pecto o que testemunhara cerca de 40 dias antes. Sabemos istoporque o parágrafo seguinte.nos conta que “no dia seguinte”, An-dré e outro “ficaram” com J esus; e o v. 43 acrescenta que de no-vo “no dia imediato”, J esus partiu para a Galiléia, onde chamouFilipe. O capítulo 2 nos diz que “três dias depois” disto ele seachava num casamento em Caná. Essas atividades não podiam tertido lugar entre  o batismo do Senhor e sua tentação, pois, comoafirmam os sinóticos, a tentação deuse “ imediatamente” depoisdele. Essas atividades narradas no primeiro capítulo de J oão de-

vem ter sido portanto subseqüentes à tentação; o que significa, na-turalmente, que o testemunho de J oão quanto à descida do Espí-rito Santo sobre J esus foi dado em retrospecto, mais de 40 diasdepois, quando J esus voltou da tentação.

Logo após as bodas em Caná, J esus se acha em J erusalémpara a Páscoa — sua primeira visita ali depois do batismo. Ele ageagora publicamente como Alguém consciente de sua vocação pro-fética e com ira santa irresistível expulsa os comerciantes que pro-fanavam o templo (2:1322). Ele também faz sinais milagrosos pa-ra confirmar sua autoridade divina (2325). J esus é procurado porNicodemos e a conversa deixa implícito que o Senhor já devia terensinado antes sobre o “reino de Deus” (3:3, 5), o que deve tercausado profunda impressão sobre os ouvintes.

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Sabemos que tudo isto precedeu o ministério na Galiléia por-que (a repetição serve de ênfase) o capítulo 3:24, diz agora que“J oão (Batista) ainda não tinha sido encarcerado”.

O capítulo 4 nos diz então que J esus voltou novamente à

Galiléia. (Dizemos “voltou” porque continuava morando lá, ain-da em Nazaré, pois não se mudou para Cafarnaum senão depoisde J oão ser preso: Mt 4:13.) No caminho de volta à Galiléia, “eralhe necessário atravessar a província de Samaria” (v. 4), onde tra-vou a memorável conversa com a mulher de Sicar, junto ao poçode J acó (vs. 642). Mais tarde ele realiza seu segundo milagre emCaná, i.e., a cura do filho do oficial do rei (vs. 4354).

O capítulo 5 relata uma nova excursão a J erusalém para uma“festa dos judeus” e a cura de um paralítico no tanque de Betesda,seguida de um poderoso discurso em resposta aos judeus que que-riam agora fanaticamente matálo por ter curado o paralítico nosábado e também por “fazerse igual a Deus”.

 Todas essas coisas nesses cinco primeiros capítulos são pecu-liares ao evangelho de J oão e todas precedem as pregações na Ga-liléia. Que período de tempo abrangem?  Os versículos 2:12; 3:22;

4:13 são reveladores. Quando descobrimos que “depois foi J esuscom seus discípulos para a terra (para distingüir da capital) da J u-déia; ali  permaneceu  com eles, e batizava” (3:22), inferimos queum intervalo de semanas, ou até meses, é indicado; o que fica con-firmado por outro comentário em 4:1: “J esus, fazia e batizavamais discípulos que João” .  Isto deve ter levado tempo.

O fato de o Senhor estar realizando um ministério de prega-

ção nessa época é indicado no último testemunho de J oão Batis-ta (3:32, 34). Sendo mal recebido na capital, Ele voltou ao povomenos preconceituoso do interior. Devemos pensar em ensinopúblico contínuo; movimento de lugar para lugar; em J esus repe-tindo o chamado de J oão Batista ao arrependimento como a preli-minar para o “reino” ; e multidões cada vez maiores sendo influen-ciadas. Sabemos com que rapidez as multidões se reuniam numaocasião como essa e em tal lugar; pois J oão Batista não só infor-

mara seu próprio público que J esus era o Messias ansiosamenteesperado, mas J esus também já realizara milagres estupendos em J erusalém (2:23; 3:2); todavia, mesmo assim, devemos concedersemanas e talvez até alguns meses, para este primeiro ministériopúblico na J udéia antes que o ministério na Galiléia tivesse início.

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Se pelo menos soubéssemos com certeza qual a “festa” de que setrata no capítulo 5:1, poderíamos fixar facilmente a data; mas,qual era a “festa” ?

(2) O Ministério na Galiléia

 Todo o contexto, até o final do capítulo 5, pertence então aoperíodo (cerca de cinco meses?) que precedeu o ministério na Gali-léia. Mas agora, entre  o fim do capítulo 5 e o 10:22, ocorrem to-dos os incidentes na Galiléia como registrados pelos sinóticos, em-bora omitidos por J oão; exceto a alimentação dos cinco mil e oandar por sobre as águas (6). Sabemos disto por três razões: (1)O uso que o Senhor faz do tempo passado ao referirse a J oão Ba-tista, no v. 35, indica que J oão a essa altura já se achava preso(cujo evento precipitou o início do ministério na Galiléia: veja Mt4:12) O capítulo 6.1 nos diz que o Senhor voltou então à Galiléia.(3) J oão registra agora a alimentação dos cinco mil, o que aconte-ceu naturalmente na Galiléia e próximo do final das peregrinações

nessa região. Este milagre, seguido pelo andar do Senhor sobre aságuas é a única menção da viagem à Galiléia feita por J oão e eleevidentemente a destaca em vista de sua tremenda importância,

 juntamente com o discurso que provocou sobre o “Pão da Vida”.Como confirmação disto, é bom notar que no capítulo 5:16-

18, ligado ao capítulo 7:1, temos a razão  pela qual J esus deixoua J udeia nessa conjuntura, começando seu ministério na Galiléia.

Este é talvez o ponto certo para marcarmos em nossa Bíblia,como segue. Voltando ao capítulo quatro de Mateus, poderia serútil inserir entre os versos 11 e 12: “OS CINCO PRIMEIROS CA-P ÍTULOS DE J OÃO SE ENCAIXAM AQ UI”. (Fazer o mesmo en-tre Lucas 4:13 e 14.) Do mesmo modo em J oão, devemos escreverentre os capítulos 5 a 6: “A MAIOR PARTE DO MINISTÉRIONA GALILÉIA ENCAIXASE A PARTIR DAQUI ATÉ 7:1”. Aseguir, em J oão 10, escreva entre os versículos 21 e 22: “ INTER-

RUPÇÃO DE TRÊS MESES NESTE PONTO. J ESUS VOLT A ÀG ALILÉ IA, QUE, FINALME NTE, DE IXA DE ACORDO COMMATEUS 19:1 e MARCOS 10:1”.

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Podemos Ter Certeza? No momento em que chegamos a este ponto algum aluno irá

certamente indagar: “Você tem plena certeza de que J esus voltouà Galiléia depois de 10:21, e que sua safda final da Galiléia deuse

logo após, conforme Mateus 19:1 e Marcos 10:1? Não há outrosque sugerem pontos de partida diferentes? A Bfblia Scofield nãodiz: “P AR TIDA F INAL DA G A L IL É IA ” no verso dez do capi-tulo sete7.”   Vamos ver então qual a informação que podemos ex-trair de J oão.

No v. 10 do capftulo 7 ele diz que Jesus foi a J erusalém “emoculto”, enquanto Mateus 19:1; Marcos 10:1; Lucas 9:51; 10:1;etc. nos dizem que sua “partida final” da Galiléia foi à vista demultidões e com a maior publicidade: J oão, portanto, não pode de modo algum mencionar esse evento!

Existe outra razão irrefutável para J oão 7:10 não assinalar a“partida final da Galiléia”. Mateus, Marcos e Lucas nos mostramcomo essa partida eventualmente culminou na entrada triunfal, depois do que o Senhor não mais se afastou de J erusalém e Betânia até sua crucificação, enquanto depois de J oão 7:10 lemos que

o Senhor ausentouse três vezes,  cada uma por um lapso conside-rável de tempo (primeiro, entre 10:21 e 22, como mostra nossopróximo parágrafo; segundo, 10:3943; terceiro, 11:54).

Essa saída final deve  ter sido após J oão 7:10: mas quando?   J oão nos guia novamente. Os capítulos 7 a 10 têm uma seqüênciatão ininterrupta que todos  concordam pertencerem àquela visitaespecial a J erusalém para a “festa dos Tabernáculos”. Mas fica

igualmente claro que ocorre uma interrupção no capítulo 10:21,porque a festa dos Tabernáculos realizavase emoutubro  enquantoo versículo seguinte (22) diz: “Celebravase em J erusalém a festada dedicação. Era inverno”.  Entre a Festa dos Tabernáculos emoutubro e a da Dedicação (em dezembro) havia um espaço de doismeses inteiros. Onde Jesus esteve durante esse período? Ele deveter voltado à Galiléia,  porque após suas duas outras visitas a J eru-salém e Betânia Ele não  voltou para ali; Ele não avançou além da

Peréia (10:4) e J udéia (11:54); e sua próxima visita a J erusalémdepois disso  foi na entrada triunfal (12:119) e crucificação. Suaúltima visita à  Galiléia e saída  da mesma devem ter certamenteocorrido entre J oão 10:21 e 22.

