11. quanto ao uso, adequação e prevenção de 14. quedas em ... · tudos randomizados controlados...

12
ARTIGO DE REVISÃO Dispositivos auxiliares de marcha: orientação quanto ao uso, adequação e prevenção de quedas em idosos Auxiliary devices for walking: guidance, demands and falls prevention in elderly Soraia Fernandes das Neves Glisoi 1 , Juliana Hotta Ansai 2 , Tamara Oliveira da Silva 3 , Fernanda Pretti Chalet Ferreira 1 , Aline Thomaz Soares 1 , Kelem de Negreiros Cabral 1 , Celisa Tiemi Nakagawa Sera 1 , Sérgio Paschoal 1 1 Hospital das Clínicas - Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-FMUSP), São Paulo, SP, Brasil. 2 Universidade Federal de São Carlos, SP, Brasil. 3 Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Campinas, SP, Brasil. Endereço: Rua Carlos de Campos, 436 - Parque São Vicente - Mauá, SP - CEP: 09371-310 - E-mail: [email protected] Telefones: 9254-5220, 2312-9216 RESUMO Objetivo: O alto número de idosos que sofrem quedas engloba, entre outras questões, a importância do uso adequado dos dispositivos auxiliares de marcha (DAM): bengalas, muletas e andadores. Apesar dos DAM visarem à melhoria da independência funcional, o equilíbrio e a redução dos efeitos de deficiências, a maioria dos portadores não é instruída sobre seu uso correto e muitas vezes utilizam modelos inadequados, danificados ou com altura inapropriada. Poucos estudos comprovam a eficácia da prescrição isolada dos DAM em reduzir o risco de quedas, e poucos apontam a forma adequada de indicar e ajustar de maneira individual. Assim, com o objetivo de descrever, informar e orientar sobre o uso adequado dos DAM, foi realizada uma revisão de literatura nas bases de dados Medline, Lilacs, Scielo e PubMed, e uma consulta a referências literárias e capítulos de livros que abordavam o tema. Foram selecionados nove artigos e três capítulos de livro. Os resultados encontrados apontam, para cada tipo de DAM, indicação, utilização, variações e características, orientações quanto à marcha e transferências e ajustes relacionados à altura. Além disso, foram descritos outros assuntos relevantes, como características e limitações do paciente, ambiente no qual está inserido, condições econômicas e sociais e principalmente a funcionalidade deste indivíduo. A prescrição, a orientação e o acompanhamento adequado dos DAM com um fisioterapeuta proporcionam ao paciente maior confiança, habilidade e aderência aos dispositivos. Possivelmente, tal ganho interferirá no desempenho das atividades diárias do paciente e atuará na prevenção de quedas. Palavras-chave: Bengala, muletas, andadores, prescrição, idosos. ABSTRACT Objective: The high number of elderly fallers raises, among other issues, the importance of proper use of assistive devices (DAM): crutches, canes and walkers. Despite DAM aim the improvement in functional independence, balance and the reduction of disability, most patients are not instructed on their proper use and they often use inadequate/ damaged models or unsuitable height. Few studies have confirmed the efficacy of isolated prescription of DAM to reduce the risk of falls and few studies have shown the proper way to indicate and adjust them individually. Thus, in order to describe, inform and guide about the proper use of DAM, a literature review was conducted using the databases Medline, Lilacs, Scielo and PubMed, literary references and book chapters wich approached the topic. A total of nine articles and three book chapters were identified. The results showed, for each type of DAM, its indication, use, variations and its characteristics, guidance about walk and transfers and height adjustments. In addition, other relevant issues have been described such as patients’ features and limitations, their environment, their social and economic conditions and mostly their functional capacity. The prescription, guidance and proper follow up of DAM by a physical therapist provide better confidence, skill and adherence regarding their use. Possibly, such gain will interfere on patient’s daily activities performance and it will act on falls prevention. Keywords: osteoarthritis, knee, aged, obesity, quality of life, hydrotherapy

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Geriatria & Gerontologia260

11. Podsiadlo D, Richardson S. The timed “up & go”: a test of basic functional mobility for frail elderly persons. J Am Geriatr Soc. 1991;39(2):142-8.

12. Torvinen S, Kannu P, Sievänen H, Järvinen TA, Pasanen M, Kontulainen S et al. Effect of a vibration exposure on muscu-lar performance and body balance. Randomized cross-over study. Clin Physiol Funct Imaging. 2002;22(2):145-52.

13. Torvinen S, Sievänen H, Järvinen TA, Pasanen M, Kontulainen S, Kannus P. Effect of 4-min vertical whole body vibration on

muscle performance and body balance: a randomized cross-over study. Int J Sports Med. 2002;23(5):374-9.

14. Bautmans I, Van Hees E, Lemper JC, Mets T. The feasibility of Whole Body Vibration in institutionalised elderly persons and its influence on muscle performance, balance and mobility: a randomised controlled trial. BMC Geriatr. 2005;5:17.

15. Overstall PW. The use of balance training in elderly people with falls. Clin Gerontol. 2003;13(1):151-61.

ARTigO DE REViSÃO

Dispositivos auxiliares de marcha: orientação quanto ao uso, adequação e prevenção de quedas em idososAuxiliary devices for walking: guidance, demands and falls prevention in elderly

Soraia Fernandes das Neves Glisoi1, Juliana Hotta Ansai2, Tamara Oliveira da Silva3, Fernanda Pretti Chalet Ferreira1, Aline Thomaz Soares1, Kelem de Negreiros Cabral1, Celisa Tiemi Nakagawa Sera1, Sérgio Paschoal1

1 Hospital das Clínicas - Faculdade de Medicina da Universidade

de São Paulo (HC-FMUSP), São Paulo, SP, Brasil.

2 Universidade Federal de São Carlos, SP, Brasil.

3 Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Campinas,

SP, Brasil.

Endereço: Rua Carlos de Campos, 436 - Parque São Vicente - Mauá, SP - CEP: 09371-310 - E-mail: [email protected]: 9254-5220, 2312-9216

RESUMOObjetivo: O alto número de idosos que sofrem quedas engloba, entre outras questões, a importância do uso adequado dos dispositivos auxiliares de marcha (DAM): bengalas, muletas e andadores. Apesar dos DAM visarem à melhoria da independência funcional, o equilíbrio e a redução dos efeitos de deficiências, a maioria dos portadores não é instruída sobre seu uso correto e muitas vezes utilizam modelos inadequados, danificados ou com altura inapropriada. Poucos estudos comprovam a eficácia da prescrição isolada dos DAM em reduzir o risco de quedas, e poucos apontam a forma adequada de indicar e ajustar de maneira individual. Assim, com o objetivo de descrever, informar e orientar sobre o uso adequado dos DAM, foi realizada uma revisão de literatura nas bases de dados Medline, Lilacs, Scielo e PubMed, e uma consulta a referências literárias e capítulos de livros que abordavam o tema. Foram selecionados nove artigos e três capítulos de livro. Os resultados encontrados apontam, para cada tipo de DAM, indicação, utilização, variações e características, orientações quanto à marcha e transferências e ajustes relacionados à altura. Além disso, foram descritos outros assuntos relevantes, como características e limitações do paciente, ambiente no qual está inserido, condições econômicas e sociais e principalmente a funcionalidade deste indivíduo. A prescrição, a orientação e o acompanhamento adequado dos DAM com um fisioterapeuta proporcionam ao paciente maior confiança, habilidade e aderência aos dispositivos. Possivelmente, tal ganho interferirá no desempenho das atividades diárias do paciente e atuará na prevenção de quedas.Palavras-chave: Bengala, muletas, andadores, prescrição, idosos.

