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E s p a n h o l F r a n c é s I n g l ê s P o r t u g u ê s 2 Tempo, fé e fósseis de baleias Pode a realidade ser entendida sem Deus? A ligação mente-corpo Eu sei em quem tenho crido Devo beber vinho para minha saúde? Volume16

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Page 1: 33126 Port 16.2 - Home :: Andrews University St. Peter’s Street, St. Albans, Herts., AL1 3EY Inglaterra Orville Woolford 71307.1432@compuserve.com REPRESENTANTES REGIONAIS Tempo,

E s p a n h o l • F r a n c é s • I n g l ê s • P o r t u g u ê s

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Tempo, fé e fósseis de baleiasPode a realidade ser entendida sem Deus? A ligação mente-corpoEu sei em quem tenho cridoDevo beber vinho para minha saúde?

Vo l u m e 1 6

Page 2: 33126 Port 16.2 - Home :: Andrews University St. Peter’s Street, St. Albans, Herts., AL1 3EY Inglaterra Orville Woolford 71307.1432@compuserve.com REPRESENTANTES REGIONAIS Tempo,

2 DIÁLOGO 16•2 2004

DIVISÃO ÁFRICA OCIDENTAL22 Boite Postale 1764, Abidjan 22, Cote d’IvoireJapheth L. [email protected]ÃO ÁSIA-PACIFICO NORTEKoyang IIsan, P.O. Box 43, 783 Janghang-Dong, Ilsan-Gu, Koyang City, Kyonggi-do 411-600, República da CoréiaDong Hee [email protected]ÃO ÁSIA-PACIFICO SULP.O. Box 040, Silang, Cavite, 4118 FilipinasGladden [email protected]ÃO CENTRO-L’ESTE AFRICANAP.O. Box 14756, Nairobi, KenyaHudson E. [email protected]ÃO DO SUL DO PACÍFICOLocked Bag 2014, Wahroonga, N.S.W. 2076, AustráliaGilbert [email protected] Barry [email protected]ÃO EURO-AFRICANAP.O. Box 219, 3000 Bern 32, SuiçaRoberto [email protected]ÃO EURO-ASIÁTICAKrasnoyarskaya Street 3, Golianovo, 107589 Moscow, Federação RussaHeriberto [email protected]ÃO INTERAMERICANAP.O. Box 140760, Miami, FL 33114-0760, EUA Carlos [email protected] Bernardo Rodrí[email protected]ÃO NORTE-AMERICANA12501 Old Columbia Pike, Silver Spring, MD 20904-6600, EUAMartin [email protected] Gerald [email protected]ÃO SUL-AFRICANA E OCEANO INDICOH.G. 100, Highlands, Harare, ZimbábueTommy [email protected]ÃO SUL-AMERICANACaixa Postal 02-2600, 70279-970 Brasília, DF, BrasilRoberto de [email protected] Carlos [email protected]ÃO SUL-ASIÁTICAP.O. Box 2, HCF Hosur, Tamil Nadu 635110, ÍndiaGordon [email protected]ÃO TRANS-EUROPÉIA119 St. Peter’s Street, St. Albans, Herts., AL1 3EY InglaterraOrville [email protected]

REPRESENTANTES REGIONAIS

Tempo, fé e fósseis de baleiasA ocorrência de fósseis bem preservados denuncia as sérias deficiências da hipótese de uma longa cronologia, comumente aceita pelos evolucionistas.Raúl Esperante

Pode a realidade ser entendida sem Deus? A pesquisa humana pode ter muitos contornos – entre o subjetivo e o real, o conhecido e o desconhecido, a mente e os sentidos – mas no final ela necessita postar-se reverentemente junto à cruz.Clifford Goldstein

A ligação mente-corpo: algumas descobertas recentesUma função holística e saudável é mais provável quando existe equilíbrio entre mente, corpo e espírito.Linda Caviness

Eu sei em quem tenho cridoComo podemos estar certos acerca do Deus a quem adoramos?Niels-Erik Andreasen

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ARTIGOS

CONTEÚDO

DEPARTAMENTOS

EDITORIALVocê é uma poesia em movimento! Humberto M. Rasi

CARTAS

PERFISRomualdo CostaHumberto M. Rasi Elaine KennedyKathy Ching

PONTO DE VISTAApaixonado pela PaixãoSamuele Bacchiocchi

A mesma história contada de modo diferenteAlberto R. Treiyer

FÓRUM ABERTODevo beber vinho para conservar minha saúde?Peter N. Landless

VIDA NO CAMPUSComo dar testemunho aos seus amigos muçulmanosBorge Schantz

LIVROSThe Essential Jesus (Ball and Johnsson)Roberto Badenas

A Search for Identity (Knight)Jean-Luc Rolland

Grace at 30,000 Feet and Other Unexpected Places (Hansen)Sylvia Rasi Gregorutti

PRIMEIRA PESSOARetornando de uma terra distante ao larBarry Gane

INTERCÂMBIO

LOGOSPortas fechadas ou abertas?Reuel U. Almocera

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3DIÁLOGO 16•2 2004

Conta-se que antes de começar um importante trabalho, o grande escultor, pintor, arquiteto e poeta Michelangelo viajou para as pedreiras da cidade de Carrara, situada a noroeste da Itália, e escolheu pessoalmente o bloco de mármore no qual iria realizar uma obra de arte. Enquanto supervisionava pessoalmente o trabalhoso transporte do bloco branco até seu estúdio, projetava em sua mente os contornos da estátua que seu cinzel iria esculpir.

Séculos antes, em sua epístola aos crentes de Éfeso, o apóstolo Paulo escreveu uma poderosa passagem concernente à obra criativa de Deus na vida do cristão: “Porque somos criação de Deus realizada em Cristo Jesus para fazermos boas obras, as quais Deus preparou antes para nós as praticarmos.” (Efésios 2:10, NVI). Significativamente, a palavra grega original para “artesanato” é poieo. Este termo se refere à criação de um artista talentoso. Em realidade, a frase-chave nessa passagem poderia ser traduzida como: “Nós somos o poema de Deus”. Pense nisso!

Não há ninguém exatamente como você. Bem no início, os seres humanos foram trazidos à existência mediante um ato criativo de Deus — não como resultado de uma fortuita interação de forças naturais. Cada um de nós é inigualável e, apesar de nossa condição pecaminosa, ainda portamos a imagem dAquele que nos fez. Quando vamos a Deus em busca de perdão e de uma nova vida mediante Jesus, Ele nos recria, transformando nossa vontade, afeições e propósitos. Essa miraculosa mudança é graciosamente oferecida e, de modo semelhante, tem de ser livremente aceita. Assim como Deus nos estende Sua misericordiosa mão, precisamos apegar-nos a ela a fim de sermos erguidos.

Deus preparou as boas obras para fazermos. Uma vez que experimentemos o novo nascimento em Cristo, somos capacitados a fazer o bem. Paulo se expressa com meridiana clareza explicando que nossas boas obras não são meios de conseguirmos a salvação, mas o resultado natural de havermos sido salvos. Como a roseira produz rosas e a macieira maçãs, as ações altruístas são uma conseqüência natural da vida de um cristão renascido. O Artista-Mestre nos recriou com um propósito — para plane-jar e agir em benefício de outrem. E Deus é quem proporciona oportunidades e nos motiva a usar nossos talentos, habilidades e dons para esse fim.

Podemos escolher fazer o bem. Em tudo isso, Deus respeita nossa individuali-dade e vontade. Ele não Se impõe e nem impinge Seus planos sobre nós, mas gra-ciosamente convida-nos a nos tornarmos Suas mãos e pés — Seus instrumentos de misericórdia no mundo. O Espírito Santo nos move à ação. Nossas palavras positivas podem transformar a tensa atmosfera de um escritório.

Nosso interesse pode transformar a exacerbada competitividade de uma sala de aulas. Nossas ações de amor podem transformar e reunir amigos e famílias separados. Realmente, “o mais forte argumento em prol do evangelho é um cristão que sabe amar e é amável” (Ellen G. White, A Ciência do Bom Viver, p. 470).

O Artista-Mestre já agiu. A cena já está montada. Diariamente, as oportunidades de fazer o bem acham-se disponíveis ao nosso redor. Gostaríamos, você e eu, de optar por atuar agora como novas criaturas Suas, em todos os lugares onde nos encontrar-mos?

Humberto M. RasiEditor-chefe

EDITORIALVocê é uma poesia em movimento!

Esta revista internacional de fé, pensamento e ação, é publicada três vezes por ano em quatro edições paralelas (espanhol, francês, inglês e português) sob o patrocínio da Comissão de Apoio a Universitários e Profissionais Adventistas (CAUPA), organismo da Associação Geral dos Adventistas do Sétimo Dia.

Volume 16, Número 2.Copyright © 2004 pela CAUPA. Todos os direitos reservados.

Diálogo afirma as crenças fundamentais da Igreja Adventista do Sétimo Dia e apóia sua missão. Os pontos de vista publicados na revista, entretanto, representam o pensamento independente dos autores.

Equipe EditorialEditor-chefe Humberto M. RasiEditor John M. FowlerEditores-Associados Martin Feldbush, Alfredo

García-MarenkoGerente Editorial Julieta RasiSecretária Editorial Esther RodriguezEdições Internacionais Julieta Rasi Secretárias editoriais internacionais Corinne Hauchecorne (Francês) César Luis Pagani (Português) Julieta Rasi (Espanhol)

Correspondência EditorialDiálogo12501 Old Columbia PikeSilver Spring, MD 20904-6600; EUA.Telefone 301 680-5060Fax 301 622-9627E-mail [email protected] [email protected]

Comissão (CAUPA)Presidente Gerry KarstVice-Presidentes C. Garland Dulan, Martin

Feldbush, Baraka G. MugandaSecretário Humberto M. RasiMembros John M. Fowler, Jonathan Gallagher, Alfredo García-Marenko, Clifford Goldstein, Bettina Krause, Kathleen Kuntaraf, Vernon B. Parmenter, Gerhard Pfandl, Gary B. Swanson

Correspondência sobre circulação Deve ser dirigida ao Representante Regional da CAUPA na região em que reside o leitor. Os nomes e endereços destes representantes encontram-se na p. 2.

Assinaturas US$13.00 por ano (três números, via aérea). Ver cupom na p. 6 para detalhes.

Website http://dialogue.adventist.org

DIÁLOGO tem recebido correspondência de leitores de 117 países ao redor do mundo.

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4 DIÁLOGO 16•2 2004

CARTASTornando-se mais interessante

Em nome de todos os membros da Associação Nigeriana de Estudantes Adventistas (NAAS), desejo expressar nossa gratidão aos editores da Diálogo. Sempre que me encontro com os colegas da universidade, ouço palavras elogio-sas sobre o conteúdo dessa revista. “A Diálogo contribui para o meu crescimen-to espiritual”, declarou um deles. “Minha relação com meu cônjuge está melhoran-do, graças a um dos artigos publicados na revista”, observou outro. “Viva a Diálogo! Parece que esse periódico está se tornan-do mais interessante a cada nova edição”, foi outro comentário.

Embora ainda não tenhamos recebido todos os exemplares que necessitamos, creio que Deus está utilizando a Diálogo para atender as necessidades intelectuais e espirituais dos estudantes universitários adventistas.

Sati Satmer Dapel Presidente nacional da NAAS NIGÉ[email protected]

Lendo revistas emprestadas Durante meu mestrado numa univer-

sidade pública das Filipinas, li exemplares da Diálogo emprestados de amigos, que também os haviam pedido emprestados de outros. Como poucos exemplares da

revista chegam até nós, consideramo-los assim muito valiosos. Os artigos contri-buem muito para o crescimento espiritual de estudantes como eu; eles são uma ver-dadeira bênção.

Arvel L. Huilar Iligan City FILIPINAS [email protected]

Justamente o que eu estava procurando

Sou estudante de contabilidade de uma universidade pública e durante uma convenção de jovens recebi um exemplar da Diálogo. Que surpresa agradável! Os assuntos abordados, as histórias pessoais e a possibilidade de intercomunicação com outros estudantes universitários adven-tistas eram justamente o que eu estava procurando. Obrigado!

Flor Elena López Universidad Veracruzana Veracruz, MÉXICO, [email protected]

Encorajado a viver e compartilhar minha fé

Há ocasiões em que me sinto quase esmagado pelas filosofias seculares e naturalistas apresentadas por muitos de meus professores e colegas estudantes, na universidade pública onde estou cursando Geografia. Mas quando recebo a Diálogo

leio seus estimulantes artigos, entrevistas e testemunhos pessoais e me sinto enco-rajado a viver e compartilhar minha fé. Onde posso conseguir edições anteriores da revista?

Anderson Luiz Marotti Universidade Estadual de Maringá BRASIL [email protected]

Os editores respondem:Obrigado, Anderson, por seus comentá-

rios positivos. Você pode agora mesmo ler os melhores artigos da Diálogo, acessando seu site na Internet: http://dialogue.adventist.org. Aproveite!

Artigos úteis Vocês devem ser parabenizados pelos

artigos úteis que selecionam para publica-ção na Diálogo. Juntamente com alguns de meus colegas da faculdade, organi-zamos uma associação de estudantes adventistas desta universidade pública. Mediante campanha de evangelismo público no campus, fazemos contato com estudantes interessados em estudar a Bíblia. Também partilhamos com eles alguns dos excelentes artigos contidos na Diálogo.

Daniel Mendoza Universidad Federico Villarreal Lima, PERU, [email protected]

“Eu estava fugindo do pecado. I Timóteo 6:11”

Escreva-nos!Recebemos seus comentários, reações e perguntas, mas, por favor, limite suas cartas a 200 palavras. Escreva para

DIALOGUE LETTERS12501 Old Columbia PikeSilver Spring MD 20904EUA.

FAX 301 622 9627 EMAIL [email protected]

As cartas selecionadas para publicação podem ser editadas para maior clareza ou necessidade de espaço.

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5DIÁLOGO 16•2 2004

O tempo tem sido um assunto importante na maioria das contro-vérsias relacionadas à fé e à ciência, desde que, no princípio do século XIX, foram propostos os primeiros modelos não-bíblicos para a origem da Terra. Geólogos e naturalistas como Hutton, Lyell e outros divisavam longos períodos de tempo em muitas características do registro geológico, incluindo o resfria-mento das rochas ígneas, a deposição das camadas sedimentares e a sucessão da flora e da fauna em tempos passados. Darwin e Wallace foram aparentemente bem-sucedidos em conectar as linhagens evolutivas de organismos a longos perío-dos de tempo, durante os quais a morte do mais fraco e a sobrevivência do mais apto abriram caminho para organismos mais complexos, intrincados e adapta-dos. Se as alterações (tanto no âmbito biológico como no geológico) ocorreram segundo a velocidade que presenciamos hoje, então a Terra e a vida devem ser muito antigas para que as mudanças acumuladas produzissem novas formas. Esse círculo vicioso é reiterado na breve sentença: “O presente é a chave para o passado”. As longas eras foram apoiadas posteriormente pelo desenvolvimento de técnicas radiométricas, em meados do século XX, que permitiram o cálculo de taxas de desintegração dos elementos instáveis presentes nas rochas ígneas.

Uma imensidade de tempo?Nas últimas cinco décadas foram apri-

moradas diversas técnicas, as quais resul-taram em idades consistentes de cen-tenas de milhares ou milhões de anos. O Carbono 14 (C-14) é amplamente

conhecido no levantamento de idades que vão desde centenas até 50.000 anos, apesar de ser altamente discutida a validade da precisão de datas mais remotas. Séries de elementos instáveis e seus derivados tais como K/Ar (Potássio/Argônio), U/Pb (Urânio/Chumbo) e Rb/Sr (Rubídio/Estrôncio) são comu-mente utilizadas na datação de rochas mais antigas e seus fósseis.

A datação radiométrica é um pro-blema para quem acredita no relato de Gênesis da criação, porque ela ajusta o relógio para muito antes do tempo registrado nas genealogias de Gênesis 5 e 11, bem como nas declarações de Ellen White, que indicam que a huma-nidade existe na Terra há cerca de 6.000 anos. De fato, a datação radiométrica é o principal desafio que os criacionistas partidários da posição de uma Terra jovem enfrentam como cientistas, e muitos crêem que a evidência científica é forte o suficiente para desafiar a vali-dade das afirmações bíblicas relativas à Criação e, portanto, escolhem acreditar em modelos alternativos como a criação progressiva ou a evolução teísta.1 Muitos vão além e questionam a validade das declarações do Novo Testamento sobre a Criação, incluindo as do próprio Jesus, de Paulo e Pedro.

Apesar das datas radiométricas serem comumente aceitas pelos geólogos como confiáveis em toda a coluna geológica das bacias oceânicas e dos continentes, também é verdade que às vezes elas são inconsistentes com outras evidências geológicas e paleontológicas. Os inter-valos de tempo obtidos mediante o uso de isótopos instáveis podem ser muito maiores do que o tempo real necessário para a deposição dos leitos sedimentares ou para a formação e preservação dos fósseis. As camadas sedimentares que indicam a rápida deposição de sedimen-tos e fósseis de tartarugas na Formação Bridger, no Wyoming, EUA, são um exemplo desse fato. Supõe-se que essas tartarugas foram acumuladas e sepul-tadas ao longo de enormes períodos de

tempo, num ambiente lacustre afetado por ocasionais precipitações de cinza vulcânica. Entretanto, pesquisas efetua-das pelo paleontólogo Leonard Brand e outros, da Universidade de Loma Linda, mostraram que provavelmente as tarta-rugas foram soterradas rapidamente por enchentes e cinzas vulcânicas, em curto espaço de tempo.2

Tempo para as baleiasOutro exemplo disso é a presença de

baleias fósseis em vasas diatomáceas e arenitos da Formação Pisco, no Sul do Peru. Nela foram descobertos milhares de cetáceos fósseis em camadas sedimen-tares jacentes numa antiga enseada mari-nha de baixa profundidade, localizada a cerca de 30 quilômetros do litoral. Esses fósseis estão sendo estudados por uma equipe multidisciplinar de geólogos e paleontólogos dos EUA, da Espanha,

A ocorrência de fósseis bem preservados denuncia as sérias deficiências da hipótese de uma longa cro-nologia, comumente aceita pelos evolucionistas.

Raúl Esperante

Tempo, fé e fósseis de baleias

Baleia WCBa-20. Esta baleia foi pre-servada quase que inteiramente e bem articulada (faltam apenas alguns pou-cos ossos). As barbatanas (não visíveis na figura) foram preservadas sobre o membro esquerdo.

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6 DIÁLOGO 16•2 2004

Peru e Itália, que descobriu múltiplas camadas de fósseis bem preservados de barbatanas de baleias, golfinhos, leões marinhos, tartarugas, pingüins e outras criaturas.

As baleias são mamíferos marinhos que respiram e nadam ativamente, e possuem alto conteúdo de gordura. Quando uma baleia morre, seu corpo pode afundar imediatamente (no caso de espécies detentoras de menor teor gorduroso) ou flutuar durante certo tempo (espécies com alto teor gordu-roso), submergindo depois até o solo oceânico. Logo após sua morte, inicia-se a decomposição bacteriana e a ação dos necrófagos na carcaça, removendo a carne e a gordura até que os ossos fiquem expostos. Esses processos podem prolongar-se por vários meses, depen-dendo do tamanho da baleia e de seu volume de gordura. Uma característica particular de muitas baleias é que os seus ossos são ricos em gordura (o que ajuda na flutuabilidade do cetáceo), e que essa gordura (também chamada de graxa) ainda permanece como fonte alimentar por muito tempo após a carne ter sido removida dos ossos. Observações atuais

de esqueletos de baleias existentes no solo oceânico mostram que eles são colonizados por abundante e diversi-ficada comunidade de invertebrados incrustados, como mariscos, caramujos, vermes, crustáceos, que se fixam sobre os ossos e também no solo oceânico adja-cente. Acredita-se que esses esqueletos submersos podem abrigar durante mui-tos anos uma grande comunidade de pequenos invertebrados marinhos.3 Os ossos dessas baleias usualmente encon-tram-se corroídos, desarticulados e, às vezes, deslocados pela ação de correntes marinhas ou de necrófagos. Se o esque-leto for arrastado para a praia, é provável que os ossos sejam bastante dispersos pela ação das ondas e das tempestades.

Em comparação com os exemplos atuais, o que vemos nas baleias fósseis da Formação Pisco é um quadro diferente, embora com algumas similaridades. Alguns esqueletos aparecem parcial ou totalmente desarticulados, como aconte-ce com os modernos espécimes, mas os ossos se apresentam associados e agru-pados, indicando ter ocorrido pequena perturbação no arcabouço ósseo após o soterramento. Os esqueletos, em grande

número, encontram-se inteiramente articulados, com os ossos na posição que tinham quando em vida. Essa carac-terística indica claramente um rápido sepultamento. Caso os sedimentos tives-sem sido depositados no solo oceânico de águas rasas (profundidades menores que 100 metros) durante muitos anos, moluscos, crustáceos e vermes em quan-tidade teriam perfurado os ossos na tentativa de se alimentarem da gordura interna. As correntes marítimas também poderiam ter movido alguns ossos. Em vez disso, a preservação dos ossos é exce-lente, sem quaisquer evidências de danos causados por correntes marinhas, perfu-ração ou necrofagia por invertebrados. Além do mais, não existem evidências de quaisquer invertebrados sepultados junto com os ossos das baleias. Parece não ter havido tempo para que os inver-tebrados colonizassem os ossos frescos e deixassem neles suas marcas.

Ainda mais impressionante é a pre-servação das barbatanas (o dispositivo de filtragem) e, em alguns casos, a mineralização da medula espinhal, pois ambas são tecidos moles que tendem a se destacar e degradar muito mais rapi-damente que os ossos. As barbatanas são constituídas de queratina (o mesmo tipo de proteína insolúvel que compõe o cabelo humano e suas unhas), e não se enraízam nas mandíbulas da baleia, estando apenas aderidas a elas através da gengiva. Sabe-se mediante as observa-ções atuais que as barbatanas se desta-cam da mandíbula superior em questão de poucas horas ou dias após a morte, tornando extremamente improvável a preservação do esqueleto juntamente com o dispositivo de filtragem, a não ser que ocorra sedimentação muito rápida. Surpreendentemente, numerosas baleias fósseis foram encontradas na Formação Pisco, com suas barbatanas preservadas e muitas delas conservando o dispositivo de filtragem na posição que tinham em vida. Essas características das baleias fós-seis sugerem sepultamento e fossilização rápidos.