Isto faz surgir uma pergunta intrigante, embora, bem mais fá-

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cil do que parece a princípio. Como iremos associar essas quatro visitas a J erusalém (7:10, 10:22, 11:17 a Betânia, depois 12:12para a entrada triunfal) com a única viagem  para lá registrada porMateus, Marcos e Lucas? Isto parece ter causado dificuldades à

maioria dos expositores. Alguns argumentam que o longo relatode Lucas (9:5119:44), contendo  inúmeros incidentes não registra-dos por Mateus nem Marcos, engloba na realidade não apenas umavisita a J erusalém mas três,  a primeira (Lc 9:5113:21) correspon-dendo à visita de dezembro em J oão 10:2242; a segunda (Lc 13:2217:10) correspondente à vista a Betânia para a ressurreição deLázaro, em J oão 10:154; a terceira (Lc 17:1119:44) correspon-

dendo a J oão 12, a entrada triunfal. Mas o único golpe necessáriopara fazer desmoronar essa teoria é que em J oão, J esus não voltaà Galiléia depois de nenhuma dessas visitas, enquanto em Lucas,continuamos  na Galiléia mesmo num ponto bem adiantado do li-vro como 17:2!

Existe Uma Solução? Há um modo de resolver o problema? Acreditamos que sim.

Ele é para nós o mais simples e óbvio. Vamos primeiro resolver oproblema menor da longa viagem para J erusalém em relação aosoutros dois sinóticos. Tanto Mateus como Marcos transferem o Se-nhor diretamente da Galiléia para “as fronteiras da J udéia” numaúnica sentença (Mt 19:1; Mc 10:1), enquanto Lucas fala de “men-sageiros” e dos “setenta” enviados adiante (9:52; 10:1), de pará-bolas e milagres e de visitas a vários lugares no caminho.  Mas de-

pois, no capítulo 19:15, Lucas subitamente se liga de novo á Ma-teus e Marcos e a partir desse ponto mantémse em paralelo comeles até a entrada triunfal na capital. Veja como isto se destacaperfeitamente:

 Jesus abençoa as crianças

O jovem rico — e ensinos 

correiatos  Jesus prediz sua morte e 

ressurreição Pedido ambicioso de Tiago e 

 João

M t 19:13, 15, Mc 10:13-16. Lc 18:15-17.Mt 19:16; Mc 10:17-31;

Lc 18:18-30.M t 20:17-19; Mc 10:32-34; Lc 18:31-34.M t 20:20-28; Mc 10:35-45; Lc não menciona.

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 Jerícó — multidões; cura do cego; Zaqueu 

Entrada triunfa! em Jerusalém

Mt 20:29-34; Mc 10:46-52; Lc 18:35-19:27.M t 21:1-11; Mc 11:1-11;Lc 19:28-44.

Desse modo, ponto por ponto, desde 18:15 em diante, Lu-cas se mantém em paralelo com Mateus e Marcos. A inferência,portanto, se impõe claramente: esses maravilhosos capítulos extrasem Lucas (9:511814) pertencem à tumultuada viagem através daGaliléia, Samaria e Peréia (a região a leste do J ordão) até as fron-teiras da J udéia. Lucas se une novamente a Mateus e Marcos no

ponto em que J esus se prepara para cruzar o J ordão a caminho de J ericó e dali para sua entrada triunfal em J erusalém.Foi então dali, da Peréia, ao longo da fronteira da J udéia, do

lado do J ordão, que o Senhor fez aquelas duas curtas visitas a J e-rusalém e Betânia, registradas por João,  i.e., a Festa da Dedicaçãoem dezembro (10:2239) e ressurreição de Lázaro (11:1 46). E porisso que ele nos conta depois da primeira que J esus “novamentese retirou para além do Jordão” (10:40) e depois da segunda que

Ele “retirouse para uma região vizinha ao deserto, para uma cidade chamada Efraim”   (11:54).

Assim sendo, os quatro relatos do ministério público do Se-nhor, pelo menos em seu esboço geral, se reúnem em uma ordemunida e consecutiva.

 Todavia, algum estudante mais perspicaz pode continuar umtanto duvidoso. Ao supor que a última visita do Senhor à Galiléia

e sua partida final da  mesma se encaixam entre J oão 10:21 e 22,estaremos concedendo um intervalo suficiente (i.e., os dois mesesentre a festa dos “Tabernáculos” em outubro  e a da “Dedicação”em dezembro)  para aquela longa jornada de retirada descrita emLucas 9:51 a 18? Sim, estamos. Só alguns dias eram necessáriospara o Senhor ir de J erusalém à Galiléia. Um exame cuidadoso doscapítulos de Lucas mostra rapidamente que se acham tão intima-mente ligados e tão consideravelmente cheios de parábolas que tu-do poderia ter facilmente acontecido em sete semanas ou menos.(Compare esses capítulos com um mapa e verifique.)

A única objeção que pode ser levantada é que Lucas 10:38-42 diz: “ Indo eles de caminho, entrou J esus num povoado. E cer-ta mulher, chamada Marta, hospedouo na sua casa. Tinha ela uma

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irmã, chamada Maria”. Como é possível que tão cedo na narrati-va de Lucas sobre a última partida da Galiléia pudesse constar umavisita à casa de Marta e Maria em Betânia, próximo de Jerusalém?  Uma solução fácil com base puramente crítica é que Lucas sim-

plesmente misturou um pouco suas pequenas folhas de papiro eque este incidente da bondosa censura do Senhor a Marta por“preocuparse com muitas coisas”, foi introduzido aqui por enga-no. Mas esta não é nossa  idéia de Lucas e das Escrituras. Quandosurge um problema insolúvel deste tipo, preferimos deixálo co-mo está, em lugar de oferecer uma explicação que possa de algummodo comprometer a inspiração sobrenatural das Escrituras. Mas,neste incidente específico, existirá realmente um problema? Quemdiz   que aconteceu em Betânia? Lucas? Não! Ele simplesmente diz“um povoado”. Seria provável que se referisse desse modo à co-nhecida Betânia, próximo de J erusalém? Dificilmente faria isso,desde que tão definitivamente a nomeia em 19:29. Além do mais,este incidente não deve ser confundido com a “ceia” em Betâniaem J oão 12, pois essa  realizouse na casa de “Simão, o leproso”(compare Mt 26:6; Mc 14:3). Quem poderá dizer que Marta não

tinha uma “casa”, talvez seu lar, na Galiléia?

Quanto Tempo Durou o Ministério Público do Senhor?

Agora que nos defrontamos com as novas informações forne-cidas por J oão, podemos também calcular o tempo aproximadoabrangido pelo ministério pública de nosso Salvador. Foi surpreen-dentemente curto. A suposição geral é de três anos; mas terá real-mente chegado a tanto?

A pista principal encontrase nos três relatos da Páscoa em J oão (2:13; 6:4; 11:55, etc.).

Vejamos o primeiro deles. J oão diz: “Estando próxima apáscoa dos judeus, subiu J esus para J erusalém” (2:13). Antesdisso, ocorrera o seu batismo, tentação, volta ao J ordão, primei-

ros contatos com André, Pedro e outros de seus futuros apóstolose uma volta à Galiléia. Devemos conceder os “quarenta dias” pa-ra a tentação, dois ou três dias ou até mais para a volta ao J or-dão, depois uma semana até as bodas em Caná (compare 1:29,35, 43; 2:1); digamos dois meses ao todo, além dos dias (quan

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tos sejam eles) passados então em Cafarnaum (2:12).A seguir, temos a sua visita a Jerusalém  para a páscoa, con

cedendo dias suficientes para seus milagres ali e o impacto sobre

as multidões (2:23), a entrevista com Nicodemos (3), seguindo-se um ministério de ensino e batismo na fronteira da Judéia dolado do Jordão (3:22-24) e uma nova volta à Galiléia (4). Paratudo isso devemos conceHfir nm mínimn Hf» nitn Hia<; nara a nás-coa (2:23-3:21); depois, cerca de um mês ou quase para o mi 'tério do Jordão onde Ele “ permaneceu” (3:22) o suficientefazer “ mais discípulos que João” (4:1); depois dois ou trêsde volta à Galiléia (4:4, 40). Digamos, cerca de seis ottf^sçiec

manas. < \\ Isto parece confirmado pelo que surge agpnnçm) J°ão 5.