ABSTRACTObjective: The high number of elderly fallers raises, among other issues, the importance of proper use of assistive devices (DAM): crutches, canes and walkers. Despite DAM aim the improvement in functional independence, balance and the reduction of disability, most patients are not instructed on their proper use and they often use inadequate/damaged models or unsuitable height. Few studies have confirmed the efficacy of isolated prescription of DAM to reduce the risk of falls and few studies have shown the proper way to indicate and adjust them individually. Thus, in order to describe, inform and guide about the proper use of DAM, a literature review was conducted using the databases Medline, Lilacs, Scielo and PubMed, literary references and book chapters wich approached the topic. A total of nine articles and three book chapters were identified. The results showed, for each type of DAM, its indication, use, variations and its characteristics, guidance about walk and transfers and height adjustments. In addition, other relevant issues have been described such as patients’ features and limitations, their environment, their social and economic conditions and mostly their functional capacity. The prescription, guidance and proper follow up of DAM by a physical therapist provide better confidence, skill and adherence regarding their use. Possibly, such gain will interfere on patient’s daily activities performance and it will act on falls prevention.Keywords: osteoarthritis, knee, aged, obesity, quality of life, hydrotherapy

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Dispositivos auxiliares de marchaGeriatria & Gerontologia262 263

iNTRODUÇÃO As quedas são a principal causa de lesões,

hospitalização e perda de independência fun-cional entre os idosos acima de 65 anos. Esti-ma-se que um terço da população idosa caia pelo menos uma vez ao ano.1,2 Os dispositivos auxiliares de marcha (DAM), como bengalas, muletas e andadores, fazem parte de progra-mas multidimensionais de prevenção de que-das visto que melhoram a independência fun-cional, a mobilidade, o equilíbrio e a base de suporte e reduzem os efeitos de uma ampla gama de deficiências. Apesar da recomenda-ção do uso destes dispositivos, não existem es-tudos randomizados controlados que compro-vem a eficácia da prescrição isolada dos DAM em reduzir o risco de quedas.

Estima-se que aproximadamente 6,8 mi-lhões de pessoas nos Estados Unidos3 usem DAM. Alguns idosos relatam que, além da re-dução das deficiências citadas anteriormente, o DAM pode ser útil para defesa pessoal.4 O uso desses dispositivos apresenta uma correlação com o risco aumentado de quedas tanto no que tange ao seu uso incorreto,5 quanto ao fato de servir como um marcador, já que os indiví-duos que apresentam pior déficit de marcha e/ou equilíbrio são os que mais recebem a pres-crição para o uso do DAM.6,7

Observa-se na prática clínica que a maioria das pessoas que utilizam esses DAM não foi in-truída sobre o uso correto e muitas vezes utiliza modelos inadequados, danificados ou com al-tura inapropriada.8 Os idosos devem ser desen-corajados a comprar ou pegar emprestado um DAM sem antes receber a adequada avaliação de qual dispositivo seria melhor para o caso. Por isso, os profissionais de saúde envolvidos com a população idosa, devem rotineiramente avaliar o DAM de seus pacientes para garantir boa al-tura, ajuste e manutenção, e também orientar o uso correto do dispositivo.9

Quando há indicação para o uso do DAM, este deverá ser prescrito após a avaliação de variáveis como: força muscular atual do indi-víduo, resistência, equilíbrio, marcha, função cognitiva, dor e demandas ambientais.8,9 Após essa avaliação pode-se indicar para o mesmo indivíduo dois dispositivos, um para uso domi-ciliar e outro para ambientes externos.

Assim, propomos, nesta revisão, descrever, in-formar e orientar sobre o uso adequado dos DAM.

MÉTODOS Foi feita revisão de literatura das bases

de dados Medline, Lilacs, Scielo e PubMed, e consulta a referências literárias e capítulos de livros que abordavam este tema.

Foram selecionados os artigos e textos que apresentavam informações referentes ao tipo e uso de DAM, padrões de marcha e sua correlação com quedas em idosos. Uti-lizaram-se referências publicadas até o ano de 2011 com os seguintes descritores: acci-dental falls, crutches, canes, walkers e aged.

RESULTADOS A partir da pesquisa nas bases de dados,

foram identificados 73 artigos que continham os descritores. Excluímos todos os artigos que não continham em seu resumo informa-ções sobre a correlação do seu uso, orienta-ções de modo de usar e quedas. Após as exclu-sões, foram revisados nove artigos completos e, em seguida a uma consulta a referências literárias, foram selecionados três capítulos de livros.

Os DAM são divididos em três categorias principais: bengalas, muletas e andadores. A es-colha do modelo a ser prescrito difere de acordo com a necessidade de cada paciente e a sua con-dição financeira. Sua prescrição pode ser indi-

Tabela 1. Variações da bengala e suas características

Bengala Descrição Vantagens Desvantagens

Convencional/regular ou padrão

Feita de madeira, alumínio ou plástico. Possuem apoio de mão

em formato de meio círculo/cajado ou tradicional

Melhora do equilíbrio; preço acessível; cabe em espaços

limitados (escadas)

Mais pesadas do que a de alumínio; seu apoio manual, quando anteriorizado, pode

desencadear síndrome do túnel do carpo; não pode ser ajustada

a menos que seja cortada

Ajustável de alumínio convencional

Apoio de mão em meio círculo ou tradicional; altura ajustável

entre 68 e 98 cm através de mecanismo de botão de pressão

Ajuste de altura adequado; leveza; cabe com facilidade em

escadas

Quando o ponto de apoio é anteriorizado pode causar

síndrome do túnel do carpo; tem mais leveza e é de maior custo quando comparada à

convencional

Ajustável de alumínio com recuo

Possui recuo anterior no corpo da bengala criando um cabo reto ou recuado; altura ajustável de 68 a 98 cm por meio do mecanismo

de botão de pressão

Permite que a pressão seja colocada no centro da bengala

para maior estabilidade

Preço elevado em comparação com as convencionais ou de

alumínio ajustáveis

Quatro pontas (quatro apoios)

Feita em alumínio. Base alargada ou estreita; base de apoio ampla

através dos quatro pontos de contato com o solo

Oferece apoio sobre uma base larga (aumento da base de

suporte); facilmente ajustável

Dependendo do modelo a pressão exercida pela mão pode não ficar centrada na bengala; mais pesada do que a bengala

convencional; de difícil utilização em superfícies instáveis

Tipo andador

Feita em alumínio; base muito ampla; pernas mais distantes do paciente anguladas para manter contato com o solo e promover estabilidade; dobrável; altura

variável entre 73 e 94 cm

Base de apoio larga; mais estáveis do que as bengalas

de quatro pontos; podem ser dobradas para viagem ou

guardadas

Não podem ser utilizadas em escadas; o posicionamento da mão de apoio pode não ficar

centralizado; uso de progressão lenta; mais caras do que as bengalas de quatro pontas

Com rodas

Feita em alumínio. Base ampla e com rodas, permite progressão

contínua à frente; altura ajustável entre 71 e 94 cm;

possui freio sensível à pressão manual

A base com rodas permite que o peso seja aplicado de forma contínua; não é

necessário levantar o dispositivo (progressão mais rápida)

Requer força de membro superior e preensão para acionar

mecanismo de freio; mais cara do que as bengalas de quatro

pontas

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Dispositivos auxiliares de marchaGeriatria & Gerontologia262 263

iNTRODUÇÃO As quedas são a principal causa de lesões,

hospitalização e perda de independência fun-cional entre os idosos acima de 65 anos. Esti-ma-se que um terço da população idosa caia pelo menos uma vez ao ano.1,2 Os dispositivos auxiliares de marcha (DAM), como bengalas, muletas e andadores, fazem parte de progra-mas multidimensionais de prevenção de que-das visto que melhoram a independência fun-cional, a mobilidade, o equilíbrio e a base de suporte e reduzem os efeitos de uma ampla gama de deficiências. Apesar da recomenda-ção do uso destes dispositivos, não existem es-tudos randomizados controlados que compro-vem a eficácia da prescrição isolada dos DAM em reduzir o risco de quedas.

Estima-se que aproximadamente 6,8 mi-lhões de pessoas nos Estados Unidos3 usem DAM. Alguns idosos relatam que, além da re-dução das deficiências citadas anteriormente, o DAM pode ser útil para defesa pessoal.4 O uso desses dispositivos apresenta uma correlação com o risco aumentado de quedas tanto no que tange ao seu uso incorreto,5 quanto ao fato de servir como um marcador, já que os indiví-duos que apresentam pior déficit de marcha e/ou equilíbrio são os que mais recebem a pres-crição para o uso do DAM.6,7

Observa-se na prática clínica que a maioria das pessoas que utilizam esses DAM não foi in-truída sobre o uso correto e muitas vezes utiliza modelos inadequados, danificados ou com al-tura inapropriada.8 Os idosos devem ser desen-corajados a comprar ou pegar emprestado um DAM sem antes receber a adequada avaliação de qual dispositivo seria melhor para o caso. Por isso, os profissionais de saúde envolvidos com a população idosa, devem rotineiramente avaliar o DAM de seus pacientes para garantir boa al-tura, ajuste e manutenção, e também orientar o uso correto do dispositivo.9

Quando há indicação para o uso do DAM, este deverá ser prescrito após a avaliação de variáveis como: força muscular atual do indi-víduo, resistência, equilíbrio, marcha, função cognitiva, dor e demandas ambientais.8,9 Após essa avaliação pode-se indicar para o mesmo indivíduo dois dispositivos, um para uso domi-ciliar e outro para ambientes externos.