Várias outras linhas de evidências sugerem que as taxas de sedimentação

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7DIÁLOGO 16•2 2004

na Formação Pisco foram muito maiores do que as observadas em qualquer local nos tempos atuais, e consideravelmente maiores do que as inferidas a partir da datação radiométrica disponível para aquele local.4 As datações radiométricas obtidas com isótopos K-Ar indicam um intervalo entre 10 e 12 milhões de anos para a sedimentação dos depósitos que contêm baleias, as quais apresen-tam espessura de até 1.000 metros.5 Calculando-se 10 milhões de anos para a deposição de uma seqüência total de 500 metros de espessura, seriam neces-sários 20.000 anos para acumular um metro de espessura de sedimentos sobre o piso oceânico local. Estudos efetuados em vários ambientes oceânicos indicam que as atuais taxas de deposição de sedi-mentos similares aos da Formação Pisco, situam-se no intervalo entre 2 a 260 centímetros para cada 1.000 anos (com médias entre 15 a 50cm/1.000 anos, e 2 a 16 cm/1.000 anos para a plataforma marinha peruana), que estão acima da ordem de grandeza apurada pelas medi-ções mediante radiometria.

Portanto, mesmo com uma taxa média anual de sedimentação de 40cm/1.000 anos, levaria um milênio para soterrar completamente um com-pacto esqueleto de baleia com 40cm de altura, e evitar qualquer desarticulação ou deterioração óssea originada da ação de correntes marinhas, necrófagos ou reações químicas. Não parece razoável pensar que um grande esqueleto pudesse repousar num piso oceânico de águas rasas durante tantos séculos, sem ter sido perturbado por agentes físicos e biológi-cos causadores de desarticulação, perfu-ração e remoção dos ossos. Mesmo que os ossos e a barbatana tivessem sofrido mineralização rápida após a morte do animal, é improvável que sua carcaça durasse tanto tempo sem qualquer dete-rioração, e a barbatana se conservasse na posição que tinha quando o animal vivia.

A implicação dos valores das taxas de deposição de sedimentos finos sobre o leito oceânico é dupla. Por um lado, a excelente preservação das baleias fósseis

indica que, na Bacia Pisco, os sedimen-tos acumularam-se muito mais rapida-mente no passado do que no presente, sob características geológicas semelhan-tes (como as águas rasas oceânicas ao longo da costa peruana, que é um bom exemplo dessa espécie de ambiente sedi-mentar). Certamente os sedimentos con-tendo fósseis de baleias devem ter sido depositados muito rapidamente. Quanto mais esse tipo de evidência se acumula, maior o questionamento da datação radiométrica, pois não existe suficiente atividade sedimentar para preencher um período de tempo tão extenso.

Por outro lado, a existência desses fós-seis bem preservados traz à luz as sérias deficiências da hipótese comumente aceita pelos geólogos evolucionistas, de que “o presente é a chave para o pas-sado”. Se, como vimos com as baleias atuais, a taxa com que ocorrem os pro-cessos hoje (isto é, a sedimentação e o sepultamento em oceanos e lagos) não explica satisfatoriamente o fato dos fós-seis estarem bem preservados, temos de concluir que, de algum modo, o passado deve ter sido muito diferente.

Mais pesquisas e estudos são necessá-rios para averiguar por que os métodos de datação radiométrica indicam idades muito antigas, em oposição às rápidas mudanças catastróficas inferidas das muitas características paleontológicas. A geologia evolucionista atual explica o registro fóssil como resultado de pro-cessos e mudanças lentas ocorrendo ao longo de extensos períodos de tempo. Entretanto, um crescente número de formações rochosas e ocorrências de

fósseis anteriormente explicadas em con-formidade com essa estrutura conceitual evolucionista, deve ser reinterpretada como resultado de processos rápidos e até catastróficos, operantes numa escala de tempo diferente.

As coisas podem ter sido diferentes no passado.

REFERÊNCIAS 1. Esses dois modelos são, de fato, similares em

suas pressuposições. Enquanto os evolucionistas teístas acreditam que Deus criou as primeiras moléculas orgânicas, as células, ou os organismos simples, deixando-os evoluir naturalmente para se tornarem seres mais complexos, os criacionis-tas progressivos sugerem que Deus esteve ativo criando novas formas de vida através dessa longa trajetória evolutiva.

2. Leonard R. Brand, 2003. Personal communica-tion.

3. P. A. Allison, C. R. Smith, H. Kukert, J. W. Deming, e B. A. Bennett, “Deep-water Taphonomy of Vertebrate Carcasses: A Whale Skeleton in the Bathyal Santa Catalina Basin,” Paleobiology 17 (1991), pp. 78-89.

4. L. R. Brand, R. Esperante, C. Carvajal, A. Chadwick, O. Poma e M. Alomia, “Fossil Whale Preservation Implies High Diatom Accumulation Rate, Miocene/Pliocene Pisco Formation, Peru”, Geology 32 (2004) 2:165-168.

5. R. B. Dunbar, R. C. Marty, e P. A. Baker, “Cenozoic Marine Sedimentation in the Sechura and Pisco Basins, Peru”, Palaeogeography, Palaeoclimatology, Palaeoecology 77 (1990), pp. 235-261.

Raúl Esperante (Ph.D. pela Loma Linda University) é paleontólogo do Geoscience Research Institute, em Loma Linda, Califórnia, EUA. E-mail: [email protected]

O autor posando ao lado da baleia WCBa-23.

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8 DIÁLOGO 16•2 2004

Pode a realidade ser entendida sem Deus? Clifford Goldstein

“O mundo”, disse Arthur Schopenhauer, “é minha idéia”.1

Se esta é a idéia de Schopenhauer, também é a sua e a de seu mais feroz adversário. O que cada um conhece, de acordo com Schopenhauer, “não é o sol e nem a terra, mas só um olho que vê o sol, a mão que sente a terra; o mundo que cerca a pessoa está ali apenas como idéia, — isto é, apenas em relação a outra coisa, quem concebe a idéia, que é a própria pessoa.”2 Pelo fato de ser-mos diferentes olhos, mãos diferentes, diferentes consciências, conhecemos sóis diferentes e terras diferentes. Se o mundo é uma idéia, trata-se de uma idéia diferente para cada um de nós.

Essa questão sobre o que é real em oposição ao que é percebido estende-se até a caverna de Platão, àquela poeiren-ta e velha cova na qual todos os seres humanos eram acorrentados com as faces voltadas para a parede; assim toda a realidade chegava até eles como nada mais que sombras projetadas contra a parede por um fogo brilhando às suas costas.

Somente através da educação racional e filosófica, argumentava Platão, poderia alguém escapar da caverna e subir até o mundo da luz solar, isto é, perceber a realidade como ela verdadeiramente é. A despeito de a metáfora de Platão ser apropriada (ou rude), o que aconteceria realmente se pudéssemos escapulir e pôr de lado as aparências, as sensações e os fenômenos, explorando a realidade como ela é em si mesma, sem os inatos

A pesquisa humana pode ter muitos contornos – entre o subjetivo e o real, o conhecido e o desconhe-cido, a mente e os sentidos – mas no final ela necessita postar-se reverentemente junto à cruz.

filtros humanos que a colorem e acon-dicionam para nós como aparências e fenômenos —o que teríamos? Que aparência, sensação, odor e gosto tem uma coisa por si mesma ilusória? Tudo o que conhecemos da realidade, mesmo daquela que procede tão-somente da pura razão, chega até nós através de processos neuro-eletroquímicos, que chispam silenciosamente dentro de uma escuridão empapada, coberta por pele e crânio.

Mesmo que fosse possível evadir-se à aparência, superá-la e penetrá-la para perceber a realidade, como poderíamos alcançá-la com outra coisa que não os sentidos — e os sentidos, de qualquer tipo, sempre têm um viés e limites pre-estabelecidos? Quaisquer que sejam os sensores que nos conectam ao que está fora de nós, quaisquer que sejam os dis-positivos que nos ligam ao mundo, cada um tem seu próprio foco, inclinação e limites. Combinações diferentes criam diferentes realidades. Como pode, então, ser a realidade algo mais que os subjeti-vos e limitados sentidos que a percebem — o que significa, então, que a realidade teria de estar toda em nossas cabeças e em nenhuma outra parte.

Realidade e mente divinaSe tão-somente houvesse um Ser,

alguma mente divina que pudesse ver todas as coisas a partir de todas as pers-pectivas possíveis e todas as possíveis posições ao mesmo tempo, poder-se-ia dizer que existe uma realidade objetiva? Poderia — como argumentou o Bispo George Berkeley — algo ser realmente novo, isto é, ter características inatas ou qualidades não dependentes, em termos finais, de uma mente que as percebe em função daquilo que são suas carac-terísticas ou qualidades (quente, frio, vermelho, amarelo, doce, amargo, duro, macio), que não sejam as impressões dos sentidos? Como as impressões sensitivas podem existir sem a mente que as perce-ba? Como pode haver dor sem nervos, ou gosto sem paladar? Sem a Mente divina, será que faz sentido até mesmo falar sobre o que verdadeiramente está

lá fora? Até porque, de todos os modos, o que está lá fora são apenas impressões sensoriais subjetivas, flutuantes e fre-qüentemente enganosas — e nada além disso?

Pode haver verdadeira moralidade (ou verdadeira realidade), se toda moralida-de (ou realidade) existe só em termos de reações eletroquímicas em mentes subjetivas? Temos a intuição de que a moralidade existe independentemente de nós; de outro modo, como pode ser imoral o assassinato de bebês — por serem eles de origem judaica — se cada mente humana pensa de modo diferen-te? Intuímos, mais ainda, que a realidade existe independentemente das mentes. Por acaso é o Monte Everest inexistente porque as mentes não o percebem? Mas como os absolutos morais e ontológicos podem existir, se tanto a moralidade quanto a existência só são encontradas nas mentes, e não fora delas?

As implicações destas questões têm sido debatidas durante séculos. O empi-rista britânico, John Locke, argumentou que se o conhecimento humano só surge da experiência, como podemos, então, conhecer algo por mesmos? O conhe-cimento não pode ir além da experiên-cia. Nada existe no intelecto, escreveu Locke, que não estivesse primeiro nos sentidos, e em virtude de que o que se encontra nos sentidos é sempre limita-do, contingente e em fluxo, possuímos pouco conhecimento real do mundo.

Promovendo ainda mais suas pró-prias pressuposições empiristas, George Berkeley articulou sua famosa fórmula esse est percipi (“ser é ser percebido”), reivindicando que os atributos e carac-terísticas das coisas, até mesmo em suas mais primitivas qualidades (tais como extensão), não possuem existência fora da mente, e que apenas daquilo que é percebido como objeto, pode-se dizer que existe. “Pois o que são os objetos supracitados [casas, montanhas, rios], senão coisas que percebemos pelos sentidos?” — ele escreveu — e o que percebemos, além de nossas próprias idéias ou sensações? E não é francamen-te repugnante que qualquer um deles

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— ou combinação deles — possa existir sem ser percebido?”3. Em virtude de a realidade se nos apresentar apenas como sensação, não existe sensação (e conse-qüentemente nenhuma realidade) sem percepção. O Bispo Berkeley não estava negando que as coisas estão lá; dizia ele, antes, que quando se diz que algo “exis-te”, isso apenas significa que este algo é percebido pela mente.

Kant: noumenon e phenomenon Assumindo a realidade das propo-

sições sintéticas apriorísticas, sobre as quais fundamentou sua revolucionária filosofia, Immanuel Kant argumentava que a própria mente comstrói a realida-de. Não que ela a crie, mas que — devi-do a estruturas preexistentes em seu interior — sintetiza e unifica a realidade, não de acordo com o mundo real, e sim de acordo com cada mente. A mente se impõe sobre o mundo, que aparece apenas como organizado, filtrado e cate-gorizado por ela. A mente não se con-forma ao mundo; o mundo se conforma à mente. Nossos cérebros não mudam o mundo tal como ele é (Kant escreveu isso muito tempo antes da revolução do quantum), mas o mundo tal como é chega até nós apenas quando nosso cére-bro o permite.

Uma pessoa que olha para uma montanha através de binóculos verá algo diferente de alguém que a observa através de um microscópio. A montanha está lá, sem dúvida; o que vemos depen-de do fato de nossa mente trabalhar como um microscópio, como binóculos ou como um par de olhos humanos. Em oposição aos idealistas fenomenalistas (como Johann Gottlieb Fichte), que des-cartavam toda a realidade exceto aquela existente em nossa mente, Kant não rejeitou o noumenon, isto é, a realidade independente da cognição humana. O phenomenon (o modo como a realidade se apresenta a nós) não pode existir sem o noumenon (o modo como a realida-de efetivamente é), mais do que a dor pode existir sem os nervos. O que Kant afirma, de fato, é que nunca podemos conhecer o noumenon, o mundo real,

pelo que ele é em si mesmo. Uma impe-netrável escuridão separa aquilo que de fato está ali, daquilo que finalmente aparece como realidade em nossa cons-ciência.

Nenhum desses filósofos e nenhuma de suas filosofias têm ficado sem contes-tação. Não obstante, é difícil argumentar contra o ponto básico: os limites do conhecimento, especialmente o conhe-cimento obtido somente através da per-cepção sensorial.

O ponto de vista de Platão é que a realidade não pode ser medida e julgada apenas pelos padrões humanos, porque pessoas diferentes mensuram e julgam diferentemente — e mesmo contradito-riamente — a realidade. O argumento de que não há nenhuma realidade objetiva à parte dos sentidos — embora defensável com alguma lógica e rigor racional — permanece intuitivamente não convincente, particularmente para alguém que sobreviveu por pouco ao passar de cabeça e corpo por um pára-brisas. Tal pessoa conhece algo real, sólido, objetivo e existente fora de si mesma.

Da caverna de Platão para o lance epistemológico de Kant, a questão per-manece: O que mais existe lá fora? Que movimentos e vidas mais existem através do espaço entre o espectro estreito e fini-to das aparências formadas nas mentes humanas, e o espectro amplo e infinito do real? Tal como os ultra-sons que somente o ouvido de um cão pode cap-tar, ou sons e partículas tão reais quanto as bolas de futebol e as cantatas de Bach, que mais existe como noumenon, que podemos tocar, ver, sentir ou intuir?

Dimensões além do espaço e do tempo

Os cientistas falam de outras dimen-sões além do espaço-tempo; alguns ramos da física demandam a sua exis-tência (a teoria do superstring estabelece, ao menos, 10 dimensões). Alguns mate-máticos argumentam que esses números existem numa “realidade independente”, distinta de nosso mundo, o da percep-ção sensorial. Outros defendem que o

sobrenatural, o oculto, o reino de fé, dos anjos, do preternatural, e o reino do bem e do mal, à parte das contingências e das limitações da humanidade, exis-tem no noumenon. O autor do livro de Hebreus, em o Novo Testamento, escreveu que “as coisas que são vistas não foram feitas de coisas aparentes” (Hebreus 11:3, versão King James). O apóstolo Paulo falou sobre realidades “nos céus e sobre a Terra, as visíveis e as invisíveis” (Colossenses 1:15). Quais são essas coisas que não aparecem? O que são essas realidades invisíveis existentes tanto nos céus quanto na Terra?

A distinção que Kant faz entre o phe-nomenon e o noumenon, embora não prove a presença do sobrenatural, pelo menos fornece um espaço para ele.

Um milhão de telefones celulares zumbindo sobre nós implicam na pos-sibilidade — e não na probabilidade — também de outras coisas intangíveis (anjos, talvez?). Os celulares mostram que uma atividade inteligente e propo-sitada pode estar tendo lugar ao nosso redor e, todavia, estar além de nossa per-cepção, mesmo quando exerce impacto sobre nós. (Quem, por exemplo, chei-rou, ouviu, viu, provou ou tocou os altos níveis de radiação que destruíram sua mucosa intestinal, debilitaram seu sistema imunológico e lhe causaram a morte?).

O noumenon, é importante, de muitas maneiras e também em todo o tempo. O phenomenon é, talvez, nada mais que um ângulo do noumenon, que a mente pule e absorve, como uma escu-ra esponja encharcada. O fato de não a tocarmos por completo não significa que não tangemos algo; o fato de não podermos conhecê-la plenamente, não significa que não possamos conhecê-la em termos parciais. No livro do Êxodo, quando Moisés pediu a Deus: “Peço-Te que me mostres a Tua glória” (33:18, NVI), Deus respondeu: “Você não poderá ver a Minha face, porque nin-guém poderá ver-Me e continuar vivo.” E então disse: “Há aqui um lugar perto de Mim, onde você ficará, em cima de uma rocha. Quando a Minha glória pas-

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sar, Eu o colocarei numa fenda da rocha e o cobrirei com a Minha mão até que Eu tenha acabado de passar. Então tira-rei a Minha mão e você verá as Minhas costas; mas a Minha face ninguém poderá ver’” (Êxodo 33:14-23). Talvez isso seja tudo o que o phenomenon é: a parte de trás e não a face do númeno.

A matemática parece estar “lá fora”, não como estruturas físicas, senão como relações delicadas e precisas entre enti-dades descontínuas e preexistentes, mais permanentes e firmes do que o mundo material. Embora altamente processado pelo cérebro, ali existe algo que esses matemáticos percebem como realida-des que se mostram mais consistentes, seguras e estáveis que as passageiras, vacilantes e sucedâneas excentricidades do fenômeno. Três quilos de arroz, não importa quão precisa seja a balança, sempre serão mais ou menos três quilos (mesmo subtraídos de algumas poucas moléculas); porém, o numero três, como um número só, é absoluto, refinado e puro, sem nenhuma necessidade de refi-namento.

Portanto, quer seja como conceito ou como sensação, algo do noumenon passa, mesmo que seja percebido como phenomenon. Fomos feitos, por assim dizer, para interagir com o noumenon ou, pelo menos, com parte dele. Existe uma harmonia confortável, uma conve-niente e mesmo esteticamente encanta-dora concórdia entre nossos sentidos e a parte da realidade que penetra nossa consciência.

Quão afortunados somos em poder ver uma parte do espectro eletromag-nético produzido pela estrela mais próxima de nossos olhos, de modo que não somente nos seja permitido ver os objetos, como também observá-los tão belamente. Há alguma razão lógica, necessária ou mesmo prática para os pôr-de-sóis ou pavões serem retratados tão agradavelmente em nossas mentes? Seja qual for a coisa que em si mesma emana da hortelã, quão agradável é que no momento em que passa através de nossas narinas, ela é uma fragrância sen-sorial na mente. O que quer que uma

laranja (pêssego, ameixa ou uva) seja em e de si mesma, não apenas interage tão agradável e saborosamente com nosso paladar, como também se apresenta saturada de substâncias químicas e nutrientes que se harmonizam com nos-sas necessidades físicas.

De fato, os mesmos dispositivos que projetam o bom e o prazeroso em nossa consciência, fazem o mesmo com o mal e a fealdade. O pôr-do-sol que lança poças incandescentes de luz desde o horizonte, também deixa para trás uma fria trilha de vias encurvadas, trêmulas e inamistosas. Por mais que uma uva seja deliciosa, por mais saborosa que seja a maçã, a escassez e a pestilência freqüen-temente as decompõem antes que o estômago o faça. Este mesmo estômago também provê um terreno exuberante para tumores vorazes. Assim, conquanto o phenomenon seja inerentemente bom, o mal freqüentemente polui a embala-gem.

Mal: depois do fatoO mal, porém, ocorre após o fato,

e o fato em si mesmo — como fato puro — é bom. Santo Agostinho, em A Cidade de Deus, escreveu que o mal é uma minimização, uma deserção do bem. O bem veio primeiro, o mal em seguida. Não há nenhuma causa eficien-te para o mal, disse Agostinho, apenas uma deficiente. O que chamamos de mal “é meramente uma falta de algo que é bom.”4

“Agora”, continua Agostinho, “buscar descobrir as causas dessas defecções — causas, como eu já disse, não eficientes, mas deficientes —, são como se alguém buscasse ver a escuridão ou ouvir o silên-cio. Todavia, ambos são conhecidos por nós, a primeira apenas através da visão e o último apenas através da audição; mas não por sua positiva realidade, senão por sua necessidade.”5

Embora rudemente arruinada, a natureza ainda pode transcender a árida lógica e nos regar com sugestões de algo mais promissor do que a entropia cós-mica. Entre o que está em nós (nossos sentidos) e o que há lá fora (o que é sen-

tido), as equações calculam belamente, os números operam de forma sublime, mesmo que eles tenham de ser calcula-dos em nosso coração e não em nossa cabeça.

Pense por um momento na doutrina bíblica da encarnação. É uma incrível afirmação: o próprio Deus encarnado na humanidade — o Criador do Universo assumiu nossa carne, e na cruz suportou todo mau adjetivo e todo mau advérbio (e cada verbo e substantivo maus). E o peso de toda essa perfídia — sua culpa, conseqüência e penalidade — foi sufi-ciente para matá-Lo. Deus não é imune à nossa dor ou males; ao contrário, estes esmagaram Sua vida, como manifestada em Jesus na cruz.

Se a cruz é verdadeira, somente o é porque Deus nos ama com um amor que se estende além das frias expansões da infinidade, para dentro dos desas-sossegados recessos de nossa temente e expirante vida. É dito, também, que com assuntos tão conseqüentes quanto terminantes, Deus não teria ido para a cruz sem nos dar razões para acreditar no que Ele fez, e uma dessas razões existe nos próprios fatos inalteráveis. Imagine a criação escoimada de todos os seus sórdidos modificadores (e então imagine esses modificadores destruídos, de uma vez, em Jesus).