 “ Passadas estas coisas, havia uma festa dooucíSay^fesus subiupara Jerusalém” . Esta festa não nomead; ^ANaSg^cia certamente ser a Páscoa do ano seguinte, pois jm intervaloinexplicável de silêncio de quase um (a^,jmo apenas por partede João, mas de todos os quatrcKesèmorês. Além disso, não setrata de simples suposição<me) o^apostolo teria citado o fato

caso se tratasse de outra pasoo^como fez em outros trechos.Esjaif^sta wão nomeada seria a festa de Pen-

 ‘cinqüenta dias” depois da Páscoae se também não for outra páscoa,

sér a festa dos Tabernáculos, mas não ése refere a essa  festa pelo nome  no capítu-

ém possível que o ministério do Senhor no de-ao Jordão (3:22) se esténdesse desde a Páscoa

Absolutamente nãotecoste, sete s mai(Lv 23:15). Casáentão qual,provável,lo 7:2

serto, . festa dos Tabernáculos (outubro)? jsfámos praticamente convencidos de que a festa não no-

kia em João 5 foi a de Pentecoste, mas não queremos ser dog-iáticos. Quer tenha sido Pentecoste ou Tabernáculos isso não

1 ■ u u 11 1 l l / l ■ | u i | V I I(X I L i a CL  u u i a y a u L V L U I u u I I I I I I U L V I l V J U U i

(junho) então o ministério subseqüente do Senhor na Galiléia iniciou-se quatro meses mais cedo do que se a festa fosse a dos Ta

bernáculos (outubro). Não podemos resistir à idéia de salientaruma evidência subordinada a favor de tratar-se de Pentecoste, isto é, o comentário do Senhor no capítulo 4:35: “ Não dizeis vósque ainda há quatro meses  até à ceifa?” — o que evidentementenão se enquadraria em outubro! Supomos assim que a festa sem

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entrevista com NicodemosIntervalo de ensino, batismos Jo 3:22-36.na Judéia, próximo ao Jordão

Novamente na Galiléia: mulher Jo 4:1-54.de Sicar; segundo milagre em

CanáFesta de Jerusalém: cura em Jo 5:1-47.Betesda; oposição dos judeus

2. CIRCUITO DA G ALILÉIA {cerca de um ano e dez meses).Os três relatos sinóticos do

ministério na Galiléia

Intervalo curto — paraJerusalém: festa dosTabernáculos

Partida lenta e final da GaliléiaParada em Peréia; visitaa Jerusalém; festa da

DedicaçãoDe novo a Peréia; dali paraBetânia a fim de ressuscitarLázaro

Da “cidade chamada Efraim”para a entrada triunfal

Mt 4:12 até cap. 18;Mc 1:14 até cap. 9;

Lc 4:14-9:50.Jo 7:2-10:21.

Lc 9:51-18:14.Jo 10:22-39.

Jo 10:40-11:54.

Mt 19:1-21:11 ; Mc 10:1até cap. 11 ; Lc 18:1519:44; Jo 11:54-12:19.

3. CL ÍMAX EM JERUS ALÉM (cerca de uma semana)Conflitos com I íderes judeus na

capitalPredição no Monte dasOliveiras

Em Betânia; a unção por MariaÚltima Páscoa: Discurso para os

apóstolosGetsêmani; a prisão, a negaçãode Pedro

Julgamento, crucificação esepultamento

Mt 21:12 até cap. 23;Mc 11-12; Lc 19:45-21:4.

Mt 24; 25; Mc 13;Lc 21:5-38.

Mt 26; Mc 14; Lc 22; Jo 12Mt 26; Mc 14;Lc22;

Jo 13-17.Idem e Jo 18.

Mt 17; Mc 15; Lc 23;Jo 18:28 até cap. 19.

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Notas(1) Se a festa no capítulo cinco de João é a dos Tabernácu

los (outubro) e não a de Pentecoste como supusemos, a seçãopré-Galiléia terá quatro meses mais e o ministério na Galiléia qua

tro meses menos; mas o total não será afetado.(2) A unção do Senhor por Maria de Betânia é colocada depois da entrada triunfal e depois do discurso no Monte das Oliveiras, pelos escritores dos sinóticos. De fato, Mateus 26:2 e Marcos14:1 indicariam que vários dias haviam passado entre a entradatriunfal e a unção por Maria. Em João 12, porém, ela é colocadaantes  da entrada triunfal; e por isso tem havido uma pronta tendência de certos escritores críticos para pronunciar Mateus e Marcos como estando errados, desde que João escreveu mais tardee (como se supõe) corrigiu-os nesse ponto. Mas, não se trata disso, João menciona aqui a ceia e a unção antes desses fatos acontecerem porque acabara de dizer que Jesus chegara a Betânia,  eele imediatamente associa as duas coisas. Ele menciona a mesmaunção antecipadamente no capítulo 11.2. Além do mais, no capítulo 12, v. 9, ele indica claramente que Jesus, na época da unção,

estivera tempo suficiente em Betânia para “ numerosa multidãodos judeus” saber que Ele ali se achava e “ lá foram não só porcausa dele, mas também para ver a Lázaro a quem ele ressuscitara dentre os mortos” . Quando o v. 12 diz “ No dia seguinte”, significa o dia depois da chegada a Betânia a caminho de Jerusaléme não o dia em que Maria O ungiu.

(3) Leia João 13:2-30 entre Mateus 26:20 e 21; depois leia

João 15, 16 e 17, entre Mateus 26:30 e 31.Talvez alguns leitores e alunos não se entusiasmem muitocom a idéia de entrar em detalhes como os precedentes. Não obstante, estamos persuadidos de que este método tem grande valorprático. As coisas que mais despertam nosso interesse nem sempresão aquelas que nos proporcionam benefícios mais permanentes oupráticos. Em nossa próxima lição iremos estudar algumas das preciosidades espirituais do evangelho de João; mas ao deixarmos este

capítulo não podemos resistir à idéia de enfatizar mais uma vezque conhecer o esboço geral do ministério público do Senhor é deenorme utilidade em todos os nossos estudos de seus aspectos espirituais.

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O EVANGELHO SEGUNDO JOÃO (2) 

Lição NQ 19

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NOTA: Para este estudo, leia novamente todo o Evangelho de J oão, descobrindo e citando: (1) os milagres, (b) as con-versas do Senhor.

A proeminência dada neste evangelho aos discursos  de J esuse a certas conversas é especialmente digna de nota. J oão não rela-ta nenhuma das parábolas registradas pelos sinóticos, mas nosapresenta um diálogo com Nicodemos (3:115) e com a mulhersamaritana (4:438); o discurso depois da cura em Betesda (5:19-47), e afirmações alegóricas sobre o “Pão da Vida” (6:35); “a Luzdo Mundo” (8:12); “a Porta” e “o Bom Pastor” (10:1); “o Cami-

nho, a Verdade e a Vida” (14:631); “a Videira verdadeira” (15);a missão do Consolador (16). Por mais diferentes em estilo queesses discursos sejam dos contidos nos sinóticos, existem muitascorrespondências notáveis quanto ao ensino doutrinário, suficien-te para provar que não se trata de nova doutrina, mas de uma ex-posição mais completa das verdades apresentadas pelos sinóticosde forma mais concreta.

 Angus, Bible Handbook 

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O EVANGELHO SEGUNDO JOÃO (2)

Nossa vontací^de aprender os ensinamentos espirituais deste“Evangelho Segundo J oão” jamais poderá ser excessiva, pois elenão decepciona nem o que busca pela primeira vez ou o pesquisa-dor que quer aprofundarse no seu conhecimento. Não existem pa-

lavras complicadas para impedir os simples, nem obscuras paraconfundir os interessados. No decorrer de toda a sua leitura sóencontramos a mais transparente simplicidade. Existem, porém,significados íntimos quase inexprimíveis e profundezas infinitas;cada novo estudo proporciona, assim, novas recompensas. Os quemais o estudaram seriam os primeiros a dizer:

Freqüentemente lanço meu balde 

bem fundo neste poço,Ele jamais chegou ao final dele,

Por mais que descesse;E apesar de continuar mergulhando, 

 pelo estudo, fé e oração,Não tenho capacidade para medir  

a água viva nele contida.

Vamos então examinar seu conteúdo e aprender a sua men-sagem principal. Percebemos imediatamente que a maneira de di-zer e ver as coisas é muito diferente daquela de Mateus, Marcosou Lucas. Em Mateus temos agrupamentos impressionantes; emMarcos uma rápida sucessão de movimentos instantâneos; em

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O primeiro desses grupos de capítulos é ocupado com os “si-nais” milagrosos feitos por J esus, dentre os quais J oão registra se-te, culminando com a ressurreição de Lázaro. Note como os pri-meiros contatos  se desenvolvem rapidamente em conflitos  poste-

riores e depois terminam em absoluta divisão.O segundo grupo referese principalmente às novas e marav

lhosas revelações do Senhor sobre o Parácleto que está para vir. Oscapítulos finais abrangem o resultado terrível mas glorioso dotodo.

Uma análise mais detalhada não só sobrecarrega a memóriaem lugar de ajudála, como também é desnecessária para o nosso

propósito presente. E interessante gravar as três divisões princi-pais e, tendo feito isso, apressemonos a examinar alguns desses te-mas interligados que se estendem como correntes brilhantes atra-vés do livro inteiro, como já tivemos ocasião de mencionar.

PLANO BÁSICO DO EVANGELH O DE JOÃO

Prólogo (1:118).

“O Verbo se fez carne.”