Assim, propomos, nesta revisão, descrever, in-formar e orientar sobre o uso adequado dos DAM.

MÉTODOS Foi feita revisão de literatura das bases

de dados Medline, Lilacs, Scielo e PubMed, e consulta a referências literárias e capítulos de livros que abordavam este tema.

Foram selecionados os artigos e textos que apresentavam informações referentes ao tipo e uso de DAM, padrões de marcha e sua correlação com quedas em idosos. Uti-lizaram-se referências publicadas até o ano de 2011 com os seguintes descritores: acci-dental falls, crutches, canes, walkers e aged.

RESULTADOS A partir da pesquisa nas bases de dados,

foram identificados 73 artigos que continham os descritores. Excluímos todos os artigos que não continham em seu resumo informa-ções sobre a correlação do seu uso, orienta-ções de modo de usar e quedas. Após as exclu-sões, foram revisados nove artigos completos e, em seguida a uma consulta a referências literárias, foram selecionados três capítulos de livros.

Os DAM são divididos em três categorias principais: bengalas, muletas e andadores. A es-colha do modelo a ser prescrito difere de acordo com a necessidade de cada paciente e a sua con-dição financeira. Sua prescrição pode ser indi-

Tabela 1. Variações da bengala e suas características

Bengala Descrição Vantagens Desvantagens

Convencional/regular ou padrão

Feita de madeira, alumínio ou plástico. Possuem apoio de mão

em formato de meio círculo/cajado ou tradicional

Melhora do equilíbrio; preço acessível; cabe em espaços

limitados (escadas)

Mais pesadas do que a de alumínio; seu apoio manual, quando anteriorizado, pode

desencadear síndrome do túnel do carpo; não pode ser ajustada

a menos que seja cortada

Ajustável de alumínio convencional

Apoio de mão em meio círculo ou tradicional; altura ajustável

entre 68 e 98 cm através de mecanismo de botão de pressão

Ajuste de altura adequado; leveza; cabe com facilidade em

escadas

Quando o ponto de apoio é anteriorizado pode causar

síndrome do túnel do carpo; tem mais leveza e é de maior custo quando comparada à

convencional

Ajustável de alumínio com recuo

Possui recuo anterior no corpo da bengala criando um cabo reto ou recuado; altura ajustável de 68 a 98 cm por meio do mecanismo

de botão de pressão

Permite que a pressão seja colocada no centro da bengala

para maior estabilidade

Preço elevado em comparação com as convencionais ou de

alumínio ajustáveis

Quatro pontas (quatro apoios)

Feita em alumínio. Base alargada ou estreita; base de apoio ampla

através dos quatro pontos de contato com o solo

Oferece apoio sobre uma base larga (aumento da base de

suporte); facilmente ajustável

Dependendo do modelo a pressão exercida pela mão pode não ficar centrada na bengala; mais pesada do que a bengala

convencional; de difícil utilização em superfícies instáveis

Tipo andador

Feita em alumínio; base muito ampla; pernas mais distantes do paciente anguladas para manter contato com o solo e promover estabilidade; dobrável; altura

variável entre 73 e 94 cm

Base de apoio larga; mais estáveis do que as bengalas

de quatro pontos; podem ser dobradas para viagem ou

guardadas

Não podem ser utilizadas em escadas; o posicionamento da mão de apoio pode não ficar

centralizado; uso de progressão lenta; mais caras do que as bengalas de quatro pontas

Com rodas

Feita em alumínio. Base ampla e com rodas, permite progressão

contínua à frente; altura ajustável entre 71 e 94 cm;

possui freio sensível à pressão manual

A base com rodas permite que o peso seja aplicado de forma contínua; não é

necessário levantar o dispositivo (progressão mais rápida)

Requer força de membro superior e preensão para acionar

mecanismo de freio; mais cara do que as bengalas de quatro

pontas

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Dispositivos auxiliares de marchaGeriatria & Gerontologia264 265

cada para problemas de equilíbrio, dor, fadiga, fraqueza, instabilidade articular, carga esque-lética excessiva e estética.10,11 A Figura 1 ilustra alguns dos DAM utilizados na prática clínica.

BengalaA principal função das bengalas é aumen-

tar a base de apoio, melhorando assim o equi-líbrio. Sua utilização se dá na mão oposta ao membro afetado a fim de diminuir a sobre-carga na musculatura do quadril (as bengalas podem transmitir, das extremidades inferio-res, de 20 a 25% do peso do corpo), diminuir a compressão das articulações e favorecer o paciente em situações como subir e descer escadas.10 A Tabela 1 mostra as variações da bengala e suas características.

Marcha e transferências com o uso da bengala Marcha

A bengala deve ser posicionada no membro superior oposto ao membro afe-tado. Ao deambular, a bengala e o membro inferior contralateral devem avançar si-multaneamente. A bengala deve encontrar--se relativamente próxima ao corpo, porém sem ser posicionada à frente dos dedos do membro inferior.

Quando o envolvimento for bilateral (tanto de membros superiores quanto de inferiores) é pre-ciso decidir de que lado do corpo a bengala per-manecerá. Deverá ser avaliado qual lado o pacien-te apresenta melhor equilíbrio e resistência física para deambulação, segurança durante a marcha e força de preensão palmar, entre outros aspectos.

Subir e descer escadas Para subir, deve-se segurar o corrimão

(se possível), levando para o degrau primeiro o membro inferior que apresentar melhores condições físicas, a seguir levar a bengala dis-posta na mão oposta ao membro inferior aco-metido e subir um degrau com o membro in-ferior acometido. Para descer a escada, o indi-víduo deve primeiro posicionar a bengala no degrau, então apoiar o membro inferior com piores condições e finalmente o outro mem-bro inferior, o qual suportará o peso do corpo.

Sentar e levantarPara se levantar, o indivíduo é orientado a

mover o corpo para frente na cadeira, inclinar o tronco anteriormente, pressionar para baixo com as duas mãos contra os apoios de braços/assento, caso seja necessário e, após levantar--se, segurar a bengala.

Figura 1. Dispositivos auxiliares de marcha. A: bengala convencional; B: bengala de alumínio convencional; C: bengala quatro pontas; D: muleta de Lofstrand; E: andador fixo.

Para sentar-se, o paciente aproxima-se da cadeira realizando um pequeno círculo em direção ao lado não envolvido até que sinta a cadeira contra suas pernas, então encosta a bengala, alcança o apoio de braços e senta-se.10

MuletasAs muletas são úteis para indivíduos que ne-

cessitam usar seus membros superiores para sus-tentação de peso e propulsão.12 Essa transferência de peso para os membros superiores permite a deambulação funcional e, ao mesmo tempo, man-tém uma situação de sustentação de peso restri-ta.13 Em geral, são utilizadas bilateralmente.

Existem três modelos básicos de muletas: muletas axilares; de antebraço ou Lofstrand (erro-neamente chamadas canadenses); e de descarga de peso antebraquial,12 representadas na Tabela 2.