Se alguém quebrasse o vidro protetor e retalhasse o quadro da Mona Lisa, iriam esses cortes diminuir o amor que Leonardo dedicou inicialmente à senho-ra retratada? Não pode haver escassez sem primeiro haver campos de trigo e milho. Que dizem o trigo e o milho sobre Aquele que primeiro envolveu a semente numa película, antes que a água, o pó, o ar e a luz solar a fizessem emergir da terra e a cobrissem de tenros brotos que nos brindam com um sabor tão agradável ao paladar, e se ajustam tão confortável e saudavelmente às nos-sas células?

É certo que os luxuriantes campos de grãos não validam o argumento moral para a existência de Deus, mais

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A desgraça nos atinge sem aviso pré-vio. Tad, nosso filho mais jovem, nos havia trazido muita alegria. Enquanto observávamos seu crescimento, alimen-távamos grandes esperanças quanto ao futuro. Embora estivéssemos preo-cupados com seu crescente número de tropeções e quedas, jamais suspei-távamos que a situação fosse tão séria quanto se tornaria. Depois de intensos exames, os médicos diagnosticaram sua enfermidade como sendo a Síndrome de Niemann-Pick — uma enfermidade degenerativa do cérebro. Tad estava com onze anos. Pouco se sabia sobre essa enfermidade terminal, mas decidi buscar tudo o que fosse possível a res-peito. Enquanto os médicos tentavam tratar Tad, assumi a batalha sob outro ângulo. Quis envolver-me com o esta-do de Tad não apenas emocionalmente, mas também de forma inteligente, para que Tad se sentisse tão confortável e bem tratado quanto possível. Em desespero comecei a estudar anatomia e fisiologia do cérebro. Desejava son-dar os mistérios ocultos nessa massa de tecido que atuava como centro de comando da vida de meu filho, de suas atividades e esperanças. A ciência do cérebro subitamente se tornou o foco impulsionador de minha vida.

Tad faleceu seis anos após o diag-nóstico, um pouquinho antes de com-pletar seu décimo sétimo aniversário. Embora essa trágica perda deixasse um vazio permanente em nosso coração, a aventura da ciência do cérebro tornou-se-me um catalisador para prover-me

Linda Caviness

A ligação mente-corpo: algumas descobertas recentes

de novas percepções sobre a relação mente-corpo. Li todos os livros e arti-gos que me chegaram às mãos. Assisti conferências e seminários sobre o cére-bro. Dissequei o cérebro humano em laboratórios de neuroanatomia. Meu papel como educadora de professores se expandiu, incluindo o conhecimen-to da neurobiologia do aprendizado. Presentemente, utilizo esse conheci-mento para ajudar professores a com-preenderem as conexões mente-corpo e facilitar o aprendizado.

Essa pesquisa sobre o cérebro tam-bém rendeu uma dissertação doutoral — uma análise comparativa de dois grandes grupos de dados relevantes à educação: a atual pesquisa educacional do cérebro e os conselhos centenários de Ellen G. White aos educadores. Embora esse estudo houvesse com-parado dados provenientes de duas perspectivas filosóficas aparentemente dissonantes — naturalismo e teísmo — tal cotejo proveu novas percepções com relação ao vínculo integral entre mente e corpo. O estudo também conduziu a uma postulada conclusão: uma estrutura ativa do tipo fractal (veja a coluna lateral) opera nos processos vitais e pode ser identificada no relacio-namento entre mente e corpo.

Uma dinâmica tríade do tipo fractal

O tema penetrante que emergiu desse estudo comparativo é que existe uma relação dinâmica entre os três principais componentes da função cerebral — processamento cortical (pensamento de ordem elevada ou pen-samento consciente), estimulação física e influência sócio-espírito-emocional1 sobre as funções do cérebro e do corpo através da neuroquímica. Há cerca de cem anos, Ellen G. White referiu-se a essas três funções como as “capacidades físicas, mentais e espirituais”.2

O fato novo a respeito dessa antiga construção triádica diz respeito aos

dados científicos que corroboram e/ou negam aquilo que fora simplesmente especulado filosoficamente. Sabíamos intuitivamente que essa totalida-de envolve mente, corpo e espírito. Presentemente, com o conhecimen-to ampliado sobre o cérebro e suas relações com o corpo, o conceito de integralidade pode basear-se numa perspectiva ainda mais objetiva. Com a ajuda de nova tecnologia de imagens cerebrais, podemos agora ver como o cérebro funciona e não apenas nos envolver em especulação baseada em comportamentos exteriores.

O conhecimento obtido a partir da s novas técnicas de imagens aperfeiçoou-se ainda mais, graças ao crescente conhe-

Uma função holística e saudável é mais provável quando existe equilíbrio entre mente, corpo e espí-rito.

FractaisUm matemático por nome Benoit

Mandelbrot introduziu a teoria dos fractais na década de 1970. O fractal é e contém um padrão repetido em variados níveis de forma e/ou função em determinada enti-dade. Esse padrão repetitivo de unidades menores exemplifica o padrão de toda a unidade. Quer o desenho seja observado microscópica ou macroscopicamente, a estrututra-padrão sempre aparece. Muitas vezes é utilizado o exemplo de um feto para se descrever o fractal em termos simples. Cada um dos segmentos menores de um feto reproduz a forma e padrão do todo. O padrão não apenas é o todo, mas também é visto como as partes consti-tuintes do todo. (Nesse estudo da função mente-corpo, a aplicação do termo fractal é metafórica e filosófica, não matemática.)

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O cérebro como órgão fractalA área cortical do cérebro é comu-

mente identificada como a do pensa-mento de ordem mais elevada e o pensa-mento consciente. O centro límbico está associado à emoção, à entrada sensorial provida pelo ambiente e a memória, enquanto que o tronco cerebral e o cere-belo conduzem informações de entrada e saída, dos músculos, órgãos e outros aspectos do corpo físico, e coordenam os movimentos físicos. Em certo sentido, o córtex pode ser visto como o com-ponente mental, a área límbica como o componente sócio-espírito-emocional, e o tronco cerebral e o cerebelo como o componente físico.

O neurônio como órgão fractalEm escala menor, o fractal mental-

físico-espiritual é novamente evidente. A minúscula célula neuronal responde a sinais neuroquímicos (função emo-cional), decide suas respostas aos sinais (função mental) e atua sobre essa deci-são (função física) através da inibição ou transferência da ação potencial. O neurônio não opera apenas nessas três aptidões, mas também influencia e é influenciado profundamente pelos mes-mos elementos. O córtex, o sistema lím-bico e o tronco cerebral-cerebelo estão constantemente afetando o neurônio e sendo afetados pela função neuronal.

Corpo-mente-espírito como órgão fractal

Observando o corpo-mente a partir de uma perspectiva mais ampla, vemos que o cérebro (mental) controla a cog-

cimento da neuroquímica — o campo que une mente e corpo. Em 1972, a descoberta de Candace Pert sobre o receptor opiáceo abriu caminho para maior compreensão de como os ele-mentos químicos formam, no interior de nosso corpo, uma dinâmica rede de informações que vincula mente e corpo.3 Pert equipara a neuroquímica às emoções — os fenômenos que ocor-rem quando um neurônio se comunica com outro e produz atitudes, espírito e ação. As emoções influenciam todo pensamento potencial antes que esse se processe nas áreas corticais de “ordem elevada”, como pensamento consciente.

De que forma as novas percepções sobre mente-corpo-espírito se relacio-nam com a teoria fractal? Antes de dar essa explicação, talvez um pouco de história ajude a esclarecer aqueles que não se acham familiarizados com o termo fractal.

Quando criança eu costumava gastar tempo com papai num pequeno avião. Desde as alturas, fascinavam-me os padrões observados nos terrenos não cultivados lá embaixo. Anos mais tarde, os padrões vistos a partir do avião ainda apareciam em pequenos pedaços de rocha sobre os quais eu escrevia versos e os oferecia de presente. Posteriormente ainda, arquétipos similares eram evi-dentes nos microscópios do laboratório de ciência, ou através de telescópios ao observar galáxias e nebulosas muito além da atmosfera terrestre. Esses padrões repetitivos ou tipo fractal, aparentes no micro e no macrocosmo como eu observara ao longo dos anos, tornaram-se mesmo mais significativos depois que li a obra Leadership and the New Science, de Margareth Wheatley, e me familiarizei com a teoria fractal. Seriam esses padrões naturais a evidên-cia de um grande plano organizacional ou desígnio inteligente?

Em meus estudos do cérebro, uma construção mental repetitiva também veio à tona por meio da palavra de numerosos especialistas sobre cérebro e aprendizado, enquanto descreviam a função em nível neuronal dentro

do próprio cérebro como um órgão, e holisticamente no relacionamento entre mente e corpo. Seria essa repetição uma evidência de representação fractal adicional?

Os pesquisadores concordavam cla-ramente que três principais funções contribuíam para a realidade humana — intelecto, emoção e atividade física. Entretanto, teria alguém mais alinha-do o estudo do cérebro com a teoria fractal? Uma revisão da literatura con-firmou a conexão. Mercier, Bieberich, Ferandez e outros também haviam dis-cutido a função fractal num contexto neurocientífico4.

Comparando esses grandes conjuntos de dados, comecei a ver evidências da reciprocidade holística entre mente, corpo e espírito — microscopicamente ao nível celular, anatomicamente na organização do próprio cérebro, e evi-dentemente no relacionamento entre cérebro e corpo. Examinemos mais detidamente esses três níveis de forma e função, começando com a estrutura anatômica do cérebro.

Na década de 1970, quando Paul MacLean propôs a teoria cerebral triúna, descreveu três níveis para o cérebro — o córtex, o sistema límbico e o tronco cerebral-cerebelo. Nessa época, MacLean cria que cada uma dessas áreas funcionava como um cére-bro dentro do cérebro. Desde então, MacLean se uniu a outros na adoção de uma postura diferente. O pensamento atual sugere que cada uma dessas três áreas funciona como parte de um todo dinâmico. Cada uma das áreas depende das outras duas quando ocorre um pro-cessamento simultâneo e simbiótico.

Embora o conceito original de MacLean tenha mudado, as três prin-cipais áreas por ele identificadas ainda são consideradas as áreas básicas da anatomia cerebral. Cada área é mul-tifuncional e se integra com as outras duas partes e suas funções. Essas três áreas continuam identificadas com as funções principais que têm lugar em cada área.

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nição, o corpo (físico) provê os aportes que estimulam a função do cérebro e a neuroquímica sócio-espírito-emocio-nal é criada pela estimulação sensorial — geralmente a partir do ambiente, que ativa os elementos neuroquímicos para que atuem em rede e integrem corpo e cérebro. Inquestionavelmente, a interação entre corpo, mente e espíri-to afeta suas partes constituintes. Seria verdade que corpo, mente e espírito são afetados por uma representação mais ampla desse postulado fractal? Existe abundante evidência de que essa construção fractal é funcional com os ambientes que cercam o indivíduo. Influências mentais, físicas e espirituais não apenas nos rodeiam; elas também contribuem para a qualidade de nossa capacidade intelectual, de nossa saúde física e para as condições e desenvol-vimento emocional, social e espiritual. Considere o impacto ambiental entre essas três realidades.

Estímulos mentais no ambienteExaminemos primeiramente a capa-

cidade intelectual. Durante séculos feriu-se o debate entre natureza versus educação, e tradicionalmente a natu-reza parece ter tomado a dianteira. O que determina a inteligência: a genética (natureza) ou a influência ambiental (educação)? Esta tem sido a grande questão. Novos conhecimentos sobre o aprimoramento e a capacidade cerebral de mudar e crescer indicam que a natu-reza e a educação são iguais em deter-minar a capacidade cognitiva.

Segundo, as influências filosóficas dominantes também exercem papel significativo sobre o estado mental da pessoa. O sistema de crenças dos pais desempenha poderoso impacto sobre as atitudes, hábitos e relacionamentos dos filhos. Mesmo antes de a criança ter explícita memória de ocorrências biográficas, os que cuidam dela moldam implicitamente sua orientação mental em formas que são extremamente difí-ceis ou mesmo impossíveis de serem mudadas. Além disso, a escola desenvol-ve as crenças e orientações da sociedade.

Terceiro, aquilo que imaginamos que os outros pensam a nosso respeito exerce profundo impacto sobre nosso autoconceito e capacidade de recupera-ção. O considerável volume da pesquisa atual sobre o perigo dos estereótipos sugere que, consciente ou inconscien-temente, a percepção que os outros têm de nós determina nossas atitudes e desempenho. Esse fenômeno se relacio-na intimamente com as considerações seguintes.

Estímulos emocionais, sociais e espirituais no ambiente

A inteligência emocional, uma expressão popularizada por Daniel Goleman na década de 1990, representa agora uma bem fundamentada cons-trução na teoria educacional, graças aos novos conhecimentos sobre a função cerebral. O papel da emoção na cog-nição é inegavelmente profundo. Mas a emoção também desempenha um papel de primeira grandeza em outras disciplinas. O mundo dos entreteni-mentos aufere gigantescos lucros ao aplicar o apelo emocional às audiências ao redor do mundo. En novos campos de estudos — neurocardiologia, neuro-economia e neuropsicologia, para citar apenas uns poucos — também é feito uso desse foco relativamente novo sobre a emoção.

Você pode querer saber de que forma a neurociência relaciona a economia com a emoção. Paul Zak, da Claremont Graduate University, explica que prazer e escolha conduzem o mercado de capi-tais. Confiança é outro fator significa-tivo. Novas pesquisas sobre confiança sugerem que quando duas pessoas con-fiam uma na outra, elevam-se os níveis de oxitocina de ambas. A oxitocina é um hormônio — um neuroquímico — que produz relaxamento. Sítios receptores dispostos ao longo do cére-bro respondem favoravelmente a níveis apropriados desse neurotransmissor, o qual também produz interligações.

A pesquisa sobre feromônios e trans-ferência de sinais de variabilidade no ritmo cardíaco, além de outras influên-

cias emocionais, sociais e espirituais, continua provendo informações acerca do poderoso papel da neuroquímica em nosso ambiente. Os benefícios obtidos por níveis positivos de emoções sobre a mente e corpo aumentam as funções do sistema imunológico, do coração, da respiração e da digestão.

Muitas pesquisas têm abordado o efeito das emoções negativas sobre o corpo e a mente. Martin E. P. Sligman, ex-presidente da Associação Americana de Psicologia, descreve como as emo-ções negativas podem conduzir à depressão clínica. Em sua investigação sobre formas de corrigir essa tendência ao desequilíbrio emocional, Seligman começou colaborando com Mihaly Csikszentmihalyi, autor de Flow, um livro acerca do valor da experiência motivacional de pico.

Barbara Fredrickson, da Universidade de Michigan, está atualmente fazendo especialização em psicofisiologia e os efeitos das emoções positivas sobre a mente e o cérebro. Num artigo para a American Scientist,5 Fredrickson mencio-na pesquisas que sugerem que as emo-ções positivas promovem a longevidade, o funcionamento individual e coletivo, o bem-estar psicológico e a saúde física. Ela está pesquisando “como e por que” a ‘bondade’ é importante.”6

Emoções negativas — ira, temor, tris-teza, etc. — são “experiências extrema-mente diferentes” que sinalizam respos-tas autonômicas específicas, evidenciadas pela expressão facial. Emoções positivas — alegria, entretenimento, serenidade, etc. — são “relativamente indiferencia-das” e “não produzem respostas autonô-micas distinguíveis”.7

As emoções positivas promovem a saúde física, intelectual e psicossocial, que perdura “muito depois de a emoção positiva haver desaparecido”, sugere Fredrickson. Esse efeito positivo provê aumento da capacidade de recuperação e do otimismo, que podem ajudar a desfazer os efeitos danosos das emoções negativas sobre a mente e o corpo.

Há mais de cem anos Ellen White apresentou um conselho similar. Ela

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afirmou que quando a mente humana se conecta à mente divina, o Espírito Santo habita no coração. Ela explica que nessa ocorrência, o efeito do amor exerce influência poderosa e benéfica sobre a mente e o corpo. Subseqüentemente, forma-se ao nosso redor uma atmosfera salutar para todos os que se aproximam. Emoções negativas, por outro lado, são-nos daninhas e também aos que nos cercam.8

As emoções não apenas servem para transmitir dados neurológicos entre os neurônios dentro do cérebro, mas tam-bém entre cérebro e corpo. Pesquisas acerca de emoções positivas provêem novo significado para o valor da função espiritual como mantenedora da saúde da mente e do corpo. O culto congre-gacional, a confiança no poder divino, as pausas para agradecer pelos alimentos antes das refeições, o desvio do foco de si mesmo para as necessidades alheias, etc., podem ser mais benéficos do que até então se admitia.

Estímulos físicos do ambienteFisicamente, através do som, tato,

paladar, olfato e visão, o ambiente nos estimula à ação, à medida que tentamos sobreviver e desenvolver-nos. Um exem-plo tornará mais claro esse ponto.

O Dr. George Javor, bioquímico da Universidade de Loma Linda, Califórnia, sugere que a matéria viva busca constantemente mover-se rumo ao equilíbrio. Contudo, se ela atinge o ponto de equilíbrio e aí permanece, a

vida se dissipa.9

James Zull, da Universidade Case Western Reserve, afirma que “movimen-to é cognição expressa”. Os circuitos internos dos lobos corticais naturalmen-te movimentam a cognição de forma repetitiva, da integração sensorial para o processamento executivo, e finalmente rumo à ação no centro motor do córtex. Conseqüentemente, as exigências sociais de trabalho e serviço promovem a saúde mental e corpórea.

A natureza da sobreposição dos estímulos ambientais

Quem sabe já lhe haja ocorrido que essas três influências ambientais de algu-ma forma se sobrepõem em natureza. De acordo com a teoria fractal, cada componente — mental, emocional, social, espiritual e físico — contém efetivamente elementos dos outros dois componentes.

O papel vital do serviço Há cerca de cem anos, Ellen White

promoveu a idéia de que o aprendizado resulta do “harmonioso desenvolvimento das capacidades físicas, mentais e espiri-tuais”.10 Além disso, ela declarou que tal desenvolvimento harmonioso “prepara o estudante para a alegria do serviço neste mundo e para o elevado gozo de um serviço mais amplo no mundo futuro”. O serviço, como o quarto componente no cultivo do desenvolvimento humano, é crítico para a função holística.

É vital obter benefícios educacionais,

Continua na página 35.

relacionais e físicos; contudo, receber constantemente e não retribuir pode truncar o potencial humano. Quando a unidade humana — mente, corpo e espírito — é acionada em benevolência para com a comunidade da qual é uma parte fractal, garante-se a integridade da substância vital e o potencial humano tende a expandir-se.

Equilibrando a pirâmideA função holística poderá ocorrer mais

provavelmente quando favorecermos o equilíbrio entre mente, corpo e espírito (veja a Figura A). A Figura B mostra como uma parte da tríade fractal pode absorver as outras duas e levar ao dese-quilíbrio pessoal. Um fractal “achatado” provavelmente truncará o potencial. Quando, porém, as três dimensões se encontram em equilíbrio, e essa integra-lidade é canalizada em amorável serviço a outros, alcançamos nosso potencial.

Linda Caviness (Ph.D. pela Andrews University) leciona na Escola de Educação da Universidade La Sierra. Endereço: 4700 Pierce Street, Riverside, Califórnia 92515, EUA. E-mail: [email protected].

REFERÊNCIAS 1. Embora nem todos os escritores que aplicam

a pesquisa do cérebro à educação utilizem o termo espiritual, não é incomum encontrar referências às funções holísticas da atividade cerebral nos campos mental, físico, emocional e social. O termo espiritual é utilizado, mas não com tanta freqüência.

2. Ellen G. White, Educação (Mountain View, Calif.: Pacific Press Publ. Assn., 1903), p. 13.

3. C. B. Pertner, Molecules of Emotion (New York: Scribner, 1997).

4. Ver F. Mercier, “Anatomy of the Brain Neurogenic Zones Revisited: Fractones and the Fibroblast/Macrophage Network,” Journal of Comparative Neurology, 451 (16 de setembro de 2002) 2:170-88; E. Bieberich, “Recurrent Fractal Networks: A Strategy for the Exchange of Local and Global Information Processing in the Brain,” Biosystems 66 (ago.- set. de 2002):145-164; e E. Ferandez, “Use of Fractal Theory in Neuroscience: Methods, Advantages, and Potential Problems,” Journal of Neuroscience Methods 24 (Agosto 2001)

Figura A: Fractal balanceado Figura B: Fractal distorcido

Mental

Mental

Físico

Espiritual

Físic

o

Espiritual

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Em 1915, com 87 anos de idade, Ellen G. White faleceu em sua casa, em Elmshaven, Deer Park, Califórnia. As últimas palavras registradas como tendo sido proferidas por essa serva de Deus foram: “Eu sei em quem tenho crido.”

Quão bem conhecemos o Deus em quem cremos? Conhecer a Deus não sig-nifica que nós O compreendemos. Ter um profundo conhecimento pessoal de Deus significa que nos sentimos seguros em Sua presença e buscamos Sua com-panhia. Deixe-me falar sobre três coisas que cheguei a conhecer de Deus por meio de minha própria experiência.

Deus é meu CriadorPrimeiro, eu conheço a Deus como

meu Criador. A criação é um evento estranho, incomum e maravilhoso. A própria Bíblia admite isso. Ele fez o mundo por Sua palavra. Nós não pode-mos fazer o mesmo. A criação é um milagre. Ela aparece diante de nossos olhos já na primeira página da Bíblia e sem qualquer introdução. Assim ela é mostrada no Livro Santo: “No princípio criou Deus.” Não admira que muitos, mesmo alguns cristãos, têm dificuldade de aceitar a criação como o meio de fei-tura do mundo e de tudo o que há nele. Há, de fato, muitas interrogações.

Para ajudar a responder algumas dessas perguntas, nossa igreja criou o Geoscience Research Institute (“Instituto de Pesquisa Geocientífica”). Já participei de duas viagens de estudo de campo. Elas foram agradáveis e informativas. Todavia, trataram principalmente das evidências de uma catástrofe grande e terrível — o dilúvio. Entre as palestras, porém, eu tirava um tempo para con-templar o mundo de Deus — o mar em baixo e as estrelas em cima. Comecei a me sentir seguro na presença do meu

Eu sei em quem tenho crido

Como podemos estar cer-tos acerca do Deus a quem adoramos?

