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1 TESSALONISENSES VOLTAR_ ÍNDICE 1 THESSALONIANS WILLIAM BARCLAY Título original em inglês: The First Letter to the Thessalonians Tradução: Carlos Biagini O NOVO TESTAMENTO Comentado por William Barclay … Introduz e interpreta a totalidade dos livros do NOVO TESTAMENTO. Desde Mateus até o Apocalipse William Barclay explica, relaciona, dá exemplos, ilustra e aplica cada passagem, sendo sempre fiel e claro, singelo e profundo. Temos nesta série, por fim, um instrumento ideal para todos aqueles que desejem conhecer melhor as Escrituras. O respeito do autor para a Revelação Bíblica, sua sólida fundamentação, na doutrina tradicional e sempre nova da igreja, sua incrível capacidade para aplicar ao dia de hoje a mensagem, fazem que esta coleção ofereça a todos como uma magnífica promessa. PARA QUE CONHEÇAMOS MELHOR A CRISTO O AMEMOS COM AMOR MAIS VERDADEIRO E O SIGAMOS COM MAIOR EMPENHO

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  • 1 TESSALONISENSES VOLTAR_ NDICE

    1 THESSALONIANS

    WILLIAM BARCLAY

    Ttulo original em ingls: The First Letter to the Thessalonians

    Traduo: Carlos Biagini

    O NOVO TESTAMENTO Comentado por William Barclay Introduz e interpreta a totalidade dos livros do NOVO

    TESTAMENTO. Desde Mateus at o Apocalipse William Barclay explica, relaciona, d exemplos, ilustra e aplica cada passagem, sendo sempre fiel e claro, singelo e profundo. Temos nesta srie, por fim, um instrumento ideal para todos aqueles que desejem conhecer melhor as Escrituras. O respeito do autor para a Revelao Bblica, sua slida fundamentao, na doutrina tradicional e sempre nova da igreja, sua incrvel capacidade para aplicar ao dia de hoje a mensagem, fazem que esta coleo oferea a todos como uma magnfica promessa.

    PARA QUE CONHEAMOS MELHOR A CRISTO O AMEMOS COM AMOR MAIS VERDADEIRO E O SIGAMOS COM MAIOR EMPENHO

  • 1 Tessalonicenses (William Barclay) 2 NDICE

    Prefcio Introduo Geral Introduo Geral s Cartas Paulinas Introduo s Cartas aos Tessalonicenses Captulo 1 Captulo 2 Captulo 3 Captulo 4 Captulo 5

    PREFCIO A FILIPENSES, COLOSSENSES, 1 E 2 TESSALONICENSES

    Novamente queria agradecer ao Comit de Publicaes da Igreja de

    Esccia e especialmente a seu secretrio e diretor o Rev. Andrew M'Cosh, M.A., S.T.M. e seu coordenador o Rev. W. M. Campbell, B.D., Ph.D., D. Litt, em primeiro lugar por me permitir escrever estes volumes de Estudos Bblicos Dirios, e em segundo termo porque agora farei a reimpresso como nova edio.

    Este volume contm notas das Epstolas de Paulo aos Filipenses, Colossenses e Tessalonicenses. Cada uma destas Cartas tem sua prpria e especial importncia.

    A Epstola aos Filipenses foi chamada "a Epstola dos ensinos excelentes". No uma Carta difcil de entender e para muitos a Carta mais encantadora e atrativa que Paulo jamais escreveu.

    A Epstola aos Colossenses ao mesmo tempo uma das mais eminentes e entre as mais difceis que Paulo tratou. Em nenhuma parte alcana Paulo tal altura em seus escritos sobre a pessoa e a obra de Jesus. Aqui est o pensamento paulino a respeito de Jesus em sua grandeza maior.

    A Primeira e Segunda Epstolas aos Tessalonicenses so, com a possvel exceo da Epstola aos Glatas, as primeiras Cartas de Paulo. Elas so de especial importncia nas quais Paulo ensina a suas primeiras Igrejas, e em particular elas contm alguns dos mais precisos ensinos da

  • 1 Tessalonicenses (William Barclay) 3 Segunda Vinda. Aquele que estude estas quatro Cartas ver o pensamento de Paulo em vrios de seus mais altos alcances e aspectos. Os comentaristas estiveram muito acertados na interpretao de todas estas Cartas.

    Ningum pode escrever sobre as Cartas aos Filipenses e Colossenses sem estar profundamente agradecido a grande tarefa de J. B. Lightfoot, cuja categoria de notvel intrprete v-se ao ter obtido um dos maiores Comentrios nunca escritos. Constantemente segui os Comentrios de C. J. Ellicott. O Comentrio de M. R. Vincent em The International Critical Commentary de fundamental importncia a respeito da Epstola aos Filipenses. Tem muito de proveito no texto ingls da Carta o Comentrio de H. G. C. Moule na antiga Cambridge Bible for Schools and Colleges, por J. H. Michael en el Moffatt Commentary, e os dois Comentrios devocionais por H. G. C. Herklots e C. E. Simcox.

    Na Epstola aos Colossenses o volume de C. F. O. Moule no novo Cambridge Greek Testament inestimvel, e o tomo no Moffatt Commentary por E. F. Scott mostra seu carter proveitoso e lcido.

    No texto grego da Primeira e Segunda Tessalonicenses h dois grandes Comentrios: o de G. Milligan, na Macmillan Series of Commentaries, e o de J. E. Frame no International Critical Commentary. Ambos alcanam categorias entre os maiores de todos os English New Testament Commentaries. No texto ingls o volume no Torch Commentary e o do Moffatt Commentary foram escritos por W. Neil, e so ambos os excelentes, e o volume por Lion Morris no Tyndale Commentary tambm proveitoso e iluminador.

    A traduo neste volume no apresenta nada especialmente meritrio; foi originalmente produzida numa ordem tal que o leitor pudesse ter uma traduo e comentrio num volume de bolso. Sempre tive a meu lado as tradues de Moffatt e de Weymouth, e a de J. B. Phillips. Deste modo freqentei o pouco usado livro de The New

  • 1 Tessalonicenses (William Barclay) 4 Testament in Plain English de Charles Kingsley Williams, que sempre achei preciso e notavelmente iluminado.

    Assim como nos anteriores volumes, dou circulao este com a orao de que possa servir ao leitor moderno para captar um Novo Testamento realmente vivo.

    William Barclay. Trinity College, Glasgow, maro de 1959.

    INTRODUO GERAL Pode dizer-se sem faltar verdade literal, que esta srie de

    Comentrios bblicos comeou quase acidentalmente. Uma srie de estudos bblicos que estava usando a Igreja de Esccia (Presbiteriana) esgotou-se, e se necessitava outra para substitu-la, de maneira imediata. Fui solicitado a escrever um volume sobre Atos e, naquele momento, minha inteno no era comentar o resto do Novo Testamento. Mas os volumes foram surgindo, at que o encargo original se converteu na idia de completar o Comentrio de todo o Novo Testamento.

    Resulta-me impossvel deixar passar outra edio destes livros sem expressar minha mais profunda e sincera gratido Comisso de Publicaes da Igreja de Esccia por me haver outorgado o privilgio de comear esta srie e depois continuar at complet-la. E em particular desejo expressar minha enorme dvida de gratido ao presidente da comisso, o Rev. R. G. Macdonald, O.B.E., M.A., D.D., e ao secretrio e administrador desse organismo editar, o Rev. Andrew McCosh, M.A., S.T.M., por seu constante estmulo e sua sempre presente simpatia e ajuda.

    Quando j se publicaram vrios destes volumes, nos ocorreu a idia de completar a srie. O propsito fazer que os resultados do estudo erudito das Escrituras possam estar ao alcance do leitor no

  • 1 Tessalonicenses (William Barclay) 5 especializado, em uma forma tal que no se requeiram estudos teolgicos para compreend-los; e tambm se deseja fazer que os ensinos dos livros do Novo Testamento sejam pertinentes vida e ao trabalho do homem contemporneo. O propsito de toda esta srie poderia resumir-se nas palavras da famosa orao de Richard Chichester: procuram fazer que Jesus Cristo seja conhecido de maneira mais clara por todos os homens e mulheres, que Ele seja amado mais entranhadamente e que seja seguido mais de perto. Minha prpria orao que de alguma maneira meu trabalho possa contribuir para que tudo isto seja possvel.

    INTRODUO GERAL S CARTAS DE PAULO

    As cartas de Paulo No Novo Testamento no h outra srie de documentos mais

    interessante que as cartas de Paulo. Isto se deve a que de todas as formas literrias, a carta a mais pessoal. Demtrio, um dos crticos literrios gregos mais antigos, escreveu uma vez: "Todos revelamos nossa alma nas cartas. possvel discernir o carter do escritor em qualquer outro tipo de escrito, mas em nenhum to claramente como nas epstolas" (Demtrio, On Style, 227).