Marcha e transferências com o uso da muletaMarcha tipo mergulho

Indicada quando há incapacidade de des-carregar completamente o peso nos membros inferiores por fratura, dor, amputação ou pós--operatório, entre outros. Deve-se iniciar essa marcha levando-se as muletas à frente do corpo e, enquanto há descarga de peso total nos mem-bros superiores, os membros inferiores devem ser impulsionados e deslocados até a frente da linha entre as muletas ao mesmo tempo.12

Este padrão favorece uma velocidade de mar-cha rápida, porém com gasto energético elevado e grande exigência de força de membros superio-res.12

Tabela 2. Variações de muletas e características

Muleta Descrição Vantagens Desvantagens

Muleta axilar

Apoio axilar através de um bloco almofadado superiormente;

empunhadura manual; possui altura regulável, conforme

o comprimento do braço do usuário

Representa um alívio de até 80% da carga dos membros inferiores

A regulação incorreta do apoio axilar pode causar compressão

do nervo e/ou artéria axilar;uso restrito a lugares amplos

Muleta de Lofstrand

Possui uma braçadeira de antebraço para aumentar o braço

de alavanca da empunhadura; mais adequada quando usada

por períodos prolongados

Permite mobilidade em escadas, bem como para entrar e sair

de automóveis; permite que a empunhadura seja solta sem que

a muleta caia

Menor apoio lateral dado pela ausência da barra axilar;

braçadeiras difíceis de remover (algumas marcas); requer maior

controle e força em membros superiores; mais caras do que as

muletas axilares

Muleta de descarga antebraquial

Possui uma plataforma horizontal para todo o antebraço,

que é utilizado para suportar o peso (em vez da mão)

Indicada quando o punho não pode receber carga

Dificuldade no aprendizado do uso

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Dispositivos auxiliares de marchaGeriatria & Gerontologia264 265

cada para problemas de equilíbrio, dor, fadiga, fraqueza, instabilidade articular, carga esque-lética excessiva e estética.10,11 A Figura 1 ilustra alguns dos DAM utilizados na prática clínica.

BengalaA principal função das bengalas é aumen-

tar a base de apoio, melhorando assim o equi-líbrio. Sua utilização se dá na mão oposta ao membro afetado a fim de diminuir a sobre-carga na musculatura do quadril (as bengalas podem transmitir, das extremidades inferio-res, de 20 a 25% do peso do corpo), diminuir a compressão das articulações e favorecer o paciente em situações como subir e descer escadas.10 A Tabela 1 mostra as variações da bengala e suas características.

Marcha e transferências com o uso da bengala Marcha

A bengala deve ser posicionada no membro superior oposto ao membro afe-tado. Ao deambular, a bengala e o membro inferior contralateral devem avançar si-multaneamente. A bengala deve encontrar--se relativamente próxima ao corpo, porém sem ser posicionada à frente dos dedos do membro inferior.

Quando o envolvimento for bilateral (tanto de membros superiores quanto de inferiores) é pre-ciso decidir de que lado do corpo a bengala per-manecerá. Deverá ser avaliado qual lado o pacien-te apresenta melhor equilíbrio e resistência física para deambulação, segurança durante a marcha e força de preensão palmar, entre outros aspectos.

Subir e descer escadas Para subir, deve-se segurar o corrimão

(se possível), levando para o degrau primeiro o membro inferior que apresentar melhores condições físicas, a seguir levar a bengala dis-posta na mão oposta ao membro inferior aco-metido e subir um degrau com o membro in-ferior acometido. Para descer a escada, o indi-víduo deve primeiro posicionar a bengala no degrau, então apoiar o membro inferior com piores condições e finalmente o outro mem-bro inferior, o qual suportará o peso do corpo.

Sentar e levantarPara se levantar, o indivíduo é orientado a

mover o corpo para frente na cadeira, inclinar o tronco anteriormente, pressionar para baixo com as duas mãos contra os apoios de braços/assento, caso seja necessário e, após levantar--se, segurar a bengala.

Figura 1. Dispositivos auxiliares de marcha. A: bengala convencional; B: bengala de alumínio convencional; C: bengala quatro pontas; D: muleta de Lofstrand; E: andador fixo.

Para sentar-se, o paciente aproxima-se da cadeira realizando um pequeno círculo em direção ao lado não envolvido até que sinta a cadeira contra suas pernas, então encosta a bengala, alcança o apoio de braços e senta-se.10

MuletasAs muletas são úteis para indivíduos que ne-

cessitam usar seus membros superiores para sus-tentação de peso e propulsão.12 Essa transferência de peso para os membros superiores permite a deambulação funcional e, ao mesmo tempo, man-tém uma situação de sustentação de peso restri-ta.13 Em geral, são utilizadas bilateralmente.

Existem três modelos básicos de muletas: muletas axilares; de antebraço ou Lofstrand (erro-neamente chamadas canadenses); e de descarga de peso antebraquial,12 representadas na Tabela 2.

Marcha e transferências com o uso da muletaMarcha tipo mergulho

Indicada quando há incapacidade de des-carregar completamente o peso nos membros inferiores por fratura, dor, amputação ou pós--operatório, entre outros. Deve-se iniciar essa marcha levando-se as muletas à frente do corpo e, enquanto há descarga de peso total nos mem-bros superiores, os membros inferiores devem ser impulsionados e deslocados até a frente da linha entre as muletas ao mesmo tempo.12

Este padrão favorece uma velocidade de mar-cha rápida, porém com gasto energético elevado e grande exigência de força de membros superio-res.12

Tabela 2. Variações de muletas e características

Muleta Descrição Vantagens Desvantagens

Muleta axilar

Apoio axilar através de um bloco almofadado superiormente;

empunhadura manual; possui altura regulável, conforme

o comprimento do braço do usuário

Representa um alívio de até 80% da carga dos membros inferiores

A regulação incorreta do apoio axilar pode causar compressão

do nervo e/ou artéria axilar;uso restrito a lugares amplos

Muleta de Lofstrand

Possui uma braçadeira de antebraço para aumentar o braço

de alavanca da empunhadura; mais adequada quando usada

por períodos prolongados

Permite mobilidade em escadas, bem como para entrar e sair

de automóveis; permite que a empunhadura seja solta sem que

a muleta caia

Menor apoio lateral dado pela ausência da barra axilar;

braçadeiras difíceis de remover (algumas marcas); requer maior

controle e força em membros superiores; mais caras do que as

muletas axilares

Muleta de descarga antebraquial

Possui uma plataforma horizontal para todo o antebraço,

que é utilizado para suportar o peso (em vez da mão)

Indicada quando o punho não pode receber carga

Dificuldade no aprendizado do uso

Page 6: 11. quanto ao uso, adequação e prevenção de 14. quedas em ... · tudos randomizados controlados que compro-vem a eficácia da prescrição isolada dos DAM em reduzir o risco de

Dispositivos auxiliares de marchaGeriatria & Gerontologia266 267

Marcha tipo semimergulhoEste padrão é indicado quando há fra-

queza em ambos os membros inferiores. Primeiramente ambas as muletas devem ser levadas à frente, e, enquanto há descarga de peso total nos membros superiores, ambos os membros inferiores devem ser levados à frente ao mesmo tempo, porém as muletas não devem ser ultrapassadas.13

A aprendizagem desse padrão é fácil, po-rém há grande exigência de força de mem-bros superiores.13

É importante frisar que não se deve apoiar as axilas na muleta durante a marcha. A força toda deve acontecer no cotovelo e no punho, evitando dessa forma compressão da artéria e nervo axilar.12

Marcha de três pontosÉ indicada quando há incapacidade de

descarregar o peso em um dos membros in-feriores ─ membro acometido por fratura, dor, amputação, pós-operatório, entre outros. Primeiramente, ambas as muletas devem ser levadas à frente e, em seguida, o membro afe-tado. O peso do corpo deve ser descarregado sobre as muletas e por último o membro não afetado irá à frente. Possui como vantagem a eliminação de descarga de peso sobre o mem-bro afetado, porém é necessário que o pacien-te tenha um bom equilíbrio.12

Marcha de quatro pontosÉ indicada quando há fraqueza em am-

bos os membros inferiores ou coordenação insuficiente. A sequência de movimentos nes-se padrão de marcha é a alternância entre os membros, ou seja, muleta esquerda, pé direi-to; muleta direita, pé esquerdo. Possui como vantagem a garantia de estabilidade uma vez que sempre há três pontos de apoio no solo. A

desvantagem é a baixa velocidade de marcha e a necessidade de coordenação dos movi-mentos por parte dos pacientes.12

Marcha de dois pontosA marcha de dois pontos é indicada quan-

do há fraqueza em ambos os membros infe-riores ou coordenação deficiente. A sequên-cia de movimentos nesse padrão de marcha é a seguinte: muleta esquerda e pé direito jun-tos; muleta direita e pé esquerdo juntos.12

Essa marcha possui como vantagem a ve-locidade mais rápida do que na marcha em quatro apoios. Porém, como desvantagem, existe a dificuldade em aprender a sequência dos movimentos.12,13

Subir e descer escadasAo subir as escadas, o membro inferior

menos acometido deve ser posicionado no primeiro degrau e as muletas, assim como o membro inferior acometido no degrau seguinte, progredindo a subida pelos de-mais degraus.14

Ao descer as escadas, o membro inferior mais acometido e as muletas devem iniciar o movimento de descida, sendo posicionados no primeiro degrau, seguidos pelo membro inferior menos acometido, progredindo a des-cida dessa maneira pelos degraus restantes.14

Caso seja muito difícil ao indivíduo rea-lizar a subida e a descida progredindo pelos degraus, ele poderá ser orientado a adotar esse padrão, porém deve progredir a subida e a descida degrau a degrau.