Niels-Erik Andreasen Criador e a procurar Sua companhia mais intensamente do que antes.

Observe ainda outra história da cria-ção, desta vez sob a perspectiva de uma criança. Em Salmo 8:1-5, duas pessoas estão conversando — um pai ou mãe e uma criança. Talvez fosse o próprio salmista, o rei Davi, e um de seus filhos, Absalão ou Salomão. Eles estavam cami-nhando, certa noite, pela cobertura do palácio. Olhando para cima, o filho per-gunta: “Pai, quantas estrelas cintilantes existem? E, papai, quem as pôs lá? Veja, uma está caindo!” Foi nesse momento que o salmista escreveu: “Dos lábios das crianças e dos recém-nascidos susci-taste louvor” (NVI, nota de margem). E ainda: “Quando contemplo os Teus céus, obra dos Teus dedos, a lua e as estrelas que ali firmaste, pergunto: Que é o homem, para que com ele Te impor-tes?” (NVI). Note a expressão “obra dos Teus dedos.” Para o salmista, a obra criadora de Deus é tão simples quanto o trabalho de um dedo; simples quanto uma brincadeira de criança!

As crianças conhecem a Deus instin-tivamente porque têm olhos grandes e curiosos que estão sempre observando. Elas sabem o que significa estar seguro na presença de seus pais, se elas real-mente têm bons pais. Portanto, elas nos ensinam como nos sentir seguros na presença de Deus e como procurar Sua companhia.

Você pode pensar, porém, que isso é muito simplista. Não somos mais crian-ças. Como podemos conhecer nosso Criador sem primeiro resolver todas as questões acerca do mundo que Ele criou — questões acerca dos fósseis primatas encontrados na África, das eras do gelo na Escandinávia, da coluna geológica, dos dinossauros e assim por diante?

Concordo que essas questões são difíceis e, francamente falando, eu não tenho encontrado respostas satisfatórias a todas elas. Mas então me lembro do Salmo 8 e penso numa criança parada na esquina, esperando para cruzar uma rua de tráfego intenso. Ela estende o braço, apega-se à mão de seu pai e então se sente segura. É assim que eu me rela-

ciono com meu Criador. É claro que há questões e problemas. Há mistérios no mundo. Mas quando tomamos Sua mão, nos sentimos seguros.

Quando conhecemos a Deus desse modo, confessamos sem hesitação ou reserva: Creio em Deus Pai, o Todo-Poderoso, Criador dos céus e da Terra. Eu sei em quem tenho crido. Sinto-me seguro na presença de meu Criador e busco Sua companhia.

A vontade de Deus para minha vida

Segundo, eu conheço a Deus pela aceitação de Sua vontade para minha vida.

A vontade de Deus para nós é nosso bem-estar e Ela está revelada em Sua lei. Isso também pode parecer muito sim-ples; apesar disso, a vontade de Deus é uma coisa estranha para muitas pessoas. Para alguns de nós, a vontade de Deus é estrita, opressiva, legalista, dura e crítica. Por essa razão, até mesmo alguns cristãos não buscam conhecer seriamente a von-tade de Deus e obedecê-la seriamente.

Dentro da curta história da Igreja Adventista do Sétimo Dia, vejo duas fases distintas em nosso ensino com rela-ção à vontade de Deus e Sua lei.

Fase um: Logo no início, sem querer, conseguimos afastar muitas pessoas da vontade de Deus expressa em Sua lei. Ellen White falou dessa ênfase errada em 1888, quando nos instruiu acerca do relacionamento entre lei e graça. A princípio, ouvimos e mudamos, mas então nos esquecemos do que havíamos aprendido.

Falávamos da lei de Deus da mesma forma como da vinda do juízo de Deus, intimidando assim nossos ouvintes. Alguns de meus alunos costumavam dizer: “Se no juízo Deus vai levar em consideração meus pecados contra Sua lei, então eu não vou conseguir. Desisto. Eu não quero nem ouvir mais sobre a lei de Deus.” Minha tarefa era mudar o seu pensamento.

Fase dois: Por volta do final do século vinte, como adventistas, começamos outra vez a enfatizar a graça de Deus e a

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justiça pela fé. Ensinamos corretamente que a graça precede a tudo o mais em nosso relacionamento com Deus, e uma vez que a aceitemos, nós conheceremos a Deus e também Sua vontade. Mas, essa descoberta maravilhosa não restabeleceu a lei de Deus como guia em nossa vida. Na verdade, parece que a lei de Deus é mencionada hoje em dia muito menos do que antes, mas por razões diferentes — não porque tenhamos medo dela, mas porque nós a deixamos de lado e ignoramos seu valor.

Pensando em tudo isso, cheguei a duas conclusões. Primeira: em todas as passagens que falam do juízo, especial-mente nos escritos dos profetas, Deus não julga Seu povo por ter falhado em obedecer a Sua lei, mas por ter falha-do em permanecer leal à Sua aliança. Miquéias 6:6-8 fala do fracasso de Israel e então passa a enumerar as muitas maneiras pelas quais Israel poderia ter sido mais obediente. “Deveríamos ofere-cer mais ofertas queimadas, óleo e sacri-fícios?”, perguntou o povo. “Não!” Foi a resposta do Senhor. “Eu apenas peço três coisas (v. 8): pratiquem a justiça, amem a fidelidade e sejam humildes, ou seja, sejam leais para Comigo.” É isso o que Deus quer.

Assim eu explicava aos meus alunos que o Juízo é um importante ensino da Bíblia, mas quando nossos nomes forem passados na corte celestial, aquilo que Deus irá perguntar não é quão bons, mas quão leais temos sido. É isso o que realmente mais importa para Deus. Na verdade, não são os nossos pecados que nos deixam numa situação difícil no Juízo, mas o desdém pela corte é que nos põe em risco diante dEle. Quanto aos nossos pecados, Deus sabe que pecamos, mas Ele tem o remédio para o pecado: perdão (Miq. 7:19). Mas o que pode Deus fazer com relação à deslealdade de nossa parte? O que pode Ele fazer quando Lhe viramos as costas? É isso que importa no Juízo. Voltamos-Lhe as costas em sinal de desrespeito para com a corte, ou vamos corajosa-mente perante Seu trono em busca de aceitação e perdão por meio de Jesus

Cristo, nosso Amigo e Advogado? É isso o que significa lealdade no julgamento.

Minha segunda conclusão é que a lei de Deus se destina a mostrar-nos como agir e viver com mais respon-sabilidade. A lei de Deus consiste em 10 mandamentos divididos em duas tábuas. Vamos começar pela parte mais fácil, a segunda tábua, que ensina como nos relacionarmos com os outros. Não cobice aquilo que pertence a outro; esteja satisfeito com o que você tem. Não minta para o seu próximo; diga-lhe a verdade. Não tome para si aquilo que é dos outros. Respeite a esposa de seu amigo; não cometa adultério. Não mate ninguém; você não deve tirar a vida dos outros. “Mas, como podemos aprender a viver em harmonia com essas exigentes proibições?”, podemos perguntar. A resposta está no manda-mento positivo da segunda tábua, o qual aponta para o cerne de todos os relacionamentos: honre seu pai e sua mãe. É aqui que tudo começa, em casa com pai, mãe e filhos. Se as coisas vão bem em casa, então elas vão bem na vizinhança, no país e no mundo. A vontade de Deus não é nenhum mis-tério, nem algo que cause medo. Ela começa por um bom e seguro lar.

Mas, perguntamos: Quem nos deu esses princípios e por que deveríamos atentar para eles? A resposta é encon-trada na primeira tábua — os quatro mandamentos que tratam de nosso relacionamento com Deus. O Autor desses mandamentos não é qualquer um. Eles vêm de Deus e representam Sua vontade. Quem é esse Deus? Não podemos vê-Lo ou sequer fazer uma imagem dEle. Bem, será que posso falar com Ele? Sim, de alguma forma, em oração e meditação, mas não usando Seu nome de modo leviano. O que então devemos fazer para conhecermos esse Deus e Sua vontade? Isso nos leva ao mandamento positivo corresponden-te situado na primeira tábua, o quarto. Ele contém a surpreendente mensagem: o Doador da lei, que estabeleceu esses elevados padrões éticos para nós e que exige tanto de nós, começa oferecendo-

nos uma dádiva — um dia à parte, um tempo sagrado, um tempo de repouso. Esse é o dia no qual aprendemos a conhecer a Deus na segurança de Sua presença. Uma vez que captemos o profundo significado do quarto man-damento, todas as questões anteriores são resolvidas. Nós O conhecemos ao sentir-nos seguros em Sua presença e ao Lhe buscarmos a companhia no Seu dia (Isa. 58:13-14).

Deus me amaTerceiro, eu conheço a Deus porque

Ele me ama.“Porque Deus tanto amou o mundo

que deu o Seu Filho Unigênito, para que todo o que nEle crer não pereça, mas tenha a vida eterna” (João 3:16, NVI). Quando jovem, impressionava-me muito saber que nosso Senhor e Salvador teria dado Sua vida mesmo por um único pecador. Além disso, Paulo diz que até podemos entender se alguém estiver disposto a morrer por um amigo, mas Cristo deu Sua vida por nós quando ainda éramos inimigos (Rom. 5:7-8). Temos de pensar com bastante cuidado na palavra amor, espe-cialmente porque ela expressa a terceira dimensão de nosso conhecimento de Deus.

Antes de tudo, o amor de Deus não é motivado por emoções ou paixões. Seu amor é um princípio. É isso que precisamos saber acerca dEle e quando alcançamos esse conhecimento sen-timo-nos seguros em Sua presença e buscamos Sua companhia. Ou seja, amamos a Deus da mesma maneira. Alguns cristãos desenvolvem um rela-cionamento de amor meramente emo-cional, passional, com Deus. Nossos jovens, e até mesmo crianças, são às vezes enredados pela crença de que o cristianismo é simplesmente uma questão do coração. “Dê seu coração a Jesus”, nós os ensinamos desde a mais tenra idade. Mas, permanecerá forte e constante o seu amor para com Deus à medida que eles crescerem?

Uma das experiências mais tristes que tive é ver um jovem e um não tão

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jovem cristão substituir seu apaixonado amor por Deus, por uma certa aversão a tudo aquilo que é religioso e cristão. O profeta Oséias também fala dessa experiência quando se queixa de que o amor de Israel é como o orvalho da manhã. Evapora diante dos primeiros raios de Sol (Oséias 6:4). Então, a fim de explicar o generoso amor de Deus, o profeta introduz uma palavra especial para amor, hesed, que significa amor baseado em princípio. Hesed poderia ser traduzido como “amor que perdu-ra”, “amor que guarda a aliança,” ou “amor eterno.”

Todos temos algo a aprender sobre o amor de Deus. Ele nos ama por princípio, mas, diferente do nosso, Seu amor nunca perde a intensidade. Ele sempre permanece forte e cálido. Deus é Alguém que nos ama sempre. Ele é Alguém cujo amor é firme, não impor-tando as circunstâncias. Ele é Alguém que ama mui diferentemente do modo como o mais amoroso entre nós o faria.

É isso o que Jesus nos explicou na parábola do filho pródigo que voltou para o seu pai, mãe e irmão (Luc. 15). Rembrandt, pintor holandês, retratou essa cena num famoso quadro que se encontra no Museu Nacional do Eremita, em São Petersburgo, Rússia. O teólogo Henri Nouwen escreveu um livro sobre essa pintura do filho rebelde que finalmente retorna para casa. O ponto central na parábola, tanto na pintura quanto no livro, é que, contra-riando todas as expectativas, Deus o Pai amou a esse jovem com um amor de mãe e com um amor de pai. Esse ponto incomum está implícito na parábola de Jesus onde ambos — pai e mãe — fazem algo para demonstrar seu amor ao filho que volta ao lar. O pai veste o filho com um manto e a mãe lhe pre-para um banquete. Isso é mostrado cla-ramente na pintura de Rembrandt e na interpretação de Nouwen. Rembrandt pintou as mãos do pai nos ombros do filho — uma reproduz a mão forte de um homem e outra se parece com a mão gentil de uma mulher. E colocou a figura de uma mulher mais ao fundo

para indicar que ela também estava ali. É desse modo que Deus ama a todos os Seus filhos hoje. Ele ama a você e a mim, não importa a idade, o sexo, a raça, a religião ou a procedência geo-gráfica. Todos nós somos Seus filhos!

Nos momentos difíceis não é fácil manter em nossa mente o conheci-mento de Deus com nitidez. Mas, precisamos estar sempre centrados nele. Nos tempos de calamitosa destruição e catástrofe, à medida que este mundo ruma para o seu final, precisamos ter a certeza de que Ele é o nosso Criador e o Criador do mundo todo. Quando a lei e a ordem parecem não mais existir, os injustos são arrogantes e os inimigos de Deus pecam a olhos vistos, precisa-mos conhecer a vontade de Deus e Suas exigências éticas, porquanto apenas elas podem trazer paz à nossa vida, família e sociedade.

Niels-Erik Andreasen (Ph.D., Universidade Vanderbilt) é o pre-sidente da Universidade Andrews. Este artigo está baseado num sermão devocional pregado duran-te o recente Concílio Anual da Associação Geral dos Adventistas do Sétimo Dia. Seu endereço: Andrews University, Berrien Springs, Michigan 49104, EUA.

Atenção comunicadores!

Você é um estudante adventista de comunicação ou está trabalhando nessa área? A Convenção da Sociedade Adventista de Comunicadores (SAC, em inglês) é para você. A SAC promove o crescimento profissional e espiritual de adventistas em todas as áreas da comu-nicação: mídia eletrônica, jornalismo, artes gráficas, marketing, webdesign e outras. A convenção de 2004 acontecerá de 14 a 17 de outubro, em Dallas, Texas, EUA. Para detalhes e inscrição, visite: http://www.adventistcommunicator.org ou ligue para 800-732-7587 (EUA).

Realidade…Continuação da página 10.

do que o copioso e ameno ar sobre as orquídeas invalida, a priori, o materia-lismo. Admite-se prontamente que os pôr-de-sóis revelam os limites da lógica e fornecem razões no sentido de conhe-cer o amor de Deus. E até mesmo a criança inalterada não mostra que Cristo morreu na cruz. Não interprete, daqui-lo que está lá fora, mais do que existe. Tampouco interprete menos.

“Mas pergunta agora às alimárias, e cada uma delas to ensinará; e às aves dos céus, e elas to farão saber. Ou fala com a terra, e ela te instruirá; até os peixes do mar to contarão. Qual entre todos estes não sabe que a mão do Senhor fez isto? Na Sua mão está a alma de todo ser vivente, e o espírito de todo gênero humano”. Jó 12:7-10, Edição Revista e Atualizada no Brasil.

Clifford Goldstein é o editor do Adult Bible Study Guide. Este arti-go foi extraído de seu livro God, Gödel, and Grace: A Philosophy of Faith (Hagerstown, Maryland: Review and Herald Publ. Assn., 2003). Utilizado com permissão.

REFERÊNCIAS 1. Arthur Schopenhauer, The World as Will and

Idea (London: J. M. Dent, 1995), p. 4. 2. Ibid. 3. George Berkeley, On the Principles of Human

Knowledge, excerpted in The Speculative Philosophers (New York: Random House, 1947), p. 254.

4. S. Agostinho, The City of God (New York: Doubleday, 1958), p. 217.

5. Ibid., p. 254.

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PERFIL

Nascido numa fazenda no interior do Uruguai, Romualdo Costa aprendeu a amar as paisagens da natureza desde sua infância. Como um dos mais novos den-tre 11 irmãos, ele desfrutava uma vida tranqüila no campo, passeios a cavalo, pescarias no rio e escaladas em morros cobertos de árvores e vegetação.

O talento inato de Romualdo para o desenho e a pintura manifestou-se cedo e, com o apoio de um professor de arte, começou a desenvolvê-lo durante sua adolescência. Logo a pintura tornou-se uma paixão para Costa, e por décadas ele tem pintado quase todos os dias. Como conseqüência, produziu mais de 15 mil quadros de tamanhos diversos e em diferentes superfícies.

Em 1972, Costa, já casado, mudou-se com sua família para a Venezuela, onde se tornou um pintor bem conhecido e apreciado. Em 1989, em busca de novas experiências visuais e oportunidades artísticas, ele e sua família se mudaram para Porto Rico.

Desde 2001, reside nos Estados Unidos, onde continua a pintar. “O dia em que não posso pintar, sinto-me triste como uma coruja”, confessa. Costa exibiu seus quadros em mais de 100 exposições pessoais, e trabalhou como

jurado em várias mostras de arte. Atualmente, seus trabalhos fazem parte de coleções particulares em vários paí-ses do mundo.

Costa é casado com Alba Estades, também pintora, e têm três filhos: Enrique, Robert e Ronald.

Dialogo visitou o artista em sua casa, onde estava cercado por algumas de suas obras. Ele, gentilmente, convi-dou-nos a entrar e começamos nossa conversa.

■ Como você se tornou pintor?Comecei a desenhar e pintar quando

ainda criança. Um dia, aos 14 anos, na cidade de Melo, Uruguai, eu caminha-va perto de uma casa que tinha uma grande janela aberta. Observando seu interior, vi vários quadros a óleo fixados nas paredes e por vários minutos fiquei ali olhando embasbacado. Alguns dias depois, visitando novamente a cidade, vi que as janelas daquela casa estavam apenas entreabertas. Então subi no para-peito para olhar lá dentro mais uma vez, e vi um artista pintando. A despeito de o pintor haver-me pedido que parasse de olhar e fosse embora, fui para casa con-vencido de que um dia eu também seria um pintor.

■ O que o fez dedicar sua vida à pintura?Primeiro, o grande prazer que tenho

em pintar. Segundo, quando comecei a pintar toalhas de mesa e tapetes peque-nos, as pessoas começaram a comprá-los. Assim, aos 20 anos, descobri que podia combinar meu trabalho de colportor evangelista com as atividades artísticas. Por um tempo, também decorei por-celana numa fábrica. Oito anos depois, meus quadros proporcionaram-me uma

renda suficiente para me casar e formar uma família.

■ De onde você tira idéias para seus qua-dros?

Observando a natureza, principal-mente. Por essa razão, gosto de viajar e visitar lugares bonitos. Há tanto para ver! Podemos contemplar as formas, o contraste de luzes e sombras e a mudança de cores nos diferentes horários do dia. Também me inspiro ao observar outros quadros.

■ Qual é seu tema predileto?A Natureza fascinou-me desde a infân-

cia. Tudo nela fala de um Deus Criador que ama a diversidade, as cores e a beleza. Nas paisagens, gosto de combinar terra, céu e água, acrescentando árvores e flores. Uma das vantagens de ser pintor é que você tem liberdade de criar seu próprio cenário paisagístico e mudar alguns dos elementos para encaixar o conceito que você tem em mente.

■ Você tem preferência por alguma tinta em especial?

Durante anos utilizei tinta a óleo, mas ela seca lentamente e isso exige que o artista faça longas pausas antes de usar uma cor diferente. Além disso, em cli-mas úmidos, quadros a óleo podem ficar mofados; e esse tipo de tinta tem fortes componentes derivados de petróleo e chumbo, os quais são insalubres. Assim, mudei para tinta acrílica, que seca rapida-mente e não mofa.

■ Em que circunstâncias você se tornou adventista do sétimo dia?

Meu pai era um fiel membro da Igreja Católica. Tínhamos um altar em casa e a

Romualdo CostaDiálogo com um pintor paisagístico adventista uruguaio

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19DIÁLOGO 16•2 2004

cada noite rezávamos o rosário. Mas ele também lia a Bíblia para nós, ainda que muitos pensassem ser ela um livro peri-goso. Certa noite, quando eu era ado-lescente, uma de minhas irmãs teve um sonho impressionante no qual viu duas luzes resplendentes penetrando em nossa casa pela porta da frente. Ela acordou assustada e correu para contar o sonho ao meu pai. Papai a acalmou e disse-lhe para voltar a dormir. Na manhã seguinte, dois colportores evangelistas adventistas entra-ram por aquela porta! Por vários dias eles estudaram os ensinos da Bíblia com nossa família. Após poucos meses, todos nós fomos batizados no rio que passava atrás de nossa fazenda. Como éramos os únicos 14 adventistas da região, come-çamos a guardar o sábado e fazer nossos devocionais e cultos em casa.

■ O que aconteceu depois?Nossa família era querida entre os vizi-

nhos. Muitos deles gostavam das frutas e vegetais que plantávamos e lhes dávamos gratuitamente. Mas depois que nos tor-namos adventistas, sua atitude mudou drasticamente. Nossos parentes e amigos nos abandonaram e viramos objeto de escárnio. Aqueles dias foram tristes para a nossa família. Fomos denunciados à polícia como pessoas perigosas. Um dos policiais veio até nossa escola, chamou-nos à parte e nos interrogou sobre nossas crenças e práticas de culto. Dissemos a ele que estudávamos a Bíblia juntos, cantávamos hinos e orávamos diretamen-te a Deus. Nosso professor interveio e perguntou-lhe se era crime ler a Bíblia num país livre. O policial respondeu que, com certeza, isso não era crime, e então foi embora.

■ Há alguma ligação entre suas convicções cristãs e a arte?

Estão totalmente conectadas! Vejo minhas pinturas como uma imitação modesta e em miniatura do magnífico poder criativo de Deus revelado na natu-reza. Como pintor, expresso-Lhe minha gratidão.

■ Como você fortalece sua vida espiritual?

Em nossa família seguimos a fórmula cristã “clássica”. Estudamos a Bíblia e oramos diariamente; somos membros ativos da igreja adventista local, e com-partilhamos nossa fé com todos com quem temos oportunidade. Jesus Cristo é o centro de nossa vida como um ver-dadeiro Amigo. E, conforme recebemos as bênçãos de Deus, procuramos com-partilhá-las com outros.

■ Sua arte proporcionou-lhe ocasiões para testemunhar de Cristo?