1. MINISTÉ RIO PÚBLICO DE J ESUS AOS J UDEUS

(1:1912).Primeiros “sinais”, testemunho e contatos (1:19 a cap. 4).Outros “sinais”, testemunho e conflitos  (510).Ultimo “sinal”, testemunho & divisão  (1112).

2. MINISTÉRIO PARTICULAR DE JESUS AOS “SEUS”(1317).Presságio de sua partida (1314:15).Promessa da vinda do Espírito (14:16 a cap. 16).Oração a DeusPai a favor deles (17).

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Lucas o desenrolar de uma belíssima história. Em J oão, porém, tu-do fica subordinado ao desenvolvimento de certas idéias repetidas. Estas foram reunidas no prólogo e a seguir são desenvolvidas nodecorrer do livro inteiro, até o final. Não se trata de essas idéias

serem abstrações inventadas por J oão; elas são verdades espirituaisresultantes de fatos  férteis. De um acúmulo de informação dispo-nível, J oão seleciona apenas aquelas que demonstram e promovemessas verdades centrais de seu tratado.

Marque bem: a característica estrutural deste quarto evange-lho é a da repetição de idéias.  Mesmo entre estas (algumas dasquais iremos considerar separadamente) existe uma que está exata-mente no centro, a saber, a vida eterna, crendo em Jesus como Filho de Deus e Salvador dos homens.  Perdemos de vista o verda-deiro caráter e força cumulativa deste quarto evangelho se tentar-mos dividilo em seções doutrinárias. Considerar, por exemplo,que Cristo é revelado como Vida  no primeiro grupo de capítulos,como Luz   no grupo seguinte e como Amor  no último grupo, é ar-tifício e não análise. As três aliterações poderiam ser transpostas,entrosandose, todavia, igualmente bem. Dizer que nos capítulos

1 a 6 temos Revelação,  nos capítulos 7 a 12 Rejeição, e nos capí-tulos 13 a 21, Recepção  é simplesmente um trio arbitrário de“Rs”. O fato é que a revelação, rejeição  e recepção se encontramlado a lado no decorrer de todo o livro, assim como a vida, a luz eo amor. Não estamos afirmando que não  existe um plano básicono evangelho de J oão, insistimos no entanto em que esse arranjonão foi feito de acordo com a doutrina ou assunto em questão,

e que forçar a análise desse tipo confunde sua repetição  cumula-tiva de idéias.  (Encontramos esta mesma forma de ensino atravésde ênfases repetidas na primeira epístola de J oão.)

Antes de considerarmos alguns desses temas sucessivos nestequarto evangelho, talvez devêssemos examinar rapidamente o ar-ranjo básico do material de J oão, como realmente é. Há um prólo-go (1:1 18) e um epílogo (21). Os capítulos intermediários se agru-pam como segue:

7. O ministério público de Jesus aos judeus (1:19-21).2. O ministério particular de Jesus aos “seus” (13-17).3. O dímax pascal de tragédia e triunfo (18-20).

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O primeiro desses grupos de capítulos é ocupado com os “si-nais” milagrosos feitos por J esus, dentre os quais J oão registra se-te, culminando com a ressurreição de Lázaro. Note como os pri-meiros contatos  se desenvolvem rapidamente em conflitos  poste-

riores e depois terminam em absoluta divisão.O segundo grupo referese principalmente às novas e maravi-lhosas revelações do Senhor sobre o Parácleto que está para vir. Oscapítulos finais abrangem o resultado terrível mas glorioso dotodo.

Uma análise mais detalhada não só sobrecarrega a memóriaem lugar de ajudála,,como também é desnecessária para o nosso

propósito presente. E interessante gravar as três divisões princi-pais e, tendo feito isso, apressemonos a examinar alguns desses te-mas interligados que se estendem como correntes brilhantes atra-vés do livro inteiro, como já tivemos ocasião de mencionar.

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PLANO BÁSICO DO EVAN GELH O DE JOÃO

Prólogo (1:118).

“O Verbo se fez carne.”

1. MINISTÉ RIO PÚBLICO DE J ESUS AOS J UDEUS

(1:1912).Primeiros “sinais”, testemunho e contatos (1:19 a cap. 4).Outros “sinais”, testemunho e conflitos (510).Último “sinal”, testemunho e divisão  (1112).

2. MINISTÉRIO PARTICULAR DE JESUS AOS “SEUS”(1317).

Presságio de sua partida (1314:15).Promessa da vinda do Espírito (14:16 a cap. 16).Oração a DeusPai a favor deles (17).

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3. CLÍMAX PASCAL: TRAGÉDIA E TRIUNFO(1820).Prisão e inquérito (1819:15).Crucificação e sepultamento (19:1642).

Ressurreição e reaparecimento (20:1 a cap. 31).Epílogo (21): “Até que eu venha”.

Versículo e Tema Principais

Pense com cuidado: quais seriam para você o versículo e te-ma principais no evangelho de J oão? Permite que o ajudemos paraobter uma resposta correta? No decorrer do livro inteiro encontra-mos um cenário sombrio de incredulidade por parte dos judeus,fazendo com que nos lembremos repetidamente do capítulo 1:12.“Veio para o que era seu, e os seus não o receberam”. Mas em pri-meiro plano vemos uma sucessão compensadora de conversas comindivíduos que o receberam,  lembrandonos novamente  do capí-

tulo 1:12: “Mas, a todos quantos o receberam, deulhes o poderde serem feitos filhos de Deus”. Em íntima associação com essas fi-guras em destaque, existe uma cadeia de “sinais” notáveis que de-monstra com inesquecível limpidez o poder transformador de Cris-to, fazendo com que volte à nossa memória outra vez o capítulo1:12: “Deulhes o poder de serem feitos  filhos de Deus. Sei queo termo grego traduzido aqui como “poder” pode ser adequada-

mente interpretado como “direito” ou “autoridade”, mas isso deforma alguma diminui o seu sentido dinâmico. O “direito” ou“autoridade” de se tornarem filhos de Deus impiica  no poder  pa-ra isso; pois, (marque bem) não é simplesmente o direito de “ser”mas de “tornarse” (genésthai ), abrangendo o poder  moral trans-formador de tornarse filho de Deus e viver como tal. (De que va-leria, por exemplo, a “autoridade” a um rei se lhe faltasse o poder  para exercêla?).

No que se refere à mensagem espiritual do evangelho de J oão,o versículochave é, sem dúvida, 1:12. Os que estão agora familia-rizados com o conteúdo deste evangelho não podem deixar de per-ceber como essas três linhas centrais correm com persistência emparalelo e com crescente nitidez através dos capítulos:

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1. “Os seus não o receberam.”2. “Mas, a todos quantos o receberam.”3. “Deulhes o poder de serem feitos (de se tornarem)”.

Os Oito MilagresVamos pesquisar primeiro os oito milagres ao redor dos quais

a narrativa se concentra. Certos aspectos imediatamente prendema nossa atenção.

1. Transformação da água em vinho (2)2. A cura do filho do oficial do rei (4)

3. A cura do paralítico em Betesda (5)4. A alimentação dos cinco mil (6)5. O andar sobre as águas do mar da Galiléia (6)6. A cura do cego de nascença (9)7. A ressurreição de Lázaro (11)8. A pesca maravilhosa \ (21)

Da mesma forma que todo som musical é apreendido em oita-vas, J oão também apreendeu o significado de todos os milagres doSenhor nesses oito pontos. O som musical, quer produzido porcordas como no piano, ou por colunas de ar como no órgão defoles, é criado por vibrações diminutas; mas todas elas se conju-gam em oitavas.Por exemplo, se começarmos com um Dó  (C) in-termediário, subimos sete notas consecutivas e chegamos então aoutro Dó  (C). Mas, por que devemos chamar novamente de Dó essa oitava nota? Porque o número de vibrações é exatamente odobro do Dó  intermediário e está, portanto, num alinhamento desom exato com ele. A oitava repete então sempre a primeira dasoito notas.

O mesmo acontece com a oitava de milagres no evangelhode J oão. A primeira faz soar a notachave: “Com este deu J esusprincípio a seus sinais em Caná da Galiléia; manifestou a sua gló-

ria e os seus discípulos creram nele"  (2:12). Isto não se repete atéa próxima colcheia: “Para que creiais que Jesus é o Cristo, o Fiiho de Deus,  e para que, crendo,  tenhais vida em seu nome” (20:31).Dáse o mesmo com as outras oitavas bíblicas, como por exemploas oito bemaventuranças do Sermão do Monte. A primeira, por as-

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4. O homem cego de nascença5. Marta e Maria; Betânia6. Os onze apóstolos7. Maria Madalena

8. O apóstolo Pedro

(9:3541)(11)(1316)(20:118)

(21:1523)

Esses oito exemplificam representativamente “quantos o re-ceberam”. Podese pensar momentaneamente que J oão Batista de-veria ser incluído; mas, não, não existe aqui qualquer registro deuma conversa entre J esus e ele; nem com o paralítico de Betesdano capítulo 5, além das simples palavras que pronunciaram cura eadvertência.