Em escadas onde houver corrimãos por toda sua extensão e que estejam devi-damente fixados na parede, esse recurso poderá ser utilizado como suporte (ambas as muletas devem ser seguradas no lado contralateral ao corrimão).

Tabela 3. Variações de andador e suas características

Andador Descrição Vantagens Desvantagens

Articulado ou recíprocoQuatro pernas com pontas de

borracha; mobilidade unilateral

Proporciona maior oscilação dos braços; não é necessário erguer

o andador

Uso em escadas contraindicado; volumoso (dificuldade em

manobrá-lo em portas ou áreas congestionadas); menos estável

que o andador fixo

Fixo

Quatro pernas com pontas de borracha; não apresenta mobilidade em nenhum dos

planos

Melhor estabilidade anterior e lateral; maior sensação de segurança; ampla base de

suporte; ideal para pessoas com fraqueza de membros inferiores

Uso em escadas contraindicado; volumoso; padrão de marcha

mais lento e controlado; requer maior atenção; reduz o balanço dos membros superiores; não é aconselhável para pessoas

com déficit cognitivo e fraqueza de membros superiores; maior

gasto energético; flexão de tronco não funcional

Com rodas dianteiras

Duas pernas traseiras com pontas de borracha e duas dianteiras com rodas (fixas ou com suporte giratório);

não apresenta mobilidade em nenhum dos planos

Pode ser utilizado em pessoas com déficit cognitivo, com problemas de ombro e/ou

incapazes de erguer o andador; velocidade de marcha mais

funcional e rápida

Uso em escadas contraindicado; volumoso; maior chance de

perder controle; redução do balanço dos membros

superiores; flexão não funcional de tronco durante a marcha

Com quatro rodas

Quatro pernas com rodas (fixas ou com suporte giratório) e

não apresenta mobilidade em nenhum dos planos

Pode ser utilizado em pessoas com déficit cognitivo e

problemas de ombro e/ou incapazes de erguer o andador;

velocidade de marcha mais funcional e rápida

Uso em escadas contraindicado; volumoso; redução do balanço

dos membros superiores; maior chance de perder seu controle;

menos estável

Com três rodas

Modelo tripé; três pernas com rodas (fixas ou com suporte

giratório); roda da frente pode girar para qualquer direção e as duas rodas traseiras são

unidirecionais

Pode ser utilizado em pessoas com déficit cognitivo e

problemas de ombro e/ou incapazes de erguer o andador; permite manobras e mudanças de direção com um círculo de giro pequeno; é dobrável, de fácil utilização; marcha mais

funcional e rápida

Uso em escadas contraindicado; volumoso; redução do balanço

dos membros superiores; maior chance de perder seu controle;

menos estável

Page 7: 11. quanto ao uso, adequação e prevenção de 14. quedas em ... · tudos randomizados controlados que compro-vem a eficácia da prescrição isolada dos DAM em reduzir o risco de

Dispositivos auxiliares de marchaGeriatria & Gerontologia266 267

Marcha tipo semimergulhoEste padrão é indicado quando há fra-

queza em ambos os membros inferiores. Primeiramente ambas as muletas devem ser levadas à frente, e, enquanto há descarga de peso total nos membros superiores, ambos os membros inferiores devem ser levados à frente ao mesmo tempo, porém as muletas não devem ser ultrapassadas.13

A aprendizagem desse padrão é fácil, po-rém há grande exigência de força de mem-bros superiores.13

É importante frisar que não se deve apoiar as axilas na muleta durante a marcha. A força toda deve acontecer no cotovelo e no punho, evitando dessa forma compressão da artéria e nervo axilar.12

Marcha de três pontosÉ indicada quando há incapacidade de

descarregar o peso em um dos membros in-feriores ─ membro acometido por fratura, dor, amputação, pós-operatório, entre outros. Primeiramente, ambas as muletas devem ser levadas à frente e, em seguida, o membro afe-tado. O peso do corpo deve ser descarregado sobre as muletas e por último o membro não afetado irá à frente. Possui como vantagem a eliminação de descarga de peso sobre o mem-bro afetado, porém é necessário que o pacien-te tenha um bom equilíbrio.12

Marcha de quatro pontosÉ indicada quando há fraqueza em am-

bos os membros inferiores ou coordenação insuficiente. A sequência de movimentos nes-se padrão de marcha é a alternância entre os membros, ou seja, muleta esquerda, pé direi-to; muleta direita, pé esquerdo. Possui como vantagem a garantia de estabilidade uma vez que sempre há três pontos de apoio no solo. A

desvantagem é a baixa velocidade de marcha e a necessidade de coordenação dos movi-mentos por parte dos pacientes.12

Marcha de dois pontosA marcha de dois pontos é indicada quan-

do há fraqueza em ambos os membros infe-riores ou coordenação deficiente. A sequên-cia de movimentos nesse padrão de marcha é a seguinte: muleta esquerda e pé direito jun-tos; muleta direita e pé esquerdo juntos.12

Essa marcha possui como vantagem a ve-locidade mais rápida do que na marcha em quatro apoios. Porém, como desvantagem, existe a dificuldade em aprender a sequência dos movimentos.12,13

Subir e descer escadasAo subir as escadas, o membro inferior

menos acometido deve ser posicionado no primeiro degrau e as muletas, assim como o membro inferior acometido no degrau seguinte, progredindo a subida pelos de-mais degraus.14

Ao descer as escadas, o membro inferior mais acometido e as muletas devem iniciar o movimento de descida, sendo posicionados no primeiro degrau, seguidos pelo membro inferior menos acometido, progredindo a des-cida dessa maneira pelos degraus restantes.14

Caso seja muito difícil ao indivíduo rea-lizar a subida e a descida progredindo pelos degraus, ele poderá ser orientado a adotar esse padrão, porém deve progredir a subida e a descida degrau a degrau.

Em escadas onde houver corrimãos por toda sua extensão e que estejam devi-damente fixados na parede, esse recurso poderá ser utilizado como suporte (ambas as muletas devem ser seguradas no lado contralateral ao corrimão).

Tabela 3. Variações de andador e suas características

Andador Descrição Vantagens Desvantagens

Articulado ou recíprocoQuatro pernas com pontas de

borracha; mobilidade unilateral

Proporciona maior oscilação dos braços; não é necessário erguer

o andador

Uso em escadas contraindicado; volumoso (dificuldade em

manobrá-lo em portas ou áreas congestionadas); menos estável

que o andador fixo

Fixo

Quatro pernas com pontas de borracha; não apresenta mobilidade em nenhum dos

planos

Melhor estabilidade anterior e lateral; maior sensação de segurança; ampla base de

suporte; ideal para pessoas com fraqueza de membros inferiores

Uso em escadas contraindicado; volumoso; padrão de marcha

mais lento e controlado; requer maior atenção; reduz o balanço dos membros superiores; não é aconselhável para pessoas

com déficit cognitivo e fraqueza de membros superiores; maior

gasto energético; flexão de tronco não funcional

Com rodas dianteiras

Duas pernas traseiras com pontas de borracha e duas dianteiras com rodas (fixas ou com suporte giratório);

não apresenta mobilidade em nenhum dos planos

Pode ser utilizado em pessoas com déficit cognitivo, com problemas de ombro e/ou

incapazes de erguer o andador; velocidade de marcha mais

funcional e rápida

Uso em escadas contraindicado; volumoso; maior chance de

perder controle; redução do balanço dos membros

superiores; flexão não funcional de tronco durante a marcha

Com quatro rodas

Quatro pernas com rodas (fixas ou com suporte giratório) e

não apresenta mobilidade em nenhum dos planos

Pode ser utilizado em pessoas com déficit cognitivo e

problemas de ombro e/ou incapazes de erguer o andador;

velocidade de marcha mais funcional e rápida

Uso em escadas contraindicado; volumoso; redução do balanço

dos membros superiores; maior chance de perder seu controle;

menos estável

Com três rodas

Modelo tripé; três pernas com rodas (fixas ou com suporte

giratório); roda da frente pode girar para qualquer direção e as duas rodas traseiras são

unidirecionais

Pode ser utilizado em pessoas com déficit cognitivo e

problemas de ombro e/ou incapazes de erguer o andador; permite manobras e mudanças de direção com um círculo de giro pequeno; é dobrável, de fácil utilização; marcha mais

funcional e rápida

Uso em escadas contraindicado; volumoso; redução do balanço

dos membros superiores; maior chance de perder seu controle;

menos estável

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Dispositivos auxiliares de marchaGeriatria & Gerontologia268 269