Sim, muitas. As pessoas que visitam minhas exposições geralmente fazem perguntas. Isso possibilita uma abertura natural para que eu lhes possa falar sobre minhas razões, esperanças e convicções. Quando vivi na Venezuela, o Congresso Nacional honrou-me concedendo a cidadania do país, e me convidou a expor anualmente meus quadros no piso térreo do Congresso. Quando senadores, congressistas e funcionários visitavam a exposição, eu dava Bíblias de presente àqueles que demonstrassem interesse por assuntos espirituais.

■ Como pintor, o que lhe dá maior satis-fação?

Ver um quadro terminado! E observar como as pessoas gostam do que pintei. Meu desejo é transmitir-lhes alegria e paz. Uma senhora que comprou uma das minhas paisagens veio agradecer-me e contar sua história. Por vários motivos, ela sofria de depressão e estava interna-da para terapia. Ela pediu que aquele quadro fosse trazido de sua casa para o quarto onde estava e, cada manhã, pas-sava um tempo contemplando-o. Sentiu então que a paz e a esperança voltaram à sua vida, e logo pôde voltar para casa curada.

Além dessa satisfação pessoal, sou grato porque os rendimentos provenien-tes das vendas de meus quadros possi-bilitaram manter minha família, educar meus filhos, ajudar vários estudantes promissores e apoiar a missão da Igreja Adventista do Sétimo Dia.

■ Conte-nos sobre sua esposa.

Alba começou a pintar após nosso casamento e tornou-se uma boa pintora e crítica afetuosa do meu trabalho. Na Venezuela, ela ganhou o primeiro prê-mio numa exposição internacional de mulheres pintoras. Temos compartilha-do muitos anos de alegria juntos.

■ Algum conselho para os jovens que têm inclinação para a pintura?

Comece a pintar para desenvolver suas habilidades, até você descobrir seus pontos fortes e estilo próprio. Esteja disposto a aprender com os outros. Faça isso e sua vida será mais rica e feliz.

Se a inclinação para a arte e o talento forem fortes, você provavelmente poderá fazer da arte uma vocação para toda a vida.

Acredito que a pintura permitiu-me viver uma longa vida. Deus deu a cada um de nós certa habilidade artística, seja pintura, escultura, música, desenho ou composição literária. Nossa tarefa é alimentar esse dom com paciente perse-verança.

■ Se, pela graça de Deus, você estiver na Nova Terra, ainda se vê pintando lá?

Não sei. Mesmo em nosso mundo imperfeito e cheio de pecado ainda encontramos belezas quase irresistíveis. Na Terra renovada haverá tantas belezas ao nosso redor, que eu gostaria de saber se poderíamos ousar imitá-las em um mero quadro. Talvez Deus conceda aos remidos outras habilidades artísticas superiores, as quais agora não podemos sequer imaginar. Mas, certamente, aguardo com firme esperança o dia em que Cristo fará novas todas as coisas.

Entrevista concedida a Humberto M. Rasi

O Dr. Humberto M. Rasi é o funda-dor e editor-chefe da revista Diálogo. O endereço postal de Romualdo Costa é: 2255 Cahuila, Apt. 51; Colton, Califórnia 92324; EUA.

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20 DIÁLOGO 16•2 2004

PERFIL

Elaine Kennedy cresceu nas planícies de Enid, Oklahoma. Seu amor vitalício pela Geologia começou cedo, coletando fósseis que existem em grande quanti-dade a leste de Oklahoma. Em 1981, ela concluiu o bacharelado em Geologia e, quatro anos depois, outro bacharelado em Educação na Phillips University.

Após terminar seu mestrado em Geologia na Loma Linda University (Campus La Sierra) em 1987 e obter um Ph.D. em Geologia na University of California, em 1991, Elaine uniu-se à equipe do Geoscience Research Institute como cientista e pesquisadora nesse mesmo ano. Ela é membro da Sociedade de Geologia Sedimentária, da Sociedade Geológica da América, da Associação Internacional de Sedimentologistas, e da Afiliação de Geólogos Cristãos.

Seus projetos de pesquisa abrangem a sedimentação em águas profundas da Tapeats Sandstone (Grand Canyon, Arizona), e o estudo sedimentológico de ovos de dinossauro e depósitos de fragmentos de cascas de ovos na Patagônia, Argentina. Suas publicações variam desde relatórios em revistas científicas a testemunhos pessoais em publicações denominacionais.

O esposo de Elaine, Dee, é geren-te de projetos em uma companhia de engenharia mecânica no sul da Califórnia. Eles têm duas filhas, Shelley e Ami.

■ Quando a senhora percebeu pela pri-

meira vez um conflito latente entre as interpretações científicas tradicionais das origens e a sua crença em Deus como Criador?

Em minha classe de biologia do primeiro ano do ensino médio, fiquei muito aborrecida com as idéias do livro Origem das Espécies, de Darwin, mas meu professor disse-me para não deixar que a opinião de um homem me inco-modasse tanto. Interpretei esse conselho como significando que eu deveria ser inteligente o suficiente para pensar por mim mesma!

■ Como a senhora solucionou esse desafio à sua fé?

Quando ainda estava no ensino médio, um novo pastor chegou à minha cidade e explicou que nós (batistas do Sul) tínhamos “interpretado mal” o relato da criação em Gênesis, e que Deus tinha moldado e desenvolvido a vida através do processo de evolução. Sua colocação tipicamente evolucio-nista teísta foi-me confortadora, pois eu poderia conservar minha crença em Deus como Criador, e ainda manter o grande respeito que tinha pela ciência.

■ A senhora matriculou-se na faculdade para cursar Geologia. Como sua perspecti-va de Deus mudou durante seus estudos?

Eu tinha dificuldade de conciliar a imagem de um amoroso Criador com a morte e destruição aparentes nos depósitos de mortandade em massa. Embora nossa igreja ensinasse que a morte fosse o resultado do pecado, eu a via como uma parte natural do ciclo da vida criado por Deus, o que O tornava autor da morte. Essa imagem de Deus não era consistente com Aquele que eu conhecia através da minha experiência pessoal.

■ O que a ajudou a superar essa crise espiritual?

Deixei a faculdade no penúltimo ano para me casar com Dee, um piloto da Força Aérea, e começamos a participar de um grupo não-denominacional de estudo da Bíblia. Nosso interesse pelos eventos dos finais dos tempos intensificou-se quando lemos The Late Great Planet Earth, de Hal Lindsay. Então vimos um anúncio da Cruzada de Profecia de Kenneth Cox. Nunca havíamos ouvido falar dos adventistas do sétimo dia antes, mas decidimos que valeria a pena assistir às reuniões, se pudéssemos aprender mais sobre a imi-nente volta de Cristo. Toda noite tomá-vamos notas e as comparávamos com o livro de Lindsay. Na noite seguinte, encurralávamos o Pr. Cox e o desafiáva-mos dizendo: “Hal Lindsay diz…”

Ele apenas sorria e dizia: “Vamos ver o que a Bíblia fala a respeito disso”, e então ele nos mostrava pela Bíblia qual era a procedência de sua teologia.

■ Posteriormente, essa série evangelística estudou o tópico da criação literal em seis dias. Tendo em vista sua formação cientí-fica, como a senhora reagiu?

Certa noite, o título do sermão era “O aniversário da mãe de Adão” e, após a reunião, eu disse ao Pr. Cox que era estudante de Geologia e que achava un absurdo apresentar uma criação literal e uma cronologia curta da vida na Terra. Em vez de pegar sua Bíblia, ele disse que me daria um livro para ler. Tratava-se da Creation: Accident or Design?, de Harold Coffin. Quando folheei os capí-tulos, percebi que o autor usava os mes-mos dados e evidências que me foram ensinados, mas suas interpretações e conclusões eram bem diferentes.

Fiquei surpresa quando compreendi

Elaine KennedyDiálogo com uma geóloga adventista

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que podia crer na Bíblia e ainda assim ser uma cientista. O problema não estava nos dados, mas nas suas interpre-tações. Finalmente o conflito estava solu-cionado; novamente, Deus Se tornou para mim o amoroso Criador descrito na Bíblia. Dee e eu aceitamos o sábado do sétimo dia como memorial da Criação.

■ A senhora e Dee uniram-se à Igreja Adventista do Sétimo Dia. Mais tarde, decidiu terminar a sua faculdade.

Dee não podia guardar o sábado e manter sua carreira militar, então deci-diu fazer um mestrado em matemática. Nessa época, nossas filhas nasceram e meus planos educacionais foram pos-tergados. Depois que nossa filha caçula iniciou a pré-escola, Dee encorajou-me a continuar meus estudos, cursando uma disciplina de cada vez. Posteriormente, completei o segundo bacharelado em Educação.

■ A senhora tinha a intenção de ser pro-fessora de ciências naturais durante o resto de sua carreira?

Sim, mas antes disso, enquanto viví-amos no Texas, Harold Coffin veio ao Southwestern Adventist College apre-sentar um novo livro de ciências para o ensino médio. O Dr. Coffin incentivou-me a fazer doutorado em Geologia com o precípuo objetivo de participar do Geoscience Research Institute. No final, esse sonho se tornou realidade.

■ Enquanto cursava seu doutorado, a senhora provavelmente teve problemas com o sábado nas pesquisas de campo progra-madas ou mesmo nos exames. Também teve dificuldades em permanecer no programa doutoral porque era criacionista convicta?

Meus professores eram compreensivos com relação às minhas convicções sobre o sábado, e um deles até me assegu-rou que eu poderia participar de uma pesquisa de campo obrigatória e ainda guardar o sábado. Era mais difícil ser criacionista numa área de estudo domi-nada pelo ensino evolucionista. Antes de começar o doutorado, orei a Deus dizendo que estava colocando esse diplo-

ma em Suas mãos, e que compartilharia minha fé abertamente. Eu não tinha a intenção de fazer um evangelismo agres-sivo, mas coloquei um pôster cristão na parede da minha salinha de estudos, e tinha uma Bíblia e uma cópia do Caminho a Cristo sobre minha mesa. A porta estava sempre aberta para conver-sar com qualquer pessoa que o Espírito de Deus me enviasse.

■ Que conselho a senhora tem para dar aos estudantes adventistas que podem estar enfrentando desafios à sua fé, seja sobre a guarda do sábado ou outros assuntos idelógicos?

Você não necessita ser um cristão “fechado” para estudar numa univer-sidade pública. Os piores erros que vi foram cometidos por estudantes com conhecimento limitado acerca de um assunto, e que decidiram brigar com um professor da universidade a fim de “corrigi-lo”. Se a fé de alguém está sendo desafiada, ele deve manter-se firme, mas há várias maneiras de assim proceder sem tentar humilhar um professor em público. Se as emoções o estão pressionando a reagir, retroceda e ore para que o Espírito Santo o guie.

■ Sob a perspectiva de uma geóloga cris-tã, o que a convenceu de que os relatos bíblicos da criação e do dilúvio (Gênesis 1-11) são válidos e factuais?

Em primeiro lugar, creio que a Bíblia é a Palavra de Deus divinamente inspi-rada e que o relato bíblico é totalmente verdadeiro com respeito à história da Terra. Creio, também, que a cronologia curta da vida proposta por essa visão é válida.

Segundo, vejo o catastrofismo escrito sobre toda a superfície da Terra. Olho para as rochas pré-cambrianas, as mais antigas na Terra, e penso no terceiro dia da semana da criação. Olho para as montanhas e a mortandade em massa e penso no dilúvio de Gênesis. Paraconformidades, megasseqüências, zonas de ruptura da crosta terrestre (o sistema global de cadeias de fraturas) e os surpreendentes depósitos globais

(sedimentos vermelhos, combustíveis fósseis, calcários, argilitos negros, etc.), provêem evidências de uma catástrofe mundial extremamente complexa. Vejo também o tempo nos registros rochosos e isso reforça meus conceitos referentes à complexidade do evento.

Terceiro, sei que o tempo é o fator crucial nessas discussões. Os longos períodos do modelo padrão da história da Terra focalizam-se mais e mais entre as camadas rochosas, não nas próprias rochas.

E por último, existem coisas das quais nada sei e não consigo explicar. A mais significativa delas é: Por que as seqüen-cias no registro rochoso e no registro fóssil equiparam-se pelo mundo inteiro? Tenho muitas idéias acerca da questão, mas não possuo respostas cien-tificamente aceitáveis. Acredito que é preciso um time de pesquisadores para se chegar a uma conclusão.

■ Trabalhar para a Igreja Adventista do Sétimo Dia afeta seu trabalho como geóloga?

Definitivamente! A Igreja tem apoia-do minha pesquisa com fundos e incen-tivos. Os líderes denominacionais nunca me disseram o quê ou onde pesquisar, nem que conclusões devo obter. Minha perspectiva teológica suscita questões que não seriam consideradas em nenhu-ma outra instituição, mas aqui, no Geoscience Research Institute, sinto-me livre para buscar as respostas. Creio, conseqüentemente, que minha pesquisa contribui para o conhecimento científi-co e a missão da Igreja.

Entrevista concedida a Kathy Ching

Kathy Ching é editora de publicações e gráficos do Geoscience Research Institute. A Dra. Elaine Kennedy pode ser contatada através do Geoscience Research Institute; 11060 Campus Street; Loma Linda, Califórnia 92350; EUA. Email: [email protected].

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PONTO DE VISTAApaixonado pela PaixãoSamuele Bacchiocchi

A Paixão de Cristo, filme de Mel Gibson, despertou profun-das emoções e apaixonadas controvérsias. Para alguns o filme tornou-se a pedra de toque da ortodoxia que separa as “ove-lhas” dos “bodes”. Contudo, uma separação mais realística ocorre entre expectadores emocionais e racionais, e a maioria cai na primeira categoria. As emoções geradas impedem uma avaliação racional do filme, especialmente pelos expectadores não familiarizados com os erros bíblicos e históricos sutilmen-te entremeados no filme.

De uma perspectiva cinematográfica, o filme é uma extra-ordinária realização artística. Os personagens parecem reais. Os judeus, os soldados romanos, Pilatos, sua esposa, e os dis-cípulos, todos usando vestuário do tempo que representam. Maria é uma exceção, parecendo mais uma freira medieval do que uma mulher judia do primeiro século. Jim Caviezel, que interpreta Cristo, transpira suor e sangue e aparece com um olho permanentemente fechado na maior parte do filme, depois de brutalmente espancado pelos soldados durante Seu aprisionamento. A cena da flagelação, rodada em câmara lenta, é acompanhada por suave canto gregoriano e desperta profundas respostas emocionais.

Apesar das magníficas qualidades artísticas, A Paixão apre-senta sérios problemas bíblicos e teológicos. O filme está repleto de elementos não bíblicos, tais como as freqüentes aparições de Satanás como uma encapuzada e andrógina figu-ra; Maria Madalena suplicando aos soldados romanos para ajudarem a Jesus; Judas forçado ao suicídio por crianças pos-suídas de demônios; a esposa de Pilatos oferecendo lençóis a Maria com os quais sepultar Jesus; a superposição de tomadas do ensangüentado corpo de Cristo com cenas da última ceia, para advogar a idéia de como a eucaristia é realmente o corpo e o sangue de Cristo; e o terremoto final que divide o templo em dois.

Em adição a essas e outras cenas, cristãos crentes na Bíblia discordam vigorosamente de vários conceitos teológicos que refletem as convicções religiosas de Gibson, mas que são con-trárias aos claros ensinos das Escrituras. Três desses merecem nossa atenção.

O proeminente papel de MariaGibson retrata Maria através das 14 situações da cruz,

como uma parceira de Cristo na redenção humana. Depois de sua negação, Pedro cai aos pés de Maria chamando-a de

A Paixão de Cristo de Mel Gibson é a mesma história conta-da de forma diferente. Nossas reações poderão variar, portan-to, de acordo com a perspectiva de cada um. Enquanto alguns judeus se opõem ao filme por interpretá-lo como anti-semita, os países islâmicos permitiram sua exibição depois de se intei-rarem da reação judaica. Algumas autoridades seculares presu-miram que o filme exalta a violência, sem entender o pano de fundo da cruz. Há cristãos que rasgam suas vestes por aquilo que Gibson acrescentou ao relato dos evangelhos. A maioria, entretanto, mostra-se impressionada com a mensagem do filme. A imprensa tem noticiado conversões surpreendentes como resultado da assistência de A Paixão.

Valor missionárioMuitas congregações adventistas na América do Sul têm

distribuído livros sobre a vida de Cristo nas cercanias dos cinemas onde o filme é exibido. Um livro especial por título A Paixão dos Séculos foi publicado nos Estados Unidos, contendo os últimos 14 capítulos do livro O Desejado de Todas as Nações, de Ellen White. O filme logo estará disponível em vídeos e DVDs, o que permitirá seu uso com propósitos missionários e em encontros evangelísticos.

Alguns filmes anteriormente produzidos apresentavam Jesus como mal-humorado diante dos Seus oponentes, ou dema-siado afável para com o povo. Apesar de tudo, alguns pastores têm exibido esses filmes em minhas cruzadas evangelísticas, a fim de preparar o povo para ouvir a mensagem da Bíblia. Após a apresentação do filme, costumo dizer que os atores, bem como nós mesmos como cristãos, não podemos represen-tar condignamente o perfeito caráter do Filho de Deus.

O que excluir?Cansei-me de ver Maria tantas vezes no filme, embora seu

papel não tenha desagradado minha esposa. Concordamos, contudo, que seria melhor eliminar como sem sentido a cena em que ela limpa o sangue do seu Filho que havia caído sobre o pavimento, com um manto que a esposa de Pilatos lhe dera. Não podemos ignorar, por outro lado, que os Evangelhos con-tam que Maria seguiu seu Filho até a cruz, juntamente com outras mulheres fiéis.

A mesma história contada de modo diferente Alberto R. Treiyer

Continua na primeira coluna da página 23. Continua na segunda coluna da página 23.

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23DIÁLOGO 16•2 2004

“mãe” e implorando-lhe perdão. Na cruz, Maria profere as palavras: “Deixe-me morrer com você.”

Numa entrevista, Jim Caviezel, que faz o papel de Cristo no filme, disse: “Esse filme é algo que, creio, foi feito por Maria para o seu Filho. Maria sempre me indicou a dire-ção da verdade... Ela arquitetou toda essa coisa,”(National Catholic Register, 30 de janeiro de 2004).

Gibson expressa sua admiração a respeito de como os evan-gélicos estão aceitando A Paixão, “Embora o filme seja tão Mariano’” (Christianity Today, março de 2004). Pessoalmente estou impressionado em como alguns adventistas estão recon-siderando o papel de Maria em nossa salvação.

Salvação através do sofrimento de CristoO foco central de A Paixão é um incansável bater, flagelar

e dilacerar a carne de Cristo, até ser Ele crucificado. Não há nenhuma dúvida que a crucifixão era brutal. Mas Gibson submete Cristo a um tipo de punição que mataria qualquer super-homem três vezes antes da execução. Por quê? A respos-ta é encontrada na crença de Gibson sobre salvação através do intenso sofrimento de Cristo.

De acordo com essa crença, ensinada pelos místicos católi-cos como Anne Emmerich, que foi a maior fonte do filme, Cristo tinha que sofrer em Seu corpo e mente a punição equivalente a todos os pecados da humanidade, a fim de satis-fazer as demandas da justiça divina. Essa compreensão sádica de Deus é completamente estranha às Escrituras, e O trans-forma num Ser que inspira medo em lugar de amor.

A missa como reencenação do sacrifício de CristoO filme de Gibson projeta o sacrifício de Cristo como

tendo lugar em menor escala na celebração da missa. O roteiro de A Paixão foi especificamente escrito para enfati-zar a relação entre o sofrimento e a morte de Cristo com a celebração da missa. A intenção de Gibson foi mostrar que o sacrifício de Cristo e a missa são a mesma coisa.

A crença católico-romana de que Cristo pode ser sacrifica-do inúmeras vezes, e de que benefícios são acumulados cada vez que essa redenção se repete, está em contradição com aquilo que as Escrituras ensinam: “Isto fez Ele, uma vez por todas” (Hebreus 7:27). Os protestantes têm rejeitado histo-ricamente como “abominável” a idéia de que o sacerdote, no altar, tem poder para sacrificar Cristo repetidas vezes. Mas a ampla aceitação de A Paixão por cristãos evangélicos diz muito sobre como o abismo de separação entre o catolicismo e o protestantismo está sendo estreitado, e como os protestan-tes estão sendo atraídos para o aprisco católico.

Samuele Bacchiocchi (Ph.D. pelo Seminário Pontifício de Roma) ensinou teologia na Andrews University. Para uma detalhada avaliação desse filme, acesse o site: http://www.biblicalperspectives.com.

Alguns provavelmente acabem excluindo o diabo do filme. Mas não é difícil imaginar que o diabo estava no Getsêmani, acompanhado de seus demônios, tentando desencorajar o Senhor. Em outras partes do filme, o diabo é representado observando tudo o que ocorre. Eu excluiria a representação dos demônios através de crianças ou anões que atormentam Judas, e também a exposição final do diabo como um mons-tro enfurecido.

A brutalidade contra Jesus mostrada no filme pode pertur-bar algumas pessoas. Contudo, será que as autoridades trata-ram bondosamente o Senhor? Comoveu-me a dignidade que o Filho de Deus revela sob a provocação e o abuso. Algumas cenas adicionais de castigo quando o Senhor leva a cruz tam-bém podem ser eliminadas, já que não estão nos Evangelhos. Mesmo assim, o livro O Desejado de Todas as Nações, uma bio-grafia inspirada e autorizada, descreve a participação de alguns soldados e do povo na zombaria e maus tratos, bem como a interferência de outros romanos protegendo-O da multidão que queria linchá-Lo em Seu caminho ao Calvário.

Mensagens teológicasA Paixão representa adequadamente o amor do Filho de

Deus por seus piores inimigos. Condena implicitamente, por outro lado, todo tipo de genocídio “cristão”.