O primeiro dos oito faz soar a nota: “Poder para tornar-se” . Não ficamos sabendo o que se passou durante a entrevista de An-dré e J oão com J esus (1:39). A ênfase está no que J esus disse a Simão e Natanael: “Tu és... tu serás”. “Pois maiores coisas do queestas verás. ” Esta é  a promessa envolvida  nesse “poder para tor-narse” protoplásmico. /

A seguir, nas entrevistas que se sucedem vemos ilustrado co-

mo opera essa nova vida em “quantos o receberam”.Na entrevista com Nicodemos observamos que sua operação

começa com o “nascer de novo”. Na entrevista com a mulher deSicar vemos uma fonte interior de vida e satisfação. No cego re-velase como uma percepção interior e exterior de J esus como “oF ilho de Deus” (9:35). Na conversa com as irmãs de Betânia ela éuma energia que, em resposta à fé, conquista o aparentemente im-

possível (11:40). Na longa e tocante conversa com os Onze (13-16), aprendemos, por informação direta, que o executor desta no-va vida de poder é o Parácleto  Divino. A seguir, na entrevista pa-tética, embora emocionante, com Maria Madalena, vemos comopromove a manifestação individual do Senhor ressurreto àquelesa quem Ele ama, transformando a tristeza em alegria. Finalmente,na última conversa com Pedro, vemos como traz restauração euma nova ordem para ministrar dada pelo Salvador.

E interessante notar, incidentalmente, como a característicada oitava se repete aqui, nesta oitava entrevista — tocando em Pe-dro novamente como na  primeira  das oito. A promessa ainda semantinha de pé: “Tu és... tu serás”; mas Pedro precisava aprenderque a oitava mais alta do “poder de tornar-se”  é poder para vencer.

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“Mas, a todos quantos o receberam, deulhes o poder de se-rem feitos filhos de Deus; a saber, aos que crêem no seu nome”(1:12). Essa é realmente a mensagem espiritual central que per-corre todo este evangelho segundo J oão.

Como esta idéia fornece possibilidade de um estudo mais mi-nucioso! Quão maravilhosamente esses oito sinais milagrosos ilus-tram a operação deste “poder de tornarse”! Apenas como suges-tão, examine os quatro atos do Senhor ao alimentar os cinco milcom o almoço do rapazinho — (1) Ele tomou, (2) Ele abençoou,(3) Ele partiu, (4) Ele usou.

Um Paralelo Notável

Existe, outrossim, uma correspondência fascinante entre aestrutura deste quarto evangelho e os utensílios do antigo Taber-náculo. O Tabernáculo judeu primitivo tinha três partes. Primei-ro, o pátio externo amplo e oblonquo, com 100 côvados de com-primento (cerca de 50 metros) por 50 de largura (i.e., 25 metros);

e dentro dele, num dos cantos, ficava o “santuário", medindo30 côvados de comprimento por 10 de largura. O santuário dividiase em duas partes — o Lugar Santo (20x10) e na outra extremida-de (a partir da entrada do pátio externo) ficava o Santo dos San-tos (10x10). Tanto o pátio externo oblongo, como o santuáriointerno também oblongo, ficavam sempre na direção lesteoeste,com suas entradas respectivas a leste. A entrada para o pátio ex-

terno era chamada de “portão”; a do Lugar Santo de “porta”; e ado Santo dos Santos de “véu”.Esse antigo Tabernáculo continha sete  objetos da maior im-

portância. Entrando pelo “portão” do pátio externo, encontra-mos (1) o altar de bonze do sacrifício. Mais para dentro, (2) o la-vatório de bronze dasobluções, ou “bacia”.

A seguir, passando pela “porta” para o Lugar Santo, vemos(3) a mesa dos pães da proposição (à direita ou lado norte) comsuas oblações e libações (Ex 25:29) ou ofertas de alimento e bebi-da, tipificando Cristo, o Pão de Deus, aquele que nutre a vida docristão como crentesacerdote (Lv 24:9). A esquerda, ou lado suldo Lugar Santo ficava (4) o candelabro de ouro de sete braços, ti-pificando Cristo nossa Luz, brilhando na plenitude do poder do

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Espírito Santo de sete aspectos, representado pelo óleo que ali-menta à luz. Nesse Lugar Santo, bem diante do “véu”que dá pa-ra o Santo dos Santos fica o (5) altar de ouro do incenso, que fa-la tipicamente de Cristo como nosso Intercessor e das orações

do crentesacerdote tornadas fragrantes pelos méritos perfeitosdo Nome precioso através do qual ora.Em último lugar, além do “véu”, no interior do Santo dos

Santos, encontramos (6) a arca, aquela caixa sagrada de madeirade acácia coberta de ouro, cerca de 1,23m de comprimento por70cm de largura e altura (contendo as duas tábuas de pedra daLei, um vaso de ouro com maná e a vara de Arão), tipificandoCristo como a base e centro perfeito do relacionamento de alian-

ça com Deus. Sobre esta ficava (7) o assento de misericórdia deouro sólido (ou propiciatório), coberto pelas asas estendidas dosdois querubins de ouro que ficavam um de cada lado, de facesvoltadas um para o outro; tendo a estrutura toda as mesmasdimensões que a arca sobre a qual se achava e com o trono, longi-tudinalmente, defronte do reposteiro ou/véu de entrada. Esse pro-piciatório tipificava o trono de DeusrO fato de ser um trono da

graça em lugar de juízo deviase ao sangue da expiação que eraaspergido sobre ele a favor dos israelitas pecadores.Mas havia algo mais nesse tabernáculo divinamente planeja-

do que dava a esses sete objetos progressivamente sagrados umaconsumação de glória misteriosa. Era a Chequiná,  a luz indefiní-vel, sobrenatural, que brilhava logo acima do propiciatório, entreas asas curvas dos dois querubins. Esse brilho de glória sobrenatu-

ral era mais que um símbolo, pois tratavase na verdade de umaforma visível da presença divina, consagrando com absoluta soleni-dade os preceitos e artigos daquele primeiro santuário.

Os utensílios do Tabernáculo, com seus significados simbóli-cos e tipológicos, podem ser assim estabelecidos:

1. Altar de bronze.

2. Bacia de bronze

3. Mesa dos pães da proposição.

4. Candelabro

Expiação através de sacrifício.

Renovação espiritual

Sustento espiritual.

Iluminação espiri-tual.

A Expiação feita 

por Cristo. 

Regeneração pelo Es-pírito Santo.

Cristo como o Pão 

da Vida de seu povo. Cristo a Luz, espe-

cialmente de seu po-vo.

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5. Altar do incenso.

6. A arca.

7. O propiciatório.

Súplica aceitável.

Acesso mediante re-lacionamento de aliança.

Aceitação junto ao trono de Deus.

Oração em o Nome de Jesus (Jo 14; Ap 5:8).Cristo como nosso acesso à aliança.

Aceitação junto a Deus, em Cristo (Rm 3:25).

Como já mencionamos, existe, então, um fascinante parale-lo entre esses utensílios do Tabernáculo e o Evangelho Segundo

 J oão. Se J oão fez isso deliberadamente ou se tinha conhecimen-to do fato não insistiremos em afirmar, mas ele certamente exis-te. Talvez a razão para a correspondência seja a unidade básica dascoisas. A verdadeira ordem de aproximação de Deus é uma só e amesma, quer na velha ou na nova dispensação. Em todo caso, nes-te quarto evangelho, J oão nos leva às grandes realidades espirituaistipificadas por essas sete peças da mobília do Tabernáculo, exata-mente na mesma ordem.

Ele começa nos levando ao altar de bronze do sacrifício, poispor duas vezes no capítulo 1 nos fala: “Eis o Cordeiro de Deus,

que tira o pecado do mundo”. Depois, no capítulo 3, faz com quenos aproximemos da bacia de bronze da purificação ou renovação,dizendo: “Quem não nascer da água e do E spírito, não pode en-trar no reino de Deus”.

A seguir, nos capítulos 46, ele nos leva até à mesa dos pãesda proposição, com seus alimentos e bebidas, registrandonos aconversa do Senhor com a mulher de Sicar, relativa à “água davida” da qual, se alguém beber, jamais terá sede novamente; e ogrande discurso do Senhor a seu próprio respeito como sendoo “Pão da Vida” do qual, a pessoa que comer, viverá eternamen-te. Depois disso, nos capítulos 8 e 9, J oão nos faz examinar o can-delabro de ouro; vemos agora o Senhor repetir duas vezes “Eusou a Luz do mundo” e “quem me segue não andará em trevas, pe-lo contrário terá a luz da vida” — e o homem cego de nascençaé curado como um exemplo vivo.

Mais adiante, nos capítulos 1416, nesse longo e terno discur-so aos Onze, descobrimonos junto ao altar de ouro do incenso,aprendendo a orar de um modo e através de um Nome até entãodesconhecido, aprendendo a oferecer orações através de J esus,que se tornam como incenso perfumado mediante o pronunciar

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desse Nome que, acima de todos os demais, é caro ao coração deDeus.