Sentar e levantarO indivíduo deve ser orientado a levar

o membro inferior mais acometido à fren-te e segurar ambas as muletas em uma das mãos, utilizando a outra mão para sentir o assento da cadeira, e sentar lentamente. Ao ficar em pé, as muletas devem ser co-locadas ligeiramente à frente da cadeira, ambas as muletas devem ser seguras na mão ipsilateral ao membro inferior menos acometido. O indivíduo deve deslocar seu corpo para frente na cadeira, impulsionar--se para cima e deslocar seu peso para o membro inferior menos acometido.14

AndadorOs andadores fornecem três a quatro

pontos de contato com o solo e assim me-lhoram o equilíbrio por meio do aumen-to da base de suporte, maior estabilida-de anterior e lateral e suporte do peso da pessoa. Propiciam também maior senso de segurança às pessoas que apresentam medo de cair ao andar.10

Os tamanhos dos andadores são ajustáveis sendo sua altura variável en-tre 81 a 92 cm. Geralmente são feitos de alumínio tubular e pegadores de vinil moldado.

Existem alguns recursos adicionais que o andador pode fornecer, como ces-tas, sistemas de travagem, assentos, des-lizadores, apoios de mãos, mecanismo do-brável e pegadores.10,15

Quando necessário, podem ser pos-tas plataformas junto aos andadores para melhor redistribuição do peso corporal, exigindo menor esforço para os membros superiores.16

Há cinco tipos de andador: articulado; fixo; com rodas dianteiras; de quatro ro-

das; e de três rodas. Na Tabela 3, encon-tram-se as descrições, vantagens e des-vantagens de cada tipo de andador.

Marcha e transferências com o uso do andadorMarcha

Deve-se prestar atenção a alguns pontos quanto ao uso do andador a fim de utilizá--lo com a máxima efetividade e segurança. Os quatro apoios deste dispositivo devem ser transferidos e posicionados simultane-amente, evitando o balanço dos apoios ou deslizamento anterior do andador. A pessoa é instruída a olhar para frente, manter um bom alinhamento postural e não pisar perto demais da parte anterior do dispositivo para não reduzir a base de sustentação e ter o risco de queda posterior.10

As pessoas que utilizam o andador fixo são orientadas a retirar completamente o an-dador do chão, colocá-lo à frente ─ cerca de um braço de comprimento ─, levar o primei-ro membro inferior (comprometido ou não) para frente e, depois, o segundo membro in-ferior, com um passo à frente do primeiro.10

No andador articulado, não há necessida-de de erguer o andador. O paciente move um lado do andador para frente junto ao membro inferior e depois faz o mesmo no outro lado.

Os andadores com três e quatro rodas pro-movem uma progressão suave e contínua à fren-te, não havendo necessidade de erguer o disposi-tivo. No andador de rodas dianteiras, é necessá-rio inicialmente que se o posicione à frente, sem necessidade de erguê-lo ─ leva-se o membro inferior para frente e depois o segundo, dando o passo mais à frente que o primeiro membro.

Deve-se tomar cuidado ao deambular com o uso do andador em rampas, principalmente os andadores com rodas, a fim de evitar pos-síveis acidentes, como quedas.

Subir e descer escadasOs idosos devem ser orientados a nunca

subir escadas ou usar escadas rolantes com o andador, devido à dificuldade de manuseá-lo e ao risco de queda.

Sentar-se e levantar-sePara levantar-se, orienta-se o paciente

a deslocar o corpo para frente, posicionar o andador na frente da cadeira, inclinar o tronco anteriormente, pressionar para baixo com as mãos nos apoios de braços/assento, se necessário, e, assim que se le-vantar, estender as mãos (uma de cada vez) para segurar o andador.

Para sentar-se, o indivíduo aproxima-se da cadeira com o uso do andador, realizando um pequeno círculo em direção ao lado mais forte, até sentir a cadeira contra suas pernas.Logo após, estende uma mão por vez em di-reção aos apoios de braço e desce de modo controlado até a cadeira.10

Ajuste dos DAMPara medir a altura, a bengala é colocada

aproximadamente a 15 cm da borda lateral dos dedos dos pés. O topo da bengala deve fi-car aproximadamente na altura do trocanter maior, e o cotovelo deve estar flexionado de 15° a 30°. Devem ser levadas em consideração as variações anatômicas de cada indivíduo.

Para selecionar a altura do andador, utili-za-se o mesmo método descrito para bengala.10

Os modelos de muletas axilares em geral possibilitam o ajuste do comprimento total e também para o apoio da mão. Em ortosta-tismo estático, o ponto mais alto da muleta, deve situar-se dois a três dedos abaixo da axi-la até um ponto cerca de 15 a 20 cm afastado lateralmente do seu pé. As mãos devem estar posicionadas de tal forma que permitam uma

flexão de cotovelo de cerca de 30°. Nas mule-tas de antebraço, o posicionamento deve per-mitir uma flexão de cerca de 30° de cotovelo. A muleta deve tocar no solo cerca de 5 a 10 cm para fora e cerca de 15 cm à frente do pé.

Orientações geraisA utilização adequada dos DAM depen-

de, entre outros fatores, de modificações no ambiente domiciliar do paciente. A seguir se-rão expostas algumas medidas importantes e simples que podem evitar quedas durante o uso desses dispositivos auxiliares de marcha:

• retirar tapetes, fios elétricos e qual-quer outro objeto que possa levar a uma queda;

• no banheiro, utilizar tapetes antider-rapantes, barras de apoio, assento ele-vado de vaso sanitário e cadeira para banho;

• simplificar a casa, mantendo os itens de maior uso ao alcance das mãos e re-tirando aqueles que não são utilizados;

• utilizar sacolas, pastas, cestas e mo-chilas para auxiliar no transporte de objetos.14

DiSCUSSÃO O uso adequado dos DAM é resultado

de um conjunto de fatores que envolvem os critérios de prescrição, a escolha do dispo-sitivo e o desempenho durante a marcha, de acordo com as características físico--funcionais, segurança e especificidades de cada indivíduo (Figura 2).

A Tabela 4 mostra as principais evidên-cias na prática clínica com relação às reco-mendações dos DAM.8,16-18

Segundo Dean e Ross,19 em idosos sau-dáveis, com baixa taxa de quedas, ativos e

Page 9: 11. quanto ao uso, adequação e prevenção de 14. quedas em ... · tudos randomizados controlados que compro-vem a eficácia da prescrição isolada dos DAM em reduzir o risco de

Dispositivos auxiliares de marchaGeriatria & Gerontologia268 269

Sentar e levantarO indivíduo deve ser orientado a levar

o membro inferior mais acometido à fren-te e segurar ambas as muletas em uma das mãos, utilizando a outra mão para sentir o assento da cadeira, e sentar lentamente. Ao ficar em pé, as muletas devem ser co-locadas ligeiramente à frente da cadeira, ambas as muletas devem ser seguras na mão ipsilateral ao membro inferior menos acometido. O indivíduo deve deslocar seu corpo para frente na cadeira, impulsionar--se para cima e deslocar seu peso para o membro inferior menos acometido.14

AndadorOs andadores fornecem três a quatro

pontos de contato com o solo e assim me-lhoram o equilíbrio por meio do aumen-to da base de suporte, maior estabilida-de anterior e lateral e suporte do peso da pessoa. Propiciam também maior senso de segurança às pessoas que apresentam medo de cair ao andar.10

Os tamanhos dos andadores são ajustáveis sendo sua altura variável en-tre 81 a 92 cm. Geralmente são feitos de alumínio tubular e pegadores de vinil moldado.

Existem alguns recursos adicionais que o andador pode fornecer, como ces-tas, sistemas de travagem, assentos, des-lizadores, apoios de mãos, mecanismo do-brável e pegadores.10,15

Quando necessário, podem ser pos-tas plataformas junto aos andadores para melhor redistribuição do peso corporal, exigindo menor esforço para os membros superiores.16

Há cinco tipos de andador: articulado; fixo; com rodas dianteiras; de quatro ro-

das; e de três rodas. Na Tabela 3, encon-tram-se as descrições, vantagens e des-vantagens de cada tipo de andador.