A cena em que Jesus pisoteia a serpente, embora não lite-ralmente bíblica, ressalta o triunfo de Cristo sobre Satanás (ver Gên. 3:15; Apoc. 12:9). Contrariamente às ambições políticas de sua igreja, Gibson mostra que o reino do Senhor não é deste mundo. Também conduz-nos a enfrentar o sofri-mento do Filho de Deus através do ponto de vista de Judas, Pedro, Maria e da mulher pecadora, a qual, corretamente, é identificada como Maria Madalena (ver O Desejado de Todas as Nações, p. 568).

O que falta ao filmeNão podemos exigir que Gibson incluísse tudo o que gosta-

ríamos de ver em seu filme. João escreveu o último Evangelho precisamente porque sentiu que muitos eventos importantes não haviam sido incluídos nos outros. Mas teve de admitir que “nem mesmo no mundo inteiro haveria espaço suficiente para os livros que seriam escritos” ( João 21:25 - NVI). Além disso, as epístolas e o livro do Apocalipse foram necessários a fim de explicar e projetar até o fim do mundo a história da cruz. Contemos aos outros o que falta no filme de Gibson. “A cruz de Cristo será a ciência e o canto dos remidos durante toda a eternidade” (E. White, O Grande Conflito, p. 651).

Alberto R. Treiyer (D.S.R. pela Universidade de Estrasburgo) é teólogo, evangelista e autor de vários livros e artigos. Seu website: www.tagnet.org/distinctive-messages.

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24 DIÁLOGO 16•2 2004

Devo beber vinho para conservar minha saúde?Há cerca de dez anos, em minha pré-ado-lescência, fiz uma promessa de não tomar qualquer bebida contendo álcool. Até aqui tenho mantido minha promessa e sem arrependimentos. Recentemente, todavia, tenho lido relatórios sobre os benefícios do consumo regular de vinho para a saúde. Por outro lado, alguns estudos contradizem essas afirmações. Estou confuso. Beber vinho é bom para a saúde?

Nossa sociedade é bombardeada pelo conteúdo de mensagens veiculadas pela mídia quanto aos benefícios do con-sumo do álcool para a saúde. Muitos artigos da recente literatura científica têm discutido os benefícios do álcool em relação à saúde humana. Seria deso-nesto não reconhecer que pequenas quantidades de álcool têm produzido algum benefício quanto a doenças coro-narianas. Isso tem sido demonstrado em laboratório pela exposição das paredes internas das células endoteliais ao álcool. Algumas funções dessas células foram melhoradas pelo álcool.

Entretanto, é importante lembrar duas coisas. Primeira, essa evidência par-ticular tem sido observada experimen-talmente em culturas de células, mas a vida não é vivida numa placa de Petri! Segunda, nenhum benefício vascular coronário se aplica às pessoas jovens. Os indivíduos estudados são pessoas inseridas nas faixas etárias entre a meia e terceira idades, principalmente homens. A maioria dos indivíduos apresenta fatores de risco de doenças coronarianas. Os estudos são observacionais e não generalizados. Isso significa que eles não foram elaborados para avaliar resultados prospectivos (futuros), e dessa maneira sua significância absoluta está aberta a discussões.

Para contrabalançar o argumento em relação ao benefício do uso de vinho tinto, deve ser enfatizado que o suco não fermentado de uva vermelha apresenta benefícios significativos para a saúde. Isso se explica pela presença de subs-tâncias como resveratrol e flavonóides, os quais agem como antioxidantes. Eles diminuem o tempo de coagulação e exercem efeito positivo sobre as células endoteliais.

Existem muitos aspectos negativos relacionados ao consumo do álcool. Creio que todo esse debate pode ser resumido nas palavras da seção editorial de uma respeitada revista científica de medicina: “As descobertas sobre o uso do álcool em doenças cardiovasculares ainda são correlativas, já seus efeitos tóxicos são bem estabelecidos.” O álcool é uma substância que causa alto grau de dependência; 15% daqueles que conso-mem álcool irão tornar-se dependentes problemáticos ou alcoólatras. O álcool é a principal causa de retardamento men-tal evitável em muitos países, incluindo os Estados Unidos. Isso por causa de seus efeitos tóxicos sobre o feto durante o período da gravidez.

O álcool é também a causa funda-mental de mortes causadas por violência, acidentes, traumas e doenças induzidas por suas toxinas. Tem sido demons-trado que o álcool aumenta o risco de vários tipos de câncer, incluindo o de mama. Seu consumo excessivo aumenta as chances de doenças hepáticas. Esses efeitos colaterais indesejáveis produzi-dos pelo álcool raramente são citados, em especial quando a imprensa veicula informações sobre os chamados “bene-fícios do álcool” à saúde. Infelizmente, a imprensa não trata das conseqüências sociais, físicas e emocionais do consumo

do álcool.Os alunos universitários são afetados

por problemas relacionados ao álcool? Apresentaremos a seguir algumas convin-centes estatísticas oriundas de um amplo estudo realizado com alunos universitários entre 18 e 24 anos, nos Estados Unidos. Todos os problemas estão ligados ao uso do álcool.

• 1.400 alunos morrem a cada ano.• 500 mil alunos são vítimas de aciden-

tes involuntários.• 600 mil estudantes são assaltados por

outros alunos.• 70 mil alunos, anualmente, são víti-

mas de relações sexuais e estupros induzidos pelo álcool.

• 400 mil estudantes por ano tiveram relações sexuais desprotegidos, e mais de 100 mil estavam tão intoxicados que não puderam dizer se haviam consentido com isso.

• 2.1 milhões de alunos dirigiram auto-móveis sob a influência do álcool.

• 25% dos alunos universitários reco-nheceram os prejuízos do álcool sobre sua vida acadêmica.

À luz desses fatos, não faz sentido e nem há vantagem médica em substituir uma doença (ou muitas) para obter uns poucos benefícios para as coronárias. Isso é particularmente verdade quando obser-vamos as terapias preventivas já com-provadas, tais como o exercício físico, o

Peter N. Landless – Estudou medicina na Universidade de Witwatersrand, Joanesburgo, África do Sul. Ele é especialista em medicina familiar, medicina interna e cardiologia, com especificidade em cardiologia nuclear. É também membro do American College of Cardiology. Atualmente, o Dr. Landless está servindo como diretor-associado do Departamento do Ministério da Saúde da Associação Geral da IASD. Seu endereço é: 12501, Old Columbia Pike; Silver Spring, Maryland 20904; EUA.

Continua na página 27.

FÓRUM ABERTO

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25DIÁLOGO 16•2 2004

Testemunhar aos outros e mesmo tentar convencê-los a aceitar os ensinos da Bíblia e do Evangelho é privilégio e responsabilidade de cada cristão. Entretanto, o preconceito interfere com freqüência em nossos relaciona-mentos com outras pessoas que perten-cem a diferentes raças, que falam outra língua, têm outra cor de pele ou crêem noutra religião. Tal preconceito é indigno do nome que portamos como cristãos, e estorva tanto o relaciona-mento quanto o testemunho.

Como você, um estudante cristão, pode relacionar-se com seus colegas de classe e amigos muçulmanos ou mesmo dar-lhes testemunho, evitando o preconceito? A tarefa é delicada, sen-sível e muitas vezes mal compreendida. Este artigo procura ser exato e fiel aos princípios do Evangelho e da Grande Comissão. Ele expõe princípios de testemunho que revelam amor e zelo pela pessoa a quem queremos alcançar. Aqui estão alguns indicadores que irão ajudá-lo a entender melhor seus ami-gos muçulmanos.

Conhecendo as contribuições do Islã

Na Idade Média, num tempo em que a Europa vivia em trevas espi-rituais e religiosas, os muçulmanos, especialmente no mundo árabe, des-

Como dar testemunho aos seus amigos muçulmanosBorge Schantz

frutavam uma era de desenvolvimento em muitas áreas científicas. Os muçul-manos têm o direito de sentir orgulho de suas conquistas, as quais reestimula-ram o progresso da ciência no mundo ocidental. Isso inclui descobertas e pesquisas em medicina, matemática, geografia e astronomia. O zênite dessas fantásticas explorações científicas ocor-reu entre os anos 900 e 1200 a.D.

Os eruditos árabes e muçulmanos desse tempo se associaram não apenas a especialistas cristãos e judeus, mas também a intelectuais chineses e per-sas. A disposição e a abertura para tra-balharem juntos marcaram suas con-tribuições ao conhecimento em muitos campos. Textos valiosos da literatura grega que estavam em perigo de esque-cimento, e mesmo perdidos na idade das trevas européias, foram traduzidos para o árabe e preservados. A língua árabe tornou-se a língua franca para os cientistas que trabalhavam juntos em Bagdá, Cairo e Córdoba.

Entretanto, ao final do século 13, essa era dourada de artes e ciências começou a declinar. Muitas razões poderiam ser listadas para explicar esse retrocesso e declínio da civilização árabe. Guerras perdidas, monopó-lio estatal com elevados impostos, e decadência econômica, poderiam ser responsabilizados por isso. Entretanto, muitos sentem que a culpa está ligada à ortodoxia islâmica, onde o Alcorão foi interpretado de forma restritiva e a ciência abarrotada de proibições reli-giosas.

Nesse período de decaimento da civilização e ciência islâmicas, a Europa vivenciava não apenas o movimento da Reforma, mas também o renascimento

das artes e da ciência. Isso abriu um novo mundo de conhecimento. Entre outros fatores, a tradução dos textos árabes ajudou a redescobrir suas tradi-ções culturais.

Entendendo a situação muçulmana atual

Os resultados desse desenvolvi-mento no mundo islâmico, ocorridos séculos atrás, ainda repercutem nos países muçulmanos. O General Pervez Musharraf, presidente do Paquistão, uma das mais poderosas nações muçul-manas, conclamou recentemente todo o mundo muçulmano, com seus 1.2 bilhões de habitantes, a criar um fundo multibilionário para promover a ciên-cia e a tecnologia. Ele declarou que as nações islâmicas têm aproximadamente 1/4 da população mundial e 70% de todos os recursos energéticos globais. Ainda assim, produzem menos de 1/5 em relação ao produto nacional bruto do Japão, que tem apenas 1/10 da população do mundo islâmico. Ele também chamou a atenção para o fato de o Japão ter mais de 1.000 universi-dades, enquanto todo o mundo árabe possui apenas 450.

Esteja ciente de que existem “muçulmanos” e “muçulmanos”

Um lingüista alemão está propon-do que a expressão “11 de setembro” conste dos futuros dicionários. Os eventos trágicos que atingiram os Estados Unidos de uma forma tão severa e direta têm provocado conse-qüências negativas para todo o mundo. Esses sinistros acontecimentos em Nova Iorque e Washington, seguidos por uma série de atos brutais, têm afe-

Amor, respeito e amizade podem fazer mais em favor de uma troca genuína de idéias, do que toda a lógica e persuasão do mundo.

VIDA NO CAMPUS

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tado não apenas o mercado financeiro, o turismo e a aviação, mas também as relações entre muçulmanos e cristãos, e entre muçulmanos e muçulmanos.

Alguns muçulmanos estão enver-gonhados por causa de tais eventos. Alguns crêem que, até certo ponto, 11 de setembro e outros ataques são justi-ficáveis. Num campus universitário, os muçulmanos que defendem tais idéias terão a tendência de se isolarem e inte-ragirem socialmente apenas com outros muçulmanos. Felizmente, muitos inte-ragem livremente com seus colegas de escola, desejosos de se familiarizarem com eles, e algumas vezes até buscando seu auxílio nos estudos.

Estudantes muçulmanos mantêm várias posições na escala teológica islâ-mica. Essas orientações variam desde a ortodoxa, onde os devotos tomam literalmente as palavras do Alcorão e seguem as tradições à risca, até os que são apenas muçulmanos nominais, os quais abandonaram a maior parte das crenças e práticas muçulmanas.

Entretanto, é óbvio que pode não existir nenhum padrão metodológico para o testemunho cristão aos muçul-manos. Há, todavia, alguns princípios elementares que podem ajudá-lo nos relacionamentos com amigos muçul-manos da faculdade ou universidade, onde eles sentem ansiedade pelo fato de serem a minoria.

Seja um amigo compreensivoOs alunos muçulmanos se acham

num estado de transição, pelo menos no início de sua estada num país estrangeiro. Estão apartados das rotinas diárias comuns ao ambiente muçul-mano. A vida numa sociedade permis-siva, com seu estilo de vida liberal e variadas liberdades, nem sempre é fácil de ser vivenciada por uma pessoa que procede de um país muçulmano, com muitas regras a controlar a vida pública e privada. Essa nova experiência os coloca em posição de alerta, criando neles até certa desconfiança. Mas eles estão abertos a idéias de novos amigos, especialmente quando esses os ajudam

a enfrentar novos desafios. A amizade genuína é a condição

mais importante para se estabelecer um relacionamento confiável e amistoso com seus amigos muçulmanos. É de suma importância que a confiança e a compreensão mútuas sirvam de base para a comunicação eficaz. Essa amiza-de pode ser expressa mediante favores, prestação de de ajuda ou palavras bon-dosas.

Um estudante muçulmano que é novo num país estrangeiro pode neces-sitar de ajuda de várias maneiras. Ele pode ter problemas lingüísticos com relação à compreensão das aulas ou em expressar na nova língua o que foi ensinado em classe. Os estudantes muçulmanos podem precisar de auxílio ao tentarem explicar à equipe da lan-chonete a dieta especial que seguem. A hospitalidade é de extrema impor-tância no Islã. Para um aluno muçul-mano, um convite é uma positiva afirmação de amizade. Em tais casos, a dieta especial dos muçulmanos deve ser respeitada.

Antes de um diálogo significativo e amistoso ser estabelecido com um muçulmano, o respeito por sua religião deve ser manifesto. É imperativo um conhecimento elementar do Islã como religião, de seu sistema de crenças, rituais, regras e regulamentos. Obter informação relacionada com sua terra natal é também um dever.

Evite duas prováveis armadilhasNão leva muito tempo para que uma

conversa com um amigo muçulmano atinja o ponto de algumas compara-ções impróprias. Haverá tentações para suscitar paralelos entre os fundadores das duas religiões, Jesus e Maomé. Isso conduzirá facilmente às comparações entre a Bíblia e o Alcorão.

Para os cristãos, Jesus Cristo é o Filho de Deus que Se tornou homem a fim de trazer à humanidade a esperan-ça de salvação. Para os muçulmanos, Maomé foi um homem, chamado por Alá para ser seu profeta (mensageiro ou apóstolo). Cristo foi divino, Maomé

foi humano. A diferença desses concei-tos pode ser assim resumida:

Na compreensão cristã, a Palavra de Deus Se tornou carne quando Cristo nasceu (João 1:14). A maioria dos cristãos acredita que a Bíblia foi apenas um caminho pelo qual Deus escolheu comunicar-Se com a humanidade. Eles crêem que o Espírito Santo inspirou seres humanos pecaminosos e de lin-guagem imperfeita para serem porta-vozes divinos.

Desse modo, ao traçarmos um paralelo, o perfeito no cristianismo — Jesus Cristo — deveria ser comparado com aquilo que os islâmicos conside-ram como perfeito —o Alcorão. Num segundo nível, a Bíblia, expressão da divina verdade em linguagem humana, deveria ser comparada a Maomé, o qual transmitiu as palavras de Alá em língua árabe.

Outra armadilha a ser evitada é quando a conversação se volta para uma comparação entre as duas reli-giões. Aqui, tanto cristãos como muçulmanos são inclinados a compa-rar aquilo que é ideal em sua religião com aquilo que é praticado na outra religião. Os muçulmanos irão discorrer sobre os ideais islâmicos de completa abstinência do álcool, em oposição ao uso abusivo de bebidas alcoólicas pelos cristãos. Eles irão chamar a atenção para a forma frívola mediante a qual as mulheres cristãs se vestem, e compa-rá-la às vestimentas requeridas para as mulheres muçulmanas (hijab), quando se mostram em público.

Os cristãos irão chamar a atenção para os terroristas e suicidas muçul-manos, comparando seus atos com os princípios de comportamento con-forme expressos nas Escrituras. Irão salientar como as seitas muçulmanas lutam entre si com armas letais, e falar do que as mulheres islamitas sofrem na educação, casamento e divórcio.

Em tais discussões, devemos empe-nhar-nos em comparar ideal com ideal. Iremos então concordar que, a despeito de ambas religiões diferirem conside-ravelmente em seus conceitos quanto

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Atenção, profissionais adventistas!

Se você possui e-mail e um título ou diploma pós-secundário em qual-quer campo acadêmico ou profissional, nós o convidamos para fazer parte da Rede de Profissionais Adventistas (RPA). Patrocinado pela Igreja Adventista, esse registro global eletrônico assiste institui-ções e agências participantes a fin de loca-lizar candidatos para posições no ensino, administração, área de saúde e pesquisa, e consultantes especializados e voluntários para tarefas missionárias breves. Coloque gratuitamente sua informação profissional diretamente no website da RPA: http://apn.adventist.org. Anime outros profissio-nais adventistas a registrar-se!

à divindade e à salvação, seus ensina-mentos éticos e morais são de certo modo parecidos.

Respeito às convençõesA grosso modo, pode-se afirmar que

o Islã é uma “religião de vergonha” e que o cristianismo é uma “religião de culpa”. Isso significa que numa dis-cussão, muçulmanos (e nesse sentido muitos cristãos também) não apreciam ser ridicularizados. Nas culturas orien-tais isso não é apenas desagradável, mas humilhante. Quando um diálogo religioso entre um cristão e um muçul-mano atinge um nível de confrontação sobre assuntos doutrinários, é oportu-no lembrar do antigo ditado: ganhar na argumentação pode significar per-der um amigo. Evite tal espécie de diá-logo. Ao invés, construa uma amizade sólida, onde cada um possa expressar suas idéias e discutir suas convicções religiosas sem ferir o outro.

É importante lembrar que discussões conflitantes podem ser restringidas a um nível de amizade mútua e pessoal. A discussão de temas controvertidos com um amigo na presença de outras pessoas, cria um clima desagradável.

O que discutimos é tão importante quanto a maneira como o fazemos. A experiência tem-me ensinado que sensibilidade e bondade devem caracte-rizar nosso diálogo com nossos amigos muçulmanos. A jornada da fé deve começar a partir da satisfação de uma necessidade profunda, e não de uma teologia pesada. Conduzir uma pessoa para que reconheça sua condição peca-minosa e necessidade de um Salvador, é mais importante do que iniciar um debate sobre a Trindade, tema que a maioria dos cristãos instruídos acha difícil de ser entendido a fundo.

Além do mais:1. Lembre-se de que há mais seme-

lhanças do que diferenças entre as culturas do nosso mundo. Interesse, honestidade e amor serão úteis para a superação de obstáculos difíceis numa atmosfera intercultural de testemunho

cristão. Se você atender às regras de um comportamento aceitável, conclui-rá que o amor e o respeito mútuo ser-virão como elementos reconciliadores de divergências culturais.

2. Respeito à privacidade. Inicie seu testemunho com uma pessoa em particular. Seu amigo muçulmano não se sentirá livre ou à vontade em uma reunião ou conversa em público.

3. Ensine de forma simples, rápida e objetiva. Parta do conhecido para o desconhecido. Para os muçulmanos, sua fé não significa apenas crenças. É também uma questão de rituais. Freqüentemente eles enfatizam mais os ritos do que as doutrinas.

4. Lembre-se de que ao testemunhar para muçulmanos, a paciência dos san-tos não é apenas uma frase bíblica. É uma metodologia.

5. Aproveite cada oportunidade. Por anos, igrejas e agências missionárias têm buscado levar o Evangelho aos muçulmanos em seus países de origem. Agora eles são nossos vizinhos, pelo menos no Ocidente. Eles estudam conosco, trabalham conosco e fazem compras conosco. Não deveríamos conquistar a amizade deles e, como amigos, termos algo importante a compartilhar?

Borge Schantz (Ph.D. pela Fuller University) escreveu este artigo em sua casa, na Dinamarca, onde desfruta a aposentadoria ao lado da esposa Íris. Após uma longa carreira como pastor, evangelista, adminis-trador e chefe do Departamento de Teologia do Newbold College, ele fundou o Centro Adventista do Sétimo Dia de Estudos Islâmicos e é o autor do livro O Islã após 11/9 (Alma Park, Grantham, Lincs., England: Atumn House, 2003). Seu e-mail: [email protected]

Vinho…Continuação da página 24.

abandono do cigarro, a diminuição dos níveis de colesterol e a manutenção nor-mal da pressão sanguínea, os quais não apresentam quaisquer efeitos indesejáveis do álcool.

Espero que você esteja mais determi-nado que nunca em permanecer fiel à sua decisão de não ingerir bebidas alco-ólicas. Deus o abençoe e o fortaleça em sua decisão.

REFERÊNCIAS 1. T. Wallerath, D. Poleo, Li Huige, et al., “Red

Wine Inveases the Expression of Human Endothelial Nitric Oxide Synthase,” Journal of the American College of Cardiology, 41(2003), 3:471-478.

2. L. Fremont, “Biological Effects of Resveratrol,” Life Science, 14 de janeiro de 2000, pp. 663-673; M. Serafini, G. Maini, and A. Fervo-Luzzi, “Alcohol-free Red Wine Enhances Plasma Antioxidant Capacity in Humans,” Journal of Nutrition 128(6):1003-1007.

3. J. Goldberg, “To Drink or Not to Drink?” New England Journal of Medicine 348:2 (9 de janeiro de 2003), p. 164.

4. W. Hingson, T. Heeren, R. C. Zakocs, et al., “Magnitude of Alcohol-Related Mortality and Morbidity Among U.S. College Students Ages 18-24,” Journal of Studies on Alcohol, 63:2, março de 2002.

5. Goldberg, p. 164.

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LIVROS

Quem é Jesus? Foi Ele realmente uma figura histórica ou um mito religioso? Podemos acreditar nos registros dos Evangelhos que nos dizem quem era Ele, o que fez e ensinou? Ou esses registros e o testemunho de outros escritos do Novo Testamento são uma criação fictícia de entusiastas fanáticos, que queriam criar uma sociedade dinamicamente diferente da dominante comunidade judaica de então? É o Jesus da fé dife-rente do Jesus da história?