Em seguida, naquele sublime capítulo 17, na comoventeoração intercessória que temos o privilégio de ouvir ao sair dos

lábios de nosso amado Sacerdote, somos levados através do “véu”para dentro do Santo dos Santos; tendo permissão para vislumbraro ministério sumo sacerdotal de intercessão que Ele exerce a nosso favor na presença de Deus.

E então, no clímax do Calvário que domina o nosso coração,vemos nos capítulos 18 e 19 como Ele é também a própria Arcada Aliança e o Propiciatório aspergido com o sangue sagrado desua auto-entrega vicária. Temos depois o capítulo 20, o capítulo

da ressurreição, em que o Senhor ressurreto anuncia imediatamente nosso novo relacionamento de aliança com Deus: “Subopara/neu Pai e rasso Pai, para meu Deus e vosso Deus” .

João viaja assim, em paralelo, desde o primeiro até o últimodesses sete objetos que compunham os utensílios do tabernáculoisraelita. Ele finalmente revela a realidade que corresponde a essachequiná  absolutamente santa. Na tarde daquele dia esplêndido

em que Jesus ressuscitou, Ele apareceu repentinamente diantedos Onze com a saudação tranquilizadora: “ Paz seja convosco” !mostrando-lhe suas mãos e seu lado feridos e pronunciando palavras de conforto. Antes de desaparecer novamente, Ele fez  e disse  algo de imenso significado: “Soprou sobre eles, e disse-lhes:Recebei o Espírito Santo".  Essa é a nova chequiná da experiência cristã.

Como toda essa correspondência de ordem entre o tabernáculo primitivo de Israel no deserto e o novo tabernáculo do testemunho de João feito com pena e tinta é  interessante! Devemosconsiderá-la como um acidente ou ato deliberado? Muito maismaravilhoso ainda é esse querido Salvador em quem possuimos essas sete provisões divinas, desde o altar da expiação até a habitação da Chequiná do pentecoste!

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O EVANGELHO SEGUNDO JOÃO (3) 

Lição N.° 20

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NOTA: Para nossa revisão final do Evangelho de João, meditecuidadosamente sobre o prólogo, capítulos 5, 6 e 21.

As relações literárias entre os evangelhos são um assunto queprovoca grandes diferenças de opinião entre os eruditos e emboratenham sido feitos esforços de tempos em tempos para harmonizaros evangelhos como um todo, nenhuma dessas tentativas mostrou-se completamente satisfatória. Raramente duas dessas harmoniasconcordam. O problema sinótico, como é chamado, não só não foiresolvido, mas permanecerá talvez insolúvel. De fato, pode ser dito,sem praticamente qualquer dúvida, que uma verdadeira harmoniaé impossível em vista de cada evangelho ter seus próprios aspectoscaracterísticos, os quais não podem ser combinados com outros.

Existem várias razões poderosas para esta contenda. Em primeiro lugar, esses aspectos, expressivos do propósito definido decada evangelho, são necessariamente omitidos ou pelo menos ignorados na tentativa de harmonizá-los. A seguir, o material nem sem

pre é arranjado cronologicamente, sendo na maioria das vezes agrupado de acordo com os assuntos. Mais importante ainda: não possuímos nada que se pareça com um registro completo e ordenadodas palavras e atos do Senhor Jesus (Jo 20:30, 31, 21:25), e cadaescritor foi evidentemente levado a fazer uma seleção segundoseu propósito específico. Não é como se os quatro evangelhosfossem escritos por uma única pessoa, pois nesse caso seria possí

vel considerar e comparar a substância de cada um, análise essaimpraticável em relação à obra de quatro pessoas diferentes. Istopode sugerir que seria sensato dar primeiramente atenção a todosos evangelhos de uma vez e não apenas a três deles. Nos pontosprincipais existe acordo substancial no sentido do ministério deCristo ter sido exercido primeiro na Judeia (Jo 1 a 4); depoisna Galiléia (maior parte de Mateus e Marcos); a seguir, novamente na Judéia, encerrando com a última semana em Jerusalém, naqual todos os quatro evangelhos se unem.

— W. H. Griffith Thomas

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O EVANGELHO SEGUNDO JOÃO (3)

Como já foi mencionado, muitas páginas poderiam ser escritas com louvores notáveis a este Evangelho Segundo João. ODr. H. R. Reynolds, do Cheshunt College, chamou-o de “o maismagnificente de todos os escritos bíblicos” . De Wette descreveu-o como “este evangelho terno, singular, verdadeiramente supre

mo”. O livro Christ o f the Logia  do E)r. A. T. Robertson, refere-se a ele como “a suprema obra literária ao mundo”.Por estranha ironia, aquele que mereceu os mais entusiásti

cos louvores provocou também as maiores controvérsias. Os conflitos mais severos entre os críticos do Novo Testamento se concentraram sobre ele e continuam ainda hoje. Nem mesmo o Pen-tateuco mostrou-se um campo de batalha mais feroz entre os eruditos rivais. A colisão entre as penas, cérebros, teorias e preconceitos desenvolveu-se de tal forma que não se pode acusar ninguémde excesso de imaginação por suspeitar nisso um estratagema dopróprio Satanás para obscurecer com a poeira do debate o esplendor deste precioso evangelho. No estudo que estamos fazendo,não é nosso intento alistar-nos nas fileiras dos combatentes. Paranós, o quarto evangelho é um documento autêntico e seu autorhumano é o apóstolo João.

Em nosso último estudo mencionamos que tudo neste evangelho de João está subordinado ao desenvolvimento de certasidéias repetidas.  Julgamos proveitoso examinar como elas foramreunidas desde o início, no prólogo, e depois desenvolvidas através dos capítulos subseqüentes.

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O Prólogo

O prólogo de João (1:1-18) é o núcleo principal do livro inteiro. Isto se evidencia de tal forma para o leitor comum, sem

idéias preconcebidas, que só podemos admirar-nos ao encontrarpríncipes entre os eruditos afirmando que “ele não faz parte dorestante do volume” e um crítico do nível de Harnack, na viradado século, considerando-o apenas um prefixo filosófico com o intuito de agradar um círculo mais erudito. O falecido Sir RobertAnderson tinha na verdade razão ao queixar-se de que os “ especialistas” são notoriamente pouco confiáveis quando se trata de avaliar evidência clara e geral! Existe um tipo refinado de erudiçãoque se perde de tal forma em minúcias técnicas que as palavras doantigo provérbio “ não podem ver a floresta por causa das árvores”se aplicam perfeitamente ao mesmo. O prólogo de João constituisem dúvida um molho de chaves que pode abrir tudo que se segue.

Existem no prólogo quatro designações do Senhor que imediatamente prendem nossa atenção: (1) o VERBO, (2) a VIDA,(3) a LUZ, (4), o FILHO. Duas delas declaram o seu relacionamen

to com Deus-Pai. As outras duas indicam atividade na direção dosseres humanos.

Em relação a Deus, o Pai, Ele é o VERBO eo FILHO. Essestermos são de um significado tão imenso que o pensamento humano não pode sondar as suas profundezas. Eles são, todavia, tantosignificativamente esclarecedores como impenetravelmente misteriosos. Têm como propósito dizer -nos algo — e o fazem.

Nosso Senhor é o VERBO, i.e. a expressão  de Deus, não sóem relação ao homem, não só a partir da antigüidade, mas antesde toda a criação (vs. 2, 3), fundamental, eterna e indivisivelmen-te. Ele não se achava simplesmente desde  o início, Ele já estava“no  princípio” (v. 1). Ele não estava apenas “com  Deus” ; Ele“era  Deus” (v. 1). Nenhum estratagema exegético pode ocultarrealmente a força das palavras gregas empregadas aqui, especialmente quando lidas adequadamente em seu contexto. Logos em

grego, traduzido aqui como “Verbo” , é mais completo do quequalquer palavra correspondente em português; todavia, mesmo onosso substantivo “ Verbo” é grandemente útil neste ponto. Damesma forma que uma palavra pode ser distingüida do pensamento que expressa (pois ambos não são idênticos), a Segunda

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Pessoa da Divindade pode ser também distingüida da Primeira. Co-mo não pode porém existir uma palavra em separado do pensa-mento por trás da mesma, também “Deus” e o “Verbo” não po-dem ser concebidos como tendo existido em momento algum se-

paradamente. Eles são distinguíveis, mas inseparáveis.Nosso Senhor é também o FILHO. O conceito de Logos em

relação a Theos é  transformado no do FILHO em relação ao Pai.  Tais comparações humanas não chegam necessariamente aos pésdessas realidadesprotótipo que elas buscam tornar humanamenteinteligíveis, todavia, mesmo assim, são bastante aproximadas. O Lo-gos está simplesmente “com"   Deus (v. 1), mas o F ilho está “no

seio”   do Pai (v. 18). Existe uma comunhão recíproca de amorimanente na Divindade; sendo esse um dos fundamentos, eternoscomo Deus, pois não pode existir paternidade eterna sem filiaçãoeterna.