Marcha e transferências com o uso do andadorMarcha

Deve-se prestar atenção a alguns pontos quanto ao uso do andador a fim de utilizá--lo com a máxima efetividade e segurança. Os quatro apoios deste dispositivo devem ser transferidos e posicionados simultane-amente, evitando o balanço dos apoios ou deslizamento anterior do andador. A pessoa é instruída a olhar para frente, manter um bom alinhamento postural e não pisar perto demais da parte anterior do dispositivo para não reduzir a base de sustentação e ter o risco de queda posterior.10

As pessoas que utilizam o andador fixo são orientadas a retirar completamente o an-dador do chão, colocá-lo à frente ─ cerca de um braço de comprimento ─, levar o primei-ro membro inferior (comprometido ou não) para frente e, depois, o segundo membro in-ferior, com um passo à frente do primeiro.10

No andador articulado, não há necessida-de de erguer o andador. O paciente move um lado do andador para frente junto ao membro inferior e depois faz o mesmo no outro lado.

Os andadores com três e quatro rodas pro-movem uma progressão suave e contínua à fren-te, não havendo necessidade de erguer o disposi-tivo. No andador de rodas dianteiras, é necessá-rio inicialmente que se o posicione à frente, sem necessidade de erguê-lo ─ leva-se o membro inferior para frente e depois o segundo, dando o passo mais à frente que o primeiro membro.

Deve-se tomar cuidado ao deambular com o uso do andador em rampas, principalmente os andadores com rodas, a fim de evitar pos-síveis acidentes, como quedas.

Subir e descer escadasOs idosos devem ser orientados a nunca

subir escadas ou usar escadas rolantes com o andador, devido à dificuldade de manuseá-lo e ao risco de queda.

Sentar-se e levantar-sePara levantar-se, orienta-se o paciente

a deslocar o corpo para frente, posicionar o andador na frente da cadeira, inclinar o tronco anteriormente, pressionar para baixo com as mãos nos apoios de braços/assento, se necessário, e, assim que se le-vantar, estender as mãos (uma de cada vez) para segurar o andador.

Para sentar-se, o indivíduo aproxima-se da cadeira com o uso do andador, realizando um pequeno círculo em direção ao lado mais forte, até sentir a cadeira contra suas pernas.Logo após, estende uma mão por vez em di-reção aos apoios de braço e desce de modo controlado até a cadeira.10

Ajuste dos DAMPara medir a altura, a bengala é colocada

aproximadamente a 15 cm da borda lateral dos dedos dos pés. O topo da bengala deve fi-car aproximadamente na altura do trocanter maior, e o cotovelo deve estar flexionado de 15° a 30°. Devem ser levadas em consideração as variações anatômicas de cada indivíduo.

Para selecionar a altura do andador, utili-za-se o mesmo método descrito para bengala.10

Os modelos de muletas axilares em geral possibilitam o ajuste do comprimento total e também para o apoio da mão. Em ortosta-tismo estático, o ponto mais alto da muleta, deve situar-se dois a três dedos abaixo da axi-la até um ponto cerca de 15 a 20 cm afastado lateralmente do seu pé. As mãos devem estar posicionadas de tal forma que permitam uma

flexão de cotovelo de cerca de 30°. Nas mule-tas de antebraço, o posicionamento deve per-mitir uma flexão de cerca de 30° de cotovelo. A muleta deve tocar no solo cerca de 5 a 10 cm para fora e cerca de 15 cm à frente do pé.

Orientações geraisA utilização adequada dos DAM depen-

de, entre outros fatores, de modificações no ambiente domiciliar do paciente. A seguir se-rão expostas algumas medidas importantes e simples que podem evitar quedas durante o uso desses dispositivos auxiliares de marcha:

• retirar tapetes, fios elétricos e qual-quer outro objeto que possa levar a uma queda;

• no banheiro, utilizar tapetes antider-rapantes, barras de apoio, assento ele-vado de vaso sanitário e cadeira para banho;

• simplificar a casa, mantendo os itens de maior uso ao alcance das mãos e re-tirando aqueles que não são utilizados;

• utilizar sacolas, pastas, cestas e mo-chilas para auxiliar no transporte de objetos.14

DiSCUSSÃO O uso adequado dos DAM é resultado

de um conjunto de fatores que envolvem os critérios de prescrição, a escolha do dispo-sitivo e o desempenho durante a marcha, de acordo com as características físico--funcionais, segurança e especificidades de cada indivíduo (Figura 2).

A Tabela 4 mostra as principais evidên-cias na prática clínica com relação às reco-mendações dos DAM.8,16-18

Segundo Dean e Ross,19 em idosos sau-dáveis, com baixa taxa de quedas, ativos e

Page 10: 11. quanto ao uso, adequação e prevenção de 14. quedas em ... · tudos randomizados controlados que compro-vem a eficácia da prescrição isolada dos DAM em reduzir o risco de

Dispositivos auxiliares de marchaGeriatria & Gerontologia270 271

Tabela 4. Principais evidências na prática clínica

Tabela 2. Seleção adequada dos dispositivos auxiliares de marcha.

Recomendação clínica Nível de evidência

Dispositivos de apoio podem ser prescritos para melhorar o equilíbrio, reduzir a dor, e aumentar a mobilidade e confiança12 C

A maioria dos pacientes utiliza dispositivos de marcha por conta própria, sem avaliação, prescrição e orientação de um profissional de saúde14 C

Quando é necessário auxílio para descarga parcial de peso e equilíbrio, uma bengala é o indicado. Quando é necessário auxílio para descarga total de peso, as muletas ou um andador são os mais apropriados8 C

A altura correta de uma bengala ou andador é ao nível da dobra do pulso do paciente – medida com o paciente em pé, com os braços relaxados. Ao segurar o dispositivo nessa altura, o cotovelo do paciente é

naturalmente flexionado em 15º a 30º5

C

independentes, a adequação dos ajustes da bengala (altura e orientação do membro de apoio) não apresentou correlação com me-lhor funcionalidade e prevenção de quedas. Porém a presença do dispositivo influenciou no comportamento dos indivíduos que apre-sentaram maior confiança para realizar as suas atividades de vida diária, facilitando a manutenção da sua independência.

Em um estudo realizado com 710 idosos, sem déficit cognitivo, o uso dos DAM, associado à realização de atividades físicas diárias mode-radas, como limpeza do domicílio, caminhada e exercícios aeróbios, mostrou-se eficaz para a prevenção de quedas, com redução da taxa de quedas em indivíduos que caem recorrente-mente. A execução das atividades aumenta a exposição ambiental aos fatores de risco para quedas, porém o uso adequado dos DAM fun-ciona como estratégia preventiva.19

Os DAM ajudam na prevenção de quedas em idosos com baixa mobilidade, mas também podem oferecer riscos. Em um estudo com o objetivo de caracterizar as sequelas das quedas relacionadas ao uso de andadores e bengalas, aproximadamente 47.312 idosos foram atendi-dos entre 2001 e 2006 em 66 prontos-socorros dos Estados Unidos, sendo 87,3% das quedas relacionadas com andador, 12,3% com bengala e 0,4% com ambos os dispositivos. As sequelas mais prevalentes foram as fraturas e as contu-sões, das quais 1/3 necessitou de internação hospitalar. As estratégias de prevenção de que-das em idosos vulneráveis, associada ao uso correto dos DAM, mostraram-se importantes em diversos contextos de risco.20

Um estudo realizado em 200921 aponta que cerca de 129 idosos americanos com mais de 65 anos, também entre os anos 2001 e 2006, foram atendidos diariamente em salas de emer-gência devido a quedas por uso inadequado de dispositivos de marcha, sendo que 87% dessas

quedas foram atribuídas ao uso inadequado do andador. O risco de quedas quando se utiliza um andador de forma inadequada é sete vezes maior comparado ao uso da bengala. A maior parte das lesões com andador (78%) e benga-la (66%) ocorre no sexo feminino. Além disso, idade superior a 85 anos associada ao uso ina-dequado de dispositivos auxiliares de marcha aumenta a chance de quedas.21

CONSiDERAÇÕES FiNAiS Todos os pacientes devem ser observados

quanto ao uso de seus DAM. Os profissionais de saúde devem rotineiramente verificar se o dis-positivo é apropriado, avaliar a manutenção do equipamento (incluindo a verificação da altura, atrito com o solo, condição do equipamento, ro-das, ferrugem), compensações, presença de dor e força de membros superiores, incluindo a for-ça de preensão palmar, além de oferecer orien-tações. As principais limitações e desvantagens para o uso de dispositivos auxiliares de marcha são os efeitos adversos em extremidades supe-riores, estigma social e possível aumento do ris-co de quedas.