Essas questões permaneceram como um colosso, mirando os corredores da história, desafiando as mentes mais imaginativas dos críticos acadêmicos, de gigantes da fé e, algumas vezes, de simples crentes. O livro The Essential Jesus provê algumas res-postas. Os editores, bem treinados na complexa arte da ciência teológica e profundamente comprometidos com a fé entregue aos santos, supriram-nos de uma celebração da fé sem diluir os elementos essenciais da erudição. Doze acadêmicos adven-tistas bem conhecidos ajudam-nos a conhecer o Jesus essencial, Sua mensagem e missão.

A obra se inicia substanciando as evidências históricas de que a influência de Jesus sempre tem conduzido a um viver nobre. Se há alguma influência negativa do cristianismo, ela não procede do próprio Jesus, mas daqueles que tomam Seu nome em vão. Uma série de argumentos, solidamente documentados pela história e a arqueologia, demonstram a fidedignidade do “Jesus Histórico”. Dois fatos, incontestáveis e irrefutáveis, confrontam tanto o historiador como o pesqui-sador religioso: o mistério da tumba vazia e o surgimento da religião cristã (p. 30).

O livro trata adequadamente de assuntos complexos rela-cionados à Cristologia: o ministério do Messias profetizado no Velho Testamento, a pré-existência, a encarnação, o nasci-mento virginal de Jesus Cristo, e o mistério de ser totalmente humano e totalmente divino. O mesmo pode ser dito dos temas intrigantes de soteriologia, como o propósito da cruz, o

significado salvífico da morte de Jesus, as teorias de expiação, o significado da morte sacrifical e do sacrifício substitutivo, e as implicações teológicas da expiação e propiciação.

Dois estudos bem práticos refletem a relevância de Jesus para nossa vida pessoal, e apresentam reflexões instigantes sobre a importância de seguirmos a Jesus e modelarmos nossa vida, valores e ética, de acordo com o que Ele fez e disse durante Sua vida terrestre. O livro examina também o minis-tério de Cristo como Sumo Sacerdote e a Sua segunda vinda através de uma perspectiva adventista tradicional. A missão do Evangelho confiada por Jesus aos Seus discípulos é apresentada de modo tão contemporâneo, que surge como um desafio aos leitores para testemunharem de Jesus numa sociedade secular e materialista, através de um estilo de vida persuasivo, um envol-vimento social responsável e um evangelismo efetivo.

E nesse processo, o livro convida os leitores a escreverem o “quinto evangelho”, revelando e vivendo a história de Jesus em sua vida individual (p. 230). Quando assim fizermos, o mistério e o enigma teológico — quem é Jesus? — darão lugar a uma evidente afirmação de que Jesus é o nosso Salvador, Amigo e Senhor que em breve voltará.

Recomendo enfaticamente aos leitores da revista Diálogo que não deixem de ler esse excelente livro que confirma nossa fé.

Roberto Badenas (Th.D. pela Andrews University) é o Diretor de Educação e representante da Diálogo para a Divisão Euro-Africana em Berna, Suíça.

The Essential Jesus: The Man, His Message, His Mission, de Bryan W. Ball e William G. Johnsson, editores (Nampa, Idaho: Pacific Press Publ. Assn.; Warburton, Austrália: Signs Publ. Co., 2002; 299 pp.; brochura).

Resenha de Roberto Badenas

A Search for Identity: The Development of Seventh-day Adventist Beliefs, de George R. Knight. (Hagerstown, Maryland: Review and Herald Publ. 2002; 223 pp., brochura).

Resenha de Jean-Luc Rolland

George Knight é um conhecido autor e eminente histo-riador, cujos dons acadêmicos se destacam por seu amor à Bíblia e ao adventismo. Como professor de História da Igreja na Andrews University, o Dr. Knight é talvez o mais prolífico autor do adventismo contemporâneo. Seus livros cobrem áreas que vão desde a Filosofia da Educação à busca pela compresão

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vel revisão dessas crenças. Segundo o Dr. Knight, tal postura revela a herança e o espírito de nossos pioneiros para perma-necerem abertos à voz do Espírito, a fim de aperfeiçoarem sua relação com Deus.

Até certo ponto, esse livro é mais do que um trabalho his-tórico e teológico. Ele tem a ver com a espiritualidade e nos desafia a permanecermos abertos ao Espírito de Deus, e ser receptivos à promessa de que “Ele nos guiaria em toda a verda-de”. Acadêmico e de fácil leitura, a obra deve ser lida por todo aquele que deseja conhecer o desenvolvimento do pensamento adventista, e compreender o espírito de alguns de seus funda-dores em relação à sua própria existência.

Jean-Luc Rolland é professor na Salève Adventist University e diretor do Centro de Pesquisas Ellen G. White na França. Atualmente está fazendo o doutora-do na Universidade Protestante de Montepellier. Email: [email protected].

Uma agitada semana de trabalho está à sua frente. O des-conhecido, o estresse e a azáfama parecem acenar para você. Você sabe disso. Você sabe que seus amigos enfrentarão o mesmo. Por que não partilhar um pensamento, uma mensa-gem com eles para ajudá-los a enfrentar o que está adiante e, nesse processo, ajudar a si mesmo? Graça, livre graça de Deus, é suficientemente poderosa para ajudar. Assim começou o ministério singular de Kent Hansen. Ele decidiu enviar via e-mail para o trabalho de seus amigos, cada semana, simples mensagens sobre a graça. O resultado foi esse inspirador, mas coloquial livro, compartilhando o amor de Deus com as outras pessoas. Agora, com o quinto aniversário da “Palavra de Graça” se aproximando, a mensagem de esperança atinge mais de três mil pessoas em variados locais de trabalho: escritórios

Grace at 30,000 Feet and Other Unexpected Places, de Kent Hansen (Hagerstown, Maryland: Review and Herald Publ. Assn., 2002; 189 pp.; brochura).

Resenha de Sylvia Rasi Gregorutti

dos escritos de Ellen White, passando também por diversos livros do Novo Testamento, para definir a história do adven-tismo em termos de sua singularidade, promessas e desafios. Como historiador, é incansável pesquisador da verdade e das origens, onde aplica as mais criteriosas ferramentas para desco-brir a ambas dentro do contexto do desenvolvimento da Igreja Adventista do Sétimo Dia.

Três de suas obras sobre a história do adventismo reve-lam-nos sua grande apreciação pela herança adventista. A primeira, A Brief History of Seventh-day Adventists. A segunda, Organizing to Beat the Devil: The Development of Adventist Church Structure.

A terceira, A Search for Identity: The Development of Seventh-day Adventist Beliefs, coloca o autor numa posição de destaque quanto ao conhecimento da história adventista. Essa obra não é apenas sobre história, mas também sobre a história do pensamento adventista. O autor nos leva a uma viagem pelos limites do adventismo — suas raízes e maturidade, suas difi-culdades e oscilações, e o complexo caminho do desenvolvi-mento doutrinário.

O processo estabelece uma longa busca pelo esclarecimento por parte dos estudiosos adventistas. Como a crença adventista se relaciona com a identidade adventista? São elas parceiras inseparáveis? Ou pode uma existir sem a outra? Ao tentar levar o leitor através da fascinante jornada da compreensão desses assuntos, Knight dá-nos muito mais: uma deslumbrante des-crição histórica, intercalada com histórias atrativas, retratos da capacidade e desafios de nossos pioneiros, e um chamado à geração presente para descobrir e permanecer fiel à nossa iden-tidade religiosa.

Como os adventistas vieram a crer naquilo que advogam? Na obra A Search for Identity, o Prof. Knight não se atém ape-nas a temas polêmicos da teologia, mas mostra também como podemos manter um equilíbrio entre os pilares de nossa fé e o desenvolvimento, o progresso, o crescimento e as mudan-ças nessa fé. As controvérsias apresentadas por Knight são os temas da inspiração e revelação, a teoria da porta fechada, o legalismo da época de 1888, a Trindade, o panteísmo, o fun-damentalismo e perfeccionismo. A discussão revela claramente que a resistência ao desenvolvimento parece ser nossos reflexos e virtude mais naturais, especialmente num mundo que está altamente desejoso de mudanças.

Entretanto, o Dr. Knight não é um pessimista. Ele encontra diversos motivos para ser otimista e revela tal esperança no preâmbulo da declaração das “Crenças Fundamentais da Igreja Adventista do Sétimo Dia”, feita na década de 1980. Essa declaração enfatiza que não estamos ligados a qualquer sistema de crenças humanas, mas olhamos para “a Bíblia como [nossa] única crença.” Conquanto tal ênfase na Bíblia nos tenha dado “certas crenças fundamentais”, ela também nos desafia a um humilde reconhecimento de que essas crenças constituem a “compreensão e a expressão de nossa Igreja” e não um e-mail do Céu. Essa posição sugere que se pode esperar uma possí- Continua na página 32.

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PRIMEIRA PESSOARetornando de uma terra distante ao larBarry Gane

Devo a minha ligação com a Igreja ao amor incondicional de pais cris-tãos piedosos e aos membros de minha igreja, que viram em mim um potencial que somente Deus poderia realmente ter revelado. Logo após meu aniversário de 17 anos, decidi finalmente ser batizado. Por ocasião do meu batismo, eu esperava que a raiva, os questionamentos e a inquietação cessariam — que as coisas mudariam e que eu mudaria. No entanto, algumas semanas após o batismo, envolvi-me ainda mais com um grupo de amigos que pensava ter deixado para trás. A gangue de motoqueiros parecia atrair-me mais do que nunca. Com meus últimos anos de ensino médio pela frente, decidi passar menos tempo na escola e mais tempo com os motoquei-ros. Freqüentemente deixava minha casa e dizia a meus pais que nunca mais voltaria. Em vez de ficarem ira-dos, eles simplesmente diziam que a porta estaria sempre aberta.

Eu era totalmente egocêntrico, ficava irado com as pessoas sem qual-quer razão. Havia apenas uma pessoa importante em minha vida, além de mim mesmo; era minha namorada. Mas, finalmente, terminamos o namo-ro e decidi começar uma vida com-pletamente nova noutro Estado. Parti rumo ao oeste com apenas alguns dóla-res no bolso, uma muda de roupas e um saco de dormir, dizendo para mim mesmo: “Qualquer lugar é melhor do que aqui!” Eu tinha dois amigos que sentiam a mesma coisa, e então se jun-taram a mim na aventura.

Cansados de dormir no chão e famintos como leões, chegamos a Adelaide, a 2000 km de casa. Um dos colegas tentou entrar em contato com alguns amigos dali, mas eles não estavam em casa. De qualquer manei-ra, decidimos “visitá-los”. Foi uma

casa fácil de arrombar. Pensamos em ficar ali até seus legítimos ocupantes voltarem para casa, ou até os vizinhos chamarem a polícia. Mas o proprietá-rio da casa era um pastor, e os vizinhos deviam estar acostumados a ver garotos por ali.

Comemos o que tinha na geladeira, mas não dormimos nas camas da famí-lia. Depois de alguns dias dormindo no chão, eu estava disposto a tentar dormir em algo diferente. Encontrei um velho colchão no quintal e o arras-tei para dentro. Cheirava mal, mas ao menos seria mais macio que o chão. Quando voltei à casa nas primeiras horas da manhã seguinte, estendi meu saco de dormir sobre aquele colchão e cai num sono profundo. Mas quando acordei, descobri minha insensatez: o colchão estava infestado de pulgas. Obviamente algum animal usou esse colchão antes de mim! Eu tinha pica-das em todo o corpo e me arranhava de tanto coçar. Havia tantas pulgas que o piso parecia mover-se.

Comecei a sentir saudades de casa e decidi que era hora de retornar. Levei 48 horas, de carona, para chegar em casa. Estava com uma forte gripe quando lá cheguei. Sentia-me exausto e não me havia alimentado bem por várias semanas. Embora não tivesse dormido por algumas noites, a pri-meira coisa que fiz foi telefonar para a minha namorada e perguntar-lhe se queria sair comigo aquela noite.

— Pensei que nunca voltaria, disse ela.

— Bem, aqui estou. Você quer sair comigo ou não?

— O.K.!Eu pedi a picape de meu pai empres-

tada e algum dinheiro e saí para apa-nhá-la. Fomos a uma praia deserta e ficamos conversando por várias horas. Finalmente, de madrugada, voltamos

para casa. Não muito tempo depois de deixar a praia, descobri que a gasolina estava acabando. Parei a picape, enchi o tanque e então comecei a procurar desesperadamente minha carteira. Após uma busca ansiosa, entrei no posto e informei o caixa que tinha perdido minha carteira.

— Ouço essa história toda noite. Fique aí mesmo que vou chamar a polí-cia, ele disse.

Decidi que iria apagar as luzes e fugi-ria, esperando que ele não tivesse tempo de anotar o número da placa. Mas o bom senso prevaleceu. Sugeri: “Por que você não telefona para o meu pai?” Ele fez isso e se convenceu de que o meu pai pagaria pelo combustível. A última coisa que me disse foi: “Seu pai parece ser um homem decente. Não sei onde ele arran-jou você!”

Antes que o funcionário do posto concluísse a ligação, agarrei o telefone e falei com meu pai manifestando uma consideração fora do comum: “Pai, vá para a cama. Não espere por mim; estou indo para casa. Eu apenas vou voltar à praia para tentar encontrar minha car-teira”.

Quando liguei o carro, murmurei uma oração simples e não muito reve-rente: “Deus, eu quero a carteira, certo?” Não houve “Querido Pai” ou “Amém”, mas apenas uma exigência. Retornamos à praia e voltamos pelo mesmo caminho até chegarmos onde tínhamos ficado a maior parte do tempo. Comecei a passar minhas mãos pela areia e rapidamente encontrei minha carteira. Um golpe de sorte!

No caminho para casa, estava quase cedendo ao sono. Olhando o velocíme-tro e hipnotizado por ele, percebi várias vezes que estava saindo para o acosta-mento. Supliquei à minha namorada que conversasse comigo, mas naquela altura ela também estava exausta e, dei-

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31DIÁLOGO 16•2 2004

Diálogo grátis para você!

Se você é um estudante adventista do sétimo dia que freqüenta faculdade ou uni-versidade não-adventista, a Igreja tem um plano que lhe permitirá receber gratuita-mente a revista Diálogo enquanto você esti-ver estudando. (Aqueles que não são mais estudantes podem assinar Diálogo usando o cupom da página 6). Entre em contato com o diretor do Departamento de Educação ou do Departamento de Jovens de sua União, e peça que seu nome seja colocado na lista de distribuição da revista. Forneça seu nome completo, endereço, faculdade ou universidade onde está estudando, o curso que está fazendo e o nome da igreja onde você é membro. Você pode também escre-ver para os nossos representantes regionais nos endereços indicados na página 2, ane-xando uma cópia da carta que enviou aos diretores da União já mencionados. Caso os passos acima não produzirem nenhum resultado, você poderá contatar-nos via e-mail: [email protected].

tando-se no banco, colocou sua cabeça em meu colo e mergulhou num sono profundo. Liguei o rádio no volume máximo, abri a janela, cantei a plenos pulmões e continuei dirigindo até que houve um estrondoso BANG. Quando recuperei a consciência, vi faíscas sal-titando no capô do carro. Olhei para baixo e vi minha namorada coberta de sangue. O motor atravessou a parede de proteção da cabine e foi parar no banco, parecendo prensar seu corpo. Eu não podia sair pela minha porta e não conseguia abrir a porta do lado dela. Mas, finalmente, deitando por cima de seu corpo, chutei repetidas vezes a janela até quebrá-la. Deslizando através da janela, caí na estrada. Lutando para ficar em pé, segurei-a pelos pés, arrastei-a para o calçamento e deixei-a longe das ferragens.

As pessoas começaram a sair de suas casas. Não havia luz elétrica, somente lanternas. Eu tinha batido contra um poste elétrico e cortei a eletricidade de toda a área. Uma das mulheres que chegou ao local era alguém que eu conhecia, uma enfermeira do hospital adventista local. Enquanto estava dei-tado ali no chão com a cabeça, braços e joelhos sangrando, olhei e percebi que minha namorada não se havia mexido desde que a tirei das ferragens. Em desespero comecei a perguntar: “A Shirley está bem?” “A minha namorada está bem?” Alguém me garantiu que ela iria ficar bem. Então as pessoas me tiraram dali, apoiaram-me numa árvore e me disseram para colocar meu polegar no lado da cabeça e pressionar meu joelho para deter o sangramento. Eu havia cortado artérias em ambos os lugares. Enquanto observava, alguém trouxe um cobertor e cobriu o corpo aparentemente sem vida de minha namorada, estendido ali no chão.

Comecei a orar pela segunda vez naquela noite — uma oração de abso-luto desespero. Dessa vez, comecei do modo tradicional: “Querido Deus...” Pressenti, completamente desespera-do, que havia matado a única pessoa com quem me preocupava, além de

mim mesmo. Comecei a pleitear com Deus, mas nada aconteceu. A ambu-lância chegou, os atendentes coloca-ram Shirley na viatura e me puseram sentado ao seu lado. Na escuridão, minha oração era ainda mais ferven-te: “Querido Deus, se Tu a poupares, então eu me entregarei a Ti.” Que grande negócio eu estava oferecendo a Deus! Olhando o passado, eu mal podia crer que Ele estivesse interessa-do em minha proposta. No entanto, quando terminei de orar, ouvi um grito agudo horrível, do tipo que só as garotas conseguem fazer. Isso fez meu cabelo ficar em pé; mas era mara-vilhoso. Muito embora Shirley ainda não tivesse recobrado a consciência, eu sabia que ela estava viva. Murmurei rapidamente uma outra oração: “Obrigado, Senhor”.

Quando chegamos ao hospital, os atendentes da sala de emergência começaram a tirar minha roupa e raspar-me o cabelo do lado da cabe-ça. Quase perdi uma orelha e minha perna estava muito ferida. Antes de começar os curativos, meu pai entrou na sala. Fiquei curioso em saber quem lhe disse onde me encontrar. Ele per-guntou se eu e a Shirley ficaríamos bem. Os cirurgiões garantiram-lhe que não havia risco de vida, ainda que ela estivesse inconsciente. E, então, para o meu constrangimento, ele perguntou se podia orar. Senti-me muito incomo-dado, mas enquanto ele orava, percebi algo mudando em mim.

Mais tarde, descobri o que meu pai tinha feito naquela noite. Normalmente, quando eu saía à noite, ele não dormia até eu chegar. Isso sig-nificava muitas horas sem dormir. Mas, aquela noite, meu pai foi dormir. Ele acordou de repente, logo após as duas da manhã, ajoelhou-se e, pela segunda vez naquela noite, orou pelo seu filho que estava fora em algum lugar. Ele tentou acender a luz e percebeu que não havia eletricidade. Então, foi até a cozinha e viu que o relógio elétrico tinha parado no exato momento em que havia acordado. Ele despertou

minha mãe e ambos saíram à minha procura. Quando passou pela picape batida contra o poste, a apenas uns 16 km de casa, foi direto para o hospital chegando pouco depois de nós.

Algumas semanas após o acidente, minha namorada estava quase que completamente recuperada, apenas com umas poucas cicatrizes. Recebi alta do hospital logo depois. A experi-ência desse acidente foi transformadora para mim, mas não voltei à igreja. Até então eu não me havia entregue a Jesus como Salvador e não O reconhecia como Senhor. Ainda havia um longo caminho a percorrer.

Um sábado, depois que voltei para casa, minha família foi à igreja e dei-xou um recado convidando-me para me juntar a eles. Enquanto eu rastejava debaixo de um velho carro que estava consertando, veio-me à mente o fato de que eu ainda não tinha cumprido minha promessa com Deus. O pri-meiro passo, pensei, seria voltar para a igreja. Eu ainda sentia raiva e não

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32 DIÁLOGO 16•2 2004

queria ir, então arquitetei um plano que provocaria minha rejeição por parte da igreja. Sem tomar um banho, com as roupas sujas, com graxa preta no cabelo e nas mãos, peguei minha moto e fui à igreja. Dei alguns cavalos-de-pau com a moto no estacionamento e fiz vários giros completos na poeira. Eu queria que os membros soubessem que eu havia chegado. Entrei relaxa-damente na igreja, assentei-me num dos bancos de trás e olhei para frente esperando notar aversão e desdém na face dos membros. Em vez disso, vi lágrimas rolando no rosto do meu pai, que estava assentado na plataforma ao lado do pregador.

Eu esperava que o diácono-chefe, que tinha dois filhos exemplares, vies-se e em alta voz me pedisse para sair da igreja: “Você deveria se comportar melhor; seu pai é o ancião. O que faz aqui na igreja vestido desse jeito?”

Minha boca estava cheia de veneno e o coração repleto de fel. Eu iria cuspir nele e depois sairia da igreja e diria: “Deus, Tu viste? Eu tentei, mas eles não me quiseram”. Mas o diácono não veio.

O sermão prolongou-se. Finalmente a agonia terminou e as pessoas come-çaram a sair. Eles colocaram as mãos nos meus ombros e disseram que esta-vam felizes por me ver na igreja. Isso não era o que eu esperava e nem o que queria.

Enquanto me dirigia à porta, cum-primentei meu pai com um aperto de mão. Eu podia perceber que ele estava muito emocionado. Ele não disse nada, mas o aperto de mão falou tudo. Eu apertei a mão do pastor com minha mão suja de graxa, e quase pude ver o tipo de reação que eu queria. Mas ele mordeu a língua e não disse nada.

Então, enquanto descia os degraus na frente da igreja, vi o diácono se aproximando. Ele esperou até agora, pensei. Estava certo que ele vinha para me bater; assim decidi que iria atingi-lo primeiro, correr e torcer para que a moto funcionasse antes que os outros diáconos me alcançassem. Mas, em vez

de advocacia, empresas de construção, escritórios de contabilidade, indústria de computadores, universidades e hospitais, desde o Alaska até o Zimbábue.