    Justamente pelo fato de Paulo nos deixar tantas cartas, sentimos que o conhecemos to bem. Nelas abriu sua mente e seu corao queles que tanto amava; e nelas, at o dia de hoje, podemos ver essa grande inteligncia abordando os problemas da Igreja primitiva, e podemos sentir esse grande corao pulsando com o amor pelos homens, mesmo que estivessem desorientados e equivocados.

    A dificuldade das cartas E entretanto, certo que no h nada to difcil como compreender

    uma carta. Demtrio (em On Style, 223) cita um dito do Artimn, que

  • 1 Tessalonicenses (William Barclay) 6 compilou as cartas do Aristteles. Dizia Artimn que uma carta deveria ser escrita na mesma forma que um dilogo, devido a que considerava que uma carta era um dos lados de um dilogo. Dizendo o de maneira mais moderna, ler uma carta como escutar a uma s das pessoas que tomam parte em uma conversao telefnica. De modo que quando lemos as cartas de Paulo freqentemente nos encontramos com uma dificuldade: no possumos a carta que ele estava respondendo; no conhecemos totalmente as circunstncias que estava enfrentando; s da carta podemos deduzir a situao que lhe deu origem. Sempre, ao ler estas cartas, nos apresenta um problema dobro: devemos compreender a carta, e est o problema anterior de que no a entenderemos se no captarmos a situao que a motivou. Devemos tratar continuamente de reconstruir a situao que nos esclarea carta.

    As cartas antigas uma grande lstima que se chamasse epstolas s cartas de Paulo.

    So cartas no sentido mais literal da palavra. Uma das maiores chaves na interpretao do Novo Testamento foi o descobrimento e a publicao dos papiros. No mundo antigo o papiro era utilizado para escrever a maioria dos documentos. Estava composto de tiras da medula de um junco que crescia nas ribeiras do Nilo. Estas tiras ficavam uma sobre a outra para formar uma substncia muito parecida com nosso papel de envolver. As areias do deserto do Egito eram ideais para a preservao do papiro, porque apesar de ser muito frgil, podia durar eternamente se no fosse atingido pela umidade. De modo que das montanhas de escombros egpcios os arquelogos resgataram literalmente centenas de documentos, contratos de casamento, acordos legais, inquritos governamentais, e, o que mais interessante, centenas de cartas particulares. Quando as lemos vemos que todas elas respondiam a um modelo determinado; e vemos que as cartas de Paulo reproduzem exata e precisamente tal modelo. Aqui apresentamos uma dessas cartas antigas.

  • 1 Tessalonicenses (William Barclay) 7 Pertence a um soldado, chamado Apion, que a dirige a seu pai Epmaco. Escrevia de Miseno para dizer a seu pai que chegou a salvo depois de uma viagem tormentosa.

    "Apion envia suas saudaes mais quentes a seu pai e senhor

    Epmaco. Rogo acima de tudo que esteja bem e so; e que. tudo parta bem para ti, minha irm e sua filha, e meu irmo. Agradeo a meu Senhor Serapi [seu Deus] que me tenha salvado a vida quando estava em perigo no mar. logo que cheguei ao Miseno obtive meu pagamento pela viagem trs moedas de ouro. Vai muito bem. portanto te rogo, querido pai, que me escreva, em primeiro lugar para me fazer saber que tal est, me dar notcias de meus irmos e em terceiro lugar, me permita te beijar a mo, porque me criaste muito bem, e porque, espero, se Deus quiser, me promova logo. Envio minhas quentes saudaes a Capito, a meus irmos, a Serenila e a meus amigos. Envio a voc um quadro de minha pessoa pintado pelo Euctemo. Meu nome militar Antnio Mximo. Rogo por sua sade. Sereno, o filho de Agato Daimn, e Turvo, o filho do Galiano, enviam saudaes. (G. Milligan, Selees de um papiro grego, 36).

    Apion jamais pensou que estaramos lendo sua carta a seu pai mil e

    oitocentos anos depois de hav-la escrito. Ela mostra o pouco que muda a natureza humana. O jovem espera que ser logo ascendido. Certamente Serenila era a noiva que tinha deixado em sua cidade. Envia sua famlia o que na antiguidade equivalia a uma fotografia. Esta carta se divide em vrias sees.

    (1) H uma saudao. (2) Roga-se pela sade dos destinatrios. (3) Agradece-se aos deuses. (4) H o contedo especial. (5) Finalmente, as saudaes especiais e os pessoais. Virtualmente cada uma das cartas de Paulo se divide exatamente

    nas mesmas sees. as consideremos com respeito s cartas do apstolo.

  • 1 Tessalonicenses (William Barclay) 8 (1) A saudao: Romanos 1:1; 1 Corntios 1:1; 2 Corntios 1:1;

    Glatas 1:1; Efsios 1:1; Filipenses 1:1; Comesse guloseimas 1:1-2; 1 Tessalonicenses 1:1; 2 Tessalonicenses 1:1.

    (2) A orao: em todos os casos Paulo ora pedindo a graa de Deus para com a gente a que escreve: Romanos 1:7; 1 Corntios 1:3; 2 Corntios 1:2; Glatas 1:3; Efsios 1:2; Filipenses 1:3; Colossenses 1:2; 1 Tessalonicenses 1:3; 2 Tessalonicenses 1:3.

    (3) O agradecimento: Romanos 1:8; 1 Corntios 1:4; 2 Corntios 1:3 Efsios 1:3; Filipenses 1:3; 1 Tessalonicenses 1:3; 2 Tessalonicenses 1:2.

    (4) O contedo especial: o corpo principal da carta constitui o contedo especial.

    (5) Saudaes especiais e pessoais: Romanos 16; 1 Corntios 16:19; 2 Corntios 13:13; Filipenses 4:21-22; Colossenses 4:12-15; 1 Tessalonicenses 5:26.

    evidente que quando Paulo escrevia suas cartas o fazia segundo a forma em que todos faziam. Deissmann, o grande erudito, disse a respeito destas cartas: "Diferem das mensagens achadas nos papiros do Egito no como cartas, mas somente em que foram escritas por Paulo." Quando as lemos encontramos que no estamos diante de exerccios acadmicos e tratados teolgicos, mas diante de documentos humanos escritos por um amigo a seus amigos.

    A situao imediata Com bem poucas excees Paulo escreveu suas cartas para

    enfrentar uma situao imediata. No so tratados em que Paulo se sentou a escrever na paz e no silncio de seu estudo. Havia uma situao ameaadora em Corinto, Galcia, Filipos ou Tessalnica. E escreveu para enfrent-la. Ao escrever, no pensava em ns absolutamente; s tinha posta sua mente nas pessoas a quem se dirigia. Deissmann escreve: "Paulo no pensava em acrescentar nada s j extensas epstolas dos judeus; e menos em enriquecer a literatura sagrada de sua nao... No

  • 1 Tessalonicenses (William Barclay) 9 pressentia o importante lugar que suas palavras ocupariam na histria universal; nem sequer que existiriam na gerao seguinte, e muito menos que algum dia as pessoas as considerariam como Sagradas Escrituras."

    Sempre devemos lembrar que no porque algo se refira a uma situao imediata tem que ser de valor transitivo. Todos os grandes cantos de amor foram escritos para uma s pessoa, mas todo mundo adora. Justamente pelo fato de as cartas de Paulo serem escritas para enfrentar uma situao ameaadora ou uma necessidade clamorosa ainda tm vida. E porque a necessidade e a situao humanas no mudam, Deus nos fala hoje atravs delas.

    A palavra falada Devemos notar mais uma coisa nestas cartas. Paulo fez o que a

    maioria das pessoas faziam em seus dias. Normalmente ele no escrevia suas cartas; ditava-as e logo colocava sua assinatura autenticando-as. Hoje sabemos o nome das pessoas que escreveram as cartas. Em Romanos 16:22, Trcio, o secretrio, inclui suas saudaes antes de finalizar a carta. Em 1 Corntios 16:21 Paulo diz: A saudao, escrevo-a eu, Paulo, de prprio punho. Ou seja: Esta minha prpria assinatura, meu autgrafo, para que possam estar seguros de que a carta provm de mim. (Ver Colossenses 4:18; 2 Tessalonicenses 3:17.)