Essas duas metáforas, o “Verbo” e o “F ilho”, suplementame protegem uma à outra. Tomadas separadamente, elas poderiamlevar pensadores diferentes a concepções muito diversas e igual-mente errôneas do Senhor; mas quande tomadas em conjunto, ca-da uma corrige o possível emprego incorreto da outra.

Pensar no Senhor apenas como o “Verbo” eterno poderiasugerir simplesmente uma qualidade ou faculdade impessoal deDeus. Pensar nEle como “ F ilho” apenas, poderia limitarnos fal-samente ao conceito de um ser pessoal, mas criado. Porém, os doistermos combinados asseguram ambos os aspectos da verdade paranós, e ao mesmo tempo nos livram de erros. Nosso Senhor e Salva-

dor, o segundo membro da Trindade é tanto eterno como pessoal.A seguir, em relação a nós, seres humanos, Ele é a VIDA e a

LUZ. Toda vida criada é uma derivação dEle, tanto física comopsíquica. DEle é irradiada toda verdadeira iluminação, tanto inte-lectual como espiritual (vs. 4, 9). Os dois termos implicam igual-mente na divindade do Senhor, como o fazem as metáforas “Ver-bo” e. “ F ilho”.

De fato, as duas designações, “Vida” e “Luz” correspondem a “Verbo” e “ F ilho”. Como o Verbo  Ele é o personificador, o re-velador, o iluminador, a Luz. Como o Fiiho Ele é o executivo pes-soal, avivador, comunicador, a Vida.  Em paralelo com essas, te-mos também as palavras “graça” e “verdade”, nos vs. 14 e 16. OSer Encarnado é “cheio de graça e verdade”, i.e., cheio de “graça”

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para remir o homem,  e cheio de “verdade” para revelar Deus.  Eleé o DeusHomem ReveladorRedentor.

Oh, nosso Salvador é de suprema transcendência! “O seu no-me será MARAVILHOSO”! Só neste primeiro capítulo são mencio-

nados nada menos do que oito títulos gloriosos envolvendo comoum diadema sua fronte divinohumana; oito nomes supremos queLhe pertencem absoluta e exclusivamente: o VERBO (v. 1), aVIDA (v. 4), a LUZ (v. 7), o FILHO (v. 18), o CORDEIRO (v.29), o MESSIAS (v. 41), o REI (v. 49), o FILHO DO HOMEM(v. 5!). ^ ^ ^

Logo de início, no prólogo, J oão reúne os principais aspectosque irá desenvolver nos capítulos seguintes: o “Verbo” (vs. 1, 14),a “Vida” (vs. 3, 4), a “ Luz” (vs. 5, 9), o “F ilho” (vs. 14, 18),“trevas” (v. 5), “testemunho” (vs. 7, 8, 15), “crer” (v. 7), “capaci-dade para ser” (v.J 2), “nascido de Deus” (v. 13), “cheio, plenitu-de” (vs. 14, 16). E bastante estranho o fato de alguém poder dei-xar de ver que este prólogo de J oão é o seu estribilho indicativode toda a composição. Essas dez ênfases se estendem por todo olivro, em cinco pares associados, e irão recompensar grandemen-

te um estudo detalhado:

1. O Verbo — tornandose carne como a verdade encarnada(1:1, 14, 17; 8:40; 14:6, “em verdade, em verdade,” etc.).

2. A Luz — brilhando nas trevas; “as trevas não a compreen-deram”; “os seus não o receberam” (3:19; 12:46, etc.).

3. A Vida — concedendo o novo nascimento e o “poder de

tornarse” (1:12, 13; 3:8, 15; 10:10, etc.).4. O Filho — chegando “cheio de graça” e compartilhando desua “plenitude” (1:14, 16, 33:4, 10; 14:27; 15:11, etc.).

5. Testemunho — para que todos “ possam crer"   (1:7, com re-petida freqüência) e “tenham vida”.

Há muito incentivo para que continuemos nossas pesquisas!O que podemos fazer neste curto esboço? Vamos tentar, emborabrevemente, examinar o último dos cinco, i.e., a idéia de vida pe-la fé.  Escolhemos este item porque entre os temas encadeados quepercorrem o livro é ele que contém o propósito principal de J oão(20:31).

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A Vida Eterna Através da Fé

 J oão afirma que seu propósito prático é o seguinte: “Para quecreiais que Jesus é o Cristo, o F ilho de Deus, e para que, crendo,tenhais vida  em seu nome” (20:31). Essa palavra “crer” ocorre emsuas várias formas 98 vezes; as palavras “vida” {zoe) e “viver” ( zaõ) 55 vezes. Quando selecionamos as principais referências à vidaeterna (1:4; 3:1416; 3:36; 4:1014; v. 2429; 6:3555; 8:12;10:28, 29; 11:25, 26; 17r3, etc.) descobrimos um indiscutível progresso de doutrina.  Cada nova referência revela uma outra verdadede forma tal que a transposição iria prejudicar a ordem. Não dize-mos que J oão tivesse feito esse arranjo conscientemente; mas hou-

ve uma orientação do alto.Comecemos com 1:4: “A vida estava nele, e a vida era a luz

dos homens”. A primeira coisa então é que esta vida está no F ilho,e que seu primeiro ato sobre a alma é conceder luz, a luz que reve-la as realidades espirituais, que “brilha nas trevas”, revelando o pe-cado humano e a verdade divina.

Segundo, em 3:1416 lemos: “E do modo por que Moisés le-

vantou a serpente no deserto, assim Lrriporta que o F ilho do ho-mem seja levantado, para que todo o que nele crê tenha a vidaeterna. Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seuFilho unigénito, para que todo o que nele crê não pereça, mas te-nha a vida eterna”. Aprendemos aqui que a vida nos é concedidapela fé na obra do Calvário, realizada pelo FilhoSalvador, e queela é eterna.

 Terceira, em 3:36 lemos: “Por isso quem crê no F ilho tem

a vida eterna; o que, todavia, se mantém rebelde contra o Filhonão verá a vida, mas sobre ele permanece a ira de Deus. A palavra“tem”  salta a nossos olhos aqui, dizendonos que esta vida eternaé uma posse presente  do cristão. Não há dúvida alguma; o trechonão diz “pode  ter”. Nem é apenas uma promessa para o futuro:pois a palavra “tem”  significa aqui e agora.

Quarto, em 4:14 J esus diz: “Aquele, porém, que beber da

água que eu lhe der, nunca mais terá sede, para sempre; pelo con-trário, a água que eu lhe der será nele uma fonte a jorrar para a vi-da eterna”. A vida neste ponto não é apenas uma posse presente,mas uma satisfação interior.  Quando bebemos, a água que dá vidase transforma em uma fonte dentro de nossa alma, sempre jorran-do, sempre saciando!

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Finalmente, no capítulo 17, ficamos sabendo qual o pontomáximo a respeito desta vida eterna. No v. 3 o Senhor diz: “Ea vida eterna é esta: que te conheçam a ti, o único Deus verdadei-ro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste”. Possuir J esus Cristo e ser

possuído por   Ele é encontrar Deus — e a verdadeira vida. Todos osque aceitam Cristo são levados a Ele pelo Pai. Esse chamado podeser desprezado, mas quando respondido pelo crente, passa a seruma dádiva do Pai ao Filho (J esus diz isso sete vezes neste capítu-lo). O v. 2 afirma que o Filho concede a vida eterna a “todos” da-dos pelo Pai “a Ele” ; e o ponto alto desta idéia está no v. 24:“Pai, a minha vontade é que onde eu estou, estejam também comi-go os que me deste, para que vejam a minha glória” . A vida eternaque os crentes possuem através do Salvador será então consuma-da numaglorificação celestial!

Não existe em tudo isto uma progressão sobrehumana derevelação? Em primeiro lugar vemos que esta vida está no F ilho,sendo uma luz que expõe o pecado e a escuridão. A seguir vemosque a vida é recebida pela fé nAquele que levou nossos pecadossobre Si no Calvário. Além disso, sucessivamente, ela é uma pos-

se, uma satisfação interior, uma isenção de juízo, uma promessade imortalidade do corpo; tem garantia de preservação eterna;aguarda a transfiguração no final dos tempos e será consumadaem glorificação celestial!

 J oão tem tudo isto em mente quando escreve ao términode seu evangelho: “Estes, porém, foram registrados para quecreiais que J esus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, 

tenhaisvida em seu nome”  

Quem pode avaliar tudo o que está en-volvido em tais imensidades? Quão simples, porém, é o caminho para esta vida eterna — “Creia”!

Oh, como difere das obras complexas do homem,O plano fácil, natural, sem tropeços do céu!Não há graças pérfidas e enganadoras,Nem ornamentos agrupados para servir de obstáculo;

Livre de ostentação e de fraquezas,Subsiste como o arco da cor do céu que vislumbramos, Majestoso em sua simplicidade.Inscritas por sobre o portal, desde longe Nítidas como uma estrela brilhante,

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Legíveis apenas pela luz que refletem, Acham-se as palavras que avivam a alma —

CREIA E VIVA!