O autor, Kent Hansen, é um advo-gado adventista do sétimo dia que atua como conselheiro geral da Universidade e Centro Médico de Loma Linda. O título do livro faz alusão a um evento tipo “estrada de Damasco”, no qual o autor teve uma experiência com a graça de Deus num contexto totalmen-te inesperado. O propósito da obra é “descrever um Deus que, através de Jesus Cristo, busca incessantemente relacionar-Se com homens e mulheres

nos locais onde eles tratam de negó-cios, educam seus filhos, ganham o seu salário, enamoram-se, vivenciam dor e perda, constroem amizades, enfrentam tentações e queda, e padecem solidão e coração quebrantado” (p. 12). O autor define graça como “o poder pelo qual vivemos uma vida que agrada a Deus e que nos traz deleite como Seus filhos”, e afirma que essa graça é necessária agora, mais do que nunca, porque, apesar da riqueza material e dos avanços tecnoló-gicos, sofremos de estresse, de falta de relacionamentos duradouros e de senti-mentos de incapacidade.

Cada uma das 45 leituras é breve (3 a 4 páginas), e as citações bíblicas foram extraídas de versões contempo-râneas. Embora o autor apresente uma moderna e interessante interpretação de Maria Madalena, na maior parte da obra ele apropriadamente se utiliza, sobretudo, de histórias bíblicas não tão proeminentes, como a vigília de Rispa sobre os corpos de seus filhos (II Samuel 21:7-11) e o pedido de Jesus por uma jumenta e um jumentinho (Mateus 21:1-7). Modernas perspectivas de con-textos contemporâneos (por exemplo, uma unidade de tratamento neonatal intensivo) proporcionam várias leituras bem reais.

Alguns devocionais incluem poe-mas de escritores como Rabindranath Tagore, Walt Whitman e do próprio autor. Outros citam versos ou letras de hinos ou autores como Henri Nouwen, Brendan Manning, Annie Dillard e Willa Cather. Várias leituras terminam com uma simples oração.

Sylvia Rasi Gregorutti (Ph.D. pela Georgetown University) é pro-fessora-associada e coordenadora do Departamento de Línguas Modernas do Pacific Union College, Califórnia. Seu e-mail: [email protected]. Um excerto da obra de Kent Hansen foi publicado na Diálogo 16:1.

Grace...Continuação da página 29.

de um punho cerrado, ele estendeu a mão aberta. E, enquanto segurava suavemente meu braço, disse-me como estava contente por eu ter voltado à igreja.

Foi o amor incondicional dos meus pais e o apoio da igreja, que era real-mente uma família e conhecia o sen-tido de comunidade e aceitação, que finalmente quebrou minha barreira de ódio e alienação e me ajudou a desco-brir quão importante eu era aos olhos de Deus.

Barry Gane trabalhou mais de 30 anos como pastor, professor e diretor de jovens. Atualmente ele dirige o programa de Mestrado em Ministério Jovem na Andrews University. Seu endereço: Andrews University; Berrien Springs, Michigan 20904; U.S.A. E-mail: [email protected]. Esta história é um excerto do livro We Can Keep Them in the Church, compilado por Myrna Tetz e Gary L. Hopkins (Nampa, Idaho: Pacific Press Publ. Assn., 2004).

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33DIÁLOGO 16•2 2004

Amplie sua rede de amizadesEstudantes universitários e profissionais adventistas leitores de Diálogo, inte-ressados em trocar corresponência com colegas em outras partes do mundo.

INTERCÂMBIO

Kyere Aaron: 22; solteiro; cursando contabilidade; interesses: ouvir música, trocar opiniões com pessoas de outras culturas e fotografia; correspondência em inglês. Endereço: Koforidua Polytechnic; Post Office Box 981; Koforidua; GANA.

Karen Ruth Aguilar: 22; solteira; professora do ensino fundamental e pro-gramadora de sistemas; interesses: escrever poesia, ler e ouvir música; correspon-dência em espanhol. Endereço: Colonia Molina, Pje. 1, Casa # 5 – Cuscatancingo; San Salvador; EL SALVADOR. E-mail: [email protected].

Elda V. Alicante: 33; solteira; forma-da no ensino médio com concentração em matemática, professora na Toledo National High School; interesses: ler, fazer novos amigos e ouvir música; correspon-dência em inglês ou tagalog. Endereço: Solong Village, Gibon, Nabas; Aklan; FILIPINAS 5607.

Juan Carlos Alvarez C.: 28; solteiro; formado em engenharia de topografia pela Universidade do Vale; interesses: cantar, estudar vulcões, atividades JA e camping; correspondência em espanhol ou inglês. Endereço: Calle 13 # 43 A 17, Barrio Panamericano: Cali; COLÔMBIA. E-mail: [email protected] ou [email protected].

Fatima Andrada: 27; solteira; cursan-do faculdade de francês na Universidade Nacional de Tucumán; interesses: ler, trabalhar com crianças e artesanato; correspondência em espanhol ou fran-cês. Endereço: Constitución 1155; San Miguel de Tucumán. Tucumán 4000; ARGENTINA. E-mail:[email protected].

Radive Báez Amancio: 20; solteira; cursando administração de empre-

sas na Universidade Autônoma de Santo Domingo; interesses: ler, fazer novos amigos e ouvir música cris-tã; correspondência em espanhol. Endereço: Autopista Duarte Km. 14, Las Trinitarias # 89; Santo Domingo; REPUBLICA DOMINICANA. E-mail: [email protected] ou [email protected].

Emmanuel G. Bhatti: 21; solteiro; cursando administração de empresas no Seminário Adventista do Paquistáo; interesses: jogar cricket, ouvir música cristã e halterofilismo; correspondência em inglês. Endereço: Old Civil Line – Mission Hospital near Noor Manzail; Sahiwal; PAQUISTÃO. E-mail: [email protected].

Neida Calizaya H.: 20; solteira; cursando engenharia comercial na Universidade Domingo Savio; interesses: fazer novos amigos, camping, música e esporte; correspondência em espa-nhol ou português. BOLÍVIA. E-mail: [email protected].

Zogo Bessala Faustin: 23; solteiro; cursando faculdade de espanhol na Escola Normal Superior; interesses: ler, escrever, discutir assuntos espirituais e promover igualdade da mulher; correspondência em francês, espanhol ou inglês. Endereço: B.P. 47; Yaounde; CAMARÕES. E-mail: [email protected].

Aura Dandrade Francis: 19; solteira; cursando administração de empresas na Universidade Interamericana; interesses: cantar, participar do clube de cadetes médicos adventistas e esportes radicais. Correspondência em espanhol. Endereço: Calle 21 AB-16 A, Urb. El Cortijo; Bayamón; Puerto Rico 00956; EUA.

Hopeful Hajanianina: 23; solteiro;

cursando faculdade de teologia; interes-ses: atividades JA, música e basquete; correspondência em malagasi, inglês ou francês. Endereço: Universite Adventiste Zurcher; B.P. 325; Sambaina, Antisirabe; 110 MADAGÁSCAR. E-mail; [email protected].

Eucimara Alves Jorge: 29; solteira; formada em educação física e professora no Colégio Adventista de São Carlos; interesses: viajar, ser útil e ajudar aos outros; correspondência em português ou espanhol. Endereço: Rua General Osório, 347 – Centro; 13560-640; São Carlos, SP; BRASIL. E-mail: [email protected].

María de los Angeles Martínez V.: 25; solteira; formada em administração de empresas; interesses: fazer novos amigos, trocar poesias, colecionar pos-tais e atividades JA; correspondência em espanhol. Endereço: Moctezuma #825, Esq. Narciso Mendoza; Cd. Isla, Veracruz; 95641 MÉXICO. E-mail: [email protected].

ConviteSe você é universitário ou profissional

adventista e quer ter seu nome listado aqui, envie-nos as seguintes informacões: (1) Seu nome completo, com o sobreno-me em letras maísculas; (2) sua idade; (3) sexo; (4) estado civil; (5) estudos cor-rentes ou diploma obtido e especialidade; (6) faculdade ou universidade que está freqüentando ou na qual graduou-se; (7) três principais passa-tempos ou inte-resses; (8) língua(s) nas quais quer se corresponder; (9) o nome da congregação adventista da qual é membro; (10) seu endereço postal; (11) seu e-mail, caso o tenha. Por favor, datilografe ou use letra de imprensa clara. Envie esta informação para Dialogue Interchange; 12501 Old Columbia Pike; Silver Spring, MD 20904-6600, EUA. Você pode também usar e-mail: [email protected]. Apenas poremos na lista aqueles que fornecerem os 10 items de informação requerida acima. Dialogue não assume responsabilidade pela exatidão da informação dada ou pelo conteúdo da correspondência que possa resultar.

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34 DIÁLOGO 16•2 2004

Portas fechadas ou abertas?Quando abrimos as portas do coração e permitimos que Jesus entre, uma nova vida tem lugar.Reuel U. Almocera

Vivemos num mundo de portas fechadas. Portas de oportunidades se fecham por causa do desemprego, da pobreza e do analfabetismo. Portas de relacionamentos rompidos, hos-tilidade e sentimentos doentios que nos afastam uns dos outros. Portas de fracassos e derrotas. Acima de tudo, portas que fechamos para Deus por causa do medo, da dúvida e da incre-dulidade.

Seria bom se nenhuma dessas por-tas existisse, especialmente as últimas três.

Sei que nosso Salvador não apre-cia portas fechadas. Os Evangelhos contêm inúmeros relatos sobre como Jesus abria as portas fechadas da vida das pessoas comuns. Veja, por exem-plo, o estupendo episódio relatado em João 20:19-21. Lemos: “Ao cair da tarde daquele primeiro dia da sema-na, estando os discípulos reunidos a portas trancadas, pôs-se no meio deles e disse: ‘Paz seja com vocês!’... Novamente Jesus disse: ‘Paz seja com vocês! Assim como o Pai Me enviou, Eu os envio.’ E com isso, soprou sobre eles e disse: ‘Recebam o Espírito Santo.’”*

Por que os discípulos fecharam as portas?

Medo. O medo pode fechar portas. Ele paralisa e imobiliza as pessoas. Ele tem o poder de isolá-las num canto qualquer. Mas os discípulos nada tinham a temer. Bem cedo naquele dia, eles haviam visto a tumba vazia. Foram testemunhas oculares de mui-tos milagres que Jesus realizara. Viram

Jesus alimentar mais de 5.000 pessoas com apenas dois peixes e cinco pães. Alguns deles tinham-nO visto cami-nhar sobre as ondas e ordenar ao mar revolto que se acalmasse.

Dúvida. A dúvida está implícita no texto. Mas o fato de Jesus Se haver preocupado em mostrar aos discípulos as marcas em Suas mãos, indica que eles ainda precisavam ser convencidos da realidade de Sua ressurreição.

Culpa e vergonha. Também é possível que os discípulos tenham fechado a porta por causa da culpa e vergonha. Eles deveriam estar sen-tindo a dor do fracasso e do remorso por haverem desapontado a Jesus. Lembram-se daquela fatídica noite de quinta-feira? Até Pedro, provavelmen-te o mais destemido dentre os discí-pulos, traiu o Mestre.

Os discípulos tremiam de medo, tinham dúvidas e relembravam o fracasso quando, de repente, Jesus apareceu e Se pôs no meio deles. Ele veio pela porta dos fundos, por assim dizer, e trouxe Consigo as chaves que abriram a porta da frente da vida dos discípulos. Aquelas chaves incendia-ram o cristianismo durante o primeiro século. Essas mesmas chaves nos estão disponíveis hoje.

Chaves para uma vida cristã plena

A chave de uma nova paz. As por-tas de nossa vida podem estar fecha-das pelo pecado, o fracasso e a culpa. Podemos não encontrar um trabalho decente porque nosso currículo não é dos melhores. Não temos condições

de erguer nossa cabeça por causa de um passado comprometedor. Não podemos fazer o máximo que nossas capacidades permitem, por causa do ódio, da frustração ou do remorso. Para todos nós, Jesus diz: “Paz seja com vocês!”

Paz não é a ausência de problemas. Não é uma vida isenta de turbulên-cias. A verdadeira paz vem quando o Príncipe da Paz reina no coração. Foi somente quando nosso Senhor estava no barco e bradou: “Aquiete-se”, que os discípulos foram salvos daquela terrível tempestade no mar da Galiléia. Foi somente quando o ende-moninhado gadareno encontrou a Jesus, que sua esposa e filhos puderam finalmente abrir-lhe as portas da casa e viverem todos em paz. Foi somente porque Jesus estava presente que a festa de casamento em Caná foi salva de um grande fiasco.

Assim como fez com os discípulos, Jesus veio para nos trazer a chave da paz. Ele está insistindo conosco agora: “Abra a porta da frente.” Por favor, não diga: “Sinto muito, ela está fecha-da.” Experimente a alegria de Sua sal-vação e você se encherá de paz.

A chave de um novo propósito. Nossas portas podem estar fechadas por causa de relacionamentos rompi-dos. Assim como o pecado faz com que fujamos de Deus, o medo e o trauma fazem com que nos aparte-mos uns dos outros. Os discípulos, naquele domingo da ressurreição, estavam prontos a se isolarem do resto do mundo. Foi para lhes abrir a alma que Jesus trouxe a chave de um novo

LOGOS

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35DIÁLOGO 16•2 2004

propósito. Quando temos a chave de um

novo propósito, abrimos a porta do serviço e cuidado para aqueles que têm sido feridos por relacionamentos rompidos. Podemos ir e tocar a vida das pessoas com uma nobre agenda e motivos generosos. Não servimos por-que queremos ser salvos, mas porque estamos salvos.

A chave de um novo poder. Nossas portas podem estar fechadas por fracassos e dúvidas. Assim como o pecado faz com que fujamos de Deus e uns dos outros, o fracasso faz com que fujamos de nós mesmos. Muitos se voltam para o álcool, as drogas e mesmo o esporte para compensar o senso de fracasso. Para todos nós, Jesus traz a chave de um novo poder.

Poder é um dos artigos mais pro-curados no mundo moderno. As pessoas se tornam heroínas por causa do poder. Outros têm sido destruídos pelo poder. Há vários tipos de poder: coercivo, utilitário e legítimo.

Poder coercivo é aquele que dá ordens e usa a punição para forçar a obediência. Os militares e policiais usam o poder coercivo como meio de obter submissão. Há o perigo de se confiar demais nesse tipo de poder, porque geralmente ele provoca aliena-ção, hostilidade e ira.

O poder econômico ou utilitário usa recursos para induzir outros a se ajustarem às suas expectativas. Esse tipo de poder produz cooperação e comprometimento apenas enquanto as compensações econômicas se man-têm num nível satisfatório. Mas, o uso do poder utilitário traz consigo o espírito de ambição e outros proble-mas.

O poder legítimo é derivado da posição que se ocupa. Um professor bem-preparado e dedicado tem poder legítimo sobre seus alunos. O poder legítimo pode ser útil, mas nem sem-pre é suficiente. Esse tipo de poder algumas vezes faz com que as pessoas oponham resistência.

Jesus concede poder espiritual.

A última chave que Jesus deu para os discípulos naquele domingo à tarde, foi a do poder do Espírito. “E com isso, soprou sobre eles e disse: ‘Recebam o Espírito Santo.’” O Espírito Santo é a chave poderosa que torna a vida bem-sucedida para Deus e a humanidade.

Pense nos discípulos trancafiados naquela sala durante o domingo da ressurreição. Lá estava Pedro, que negara a Cristo três vezes. Lá estavam Tiago e João, que viviam discutindo sobre quem seria o maior entre os seguidores de Jesus. Lá estava Tomé, o discípulo da dúvida. Lá estavam algumas mulheres anônimas. Todos eles tinham pouca educação formal, se é que a tinham. Mas, quando recebe-ram o poder do Espírito Santo, vira-ram o mundo de cabeça para baixo.

Jesus está disposto a conceder a todos o poder do Espírito. Tem você relutado em se aventurar por Cristo, em razão de seus fracassos no passado? Tem você sido tímido demais para pensar grande, para fazer grandes pla-nos para Cristo, por causa da dúvida ou medo do fracasso? A todos nós, Jesus diz: “Abram a porta da frente. Por favor, não digam: Sinto muito, estamos fechados.” Experimente as maravilhas desse poder.

ConclusãoAs portas de uma vida de sucesso e

realização não podem estar fechadas. Jesus tem as chaves. Ele diz: “Peçam, e lhes será dado; busquem, e encontra-rão; batam, e a porta lhes será aberta” (Luc 11:9). Ele também diz: “Eu Sou a porta; quem entra por Mim será salvo. Entrará e sairá, e encontrará pastagem” (João 10:9).

Há, porém, uma porta que pode estar fechada. Jesus hoje apela: “Eis que estou à porta e bato. Se alguém ouvir a Minha voz e abrir a porta, entrarei e cearei com ele, e ele Comigo.” (Apoc 3:20). Abramos-Lhe a porta da frente de nossa vida. A qualquer momento Jesus, o Noivo, virá. Então Ele fechará todas as por-

tas da oportunidade. E àqueles que não tiverem as chaves, o Senhor dirá com tristeza: “Não o conheço. Sinto muito, estou fechado!” (cf. Mat 25:1-13).

*Todas as citações bíblicas neste artigo são da Nova Versão Internacional.

Reuel U. Almocera ministra cursos na área de teologia aplicada no Adventist International Institue of Advanced Studies (AIIAS). Este artigo é baseado num sermão de Leighton Ford intitulado “Abramos a Porta da Frente”. O endereço do Pr. Almocera é: P.O. Box 038; 4118 Silang, Cavite; Filipinas. Para mais informações sobre o AIIAS, visite o website http://www.aiias.edu.

A ligação mente-corpo...Continuação da página 14.

4:309-321. 5. Barbara L. Frederickson, “The Value of Positive

Emotions,” American Scientist 91 (jul.-ago., 2003): 330-335.

6. Idem, p. 330. 7. Idem, p. 332. 8. Ellen G. White, “Life, Love, and Union,” The

Signs of the Times, 29 de outubro de 1898, b.; “Sabbath-School Influences,” Sabbath School Worker, 1 de abril de 1886, a; Sons and Daughters of God (Washington, D.C.: Review and Herald Publ. Assn., 1955); Mind, Character, and Personality, 2 vols. (Nashville, Tenn.: Southern Publ. Assn., 1977), vol. 1, p. 802; Reflecting Christ (Hagerstown, Md.: Review and Herald Publ. Assn., 1985), p. 262; Faith and Works (Nashville. Tenn.: Southern Publ. Assn., 1979), p. 65.

9. George T. Javor, “Life: An Evidence for Creation,” Origins 28 (mar. 2000) 1:24-33.

10. White, Educação.

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Inserção ADIÁLOGO 16•2 2004

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O portfólio de Romualdo Costa

“Em La Parguera” (Acrílico; 57 x 42cm.) Esse era um dos lugares preferidos da minha família no Mar do Caribe, a sudoeste de Porto Rico. Eu me sentia atraído pelo jogo de luzes e sombras no embarcadouro, com o mar tremeluzen-te ao fundo.

“Frutas Saborosas” (Acrílico; 57 x 72cm.) Muitas vezes tenho inspiração para uma pintura à noite quando vou dor-mir ou quando estou acordando pela manhã. Nessa composi-ção, eu quis representar as várias formas, cores e texturas de frutas que nos proporcionam saúde.

“Outono nas Rochosas” (Acrílico; 76 x 102cm.) Moramos por alguns meses em Denver, Colorado. Isso nos permitiu visitar as Montanhas Rochosas em diferentes períodos do ano. A beleza serena de um lago cris-talino está envolta pelas nuanças das cores do outono.

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Inserção B DIÁLOGO 16•2 2004

“Amigo Fiel” (Acrílico 92 x 92cm.) Cresci na fazenda de meus pais trabalhando com cavalos. Retratei aqui um daqueles nobres companhei-ros de minha juventude, buscando fixar na tela sua personalidade. Ele serviu bem a seu mestre e agora está desfru-tando merecida aposentadoria.

“Picos Imponentes” (Acrílico 76 x 102cm.) Há algo de majestoso nas montanhas, que produz impressão duradoura em nós. Elas testemunham silenciosamente do incomensurável poder de Deus. Esse é um ângulo das Montanhas de Sierra Nevada, na Califórnia.

“Ancião em Paz” (Acrílico; 92 x 23cm.) Recriei aqui uma imagem que me acompanhou por vários anos. Há melancolia e também serenidade nesse homem, enquanto ele se aquece ao sol e medita em sua provecta existência.

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Inserção CDIÁLOGO 16•2 2004

“Estrada Sombreada” (Acrílico; 76 x 102cm.) Há muitas estradas como esta em Porto Rico. Elas pare-cem convidar-nos para uma vagarosa caminhada em direção às surpresas que nos esperam além do horizonte. Essas estradas são metáforas de nossa vida.

“Sabedoria do Pescador” (Acrílico; 92 x 123cm.) Quando menino eu gostava de pescar no rio que demarcava o limite de nossa fazenda no Uruguai. Anos atrás vi um filme produzido na Venezuela, que exibiu uma cena na qual esta pintura está baseada.

“Paisagem Marítima ” (Acrílico; 76 x 102cm.) Na Venezuela e em Porto Rico morávamos perto do mar, que estava constantemente mudan-do. Assim que o sol começava a declinar no horizonte, grandes nuvens o cobriam criando efeitos cintilantes sobre as ondas.

“A Primavera Chegou ” (Acrílico; 61 x 77cm.) A apamate é uma árvore comum da área rural da Venezuela. Na primavera, suas belas flores acrescentam um toque belo e suave à paisagem.

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Inserção D DIÁLOGO 16•2 2004

“Curva do Rio” (Acrílico; 61 x 77cm.) Nessa composição imaginária uni meus elementos favoritos – céu, terra e água – e completei a cena com plantas, árvores, e flores.

“Capela de Cristo Christ’s Chapel” (Acrílico; 52 x 72cm.) Essa pequena capela localizada perto das muralhas da antiga San Juan é um local favorito para os habi-tantes e turistas de Porto Rico. A capela preserva memórias importantes dos tem-pos coloniais.

“El Capitan, Parque Nacional de Yosemite” (Acrílico; 52 x 72cm.) A força imensa desse despenhadeiro, esculpido por geleiras, contrasta com a suavidade das flores silvestres embaixo.