    Isto explica muitas coisas. s vezes muito difcil entender a Paulo, porque suas oraes comeam e no terminam nunca; sua gramtica falha e suas frases se confundem. No devemos pensar que Paulo se sentou tranqilo diante de um escritrio, e burilou cada uma das frases que escreveu. Devemos imagin-lo caminhando de um lado para outro numa pequena habitao, pronunciando uma corrente de palavras, enquanto seu secretrio se apressava a escrev-las. Quando Paulo compunha suas cartas, tinha em mente a imagem das pessoas s quais escrevia, e entornava seu corao em palavras que fluam uma aps outra em seu desejo de ajudar. As cartas de Paulo no so produtos

  • 1 Tessalonicenses (William Barclay) 10 acadmicos e cuidadosos, escritos no isolamento do estudo de um erudito; so correntes de palavras vitais, que vivem e fluem diretamente de seu corao ao dos amigos aos quais escrevia.

    INTRODUO S CARTAS AOS TESSALONICENSES

    Paulo vem a Macednia Para tudo aquele que pode ler as entrelinhas, o relato da chegada de

    Paulo a Macednia uma das histrias mais dramticas do livro de Atos. Lucas o narra em Atos 16:6-10 com uma parcimnia quase extrema. Apesar de sua brevidade, este relato d necessariamente a impresso de uma cadeia de circunstncias que culminam num acontecimento supremo. Paulo tinha atravessado Frgia e Galcia. Frente a ele encontrava-se o Helesponto, sua esquerda estava a fecunda provncia da sia e sua direita se estendia a enorme provncia de Bitnia. Mas o Esprito no lhe permitiu entrar em nenhuma delas. Havia algo que o empurrava incessantemente ao mar Egeu. Desta maneira chegou Troas alexandrina ainda indeciso quanto a onde se encaminharia. Ento teve a viso noturna de um homem que exclamava: "Passa a Macednia e ajuda-nos." Paulo zarpou e pela primeira vez o Evangelho chegou Europa.

    Um Mundo Mas nesse mesmo momento Paulo deve ter visto muito mais que

    um continente para Cristo. Desembarcou na Macednia, o reino de Alexandre Magno, que tinha conquistado o mundo e que tinha chorado porque no havia mais mundos que conquistar. Mas Alexandre era muito mais que um mero conquistador militar. Foi quase o primeiro universalista. Era mais um missionrio que um soldado; sonhava com um mundo dominado e iluminado pela cultura grega. At um pensador

  • 1 Tessalonicenses (William Barclay) 11 to grande como Aristteles havia dito que era um dever evidente tratar os gregos como homens livres e os orientais como escravos. Mas Alexandre declarava ter sido enviado por Deus "para unir, pacificar e reconciliar a todo o mundo" Deliberadamente queria dizer que seu propsito era "unir o Oriente com o Ocidente". Sonhava com um imprio em que no haveria nem grego nem judeu, nem brbaro, nem cita, nem escravo, nem livre (Colossenses 3:11). Agora, difcil ver como poderia estar ausente Alexandre do pensamento de Paulo. Paulo partiu desde Troas alexandrina, que levava o nome de Alexandre; passou a Macednia que constitua o reino original de Alexandre; trabalhou em Filipos, que levava o nome de Filipe, o pai de Alexandre; foi a Tessalnica, que tinha o nome de uma meio-irm de Alexandre. Todo o territrio estava saturado da lembrana de Alexandre; Paulo deve ter pensado no num continente, mas em um mundo para Cristo.

    Paulo chega a Tessalnica A sensao de que os braos do cristianismo se estendiam deve ter-

    se acentuado quando Paulo chegou a Tessalnica. Tratava-se de uma cidade importante. Seu nome original era Thermai que significa "fontes quentes", dando nome ao golfo onde se encontrava. Seiscentos anos antes Herdoto a descrevia como uma grande cidade. Tinha sido sempre um porto famoso. Aqui Xerxes o persa estabeleceu sua base naval ao invadir a Europa, e at na poca dos romanos era um dos arsenais maiores do mundo. Em 315 antes de Cristo Cassandro reedificou a cidade e lhe ps o novo nome de Tessalnica, nome de sua mulher, filha de Filipe da Macednia e meio-irm de Alexandre Magno. Era uma cidade livre. Isto significa que jamais tinha sofrido a afronta de aquartelar entre seus muros tropas romanas. Tinha sua prpria assemblia popular e seus prprios magistrados. Sua populao se elevava a 200.000 habitantes, e durante um tempo rivalizou com Constantinopla como candidata a capital do mundo. At hoje, com o

  • 1 Tessalonicenses (William Barclay) 12 nome de Salnica, tem 70.000 habitantes. Mas a importncia suprema de Tessalnica est em que se encontra sobre a Via Egnatia que se estendia desde o Dirraquio sobre o Adritico at Constantinopla sobre o Bsforo e daqui para a sia Menor e o Oriente. De fato sua rua principal era parte da mesma rota que unia Roma com o Oriente. O Oriente e o Ocidente convergiam em Tessalnica; dizia-se que estava "na saia" do imprio romano. O comrcio se introduzia aqui do Oriente e o Ocidente; por isso, dizia-se: "Enquanto a natureza no mudar, Tessalnica permanecer rica e prspera." impossvel exagerar a importncia da chegada do cristianismo a Tessalnica. Se o cristianismo se estabelecia em Tessalnica estava tambm destinado a estender-se ao oriente pela Via Egnatia at conquistar todo o sia, e pelo Ocidente at convulsionar mesma cidade de Roma. O advento do cristianismo a Tessalnica foi um passo crucial na transformao do cristianismo em religio mundial.

    A permanncia de Paulo em Tessalnica O relato da permanncia de Paulo em Tessalnica encontra-se em

    Atos 17:1-10. Agora, para Paulo o que aconteceu em Tessalnica foi de importncia suprema. Pregou na sinagoga durante trs sbados consecutivos (Atos 17:2). Isso significa que sua estadia no pde ter sido de muito mais que trs semanas. Teve um xito tremendo a ponto de os judeus irem s nuvens e provocarem tais distrbios que Paulo teve que ser tirado s escondidas e com perigo de sua vida rumo a Beria; aqui aconteceu o mesmo (Atos 17:10-12), e Paulo teve que deixar a Timteo e Silas para seguir fugindo para Atenas. Por conseguinte, Paulo esteve somente trs semanas em Tessalnica. Era possvel causar em trs semanas tanta impresso num lugar, que o cristianismo chegasse a implantar-se em forma tal que no pudesse ser jamais desarraigado? Se for assim, no era um sonho vazio pensar que o imprio romano podia ser ganho para Cristo. Ou era necessrio instalar-se e trabalhar durante meses e at anos antes de causar alguma impresso? Neste caso ningum

  • 1 Tessalonicenses (William Barclay) 13 poderia prever no mais mnimo quando chegaria o cristianismo a penetrar em todo mundo. Tessalnica constitua um caso de prova, e Paulo estava esmagado pela ansiedade de saber o que aconteceria.

    Notcias de Tessalnica To ansioso estava Paulo que quando se encontrou com Timteo

    em Atenas, enviou-o de volta a Tessalnica para solicitar as informaes sem as quais no tinha descanso (1 Tessalonicenses 3:1-2; 5; 2:17). Que notcias trouxe Timteo? Havia notcias boas. O afeto dos Tessalonicenses por Paulo era mais forte que nunca; e se mantinham firmes na f (1 Tessalonicenses 2:14; 3:4-6; 4:9-10). Eles eram efetivamente "sua glria e sua alegria" (1 Tessalonicenses 2:20). Mas tambm havia notcias que causavam inquietao.

    (1) A pregao da Segunda Vinda tinha produzido uma situao anormal; o povo tinha deixado de trabalhar e abandonado todas as empresas ordinrias da vida para esperar a Segunda Vinda numa espcie de histeria expectante. Paulo lhes diz que se mantenham tranqilos e que continuem suas tarefas ordinrias (1 Tessalonicenses 4:11).

    (2) Estavam preocupados com o que aconteceria aos que tinham morrido antes da Segunda Vinda. Paulo lhes explica que os que dormiram em Jesus no perdero nada da glria (1 Tes. 4:13-18).

    (3) Existia uma tendncia a desprezar toda autoridade legal; a inclinao grega discusso fazia com que a democracia estivesse sempre em perigo de degenerar (1 Tessalonicenses 5:12-14). (4) Continuamente existia o perigo de recair na imoralidade. Era difcil esquecer o ponto de vista de geraes e escapar ao contgio do mundo pago (1 Tessalonicenses 4:3-8).

    (5) Havia ao menos algum grupo que difamava a Paulo. Sugeriam que Paulo pregava o evangelho pelo lucro que podia receber (1 Tessalonicenses 2:5, 9); e que era algo assim como um ditador (1 Tessalonicenses 2:6-7, 11).

  • 1 Tessalonicenses (William Barclay) 14 (6) Na Igreja havia divises (1 Tessalonicenses 4:9; 5:13). Estes

    eram os problemas que Paulo devia tratar, e que mostram que a natureza humana no mudou muito nas igrejas.