O Verbo Encarnado — O Filho Unigénito

A partir do prólogo até ao epílogo observamos o desenvolvi-mento da apresentação de J esus como o Verbo encarnado e F ilhounigénito. Esta a glória central do Evangelho de J oão.

Embora abordemos apenas levemente o assunto aqui, pode-mos pelo menos indicar aspectos que convidam a novas pesquisas.Encontramos 23 vezes o significado “ Eu sou” do Senhor (4:

26; 6:20, 35, 41, 51; 8:12, 18, 24, 28, 58; 10:7, 9, 11, 14; 11:25;13:19, 14:6; 15:1, 5; 18:5, 6, 8). Escolhemos dentre esses os ver-sículos em que ele combina sucessivamente os seus “Eu sou” comsete impressionantes metáforas que expressam sua relação salvado-ra com a humanidade:

“EU SOU o Pão da Vida” (6:35, 41, 48, 51).“EU SOU a Luz do Mundo” (8:12).“ EU SOU a porta das ovelhas” (10:7, 9).“EU SOU o Bom Pastor” (10:11, 14).“EU SOU a Ressurreição e a Vida” (11:25).“EU SOU o Caminho, a Verdade e a Vida” (14:6).

“EU SOU a videira verdadeira” (15:1, 5).

A mensagem do Senhor foi fundamentalmente Ele mesmo. J esus não veio simplesmente pregar  um evangelho; Ele é o evange-lho. Ele não veio apenas dar  pão; J esus disse: “Eu sou o pão”.Nveio só irradiar  luz, pois afirmou: “Eu sou a luz”. Não mostrou mente a porta; Ele disse: “Eu sou a porta”. Não veio para nomear  

um pastor, mas disse: “ Eusou 

o pastor”. J esus não veio paraapon

tar  o caminho; Ele disse: “ Eu sou o caminho, a verdade e a vida”.Ele não veio simplesmente para plantar  uma vinha, pois declarou:“Eu sou a videira”.

Os outros  pronunciamentos “Eu sou” do Senhor parecemigualmente conter uma profunda implicação, embora mais latente

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plenitude é personificada,  a fim de poder ser transmitida. Duas linhas percorrem os capítulos seguintes: (1) plenitude de graça para restaurar;  (2) plenitude de verdade para revelar.  A primeiraocorre através de suas obras-, a segunda através de suas palavras.

Mas a característica para a qual chamamos atenção especialaqui é a de que a “plenitude” é atribuída ao Senhor depois de Eleter-se encarnado. Isto, portanto, é uma refutação imediata pelaBíblia da chamada teoria da “ kenosis” , a qual sugere que o Senhor

 “esvaziou-se” (Fp 2:7) praticamente até o ponto da falibilidadehumana comum.

O Cristo “ kenosis” dos críticos não é certamente o SenhorJESUS dos escritores dos evangelhos. Segundo o primeiro ponto

de vista, o conhecimento do Senhor era “adequado para o ensinodas doutrinas do seu reino, mas não se estendia às questões de erudição e crítica” . Para eles “ Jesus fala como qualquer outro homem”. Mas, segundo João e os sinóticos, não era absolutamenteassim.

Estamos nos referindo aqui apenas ao testemunho de João  ebem resumidamente; todavia, mesmo poucas referências já serão

suficientes. O terceiro capítulo imortal é introduzido com a explicação: “ Jesus... os conhecia a todos.  E não precisava de que alguém lhe desse testemunho a respeito do homem, porque ele mesmo sabia o que era a natureza humana"  (2:24, 25). Ele não só conhecia “ todos” os homens individualmente, mas a “ natureza”do homem constitucionalmente. O que era isso senão um conhecimento sobrenatural, excedendo todos os limites humanos?

Relembramos o episódio em que Ele conta à mulher de Si-car todo o seu passado; a cura do filho do oficial do rei feita àdistância de um dia de viagem; o fato de saber que Lázaro acabara de morrer, em Betânia, a cinqüenta milhas de distância; suainformação a dois dos discípulos de que encontrariam num certolugar um jumento amarrado, do qual precisava — isso sem mencionar outros incidentes.

Podemos lembrar também de alguns de seus pronunciamen

tos sobre a sua  própria pessoa-.  “ Antes que Abraão existisse, EUSOU” (8:58); “ Eu sou... A VERD AD E” (14:6); e profecias queprevêem o futuro próximo e distante (2:19; 3:14; v. 28; 12:32;14:3; 15:26; 16:1-4, etc.). Pensamos nessas coisas, além de muitasoutras evidências, e a conclusão inevitável se apresenta diante de

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nós, em lugar de um “esvaziar-se” até nosso simples nível humano,existe uma PLENITUDE sobrenatural.

Concedemos prontamente que o Senhor tenha suspendido aatividade  de seus atributos divinos em algumas direções durante

sua vida na terra; mas que Ele pudesse existir em separado delesé absolutamente inconcebível. Fazer com que a sua encarnação Oesvaziasse de seus atributos divinos não indicaria que “ o Verbo sefez carne”, mas que o VERBO morreu — uma idéia tão injuriosaquanto absurda.

O exórdio de João sobre a vinda do Verbo em carne é a Escritura interpretativa da passagem “ kenosis” de Paulo em Filipen-

ses. Os dois trechos devem ser estudados lado a lado. Não que hajaqualquer incerteza sobre a intenção de Paulo em Filipenses 2:5-8.A “ kenosis” ou auto-esvaziamento, está ligada apenas à “ forma’-’(morphê)  ou expressão, e não à distância (vs. 6, 7). Quando o Senhor “esvaziou-se” (ekenõsen)  com o propósito da encarnação,Ele separou-se da expressão pré-encarnada de Si mesmo, i.e., da “G LÓ R IA” que tinha com o Pai “ANTES QUE HOUVESSEMUNDO” (Jo 17:5).

Não podemos compreender o mistério dessa profunda transição em que Ele despiu-se dessa “glória” pré-cósmica, mas podemos compreender que Ele não quis e nem podia desligar-se daquilo que é  eternamente. Não nos é possível penetrar na dualidadepsíquica desse Deus-Homem, mas com as copiosas evidências diante de nós podemos aceitar racionalmente que o Ego era o LOGOSencarnado; que a natureza humana  incorporada é que foi dotada

sobrenaturalmente pelo Espírito, tornando-se assim a parte humana um perfeito veículo para o Ego Divino.Eleve novamente os olhos para o Cristo deste quarto evangelho.

Em lugar do simplesmente natural existe o sobrenatural   semprepresente. Em lugar de um “esvaziamento” vemos um enchimento infinito. Em oposição à “ kenosis” vemos um PLEROMA  divino —Aquele que é “ corporalmente toda a plenitude da divindade” (Cl2:9). Veja isso em todo o milagre — “ cheio de graça” . Ouça emtoda mensagem — “ cheio de verdade” . Siga essa linha de pensamento e passará a apreciar as palavras de João como nunca o fezantes — “Vejam a suaglória".

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Um Retrospecto Final

Ao terminamos os quatro evangelhos compreendemos nitidamente a insuficiência desses rápidos estudos; consolamo-nos, toda

via, com a idéia de que foram úteis para uma pesquisa e podemter indicado caminhos atraentes para outros estudos. Como vimos,cada um dos quatro evangelhos tem o seu aspecto ou ênfase distinto ao apresentar o Senhor Jesus. É importante destacar exces-. sivamente  as linhas demarcatórias; mas as ênfases respectivas estão certamente ali e é lamentável negligenciá-las, pois constroémum belíssimo conjunto de quatro faces. Agora que já passamos pe

los quatro, vamos fazer um retrospecto e focalizar claramente oesboço quádruplo:

Mateus O Prometido está aqui;

Oh, que maravilhoso Salvador! Como devemos dar-lhe valor,amá-lo, exaltá-lo, dar testemunho dele, e ansiar por aquele dia emque O veremos! Ele é a “ plenitude” de suprimento para todas as

nossas necessidades. A plenitude acha-se incorporada nEle, paraque possa ser transmitida a nós. “ Todos recebemos de sua plenitude” . Vamos manter-nos recebendo, pois Ele veio para que “ tenhamos vida... em abundância” (Jo 10:10).

Continuemos a servi-lo.  Suas palavras de despedida, no finaldo evangelho de João, nos deram as três qualificações vitais paraisto. Primeiro, “Tu me amas?” (21:15, 16, 17); segundo, “ Pastoreia as minhas ovelhas... Apascenta as minhas ovelhas” (15, 16);terceiro, “ Segue-me” (19, 22).

Essas são realmente as três qualidades essenciais — um amor  profundo por Ele, um senso de sua comissão para nós, e um seguir  dedicado, com os olhos postos sempre naquela belíssima esperança da qual Ele mesmo fala, exatamente na última sentença do

 João

Marcos

Lucas

veja as suas credenciais.Era assim que Ele operava: 

veja o seu poder.Ele tinha este aspecto;

veja a sua natureza.Este é quem Ele realmente era; 

veja a sua Divindade.