Pacientes que têm distúrbios de marcha ou equilíbrio, ou dificuldade em utilizar seus dis-positivos auxiliares podem se beneficiar de um encaminhamento para um fisioterapeuta.

A prescrição e orientação adequada destes dispositivos bem como o acompanhamento e treinamento de marcha com um fisioterapeuta proporcionam ao paciente maior confiança, ha-bilidade e aderência ao seu DAM. Tal ganho in-terfere na execução e no desempenho das suas atividades diárias e atua possivelmente de for-ma preventiva na ocorrência de quedas.

REFERÊNCiAS 1. Ganz DA, Bao Y, Shekelle PG, Rubenstein LZ. Will my patient fall?

JAMA. 2007;297(1):77-86.

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Dispositivos auxiliares de marchaGeriatria & Gerontologia270 271

Tabela 4. Principais evidências na prática clínica

Tabela 2. Seleção adequada dos dispositivos auxiliares de marcha.

Recomendação clínica Nível de evidência

Dispositivos de apoio podem ser prescritos para melhorar o equilíbrio, reduzir a dor, e aumentar a mobilidade e confiança12 C

A maioria dos pacientes utiliza dispositivos de marcha por conta própria, sem avaliação, prescrição e orientação de um profissional de saúde14 C

Quando é necessário auxílio para descarga parcial de peso e equilíbrio, uma bengala é o indicado. Quando é necessário auxílio para descarga total de peso, as muletas ou um andador são os mais apropriados8 C

A altura correta de uma bengala ou andador é ao nível da dobra do pulso do paciente – medida com o paciente em pé, com os braços relaxados. Ao segurar o dispositivo nessa altura, o cotovelo do paciente é

naturalmente flexionado em 15º a 30º5

C

independentes, a adequação dos ajustes da bengala (altura e orientação do membro de apoio) não apresentou correlação com me-lhor funcionalidade e prevenção de quedas. Porém a presença do dispositivo influenciou no comportamento dos indivíduos que apre-sentaram maior confiança para realizar as suas atividades de vida diária, facilitando a manutenção da sua independência.

Em um estudo realizado com 710 idosos, sem déficit cognitivo, o uso dos DAM, associado à realização de atividades físicas diárias mode-radas, como limpeza do domicílio, caminhada e exercícios aeróbios, mostrou-se eficaz para a prevenção de quedas, com redução da taxa de quedas em indivíduos que caem recorrente-mente. A execução das atividades aumenta a exposição ambiental aos fatores de risco para quedas, porém o uso adequado dos DAM fun-ciona como estratégia preventiva.19

Os DAM ajudam na prevenção de quedas em idosos com baixa mobilidade, mas também podem oferecer riscos. Em um estudo com o objetivo de caracterizar as sequelas das quedas relacionadas ao uso de andadores e bengalas, aproximadamente 47.312 idosos foram atendi-dos entre 2001 e 2006 em 66 prontos-socorros dos Estados Unidos, sendo 87,3% das quedas relacionadas com andador, 12,3% com bengala e 0,4% com ambos os dispositivos. As sequelas mais prevalentes foram as fraturas e as contu-sões, das quais 1/3 necessitou de internação hospitalar. As estratégias de prevenção de que-das em idosos vulneráveis, associada ao uso correto dos DAM, mostraram-se importantes em diversos contextos de risco.20

Um estudo realizado em 200921 aponta que cerca de 129 idosos americanos com mais de 65 anos, também entre os anos 2001 e 2006, foram atendidos diariamente em salas de emer-gência devido a quedas por uso inadequado de dispositivos de marcha, sendo que 87% dessas

quedas foram atribuídas ao uso inadequado do andador. O risco de quedas quando se utiliza um andador de forma inadequada é sete vezes maior comparado ao uso da bengala. A maior parte das lesões com andador (78%) e benga-la (66%) ocorre no sexo feminino. Além disso, idade superior a 85 anos associada ao uso ina-dequado de dispositivos auxiliares de marcha aumenta a chance de quedas.21

CONSiDERAÇÕES FiNAiS Todos os pacientes devem ser observados

quanto ao uso de seus DAM. Os profissionais de saúde devem rotineiramente verificar se o dis-positivo é apropriado, avaliar a manutenção do equipamento (incluindo a verificação da altura, atrito com o solo, condição do equipamento, ro-das, ferrugem), compensações, presença de dor e força de membros superiores, incluindo a for-ça de preensão palmar, além de oferecer orien-tações. As principais limitações e desvantagens para o uso de dispositivos auxiliares de marcha são os efeitos adversos em extremidades supe-riores, estigma social e possível aumento do ris-co de quedas.

Pacientes que têm distúrbios de marcha ou equilíbrio, ou dificuldade em utilizar seus dis-positivos auxiliares podem se beneficiar de um encaminhamento para um fisioterapeuta.

A prescrição e orientação adequada destes dispositivos bem como o acompanhamento e treinamento de marcha com um fisioterapeuta proporcionam ao paciente maior confiança, ha-bilidade e aderência ao seu DAM. Tal ganho in-terfere na execução e no desempenho das suas atividades diárias e atua possivelmente de for-ma preventiva na ocorrência de quedas.

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Geriatria & Gerontologia272

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ARTigO DE REViSÃO

Biomarcadores na doença de Alzheimer

Biomarkers in Alzheimer disease

Karen Cecília de Lima Torres1, Rodrigo Ribeiro dos Santos1, Filipe Camilo Mapa1, Flávia Lanna de Moraes1, Edgar Nunes de Moraes1,2, Marco Aurélio Romano Silva1

1Instituto Nacional de Ciências e Tecnologia de Medicina

Molecular (INCT-MM)/Laboratório de Neurociência,

Departamento de Saúde Mental da Faculdade de Medicina da

Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Belo Horizonte,

MG, Brasil. 2Departamento de Clínica

Médica/Geriatria da Faculdade de Medicina da Universidade Federal

de Minas Gerais (UFMG), Belo Horizonte, MG, Brasil.

Endereço: Karen Cecília de Lima Torres - Instituto Nacional de Ciências e Tecnologia de Medicina Molecular, Laboratório de Neurociência, Departamento de Saúde Mental, Faculdade de Medicina - Avenida Alfredo Balena, 190, 114 - Santa Efigênia, Belo Horizonte, MG. - CEP: 30130-100Telefone: (31) 3409-9753 E-mail: [email protected]

RESUMOObjetivo: Apresentar os potenciais biomarcadores para a doença de Alzheimer. Métodos: Revisão da literatura, a partir de 2000, empregando o banco de dados PubMed. Resultados: Esta revisão apresenta evidências atuais dos principais marcadores envolvidos na doença de Alzheimer, incluindo os de natureza molecular presentes no líquido cefalorraquidiano, sangue, os associados aos métodos de imagem (tomografia por emissão de pósitrons – PET, ressonância magnética – RM), e os marcadores de redes neurais. Conclusão: Encontrar um marcador eficiente acarretará impactos significativos na avaliação clínica e na abordagem da progressão da doença, além de possibilitar o desenvolvimento de novas estratégias terapêuticas.

Palavras-chave: Biomarcadores farmacológicos, doença de Alzheimer, diagnóstico.

ABSTRACTObjective: To present the ongoing researches for biomarkers in Alzheimer disease Methods: Bibliographic review, starting from 2000, utilizing PubMed data bank. Results: This revision presents the actual evidences of the main markers involved in Alzheimer disease including the molecular (presented in blood and cerebrospinal fluid), the associated with image (pósitron emission tomography, single photon emission computed tomography and magnetic ressonance) and neural networks. Conclusions: Finding an efficient biomarker will enable significative progress in the clinic evaluation and in the disease development approaches, also, will contribute to the increment of new therapeutic estrategies.

Keywords: Pharmacological biomarkers, Alzheimer disease, diagnosis.