    Por que duas Cartas? Devemos nos perguntar por que h duas Cartas. Ambas so muito

    semelhantes, e deveram ser escritas no transcurso de semanas ou dias. A segunda foi escrita com o propsito principal de esclarecer uma errnea interpretao da Segunda Vinda. A primeira insiste em que o dia do Senhor vir como ladro na noite e insiste na vigilncia (1 Tessalonicenses 5:2; 5:6). Mas esta razo chegou a produzir uma situao doentia visto que os homens no faziam outra coisa seno vigiar e esperar. Na segunda Carta Paulo explica que sinais precederiam Segunda Vinda (2 Tess. 2:3-12). As idias dos Tessalonicenses sobre a Segunda Vinda tinham perdido seu equilbrio e proporo. Como acontece freqentemente ao pregador, a mensagem de Paulo tinha sido mal entendida e mal interpretada; algumas frases tinham sido tomadas fora de contexto ou superestimadas. A segunda Carta tenta colocar as coisas em seu justo equilbrio e corrigir os pensamentos dos excitados Tessalonicenses com respeito Segunda Vinda. Certamente, Paulo aproveita a ocasio para repetir e sublinhar muitos dos bons conselhos e admoestaes que deu na primeira Carta, mas sua inteno principal acalmar a histeria e fazer com que esperem no numa ociosa excitao, mas em uma paciente e diligente ateno ao trabalho do dia. Nestas duas Cartas vemos como Paulo resolve dia a dia os problemas de uma Igreja que cresce e se expande.

    1 Tessalonicenses 1 Uma clida introduo - 1:1-10

  • 1 Tessalonicenses (William Barclay) 15 UMA CLIDA INTRODUO

    1 Tessalonicenses 1:1-10 Paulo envia esta Carta Igreja dos Tessalonicenses em Deus Pai e

    no Senhor Jesus Cristo. Deus era a verdadeira atmosfera em que a Igreja vivia, movia-se e existia. Assim como o ar est em ns e ns no ar, e no podemos viver sem ele, assim tambm a Igreja verdadeira est em Deus e Deus na Igreja verdadeira; para a Igreja no h verdadeira vida sem Deus. Alm disso o Deus em quem a Igreja vive o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo; portanto a Igreja no deve tremer com um temor servil perante um Deus tirano, mas sim alegrar-se na clida luz de um Deus que amor.

    Neste captulo introdutrio vemos Paulo em sua maior benevolncia. Logo ter que comear a admoestar e refutar mas de repente comea com um elogio absoluto. Mesmo quando reprovava, Paulo nunca tinha a inteno de desanimar, mas sempre de animar. Em todo homem h algo bom e freqentemente o melhor caminho para livr-lo das coisas ms elogiar as coisas superiores. A melhor maneira de desarraigar as faltas elogiar as virtudes a fim de que floresam mais; porque todo homem reage melhor exortao que recriminao.

    Conta-se que uma vez o cozinheiro do duque do Wellington informou seu retiro e se afastou. Ao ser perguntado por que tinha deixado uma posio to honorvel e bem paga respondeu: "Quando a comida boa o duque jamais me elogia; quando m jamais me reprova; realmente no valia a tristeza." Faltava estmulo para que a vida valesse a tristeza.

    Paulo, como bom psiclogo e com verdadeiro tato cristo, comea com louvores justamente quando tem a inteno de passar a repreender.

    No versculo 3 Paulo escolhe trs ingredientes importantes da vida crist.

    (1) A obra inspirada pela f. No h nada que nos fale mais de um homem que sua maneira de operar. Pode operar por temor ao ltego; pela

  • 1 Tessalonicenses (William Barclay) 16 esperana de lucros; por um turvo sentido do dever; ou inspirado pela f. Tem f em que a tarefa que realiza lhe foi encomendada por Deus e que est trabalhando, em ltima anlise, no para os homens, seno para Deus. Algum disse que o sinal da verdadeira consagrao que a gente possa achar glria no trabalho penoso.

    (2) O trabalho que impulsionado pelo amor. Bernard Newman narra como uma vez estando na casa de um campons em Bulgria advertiu que a filha deste estava todo o tempo ensimesmada costurando um vestido. Disse-lhe: "No se cansa nunca dessa costura interminvel?" "Oh, no!", respondeu ela, "voc saiba que este meu vestido de bodas." O trabalho feito por amor sempre tem alegria.

    (3) A perseverana na esperana. Quando Alexandre o Grande traava suas campanhas dividiu todas suas posses entre seus amigos. Algum lhe disse: "Mas, no guarda nada para voc!" "Oh sim!, tambm o fao", reps, "reservo-me minhas esperanas." Um homem pode agentar enquanto mantm esperana, porque ento no caminha rumo noite, mas sim rumo alvorada.

    No versculo 4 Paulo fala dos Tessalonicenses como irmos amados de Deus. A frase amados de Deus era aplicada pelos judeus s aos homens grandes em grau supremo, como Moiss e Salomo, e prpria nao de Israel. Agora, os privilgios maiores dos homens mais importantes do povo escolhido por Deus, foram estendidos aos mais humildes dos gentios

    O versculo 8 fala de que a f dos Tessalonicenses repercutiu (B.J., se divulgou). A palavra poderia significar tambm que estala como o rodar do trovo. H algo tremendo na atitude desafiante do cristianismo primitivo. Quando toda a prudncia e todo o sentido comum teriam ditado um estilo de vida que passasse inadvertido para evitar o perigo e a perseguio, os cristos desafiavam o perigo proclamando a f. Jamais se envergonhavam de mostrar quem eram e a quem buscavam servir.

    Nos versculos 9 e 10 se usam duas palavras que so tpicas da vida crist. Os Tessalonicenses serviam a Deus e esperavam a vinda de

  • 1 Tessalonicenses (William Barclay) 17 Cristo. O cristo chamado a servir no mundo e a esperar a glria. O servio leal, a espera paciente e a expectativa invencvel so um necessrio preldio glria dos cus.

    1 Tessalonicenses 2 A defesa de Paulo - 2:1-12 Os pecados dos judeus - 2:13-16 Nossa glria e nossa alegria - 2:17-20

    A DEFESA DE PAULO 1 Tessalonicenses 2:1-12 Sob a superfcie desta passagem circulam as calnias contra Paulo

    com que o atacavam seus inimigos de Tessalnica. (1) O versculo 2 refere-se priso e aos ultrajes que Paulo tinha

    suportado em Filipos (Atos 16:16-40). Sem dvida havia em Tessalnica os que diziam que Paulo tinha um pronturio policial e que no era mais que um delinqente que estava fugindo da justia, e que obviamente no se podia dar ouvidos um homem dessa ndole. A mente realmente maligna do que difama mistura todas as coisas.

    (2) Atrs do versculo 3 h no menos de trs acusaes. (a) Dizia-se que a doutrina de Paulo no tinha outra origem que um

    mero engano. Um homem verdadeiramente original no podia deixar de correr o risco de ser chamado louco. Em dias posteriores Festo pensou que Paulo estava louco (Atos 26:24). Houve um tempo em que os amigos e irmos de Jesus saram e tentaram lev-lo para casa porque pensavam que estava louco (Marcos 3:21). As normas crists podem ser to diferentes das do mundo, que aquele que as segue sem vacilao e com um entusiasmo ardente pode parecer aos outros demente ou insano.

    (b) Dizia-se que a pregao de Paulo obedecia a motivos impuros. A palavra usada para impureza (akatharsia) freqentemente tem que ver com impureza ou depravao sexual. Existia um costume cristo que os

  • 1 Tessalonicenses (William Barclay) 18 pagos freqentemente interpretavam deliberadamente mal; tratava-se do beijo de paz (1 Tessalonicenses 5:26). Quando os cristos falavam da festa do amor e do beijo de paz no era difcil que uma mente depravada lesse nestas frases o que no continham. triste que to freqentemente na vida a mente suja veja sujeira por toda parte.

    (c) Acusava-se a Paulo de que sua pregao estava dolosamente encaminhada a enganar a outros (nem tanto que ele estivesse enganado, mas que enganava). Os propagandistas da Alemanha do Hitler descobriram que se uma mentira era repetida com a suficiente freqncia e energia, no final chegava a ser aceita como a verdade. Essa era a acusao que se fazia a Paulo.

    (3) O versculo 4 indica que Paulo era acusado de buscar agradar aos homens em vez de agradar a Deus. Sem dvida, esta acusao surgiu do fato de que Paulo pregava a glria da liberdade do evangelho e a liberdade da graa, contra a servido da Lei e a sinistra escravido do legalismo. Sempre h gente que pensa que no so religiosos a menos que sejam desventurados. Todo aquele que prega um evangelho de alegria achar caluniadores; isto foi exatamente o que ocorreu com Jesus.

    (4) O versculo 5 e o 9 indicam ambos que havia aqueles que dizia que Paulo estava na tarefa de pregar o evangelho por motivos de lucro. A palavra que se usa para lisonja (kolakeia) descreve sempre a adulao que pretende obter algo; a lisonja por motivos de lucro. triste que na Igreja primitiva acontecessem estas coisas. Havia gente que tentava ganhar dinheiro com seu cristianismo.

    O primeiro livro cristo de ordem a Didaqu: A Doutrina dos Doze Apstolos. Ali se encontram algumas instrues esclarecedoras:

    "Que todo apstolo que chegue a vs seja recebido como o Senhor.

    ficar um dia e se for necessrio tambm o seguinte, mas se ficar trs um falso profeta. E quando um apstolo continue sua viagem que no leve nada a no ser po, at que chegue a seu alojamento. Mas se pedir dinheiro um falso profeta."

  • 1 Tessalonicenses (William Barclay) 19 "Nenhum profeta que ordene no Esprito uma mesa comer dela, de

    outra maneira um falso profeta." "Se aquele que chega est de passagem, socorram na medida em que

    possam. Mas no habitar convosco mais de dois ou trs dias a no ser em caso de necessidade. Mas se tiver a inteno de ficar entre vs e dedicar-se a um ofcio deixem trabalhar e comer. Mas se no tiver ocupao, segundo seu entender, procurem que no viva ocioso entre vs, sendo cristo. Mas se no quiser trabalhar um traficante de Cristo: precavei-vos contra tais homens" (Didaqu, captulos 11 e 12).

    A Didaqu data mais ou menos do ano 100 de nossa era. J a Igreja

    primitiva conheceu o eterno problema dos que traficam com a caridade. (5) O versculo 6 indica que se acusava a Paulo de buscar prestgio

    pessoal. o perigo constante do pregador e do mestre querer luzir-se em vez de comunicar a mensagem. Em 1 Tessalonicenses 1:5 h algo sugestivo. Paulo no diz: "Eu cheguei a vs", mas sim, "Nosso evangelho chegou a vs." O homem estava perdido em sua mensagem.

    (6) O versculo 7 indica que Paulo era acusado de ser algo assim como um ditador. A bondade de Paulo era a de um pai prudente. Seu amor era enrgico. Para ele o amor cristo no era algo fcil e sentimental. Sabia que os homens necessitavam disciplina no para seu castigo, seno para a bem de suas almas.

    OS PECADOS DOS JUDEUS

    1 Tessalonicenses 2:13-16 A f crist conduziu aos Tessalonicenses no paz mas sim

    tribulao. Sua nova lealdade os envolveu na perseguio. O mtodo de Paulo para anim-los muito interessante. Diz-lhes com efeito:

    "Irmos, estamos pisando onde pisaram os santos."

  • 1 Tessalonicenses (William Barclay) 20 A perseguio que suportaram era um emblema de honra que lhes

    conferia ttulos para figurar nos regimentos escolhidos do exrcito de Cristo.

    Mas o grande interesse desta passagem est nos versculos 15 e 16 onde Paulo traa uma espcie de catlogo de enganos e pecados judeus.

    (1) Os judeus mataram o Senhor Jesus e os profetas. Quando os mensageiros de Deus vinham os eliminavam. Uma das coisas mais lgubres no relato do evangelho o empecimento tenaz com que os chefes judeus trataram de desembaraar-se de Jesus antes que pudesse causar maior dano. Mas ningum jamais tornou que uma mensagem inoperante matando o mensageiro que o transmitia.

    Conta-se de um missionrio que foi a uma tribo primitiva. Para apresentar sua mensagem teve que valer-se de mtodos rudes e primitivos; fez-se pintar um quadro que mostrava a elevao aos cus do homem que aceitava a Cristo e a descida aos infernos de quem o rechaava. Toda a mensagem causou inquietao na tribo. No queriam que fosse verdade. O que fizeram ento? Queimaram o quadro e com isto pensaram que tudo estava solucionado. A pessoa pode negar-se a escutar a mensagem de Jesus Cristo, mas no pode eliminar essa mensagem da estrutura do universo e de sua prpria vida.

    (2) Perseguiam os cristos. Ainda que se negassem a aceitar a mensagem de Cristo para si mesmos, ao menos poderiam permitir que os outros a ouvissem e aceitassem. Lembremos sempre que o caminho que vai ao cu no um s; abstenhamo-nos da intolerncia.

    (3) No buscavam agradar a Deus. O triste da Igreja que com freqncia se aferra a uma religio feita pelos homens em vez da uma f dada por Deus. A pergunta que os homens se fazem com freqncia : "O que penso?", e no, "O que o que Deus diz?" O que interessa no nossa dbil lgica; a revelao de Deus.

    (4) Levantavam-se contra todos os homens. No mundo antigo os judeus eram efetivamente acusados de "odiar a raa humana". Tinham o pecado da arrogncia. Consideravam-se a si mesmos como o povo

  • 1 Tessalonicenses (William Barclay) 21 escolhido, como efetivamente o eram. Mas esta eleio era considerada como um privilgio; jamais sonhavam que tinham sido escolhidos para o servio. Tinham a inteno de que algum dia o mundo os serviria a eles; no que eles deveriam servir sempre ao mundo. O homem que pensa s em seus prprios direitos e em seus prprios privilgios estar sempre contra outros. E, o que pior srio, estar contra Deus.

    (5) Queriam guardar o oferecimento do amor de Deus exclusivamente para eles. No queriam que os gentios participassem da graa de Deus. H algo essencial e fundamentalmente errneo em toda religio que separa o homem de seus semelhantes. Se um homem amar realmente a Deus este amor deve transbordar aos seus semelhantes. Longe de lhe fazer acariciar seus prprios privilgios o encher de uma paixo s: a paixo por compartilh-los.

    NOSSA GLRIA E NOSSA ALEGRIA

    1 Tessalonicenses 2:17-20 Em primeiro lugar os Tessalonicenses foram chamados um

    "exemplo clssico de amizade". E aqui h uma passagem em que o profundo afeto de Paulo por seus amigos palpita em suas mesmas palavras. Atravs dos sculos podem ainda hoje sentir o batimento do corao de amor destas frases.

    Nesta passagem Paulo usa duas imagens interessantes. (1) Fala de Satans que o estorvou quando quis ir a Tessalnica. A

    palavra que usa (egkoptein) a palavra tcnica que expressa o bloqueio de um lance de estrada para frear a marcha de uma expedio. A obra de Satans arrojar obstculos no caminho do cristo, e nossa tarefa super-los, porque os obstculos na estrada fizeram-se para super-los.

    (2) Diz que os Tessalonicenses so seu coroa. A palavra no carece de interesse. Em grego existem dois termos que significam coroa. Um diadema, que se usa quase exclusivamente para a coroa real. O outro

  • 1 Tessalonicenses (William Barclay) 22 stefanos, usado quase exclusivamente para a coroa do vencedor em alguma lide, e particularmente para a coroa do atleta que sai vitorioso nos jogos. Aqui Paulo usa stefanos. O nico prmio da vida que realmente valorizava era ver que seus convertidos viviam bem.

    W. M. Macgregor costumava citar o dito de Joo quando pensava em seus estudantes: "No tenho maior alegria que esta, de ouvir que meus filhos andam na verdade" (3 Joo 4). Paulo teria dito o mesmo. A glria de todo mestre est em seus alunos e estudantes; e se chegar um dia em que o tenham deixado muito atrs, a glria ser ainda maior. A maior glria de um homem est naqueles aos quais colocou ou ajudou no caminho a Cristo.

    Nada do que ns fazemos pode nos dar crdito aos olhos de Deus; mas as estrelas na coroa de um homem sero, em ltima instncia, aqueles que ele levou mais perto de Jesus Cristo.

    1 Tessalonicenses 3 O pastor e seu rebanho - 3:1-10 Tudo de Deus - 3:11-13

    O PASTOR E SEU REBANHO 1 Tessalonicenses 3:1-10 Nesta passagem alenta a prpria essncia do esprito pastoral. (1) H afeto. Sempre ser verdade que nunca poderemos comover

    ou ganhar as pessoas se, para comear, simplesmente no nos agradam Carlyle disse de Londres: "H trs milhes e meio de habitantes

    nesta cidade; a maior parte so uns nscios." O homem que comea desprezando a outros, olhando-os de cima ou

    menosprezando-os, jamais poder salv-los. (2) H ansiedade. Quando a pessoa ps o melhor de si mesmo em

    algo, quando lanou algo de um transatlntico a um folheto est ansioso por saber como a obra de sua mo e de seu crebro oculta o

  • 1 Tessalonicenses (William Barclay) 23 temporal. Se isto a verdade das coisas, muito mais a verdade das pessoas. Quando um pai educou a seu filho no amor e no sacrifcio, est ansioso quando este filho lanado s dificuldades e perigos da vida no mundo. Quando um mestre educou um menino e ps nele algo de si mesmo, tem nsias de ver como essa preparao suporta as provas da vida. Quando um ministro recebe a um jovem na Igreja, depois de alguns anos de formao na escola dominical, nas classes de Bblia e nas classes de confirmao, est ansioso por saber como esse jovem enfrenta e cumpre os deveres e obrigaes de membro da Igreja. Isto se aplica em grau supremo a Jesus Cristo. Ele arriscou tanto pelos ombreia e os amou com um amor to sacrificial que vigia ansiosamente para ver que uso fazem os homens desse amor. A pessoa deve manter-se com temor e humildade ao lembrar como na Terra e nos cus h aqueles que o levam em seus coraes e contemplam como se comporta.

    (3) H ajuda. Quando Paulo enviou Timteo a Tessalnica no era tanto para inspecionar a Igreja para lhe prestar ajuda. A grande aspirao de todo pai, professor e pregador deveria ser nem tanto a de criticar e condenar por suas faltas e enganos os que esto a seu cargo como a de libert-los dessas faltas e enganos e, se incorreram nos mesmos, redimi-los deles. A atitude crist rumo ao pecador ou aquele que luta jamais deve ser de condenao, mas sim sempre de ajuda.

    (4) H alegria. Paulo se alegrava de que seus conversos se mantivessem firmes. Tinha a alegria de quem criou algo que teria que superar as provas e tentaes do tempo. No h alegria semelhante ao do pai que pode mostrar um homem que faz o bem.

    (5) H orao. Paulo nevava a seu povo em seu corao perante o trono da misericrdia de Deus. Nunca saberemos de quantos pecados fomos salvos e quantas tentaes superamos porque algum orou por ns.

    Conta-se que uma domstica se tornou membro de uma Igreja. Foi-lhe perguntado que obra crist realizava. Ela reps no ter tido a oportunidade de fazer muito porque tinha muitas ocupaes, "mas"

  • 1 Tessalonicenses (William Barclay) 24 disse "quando me deito levo para a cama o jornal da manh e leio as notcias dos nascimentos para orar por todos as crianas; quando leio as notcias de casamentos, oro para que os novos casais sejam felizes; quando leio as notcias fnebres, oro para que os que esto de luto sejam consolados."

    Ningum jamais poder dizer quantas ondas de graa fluram dessa fonte. Quando no podemos servir a outros de outra maneira, quando como Paulo nos encontramos involuntariamente separados deles, h entretanto uma coisa que podemos fazer: orar por eles

    TUDO DE DEUS

    1 Tessalonicenses 3:11-13 Numa passagem simples como esta onde pode observar-se melhor

    o curso instintivo da mente de Paulo. Para Paulo todo era de Deus. (1) Ora por que Deus lhe abra um caminho para chegar a

    Tessalnica. Paulo dirige-se a Deus para ser guiado por Ele nos problemas ordinrios da vida diria. Se tiver em vista uma viagem, dirige-se a Deus para que lhe abra o caminho. Um dos grandes e graves enganos da vida acudir a Deus s nos grandes momentos, nas emergncias desesperadores e nas crises entristecedoras.

    No faz muito estive falando com trs jovens que justamente tinham concludo um cruzeiro em iate. Um deles me disse: "Voc sabe, enquanto a gente est em casa jamais presta ateno aos prognsticos do tempo, mas quando estvamos neste iate fomos todo ouvidos." Era possvel passar-se sem os prognsticos do tempo quando a vida estava confortavelmente segura; mas era fundamental escut-los quando a vida poderia depender deles.

    Somos propensos a agir da mesma maneira com respeito a Deus. Nos assuntos da vida ordinria, ns o passamos por alto pensando que podemos resolver tudo suficientemente bem por nossos meios; nas situaes de emergncia nos agarramos a Ele, sabendo que no podemos

  • 1 Tessalonicenses (William Barclay) 25 ir adiante sozinhos. No ocorria o mesmo com Paulo. At nas coisas rotineiras da vida, como uma viagem de Atenas a Tessalnica, Paulo olha a Deus para que o guie e oriente. Nos valemos de Deus para que nos resgate; Paulo buscava a companhia de Deus para obter uma vida dirigida por Deus.

    (2) Ora para que Deus capacite os tessalonicenses a cumprir a lei do amor em suas vidas dirias. Freqentemente nos perguntamos por que to difcil viver a vida crist particularmente nas relaes ordinrias de cada dia. A resposta que talvez estejamos tentando viv-la por ns mesmos. O homem que sai pela manh sem orao, em realidade diz: "Hoje posso resolver tudo isso muito bem por mim mesmo." O homem que se entrega ao descanso sem falar a Deus, em realidade diz: "Posso suportar por mim mesmo qualquer conseqncia que tenha trazido o dia de hoje."

    Certa vez John Buchan descreveu um ateu como "um homem que no tem meios invisveis de apoio". E bem poder ser que nosso fracasso em viver a vida crist se deva ao fato de que tentemos viv-la sem a ajuda de Deus. E este um encargo impossvel.

    (3) Paulo ora a Deus pela segurana definitiva. Nesta poca sua mente estava cheia de pensamentos sobre a Segunda Vinda de Cristo, sobre o dia em que os homens teriam que apresentar-se perante o juzo de Deus. Orava para que Deus conservasse a seu povo na retido e na justia a fim de que no se envergonhassem naquele dia. Ningum pode encontrar-se com Deus sem Deus; a nica maneira de nos preparar para nos encontrar com Deus viver diariamente com Deus. O choque daquele dia no ser para aqueles que viveram que tal maneira que se tornaram amigos de Deus, seno para aqueles que se encontraro perante Deus como perante um terrvel estranho.

    1 Tessalonicenses 4 O chamado pureza - 4:1-8 Necessidade do trabalho dirio - 4:9-12

  • 1 Tessalonicenses (William Barclay) 26 Sobre os que j dormem - 4:13-18

    O CHAMADO PUREZA 1 Tessalonicenses 4:1-8 Parece estranho que Paulo tivesse que estender-se tanto para

    inculcar a pureza sexual numa congregao crist; mas se devem lembrar duas coisas.

    Em primeiro lugar, fazia muito pouco tempo que os tessalonicenses tinham abraado a f crist; provinham de uma sociedade em que a castidade era uma virtude desconhecida e ainda se encontravam em meio de tal sociedade que diariamente exercia seu influxo pernicioso sobre eles. Deveria ter-lhes resultado em extremo difcil esquecer-se do que tinha sido natural durante toda sua vida.

    Em segundo lugar, devemos lembrar que nunca houve uma poca na histria em que os votos matrimoniais fossem to menosprezados e o divrcio to desastrosamente fcil.

    Entre os judeus o matrimnio teoricamente era tido na mais alta estima. Dizia-se que um judeu devia morrer antes que cometer homicdio, idolatria ou adultrio. Mas o divrcio era tragicamente fcil. A Lei de Deuteronmio estabelecia que um homem podia divorciar-se de sua mulher se achava "alguma impureza" ou "algum motivo de vergonha nela". A dificuldade estava em definir o que era motivo de vergonha. Os rabinos estritos reduziam unicamente ao adultrio. Mas o ensino mais lasso estabelecia que a condio se cumpria se a mulher tinha preparado a refeio pondo muito sal, se se apresentava em pblico com a cabea descoberta, se falava com homens na rua, se falava com os pais do marido e em sua presena com falta de respeito, e se era bagunceira (o qual significava que sua voz se escutava na casa vizinha). Era de esperar que prevalecesse o ponto de vista mais baixo e lasso.

    Em Roma, durante os primeiros quinhentos e vinte anos da repblica no tinha havido nenhum divrcio, mas sob o imprio o

  • 1 Tessalonicenses (William Barclay) 27 divrcio era questo de capricho. Como disse Sneca: "As mulheres se casavam para divorciar-se e se divorciavam para casar-se." Em Roma os anos eram denominados com os nomes dos cnsules, mas dizia-se que as damas elegantes denominavam os anos com o nome de seus maridos. Juvenal cita o exemplo de uma mulher que teve oito maridos em cinco anos. A moralidade tinha morrido.

    Na Grcia a imoralidade, sempre tinha estado no auge. H muito que Demstenes tinha escrito: "Temos prostitutas para o prazer, concubinas para as necessidades dirias do corpo, esposa para procriar filhos e para o cuidado fiel de nossas casas" Enquanto o homem mantivesse a sua mulher e a sua famlia, no havia motivo de vergonha nas relaes extraconjugais.

    Paulo escreve este pargrafo a homens e mulheres que tinham sado de uma sociedade assim. O que nos parece o mais comum na vida crist era para eles algo surpreendente. O cristianismo fez uma coisa: estabeleceu um cdigo completamente novo com respeito s relaes entre homens e mulheres. O cristianismo o campeo absoluto da pureza e o guardio do lar. Hoje em dia pareceria suprfluo estabelecer coisas desse tipo, entretanto no o .

    Num livro intitulado What I Believe, que simpsio das crenas bsicas de um grupo seleto de homens e mulheres. Kingsley Martin escreve:

    "Quando as mulheres se emancipam e comeam a ganhar a vida por si

    mesmas e podem decidir por si mesmas ter ou no ter filhos, seus costumes matrimoniais so inevitavelmente revisados. 'A anticoncepo', disse-me uma vez um bem conhecido economista ' o evento mais importante desde a descoberta do fogo'. Fundamentalmente tinha razo, porque ela altera basicamente as relaes dos sexos sobre as quais edificada a vida familiar. Em nossos dias o resultado um novo cdigo sexual, a antiga 'moralidade' que tolera no varo a promiscuidade enquanto castiga a infidelidade feminina para sempre ou at como em algumas culturas puritanas com a morte cruel, desapareceu. O novo cdigo tende a tornar

  • 1 Tessalonicenses (William Barclay) 28 aceitvel que os homens e as mulheres possam viver juntos como querem, mas exige que se casem se decidem ter filhos."

    A nova moralidade to somente a antiga imoralidade atualizada.

    Ainda existe a necessidade urgente, tanto em nossas cidades como em Tessalnica, de colocar perante homens e mulheres as exigncias intransigentes da moralidade crist, porquanto Deus no nos chamou para a impureza, e sim para a santificao.

    NECESSIDADE DO TRABALHO DIRIO

    1 Tessalonicenses 4:9-12 Esta passagem comea com louvores mas termina com

    admoestaes; e com a admoestao chegamos situao que est imediatamente por atrs da Carta. Paulo insiste aos tessalonicenses a manter-se calmos, a atenderem suas prprias tarefas e continuarem trabalhando com as prprias mos. A pregao da Segunda Vinda tinha produzido em Tessalnica uma situao irregular e delicada. Como resultado, muitos dos tessalonicenses tinham abandonado seu trabalho dirio para rondar em grupos excitados transtornando suas mentes e as de outros enquanto esperavam a chegada da Segunda Vinda. A vida ordinria tinha sido interrompida; o problema de ganhar a vida tinha sido abandonado; esperavam excitados a vinda de Cristo. O conselho de Paulo era eminentemente prtico.

    (1) Diz-lhes, em realidade, que a melhor maneira em que Jesus Cristo poderia vir a eles era que os encontrasse cumprindo com tranqilidade, eficincia e diligncia sua tarefa diria. Rainy acostumava dizer: "Hoje devo dar uma conferncia; amanh devo tomar parte numa reunio; no domingo devo pregar; algum dia deverei morrer. Pois bem, faamos o melhor que possamos tudo o que devemos fazer." O pensamento de que Cristo vir algum dia, de que a vida tal como a conhecemos ter um fim, no uma razo para deixar de trabalhar, mas

  • 1 Tessalonicenses (William Barclay) 29 sim uma razo para trabalhar com maior energia e fidelidade. No a expectativa neurtica e intil, mas sim o trabalho pacfico e proveitoso o que servir ao homem de passaporte para o Reino.

    (2) Diz-lhes que, acontea o que acontecer, devem recomendar o cristianismo aos que esto fora do mesmo, mediante uma vida diligente e bondosa. Continuar procedendo como o estavam fazendo, permitir que um suposto cristianismo os transformasse em cidados inteis era simplesmente desacreditar o cristianismo. Uma rvore se conhece por seus frutos e uma religio pela classe de homens que produz. A nica maneira de mostrar que o cristianismo a melhor de todas as crenas, demonstrar que produz os melhores homens. Quando ns os cristos demonstramos que nosso cristianismo nos faz melhores trabalhadores, amigos mais fiis, homens e mulheres mais amveis, ento e s ento pregamos de verdade. O importante no so as palavras, mas sim as obras; no a oratria, mas sim a vida. O mundo l fora nunca entra numa igreja para ouvir um sermo mas nos v diariamente fora da igreja. Nossa vida deve ser o sermo que ganhe os homens para Cristo.

    (3) Diz-lhes que devem tender independncia e no viver jamais da caridade. O efeito do proceder dos tessalonicenses era que quem ouvi-los tinha que mant-los. H certo paradoxo no cristianismo. um dever cristo ajudar a outros, porque muitos no tm a culpa de no ter obtido essa independncia. Mas tambm um dever do cristo ajudar-se a si mesmo. Seu dever no tirar da comunidade, mas sim contribuir comunidade. No cristo haver uma bela caridade que se deleita em dar e uma nobre independncia que recusa receber, enquanto possa suprir suas necessidades com suas mos.

    SOBRE OS QUE J DORMEM

    1 Tessalonicenses 4:13-18 A idia da Segunda Vinda tinha provocado outro problema nas

    pessoas de Tessalnica. Esperavam-na muito em breve: esperavam

  • 1 Tessalonicenses (William Barclay) 30 ardentemente estar vivos quando acontecesse. Mas tambm estavam preocupados com aqueles que tinham morrido antes da Segunda Vinda, ainda que tinham sido cristos. No podiam estar seguros de que aqueles que j tinham morrido fossem participar da glria do dia que, segundo pensavam, estava s portas. Paulo escreveu esta passagem para responder a este problema. Sua resposta que haver uma mesma glria tanto para os que morreram como para os que sobrevivem.

    Nesta passagem diz-lhes que no devem entristecer-se como aqueles que no tm esperana. Frente morte o mundo pago reagia com desespero. Eles a enfrentavam com uma lgubre resignao, com uma fria desesperana.

    Tosquio escrevia: "Uma vez que o homem morre no h ressurreio." Tecrito: "H esperana para aqueles que esto vivos, mas os que morreram esto sem esperana." Catulo: "Quando nossa breve luz se extingue h uma noite perptua em que deveremos dormir." Em suas tumbas de pedra se gravavam lgubres epitfios: "Eu no era; cheguei a ser; no sou; no me importa."

    Uma das cartas mais patticas em papiro que chegou at nossas mos uma de condolncia que reza:

    "Irene a Taonofris e Filo; que recebam consolo. Afligi-me e chorei pelo defunto como chorei por Ddimas. E todas as coisas que considerei convenientes j as fiz como tambm meu Epafrodito, Termution, Filin, Apolnio e Novelo. Mas apesar de tudo, contra isto no se pode fazer nada. Portanto consolem-se mutuamente." Diante da morte, para o pago no havia nada que fazer.

    A resposta de Paulo estabelece um princpio importante. Se um homem tiver vivido e morrido em Cristo ainda que morto encontra-se ainda em Cristo e ressuscitar nEle. Isto significa que entre Jesus Cristo e o homem que o ama h uma relao que no pode ser destruda por nada. uma relao independente do tempo; uma relao que ultrapassa a morte. Pelo fato de Jesus Cristo ter vivido, morrido e ressuscitado,

  • 1 Tessalonicenses (William Barclay) 31 tambm o homem que um com Cristo viver, morrer e ressuscitar. Nada na vida ou na morte poder separ-lo de Cristo.

    A imagem que Paulo traa sobre o dia em que Cristo vir potica. Tenta com palavras expressar o inexprimvel e descrever o indescritvel. O quadro o seguinte. Na Segunda Vinda, Cristo descer dos cus Terra. Dar a voz de mando e diante da voz de um arcanjo e da trombeta os mortos despertaro; ento, tanto os mortos como os vivos sero arrebatados em carros de nuvens ao encontro de Cristo e depois estaro para sempre com seu Senhor. No devemos ponderar com um literalismo cru e estrito o que no mais que a viso de um vidente. O importante no so os detalhes. O importante que tanto na vida como na morte o cristo est em Cristo, e essa uma unio que nada pode romper.

    1 Tessalonicenses 5 Como um ladro na noite - 5:1-11 Conselhos a uma Igreja - 5:12-22 A graa de Cristo seja convosco - 5:23-28

    COMO UM LADRO NA NOITE 1 Tessalonicenses 5:1-11 No poderemos entender plenamente as descries do Novo

    Testamento sobre a Segunda Vinda se no lembrarmos que tm um pano de fundo no Antigo Testamento. No Antigo Testamento muito comum a concepo do Dia do Senhor e todas as figuras e construes que pertencem ao Dia do Senhor foram ligadas Segunda Vinda. Para o judeu todo o tempo estava dividido em duas eras. A era presente que se considerava absoluta e irremediavelmente m. E a era futura que seria a poca de ouro de Deus. Mas entre ambas estava o Dia do Senhor. Este dia ia ser terrvel. Seria como as dores de parto de um mundo novo; um dia em que um mundo seria destroado e outro mundo nasceria.

  • 1 Tessalonicenses (William Barclay) 32 Muitos dos quadros mais terrveis do Antigo Testamento pertencem

    ao Dia do Senhor (Isaas 22:5; 13:9; Sofonias 1:14-16; Ams 5:18; Jeremias 30:7; Malaquias 4:1; Joel 2:31).

    As principais caractersticas do Dia do Senhor no Antigo Testamento eram as seguintes.

    (1) Viria impressionante e inesperadamente. (2) Incluiria uma comoo csmica em que todo o universo seria

    sacudido em seus prprios fundamentos. (3) Seria um momento de juzo. Com toda naturalidade os escritores

    do Novo Testamento identificam intencionalmente e conscientemente o Dia do Senhor com o dia da Segunda Vinda de Jesus Cristo. Faremos bem em lembrar que estas descries so o que poderamos denominar estereotipadas. No tm que ser tomadas ao p da letra. So sonhos e vises do que ocorreria quando Deus irrompesse no tempo.

    Era muito natural que os homens desejassem conhecer ansiosamente quando chegaria esse dia. O prprio Jesus havia dito brusca e claramente que ningum sabia quando seria esse dia e essa hora, que nem ele mesmo sabia, mas unicamente Deus (Marcos 13:32; cf. Mateus 24:36; Atos 1:7). Mas isto no impedia que se especulasse sobre o mesmo, como o faz ainda hoje, ainda que seja quase blasfemo que os homens pretendam conhecer o que era negado ao prprio Jesus. Contra estas especulaes Paulo tem duas coisas a dizer.

    Repete que a vinda do dia ser repentina. Vir como um ladro na noite. Mas tambm insiste em que isto no razo para que o homem seja tomado desprevenido e sem preparao. S o homem que vive nas trevas e cujas obras so ms ser pego sem preparao. O cristo vive na luz, e no importa quando venha o dia, se vigiar e levar uma vida sbria, aquele dia o encontrar preparado. Acordado ou dormindo, o cristo vive com Cristo e portanto est sempre preparado.

    Ningum sabe quando ouvir o chamado de Deus e h certas coisas que no se podem deixar para o ltimo momento. muito tarde para preparar-se para um exame quando chega o momento de faz-lo. muito

  • 1 Tessalonicenses (William Barclay) 33 tarde para assegurar uma casa quando estalou a tormenta. H coisas que devem fazer-se a tempo.

    Quando a rainha Maria de Orange morria seu capelo quis prepar-la com uma leitura. Ela reps: "No deixei este assunto para esta hora."

    Um velho escocs a quem algum oferecia palavras de consolo porque tinha chegado sua hora, replicou: "J cobri minha casa quando o tempo estava bom!" Se o chamado vier de repente, nem por isso tem que nos encontrar necessariamente sem preparao. O homem que viveu toda sua vida com Cristo nunca se encontra sem preparao para chegar mais perto de a sua presena. O homem que vive na luz e de dia, no pode ser achado despreparado.

    CONSELHOS A UMA IGREJA

    1 Tessalonicenses 5:12-22 Paulo chega enfim alinhavando uma cadeia de pedras preciosas: so

    seus conselhos. Expe-nos da maneira mais breve, mas cada um deles de tal valor que todo cristo e toda Igreja tm que ponder-los cuidadosamente.

    Respeitem a seus chefes diz Paulo. E a razo deste respeito a obra que eles realizam. No questo de prestgio pessoal, o trabalho o que torna grande ao homem; sua insgnia de honra o servio que realiza.

    Vivam em paz diz Paulo. impossvel pregar o evangelho do amor numa atmosfera envenenada pelo dio. muito melhor que se abandone uma congregao em que se infeliz e torna infelizes a outros e busque outra em que se pode estar em paz.

    O versculo 14 refere-se aos que necessitam um cuidado e ateno particulares.

    A palavra traduzida ociosos descrevia originariamente a um soldado que tinha deixado as fileiras; alude aos que no cumprem com o que deveriam cumprir.

  • 1 Tessalonicenses (William Barclay) 34 Os de pouco nimo so literalmente os de "corao pequeno". Em

    toda comunidade se encontram irmos pusilnimes que instintivamente temem o pior. Mas em toda comunidade devem encontrar-se cristos de coragem que saibam ajudar a outros. "Sustentem os fracos", um precioso conselho. Em vez de deixar os irmos fracos ir deriva para finalmente desaparecer, a comunidade crist deveria tentar deliberadamente mant-los na Igreja de tal maneira que no possam escapar. Deveria criar laos de companheirismo e persuaso para poder manter a um homem que temperamentalmente fraco e propenso a desviar-se. Ser paciente com todos quase o mais difcil, porque a ltima lio que a maior parte de ns aprendemos suportar os nscios com alegria.

    No se vinguem diz Paulo. Mesmo quando algum busque nosso mal devemos conquist-lo buscando seu bem.

    Os versculos 16-18 nos do trs rasgos caractersticos de uma Igreja autntica.

    (1) uma Igreja feliz. H nela essa atmosfera de alegria que faz com que seus membros se sintam inundados de tal. O verdadeiro cristianismo anima, no deprime.

    (2) uma Igreja que ora. Talvez as oraes de nossa Igreja fossem mais efetivas se lembrssemos que "oram melhor juntos os que tambm oram sozinhos".

    (3) uma Igreja agradecida. Sempre h algo pelo que devemos dar graas. At no dia mais tenebroso se recebem bnos. Devemos lembrar sempre que se dermos a cara ao Sol as sombras cairo atrs de ns, mas se lhe damos as costas todas as sombras cairo diante.

    Nos versculos 19 e 20 Paulo admoesta aos Tessalonicenses a que no desprezem os dons espirituais. Os profetas equivaliam realmente a nossos pregadores modernos. Eles eram os que ofereciam a mensagem de Deus congregao. Em realidade Paulo diz: "Se algum tiver algo que dizer, no o impeam de dizer."

  • 1 Tessalonicenses (William Barclay) 35 Os versculos 21 e 22 descrevem o dever constante do cristo de

    fazer de Cristo a pedra de toque para pr prova todas as coisas; e mesmo quando seja difcil, deve continuar agindo corretamente e manter-se sempre afastado de toda sorte de mal.

    Quando uma Igreja observa os conselhos de Paulo, brilhar certamente como uma luz num lugar escuro; ter alegria dentro de si mesmo, e ter o poder de ganhar a outros.

    A GRAA DE CRISTO SEJA CONVOSCO

    1 Tessalonicenses 5:23-28 Assim, Paulo no fim da Carta encomenda a seus amigos a Deus em

    corpo, alma e esprito. Mas aqui h uma bela frase. Irmos, diz Paulo orai por

    ns. Certamente admirvel que o maior de todos os santos se sentisse fortalecido pela orao dos mais humildes cristos.

    Em certa ocasio os amigos de um grande estadista que tinha sido escolhido para o cargo mais alto que o pas podia brindar-lhe, foram felicit-lo. Ele lhes respondeu: "No me felicitem, mas sim orem por mim."

    Para Paulo a orao era uma cadeia de ouro: ele orava por outros e os outros oravam por ele.

    1 TESSALONISENSESNDICE PrefcioIntroduo GeralIntroduo Geral s Cartas de PauloAs cartas de PauloA dificuldade das cartasAs cartas antigasA situao imediataA palavra falada

    Introduo s Cartas aos TessalonicensesPaulo vem a MacedniaUm MundoPaulo chega a Tessalnica A permanncia de Paulo em TessalnicaNotcias de TessalnicaPor que duas Cartas?

    1 Tessalonicenses 1 Uma clida introduo - 1:1-10

    1 Tessalonicenses 2 A defesa de Paulo - 2:1-12Os pecados dos judeus - 2:13-16Nossa glria e nossa alegria - 2:17-20

    1 Tessalonicenses 3 O pastor e seu rebanho - 3:1-10Tudo de Deus - 3:11-13

    1 Tessalonicenses 4 O chamado pureza - 4:1-8Necessidade do trabalho dirio - 4:9-12Sobre os que j dormem - 4:13-18

    1 Tessalonicenses 5 Como um ladro na noite - 5:1-11Conselhos a uma Igreja - 5:12-22A graa de Cristo seja convosco - 5:23-28